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Antologia Encontro Literário

Poesias, contos e crônicas

Poesias, contos e crônicas

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SIMONE POSSAS FONTANA

– É? – gritaram as duas.

– Vixe se é! Tem um montão de freguesas que saem daqui das “grãfinage”

e vão lá pedir conselho prá velha.

– Ah Tânia! Sempre tive vontade de fazer umas perguntinhas para

alguma vidente, mas você sabe, né? Sou uma medrosa. – disse Fernanda

timidamente.

– Onde mora sua avó? – quis saber Tânia.

– É logo ali depois dos trilhos. Querem ir lá agora? Ela vai dormir

sempre por volta da meia noite. É cedo ainda! Levo vocês lá.

As duas se olham. Tânia percebe o medo nos olhos da amiga. É o medo

do desconhecido, da escuridão.

– Vamos sua boba. Não temos nada a perder. Essa é sua oportunidade.

– fala Tânia, a despachada.

Os três saem do clarão da festa, para a escuridão da rua. Caminham

um quarteirão, atravessam os trilhos do trem, viram à esquerda e ali já

não tem mais asfalto e nem calçamento nas ruas. São ruas de terra batida.

Caminham mais uns quatro quarteirões. A escuridão é quase total, já que

a maioria das lâmpadas dos postes de iluminação pública está queimada.

– Falta muito? – indaga Fernanda com os olhos arregalados, já quase se

arrependendo desse passeio noturno.

– Não. Já estamos quase chegando. Estão vendo aquela casa lá? É a casa

das primas! Minha avó mora quase em frente – diz o magrinho apontando

para uma casa vermelha com o muro vermelho.

– Suas primas? – quis saber Fernanda.

– Não, sua boba! – responde rindo sua amiga Tânia. – Casa das primas

é como se chama a casa das quengas, das mulheres da vida. Entendeu?

Os três caminham mais um pouco e chegam numa casa bem humilde,

com pintura gasta pelo tempo, com o muro e as paredes sujas de manchas

de umidade. O magrinho abriu o portão velho de madeira e foram entrando

num corredor escuro ao lado da casa, até chegar na porta dos fundos que

estava aberta. Entraram.

Ali encontraram uma sala pequena, iluminada por uma fraca luz

amarela. Calor. Muito calor. Cheiro de comida e suor. Sofá rasgado coberto

por uma manta velha, mesa para refeições com quatro cadeiras. Tudo velho

e pobre. No fogão velho, a mãe do rapaz magrinho terminava de esquentar

o leite e preparar as mamadeiras dos gêmeos.

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