Antologia Encontro Literário
Poesias, contos e crônicas
Poesias, contos e crônicas
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MARCOS COSTA FILHO (ORG.)
O TREM DA FELICIDADE
O trem chegara havia poucos minutos. A locomotiva parecia ávida
de descanso. Soprava ao alto pela chaminé, tufos de fumaça negra, como
se fora um sinal indígena. Ela avisava que havia chegado. A mensagem
parecia ser entendida pela pequena comunidade humilde daquele pacato
lugar. De todos os lados acorriam pessoas a pé, a cavalo, de carroça... todos
rumando para aquele paradouro.
Tão singelo era aquele ponto de parada que jamais fora apontado em
algum mapa. Não chegava a constituir-se em uma estação. Ali, o trem
daquele tempo era o acontecimento máximo de duas vezes por semana.
Raramente havia quem embarcasse, como também, desembarcasse.
O comboio era sempre misto. Havia costumeiramente movimento de
pequenas encomendas, cargas leves.
Num dos carros de passageiros, uma elegante mulher, apresta-se a
descer. Sua bagagem, uma pequena arca recoberta por uma capa de veludo
vermelho já estava na gare, providenciada que fora pelo chefe de trem.
Ao descer, a mulher teve sobre si os olhares do diminuto povo presente.
Silenciosos, admirados, boquiabertos, tinham em suas faces estampadas a
mesma pergunta: Quem será?
O chefe do paradouro adiantou-se para cumprimentá-la. Foi um
pouco trêmulo ao estender-lhe a mão. A proximidade causou-lhe um
envolvimento pelo aroma diferente, nunca por ele sentido, exalando de
flor alguma o que deixou-o aturdido. Não lembrava de, em toda sua vida,
sendo a maior parte dedicada àquele serviço na companhia férrea, ter
participado de uma recepção, costume do lugarejo a todo visitante, como
estava acontecendo naquela manhã de domingo. Concatenando algumas
palavras, conseguiu convidá-la a entrar em sua minúscula sala de trabalho,
tão pobre, quanto organizada e limpa. Empunhou um espanador de lã
de carneiro e lustrou uma cadeira de madeira oferecendo-a à forasteira. A
mulher aceitou-a. Agora, ele precisava preencher uma pequena ficha, de
um papel amarelado pelo tempo, há muito guardado num arquivo que
raramente era usado. Por favor, disse: preciso saber algo sobre a senhora...
desculpe-me... mas é meu dever. De onde vem? – Ah!... Venho de estação
em estação por esta vida afora. – Sabe... continuou ele, tenho que declarar
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