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MOBILIDADE URBANA NO BRASIL

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112<br />

Movimentos sociais:<br />

contra a cultura do automóvel, pelo direito à mobilidade<br />

BÁRBARA LOPES<br />

As manifestações populares<br />

de 2013 refletem um caldo<br />

de atuação política que<br />

já vinha se formando nos<br />

temas de mobilidade urbana<br />

e, ao mesmo tempo, deram<br />

uma magnitude ao tema<br />

que permitiu a incorporação<br />

dessa agenda por diversos<br />

grupos. São movimentos<br />

pela redução da tarifa,<br />

ações locais com demandas<br />

específicas de transporte<br />

público, coletivos que atuam<br />

sob o guarda-chuva do<br />

direito à cidade, cicloativistas,<br />

organizações não<br />

governamentais, ativistas<br />

digitais que demandam<br />

transparência, movimentos<br />

de mobilidade a pé e grupos<br />

feministas que denunciam<br />

o assédio em meios<br />

de transporte.<br />

Em 2013, quando grandes manifestações<br />

em diversas cidades trouxeram à<br />

tona a luta contra os aumentos nas tarifas<br />

de transporte, a militância pelo passe<br />

livre já completava dez anos. O marco é<br />

a chamada Revolta do Buzu, uma série de<br />

protestos contra o aumento do preço da<br />

tarifa de ônibus em Salvador em agosto<br />

e setembro de 2003. O movimento foi<br />

agitado principalmente por estudantes<br />

secundaristas, que se organizavam em<br />

assembleias, bloqueavam o trânsito em<br />

pontos estratégicos da cidade e ocupavam<br />

ônibus e prédios públicos. Além das táticas<br />

que depois se repetiriam em outros<br />

protestos, ali também apareceu uma característica<br />

que seria vista novamente em<br />

2013: a desconfiança e mesmo o conflito<br />

com partidos políticos e organizações tradicionais.<br />

Após os primeiros dias de manifestação<br />

em Salvador, houve uma negociação<br />

entre a Prefeitura e uma comissão<br />

em nome dos estudantes, formada por<br />

membros de entidades estudantis. O poder<br />

público se comprometeu com quase<br />

todas as reivindicações dessa comissão,<br />

como a extensão da meia passagem estudantil<br />

para fins de semana e férias escolares,<br />

mas não com a revogação do aumento,<br />

em troca da suspensão dos atos.<br />

Porém, os jovens mobilizados recusaram<br />

o acordo. A revolta se prolongou, inclusive<br />

com repressão violenta da polícia militar,<br />

mas o aumento não foi revogado.<br />

A grande vitória viria no ano seguinte,<br />

mas dessa vez em Florianópolis. Com<br />

dez dias de manifestações intensas e a<br />

participação de milhares de pessoas, o<br />

movimento – que ficou conhecido como<br />

Revolta da Catraca – conseguiu impedir<br />

a elevação do preço da passagem de ônibus.<br />

O repertório era similar ao de Salvador:<br />

ação direta, horizontalidade e a<br />

deslegitimação das entidades estudantis<br />

como representantes desses movimentos.<br />

A partir desses dois casos de grande<br />

visibilidade, começou a se articular, em

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