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Matéria Prima 100 - Maio 2018

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REPORTAGEM DE CAPA – LITERATURA<br />

A CADA DIA, UM NOVO<br />

LIVRO É LANÇADO<br />

EM BELO HORIZONTE.<br />

SÃO QUASE 400 POR ANO<br />

NUNCA O MINEIRO SENTIU TANTO DESEJO DE CONTAR<br />

HISTÓRIAS. NUM ÚNICO SÁBADO, PELOS MENOS DEZ AUTORES<br />

APRESENTAM SUAS OBRAS NAS CINCO LIVRARIAS DA RUA<br />

FERNANDES TOURINHO, NA SAVASSI, QUE SE TORNOU<br />

CONHECIDA COMO A RUA DA LITERATURA.<br />

DURVAL GUIMARÃES<br />

As melhores recordações da minha<br />

infância, na fazenda do meu pai,<br />

em Jacinto, município perdido<br />

do Vale do Jequitinhonha, foram as extensas<br />

e sem pre surpreendentes conversas<br />

com o vaqueiro Claudionor.<br />

Numa delas, ele falou da imensa alegria<br />

que foi aprender a ler e, com isso,<br />

a descoberta de um novo mundo, absolutamente<br />

emocionante e colorido, encontrado<br />

nas páginas de todo e qualquer livro.<br />

Naquela noite da revelação sobre os prazeres<br />

na leitura, ele recitou o doloroso destino<br />

do inesquecível cachorro Plutão, cão<br />

que conheceu nos versos de Olavo Bilac.<br />

Sim, um rude vaqueiro a todos emocionava<br />

com a poesia do príncipe dos poetas brasileiros.<br />

“Plutão era um cão negro – ele declamava<br />

- com olhos em brasa. Bom, fiel,<br />

brincalhão, que era alegria da casa. Mas<br />

quando seu do dono morreu, ele preferiu<br />

seguir o mesmo destino. Depois de<br />

muito tempo desaparecido, foi encontrado<br />

ao lado da sepultura do menino<br />

Carlinhos”.<br />

A literatura era para Claudionor uma<br />

espécie de solitário contato com o sonho,<br />

na dura realidade em que vivia. Muitos<br />

anos depois eu o reencontrei já aposentado,<br />

pois meu pai se desfizera das terras.<br />

Na ocasião ele revelou que estivera lutando<br />

ao lado do seu comandante, o coronel Aureliano<br />

Buendia, nas vinte e tantas revoluções<br />

que participaram juntos e perderam<br />

todas. Não sei como, mas Claudionor teve<br />

acesso, ao livro “Cem anos de solidão”,<br />

do colombiano Gabriel Garcia Marquez.<br />

Se ler é uma maravilha, como estava<br />

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MAIO DE <strong>2018</strong> • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR

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