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2017 - Revista Top 100

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ENTREVISTA TOP<strong>100</strong><br />

que a comprou. E também não foi a Google<br />

nem a Apple, já agora. No mundo da<br />

mobilidade, a inovação é disruptiva, não<br />

virá nem de quem as gere, as cidades, pois<br />

não é esse o seu objetivo, nem da indústria<br />

automóvel. Serão outras indústrias,<br />

disruptivas e exponenciais. Sabem que<br />

se tiverem sucesso, massificam-se para o<br />

mundo inteiro a custo baixo. Numa app.<br />

A Airbnb não construiu nenhum hotel, a<br />

Uber não comprou nenhum carro. Vamos<br />

ter de viver nesse mundo e vai ser uma<br />

grande emoção para quem fornecer a tecnologia.<br />

O veículo do futuro será, muito<br />

provavelmente, um computador cheio de<br />

sensores e de tecnologia, que tem rodas<br />

e anda. Não responderá ao comando do<br />

volante e dos pedais, mas, antes, a uma<br />

informação que se introduz digitalmente.<br />

E o papel dos transportes públicos?<br />

Os transportes públicos encaixam aqui<br />

lindamente. Como produtos de massa,<br />

são cruciais para o primeiro aspeto: planear<br />

e oferecer transportes. E têm, obviamente,<br />

de começar a perceber que terão de<br />

interagir. Algo engraçado: o concorrente<br />

do transporte público não são as Uber, os<br />

car sharing, mas sim o transporte individual.<br />

O que seja de partilha, o que partilhar<br />

espaço, equipamentos, informação,<br />

vivências, é aquilo que eu defendo para<br />

as cidades ganhadoras do futuro. Caso de<br />

Lisboa. É uma das cidades mais populares<br />

do mundo, neste momento, porque é uma<br />

cidade de partilha de espaço, de ambiente,<br />

de culturas, de gastronomia, mas que<br />

perdeu muito em termos de transportes.<br />

A Carris, em cinco anos, perdeu 750 colaboradores,<br />

cortaram 150 autocarros e<br />

um quarto da sua produção. Produzia 40<br />

milhões de quilómetros e, hoje, produz<br />

perto de 30 milhões. E tudo isso levou as<br />

pessoas a procurarem mais o transporte<br />

individual. Temos de inverter isso!<br />

O automóvel particular, dentro das<br />

grandes cidades, como é o caso de<br />

Lisboa, estará a prazo?<br />

O automóvel nunca estará a prazo. Infelizmente,<br />

não é possível desenhar uma cidade<br />

que tudo se consiga fazer através de<br />

produtos partilhados: autocarros, Metro,<br />

comboio, táxis, car sharing, bike sharing.<br />

Não. As cidades do futuro terão sempre<br />

automóveis. Espero é que sejam cada<br />

vez menos. E que a repartição seja mais<br />

forte para o transporte público e para os<br />

espaços partilhados. Aliás, na cidade inteligente<br />

do futuro, além de ter isto tudo,<br />

as pessoas andam pouco, porque vivem<br />

na cidade, e vão a pé... quem viver num<br />

bairro histórico, provavelmente, vive-o,<br />

e já nem se lembra que tem de apanhar<br />

o autocarro. Está por ali. Que foi o que<br />

não aconteceu nos anos 90, quando as<br />

pessoas, com a “explosão” do automóvel,<br />

revolução tecnológica do veículo – que<br />

está a acontecer, já não há hipótese, seja<br />

na Renault, na Nissan, na BMW, nem é<br />

preciso falar na Tesla – e a eletrificação é<br />

a realidade. O segundo aspeto, tem a ver<br />

como as cidades se vão gerir e os responsáveis<br />

dizer: eu, na minha cidade, pelo<br />

menos nesta zona, a partir deste ano, acho<br />

que não se justifica ter veículos que não<br />

cumpram este requisito de zero emissões.<br />

Acho que essa dinâmica acontecerá.<br />

Enquanto há 20 anos ia a congressos e<br />

nem sequer tecnologia havia, apenas<br />

meia dúzia de carrinhos, caríssimos,<br />

sem fiabilidade de construtores, que não<br />

eram de referência mundial, eu, hoje, não<br />

posso dizer isso. Mesmo nos autocarros,<br />

diria que estamos quase. Diria que vamos<br />

chegar a 2020 e quase todos os grandes<br />

construtores terão na sua brochura um<br />

autocarro de zero emissões - que não têm<br />

ainda, hoje em dia.<br />

“A mobilidade urbana caminhará para a eletrificação.<br />

Por problemas ambientais, porque a tecnologia está a<br />

começar a ficar madura e por decisão política”<br />

foram viver fora das cidades. O conceito<br />

de proximidade é quase tão importante<br />

como o de mobilidade sustentável. É um<br />

conceito de mobilidade sustentável. Se estou<br />

próximo, vivo o dia a dia e movo-me a<br />

pé ou de bicicleta, muito facilmente. As cidades<br />

do futuro, que vão ganhar a batalha<br />

da sustentabilidade, são aquelas em que<br />

haja repartição de transporte individual,<br />

transportes públicos e partilhados, andar<br />

a pé, de bicicleta e de carro, este último<br />

com menos expressão. Mas haverá sempre<br />

automóveis.<br />

Estaremos também a falar de eletrificação<br />

dos veículos? O Diesel e a<br />

gasolina deixarão de fazer sentido,<br />

na sua opinião?<br />

Não, o Diesel e a gasolina não vão deixar<br />

de fazer sentido. Mas vai haver uma<br />

eletrificação. A curva da eletrificação está<br />

muito relacionada com três aspetos: a<br />

Como está a Carris a preparar o futuro<br />

dos veículos autónomos?<br />

Ainda é prematuro a Carris estar a<br />

preocupar-se com esse aspeto, porque o<br />

veículo autónomo tem ainda um longo<br />

caminho a percorrer. Não é só ele. É a infraestrutura,<br />

a legislação. Muitos dos produtos<br />

disruptivos, normalmente, vão para<br />

o mercado sem lei. Depois, escreve-se a<br />

lei. No caso dos veículos autónomos, não<br />

acredito que ninguém faça isso, porque há<br />

problemas de segurança e de proteção de<br />

dados (se estão a filmar tudo à sua volta<br />

para poder conduzir, também estão a filmar<br />

pessoas...). É um desafio longo, mas<br />

para lá se caminha. Mas na eletrificação, já<br />

cá estamos, praticamente – faltam os autocarros!<br />

Os grandes construtores dizem<br />

que o produto de excelência elétrico chega<br />

até ao ano de 2019. E nós já estamos a fazê-<br />

-lo de uma forma progressiva.<br />

Portugal está preparado para essa<br />

realidade ou ainda continua um pouco<br />

atrasado, face ao resto da Europa?<br />

Não, não! Portugal está muito bem preparado.<br />

Fomos buscar fundos para isso, o que<br />

só prova que o Governo está consciente<br />

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