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pelo pecado e pelo demônio. E mesmo<br />
em vida de São Francisco de Assis<br />
houve divisões. Havia setores que<br />
pendiam para uma interpretação errada<br />
da espiritualidade de São Francisco,<br />
enquanto outros para uma interpretação<br />
certa.<br />
Dessas pluralidades de interpretações<br />
nasceram várias Ordens Franciscanas.<br />
Todas elas boas porque<br />
aprovadas pela Igreja Católica. Uma<br />
dessas ramificações teve um nascimento<br />
singular: a dos capuchinhos.<br />
Os capuchinhos foram fundados<br />
por um franciscano muito observante<br />
e exemplar que, percebendo estar<br />
sendo relativizada a regra de seu<br />
fundador, resolveu radicalizá-la, revivendo<br />
o espírito de pobreza. Resultado:<br />
a Providência abençoou este<br />
lance, suscitando Santos. E foram<br />
os Santos capuchinhos.<br />
Radicalidade da pobreza<br />
Quando o espírito de São Francisco<br />
se atenuava nas outras ramificações<br />
franciscanas, os capuchinhos<br />
representaram a radicalidade da pobreza.<br />
E, com isso, a radicalidade de<br />
todas as independências que só a pobreza<br />
dá.<br />
Hoje se julga que um homem só é<br />
inteligente quando é rico. No tempo<br />
da formação dos capuchinhos, considerava-se<br />
a riqueza como fonte de<br />
uma porção de preocupações, de apegos,<br />
de necessidades e de deveres de<br />
bens a tutelar, a proteger e, portanto,<br />
julgavam que a riqueza aproxima o<br />
homem da Terra; e o que verdadeiramente<br />
o isola da Terra é a pobreza.<br />
Na pobreza o homem tem poucas<br />
obrigações, poucos bens para defender,<br />
ele vive da confiança na Providência.<br />
Por assim dizer, quem nada<br />
tem, nada tem a temer. Quem vive<br />
da esmola que qualquer um lhe dá é<br />
dono do que todos têm. Quem precisa<br />
de muito pouco é o homem mais<br />
independente de todos.<br />
O capuchinho representava propriamente<br />
o frade independente.<br />
São José de Leonissa<br />
Não em relação aos seus superiores<br />
e à Igreja Católica – à qual ele estava<br />
ligado, como àqueles, por um voto<br />
de obediência –, mas sim em relação<br />
aos poderes do mundo. Ele era,<br />
por definição, o pregador audacioso<br />
que dizia as verdades inteiras. E as<br />
dizia como confessor e pregador para<br />
todos os grandes da Terra, fossem<br />
eles grandes da Igreja ou do Estado.<br />
O perfil de um capuchinho<br />
Flávio Lourenço<br />
A figura do capuchinho é a de um<br />
homem atarracado, popular, com a<br />
palavra fácil, com a cultura religiosa<br />
suficiente, porém não aprofundada,<br />
com o contato contínuo com as<br />
almas, tendo uma espécie de sobranceria<br />
por meio da qual trata de igual<br />
a igual não só os homens do povo,<br />
mas também os grandes segundo o<br />
mundo, inclusive os reis.<br />
Apoiado na posição de padre e de<br />
religioso e, por tal, o capuchinho era,<br />
mais do que todo mundo, possuidor<br />
do direito de dizer a verdade a todos.<br />
A compenetração disso fez do capuchinho<br />
aquele tipo do pregador célebre,<br />
que era convidado para pregar<br />
nas cortes. Subia ao púlpito causando<br />
uma espécie de estremecimento pela<br />
pobreza de sua batina, pelo cordão<br />
que usava – seu único ornato – representando<br />
a obediência, pois aquele<br />
religioso podia ser levado por toda<br />
parte; com a sua barba... num tempo<br />
em que os homens elegantes usavam<br />
barbas finas, perfumadas, com pomadas<br />
e bigodes delicados, a grande<br />
e volumosa barba capuchinha nascia<br />
espontânea e, às vezes, enchia o peito<br />
inteiro; com a sua tonsura enorme,<br />
desfigurando-lhe a beleza que os cabelos<br />
bem tratados davam aos fidalgos<br />
daquele tempo, o capuchinho subia<br />
ao púlpito representando uma renúncia<br />
a tudo aquilo a que as pessoas<br />
podiam ter apego.<br />
Ele era o pregador indômito, que dizia<br />
as verdades cruas e tonitruava contra<br />
a impureza, as acomodações, a falta<br />
de fervor, a tibieza na qual o mundo decadente<br />
estava se engolfando.<br />
No confessionário, o capuchinho<br />
era o confessor reto, preciso, cristalino,<br />
que não tinha medo de ficar sem<br />
penitente nem receio de que depois<br />
fizessem contra ele uma calúnia. Podia<br />
perder horas no confessionário<br />
atendendo apenas poucas pessoas<br />
para lhes resolver os problemas. O<br />
capuchinho era a própria expressão<br />
do confessor perfeito: leão contra o<br />
pecado e cordeiro em relação ao pecador.<br />
E com energia arrancava as<br />
almas das garras do demônio e as levava<br />
para o Céu.<br />
Esse perfil do capuchinho ficou<br />
na História através da figura de vários<br />
Santos como uma das riquezas<br />
da Igreja, como um dos esplendores<br />
dessas variedades magníficas<br />
com que o Espírito Santo faz as suas<br />
obras.<br />
Jogo de contraste<br />
harmônico produzido<br />
pelo Espírito Santo<br />
No esplendor da Igreja vemos o Papa<br />
colocado como um Monarca de todos<br />
os monarcas, à testa da Igreja Católica.<br />
Cercado de um fausto fabuloso<br />
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