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CAPRICHOS DE GOES
Diogo goes
Professor do Ensino Superior e Curador
A crise
do capitalismo
ou
o capitalismo
em crise?
Passados mais de cem anos desde
a 1ª Guerra Mundial (1914-1918)
e desde a Gripe Espanhola (1918-
1920), relemos que os impactos
sociais causados por estas crises
proporcionaram as condições
para a ascensão dos fascismos.
Previsões da OCDE (2014) estimam
a regressão do desenvolvimento
económico nas próximas décadas:
primeiro a estagnação, depois a recessão,
seguindo-se uma longa depressão
(Mason, 2016). Estas previsões consideram
que o atual modelo capitalista estará esgotado
até 2060, prevendo-se que as desigualdades
sociais irão aumentar cerca de
quarenta pontos percentuais nos países desenvolvidos
(Mason, 2016).
A hegemonia mundial instituída pelo paradigma
neoliberal desde meados dos anos
setenta e anos oitenta - Reaganismo (1981-
89) e Thatcherismo (1979-1990) - com o processo
de globalização e a privatização de
empresas públicas, de setores estratégicos,
acentuou a sobreprodução de bens de consumo,
a acumulação de capital especulativo
e a maximização dos lucros assentes na exploração
laboral.
A produção acumulada, o excesso de moeda
disponível, a par da necessidade prospeção
de novas fontes de matérias primas e acesso
a recursos energéticos para satisfação
das necessidades de consumo são algumas
das razões que, inevitavelmente, levaram
aos conflitos bélicos contemporâneos, perpetuando
a bipolarização das tensões e o
mapa de relações geopolíticas da “guerra
fria”.
Como sucessivamente a História tem vindo
a demonstrar, os ciclos de inversão do crescimento
(com todas as implicações sociais e
políticas que daí advêm) são parte intrínseca
do modelo neoliberal, para a subsistência
do próprio modelo capitalista e restabelecimento
da ordem dominante (Tobin, 1956;
1961; 1969; 2008).
As sucessivas crises financeiras, infelizmente,
não são anúncios de um fim almejado
para o capitalismo, antes, constituem instrumentos
maquiavélicos da “Escola de Chicago”,
para consumação das inversões necessárias
para o ressurgimento de novos ciclos
de criação de capital.
O estado de crise permanente é parte intrínseca
da perpetuação de um modelo capitalista,
esgotado, que não valoriza o potencial
humano e que privilegia os lucros em detrimento
da coesão social e do desenvolvimento
sustentável.
Perante a incapacidade das democracias
liberais, de assegurar políticas sociais que
dêem resposta às reais necessidades dos
seus cidadãos, assistiremos ao aproveitamento
político da(s) crise(s) por parte de
partidos neototalitários e populistas. Estes
partidos extremistas farão do empobrecimento
da população um “desencadeador”
discursivo, para alimentar ódios e medos,
e, por conseguinte, convulsões sociais que
podem levar ao colapsos das instituições
democráticas, à fragmentação do poder político,
ao reaparecimento de movimentos independentistas,
à implosão do que resta do
Estado Social e do Projeto Europeu. Certamente
não queremos que este seja o legado
de uma geração para a vindoura!
O conhecimento da História permite-nos
22 saber novembro 2022