You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
dia com discussões acaloradas<br />
em 2017, sobretudo pela característica<br />
miscigenada do Brasil.<br />
A executiva Ira Finkelstein,<br />
vice-presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> estratégia<br />
da Heads e integrante do Comitê<br />
Impulsionador Her for She,<br />
da ONU Mulheres, explica que o<br />
caminho a ser percorrido ainda<br />
é longo, mesmo com os avanços<br />
contabilizados. Sob a sua ótica,<br />
um sinal claro <strong>de</strong> alerta é que<br />
69% do aproveitamento <strong>de</strong> mulheres<br />
negras em comunicação<br />
contemplam personalida<strong>de</strong>s.<br />
“Temos mais mulheres negras<br />
protagonistas e mais cabelos<br />
cacheados e crespos em relação<br />
às ondas anteriores. É um<br />
sinal positivo e indica que as<br />
campanhas estão antenadas às<br />
discussões da socieda<strong>de</strong>. Mas<br />
ainda é cedo para comemorar.<br />
Num país em que mais da<br />
meta<strong>de</strong> da população é negra,<br />
po<strong>de</strong>mos dizer que ainda não<br />
alcançamos um i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> representativida<strong>de</strong>”.<br />
Uma preocupação da Heads<br />
nessa avaliação é não <strong>de</strong>ixar<br />
a impressão <strong>de</strong> que se trata <strong>de</strong><br />
uma opinião solta <strong>de</strong> publicitários.<br />
Por esta razão trouxe o<br />
olhar da ONU Mulheres para<br />
dar consistência à pesquisa.<br />
Adriana Carvalho, que dirige a<br />
organização no Brasil, ajudou a<br />
equipe formada por sociólogos,<br />
antropólogos e profissionais<br />
<strong>de</strong> planejamento estratégico a<br />
formular um glossário capaz<br />
<strong>de</strong> separar rótulos, estereótipos<br />
e conceitos estabelecidos<br />
do objetivo final. Com isso em<br />
mente, Ira afirma que ficou fácil<br />
perceber que os anunciantes<br />
<strong>de</strong>ixaram para trás os clichês e<br />
investiram no empo<strong>de</strong>ramento<br />
das mulheres negras.<br />
“91% <strong>de</strong>las aparecem empo<strong>de</strong>radas,<br />
ou seja, são protagonistas<br />
<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, aparecendo<br />
e exercendo funções <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque<br />
na mensagem. Elas não<br />
estão repetindo estereótipos<br />
sociais que tanto incomodam.<br />
Trabalhar em parceria com a<br />
ONU Mulheres nos ajudou a<br />
i<strong>de</strong>ntificar as verda<strong>de</strong>iras intenções<br />
das marcas, sem o viés<br />
publicitário”, argumenta Ira.<br />
Por que Todxs? A VP <strong>de</strong> estratégia<br />
da Heads respon<strong>de</strong>: “Porque<br />
é um símbolo <strong>de</strong> representativida<strong>de</strong><br />
nessa análise sobre a<br />
publicida<strong>de</strong> brasileira. Quem é<br />
representado <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> é o X<br />
da questão. As mulheres estão<br />
mais estereotipadas ou rotuladas?<br />
Ou saber se os homens<br />
estão idiotizados ou empo<strong>de</strong>rados.<br />
Esse estudo é para mostrar<br />
a representativida<strong>de</strong> das raças<br />
na propaganda. E também do<br />
pessoal LGBT e <strong>de</strong>ficientes físicos.<br />
Pabllo Vittar, por exemplo,<br />
Karol Conka é uma das pioneiras como protagonista <strong>de</strong> campanhas publicitárias <strong>de</strong> marcas como a Avon e a operadora NET<br />
“a indústria da<br />
propaganda está<br />
se mexendo para<br />
retratar a vida<br />
real. A mulher<br />
realiza papéis que<br />
a empo<strong>de</strong>ram”<br />
ajudou a tirar o estereótipo sendo<br />
protagonista <strong>de</strong> campanhas<br />
<strong>de</strong> marcas lí<strong>de</strong>res como Tri<strong>de</strong>nt”,<br />
<strong>de</strong>talha Ira.<br />
A Heads acredita que o aumento<br />
da presença <strong>de</strong> mulheres<br />
negras na publicida<strong>de</strong> não é<br />
apenas um pico. Na sexta onda<br />
da pesquisa, programada para<br />
o segundo trimestre <strong>de</strong> <strong>2018</strong>, a<br />
expectativa é que o volume seja<br />
ainda maior.<br />
“Essa alavancagem expressiva<br />
<strong>de</strong> 600% <strong>de</strong> mulheres como<br />
protagonistas em comerciais <strong>de</strong><br />
televisão é para ser comemorada.<br />
Essa tendência já começara<br />
a se expressar na quarta<br />
edição. Portanto, não é só um<br />
pico. Esse é um movimento que<br />
ten<strong>de</strong> a crescer e se elevar cada<br />
vez mais. Foi um superachado,<br />
pois se percebe que há uma mobilização<br />
entre os publicitários<br />
sobre esse tema. A classe está<br />
ciente <strong>de</strong> que se <strong>de</strong>ve tomar<br />
uma atitu<strong>de</strong> sobre a presença<br />
<strong>de</strong> negros na propaganda, não<br />
apenas com papéis marginais,<br />
mas como sujeitos e protagonistas<br />
da situação. As mulheres<br />
empo<strong>de</strong>radas aparecem com<br />
31% nessa edição e esse dado<br />
é relevante porque o índice era<br />
baixíssimo no início da pesquisa.<br />
O que significa que a indústria<br />
da propaganda está se mexendo<br />
para retratar a vida real.<br />
A mulher realiza papéis que a<br />
empo<strong>de</strong>ram”, raciocina Ira. “A<br />
Sheron Menezes mostra que é<br />
muito feliz com seu cabelo na<br />
ação <strong>de</strong> Pantene”, acrescenta.<br />
Ira Finkelstein é VP <strong>de</strong> estratégia da Heads e conduziu a quinta etapa da pesquisa<br />
Fotos Divulgação<br />
RESPONSABILIDADE<br />
A motivação da Heads sobre<br />
esse tema está relacionada à<br />
responsabilida<strong>de</strong> da propaganda<br />
que tem na sua essência a<br />
característica <strong>de</strong> pautar a mente<br />
das pessoas. Ira esclarece<br />
que Claudio Loureiro, sócio e<br />
presi<strong>de</strong>nte da agência, propôs<br />
o tema pensando em como a<br />
ativida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser colaborativa<br />
com a socieda<strong>de</strong>.<br />
“Os valores também vêm dos<br />
conteúdos da propaganda exibida<br />
nos canais <strong>de</strong> mídia. Sim,<br />
os publicitários são propagadores<br />
<strong>de</strong> valores e crenças. Não<br />
po<strong>de</strong>mos nos eximir, portanto,<br />
<strong>de</strong> nenhuma responsabilida<strong>de</strong><br />
como comunicadores profissionais,<br />
afinal movimentamos<br />
uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> pensamentos.<br />
Quando vemos que estamos<br />
conseguindo, temos <strong>de</strong> celebrar<br />
e dizer para a gente mesmo:<br />
vamos continuar! Há resultados<br />
palpáveis e o importante<br />
é não <strong>de</strong>ixar que seja apenas<br />
uma onda ou moda. É preciso<br />
empo<strong>de</strong>rar sem estereótipos”.<br />
Ela lembra <strong>de</strong> exemplos<br />
como um comercial <strong>de</strong> Sundown<br />
que mostra um pai passando<br />
protetor solar na filha.<br />
“Para mim, foi uma quebra <strong>de</strong><br />
um paradigma, porque normalmente<br />
esse é o papel da<br />
mãe. Eram mãe e filha negras<br />
e o pai branco. Isso é empo<strong>de</strong>ramento.<br />
Também tem um<br />
pai que aparece como um ser<br />
preocupado com a nutrição da<br />
filha em um filme <strong>de</strong> Del Valle<br />
Nutri. Antes seria a mãe cumprindo<br />
esse papel. O banco Itaú<br />
mostrou uma menina jogando<br />
futebol com o pai no teto <strong>de</strong><br />
um prédio. As marcas estão se<br />
libertando dos estereótipos e<br />
isso significa empo<strong>de</strong>ramento”,<br />
finaliza Ira.<br />
jornal propmark - 8 <strong>de</strong> <strong>janeiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> 31