última página Ekaterina79/iStock Do incômodo ao ativismo Claudia Penteado Menstruação é um fenômeno biológico natural <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> sangue que acomete, uma vez por mês, a imensa maioria das mulheres no mundo. Uma mulher que menstrue normalmente entre, digamos, os 13 e os 50 anos per<strong>de</strong> em média 22 litros <strong>de</strong> sangue ao longo da vida, segundo cálculos. Apesar <strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong> biológica inexorável e da certeza <strong>de</strong> que a menstruação virá, mensalmente, ao longo <strong>de</strong> pelo menos uns 35 anos, para a gran<strong>de</strong> maioria das mulheres, este é um tema que entrou para a or<strong>de</strong>m da cultura, ganhando, em diferentes partes do planeta, várias perspectivas e olhares. No Nepal, por exemplo, a menstruação é símbolo <strong>de</strong> impureza, fruto do ponto <strong>de</strong> vista do hinduísmo, religião que domina a região. Durante cinco dias do ciclo menstrual, as mulheres que querem estar bem com o mundo e com os <strong>de</strong>uses não bebem leite, não comem carne, não comem vegetais nem frutas. Não tocam em homens, em plantas <strong>de</strong> flor, em torneiras <strong>de</strong> água. Não po<strong>de</strong>m frequentar templos e sequer a cozinha - consi<strong>de</strong>rado o templo doméstico. À noite, as mais pobres chegam a dormir em abrigos para vacas. Em Malaui, na África, menstruar é sinônimo <strong>de</strong> vergonha. No Japão, a menstruação impe<strong>de</strong> mulheres <strong>de</strong> prepararem sushi porque ela afetaria a maneira como elas sentem o gosto do alimento. Na Índia, há mulheres que acreditam que a menstruação contagia e contamina. No Afeganistão, existe a crença <strong>de</strong> que mulheres po<strong>de</strong>m se tornar inférteis se tomarem banho durante período menstrual. No Irã, menstruação é doença. Mesmo aqui no oci<strong>de</strong>nte, até outro dia, menstruação era o assunto incômodo sobre o qual não se falava. Na propaganda, passamos anos representando o sangue como um líquido azul e dando a falsa i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que “naqueles dias” as mulheres po<strong>de</strong>m se sentir livres, leves e soltas - como se o simples “a publicida<strong>de</strong> posicionou a menstruação como símbolo <strong>de</strong> força feminina” uso <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada marca <strong>de</strong> absorvente tornasse tudo magicamente incrível. Mas é preciso reconhecer que evoluímos na abordagem do tema, e a publicida<strong>de</strong> das marcas po<strong>de</strong> se gabar <strong>de</strong> ter algo a ver com isso, a partir do momento em que assumiu seu protagonismo numa conversa mais franca com as pessoas a respeito do tema. Algumas marcas, como OB, foram precursoras. É sem dúvida um clássico o anúncio da DPZ, ainda nos anos 1970, que mostrava uma sósia da romena Nadia Comaneci, enquanto a marca se colocava como a gran<strong>de</strong> aliada das mais <strong>de</strong> 2 mil mulheres que disputaram os Jogos Olímpicos em Montreal, no Canadá, literalmente tirando o assunto do armário e causando furor na censura <strong>de</strong> um Brasil em plena ditadura. Muitos anos <strong>de</strong>pois, a entrada em cena da internet e das re<strong>de</strong>s sociais <strong>de</strong>u voz às pessoas que se sentiam incomodadas inclusive com a forma com que o tema menstruação era tratado na publicida<strong>de</strong>. E foram elas, antes das marcas, que abriram o caminho para falar mais abertamente sobre o tema. Acompanhar o espírito do tempo abriu caminhos e <strong>de</strong>u origem a campanhas como Like a Girl, <strong>de</strong> Always, criada pela Leo Burnett em 2014, exemplo clássico <strong>de</strong> estratégia que <strong>de</strong>u origem ao termo “femvertising”. Em meio a discussões sobre igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero e assédio, a publicida<strong>de</strong> posicionou a menstruação como símbolo <strong>de</strong> força feminina, e falar do tema se transformou numa espécie <strong>de</strong> ativismo. A marca Libresse/Bodyform se tornou ícone ao mostrar sangue menstrual na TV e elevar o tratamento do tema a patamares nunca antes navegados. Kotex entrou em discussões interessantes, como os estereótipos em torno da TPM (#itsnotmyperiod - Your period doesn’t <strong>de</strong>fine you). No Brasil, a marca Sempre Livre hoje leva educação para meninas e mulheres que não têm acesso a informações sobre menstruação no Piauí e Maranhão. As marcas assumiram sua responsabilida<strong>de</strong> e se implicaram na transformação <strong>de</strong> contextos extremamente sofridos. É assim que se muda o mundo. 62 3 <strong>de</strong> <strong>junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> - jornal propmark
Marca <strong>de</strong> lácteos mais comprada do Brasil*? LÁ em casa tem. Italac. Um cliente que funciona. IDEIAS QUE FUNCIONAM. *Eleita a 4ª marca <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> consumo mais comprada do Brasil, sendo a primeira no setor lácteo, segundo ranking Kantar Worldpanel Brand Footprint, <strong>2019</strong>.