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marketing & negóCios<br />
Scyther5/iStock<br />
Conquistar novos<br />
consumidores<br />
é essencial<br />
Ativida<strong>de</strong>s para ganhar novos clientes<br />
continuam sendo insubstituíveis para<br />
assegurar o futuro dos negócios<br />
Rafael Sampaio<br />
Há cerca <strong>de</strong> três décadas começou no<br />
marketing e na publicida<strong>de</strong> um movimento<br />
<strong>de</strong> valorização da fi<strong>de</strong>lização dos<br />
consumidores, que teve gran<strong>de</strong> ímpeto<br />
com o advento do digital e suas ferramentas,<br />
capazes <strong>de</strong> monitorar as relações <strong>de</strong><br />
consumo, alavancar o cross-selling e outras<br />
ativida<strong>de</strong>s que já existiam, mas que<br />
ganharam maior operacionalida<strong>de</strong>.<br />
Houve, em paralelo, um movimento <strong>de</strong><br />
busca <strong>de</strong> precisão das ações mercadológicas<br />
e <strong>de</strong> comunicação, <strong>de</strong> modo a perseguir<br />
com maior intensida<strong>de</strong> o “santo graal” da<br />
eliminação dos <strong>de</strong>sperdícios nessas áreas.<br />
Tudo isso foi necessário, teve e tem seus<br />
méritos, mas os limites foram ultrapassados<br />
e se minimizaram as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conquista<br />
<strong>de</strong> novos consumidores, especialmente<br />
aqueles que fugiam do “core target”<br />
(o alvo principal) dos produtos, serviços e<br />
marcas. Esse erro ocorreu pela combinação<br />
<strong>de</strong> várias ilusões: <strong>de</strong> que as empresas sabem<br />
com gran<strong>de</strong> precisão qual é o perfil <strong>de</strong><br />
seus consumidores e seus prospects mais<br />
valiosos; que a regra dos 80/20 podia ser<br />
superada concentrando todos os esforços<br />
naqueles 20% do mercado que respon<strong>de</strong>m<br />
por 80% dos negócios; e que se po<strong>de</strong>ria<br />
cortar o investimento em publicida<strong>de</strong> que<br />
garante o “efeito halo” (o impacto sobre o<br />
entorno dos consumidores alvo, que exercem<br />
influência sobre eles).<br />
Na prática, nada disso foi ou é possível.<br />
O perfil real dos consumidores <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado<br />
produto ou serviço não é assim<br />
tão preciso, salvo raríssimas exceções <strong>de</strong><br />
ultranicho, e muito menos seus prospects<br />
(que antes disso são suspects).<br />
Consequentemente, as estratégias <strong>de</strong><br />
marketing e os briefings <strong>de</strong> comunicação<br />
não conseguem chegar a uma precisão que<br />
sustente o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ações e<br />
campanhas com essa característica.<br />
O segundo problema é que os tais 20%<br />
que produzem os 80% são móveis. Eles<br />
po<strong>de</strong>m ser 15% ou 30% e po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>saparecer<br />
por uma ampla varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> motivos,<br />
<strong>de</strong> razões econômicas à morte física <strong>de</strong><br />
clientes, passando pela mudança <strong>de</strong> seu<br />
interesse e necessida<strong>de</strong>s. Razão pela qual<br />
é preciso “alimentar” os 80% (ou 85% ou<br />
70%) para eles entrarem no grupo dos 20. E<br />
como esse grupo maior e menos relevante<br />
para os negócios também não é estático, as<br />
marcas têm <strong>de</strong> “pescar” fora <strong>de</strong>sse grupo,<br />
ou seja, transformar prospects em clientes<br />
e suspects em prospects.<br />
Daí a relevância e a força da publicida<strong>de</strong><br />
e das mídias <strong>de</strong> massa, que cumprem a tarefa<br />
<strong>de</strong> falar com o “núcleo duro” dos melhores<br />
clientes, com os públicos que os influenciam,<br />
com clientes menos relevantes<br />
e com pessoas que um dia po<strong>de</strong>m passar a<br />
ser clientes – por razões <strong>de</strong> mudanças econômicas,<br />
<strong>de</strong> hábito <strong>de</strong> vida, necessida<strong>de</strong>s,<br />
<strong>de</strong>sejos e aspirações. É uma ótima maneira<br />
<strong>de</strong> manter essa dinâmica permanente do<br />
mercado.<br />
Dois excelentes textos abordam esse<br />
tema e trazem expressivos exemplos. Um<br />
<strong>de</strong>les é uma publicação da IPA, a entida<strong>de</strong><br />
dos publicitários e agências do Reino Unido,<br />
que se chama Equilibrando estratégias<br />
<strong>de</strong> marketing <strong>de</strong> curto e longo prazo. Nesse<br />
livro, fundamentado na análise <strong>de</strong> anos <strong>de</strong><br />
campanhas publicitárias <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> sucesso,<br />
fica evi<strong>de</strong>nte que campanhas visando o<br />
longo prazo e um público mais amplo são<br />
mais efetivas <strong>de</strong> que aquelas focadas no<br />
curto prazo e num target mais <strong>de</strong>finido.<br />
O outro texto é recente e é o tema <strong>de</strong> capa<br />
da Harvard Business Review <strong>de</strong> janeiro/<strong>fevereiro</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>2017</strong>. A partir da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que “a lealda<strong>de</strong><br />
do consumidor é ‘over’ valorizada”,<br />
A.G. Lafley, ex-CEO da Procter&Gamble, e<br />
Roger L. Martin, professor <strong>de</strong> Universida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Toronto, <strong>de</strong>senvolvem o raciocínio a<br />
partir <strong>de</strong> dados concretos <strong>de</strong> mercado, que<br />
<strong>de</strong>monstram a importância do hábito e da<br />
“vantagem cumulativa” das marcas lí<strong>de</strong>res,<br />
que sempre precisam estar se renovando<br />
e agregando novos consumidores para<br />
manter justamente sua vantagem.<br />
Rafael Sampaio é consultor em propaganda<br />
rafael.sampaio@uol.com.br<br />
jornal propmark - <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2017</strong> 15