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edição de 25 de julho de 2022

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inspiração<br />

o segredo é continuar<br />

imaginando<br />

Fotos: Arquivo pessoal<br />

“Meus recursos eram lápis, borracha e os bloquinhos que meu pai trazia<br />

do trabalho. E o primeiro passo, com esse ‘arsenal tecnológico’, foi ilustrar”<br />

Felipe AndrA<strong>de</strong><br />

especial para o prOpMArK<br />

onhar é acordar-se para <strong>de</strong>ntro”. A<br />

“Scitação é do poeta Mário Quintana.<br />

E muito cedo, antes mesmo <strong>de</strong> saber o que<br />

era poesia, eu já sonhava. Em frente à TV,<br />

vendo meus <strong>de</strong>senhos animados preferidos,<br />

as séries, no cinema fascinado com as<br />

gran<strong>de</strong>s produções <strong>de</strong> Hollywood, em especial<br />

adorava as animações e pensava: “É<br />

isso o que quero fazer”.<br />

Meus recursos nesta época eram lápis,<br />

borracha e os bloquinhos que meu pai trazia<br />

do trabalho. E o primeiro passo, com<br />

este verda<strong>de</strong>iro “arsenal tecnológico”, foi<br />

ilustrar. De um jeito autodidata, passei a<br />

<strong>de</strong>senhar o tempo todo.<br />

Os papéis não eram suficientes, então<br />

extrapolei para a lousa da escola, os ca<strong>de</strong>rnos<br />

das matérias e até as provas (o que causou<br />

um chamado no colégio e uma bronca<br />

em casa). Meu universo era dos heróis Marvel,<br />

dos quadrinhos do Maurício <strong>de</strong> Sousa e<br />

das caricaturas que eu inventava. Seria este<br />

meu futuro?<br />

Meus pais queriam que eu estudasse<br />

música também. Passei por um breve período<br />

<strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> piano clássico, porém nos<br />

anos 1990 a MTV chegou com tudo. Como<br />

não sonhar em ser um rockstar?<br />

Do air drums na frente do espelho para<br />

a bateria <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> foi um pulo. Sim, tive<br />

minha banda <strong>de</strong> garagem. E toquei meus<br />

hits, minhas bandas preferidas, os sons que<br />

me fascinavam, e talvez este fosse o caminho<br />

- ser músico.<br />

Eu gostava tanto <strong>de</strong> música que aproveitava<br />

minha coleção <strong>de</strong> CDs com esmero.<br />

Era mais do que escutar. Era prestar a<br />

atenção nas gravações, nos <strong>de</strong>talhes dos<br />

arranjos, na guitarra, no baixo e na bateria.<br />

Era também tirar o encarte do CD e admirar<br />

as artes, as diagramações das informações.<br />

Cada disco era um material riquíssimo <strong>de</strong><br />

pequenas coisas que me inspiravam.<br />

Para a minha sorte, no meio <strong>de</strong> tudo isso,<br />

acompanhava um trabalho que meu velho<br />

realizava por puro amor: o <strong>de</strong> luthier. Sua<br />

obsessão pela qualida<strong>de</strong> do violão clássico,<br />

a busca pela melhor ma<strong>de</strong>ira, o esmero em<br />

cada <strong>de</strong>talhe.<br />

A preocupação constante com o som do<br />

instrumento, a insistência em apren<strong>de</strong>r<br />

e executar somente o perfeito. Tudo isso<br />

igualmente me inspirava a não me contentar<br />

com nada menos que o excelente.<br />

Os anos passaram. Não virei cartunista,<br />

quadrinista ou diretor <strong>de</strong> cinema. Virei publicitário<br />

e bebi da fonte <strong>de</strong> tudo o que sem-<br />

pre gostei para executar cada trabalho.<br />

Sim, fiz animação para uma gran<strong>de</strong> marca.<br />

Sim, ilustrei anúncios. Sim, cada traço<br />

riscado naquele bloquinho do trabalho <strong>de</strong><br />

meu pai me ajudou a criar tantas campanhas.<br />

Também ‘não’ me tornei aquele rockstar<br />

que um dia sonhei. Mas acumulei uma<br />

playlist <strong>de</strong> uma vida, o que me <strong>de</strong>u conhecimento<br />

para orientar produtoras, saber sobre<br />

sound <strong>de</strong>sign, escolher os ritmos mais<br />

a<strong>de</strong>quados para cada momento.<br />

Tive, inclusive, a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compor<br />

uma trilha para uma gran<strong>de</strong> marca, e<br />

hoje escuto e penso: “E não é que um dia eu<br />

iria fazer música mesmo?”<br />

Moral da história: nossa história é importante.<br />

Se prestarmos atenção, passamos<br />

a vida acumulando um repertório incrível<br />

que é um bem valioso na hora <strong>de</strong> criar.<br />

Tudo vale.<br />

O <strong>de</strong>senho animado, as músicas da adolescência,<br />

os filmes assistidos, os livros que<br />

<strong>de</strong>voramos, e o que mais fizer parte da nossa<br />

vida. Porque a gente começa a sonhar e a<br />

imaginar muito cedo.<br />

O segredo é continuar imaginando.<br />

Felipe Andra<strong>de</strong> é diretor- executivo <strong>de</strong> criação da<br />

Cheil<br />

10 <strong>25</strong> <strong>de</strong> <strong>julho</strong> <strong>de</strong> <strong>2022</strong> - jornal propmark

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