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Año 9 - Noviembre 2012 - La Hoja del Titiritero

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Impressões de uma brasileira em seu primeiro mês em Charleville-<br />

Mézières<br />

Ça va très bien !<br />

Thais Trulio<br />

Foto de Jorge Agu<strong>del</strong>o<br />

Bom, nos preparativos para a vinda, após ajuda de inesperável grandeza dos amigos dos quais eu me despedia, começo<br />

a encontrar gentilezas do lado de cá. Precisava de casa durante 14 dias antes das aulas começarem, durante o Festival.<br />

No trajeto aeroporto- estação de trem - casa, dividi o peso das malas com quem já carregava as suas. E me hospedaram.<br />

E começo a observar a diferença de comportamento entre brasileiros e franceses que eu não havia notado durante os<br />

vinte dias que estive na França para o concurso. Francês gosta de falar. Sim, brasileiros também gostam, mas, a<br />

diferença, na verdade, é que francês não fala, discorre. Eles degustam as palavras. Parece que eles cuidam pra que cada<br />

palavra esteja no seu lugar. Parece realmente um cuidado. E me disseram: “Mas fique calma! Você vai aprender rápido o<br />

francês. Você está rodeada de pessoas que falam um francês muito bom”. É. Eles tomam cuidado pra falar bem. Talvez<br />

seja por isso que existem tantas saudações. Evandro, mineiro e morador de Charleville, diz: “Francês está sempre<br />

desejando alguma coisa boa procê”. Mas isto foi realmente complicado de início porque eu me sentia mal educada.<br />

Principalmente nas padarias. Eles são muito gentis nas padarias. Depois que eles te dão o pão você tem que dizer:<br />

“Obrigada. Até mais. Tenha um bom dia”. Daí a pessoa vai dizer: “Muito obrigada. À você também. Até mais”. E você diz:<br />

“Obrigada. Até mais”. Não é regra, claro. Mas é mais ou menos assim que as coisas funcionam por aqui. E isso é muita<br />

coisa pra quem está acostumado a dizer só “obrigada”.<br />

Existe alguma palavra que está para cozinhar assim como degustar está para comer Se existir, é isso que francês faz com<br />

a comida. E brasileiro diz: “A comida daqui é cheia das nove horas”. São tantos temperos diferentes, queijos diferentes.<br />

Tanta mistura de ingredientes e tudo a olho. As refeições são super leves e em pouca quantidade. Ainda não encontrei<br />

ninguém que goste de verdade de feijão. Todos dizem que é pesado demais. Eles não entendem como alguém pode<br />

comer feijão todos os dias.<br />

Durante o festival o que vi foi uma cidade lotada, onde o público se alvoroçava toda vez que ia começar um espetáculo<br />

na rua. Era a oportunidade de pegar um bom lugar porque se sabe que uma rodinha de gente logo vira multidão e que,<br />

às vezes, é melhor dar a volta no quarteirão porque vai ser difícil de passar por uma rua onde tem uma multidão de<br />

gente assistindo um espetáculo! E a cada quarteirão víamos 3, as vezes 4 espetáculos sendo apresentados. Tinha gente<br />

do mundo inteiro que veio à Charleville para aproveitar o festival, artistas ou não.<br />

Mais de 130 companhias na programação do festival mais os grupos e artistas que não estão na programação do festival<br />

e que preenchem as ruas. Tudo isso numa cidade de 50 mil habitantes.<br />

Num domingo de manhã: “A cidade está diferente hoje. Ah, sim! É o último dia de festival”. Não era triste. Parecia<br />

saudade, mas era despedida. Não precisei andar muito pra ver gente carregando cenários, colocando dentro de um<br />

caminhão, gente com malas de rodinhas, mala nas costas, trailers indo embora. O camping ia ficando vazio, as tendas<br />

iam sendo desmontadas, os barcos já eram poucos. A cidade era inteira assim. E no dia seguinte: Bonjour, Charleville! É<br />

assim que você é, então<br />

Bastante calma. Calma demais pra quem nasceu e cresceu em São Paulo e que achava Belo Horizonte um pouco parada.<br />

Daí começou a esfriar e garoar. Puxa, que saudade da garoa da minha terra, que eu não encontrava em BH. Sim, para a<br />

minha sorte eu gosto da garoa e do friozinho porque me disseram que o sol não dá muito as caras por aqui, não.<br />

Estamos no primeiro mês do outono e, ai, chegamos aos -4°C! Eu não faço ideia do que me espera.<br />

Thais Trulio

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