Revista Apólice #204
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tro. E dos grandes! Ainda em agosto, um<br />
depósito de materiais químicos no porto<br />
da cidade chinesa de Tianjin explodiu, matando<br />
44 pessoas e deixando mais de 400<br />
feridas. A explosão atingiu outros grandes<br />
armazéns de várias empresas instaladas na<br />
região portuária. A Renault declarou que<br />
mais de 1,5 mil veículos em seu estoque<br />
tiveram perda total. Toyota e Volkswagen<br />
estimam as perdas em quase cinco mil<br />
carros – 40% dos carros importados pela<br />
China entram no país pelo porto de Tianjin.<br />
Com várias apólices cobrindo riscos<br />
civis na área, a Zurich declarou logo após<br />
o acidente que terá que fazer, inicialmente,<br />
a cobertura de US$ 275 milhões (R$ 1 bilhão)<br />
em danos. Além disso, a seguradora<br />
suíça apresentou prejuízo no segmento de<br />
seguro automotivo nos Estados Unidos.<br />
Esses dois fatores forçaram, em setembro,<br />
a direção da Zurich a cancelar, pelo<br />
menos temporariamente, as conversas<br />
com a RSA.<br />
O choque foi grande para a rival<br />
britânica. Quando o CEO da Zurich,<br />
Martin Senn, anunciou para o mercado<br />
o encerramento da negociação, um dia<br />
antes do prazo previsto pelo órgão regulador<br />
britânico antes da oferta oficial,<br />
as ações da RSA na Bolsa de Valores de<br />
Londres registraram perdas de mais de<br />
20%. Em conferência com investidores,<br />
Senn justificou, sem mencionar Tianjin,<br />
que “recente deterioração do desempenho<br />
comercial no negócio de seguros gerais do<br />
grupo é o principal motivo para terminar<br />
as negociações com a RSA.”<br />
Nos bastidores do mercado segurador<br />
londrino, os analistas acreditam que a<br />
RSA continua à venda. Tanto a Zurich<br />
pode voltar a negociar sua compra num<br />
prazo mínimo de três meses quanto outra<br />
empresa pode surpreender o mercado e<br />
chegar com uma proposta. “É o que a gente<br />
chama de momentum! Tem muito disso no<br />
mercado segurador. Vamos ficar atentos”,<br />
observou Mark Wendon, especialista do<br />
setor e professor de finanças.<br />
Olhando para o caso da Zurich até<br />
parece que os negócios que não dão certo<br />
são mais “exciting” do que as transações<br />
que saem do papel. Por exemplo, outra<br />
notícia que é um verdadeiro “bafão” no<br />
mercado londrino não é lá muito positiva.<br />
A Prudential, a maior companhia de<br />
seguros britânica, com um faturamento<br />
em prêmios e reservas de mais de R$ 200<br />
bilhões, principalmente no ramo vida e<br />
previdência privada, estuda vender suas<br />
operações no Reino Unido ou movê-las<br />
para a Ásia, provavelmente Hong Kong ou<br />
Singapura. Tudo por causa da indefinição<br />
sobre a permanência do Reino Unido<br />
como membro da União Europeia. O governo<br />
conservador do primeiro-ministro<br />
David Cameron deve realizar um referendo<br />
em 2017, o que pode consagrar a<br />
separação da ilha britânica do continente<br />
europeu em termos de cooperação econômica,<br />
política e social. Em comunicado<br />
para seus acionistas no início de outubro,<br />
a Prudential informou que o mercado de<br />
Londres é muito dinâmico e positivo para<br />
a companhia, “mas estamos regularmente<br />
olhando para a estrutura do nosso negócio<br />
para ter certeza que ele continue otimizado.”<br />
O tema é tratado com cautela no alto<br />
escalão da empresa e do governo britânico,<br />
que não quer perder a seguradora para um<br />
país asiático.<br />
Mas o dinâmico mercado segurador<br />
europeu não produz apenas notícias<br />
negativas. Dias depois do cancelamento<br />
Martin Senn, CEO da Zurich<br />
do negócio entre Zurich e RSA, outra<br />
companhia suíça, a resseguradora Swiss<br />
Re, protagonizou a compra da Guardian<br />
Financial Services por meio de sua subsidiária<br />
no Reino Unido Admin Re. A<br />
pechincha foi de quase R$ 10 bilhões pelas<br />
cerca de 900 mil apólices do ramo vida e<br />
previdência privada do grupo Guardian,<br />
que serão somadas às mais de 4 milhões<br />
de apólices controladas pela Admin Re.<br />
Mais cedo, em janeiro deste ano, a<br />
resseguradora XL anunciou a compra<br />
da britânica Catlin por R$ 15 bilhões. A<br />
negociação durou mais de um ano até o<br />
fechamento do negócio e trouxe euforia ao<br />
mercado não só na Europa, mas no mundo<br />
todo. A arquitetura da operação rendeu ao<br />
CEO da XL, Mike McGavick, o título de<br />
“Líder de Seguros do Ano”, oferecido pela<br />
School of Risk Management da Universidade<br />
St. John’s, de Nova York.<br />
No fim do ano passado, a Aviva, maior<br />
seguradora britânica, entre seguros gerais,<br />
vida e previdência privada, protagonizou<br />
o maior (e polêmico) negócio de 2014 ao<br />
comprar por R$ 30 bilhões a pequena<br />
concorrente no setor vida Friends of Life.<br />
O negócio foi muito criticado por especialistas<br />
por se tratar de um valor muito alto<br />
e também pelo sindicato de trabalhadores<br />
do setor no Reino Unido, pois abriu espaço<br />
para a Aviva fazer uma grande reestruturação<br />
que envolveu a demissão de milhares<br />
de funcionários.<br />
Por fim, outra prova que demonstra o<br />
dinamismo do setor segurador europeu,<br />
sob o ponto de vista empresarial, é a expansão<br />
de suas atividades para mercados<br />
emergentes. De acordo com relatório<br />
divulgado em outubro pela agência de<br />
rating especializada A.M. Best, as dez<br />
maiores seguradoras europeias realizaram<br />
dezenas de operações de compras ou<br />
expansão de negócios já consolidados em<br />
países asiáticos, latino-americanos, africanos<br />
e do Oriente Médio. O estudo levou<br />
em conta o aumento do faturamento em<br />
prêmios dessas empresas nos principais<br />
mercados emergentes, constatando que as<br />
filiais emergentes têm um peso maior na<br />
composição do balanço do que no passado.<br />
* Luciano Máximo, jornalista, é repórter licenciado do jornal Valor Econômico, cobriu o setor de<br />
seguros e resseguros na Gazeta Mercantil<br />
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