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Antologia Encontro Literário

Poesias, contos e crônicas

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MARCOS COSTA FILHO (ORG.)

A AMPULHETA

Um dos diversos instrumentos que o homem concebeu para medir

o tempo foi a ampulheta. Também conhecido por relógio de areia. A

sua invenção é atribuída a um monge de Chartres, na França, de nome

Luitprand, que viveu no século VIII. É formada por dois cones de vidro,

ocos, unidos pelo gargalo, de modo a deixar passar a areia de um para

outro, através de um orifício. A duração da passagem da areia marca um

intervalo de tempo. Para proteger a estrutura, uma armação de madeira.

Mais tarde as ampulhetas passaram ser feitas de uma só peça de vidro com

um orifício para passagem da areia.

Num aniversário meu, minha amiga Jurema deu-me de presente

uma pequena ampulheta. Achei uma ideia diferente e o objeto muito

interessante. Coloquei-o sobre minha estante de trabalho, numa parte

mais elevada. Durante algum tempo ela permaneceu ali e eu apenas a via

numa dessas viradas de cabeça, passando por ela o olhar sem fitá-la. Ela

estava ali despercebida por mim. Um enfeite. Nada mais.

Certo dia, trabalhava um texto e estava com dificuldade de dar-lhe uma

sequência condizente. As palavras seguiam obedecendo minha digitação na

rapidez que afloravam de meu pensamento e iam se alinhando no crescer

do texto. Quando fazia uma pausa, uma leitura do que já havia grafado me

levava à conclusão de que tudo estava sem nexo. Era necessário retomar o

andamento em algum parágrafo anterior no qual eu perdera o rumo mais

adequado do âmago da situação em descrição. Numa destas paradas, antes

de recomeçar, dei de nariz com a ampulheta. Ali, no seu lugar de costume.

Na sua inércia parecia desafiar-me. Num primeiro momento, não entendi

porque me havia fixado nela. Isto interrompeu meu ritmo de trabalho. Por

alguns instantes, fiquei com o olhar centrado nela.

Passado alguns segundos, ou seja lá que tempo, mas muito rápido,

tomei-a de seu lugar e coloquei-a no mesmo plano onde eu estava digitando.

Inverti sua posição de apoio. A areia começou a fluir da parte de cima para

a de baixo. Enquanto isto acontecia, transportei-me ao dia em que fui

presenteado. Os grãos de areia desciam velozes.

A ação durou cinco minutos. Nesse intervalo revi minha amiga através

da ampulheta, pois o objeto do presente a trouxe à minha lembrança.

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