23.01.2024 Views

Revista Dr Plinio 311

fevereiro de 2024

fevereiro de 2024

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Reflexões teológicas<br />

J.P.Ramos<br />

E aqui entra um problema bonito:<br />

qual é a relação dessa natureza<br />

com a geometria? Entra ainda um<br />

outro problema: essas formas geométricas,<br />

de que a alma humana é<br />

tão sequiosa, não representam simbolicamente<br />

propriedades de Deus,<br />

sem cuja consideração o homem<br />

não pode viver?<br />

Então, as coisas não são redondas,<br />

quadradas ou losangulares,<br />

principalmente por causa da natureza<br />

delas, mas elas são assim porque<br />

nos dão uma ideia de Deus?<br />

E Deus as criou com essa natureza,<br />

em primeiro lugar, para nos dar<br />

uma ideia d’Ele mesmo e, em segundo<br />

lugar, atendendo às necessidades<br />

naturais delas. Mas a razão<br />

de ser dessas formas todas é muito<br />

menos a natureza das coisas do que<br />

o próprio Deus.<br />

Está dito no Gênesis: “Façamos o<br />

homem à nossa imagem e semelhança”<br />

(Gn 1,26) e “Deus contemplou<br />

toda a sua obra, e viu que tudo era<br />

muito bom” (Gn 1,31). A razão de<br />

ser profunda pela qual as coisas têm<br />

as formas que têm não é a natureza<br />

delas, mas é porque Deus quis que tivessem<br />

aquelas formas para Ele contemplar.<br />

E isso porque elas têm uma<br />

certa semelhança com Ele. Uma semelhança<br />

inefável, que não se pode<br />

exprimir em palavras humanas.<br />

Semelhanças de Deus<br />

no Céu e na Terra<br />

Quem sabe, então, se todo o Céu<br />

Empíreo é uma imensa repetição, de<br />

forma magnífica, de puras formas,<br />

puras cores, puros sons, puros deleites<br />

que têm seu fundamento em Deus<br />

e que ali nos deixam vê-Lo melhor?<br />

Olhando para as coisas desta Terra,<br />

nós devemos também não nos contentar<br />

com a explicação científica,<br />

mas pensar: por que a laranja tem,<br />

vagamente, a forma de uma esfera?<br />

Não é pelas razões que a natureza da<br />

laranja explica, mas é porque Deus<br />

queria que houvesse seres esféricos e<br />

houvesse esferas cor de laranja, com<br />

gosto de laranja, para melhor assemelharem-se<br />

a Ele. É mais ou menos<br />

como um jogo de espelhos.<br />

O caldo da laranja está dentro dela<br />

e ele se explica mais em função de<br />

Deus do que de si próprio. Como<br />

São Lourenço do Escorial<br />

Deus, sendo infinitamente superior<br />

à laranja, de algum modo Se reflete<br />

nela? Porque há uma semelhança<br />

ali. Como é essa semelhança? É dificílimo<br />

ter uma ideia. Mas vale a pena<br />

aguçar o espírito pensando nisso<br />

e como que procurando prelibar.<br />

Dessas considerações vem o verdadeiro<br />

prazer da vida, pois isso nos<br />

faz ver esta Terra com olhos muito<br />

mais maravilháveis, porque compreendemos<br />

o fundamento que essas<br />

coisas têm em Deus.<br />

Certas aulas de ciência natural<br />

quase amputam isso, dando a pura<br />

explicação botânica da forma de uma<br />

laranja; não oferecem uma formação<br />

pela qual se dá o complemento filosófico,<br />

metafísico e até, eventualmente,<br />

com algum fundamento na Revelação<br />

a respeito da natureza da laranja.<br />

Então, fica-se com a ideia de que o<br />

mundo é assim, só porque ele é assim.<br />

Ora, ele é assim para ser semelhante<br />

a Deus, que no mais alto do<br />

Céu é assim.<br />

E nós temos outra noção de tudo<br />

quanto nos cerca. Quando se vê<br />

um homem construir casas – Felipe II<br />

construindo o Escorial, ou levantar-se<br />

em Paris a Catedral de Notre-Dame<br />

–, nós pensamos<br />

em tudo quanto deu razão<br />

de ser àquilo; mas esses<br />

homens, agindo retamente<br />

segundo seu senso artístico,<br />

faziam coisas que espelhavam<br />

a Deus. Era uma<br />

semelhança nova de Deus<br />

que vinha nascendo.<br />

Daí compreendemos<br />

que todo esse Céu Empíreo<br />

é muito mais semelhante<br />

a Deus do que o nosso. E<br />

nisso tem uma beleza que<br />

não podemos imaginar como<br />

é, mas da qual podemos<br />

ter uma ideia através<br />

desta reflexão.<br />

Então as coisas se explicam<br />

mais por Deus do<br />

que pela Terra.<br />

12

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!