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Edição Nº 237 - Janeiro 2018

Centro Lusitano de Zurique

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28 LUSITANO de Zurique<br />

Opinião<br />

Domingo frio de Sol<br />

VANTÓNIO M. RIBEIRO<br />

Fundadoe e<br />

vocalista dos uhf<br />

HÁ 30 ANOS FUI<br />

PASSAR O FIM-DE-<br />

ANO A MADRID COM<br />

AMIGOS. DEPOIS DO<br />

JANTAR, SERVIDO NUM<br />

RESTAURANTE GERIDO<br />

POR UNIVERSITÁRIOS,<br />

GEROU-SE UM<br />

DESPIQUE ENTRE<br />

CANTORIAS<br />

ESPANHOLAS E<br />

LUSITANAS. QUANDO<br />

O REPERTÓRIO SE<br />

GASTOU, PUXEI PELA<br />

“GRÂNDOLA” E OS<br />

SHOTS DE TEQUILLA<br />

DESLIZARAM COM<br />

GALHARDIA.<br />

NÃO SEI SE GANHÁMOS<br />

AOS DE LÁ, MAS<br />

REFORÇÁMOS A<br />

INDEPENDÊNCIA DOS<br />

DE CÁ.<br />

Tomo o duche da manhã e penso na secura<br />

que domina a península, sou rápido: o<br />

rio Douro está seco na nascente; o Alentejo<br />

coberto de palha seca e barro gretado.<br />

No leitor de CD, Jimi Hendrix e “Are You<br />

Experienced?”, voz e guitarra únicas, uma<br />

dolência selvagem que nos deixou há tanto<br />

tempo. Oiço-o por nada de especial – continuo<br />

a ouvir em contínuo a minha discoteca<br />

enquanto trabalho, vou na letra J.<br />

O Sol frio deixa os gatos sobre a relva um pouco<br />

seca – tenho receio de gastar água potável<br />

na rega e a humidade da noite mantém a vida<br />

que permite a acção clorofílica –, lavam-se, são<br />

animais asseados desde pequeninos.<br />

No telemóvel uma boa mensagem do Armando<br />

Teixeira: em Barcelona canta-se nas ruas<br />

“Grândola, vila morena”, pela libertação dos<br />

presos políticos. Sim, há presos políticos quando<br />

o Direito fica sob o chapéu-de-chuva da política<br />

(como aquele senhor que muitos tratam<br />

por ‘engenheiro’, excepto a Ordem dos Engenheiros,<br />

gostaria de ser por estes dias catalão).<br />

Com isto, não quero dizer que estou de acordo<br />

com a independência da Catalunha, essa é<br />

uma decisão dos catalães, mas o governo espanhol<br />

tem tratado o vulcão do Norte com a agilidade<br />

de um elefante numa loja de porcelanas.<br />

A chama vai continuar acesa.<br />

A “Grândola” é uma das nossas melodias eternas.<br />

Neste disco dos UHF, “A Herança do Andarilho”,<br />

sobre a obra do José Afonso, tratamo-<br />

-la com o peso das guitarras eléctricas soltas e<br />

temos quatro cantores de intervenção connosco:<br />

José Jorge Letria, Manuel Freire, Vitorino e<br />

Samuel cantam comigo o grito da inquietação.<br />

Não tem tempo; não tem cor. É de nós e é imortal.<br />

Há 30 anos fui passar o fim-de-ano a Madrid<br />

com amigos. Depois do jantar, servido num restaurante<br />

gerido por universitários, gerou-se um<br />

despique entre cantorias espanholas e lusitanas.<br />

Quando o repertório se gastou, puxei pela<br />

“Grândola” e os shots de tequilla deslizaram<br />

com galhardia. Não sei se ganhámos aos de lá,<br />

mas reforçámos a independência dos de cá.<br />

Domingo frio de Sol. À escrita, antes de uma<br />

ida à TVI com o Tim.

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