perspectivas | previdência Virando a página 18
Depois de levar o título de ovelha negra do mercado de seguros neste ano, o segmento de previdência privada guarda perspectivas um pouco mais favoráveis para 2019. A isenção de taxas em meio ao acirramento da concorrência e a tão aguardada reforma da aposentadoria oficial, caso seja implementada, podem servir de motor para o desempenho do setor no próximo ano Manuela Almeida O telefone toca às 19 horas. Ninguém mais está na seguradora para atender. Normal. Em locais administrativos, geralmente, o turno termina às 18 horas. O diretor regional da Icatu Seguros em Minas Gerais, Sergio Prates, puxa a ligação. Do outro lado da linha, uma pessoa de 30 anos quer informações sobre como adquirir uma previdência privada. Em duas décadas de experiência no setor, Prates jamais avistara uma situação semelhante. “Sempre tivemos de provocar as pessoas para o tema. Hoje, já vemos o interesse vir dos próprios consumidores”, diz o especialista no tema. A narrativa sintetiza a tremenda oportunidade que o segmento tem pela frente. Seja para complementar a aposentadoria oficial ou para garantir a manutenção do padrão de vida no futuro, a previdência privada ainda tem muito espaço para crescer no Brasil a despeito de não ter tido um bom ano em termos de vendas. São apenas 13 milhões de indivíduos que possuem um plano privado no País, de acordo com a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi). Esse contingente representa pouco mais de 6% da população brasileira. Não bastassem os ventos contrários da economia brasileira, que demora a retomar um desempenho mais vigoroso, elevar essa proporção ficou ainda mais desafiador este ano em meio ao patamar da Selic, taxa básica de juros da economia, na comparação com 2017. A diferença pesou na rentabilidade dos fundos, que também foi afetada pela volatilidade gerada em torno das incertezas eleitorais, afastando novos investidores. Como consequência, o segmento de previdência privada amarga queda de quase 36% na captação líquida de recursos (diferença de entradas e saídas) no acumulado de janeiro a outubro, totalizando R$ 28,5 bilhões em relação a idêntico intervalo do ano passado, conforme dados mais recentes divulgados pela FenaPrevi. A redução do segmento fez não só gigantes do setor como Bradesco e BB Seguridade, que controla a Brasilprev, líder do segmento, revisarem suas projeções de desempenho para o ano de 2018 bem como também forçou o mercado de seguros a rever seus números para este exercício. A boa notícia fica, contudo, do lado das reservas. De janeiro a outubro, o saldo dos planos de previdência privada aberta totalizou R$ 817,4 bilhões, uma expansão de 10,3%, segundo a FenaPrevi. A trajetória de crescimento reforça a importância do segmento, mas o montante ainda é baixo em relação à sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Considerando apenas os planos abertos, as reservas técnicas previdenciárias equivalem hoje a 12% da atividade do País. A baixa penetração, de acordo com o presidente da FenaPrevi, Edson Franco, reforça o potencial de expansão para o segmento. Tanto é que para 2019 ele aposta em um bom desempenho para o setor, visto que este mercado ainda é “jovem e está em fase de acumulação”. “Recente pesquisa feita pelo Ipsos a pedido da FenaPrevi mostra que hoje 60% dos brasileiros acham necessário ter um plano de previdência complementar para se preparar para a aposentadoria”, enfatiza Franco. 19