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Revista Dr Plinio 311

fevereiro de 2024

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pelo pecado e pelo demônio. E mesmo<br />

em vida de São Francisco de Assis<br />

houve divisões. Havia setores que<br />

pendiam para uma interpretação errada<br />

da espiritualidade de São Francisco,<br />

enquanto outros para uma interpretação<br />

certa.<br />

Dessas pluralidades de interpretações<br />

nasceram várias Ordens Franciscanas.<br />

Todas elas boas porque<br />

aprovadas pela Igreja Católica. Uma<br />

dessas ramificações teve um nascimento<br />

singular: a dos capuchinhos.<br />

Os capuchinhos foram fundados<br />

por um franciscano muito observante<br />

e exemplar que, percebendo estar<br />

sendo relativizada a regra de seu<br />

fundador, resolveu radicalizá-la, revivendo<br />

o espírito de pobreza. Resultado:<br />

a Providência abençoou este<br />

lance, suscitando Santos. E foram<br />

os Santos capuchinhos.<br />

Radicalidade da pobreza<br />

Quando o espírito de São Francisco<br />

se atenuava nas outras ramificações<br />

franciscanas, os capuchinhos<br />

representaram a radicalidade da pobreza.<br />

E, com isso, a radicalidade de<br />

todas as independências que só a pobreza<br />

dá.<br />

Hoje se julga que um homem só é<br />

inteligente quando é rico. No tempo<br />

da formação dos capuchinhos, considerava-se<br />

a riqueza como fonte de<br />

uma porção de preocupações, de apegos,<br />

de necessidades e de deveres de<br />

bens a tutelar, a proteger e, portanto,<br />

julgavam que a riqueza aproxima o<br />

homem da Terra; e o que verdadeiramente<br />

o isola da Terra é a pobreza.<br />

Na pobreza o homem tem poucas<br />

obrigações, poucos bens para defender,<br />

ele vive da confiança na Providência.<br />

Por assim dizer, quem nada<br />

tem, nada tem a temer. Quem vive<br />

da esmola que qualquer um lhe dá é<br />

dono do que todos têm. Quem precisa<br />

de muito pouco é o homem mais<br />

independente de todos.<br />

O capuchinho representava propriamente<br />

o frade independente.<br />

São José de Leonissa<br />

Não em relação aos seus superiores<br />

e à Igreja Católica – à qual ele estava<br />

ligado, como àqueles, por um voto<br />

de obediência –, mas sim em relação<br />

aos poderes do mundo. Ele era,<br />

por definição, o pregador audacioso<br />

que dizia as verdades inteiras. E as<br />

dizia como confessor e pregador para<br />

todos os grandes da Terra, fossem<br />

eles grandes da Igreja ou do Estado.<br />

O perfil de um capuchinho<br />

Flávio Lourenço<br />

A figura do capuchinho é a de um<br />

homem atarracado, popular, com a<br />

palavra fácil, com a cultura religiosa<br />

suficiente, porém não aprofundada,<br />

com o contato contínuo com as<br />

almas, tendo uma espécie de sobranceria<br />

por meio da qual trata de igual<br />

a igual não só os homens do povo,<br />

mas também os grandes segundo o<br />

mundo, inclusive os reis.<br />

Apoiado na posição de padre e de<br />

religioso e, por tal, o capuchinho era,<br />

mais do que todo mundo, possuidor<br />

do direito de dizer a verdade a todos.<br />

A compenetração disso fez do capuchinho<br />

aquele tipo do pregador célebre,<br />

que era convidado para pregar<br />

nas cortes. Subia ao púlpito causando<br />

uma espécie de estremecimento pela<br />

pobreza de sua batina, pelo cordão<br />

que usava – seu único ornato – representando<br />

a obediência, pois aquele<br />

religioso podia ser levado por toda<br />

parte; com a sua barba... num tempo<br />

em que os homens elegantes usavam<br />

barbas finas, perfumadas, com pomadas<br />

e bigodes delicados, a grande<br />

e volumosa barba capuchinha nascia<br />

espontânea e, às vezes, enchia o peito<br />

inteiro; com a sua tonsura enorme,<br />

desfigurando-lhe a beleza que os cabelos<br />

bem tratados davam aos fidalgos<br />

daquele tempo, o capuchinho subia<br />

ao púlpito representando uma renúncia<br />

a tudo aquilo a que as pessoas<br />

podiam ter apego.<br />

Ele era o pregador indômito, que dizia<br />

as verdades cruas e tonitruava contra<br />

a impureza, as acomodações, a falta<br />

de fervor, a tibieza na qual o mundo decadente<br />

estava se engolfando.<br />

No confessionário, o capuchinho<br />

era o confessor reto, preciso, cristalino,<br />

que não tinha medo de ficar sem<br />

penitente nem receio de que depois<br />

fizessem contra ele uma calúnia. Podia<br />

perder horas no confessionário<br />

atendendo apenas poucas pessoas<br />

para lhes resolver os problemas. O<br />

capuchinho era a própria expressão<br />

do confessor perfeito: leão contra o<br />

pecado e cordeiro em relação ao pecador.<br />

E com energia arrancava as<br />

almas das garras do demônio e as levava<br />

para o Céu.<br />

Esse perfil do capuchinho ficou<br />

na História através da figura de vários<br />

Santos como uma das riquezas<br />

da Igreja, como um dos esplendores<br />

dessas variedades magníficas<br />

com que o Espírito Santo faz as suas<br />

obras.<br />

Jogo de contraste<br />

harmônico produzido<br />

pelo Espírito Santo<br />

No esplendor da Igreja vemos o Papa<br />

colocado como um Monarca de todos<br />

os monarcas, à testa da Igreja Católica.<br />

Cercado de um fausto fabuloso<br />

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