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eyond the line<br />
Quando a propaganda<br />
é a atração<br />
É inegável a eficácia <strong>de</strong> uma comunicação <strong>de</strong><br />
marketing que “persegue” as pessoas<br />
Alexis Thuller PAgliArini<br />
esperado comercial <strong>de</strong> fim <strong>de</strong> ano da<br />
O John Lewis, loja <strong>de</strong> <strong>de</strong>partamentos britânica,<br />
chegou e já virou trend topic nas<br />
re<strong>de</strong>s sociais. Depois que resolveu tratar o<br />
Natal como motivo para uma superprodução<br />
comercial, a empresa tem conseguido<br />
gerar uma enorme expectativa em torno<br />
da sua campanha natalina, sempre com<br />
temas emotivos, envolvendo sonhos infantis<br />
e personagens que caem nas graças do<br />
público.<br />
Foi assim com o Monty The Pengin,<br />
campanha <strong>de</strong> <strong>20</strong>14, ganhadora <strong>de</strong> Grand<br />
Prix no Cannes Lions <strong>20</strong>15. Além <strong>de</strong> encantar<br />
a todos, o simpático pinguim presente<br />
no comercial acabou se tornando<br />
tema <strong>de</strong> uma linha <strong>de</strong> produtos, com excelente<br />
resultado comercial.<br />
De lá para cá, as campanhas natalinas<br />
da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> lojas, carregadas <strong>de</strong> emoção,<br />
fazem muito sucesso e são ansiosamente<br />
aguardadas pelo consumidor.<br />
Em <strong>20</strong>15, o tema foi Man on The Moon,<br />
com a interação imaginária <strong>de</strong> uma garotinha<br />
com um simpático velhinho, morador<br />
da lua.<br />
No ano passado, foi Busterthe Boxer,<br />
tendo como personagem principal um<br />
cachorro boxer, que se <strong>de</strong>licia na cama<br />
elástica comprada como presente <strong>de</strong> Natal<br />
para a garotinha da história. E, agora,<br />
o personagem é Moz the Monster, um simpático<br />
monstro que habita os sonhos <strong>de</strong><br />
um garotinho.<br />
Não tenho dúvida <strong>de</strong> que o monstrão<br />
vai virar um novo personagem <strong>de</strong> sucesso,<br />
inspirando mais uma linha <strong>de</strong> produtos<br />
da John Lewis. Acompanhando essa<br />
história <strong>de</strong> sucesso, foi inevitável a minha<br />
reflexão sobre campanhas publicitárias<br />
que se tornam talk of the town e se multiplicam<br />
em espontâneos compartilhamentos<br />
pelas re<strong>de</strong>s sociais.<br />
A propaganda brasileira e mundial têm<br />
um monte <strong>de</strong> cases como esses na sua<br />
história. Personagens como o Garoto Bom<br />
Bril, protagonizado por Carlos Moreno, ou<br />
o Baixinho da Kaiser, por exemplo, sempre<br />
viravam tema <strong>de</strong> papos entre amigos,<br />
e não só entre publicitários. As suas histórias<br />
eram comentadas como se fossem<br />
novelas seguidas pelas pessoas.<br />
Os mais velhos se lembrarão dos filmes<br />
da Varig, retratando japoneses, portugueses,<br />
em torno <strong>de</strong> músicas que ficavam<br />
na nossa cabeça. Isso é propaganda! Esse<br />
buzz e a consequente potencialização do<br />
efeito <strong>de</strong> uma campanha são impagáveis!<br />
E não precisa ser uma campanha ou um<br />
belo comercial. É só nos lembrarmos dos<br />
dois cases mais premiados em Cannes este<br />
ano.<br />
Embora não sejam percebidos naturalmente<br />
como “propaganda”, a Fearless<br />
Girl e o Graham, ambas esculturas, tiveram<br />
o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> gerar ampla repercussão<br />
nas re<strong>de</strong>s sociais, pelo inusitado das suas<br />
formas, mas também pela i<strong>de</strong>ia por trás<br />
<strong>de</strong>sses cases.<br />
Acho essa reflexão pertinente nesses<br />
tempos em que se sobrevaloriza os algoritmos<br />
e a matemática por trás <strong>de</strong> campanhas.<br />
Entendo perfeitamente a reação<br />
do lendário John Hegarty, uns três anos<br />
atrás, no Cannes Lions, quando se contrapunha<br />
ferozmente ao excesso <strong>de</strong> valorização<br />
dada ao uso massivo <strong>de</strong> dados<br />
e do chamado “matemarketing”. “Fuck<br />
programatic! Fuck mathematics!”, vociferou<br />
o criativo, ao ser questionado sobre a<br />
força da propaganda baseada em dados.<br />
De fato, é inegável a eficácia <strong>de</strong> uma comunicação<br />
<strong>de</strong> marketing que “persegue”<br />
as pessoas – uma a uma – usando recursos<br />
que permitem acompanhar com precisão<br />
a jornada <strong>de</strong> cada potencial consumidor,<br />
“atacando-o” <strong>de</strong> forma precisa e preditiva,<br />
coerente com seus hábitos e atitu<strong>de</strong>s.<br />
Mas, que me <strong>de</strong>sculpem os <strong>de</strong>fensores<br />
<strong>de</strong>sses processos matemáticos da comunicação,<br />
não dá para tirar o valor <strong>de</strong> uma<br />
propaganda que vira conversa do dia seguinte,<br />
que impacta as pessoas mais pela<br />
emoção do que pela razão.<br />
Infelizmente não é fácil fazer uma propaganda<br />
com esse po<strong>de</strong>r. Talvez por isso,<br />
alguns marqueteiros, como uma reconhecida<br />
profissional que ouvi em evento<br />
recente, admitam que muitas vezes “se<br />
escon<strong>de</strong>m atrás dos dados”.<br />
É uma atitu<strong>de</strong> mais segura, mais <strong>de</strong>fensável.<br />
Mas não gera peças memoráveis como<br />
as campanhas da John Lewis.<br />
lizzyhayman/iStock<br />
Alexis Thuller Pagliarini é superinten<strong>de</strong>nte<br />
da Fenapro (Fe<strong>de</strong>ração Nacional <strong>de</strong> Agências<br />
<strong>de</strong> Propaganda)<br />
alexis@fenapro.org.br<br />
32 <strong>20</strong> <strong>de</strong> <strong>novembro</strong> <strong>de</strong> <strong>20</strong>17 - jornal propmark