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36 Lusitano<br />
LITERATURA<br />
Se esse momento chegar<br />
CARMINDO<br />
DE CARVALHO<br />
https://www.facebook.com/carmindo.<br />
carvalho<br />
Quando já tiver desistido<br />
De quase tudo<br />
Quando já tiver abdicado<br />
Do meu querer dizer sim ou dizer não<br />
Do direito à minha indignação<br />
Quando concordar<br />
Com tudo a cem por cento<br />
Quando já resignado<br />
Tiver deitado a toalha ao chão<br />
E aceitar a subjugação:<br />
Então o melhor é suicidar-me.<br />
Se esse momento chegar<br />
Já não andarei por cá a fazer nada<br />
Já terei chegado ao estado<br />
De quase abaixo de cão!<br />
Entretanto e enquanto<br />
Conseguir resistir<br />
Recusarei esse estado lastimoso<br />
Continuarei a remar<br />
Neste mar encrespado<br />
Ainda que seja contra a maré! ...<br />
É preferível ser o cão raivoso<br />
Que ladra mas fala!<br />
E esse falar é protestar<br />
É desabafar<br />
Como água que teimosamente<br />
Ora aos trambolhões ora simplesmente<br />
Fluindo teima e galga<br />
Os entulhos que atrasa<br />
O seu desaguar!<br />
Atrasa mas chega! À sua desejada foz.<br />
Setembro, <strong>2017</strong><br />
Ponto final<br />
Às vezes, fisicamente sinto-me saturado,<br />
exausto, tocado por uma maleita ou febre<br />
qualquer e amodorrado numa inércia<br />
teimosa, não me apetece fazer nada.<br />
E é tão bom sentir-me vazio de tudo ,<br />
prenhe de nada ! ... É tão bom ficar assim<br />
oco, leve, ébrio, estacionado na minha<br />
insignificância, sem horários nem compromissos,<br />
somente eu com o meu Eu,<br />
ébrio, distante de tudo.<br />
Mas, depressa, o cérebro cheio a rebentar<br />
de fervilhantes ideias, pensamentos<br />
que o desassossegam, reclama, recusa<br />
ficar quedo... os neurónios sobreaquecidos,<br />
fumegam! ...E então tenho que<br />
dar largas, soltar amarras às ânsias , às<br />
inquietações, aos sonhos.E continuar<br />
esta caminhada que me leva... Até onde<br />
não sei, nem nunca saberei. Caminhada<br />
que não tem meta, programada para ser<br />
palmilhada até que sem que me aperceba,<br />
chegue o momento: O fim, o fim de<br />
tudo, do sonho e do real, de tudo o ponto<br />
final.Final do suplício, do descanso eterno<br />
o início.<br />
Setembro, <strong>2017</strong><br />
Palavras e foto , da minha safra.