Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
entrevista<br />
Em novembro de 2018 tomou uma decisão heroica<br />
de expor no Fantástico, em rede nacional, as agressões<br />
que vinha sofrendo com seu ex-marido. Como<br />
chegou a essa decisão?<br />
Ele ameaçou me matar e matar meus pais se o entregasse.<br />
Meu pai é deficiente visual e minha mãe<br />
deficiente física. Instalei as câmeras. Vivia coagida,<br />
com medo das ameaças dele. Não podia discordar de<br />
nada. Fiquei em cárcere privado. Nunca saia sozinha.<br />
Ele sempre me acompanhava. Tinha medo de pedir<br />
ajuda. Ele dizia para não falar nada a ninguém, para<br />
tudo ficar normal, como ele queria. Vivia ameaçada e<br />
ele é muito poderoso e influente, conhecia todo mundo.<br />
Nossos padrinhos eram da inteligência da polícia.<br />
Ele sabe meus passos hoje, preso, imagina solto?<br />
Denunciar alguém que tenha influência política e em<br />
todas as áreas é um ato de coragem.<br />
Instalou câmeras pela casa para filmar as agressões.<br />
Teve medo que as pessoas não acreditassem em suas<br />
denúncias?<br />
Com certeza. Diplomata, família de diplomatas e<br />
embaixadores. Ele é influente e principalmente, extremamente<br />
encantador, tanto que me apaixonei antes<br />
por ele ser assim. E extremamente lobista. Então,<br />
após o casamento, ele virou outra pessoa. Agressiva,<br />
manipuladora e mentia muito. Nunca sabia o que era<br />
verdade ou mentira. E na frente dos outros era um<br />
homem apaixonado e educadíssimo, mas sozinho era<br />
outra coisa. Algumas mulheres e pessoas que trabalharam<br />
com ele no passado, me procuraram após a<br />
entrevista, e aí me contaram suas histórias com ele e<br />
fui vendo um novo Sérgio. Antes ele tinha duas empresas,<br />
hoje sei que são várias. Antes eu era a terceira<br />
mulher, hoje sei que serei o sétimo divórcio. Olhando<br />
os processos e a condução mentirosa dele, só me dá<br />
certeza que Deus me salvou de um mal maior.<br />
Normamente nos casos de feminicídio há uma relação<br />
de confiança entre o agressor e a vítima. Quando<br />
começou a perceber que algo estava estranho?<br />
Que a relação havia se tornado abusiva?<br />
As agressões começaram sutis após me casar no civil.<br />
Começou com uma roupa, ditar o que usar. Ele não<br />
queria que atuasse mais e pediu para que não fizesse<br />
determinados trabalhos, alegava que estávamos recém-casados.<br />
Inclusive, neguei uma novela. Até que<br />
veio a primeira grande agressão em março de 2017.<br />
Foi uma enorme tristeza. Imagine, quatro meses de<br />
casada. Fiquei presa em casa porque ele não me deixava<br />
sair, com medo que eu o denunciasse. Foram<br />
seis celulares quebrados, muitos objetos pessoais<br />
meus destruídos, joias, computador, dinheiro, eletrônicos,<br />
qualquer presente que ele me dava, se eu o<br />
contrariasse, ele tomava de volta. Uma mesquinharia<br />
que nunca tinha vivido na vida. Ele acabou com meu<br />
HD externo, com toda a minha vida de atriz. Isso é<br />
irrecuperável. Ele não admitia eu falar não. Queria ter<br />
controle sobre a minha vida. Eu nunca da dele. Tinha<br />
senha do meu celular. Eu sequer conhecia o trabalho<br />
dele, mas ele sabia tudo meu: lugares que trabalhava,<br />
pessoas, amigos. A primeira agressão foi uma noite de<br />
terror. Ele me empurrou e eu tentando fugir, ele abriu<br />
minha cabeça, me machucou muito pelo corpo todo.<br />
Me jogou, me enforcando na cama e caí no jarro de<br />
vidro que perfurou meu braço. Levei pontos. Estava<br />
toda ensanguentada, machucada de tanto soco,<br />
pontapé e ele segurava até eu não conseguir respirar.<br />
Pegou uma machadinha quebrou a casa inteira e veio<br />
As agressões<br />
começaram sutis<br />
após eu me casar no<br />
civil. Começou com<br />
uma roupa, ditar<br />
o que usar. Ele não<br />
queria que atuasse<br />
mais e pediu para<br />
que não fizesse<br />
determinados<br />
trabalhos, alegava<br />
que estávamos<br />
recém-casados<br />
28<br />
abril 2019<br />
revistavoi.com.br