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Matéria Prima 100 - Maio 2018

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PAÍS AINDA ERA MUITO MACHISTA E POU-<br />

QUÍSSIMO PLURAL. Em 21 de maio de<br />

1935, nasceu ele no coração geográfico<br />

do atual bairro Savassi. Nos anos 1950,<br />

o rapaz começou a juntar em volta da<br />

antiga Praça 13 de <strong>Maio</strong> (que depois<br />

mudou de nome, tendo sido registrada<br />

como Praça Diogo de Vasconcelos) os<br />

adolescentes e jovens adultos que queriam<br />

se encaixar nos novos modelos<br />

comportamentais da modernização urbana<br />

e nos gestos rebeldes do ator James<br />

Dean e do roqueiro Elvis Presley.<br />

O Brasil colocava os pés na era do<br />

consumo do pós- Segunda Guerra, que<br />

tinha como símbolo mais fascinante o<br />

automóvel. O país começava a produzir<br />

carros. O primeiro modelo foi aqui fabricado<br />

em 1956, a pequena perua<br />

DKW Vemag.<br />

A turma da Savassi aprontava as<br />

suas. É claro que os pais, pessoas influentes<br />

na dita sociedade belo-horizontina,<br />

tinham o poder de livrar os filhos<br />

das eventuais repreensões<br />

policiais ,quando o guarda circunstancialmente<br />

agarrava um dos que soltavam<br />

bombinhas dentro do Cine Pathé,<br />

ensaboavam os trilhos para os bondes<br />

escorregarem nas ladeiras ou desfilavam<br />

pelas ruas da Savassi trajando<br />

apenas uma cueca samba-canção.<br />

Mas, o Brasil dos anos 1950/60 ainda<br />

era muito assim: misturava o novo sonho<br />

de modernidade com a sua realidade de<br />

quatro séculos e meio de uma encruada<br />

índole coronelista. Mandava quem podia,<br />

obedecia quem tinha juízo. O país ainda<br />

conservava um perfil muito masculinizado<br />

e pouquíssimo plural.<br />

Olhando no retrovisor, vê-se que a faceta<br />

mais luminosa e duradoura de Pacífico<br />

foi a música. Ele ajudou a tecer<br />

os novos tempos da MPB. Já nos anos<br />

1960, sentia-se muito à vontade ao lado<br />

de músicos como Milton Nascimento,<br />

Wagner Tiso, Luiz Eça, Nivaldo Ornelas,<br />

e assim por diante. Este continua sendo<br />

o eixo central da existência do nosso<br />

magnífico ex-diretor social do Minas I: a<br />

interlocução com um extenso rol de intérpretes<br />

vocais e instrumentistas.<br />

Na mesa do Pacífico, outros assuntos<br />

vão entrando, mas a base é uma só: a<br />

música. Basta que ele esteja conversando<br />

com um artista, e, pouco a<br />

pouco, começam a chegar outros e outros,<br />

formando um carrossel com todo<br />

o espectro socioeconômico e dos mais<br />

variados sons.<br />

Os músicos e os aficionados pela<br />

música são os que o amarram às mais<br />

longas prosas. A sua conversa rende<br />

além da conta em uma mesa em que<br />

estejam, por exemplo, o baterista Neném<br />

(Esdra Ferreira), os violonistas/guitarristas/compositores<br />

Juarez Moreira e<br />

Toninho Horta, o pianista Ubirajara Cabral,<br />

a cantora Carla Villar, o acordeonista<br />

Célio Balona, os irmãos-cantores<br />

Suzana e Bob Tostes. Quando não se é<br />

músico, basta que se goste dela para<br />

entrar e ficar na roda de bate-papo. É<br />

óbvio que esses encontros se dão em<br />

bares e restaurantes.<br />

INVENÇÃO DE PACÍFICO: PIANO NA CARRO-<br />

CERIA E MÚSICOS NA CAÇAMBA. O ponto<br />

alto do ativismo de Pacífico na turma<br />

da Savassi eram as serestas. Ele chegou<br />

a colocar seu piano na carroceria<br />

de um caminhão para tocar serenatas<br />

às namoradas dos amigos savassianos,<br />

as que moravam em sobrados ou nos<br />

pequenos prédios de então.<br />

Enquanto dedilhava o piano assentado<br />

sobre a carroceria, erguia-se do<br />

caminhão uma caçamba, dentro da<br />

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MAIO DE <strong>2018</strong> • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR

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