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Antologia Encontro Literário

Poesias, contos e crônicas

Poesias, contos e crônicas

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MARCOS COSTA FILHO

carregadas pelos recém chegados. Era uma pequena caminhada a procura

de um lugar para acampar. Embora fosse uma multidão, para aquela época,

anos quarenta do século vinte, havia no Cassino lugar a perder de vista e

no tempo de agora é reconhecida como a praia mais extensa do mundo,

no livro dos recordes.

Logo ali, deixando a Avenida Rio Grande, que era perpendicular à

praia, entre as dunas e o mar, eram tomadas as sposições dos veranistas

diários, os viajantes de trem.

Nosso pai tinha feito, em casa, artesanalmente, uma barraca, com

tecidos de algodão, aproveitado dos sacos de farinha de trigo, ou açúcar,

não lembro bem para ser preciso. Porém, recordo que era tingida de azul

com um corante de marca “Guaranny”.

Primeiro, ao chegar, tratava-se do acampamento. Depois, mudava-se a

roupa para ir ao banho. Jandira e eu nos divertíamos muito naquelas viagens.

Mas, éramos diferentes ao estarmos na praia. Enquanto eu tinha

medo das ondas e da fúria ao quebrarem com barulho constante, revoltas

e espumantes, Jandira atrevia-se em desafiá-las. Seguidamente, nosso pai

tinha que contê-la, ao passo que eu me limitava a brincar na beirinha.

Quando nosso pai ia dar um mergulho, ficávamos com a “elástica”, uma

bonequinha de borracha, que colocávamos a flutuar, juntamente com

um navio de madeira, feito pelo nosso pai em sua oficina de brinquedos

que mantinha no fundo do quintal de nossa casa. Os dois brinquedos

nos acompanhavam sempre naquelas viagens. Um dia, voltamos sem a

“elástica”. Uma onda, traiçoeira, em seu refluxo levou-a sem nos pedir

permissão, aproveitando-se do nosso descuido.

Dentro de uma maleta de madeira, nosso pai levava nossa refeição.

Quase sempre era sanduiche de patê de presunto e café frio. Depois, uvas.

Ao fim da tarde, tal como aquele exército tomara conta de uma mínima

extensão da praia, assim a deixava, como que batendo em retirada.

Cansados das brincadeira na água e de rolar pelas dunas, ajudávamos,

bem dizer em quase nada, nosso pai a desmontar a barraca e levantar

acampamento.

Toca de volta para o trem, que havia feito manobra e estava lá, à espera,

com a “maria-fumaça”, agora, de frente para a entrada da Vila Siqueira. A

viagem de regresso então se iniciava. Pedíamos para voltar à janela do outro

lado. Variar a visão da paisagem era algo que não deixávamos por menos.

Sim, como se fosse cada vez um fato inédito.

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