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claro nos diálogos com o vaqueiro, escrever<br />
não poderá ser magia de menor dimensão.<br />
Claro, não é fácil narrar boas histórias,<br />
e elas somente terão serventia se<br />
explorarem os abismos morais do ser humano,<br />
se encantarem com suas façanhas<br />
e revelarem, sem constrangimentos, suas<br />
vergonhosas infâmias.<br />
Portanto, fico feliz quando vejo os novos<br />
mineiros contadores de histórias surgirem<br />
nas livrarias, com o exclusivo propósito<br />
de humanizar a vida com suas narrativas<br />
tão exclusivas. Parece que nunca se escreveu<br />
tanto como agora, tornando-se impossível<br />
listar quantos livros são lançados<br />
mensalmente em Belo Horizonte. Alencar<br />
Perdigão, proprietário da livraria Quixote<br />
fala em mais de um livro publicado por<br />
dia, num balaio que inclui romances, poesias,<br />
crônicas, biografias e descrições de<br />
viagens. São quase 400 por ano.<br />
O mesmo livreiro fala que a produção<br />
independente se ampliou tanto que ficou<br />
difícil arrumar datas para atender aos pedidos<br />
de noites de autógrafo. Sua livraria<br />
as realiza quase diariamente, sendo que<br />
aos sábados são duas. Do outro lado da<br />
mesma rua Fernandes Tourinho, outras<br />
quatro livrarias realizam o total de oito<br />
sessões de autógrafos em cada sábado.<br />
“Não há uma única noite na cidade em<br />
que não haja pelo menos três festas de<br />
autógrafos”, revelou<br />
Saúdo a literatura não apenas pela sua<br />
rebeldia, pela sua insatisfação com as coisas<br />
que não funcionam direito e devem<br />
ser consertadas. Ela também aproxima<br />
povos distintos e a todos, igualmente, faz<br />
desfrutar, sofrer e se surpreender, apesar<br />
das crenças, dos idiomas, usos e costumes<br />
que nos separam. É o premiadíssimo<br />
autor Vargas Lhosa, prêmio Nobel de<br />
2010, quem fala: “quando Emma Bovary<br />
engole arsênio ou Anna Karenina se atira<br />
ao trem, a emoção é semelhante para o<br />
leitor que adora Buda, Confúcio, Cristo,<br />
Alá ou é ateu. Ou para quem veste terno e<br />
gravata, batinas, quimonos ou bombachas.<br />
A literatura cria fraternidade e rompe as<br />
fronteiras que se erguem entre homens e<br />
mulheres, a ignorância, as ideologias, as<br />
religiões, as línguas e a estupidez”.<br />
No meio a esse oceano de novos autores<br />
que se apresentam anualmente na cidade,<br />
tomei a liberdade de concentrar a minha<br />
atenção em dois deles, em função da maravilhosa<br />
narrativa de seus textos, da criatividade<br />
dos enredos e da complexidade<br />
psicológica de seus personagens. Destaquei<br />
nesta reportagens os romance “Tudo<br />
é rio”, da publicitária Carla Madeira, e “O<br />
amargo e o doce”, do economista Fuad<br />
Nomam, atual secretário municipal da Fazenda,<br />
da prefeitura de Belo Horizonte. As<br />
duas obras chegaram às livrarias nos últimos<br />
18 meses.z<br />
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