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Antologia Encontro Literário

Poesias, contos e crônicas

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MARCOS COSTA FILHO (ORG.)

NOEL DE VERDADE

Uma fábrica de brinquedos de madeira funcionava firme, durante o

ano inteiro, lá no fundo do nosso quintal. Meu Pai, ferroviário, nas horas

vagas, planejava e colocava em prática o preparo das peças que eram

rigorosamente caprichadas. Quase toda família se envolvia de alguma

forma. Minha participação era colocar massa nos furinhos que ficavam

das cabeças dos preguinhos rebaixados. Quando a massa secava, precisava

lixar. Depois ajudava a dar a primeira de mão com uma tinta branca.

Voltava a parte que eu menos gostava, lixar. Assim, nas preliminares, era a

minha participação, sendo que, meu Pai, sempre lembrou de meu espaço

de criança e lá ia eu para a confraria do futebol de bola de meia, que

rolava na calçada em frente a nossa casa. Na fase de acabamento, meu

Pai e minha irmã Julieta, que já era uma moça, faziam maravilhas com as

tintas preparadas por Ele para cada tipo de brinquedo. Embora eu sempre

quisesse ajudar na pintura de acabamento, não tinha vez. Ele fazia questão

de que aquela produção caseira primasse pela melhor qualidade possível.

E, de fato, era reconhecido o tão esmerado trabalho, pois, toda nossa

produção ia para um bazar, do Henrique Büller, que ficava na rua General

Bacellar, no atual calçadão. Tudo era vendido no Natal e já em janeiro do

ano seguinte recebíamos do bazar a primeira lista dos brinquedos mais

procurados e que deviam ser repedidos, às vezes em quantidade maior. Lá

por julho, ou agosto, nos chegava a complementação do pedido, incluindo

as novidades. Na primeira quinzena de novembro, a produção Seguia

rumo ao bazar. O transporte era feito por mim e pela minha irmã Julieta.

Com muito capricho para não arranhar nenhuma peça, eram feitos pacotes

de acordo como ela e eu pudéssemos carregar. Lógico, os meus eram

menores. Ganhávamos os quatrocentos réis para ir de bonde, o Circular,

que passava em frente a nossa casa na rua Marechal Deodoro e descíamos

próximo ao bazar, a uma quadra, na Avenida Marechal Floriano Peixoto.

E, fazíamos uma viagem pela manhã e outra pela tarde. Um dia, minha

irmã me sugeriu irmos a pé e economizarmos aquele rico dinheirinho. E

fomos. Demoramos quase toda manhã para chegarmos no bazar. Eu não

aguentei a caminhada com os pacotes, um de cada lado do corpo. Andava

um pouco e precisava me sentar na beira da calçada para descansar. A

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