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OUTUBRO 2017 - nº 234

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36 Lusitano<br />

LITERATURA<br />

Se esse momento chegar<br />

CARMINDO<br />

DE CARVALHO<br />

https://www.facebook.com/carmindo.<br />

carvalho<br />

Quando já tiver desistido<br />

De quase tudo<br />

Quando já tiver abdicado<br />

Do meu querer dizer sim ou dizer não<br />

Do direito à minha indignação<br />

Quando concordar<br />

Com tudo a cem por cento<br />

Quando já resignado<br />

Tiver deitado a toalha ao chão<br />

E aceitar a subjugação:<br />

Então o melhor é suicidar-me.<br />

Se esse momento chegar<br />

Já não andarei por cá a fazer nada<br />

Já terei chegado ao estado<br />

De quase abaixo de cão!<br />

Entretanto e enquanto<br />

Conseguir resistir<br />

Recusarei esse estado lastimoso<br />

Continuarei a remar<br />

Neste mar encrespado<br />

Ainda que seja contra a maré! ...<br />

É preferível ser o cão raivoso<br />

Que ladra mas fala!<br />

E esse falar é protestar<br />

É desabafar<br />

Como água que teimosamente<br />

Ora aos trambolhões ora simplesmente<br />

Fluindo teima e galga<br />

Os entulhos que atrasa<br />

O seu desaguar!<br />

Atrasa mas chega! À sua desejada foz.<br />

Setembro, <strong>2017</strong><br />

Ponto final<br />

Às vezes, fisicamente sinto-me saturado,<br />

exausto, tocado por uma maleita ou febre<br />

qualquer e amodorrado numa inércia<br />

teimosa, não me apetece fazer nada.<br />

E é tão bom sentir-me vazio de tudo ,<br />

prenhe de nada ! ... É tão bom ficar assim<br />

oco, leve, ébrio, estacionado na minha<br />

insignificância, sem horários nem compromissos,<br />

somente eu com o meu Eu,<br />

ébrio, distante de tudo.<br />

Mas, depressa, o cérebro cheio a rebentar<br />

de fervilhantes ideias, pensamentos<br />

que o desassossegam, reclama, recusa<br />

ficar quedo... os neurónios sobreaquecidos,<br />

fumegam! ...E então tenho que<br />

dar largas, soltar amarras às ânsias , às<br />

inquietações, aos sonhos.E continuar<br />

esta caminhada que me leva... Até onde<br />

não sei, nem nunca saberei. Caminhada<br />

que não tem meta, programada para ser<br />

palmilhada até que sem que me aperceba,<br />

chegue o momento: O fim, o fim de<br />

tudo, do sonho e do real, de tudo o ponto<br />

final.Final do suplício, do descanso eterno<br />

o início.<br />

Setembro, <strong>2017</strong><br />

Palavras e foto , da minha safra.

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