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edição de 29 de abril de 2019

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editorial<br />

Armando Ferrentini<br />

aferrentini@editorareferencia.com.br<br />

Quem não se comunica...<br />

natureza do cidadão Jair Bolsonaro é polêmica. Se ele fosse um jogador <strong>de</strong><br />

A futebol profissional, seria louvado pela crônica, pois gosta <strong>de</strong> entrar em todas<br />

as divididas.<br />

Hoje, porém, cabe-nos analisar o presi<strong>de</strong>nte da República e não apenas o cidadão.<br />

No mais alto posto da nação, para o qual foi eleito após uma campanha sórdida<br />

<strong>de</strong> alguns dos seus adversários, teve um primeiro dia <strong>de</strong> leão, lembrando<br />

uma frase atribuída a Benito Mussolini: “Mais vale um dia <strong>de</strong> leão do que cem<br />

anos <strong>de</strong> carneiro”.<br />

O lado da nação que o elegeu presi<strong>de</strong>nte da República exultou, por ter trazido <strong>de</strong><br />

volta nesse dia festivo para o país e o mundo (Dia da Confraternização Universal)<br />

referências aos símbolos maiores da pátria, como a ban<strong>de</strong>ira, o hino e um patriótico<br />

discurso enaltecendo os valores da nossa nação gigantesca.<br />

Teve ainda como coadjuvante, uma apresentação gloriosa da sua jovem mulher,<br />

expressando-se em libras (sigla <strong>de</strong> língua brasileira <strong>de</strong> sinais) e encantando não<br />

só o público presente ao ato, como também a milhões <strong>de</strong> telespectadores e usuários<br />

da internet, que reacendiam suas esperanças em um país melhor, liberto<br />

principalmente das práticas <strong>de</strong> corrupção que haviam se tornado infelizmente<br />

comuns em governos anteriores.<br />

Ainda em janeiro, poucos dias passados da sua posse, con<strong>de</strong>nou a prática das<br />

BVs (bonificação <strong>de</strong> volume), usual no mercado publicitário, garantindo às<br />

agências <strong>de</strong> propaganda um xis a mais na sua remuneração, através da frequência<br />

<strong>de</strong> uso dos meios <strong>de</strong> comunicação pelos clientes-anunciantes das mesmas.<br />

Essa intenção <strong>de</strong> S.Exa. foi alvo <strong>de</strong> extenso editorial do PROPMARK, em nossa<br />

edição <strong>de</strong> 14/1/19 (data <strong>de</strong> capa).<br />

O mercado reagiu, as agências, através das suas entida<strong>de</strong>s, protestaram, alguns<br />

clientes-anunciantes manifestaram-se em <strong>de</strong>fesa das suas agências, nenhum<br />

<strong>de</strong>les (ao menos publicamente) contra, e vida que segue. O presi<strong>de</strong>nte Bolsonaro<br />

<strong>de</strong>sistiu da i<strong>de</strong>ia, não mais tocando no assunto.<br />

O mercado e o próprio público, porém, têm notado um esvaziamento na publicida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> governo, cuja soma total <strong>de</strong> verbas atinge mais <strong>de</strong> 10% do total dos investimentos<br />

publicitários em nosso país, sejam eles <strong>de</strong> empresas privadas ou <strong>de</strong> estatais,<br />

aqui incluídos os órgãos <strong>de</strong> administração direta do próprio governo (fe<strong>de</strong>ral).<br />

Mesmo nas <strong>de</strong> economia mista, on<strong>de</strong> prepon<strong>de</strong>ra o governo, a ação publicitária<br />

– uma das mais importantes ferramentas do marketing – ou <strong>de</strong>sapareceu por<br />

completo ou tornou-se tão tênue que não marca presença.<br />

Ainda sofrendo as consequências <strong>de</strong> uma tentativa <strong>de</strong> homicídio, o presi<strong>de</strong>nte<br />

eleito e já empossado significava a esperança <strong>de</strong> um novo caminho para a condução<br />

dos <strong>de</strong>stinos da pátria brasileira.<br />

Seus primeiros dias <strong>de</strong> governança foram difíceis, pois a recuperação da sua saú<strong>de</strong><br />

ainda <strong>de</strong>ixava a <strong>de</strong>sejar. Mas, aos poucos, o presi<strong>de</strong>nte Bolsonaro foi conseguindo<br />

se firmar no cargo, difícil <strong>de</strong> ser exercido se o titular tem a saú<strong>de</strong> abalada.<br />

No caso <strong>de</strong>le, abaladíssima.<br />

Venceram, porém, as competências médicas e hospitalares, além da sua inegável<br />

força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> em recuperar-se fisicamente, voltando aos poucos a uma<br />

situação senão ótima, ao menos boa <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

A partir daí, o presi<strong>de</strong>nte Bolsonaro passa lenta, mas gradativamente, a<br />

trazer-nos <strong>de</strong> volta à lembrança alguns atos espetaculosos <strong>de</strong> figuras presi<strong>de</strong>nciais<br />

que foram já em sua época tidas como folclóricas. A principal <strong>de</strong>las<br />

para nós foi Jânio Quadros, que eleito presi<strong>de</strong>nte da República em fins <strong>de</strong><br />

1960, após carreira política meteórica (vereador, prefeito e governador em<br />

São Paulo), tomou posse em janeiro <strong>de</strong> 1961 e renunciou em fins <strong>de</strong> agosto<br />

<strong>de</strong>sse mesmo ano, surpreen<strong>de</strong>ndo senão toda a nação, ao menos aqueles que<br />

não o conheciam bem.<br />

Durante a sua curta permanência na Presidência da República, proibiu rinhas<br />

<strong>de</strong> galo e o uso <strong>de</strong> biquínis nas praias, além <strong>de</strong> con<strong>de</strong>corar Che Guevara com a<br />

Or<strong>de</strong>m do Cruzeiro do Sul (na época Guevara ainda não era um mito como hoje,<br />

alimentado pelas esquerdas internacionais) e assinou <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cretos-leis<br />

que fariam corar <strong>de</strong> vergonha qualquer brasileiro minimamente bem informado.<br />

Jânio Quadros, na verda<strong>de</strong> um político calculista, gostava <strong>de</strong> “causar”, pois sabia<br />

que boa parte da nossa população ficava admirada com esses arroubos.<br />

Foi pensando assim que <strong>de</strong>cidiu renunciar, em um episódio que até hoje não<br />

encontra uma explicação lógica para o tresloucado gesto. Em busca <strong>de</strong> uma razão,<br />

que passava até por um momento <strong>de</strong> porre, viralizou-se uma saída que ele<br />

próprio usou em sua carta-renúncia: forças ocultas.<br />

Estas jamais foram i<strong>de</strong>ntificadas, mas permaneceram como uma <strong>de</strong>sculpa frequente,<br />

quando encetou sua volta às li<strong>de</strong>s políticas.<br />

Não nos move aqui nenhuma intenção <strong>de</strong> comparar o presi<strong>de</strong>nte Jair Bolsonaro<br />

com Jânio Quadros, até porque são épocas completamente diferentes, mas vemos<br />

uma certa coincidência na atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> “causar”, escolhendo como um dos<br />

seus alvos principais a publicida<strong>de</strong>, pois sabe, inteligente que é, que ao mexer<br />

com a ativida<strong>de</strong> publicitária, mexe com a mídia, principal responsável pela formação<br />

da chamada opinião pública.<br />

Esse fato, lamentado por marqueteiros, publicitários, empresários e o público<br />

consumidor, que tem estranhado essa ausência, provocou um outro editorial<br />

nosso na edição <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> <strong>abril</strong>, sob o título Publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Governo.<br />

Nele, atribuíamos boa parte do distanciamento da Presidência da República e dos<br />

Ministérios a ela subordinados, além das empresas <strong>de</strong> economia mista, como a<br />

Petrobras, ao <strong>de</strong>sgaste sofrido pelo próprio governo, relembrando o inesquecível<br />

Abelardo “Chacrinha” Barbosa: “Quem não se comunica, se trumbica”.<br />

Os índices das recentes pesquisas <strong>de</strong> opinião aí estão para confirmar essa verda<strong>de</strong><br />

palpável: a popularida<strong>de</strong> do governo Bolsonaro tem diminuído e nem <strong>de</strong><br />

longe se fala em motivos espúrios.<br />

Temos para nós que gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>ssa reprovação pública se <strong>de</strong>ve à ausência<br />

do governo nas mídias, através da publicida<strong>de</strong>.<br />

Como se isso não bastasse, temos agora a participação direta do presi<strong>de</strong>nte da<br />

República, suspen<strong>de</strong>ndo a campanha do Banco do Brasil, após a veiculação<br />

(uma das mais curtas da história recente do banco) do comercial Selfie, justificado<br />

pela própria ação dos personagens do comercial, tirando selfies com facilida<strong>de</strong>,<br />

lembrando a mesma facilida<strong>de</strong> para abrir uma conta no Banco do Brasil. Uma<br />

i<strong>de</strong>ia simples e convincente.<br />

Chegamos a ouvir <strong>de</strong> uma pessoa bem informada junto as hostes governamentais<br />

que a diversida<strong>de</strong> apresentada no comercial está mais para a filosofia petista<br />

do que a do novo governo...<br />

O comercial teve curta exposição na mídia, tendo sido retirado, segundo todo<br />

o noticiário da imprensa diária e nossas próprias fontes, por or<strong>de</strong>m direta do<br />

presi<strong>de</strong>nte da República ao presi<strong>de</strong>nte do Banco do Brasil, que a executou <strong>de</strong>mitindo<br />

inclusive o diretor <strong>de</strong> marketing do anunciante.<br />

Para emoldurar ainda mais esse quadro, no encerramento <strong>de</strong>sta edição chega-<br />

-nos a notícia <strong>de</strong> que, daqui para frente, todas as campanhas <strong>de</strong> governo (fe<strong>de</strong>ral)<br />

<strong>de</strong>verão ser submetidas previamente à aprovação da Secom, comandada<br />

pelo ministro da Secretaria <strong>de</strong> Governo, general Santos Cruz.<br />

Temos para nós que não se trata da <strong>de</strong>cisão mais correta, tendo em vista principalmente<br />

o volume da publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> governo, se essa importante ferramenta<br />

do marketing (no caso, oficial) for <strong>de</strong> fato utilizada <strong>de</strong>vidamente.<br />

A questão toda neste momento se resume em saber se o governo fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>seja<br />

mais ou menos luz.<br />

Voltando ao Velho Guerreiro, quem não se comunica...<br />

4 <strong>29</strong> <strong>de</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> - jornal propmark

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