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última página<br />
RickVintage/iStock<br />
Falta <strong>de</strong> educação<br />
explícita<br />
Stalimir Vieira<br />
Quase sempre que se fala <strong>de</strong> educação<br />
por aqui, a associação imediata é com<br />
a qualida<strong>de</strong> da formação acadêmica ou técnica<br />
dos brasileiros, o que, houvesse vonta<strong>de</strong><br />
política e recursos suficientes, daria um<br />
futuro mais promissor ao país. Sabemos,<br />
no entanto, que estamos, nesse assunto,<br />
longe <strong>de</strong> oferecer à gran<strong>de</strong> maioria da população<br />
alguma coisa similar aos países <strong>de</strong>senvolvidos.<br />
Mas essa é apenas uma parte<br />
do problema.<br />
A superexposição a que estamos hoje<br />
todos sujeitos é uma armadilha<br />
fatal para a imagem <strong>de</strong> uma nação.<br />
Espetáculos <strong>de</strong> extraordinário<br />
po<strong>de</strong>r midiático, como a<br />
Copa do Mundo, por exemplo,<br />
são ocasiões em que as “marcas”<br />
dos países <strong>de</strong>spertam percepções<br />
muito rapidamente. E é do<br />
comportamento dos nacionais<br />
que se constituem os subsídios para a <strong>de</strong>finição<br />
<strong>de</strong> conceitos sobre o país na mente <strong>de</strong><br />
quem assiste.<br />
Há povos que apenas correspon<strong>de</strong>m à expectativa<br />
que se tem das atitu<strong>de</strong>s normais<br />
<strong>de</strong>les, como uma elegância simpática ou a<br />
alegria manifesta. Mas também há aqueles<br />
<strong>de</strong> quem pouco se sabe e a oportunida<strong>de</strong><br />
se abre para revelarem-se aspectos positivos<br />
ou negativos. Por isso, uma população<br />
carente <strong>de</strong> boas maneiras como a nossa <strong>de</strong>veria<br />
ser instruída para as ocasiões em que<br />
estivesse expondo a cara do Brasil.<br />
Se os russos fizeram uma campanha para<br />
que sua gente sorrisse mais, procurando<br />
“ven<strong>de</strong>r” uma imagem simpática da Rússia,<br />
po<strong>de</strong>ríamos também ter feito uma campanha<br />
voltada àqueles que viajaram para a<br />
Copa. Com isso, quem sabe, teríamos evitado<br />
alguns vexames, como as grosserias<br />
cometidas contra mulheres e adolescentes.<br />
“O diabO é que<br />
agOra tudO<br />
está expOstO<br />
aO mundO, O<br />
tempO tOdO”<br />
Infelizmente até o momento tudo o que se<br />
<strong>de</strong>staca dos brasileiros, fora e <strong>de</strong>ntro do<br />
campo, aliás, é revelador <strong>de</strong> uma mistura<br />
nefasta <strong>de</strong> malandragem, mediocrida<strong>de</strong> e<br />
baixo nível <strong>de</strong> educação.<br />
Verda<strong>de</strong> que, recentemente, imitando os<br />
senegaleses, alguns brasileiros trataram <strong>de</strong><br />
dar uma limpada nos espaços ocupados no<br />
estádio em que assistiram a um jogo. Mas<br />
até agora o que se tem revelado expressão<br />
maior da nossa gente não é nada <strong>de</strong> que nos<br />
orgulhemos. Acredito que é uma boa oportunida<strong>de</strong><br />
para agregarmos à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valorizar<br />
a educação, recomendações que não se<br />
restrinjam aos ambientes focados<br />
na formação intelectual.<br />
Precisamos ensinar e praticar<br />
civilida<strong>de</strong>. Ainda somos muito<br />
primitivos no geral. Confundimos<br />
alegria com uma euforia<br />
grotesca, agressiva; só conhecemos<br />
o humor em prejuízo <strong>de</strong><br />
alguém. Somos ru<strong>de</strong>s no gestual, <strong>de</strong>satentos<br />
com o próximo, temperamentais frente<br />
à menor contrarieda<strong>de</strong>. Isso parecia pouco<br />
enquanto era testemunhado apenas por<br />
nós mesmos e a que sempre acabamos nos<br />
acostumando.<br />
O diabo é que agora tudo está exposto ao<br />
mundo, o tempo todo. Não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>mos<br />
mais da boa ou da má vonta<strong>de</strong> dos outros<br />
para sermos avaliados. Não é mais necessário<br />
convocar testemunhas para narrar nossas<br />
atitu<strong>de</strong>s. Elas estão online.<br />
É só acessar as re<strong>de</strong>s sociais para flagrar<br />
nosso analfabetismo crasso, bastam <strong>de</strong>z<br />
minutos assistindo a um programa popular<br />
para nos vermos diante do patético, em<br />
termos <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> autocrítica, uma busca<br />
por “funk proibidão” no YouTube e percebemos<br />
que vivemos sob o império da libertinagem.<br />
Some-se aí o po<strong>de</strong>r da corrupção e<br />
teremos o <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> um país sem futuro.<br />
Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing<br />
stalimircom@gmail.com<br />
46 2 <strong>de</strong> <strong>julho</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark