Antologia Encontro Literário
Poesias, contos e crônicas
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MARCOS COSTA FILHO (ORG.)
A INVISIBILIDADE DAS PESSOAS
Vou falar aqui de um assunto estranho: A invisibilidade das pessoas.
Como? Invisibilidade? Sim, é exatamente a esta conclusão que eu
cheguei, depois de analisar algumas situações estranhas que aconteceram
comigo. Algumas pessoas que hoje vejo na rua, simplesmente já passaram
por mim nas mesmas ruas, certamente durante muitos anos e eu não as
via. Como eu podia ter convivido com estas pessoas durante mais de 20
anos numa cidade relativamente pequena e não conhecê-las? Como podia
nunca tê-las visto em alguma rua?
Aí me perguntei o porquê disto. Simplesmente porque eu não as
conhecia, não sabia quem eram, não sabia como elas eram. Então percebo
que nosso cérebro é, de certa forma, muito estranho e bem parecido com
um computador. Como não havia nenhum arquivo de dados gravado
sobre a tal pessoa estranha, ele simplesmente não a via, ou melhor, não
a reconhecia, não a destacava entre os milhares de transeuntes. Ou seja,
nosso cérebro precisa de dados específicos, de detalhes que tornem uma
pessoa especial entre muitas. Precisa de dados comparativos, para localizar
especificamente esta pessoa no tempo e no espaço e torná-la especial, para
que a grave em seus arquivos, lhe dê um nome, atribua a ela características
físicas, qualidades específicas. E então compare-a com dados agradáveis
ou desagradáveis, atitudes que classifique como qualidades ou defeitos,
emoções boas ou ruins que lhe tenham provocado e definir então se gosta
ou não daquela pessoa.
Será que seguindo por este caminho, chegaríamos ao que definimos por
”Amar” uma pessoa? Mas, em se tratando de uma área tão delicada como
o amor, eu prefiro parar por aqui. Parece complexo, mas acho que isto
tudo, abordado aqui de maneira bastante tecnológica, já foi dito de uma
maneira bem mais simples e poética (ou não foi simples para quem não
o compreendeu) por Antoine de Saint Exupéry em sua obra O Pequeno
Príncipe. Especialmente quando o Pequeno Príncipe conversa com a
raposa sobre cativá-la, e afirmava que a partir daquele dia ela já não seria
uma raposa comum, mas uma raposa única no mundo.
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