2017 - Revista Top 100
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
TIAGO FARIAS, Presidente da Carris<br />
que está a nascer hoje e que está a crescer<br />
muito: o das bicicletas. Mas, depois, estão<br />
a aparecer produtos que ainda não os<br />
dominamos porque não os conhecemos.<br />
Mas sabemos que aí vêm. Muito assentes<br />
nas tecnologias de informação e comunicação.<br />
O caso da Uber é um clássico, mas,<br />
também, o Cabify e as plataformas de car<br />
sharing e de bike sharing. Todas elas são<br />
possíveis porque (quase) todos temos um<br />
smartphone onde podemos centralizar a<br />
informação para poder desbloquear um<br />
automóvel ou uma bicicleta, para poder<br />
marcar uma viagem de táxi. Em termos<br />
de produtos de mobilidade, eles vão ser<br />
muito mais complexos e muito mais<br />
transversais. E todos eles assentes nas<br />
tecnologias de informação. Eu represento<br />
e estou a liderar uma empresa do foro da<br />
cidade de Lisboa, que tem os transportes<br />
públicos rodoviários de superfície (autocarros,<br />
elétricos, ascensores, elevadores) e<br />
que é um dos players fundamentais. Mas<br />
tem, também, de adaptar-se. Estamos a<br />
caminhar para lançar, muito em breve,<br />
uma app, extremamente forte em termos<br />
de informação, em tempo real, ao cliente;<br />
vamos disponibilizar wi-fi gratuito<br />
em toda a nossa rede de 600 autocarros<br />
a GoPro, com a Uber e a lista do costume)<br />
de repente, massificam-se através de tecnologias<br />
de informação. Temos de estar<br />
preparados. Para onde vão os carris? Vão<br />
para a eletricidade. Vão! Ou seja, a mobilidade<br />
urbana vai caminhar para a sua<br />
eletrificação. Por problemas ambientais,<br />
porque a tecnologia está a começar a ficar,<br />
efetivamente, madura, e, também, por<br />
problemas de decisão política. Porque as<br />
cidades não querem tanto ruído, nem tanta<br />
poluição. Querem ser limpas e vão começar<br />
a regular nesse sentido. Há cidades<br />
mais e menos ambiciosas. E nós, Carris,<br />
também estamos a fazer parte desta revolução.<br />
Estamos a começar a adquirir veículos<br />
elétricos ligeiros para a nossa frota.<br />
Vamos lançar um concurso para comprar<br />
15 autocarros <strong>100</strong>% elétricos, já este ano.<br />
Queremos começar a eletrificar. Temos<br />
muita experiência elétrica, porque os<br />
nossos elétricos são, efetivamente, movidos<br />
a tração elétrica. Os nossos ascensores<br />
e elevadores também. Queremos alargar.<br />
Algo que vai acontecer (e, esse, depende<br />
da zona do mundo onde estamos) e ao<br />
qual não podemos, também, fechar os<br />
olhos, é que os veículos vão autonomizarse.<br />
Não gosto de falar nisso porque estou<br />
“Na produção do veículo (...) acreditem que a indústria<br />
automóvel dos componentes, é, realmente, milagrosa.<br />
Não tenho dúvidas. Faz coisas que eram impossíveis”<br />
e nos nossos cerca de 60 elétricos, ascensores<br />
e elevadores, porque sabemos que<br />
será na informação e nas tecnologias de<br />
informação que haverá a possibilidade de<br />
integração.<br />
A dificuldade é articular tudo...<br />
A articulação é muito difícil. Quer do lado<br />
do regulador, porque... quem é o regulador?<br />
A Câmara Municipal de Lisboa? A<br />
Área Metropolitana de Lisboa? São os vários<br />
municípios? A mobilidade não termina<br />
na fronteira do município. Continua.<br />
Quer do lado da operação. Porque somos<br />
todos diferentes. A CP é diferente do Metro,<br />
da Carris, da Uber do futuro e de tudo<br />
o que surgirá e que eu ainda não conheço.<br />
Mas garanto-vos que vai acontecer, porque<br />
as empresas exponenciais não são<br />
académicas. Mas existem e baseiam-se<br />
em tecnologias que, quando “explodem”<br />
exponencialmente (como aconteceu com<br />
num setor mais conservador, que é o dos<br />
transportes públicos, mas isto vai acontecer<br />
e, se calhar, mais depressa em outras<br />
partes do planeta. Será uma revolução que<br />
acontecerá, porventura, mais tarde, mas<br />
que não vale a pena ignorar. A indústria<br />
automóvel, os players e os fornecedores de<br />
tecnologia, estão a começar a incluir nos<br />
veículos aquilo que é necessário para eles<br />
poderem autonomizar-se.<br />
Numa perspetiva de futuro, o transporte<br />
será cada vez mais coletivo e<br />
menos individual?<br />
Espero que a forma de desenhar, de pensar<br />
e de gerir as cidades caminhe para aí.<br />
Mas isso tem quatro níveis. Primeiro, a<br />
forma de planear a cidade. Se eu planeio<br />
uma cidade mais vocacionada para o<br />
transporte público ou individual: política<br />
de estacionamento, espaço público, faixas<br />
“Bus”, financiar os transportes, garantir<br />
que os jovens pagam pouco. Segundo<br />
aspeto, é como gerimos isto tudo. Os parques<br />
de estacionamento têm de ser geridos<br />
com os transportes públicos, com os<br />
táxis e com tudo. O terceiro aspeto para<br />
que isso aconteça, tem muito a ver com a<br />
tecnologia. Se não for buscar a tecnologia<br />
que facilita isto tudo, eu não cumpro com<br />
o quarto aspeto, que é o comportamental.<br />
Ou seja, tenho de planear melhor, para garantir<br />
que há mais partilha, tenho de gerir<br />
melhor, porque são muitos players. Tenho<br />
de usar as tecnologias para que as pessoas<br />
percebam que isto agora é fácil. É possível<br />
integrar nas plataformas. E, por último,<br />
tenho de garantir que há uma alteração<br />
das pessoas.<br />
A mobilidade sustentável e partilhada<br />
já entrou no léxico da população,<br />
quando entrará no ADN?<br />
Sou um otimista em relação à geração que<br />
se está agora a formar. Já não é a “Millenium”,<br />
a “Y” nem a “Z” – o que quiserem<br />
chamar. É uma geração menos focada<br />
na posse e mais no uso. Não sei bem se<br />
eles querem ter o carro, o apartamento,<br />
se querem ter uma casa de férias. Mas sei<br />
que os querem usar! Em pleno! Portanto,<br />
é uma geração preparada para a partilha<br />
do espaço, de carros, que recorre a<br />
hostels, ao Airbnb. Não percebem o que<br />
é uma agência de viagens, o que é um<br />
bilhete físico. É uma geração que, se for<br />
bem orientada (e, para isso, voltamos ao<br />
que disse), as cidades têm de estar planeadas<br />
para tal. Os instrumentos têm de<br />
estar muito bem integrados e a informação<br />
tem de estar na palma da mão. No<br />
smartphone! É uma geração que acredita<br />
no smartphone. O que lá está escrito funciona,<br />
é verdade, portanto, tem de lá estar<br />
escrito. Dou sempre o exemplo: podem<br />
estar em frente a um restaurante, mas,<br />
se não está na app, eles, provavelmente,<br />
nem sequer olham para a frente para ver.<br />
A informação tem de estar disponível. Há<br />
uma revolução enorme em termos de tudo<br />
o que é tecnologia e componentes. Um<br />
exemplo incrível é a Mobi. Uma empresa<br />
de dimensão local, de origem israelita,<br />
que desenvolve sensores, radares e peças.<br />
E foi comprada por 15 mil milhões!<br />
Uns jovens que lançaram um produto em<br />
Israel. Porquê? Porque é a empresa líder<br />
do mundo em termos dos sensores que<br />
permitem dar informação e, já agora,<br />
que permitem o autonomos drive... Mas<br />
quem a comprou, como se passa em todas<br />
as indústrias disruptivas, não foi a própria<br />
indústria. Não foi a indústria automóvel<br />
<strong>Top</strong> <strong>100</strong> Aftermarket <strong>2017</strong><br />
27