Antologia Encontro Literário
Poesias, contos e crônicas
Poesias, contos e crônicas
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MARCOS COSTA FILHO (ORG.)
MATAR
Confesso que não consigo ver matar e ficar indiferente,
como se fosse coisa rotineira,
apenas por mero prazer, por uma vontade esquecida
que, mesmo que mais tarde se arrependa a mente,
não consegue retornar à vida
de nenhuma maneira.
Quando vejo, de espingarda ao ombro, um caçador
calcorrear os campos, sem parar,
sem se ater na grandiosa natureza
onde a árvore ou o arbusto se mostram em toda a sua beleza,
logo penso que àquele homem falta amor,
esse amor que ele não soube tomar
quando lhe cortaram o cordão umbilical
e, assim, pensando ele que é senhor de todo o mundo,
embrenha-se num longo pesadelo, e tão profundo,
que o leva a perseguir um animal
para matar.
E aquele nobre e lindo touro que nasceu livre, numa herdade,
que pastou toda a vida, pelos campos, sossegado,
guiado pela vara do campino,
e que, de repente, é enjaulado
num espaço exíguo, privado de liberdade,
onde, surpreso, desconhece que alteraram seu destino,
que vai a caminho da cidade
para ser exibido numa larga arena
e acabar por ser morto, e com aplausos, em faena.
Ah! Quando penso que o homem caminha pra a sua destruição,
que passa, pela vida, sem cultura,
que pode olhar o horizonte, mas que não tem a noção
que foi criado por arte suprema,
sinto, no peito uma tão grande amargura
que não há rima, não há verso, não há poema
que consiga a sua cura.
Por tudo isto, minha alma só sente
que não consegue ver matar e ficar indiferente.
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