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PAÍS AINDA ERA MUITO MACHISTA E POU-<br />
QUÍSSIMO PLURAL. Em 21 de maio de<br />
1935, nasceu ele no coração geográfico<br />
do atual bairro Savassi. Nos anos 1950,<br />
o rapaz começou a juntar em volta da<br />
antiga Praça 13 de <strong>Maio</strong> (que depois<br />
mudou de nome, tendo sido registrada<br />
como Praça Diogo de Vasconcelos) os<br />
adolescentes e jovens adultos que queriam<br />
se encaixar nos novos modelos<br />
comportamentais da modernização urbana<br />
e nos gestos rebeldes do ator James<br />
Dean e do roqueiro Elvis Presley.<br />
O Brasil colocava os pés na era do<br />
consumo do pós- Segunda Guerra, que<br />
tinha como símbolo mais fascinante o<br />
automóvel. O país começava a produzir<br />
carros. O primeiro modelo foi aqui fabricado<br />
em 1956, a pequena perua<br />
DKW Vemag.<br />
A turma da Savassi aprontava as<br />
suas. É claro que os pais, pessoas influentes<br />
na dita sociedade belo-horizontina,<br />
tinham o poder de livrar os filhos<br />
das eventuais repreensões<br />
policiais ,quando o guarda circunstancialmente<br />
agarrava um dos que soltavam<br />
bombinhas dentro do Cine Pathé,<br />
ensaboavam os trilhos para os bondes<br />
escorregarem nas ladeiras ou desfilavam<br />
pelas ruas da Savassi trajando<br />
apenas uma cueca samba-canção.<br />
Mas, o Brasil dos anos 1950/60 ainda<br />
era muito assim: misturava o novo sonho<br />
de modernidade com a sua realidade de<br />
quatro séculos e meio de uma encruada<br />
índole coronelista. Mandava quem podia,<br />
obedecia quem tinha juízo. O país ainda<br />
conservava um perfil muito masculinizado<br />
e pouquíssimo plural.<br />
Olhando no retrovisor, vê-se que a faceta<br />
mais luminosa e duradoura de Pacífico<br />
foi a música. Ele ajudou a tecer<br />
os novos tempos da MPB. Já nos anos<br />
1960, sentia-se muito à vontade ao lado<br />
de músicos como Milton Nascimento,<br />
Wagner Tiso, Luiz Eça, Nivaldo Ornelas,<br />
e assim por diante. Este continua sendo<br />
o eixo central da existência do nosso<br />
magnífico ex-diretor social do Minas I: a<br />
interlocução com um extenso rol de intérpretes<br />
vocais e instrumentistas.<br />
Na mesa do Pacífico, outros assuntos<br />
vão entrando, mas a base é uma só: a<br />
música. Basta que ele esteja conversando<br />
com um artista, e, pouco a<br />
pouco, começam a chegar outros e outros,<br />
formando um carrossel com todo<br />
o espectro socioeconômico e dos mais<br />
variados sons.<br />
Os músicos e os aficionados pela<br />
música são os que o amarram às mais<br />
longas prosas. A sua conversa rende<br />
além da conta em uma mesa em que<br />
estejam, por exemplo, o baterista Neném<br />
(Esdra Ferreira), os violonistas/guitarristas/compositores<br />
Juarez Moreira e<br />
Toninho Horta, o pianista Ubirajara Cabral,<br />
a cantora Carla Villar, o acordeonista<br />
Célio Balona, os irmãos-cantores<br />
Suzana e Bob Tostes. Quando não se é<br />
músico, basta que se goste dela para<br />
entrar e ficar na roda de bate-papo. É<br />
óbvio que esses encontros se dão em<br />
bares e restaurantes.<br />
INVENÇÃO DE PACÍFICO: PIANO NA CARRO-<br />
CERIA E MÚSICOS NA CAÇAMBA. O ponto<br />
alto do ativismo de Pacífico na turma<br />
da Savassi eram as serestas. Ele chegou<br />
a colocar seu piano na carroceria<br />
de um caminhão para tocar serenatas<br />
às namoradas dos amigos savassianos,<br />
as que moravam em sobrados ou nos<br />
pequenos prédios de então.<br />
Enquanto dedilhava o piano assentado<br />
sobre a carroceria, erguia-se do<br />
caminhão uma caçamba, dentro da<br />
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