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qual estavam o cantor, o violonista e o<br />
acordeonista. Ao alcance da janela da<br />
moça, desfiava-se o repertório de sambas-canções,<br />
temas de filmes e clássicos<br />
das serestas, como ‘Chão de Estrelas’.<br />
A exibição musical às donzelas<br />
estendia-se da meia-noite até às quatro<br />
da manhã, indo de um endereço a outro,<br />
algo que hoje é inteiramente vedado<br />
pela Lei do Silêncio.<br />
PACÍFICO É RECONHECIDO COMO<br />
UM DOS EDIFICADORES DA MÚSICA<br />
POPULAR BRASILEIRA. CARREGA<br />
EM SI DOIS ATRIBUTOS<br />
EXCEPCIONAIS: O DE UM GRANDE<br />
MÚSICO E O DE UM GENTILÍSSIMO<br />
SER HUMANO, ADMIRADO POR<br />
TODOS QUE JÁ O CONHECERAM,<br />
ENTRE OS QUAIS FIGURAM ÍDOLOS<br />
DA MPB E, PARTICULARMENTE, DA<br />
BOSSA NOVA.<br />
Cada tempo guarda seus costumes<br />
e suas normas sociais. A moral é elástica.<br />
Quanto mais a moral se estende<br />
aos novos tempos, mais a ética deve<br />
se aprofundar. À medida que o machismo<br />
cai, a pluralidade se espraia.<br />
As mulheres, os negros, os índios, as<br />
crianças e os adolescentes conquistam<br />
mais direitos humanos.<br />
Os artistas estão sempre à frente da<br />
sua época. Habitam um mundo melhor,<br />
o por vir. É o mundo que ajudam a harmonizar.<br />
São eles que, ao caminhar, fazem<br />
caminhos. Olham para frente, sem<br />
perder as referências do passado.<br />
Eis que, assim, voltamos à Missa<br />
Dançante. Até os anos 1970, ir à missa<br />
aos domingos impunha-se como um<br />
dever para quase a totalidade da população<br />
de um país que, segundo o IBGE,<br />
era 82% católico. A participação relativa<br />
dos católicos, nas décadas anteriores,<br />
muito provavelmente beirasse os<br />
<strong>100</strong>%, mas não se empreendia a medição<br />
estatística. Em 2010, o IBGE constatou<br />
que 65% se declaravam católicos.<br />
Assim se fez uma tradição no clube,<br />
iniciada no final dos anos 1930. Quando<br />
às 10h se encerrava a missa dominical<br />
da Igreja de Lourdes, os associados do<br />
Minas I caminhavam até o clube, onde<br />
se realizaria a apresentação musical de<br />
duas horas, das 11h às 13h.<br />
A partir da década de 1950, o sarau<br />
recebeu o irreverente apelido de Missa<br />
Dançante, evento que era musicalmente<br />
embalado pelo quarteto do pianista<br />
Paulo Modesto, acompanhado<br />
por Dico, no violão, Alvarenga, no contrabaixo,<br />
e Dário, na bateria. O acordeonista<br />
Célio Balona também se<br />
apresentou com o grupo.<br />
Pois, neste domingo, voltaremos ao<br />
palco dos anos 1950/60. No Minas I, os<br />
músicos e os tantos amigos do Pacífico<br />
abrirão as cortinas do passado. Será<br />
reeditada a Missa Dançante.<br />
Também será lançado o livro ‘A<br />
turma da Savassi…que virou nome de<br />
bairro’. E ergueremos um brinde ao homenageado,<br />
ao mundo plural, ao<br />
mundo Pacífico.<br />
(*) Paulo Solmucci é presidente da<br />
União Nacional das Entidades de Comércio<br />
e Serviços (Unecs) e presidenteexecutivo<br />
da Associação Brasileira de<br />
Bares e Restaurantes (ABR)<br />
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