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Revista Dr Plinio 311

fevereiro de 2024

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Luzes da Civilização Cristã<br />

Flávio Lourenço<br />

Entrada dos cruzados em Constantinopla - Castelo de Chantilly<br />

mataram e se expuseram à morte, mas o objetivo era diferente.<br />

O verdadeiro heroísmo não consiste só em atacar, em<br />

matar, em morrer; ele supera tudo isso, porque quer impregnar<br />

a ação de atacar, matar e morrer de um sentido<br />

transcendente, o qual é enormemente superior ao homem<br />

e que dá às espadas e às lanças os seus verdadeiros<br />

brilhos.<br />

Quando penso num cavaleiro medieval e o comparo a<br />

um legionário romano, este último me parece pesadão,<br />

sem alma... Quiçá possa estar enfeitado com um armamento<br />

bonito, mas nele, a principal nota é o bater dos<br />

pés; uma legião romana andando não é senão o bater dos<br />

pés. Se imagino os cruzados avançando… já não é o galopar<br />

de cavalos a nota distinta, mas é o pulsar dos corações,<br />

das mentalidades, das almas.<br />

Isto foi a Europa medieval que representou. Por mais<br />

admiradores que sejamos da coragem, se nos oferecessem:<br />

“Aqui está a vida de Aníbal, leiam…”, folhearíamos<br />

um pouco com a ponta do dedo e a deixaríamos. Ora, se<br />

nos apresentassem a história de um cavaleiro medieval,<br />

ainda que fosse a de Ricardo Coração de Leão 1 , nós nos<br />

interessaríamos, porque a Igreja colocou de lado os aspectos<br />

censuráveis dele, omitindo-os na canção de gesta,<br />

para que não tivessem cidadania no próprio homem, de<br />

maneira a estarem contidos nos porões da alma quando<br />

ele atacava. O que aparece é um heroísmo angélico que<br />

nos entusiasma: é a sensação de sermos angelizados nele<br />

e termos a coragem e o aggredi 2 do Anjo.<br />

Contrários harmônicos no<br />

vitral da Cristandade<br />

sa a tudo quanto lhe é contrário, e da apuração<br />

a tudo o que lhe é legítimo, feito sob o bafejo<br />

da graça. Há uma espécie de fosforescência da<br />

graça, um difuso sobrenatural que é a sociedade<br />

humana levada ao primor de si mesma, porque<br />

toca em sua arquetipia, que é a Santa Igreja,<br />

a sociedade espiritual. É só então que a sociedade<br />

temporal adquire toda a sua beleza.<br />

Como é essa beleza? Há algo de indescritível,<br />

mas aponto para a presença dos contrários harmônicos,<br />

como, por exemplo, a doçura e o aggredi.<br />

Em nenhuma época se levou a doçura tão<br />

longe e nunca se levou o aggredi tão a seu auge.<br />

Ninguém levou tão longe quanto o medieval<br />

a intelectualização unida ao contato com a realidade<br />

viva, natural, como ela é, positiva. Podemos<br />

imaginar um São Tomás de Aquino parando<br />

numa hospedaria de “aldeia de marzipã”, pedindo<br />

para lhe trazerem um pão para comer. Entra um camponês<br />

analfabeto que lhe serve um pãozão; ele acha pitoresco<br />

o servidor e este, por sua vez, é tão tendente para<br />

as coisas de São Tomás, que fica bouche béant 3 olhando<br />

para o Santo. São Tomás lhe dirige uma palavra, e há<br />

um ósculo de dois extremos harmônicos, eufóricos em se<br />

encontrarem. Isto havia muito na Idade Média.<br />

Helio G.K.<br />

Então, o que é a Cristandade? É quando o esplendor<br />

da ordem humana chega ao auge da distinção e da repul-<br />

Santa Teresa de Ávila - Museu do Convento das<br />

Madres Carmelitas da Anunciação, Espanha<br />

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