MOBILIDADE URBANA NO BRASIL
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<strong>MOBILIDADE</strong> <strong>URBANA</strong> <strong>NO</strong> <strong>BRASIL</strong>:<br />
DESAFIOS E ALTERNATIVAS<br />
Mas tem muito mais a ver com a reprodução<br />
urbanística da desigualdade social.<br />
A desigualdade organiza as regiões<br />
metropolitanas de forma sempre parecida:<br />
em relativamente pequenas áreas<br />
centrais da cidade concentram-se os postos<br />
de trabalho, as instituições de poder,<br />
econômicas e culturais, os bons colégios,<br />
as moradias de qualidades, as áreas de<br />
lazer, portanto todas as formas de capital<br />
financeiro, industrial, social, simbólico.<br />
É lá onde moram as classes médias,<br />
ou, para ser mais exato hoje em dia, as<br />
velhas classes médias. As “novas classes<br />
médias”, assim como os outros ex-pobres,<br />
novos-pobres e sempre-pobres, moram<br />
nas vastas e distantes áreas periféricas.<br />
Eles, que são a grande maioria, são<br />
obrigados diariamente a se deslocar das<br />
suas moradias periféricas a estes bairros<br />
centrais para trabalhar.<br />
Esta estruturação do espaço, se é retrato<br />
da estratificação social, não é de<br />
forma alguma dada ou inevitável. Antes,<br />
é fruto de uma decisão ou omissão política.<br />
Organizar o transporte de acordo<br />
com as necessidades da maioria dos seus<br />
habitantes nunca foi prioridade dos governos<br />
municipais. Mesmo as tão elogiadas<br />
melhorias no Rio de Janeiro realizadas<br />
em função da Copa do Mundo e<br />
dos Jogos Olímpicos atenderam antes à<br />
lógica de infraestrutura dos megaeventos<br />
que às demandas do povo periférico.<br />
Esta falha política obriga milhões de pessoas<br />
no Brasil diariamente a passar três,<br />
quatro, cinco horas ou mais no transporte<br />
público. Eles precisam usar diversos<br />
meios de transporte e pagar por cada um<br />
“<br />
As ‘novas classes médias’,<br />
assim como os outros expobres,<br />
novos-pobres e<br />
sempre-pobres, moram nas<br />
vastas e distantes áreas<br />
periféricas. Eles, que são a<br />
grande maioria, são obrigados<br />
diariamente a se deslocar das<br />
suas moradias periféricas a<br />
estes bairros centrais para<br />
trabalhar”<br />
deles, dado que não existem, ou quase<br />
não existem, bilhetes unificados. Celebrar<br />
o bilhete único que dá direito a usar<br />
dois meios de transporte em duas horas,<br />
como um grande avanço é um ato hipócrita.<br />
O Brasil se diz moderno, votamos<br />
de forma eletrônica até nas aldeias, mas<br />
nas grandes cidades ainda não conhecemos<br />
– como é de praxe em outras partes<br />
do mundo há décadas –bilhetes integrados<br />
de validade semanal, mensal ou<br />
anual, que podem ser comprados antecipadamente<br />
e com desconto e que valem<br />
para toda a rede. Isto porque uma tarefa<br />
essencialmente pública foi entregue pelo<br />
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