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RECANTOS CRÓNICA<br />
HELVÉTICOS<br />
Outubro <strong>2017</strong><br />
15<br />
Texto e foto:<br />
Maria dos Santos<br />
No domingo dia 24.09.<strong>2017</strong> confesso que<br />
me levantei algo ansiosa! Depois de verificar<br />
como cada manhã o tempo que iria fazer, dei<br />
comigo a pensar como resolver a ansiedade<br />
que me consumia as boas energias.<br />
Isto porque a população Suíça, iria decidir se<br />
nós mulheres teríamos que trabalhar até aos<br />
65 anos. Estava e estou contra esta lei, que<br />
finalmente acabou por ser chumbada.<br />
Respirei fundo e comecei a programar, como<br />
comemorar tal “vitória“.<br />
Escolhi então um percurso, que me iria levar<br />
até Furka. O trajecto tinha o nome de “Nostalgia”<br />
era aliciante e estava desejosa de o<br />
conhecer. Pois no fundo era o que procurava<br />
para equilibrar as emoções.<br />
Às 05:30 da manhã o comboio que me levava<br />
até Interlaken, estava repleto de gente.<br />
Uns para o trabalho, outros para a escola, e<br />
alguns com grandes malas…férias nas bagagens,<br />
ou quiçá de regresso ao País dos chocolates.<br />
Na estação de Interlaken esperava-me o último<br />
exemplar do Autocarro Postal Alpino.<br />
Existem apenas três exemplares em toda a<br />
Confederação. Senti-me algo mimada por<br />
poder entrar e viajar nele.<br />
Fomos então até Grindelwalden, onde já fui<br />
muito feliz com direcção ao Grosse Scheidegg<br />
e tudo feito por uma estrada privada estreitíssima,<br />
que de vez enquanto me davam<br />
arrepios, principalmente nas curvas. Mas a<br />
experiência dos mais de 40 anos do motorista,<br />
deixaram-me após algumas horas tranquila.<br />
Chegávamos assim a Grimsel, onde a<br />
neve nos deu a primeira saudação e os 30<br />
passageiros do autocarro antes de descerem,<br />
para admirarmos a paisagem do outro<br />
mundo, aplaudiram o chofer, que nos respondeu<br />
apenas com um sorriso.<br />
Depois de um requintado almoço e muitas fotografias<br />
nas câmaras fotográficas, partimos<br />
direcção Oberwalde, onde um comboio a vapor<br />
nos iria levar até Realp, na província de Uri.<br />
A locomotiva com mais de 100 anos, ali estava<br />
imponente, brilhava em cada angulo e<br />
os maquinistas bem trajados, ultimavam os<br />
detalhes para que nós pudéssemos desfrutar<br />
de um esplêndido passeio na subia a este<br />
Alpe Suíço. O depósito de carvão ardia e o<br />
calor era insuportável. Um enorme tubo de<br />
água enchia também o depósito, perante o<br />
olhar sorridente de centenas de pessoas.<br />
Fecharam tudo, controlaram as pressões<br />
e lá arrancamos nós, até aos 2.160 metros<br />
de altitude. Um passeio digno dos anos 50…<br />
faltou-me um traje da época para me sentir<br />
uma pessoa daqueles anos, onde o estilo de<br />
vida nada tem a ver com a nossa era. A simpatia<br />
daqueles mais curiosos em ver passar<br />
esta locomotiva e respectivos vagões utilizados<br />
há mais de 100 anos, foi de tirar o<br />
chapéu. Um adeus, um sorriso, um aplaudir<br />
um beijinho enviado através de um simples<br />
gesto foi o bastante para nos sentirmos sortudos,<br />
pois nem todos, podem usufruir de tal<br />
viagem, que no fundo e pensando bem nem<br />
é muito cara.<br />
Regresso à base, onde o nosso autocarro<br />
Postal Alpino nos esperava, com os seus 594<br />
mil quilómetros, feitos apenas e só nas estradas<br />
de montanha. Agradeço a todo o grupo<br />
que me recebeu de braços abertos e que ao<br />
longo das mais de 10 horas que juntos passamos,<br />
sorrimos, trocamos ideias, falamos<br />
das nossas raízes do projecto integração,<br />
que é tão necessário e importante para se<br />
viver aqui. Brindamos ao facto da Suíça, ter<br />
um projecto de restauração e conservação<br />
de um património cultural ancestral, digno<br />
de cada cidadão. Afinal o que é velho, pode<br />
muito bem nos fazer felizes, caso o saibamos<br />
cuidar e defender.<br />
De regresso a casa com as baterias carregadas<br />
e pronta para enfrentar mais uma<br />
semana de trabalho, deixo-me adormecer<br />
despreocupada e com a moleirinha plena de<br />
mágicos passeios na minha grande aliada,<br />
que é a natureza.