Antologia Encontro Literário
Poesias, contos e crônicas
Poesias, contos e crônicas
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MARCOS COSTA FILHO
sua bagagem e... – Uma arca cheia de amor, assim ela antecipou a resposta.
– E ... quanto tempo pretende permanecer aqui?... – O suficiente para
tomar um outro trem que sei, passará por aqui. – Qual?... Perguntou o
chefe do paradouro. – O trem da felicidade, respondeu-lhe a mulher. –
Mas como? Nunca o vi passar por aqui. E ainda, não seria mais fácil tê-lo
apanhado em uma estação de grande movimento? – Pois é, já estive em
algumas, fiz várias viagens, umas curtas, outras longas, porém, chegavam
ao fim sempre que esgotava o prazo de validade da esperança contida em
minha passagem. – E agora?... – Bem agora busquei este ponto quase
desconhecido onde pretendo ficar livre, sozinha, valendo-me do conteúdo
de minha arca.
O humilde funcionário, embaraçado, não entendia de fato o que
se passava com aquela estranha pessoa. E, com um olhar que carregava
profundos sentimentos, a mulher continuou a falar: – A espera aqui será
do tamanho da esperança. Enquanto durar, tomarei as gotas de saudades
que carrego na arca. Doses na medida certa para temperar a realidade.
Após ficar alguns minutos em silêncio, a mulher deixando escapar o
pensamento, pausadamente em voz meiga e sussurrante, como se ninguém
estivesse a ouvi-la, com um olhar sereno contemplando a paisagem como
se fora um paraíso, foi dizendo: – Aqui me encontrarei comigo mesma,
nesta tranquilidade poderei rever o recôndito de minha alma, organizar
minha bagagem revisando minha arca, porei em dia meus valores e verei o
quanto aplicarei em esperança. Quando a nova passagem fizer jus ao preço
da espera, será o momento certo de começar nova viagem. Parecendo viva,
a locomotiva silvou seu apito, atirou novas lufadas de fumaça pelo chaminé
e ao movimentar os braços que punham as rodas em andamento, deixava
escapar esguichos de vapor de uma alvura contrastante com o negrume
que atirava para o ar. O ranger das rodas sobre os trilhos anunciavam
que os vagões estavam obedecendo a ordem de entrar em marcha. Não
demoraria muito, lá na curva distante desapareceria atrás da montanha o
trem comum. Outros ali passariam, mas sabe-se lá quantos, até chegar o
Trem da Felicidade?
201