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Revista Dr Plinio 311

fevereiro de 2024

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Flávio Lourenço<br />

so da moça aflita que ficou pendurada<br />

num fio de eletricidade, prestes a<br />

cair na rua. Deitam-se e dormem um<br />

sono monumental.<br />

Uma pessoa assim pode até encantar-se<br />

doutrinariamente com o<br />

risco enquanto sendo um ornato da<br />

vida, e gosta inclusive de vê-lo na vida<br />

do outro. Mas... em sua vida, ela<br />

mesma não quer riscos, porque não<br />

tem aquela mentalidade e sim a do<br />

Plantin 2 .<br />

E a pessoa sofre uma contradição<br />

interna, a qual tona-se fonte<br />

de mal-estar. Mas ninguém há que<br />

não tenha uma mentalidade segundo<br />

uma certa doutrina. Pode-se estar<br />

dividido entre duas doutrinas<br />

distantes, mas alguém a-doutrinário<br />

não existe.<br />

O explícito vazio e o<br />

implícito envergonhado<br />

Conhecer a doutrina não basta.<br />

Quantos há no Inferno que conheceram<br />

a verdade, entretanto não amoldaram<br />

sua mentalidade.<br />

Alguém dirá: “Mas uma pessoa<br />

nunca será capaz de explicitar isso.”<br />

Quem tem a mentalidade assim não<br />

se incomoda em explicitar,<br />

isso já seria parte do pensamento;<br />

ela gosta de ser.<br />

E esse tipo de mentalidade,<br />

que vive à margem de<br />

sua própria doutrina, até<br />

prefere não explicitar nada,<br />

para não se comprometer.<br />

Voltando ao exemplo<br />

imaginário do rapazinho<br />

lendo o Amadís de Gaula<br />

3 , imaginemos que ele,<br />

enquanto faz a leitura, se<br />

regala em tomar uma coalhada<br />

deliciosa que a<br />

avó lhe preparou. Depois<br />

ele vai passear debaixo<br />

das espaldeiras pensando<br />

consigo: “Como o vovô<br />

é um colosso! Ninguém<br />

o amola.” E o avô lhe diz: “Meu filho,<br />

aprenda comigo. Ah! Vida<br />

sossegada é isso!”<br />

O rapaz percebe de modo<br />

confuso que, se explicitar<br />

a doutrina, ele tem um choque;<br />

então, se há algo que ele<br />

não quer é que as coisas lhe<br />

fiquem claras. É a convivência<br />

vergonhosa de um explícito<br />

vazio com um implícito envergonhado.<br />

Esse é o estado<br />

de espírito.<br />

Se a pessoa não explicita e<br />

persiste em não explicitar, em<br />

determinado momento a Providência<br />

a chama. E Deus,<br />

que odeia a mentira e odeia<br />

que se fechem os olhos para a<br />

verdade, sobretudo a verdade<br />

interior, vem com um castigo.<br />

Começa uma vida ordenada<br />

pela Providência, que<br />

dá esbarrões para convidar a<br />

pessoa à explicitação. Ou poderá<br />

acontecer de a pessoa,<br />

de repente, rachar. Comete<br />

uma infâmia, cai em si: “Isso<br />

eu não deveria ter feito…<br />

agora não tem remédio”, e se<br />

desespera.<br />

Choque de mentalidades;<br />

Judas e o moço rico<br />

Com Judas não terá havido um<br />

processo assim?<br />

Ele foi afundando meio subconscientemente;<br />

em certo momento rouba<br />

um dinheiro do caixa dos Apóstolos.<br />

Ora, onde está Nosso Senhor o<br />

caixa não é de ninguém, porque tudo<br />

é d’Ele. Judas rouba um valor, gasta-o<br />

na ideia de repor depois; mas para isso<br />

roubará outra vez, fazendo um negocinho<br />

para dar o lucro da reposição<br />

e para ele poder tomar mais um trago<br />

de vinho; o negocinho, entretanto, dá<br />

errado e ele desanima de pagar.<br />

Ele começa a ficar com nó, porque<br />

São Pedro percebeu a coisa e<br />

começa a olhar feio; ele fica inseguro<br />

na presença de Nosso Senhor e o<br />

processo segue seu curso. Em cer-<br />

Judas no Horto das Oliveiras - Museu<br />

Nacional Bávaro, Munich<br />

Flávio Lourenço<br />

21

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