stricto sensu - PUC-Campinas
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS<br />
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO<br />
STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO<br />
ANAIS DO V SEMINÁRIO SOBRE A<br />
PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO EM<br />
EDUCAÇÃO: OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO<br />
Publicação em CD<br />
ISSN 1984-2015<br />
2011
Dom Bruno Gamberini (in memoriam)<br />
Grão-Chanceler da Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong><br />
e Arcebispo Metropolitano de <strong>Campinas</strong><br />
Reitora<br />
Profa. Dra. Angela de Mendonça Engelbrecht<br />
Vice-Reitor<br />
Prof. Dr. Eduard Prancic<br />
Pró-Reitor de Graduação<br />
Prof. Dr. Germano Rigacci Júnior<br />
Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação<br />
Pró-Reitora de Extensão e Assuntos Comunitários<br />
Profa. Dra. Vera Engler Cury<br />
Pró-Reitor de Administração<br />
Prof. Dr. Ricardo Pannain<br />
2011
Apresentação<br />
O Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Educação e a Faculdade de Educação da<br />
Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong>, como em anos anteriores, realizaram o V<br />
Seminário sobre a Produção de Conhecimento em Educação e o VI Seminário da Faculdade de<br />
Educação: os desafios da educação. Agregou ao evento o II Encontro de Ex-alunos do Programa<br />
de Pós Graduação Stricto Sensu em Educação. A articulação que se constrói entre o Programa de<br />
Pós-graduação em Educação e a Faculdade de Educação se expressa neste Seminário por meio da<br />
participação dos docentes nas comissões organizadora e científica e também dos graduandos e<br />
pós-graduandos nas apresentações de pôsteres e nas comunicações orais. O II Encontro de Ex-<br />
Alunos revela o empenho em se garantir e manter o vínculo dos mesmos com o Programa e<br />
permitir o acompanhamento e a participação dos egressos.<br />
Refletir sobre os desafios da educação não é tarefa fácil, mas deve ser o propósito de todo<br />
educador comprometido com uma educação de qualidade para todos. Assim sendo, a participação<br />
de professores, pesquisadores, alunos e ex-alunos, e especialmente dos professores e profissionais<br />
da educação básica é fundamental para que a reflexão tenha como primado a prática educacional<br />
construída na realidade escolar. Com o intuito de favorecer os debates e socializar as produções<br />
da área da educação, o Seminário foi organizado em torno de duas Conferências, de Mesas<br />
Temáticas, Sessões de Pôster e Relato de Experiência e Sessões de Comunicação Oral,<br />
abrangendo os seguintes eixos temáticos: Plano Nacional de Educação, Gestão e Avaliação,<br />
Formação de Professores e Práticas Pedagógicas, Democracia, Políticas Públicas e Educação,<br />
Qualidade de Ensino, Direito à Educação, Fundamentos da Educação e Administração Escolar.<br />
O Seminário realizou-se em <strong>Campinas</strong>, nos dias 29, 30 e 31 de agosto de 2011, mas a<br />
Conferência de Abertura a ser proferida pela Profª Drª Alice Casemiro Lopes (FORPRED<br />
ANPED/PROPED UERJ, CNPq) foi cancelada, bem como as demais atividades do dia 29/08<br />
devido o passamento do Grão-Chanceler da Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong> e<br />
Arcebispo Metropolitano de <strong>Campinas</strong> Dom Bruno Gamberini e o luto na Universidade. As<br />
atividades programadas para os dias posteriores foram mantidas, como se segue: dia 30/08:<br />
Conferência: PNE e Educação Especial, proferida pela Profª Drª Kátia Regina Moreno Caiado<br />
(UFScar), com coordenação da Profª Drª Cássia Geciauskas Sofiato (Puc-<strong>Campinas</strong>);<br />
Conferência: PARFOR- Plano Nacional de Formação de Professores, proferida pela Profª Drª<br />
Maria de Fátima Abdalla (UNISANTOS), com coordenação da Profª Drª Geisa do Socorro<br />
Cavalcanti Vaz Mendes (Puc-<strong>Campinas</strong>). Mesas Temáticas: Mesa Redonda: Políticas Públicas e<br />
Formação de Professores: Prof. Dr. Dario Fiorentino (UNICAMP), Profª Drª Adair Nacarato<br />
(USF), coordenação da Profª Drª Maria Auxiliadora B. A. Megid (Puc-<strong>Campinas</strong>); Os desafios da<br />
Pós Graduação em Educação, palestrante: Profª Drª Nazaré Cruz (Unimep) e Profª Ecleide C.<br />
Furlanetto (UNICID), sob a coordenação do Prof. Dr. Samuel Mendonça (Puc-<strong>Campinas</strong>). No II<br />
Encontro de Ex-Alunos foram realizadas duas Mesas Redondas, uma com o tema Formação de<br />
Profissionais da Educação e Políticas Públicas, coordenada pela Profª Ms. Ana Elisa Spaolanzi<br />
Queiroz e outra com o tema Educação Superior e a Produção do Conhecimento em Educação,<br />
coordenada pela Profª Ms. Luciana dos Santos Gonçalves. Ambas as coordenadoras de mesa são<br />
ex-alunas do PPGE. Dia 31/08: Oficinas Temáticas: 1)Discurso e Ensino: o cinema na escola<br />
(Cristiane Maria Megid); 2) Ensino por Projetos Maria do Carmo L. Jürgensen e Gustavo<br />
Henrique E. Guimarães; 3) Educação de Jovens e Adultos (Joyce Mirella L. Ribeiro); 4) Bullying<br />
e suas facetas: possibilidade de ações no âmbito educacional (Vanessa F. Vicentin); 5) Regras na<br />
ou da Escola (Adriana de Melo Ramos); 6) Comunicação entre Escola e Família; discutindo o<br />
papel dos bilhetes e as implicações familiares (Sandra C. Dedeschi); 7) Amizade em Díades de<br />
2
Amigos e não Amigos (Jussara Cristina B. Tortella); 8) Alfabetização e Letramento (Elvira<br />
Cristina M. Tassoni); 9) Educação Ambiental (Adriana Braga); 10) A Educação da Infância no<br />
Mundo Contemporâneo (Heloísa Helena O. de Azevedo); 11) Educação, Corpo e Movimento<br />
(Nestor Betini Júnior); 12)Formação de profissionais da Educação e as práticas de Ensino frente<br />
aos Desafios da Educação (Ana Elisa S. Queiroz Assis e Luciana dos Santos Gonçalves); 13) Os<br />
conflitos interpessoais na escola: do problema às possibilidades de desenvolvimento (Lívia Maria<br />
S. Licciardi). Sessões de Pôster e de Comunicação Oral; Relatos de Experiências. A Mesa de<br />
Encerramento tratou do tema: Avaliação e Qualificação do Seminário e se pronunciaram os<br />
docentes do PPGE, FAEDUC e PARFOR. Coordenou a mesa a Profª Drª Elvira Cristina M.<br />
Tassoni (Puc-<strong>Campinas</strong>).<br />
Queremos com estes Anais, publicados em CD, divulgar os trabalhos apresentados no<br />
evento, cuja socialização, esperamos, favoreça a reflexão sobre os desafios da educação, de modo<br />
a conduzir a novas práticas educativas. Informamos que é de inteira de responsabilidade dos (as)<br />
autores (as) a correção ortográfica e a organização do Seminário não se responsabiliza pelos<br />
posicionamentos tomados pelos (as) autores (as).<br />
Agradecemos aos diversos sujeitos deste Seminário, especialmente aos bolsistas CAPES<br />
(Prosup I e II) e bolsistas Reitoria (<strong>PUC</strong> <strong>Campinas</strong>), pelo apoio. Especial agradecimento à<br />
mestranda Jaqueline Cristina Massucato pela diagramação e normalização.<br />
Profª Dra. Vera Lúcia de Carvalho Machado e<br />
Prof. Dr. Samuel Mendonça<br />
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação<br />
3
COMISSÃO ORGANIZADORA<br />
Prof. Dr. Adolfo Ignacio Calderón<br />
Profa. Ms. Ana Elisa Spaolonzi Queiroz Assis<br />
Profa. Dra. Ana Paula Fraga Bolfe<br />
Profa. Dra. Cássia Geciauskas Sofiato<br />
Profa. Dra. Elvira Cristina Martins Tassoni<br />
Profa. Ms. Fernanda Camargo Furtado<br />
Profa. Ms. Luciana dos Santos Gonçalves<br />
Profa. Dra. Geisa do Socorro Cavalcanti Vaz Mendes<br />
Profa. Dra. Maria Auxiliadora Bueno Andrade Megid<br />
Prof. Dr. Samuel Mendonça<br />
COMISSÃO CIENTÍFICA<br />
Profa. Dra. Adriana Varani (UFSCar)<br />
Prof. Dr. Adolfo Ignácio Calderón (PPGE/FAEDUC <strong>PUC</strong> <strong>Campinas</strong>)<br />
Prof. Dr. António Gomes Ferreira (Universidade de Coimbra, Portugal)<br />
Profa. Dra. Alice Casimiro Lopes (FORPRED ANPED/PROPED UERJ)<br />
Profa. Dra. Ângela Maria Martins (Fundação Carlos Chagas/UNICID)<br />
Profa. Dra. Ariclê Vechia (UTP)<br />
Profa. Dra. Betânia de Oliveira Laterza Ribeiro (UFU)<br />
Prof. Dr. Carlos Bauer de Souza (UNINOVE)<br />
Profa. Dra. Cássia Geciauskas Sofiato (<strong>PUC</strong> <strong>Campinas</strong>)<br />
Profa. Dra. Celia Maria Haas (UNICID)<br />
Profa. Dra. Celi Aparecida Espasandin Lopes (UNICSUL)<br />
Profa. Dra. Claudia da Silva Santana (UNIMEP)<br />
Prof. Dr. Dario Fiorentino (UNICAMP)<br />
Profa. Dra. Dirléia Fanfa Sarmento (UNILASALLE)<br />
Prof. Dr. Donaldo Bello de Souza (UERJ)<br />
Profa. Dra. Ecleide Cunico Furlanetto (UNICID)<br />
Profa. Dra. Elvira Cristina Martins Tassoni (PPGE/FAEDUC <strong>PUC</strong> <strong>Campinas</strong>)<br />
Profa. Dra. Ester Vilas Boas Do Nascimento (UNIT)<br />
Prof. Dr. Fernando Ribeiro Gonçalves (Universidade do Algarve, Portugal)<br />
Profa. Dra. Geisa do Socorro C. Vaz Mendes (<strong>PUC</strong> <strong>Campinas</strong>)<br />
Prof. Dr. Guilherme do Val Toledo Prado (UNICAMP)<br />
Profa. Dra. Heloísa Helena de Azevedo (PPGE/FAEDUC <strong>PUC</strong> <strong>Campinas</strong>)<br />
Profa. Dra. Isabel Cappelletti (<strong>PUC</strong>-SP)<br />
Prof. Dr. Itamar Mendes da Silva (UFES)<br />
Prof. Dr. José Luis Sanfelice (UNICAMP)<br />
Prof. Dr. Jorge Megid Neto (UNICAMP)<br />
Prof. Dr. José Carlos Rothen (UFSCAR)<br />
Prof. Dr. José Rubens Lima Jardilino (UFOP)<br />
Profa. Dra. Jussara Barboza (PPGE FAEDUC <strong>PUC</strong> <strong>Campinas</strong>)<br />
Profa. Dra. Kátia Regina Moreno Caiado (UFSCAR)<br />
Prof. Dr. Luis Sime Poma (<strong>PUC</strong>-PERU)<br />
Prof. Dra. Maria Angelica Aparecida Martins (UNISANTOS)<br />
Profa. Dra. Maria Antônia de Souza (UTP)<br />
4
Prof. Dra. Marina Graziela Feldmann (<strong>PUC</strong>-SP)<br />
Profa. Dra. Marli André (<strong>PUC</strong>-SP)<br />
Profa. Dra. Maria Auxiliadora Bueno Megid (PPGE/FAEDUC <strong>PUC</strong>-CAMPINAS)<br />
Profa. Dra. Maria Silvia Librandi Rocha (PPGE/Psicologia <strong>PUC</strong> <strong>Campinas</strong>)<br />
Profa. Dra. Monica Piccione Gomes Rios (UNOESC)<br />
Profa. Dra. Nazaré Cruz (UNIMEP)<br />
Profa. Dra. Regina Lúcia Giffoni Luz de Brito (<strong>PUC</strong>-SP)<br />
Profa. Dra. Romilda Teodora Ens (<strong>PUC</strong>-PR)<br />
Prof. Dr. Samuel Mendonça (PPGE FAEDUC <strong>PUC</strong> <strong>Campinas</strong>)<br />
Prof. Dr. Silvio D. Gallo (UNICAMP)<br />
Profa. Dra. Sonia Regina Mendes dos Santos (UERJ)<br />
Profa. Dra. Vera Lúcia de Carvalho Machado (PPGE/FAEDUC <strong>PUC</strong>-CAMPINAS)<br />
Prof. Dr. Vlademir Marim (UFU)<br />
Prof. Dr. Walter Omar Kohan (PROPED/UERJ)<br />
COMISSÃO DE APOIO (mestrandos do Programa de Educação da <strong>PUC</strong> <strong>Campinas</strong>)<br />
Adriana Zampieri Martinati<br />
Aline Aparecida Akamine<br />
Ana Paula Araújo Mota<br />
Armando Lourenço Filho<br />
Bárbara Carvalho Marques Toledo Lima<br />
Francisco Caloia Hombo Alfredo<br />
Heloísa Poltronieri<br />
Jaqueline Cristina Massucato<br />
Juliana Gomes Santos<br />
Maria Salete Pereira Santos<br />
Talita Carneiro Gader Safa<br />
5
SUMÁRIO<br />
APRESENTAÇÃO..................................................................................................................................................... 02<br />
EIXO: GESTÃO E AVALIAÇÃO ............................................................................................................................ 10<br />
O FORMAL E O INFORMAL NA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM SOB O OLHAR DOS PROFESSORES<br />
DO 2º CICLO EM ANGOLA ................................................................................................................................... 10<br />
UMA ANÁLISE DO MODELO DE ADMINISTRAÇÃO DA REVISTA NOVA ESCOLA GESTÃO ESCOLAR<br />
................................................................................................................................................................................. 17<br />
EXAME NACIONAL DE DESEMPENHO DE ESTUDANTES: UM ESTUDO A PARTIR DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA<br />
BRASILEIRA (2004-2010) .......................................................................................................................................... 26<br />
A GESTÃO ESCOLAR PODE INTERFERIR NO APRENDIZADO E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO?... 27<br />
O COTIDIANO DA GESTÃO ESCOLAR .............................................................................................................. 27<br />
A RESSIGNIFICAÇÃO DA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NOS CICLOS E NA PROGRESSÃO<br />
CONTINUADA ....................................................................................................................................................... 31<br />
AVALIAÇÃO DO PBL COMO UM MÉTODO DE AUTONOMIA INTELECTUAL .......................................... 39<br />
A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO CONTEXTO DA REFORMA EDUCATIVA EM ANGOLA ........ 40<br />
GESTÃO PARTICIPATIVA E DEMOCRÁTICA: UMA REVISÃO DAS PESQUISAS EDUCACIONAIS DE<br />
1998 A 2010 ............................................................................................................................................................. 44<br />
EIXO 2: FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PRÁTICA PEDAGÓGICA ....................................................... 48<br />
A PASSAGEM DA EDUCAÇÃO INFANTIL PARA O ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS: A<br />
ATENÇÃO PARA A ESCUTA INFANTIL ............................................................................................................ 48<br />
OS ARGUMENTOS ACADÊMICOS SOBRE A EDUCAÇÃO PARA CRIANÇAS DE 0 A 5 ANOS:<br />
REFLEXÕES SOBRE O CURRÍCULO. ................................................................................................................. 55<br />
FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO INFANTIL: DESAFIOS DA CONSTRUÇÃO DA<br />
PROFISSIONALIDADE DOCENTE ...................................................................................................................... 56<br />
A FORMAÇÃO MATEMÁTICA DAS FUTURAS PROFESSORAS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO<br />
FUNDAMETAL ...................................................................................................................................................... 62<br />
O ENSINO FUNDAMENTAL DE 9 ANOS: ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA PERSPECTIVA DO<br />
PROGRAMA MINEIRO ―ALFABETIZAÇÃO NO TEMPO CERTO‖ ................................................................. 68<br />
A RELAÇÃO AFETIVIDADE E APRENDIZAGEM, A FORMAÇÃO DE PROFESSORES E AS PRÁTICAS<br />
PEDAGÓGICAS ..................................................................................................................................................... 68<br />
UM ESTUDO SOBRE A ESPIRITUALIDADE NAS AÇÕES PEDAGÓGICAS DOS PROFESSORES .............. 76<br />
FORMAÇÃO DOCENTE E OS DESAFIOS DO COTIDIANO DE UMA ESCOLA RIBEIRINHA NO<br />
AMAZONAS ........................................................................................................................................................... 81<br />
6
BULLYING E DIFERENÇAS: A BUSCA POR UM OLHAR AMPLIADO .......................................................... 81<br />
UMA REFLEXÃO SOBRE A ALFABETIZAÇÃO E O TRABALHO COM A ESCRITA NOS ANOS INICIAIS<br />
DO ENSINO FUNDAMENTAL ............................................................................................................................. 82<br />
LIBERDADE E A FORMAÇÃO DO EDUCADOR ............................................................................................... 83<br />
EDUCAÇÃO INFANTIL: A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA INFÂNCIA NO BRASIL ...................................... 89<br />
A ALFABETIZAÇÃO E O LETRAMENTO NA VISÃO DE UMA PROFESSORA DO 2º ANO DO ENSINO<br />
FUNDAMENTAL ................................................................................................................................................... 90<br />
―PROJETO DE ENSINO FLORA FANEROGÂMICA DO ESTADO DE SÃO PAULO‖: MUDANÇAS E<br />
PERMANÊNCIAS NA FORMAÇÃO DE UM GRUPO DE PROFESSORES ....................................................... 96<br />
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A FORMAÇÃO CONTINUADA DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO<br />
INFANTIL NO MUNICÍPIO DE CAMPINAS ..................................................................................................... 102<br />
FORMAÇÃO CONTINUADA: APROPRIAÇÕES DO PROGRAMA LER E ESCREVER NA IMPLANTAÇÃO<br />
DO ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS .............................................................................................. 109<br />
AS ENTREVISTAS RECORRENTES COMO POSSIBILIDADE DE REFLEXÃO DO PROFESSOR SOBRE A<br />
PRÓPRIA PRÁTICA PEDAGÓGICA .................................................................................................................. 110<br />
PESQUISA-AÇÃO E FORMAÇÃO DE EDUCADORES NA/DA EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL: DESAFIOS,<br />
LIMITES E ALCANCES ....................................................................................................................................... 115<br />
―VIVENCIANDO AS AULAS EXPLORATÓRIO-INVESTIGATIVAS: DESCOBERTAS DE<br />
MUITOS/INFINITOS CAMINHOS POSSÍVEIS PARA ENSINAR E APRENDER MATEMÁTICA NOS ANOS<br />
INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL.‖ ........................................................................................................ 115<br />
A EDUCAÇÃO MORAL E VIRTUDES ARISTOTÉLICAS: A FORMAÇÃO DO EDUCADOR PARA A<br />
AUTONOMIA .............................................................................................................................. 122<br />
UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU- FURB REFERENCIAIS PARA A FORMAÇÃO DAS<br />
SUBJETIVIDADES DOCENTES ......................................................................................................................... 130<br />
A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO SOCIAL ............................................................................................................ 131<br />
A PEDAGOGIA HOSPITALAR ........................................................................................................................... 134<br />
ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO MERCADO DE TRABALHO ....................................................................... 138<br />
PEDAGOGIA HOSPITALAR ............................................................................................................................... 141<br />
A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO INFANTIL NO PROJETO NAVES-<br />
MÃE DO MUNICÍPIO DE CAMPINAS ............................................................................................................... 144<br />
FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM PERIÓDICOS DA EDUCAÇÃO NA PRIMEIRA DÉCADA DESTE<br />
SÉCULO ................................................................................................................................................................ 147<br />
A PEDAGOGIA SOCIAL ..................................................................................................................................... 154<br />
O TRABALHO INFANTIL E A TRAJETÓRIA ESCOLAR ............................ ERROR! BOOKMARK NOT DEFINED.<br />
7
PEDAGOGO NAS EMPRESAS E NAS INSTITUIÇÕES .................................................................................... 159<br />
PEDAGOGO NAS EMPRESAS E NAS INSTITUIÇÕES .................................................................................... 162<br />
PROBLEMATIZANDO A PRÁTICA DE CONTROLE DE ESTOQUE EM UMA TURMA DE EDUCAÇÃO<br />
INFANTIL: LIMITES E POSSIBILIDADES ........................................................................................................ 163<br />
TRANSDISCIPLINARIDADE COMO PRÁTICA PEDAGÓGICA: SOLUÇÕES PARA AS NOVAS<br />
DEMANDAS DA PÓS-MODERNIDADE ........................................................................................................... 166<br />
TERMÔMETRO POR VARIAÇÃO DE CORPOS (OU OBJETOS) NA GLICERINA – GALILEU ................... 169<br />
O EDUCADOR E A MEDIAÇÃO DA APRENDIZAGEM DE ATITUDES PARA O DESENVOLVIMENTO DA<br />
AUTONOMIA ....................................................................................................................................................... 172<br />
O ALUNO UNIVERSITÁRIO E SUA RELAÇÃO COM A LEITURA ................................................................ 176<br />
PARFOR: FORMAÇÃO INICIAL EM EXERCÍCIO DE PROFESSORAS (ES) PARA A EDUCAÇÃO<br />
INFANTIL ............................................................................................................................................................. 177<br />
ANALISANDO O DISCURSO DOS LIVROS UTILIZADOS NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DO<br />
ENSINO FUNDAMENTAL OLHARES SOBRE O CONSELHO DE CLASSE ESCOLAR ............................... 185<br />
CONHECENDO A GESTÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL A PARTIR DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO . 185<br />
A ATIVIDADE LÚDICA NAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DOS INGRESSANTES NO ENSINO<br />
FUNDAMENTAL: UMA ANÁLISE DAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ................................................... 189<br />
―O PAPEL DO EDUCADOR NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOS ADOLESCENTES A PARTIR DAS<br />
QUESTÕES DE GÊNERO E SEXUALIDADE‖ .................................................................................................. 193<br />
EDUCAÇÃO ARISTOCRÁTICA NO TERCEIRO PERÍODO PRODUTIVO DE NIETZCHE .......................... 194<br />
LITERATURA INFANTIL: O DESPERTAR DA SENSIBILIDADE .................................................................. 196<br />
O COORDENADOR PEDAGÓGICO COMO MEDIADOR DAS PRÁTICAS DOCENTES EM ESCOLAS DE<br />
EDUCAÇÃO INTEGRAL ..................................................................................................................................... 200<br />
A INCLUSÃO DA CRIANÇA SURDA NA EDUCAÇÃO INFANTIL ................................................................ 205<br />
EIXO 3: DEMOCRACIA, POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO ..........................................................205<br />
A ESCOLA DE NOVE ANOS: ESTUDO SOBRE A CRIANÇA DE SEIS ANOS<br />
......................................................................................................................................................................... ......205<br />
O PAPEL DO EDUCADOR E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A (TRANS)FORMAÇÃO DA VIDA DE<br />
JOVENS NO PROGRAMA EDUCAÇÃO PARA O<br />
TRABALHO...........................................................................................................................................................208<br />
O EDUCADOR DIANTE DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS: PERSPECTIVAS PARA UMA EDUCAÇÃO<br />
DEMOCRÁTICA...................................................................................................................................................215<br />
EIXO 4: QUALIDADE DE ENSINO.................................................................................................................219<br />
8
A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA PÚBLICA NO BRASIL ATUAL: DESAFIOS E<br />
PERSPECTIVAS....................................................................................................................................................219<br />
O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E A AVALIAÇÃO DO ENSINO<br />
SUPERIOR.............................................................................................................................................................224<br />
MOODLE E GEOGEBRA NO ENSINO<br />
FUNDAMENTAL..................................................................................................................................................231<br />
A CRIANÇA SURDA E A SUA COMUNICAÇÃO DENTRO DA<br />
ESCOLA.................................................................................................................................................................237<br />
RELAÇÕES ESCOLA-FAMÍLIA: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO............................................................... 240<br />
EIXO 5: DIREITO À EDUCAÇÃO...................................................................................................................244<br />
O PÚBLICO DA OFICINA DESAFIO, PROGRAMA DO MUSEU EXPLORATÓRIO DE CIÊNCIAS –<br />
UNICAMP............................................................................................................................................................ 244<br />
GRUPOS CONSTRUTORES DOS DIREITOS INFANTO-JUVENIS NO BRASIL (1950-1988) –<br />
RESULTADOS PARCIAIS DE PESQUISA........................................................................................................ 247<br />
EIXO 6: FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO.................................................................................................. 249<br />
OS DESAFIOS PARA A PROMOÇÃO DA AUTONOMIA DO ALUNO......................................................... 249<br />
PRÁTICAS COTIDIANAS ESCOLARES: ALGUMAS REFLEXÕES............................................................. 257<br />
SOBRE O CONCEITO DE EXPERIÊNCIA EDUCACIONAL EM JOHN<br />
DEWEY................................................................................................................................................................. 258<br />
BERSTEIN, A PEDAGOGIA INVISÍVEL E A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL................................................ 259<br />
A ARETE COMO FINALIDADE EDUCATIVA DA PAIDEIA......................................................................... 259<br />
AS ARTES CÊNICAS NA FORMAÇÃO DOS SUJEITOS................................................................................ 260<br />
EDITH STEIN: FORMAÇÃO NA PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICA...................................................... 261<br />
RELATO DE EXPERIÊNCIA........................................................................................................................... 263<br />
CONHECER PARA APRENDER: UMA PROPOSTA DE APROXIMAÇÃO ENTRE ESCOLA E<br />
FAMÍLIAS............................................................................................................................................................ 263<br />
ENTRE SABERES E FAZERES: DESVENDANDO SENTIDOS DA PRÁTICA DE<br />
ESTÁGIO.............................................................................................................................................................. 266<br />
A GESTÃO ESCOLAR PODE INTERFERIR NO APRENDIZADO E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO?<br />
RELATO DE EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO...................................................................................................... 269<br />
DO NADA A LUGAR NENHUM? PODEMOS MUDAR ESSE CAMINHAR................................................. 273<br />
TECNOLOGIA EM PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: O PROJETO MUNDO DO SABER E A<br />
EJA......................................................................................................................................................................... 275<br />
9
Eixo: Gestão e Avaliação<br />
O FORMAL E O INFORMAL NA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM SOB O OLHAR DOS<br />
PROFESSORES DO 2º CICLO EM ANGOLA<br />
Resumo<br />
10<br />
Francisco Caloia Hombo Alfredo<br />
francisco.cha@puccampinas.edu.br<br />
Jussara Cristina BaRboza Tortella<br />
jussaratortella@puc-campinas.edu.br<br />
Eixo temático: Gestão e Avaliação<br />
Comunicação Oral<br />
Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong> - SP<br />
Programa de Pós-Graduação em Educação<br />
Agencia financiadora: CAPES<br />
O trabalho pedagógico na sala de aula catalisa momentos sugestivos sobre os quais a postura do<br />
aluno na correspondência às estratégia e processo avaliativos, inicialmente, desenhados pelo<br />
professor para o prosseguimento ou resgate de ações conducentes a desenvolver suas habilidades<br />
e capacidades podem, de forma óbvia ou não, influenciar tal processo, sobretudo pela postura<br />
interventiva do professor. As relações que se produzem entre professor e aluno são permeadas de<br />
forma denunciada ou oculta pelas modalidades de avaliação. Tal processo avaliativo é animado<br />
de experiências teóricas e práticas por vezes decorrentes de variáveis impostas pela realidade<br />
social, escolar e da própria sala de aula e que desafiam a capacidade da atividade docente e do<br />
professor. No contexto de Angola em a formação de professor se configura em três níveis<br />
(superior, médio primário, médio secundário), a dimensão da avaliação seja na perspectiva formal<br />
ou informal depara-se com preocupações cujo modo da sociedade olhar o professor na<br />
intervenção à preocupações de interesse comum não se descarta das condições dos níveis da sua<br />
formação bem como da escola, fatores que também pintam o quadro das modalidade da<br />
avaliação. Sinalizar o olhar dos professores formadores de professores sob a pretensão de<br />
levantar a frequência da utilização dos meios que congregam a modalidade formal e informal da<br />
avaliação no âmbito de seu trabalho pedagógico na sala de aula possibilitou a que trabalhassemos<br />
com (25) professores deste nível, através da aplicação de questionário. A intenção assentou na<br />
problematização da regularidade dos meios constituintes das modalidades em questão na sala de<br />
aula, sem no entanto, afastar possíveis influências que concorrem na escolha preferencial.<br />
Verificou-se que as turmas não são homogenias do ponto de vista de efetivo de alunos por turma,<br />
sendo que as menores apresentam entre (35 à 45) e as maiores entre (85 à 95) alunos. O<br />
conhecimento evidenciado no domínio da avaliação da aprendizagem, com foco nas modalidades<br />
formal e informal mostrou que os professores participantes da pesquisa utilizam todos os meios<br />
possíveis, não obstante, em alguns casos encontrarem dificuldades em construir-los e tenderem<br />
na escolha de tais meios o número de alunos por turma.<br />
Palavras-chave: gestão da avaliação, avaliação formal, avaliação informal.
INTRODUÇÃO<br />
A complexidade que encerra a avaliação não se reveste simplesmente da sua subjetividade<br />
na confrontação com o elemento cognoscível ou incognoscível, considera outrossim, a realidade<br />
e a compreensão em que é aplicada.<br />
Esta perspectiva abre possibilidades de reflexão em torno do desdobramento das<br />
modalidades da avaliação na realidade de formação de professores em Angola. Realidade de<br />
formação pautada em três níveis: nível superior, nível médio magistério primário e nível médio<br />
secundário. Neste último, em Escolas de Formação de Professores (EFP) onde se forma<br />
professores a exercerem a atividade docente ensino fundamental dois.<br />
Neste texto colocamos em evidência a EFP, dada a experiência com os professores<br />
formadores neste nível. Com efeito, nosso objetivo foi levantar a frequência da utilização da<br />
avaliação formal e informal pelos professores formadores de professores em Angola. A<br />
inquietação se coloca sobre a questão, quais os meios de avaliação formal e informal utilizados<br />
pelos professores do 2º ciclo (EFP) em suas aulas e que influência podem ter em relação ao<br />
número de alunos por turma.<br />
Fazendo recurso à questionário apresentamos neste texto o ângulo voltado a tipologia de<br />
meios de avaliação da aprendizagem e as possíveis dificuldades em construi-los.<br />
Numa organização dos dados em tabela podemos mapear os meios evidenciados e a<br />
respectiva frequencia por número de aluno por turma e o gau académico dos participantes à<br />
pesquisa. Assim, participaram no total vinte e cinco (25) professores formadores sendo seis (6)<br />
bacharéis (24%), dezoito (18) licenciados (72%) e um (1) mestrando (4%), todos com formação<br />
inicial pedagógica. A experiência com estes professores se deu no 1º semestre de 2010.<br />
Ancorado, inicialmente, em literatura sobre a temática, apresentamos de seguida os<br />
resultados dos dados coletadas em campo e, a guisa de remate evidenciamos algumas<br />
considerações em torno das análises feitas. Portanto, destacam-se alguns aspectos que aparecem<br />
em relevo, como o número de aluno por turma, a frequência de utilização dos diferentes meios de<br />
avaliação, desvelando a necessidade de se olhar para o efetivo de alunos por turma e a<br />
(in)formação permanente docente neste domínio da avaliação.<br />
AVALIAÇÃO FORMAL E INFORMAL NA APRENDIZAGEM<br />
A avaliação designada formal é pautada, regra geral, no realce à meios previamente<br />
programados para aferir a aprendizagem do aluno. Ao passo que a dimensão informal da<br />
avaliação da aprendizagem, também num quadro geral, se configura da intenção de uso de meios<br />
sem necessariamente serem programados e colocados a conhecimento o aluno.<br />
Para Villas Boas (2004) a avaliação formal pressupõe a atribuição de nota, conceito ou<br />
menção e se apresenta em forma de provas, exercícios fundamentalmente escritos (produzir<br />
relatório, textos, pesquisa, resolução de questões) e a avaliação informal se dá através da<br />
interação de alunos e professores e seus pares em todos os momentos das relações pedagógicas.<br />
A sua importância repousa na possibilidade do professor conhecer melhor o aluno para melhor<br />
ajuda-lo.<br />
As possibilidades na utilização de meios para a avaliação tanto no âmbito formal quanto<br />
informal também devem se configurar mediante à situações que a tornam viável no<br />
asseguramento de informações que possam promover a prendizagem do avaliado (aluno). Porém,<br />
a diversidade de meios também deve ter em conta as questões que as compõem na sua construção<br />
11
(DEPRESBITERIS; TAVARES, 2009). Tanto a avaliação formal quanto a informal são<br />
manifestas na operacionalização de instrumentos de avaliação.<br />
Para Castillo Arredondo e Diago (2009) os questionários, registro de casos, debates,<br />
apresentações, idas a lousa, perguntas, trabalho dos alunos, qualquer atividade de ensino e/ou<br />
aprendizagem, perguntas de desenvolvimento de um tema ou de resposta breve, exposição de um<br />
tema, debate e entrevista são profícuos à atividades avaliativas.<br />
Fazendo referência a Diégues (1986) este, classifica os meios de avaliação mediante a<br />
área dos conhecimentos e do rendimento do aluno. Na primeira classificação aponta a elaboração<br />
de Provas Escritas cujas respostas podem ser de base não estruturada, semiestruturada ou<br />
estruturada; Provas de Alternativa Constante e Provas orais. Na segunda classificação destaca os<br />
registros de fatos significativos, questionários, inventário e entrevistas.<br />
Para Haydt (2006) tanto a Prova Oral quanto a Prova Escrita Dissertativa ou Objetiva<br />
visam ―determinar o aproveitamento cognitivo do aluno, em decorrência da aprendizagem‖<br />
(p.296). Com efeito, Castillo Arredondo e Diago (2009) salientam que a avaliação em sala de<br />
aula com foco no conhecimento é a que mais predomina no seio dos professores de forma geral,<br />
não obstante existirem aquela que incide sobre conteúdos procedimentais e atitudinais.<br />
Considerando por exemplo, a observação e a interrogação em seus desdobramentos,<br />
estes meios podem ser pertinentes porquanto, o primeiro permite a que se perceba<br />
―manifestações, atividades e situações que refletem a forma de ser e atuar dos alunos, à qual não<br />
é possível chegar por meio de Provas Padronizadas. A observação é feita, geralmente, em<br />
situações naturais do trabalho diário em sala de aula […]‖ (idem, pp.277-278). A interrogação é<br />
baseada no ensino da maiêutica de Sócrates alicerçada na enunciação de perguntas na ação do<br />
professor pelo fato de ser ―instrumento mais simples, econômico e ao alcance de qualquer um,<br />
pois só são necessários recursos mentais e imaginativos; serve para captar a atenção, despertar o<br />
interesse e motivar o ouvinte em um dado momento; estimula a curiosidade intelectual e a busca<br />
de alternativas; […]‖ (p.297).<br />
Não obstante a importância que estes meios representam na sala de aula, Libâneo<br />
(2008) considera que a observação e a entrevista auxiliam a avaliação com a função de<br />
―investigar, informalmente as características individuais e grupais dos alunos, tendo em vista<br />
identificar fatores que influenciam a aprendizagem e o estudo das matérias e, na medida possível<br />
modificá-los‖ (p.214). Ademais, este meio patenteia ―à subjetividade do professor e, portanto, a<br />
erros de percepção e à tendenciosidade. Por esta razão não se deve tirar conclusões na base das<br />
ocorrências esporádicas e de julgamentos apressados‖ (ibidem). Já a entrevista, subsidia à<br />
informações já obtidas por outros instrumentos (observação) com vista a elucidar incertezas sobre<br />
atitudes e hábitos do aluno.<br />
Assim, faz-se necessário ao professor o cuidado na eleição e elaboração de meios de<br />
avaliação da aprendizagem a buscar a qualidade nestes.<br />
Obviamente, o desejado e reconhecido cuidado não se figura com facilidade se se atender<br />
pela qualidade que se pretende conferir a tais meios. Depresbiteris e Tavares (2009) sugerem ao<br />
professor um compenetramento com algumas questões que podem nortear sua escolha e<br />
elaboração de instrumentos: ―Quais finalidades da avaliação? O que será avaliado? Quais<br />
critérios de avaliação? Qual o tempo que se dispõe para avaliação? Como zelar pela qualidade<br />
dos instrumentos? Que uso fará das informações obtidas?‖ (p.60).<br />
Ora, é com esta base teórica que pretendemos iluminar os resultados dos dados obtidos no<br />
primeiro semestre de 2010 numa das escolas de formação de professores de nível médio em<br />
Angola, (2º ciclo).<br />
12
Os dados atentam ao esclarecimento da tipologia de meios de avaliação pelos<br />
professores em suas práticas pedagógicas refletindo a prática do magistério. Se de um lado, é<br />
provável que o distanciamento entre a opção por determinado meio de avaliação e a necessidade<br />
do aluno se torne inadequada, por conta de que a realidade da prática e a experiência do professor<br />
o limita para uma postura desejável, o que muitas vezes parece colocar o professor na posição de<br />
apenas cumpridor da atividade burocrática docente em sala de aula. Do outro, não é menos certo<br />
que, o número heterogêneo de alunos por turma também parece apontar para exiguidades de<br />
infra-estruturas pelo que verifica o abarrotamento das turmas, razão pela qual, se cobra do<br />
professor maior criatividade na razão da concretização da sua tarefa.<br />
Com base na discusão dos dados pode-se ter um quadro mais circuntanciado dos<br />
resultados da pesquisa.<br />
DADOS DA PESQUISA<br />
A avaliação sob o ponto de vista formal valida os meios que podem ser utilizados a<br />
medida em que se justificarem com a realidade focalizada. A tabela abaixo mostra a frequência<br />
da utilização dos meios de avaliação formal.<br />
Tabela 1 – Recurso à Avaliação Formal<br />
MEIOS DE AVALIAÇÃO<br />
% FREQUÊNCIA<br />
Profs. Bacs Profs. Lics Prof.Ms % Total<br />
Provas (exercícios) orais 4 12 - 16<br />
Provas escritas (exercícios) dissertativos - 4 - 4<br />
Questões práticas 4 8 - 12<br />
Provas orais (exercícios) e Questões práticas - 20 - 20<br />
Provas (exercícios) orais e Escritas dissertativas 8 12 - 20<br />
Provas escritas (exercícios) dissertativas e - 4 - 4<br />
Questões práticas<br />
Todos os meios propostos 4 12 4 20<br />
*Outros - 4 - 4<br />
TOTAL 20 76 4 100%<br />
* Trabalho em grupo; trabalho individual em casa; pontualidade, assiduidade<br />
Nota-se que os professores utilizam em suas práticas fundamentalmente Provas Orais<br />
(exercícios) representados em 16%. Constata-se também que 20% trabalha com Provas Orais,<br />
Questões Práticas e Provas Escritas Dissertativas, 12% utiliza Questões Práticas e 4% dos<br />
professores formadores de professores faz uso de Provas Escritas Dissertativas, Questões Práticas<br />
e outros meios (trabalho em grupo, individual em casa, pontualidade e assiduidade) como<br />
possibilidades formais de avaliação formal de seus alunos.<br />
Atenta-se para o fato de que, do total dos pesquisados, cinco de nível de licenciatura, 20%<br />
recorrem à Provas Orais (exercícios) e Questões Práticas para avaliar seus alunos, 12% utiliza<br />
todos meios propostos na Tabela 1. Maior parte dos professores com nível de bacharel, 4% utiliza<br />
todos os meios propostos e, 8% usa Provas Orais (exercícios) e Provas Escritas (exercícios)<br />
Dissertativos. O professor mestrando usa todos os meios propostos 4%.<br />
A disposição dos dados traduz o cotidiano do professor formador de professores em sua<br />
realidade, conforme se vê detalhado por número de aluno por turma na Tabela 2.<br />
13
Tabela 2 – Utilização de recursos de avaliação formal por número de aluno<br />
NÚMERO DE ALUNO POR TURMA<br />
MEIOS DE AVALIAÇÃO 35 à 45 45 à 55 55 à 65 65 à 75 75 à 85 85 à 95 % Total<br />
Provas (exercícios) orais 4 4 8 - - 4 20<br />
Provas (exercícios) escritos - - 4 - - - 4<br />
Questões práticas 8 - - - - - 8<br />
Provas (exercícios) orais e questões<br />
Práticas<br />
- - 12 8 4 24<br />
Provas (exercícios) orais e escritos - 4 16 - - - 20<br />
Provas (exercícios) escritos e Questões<br />
Práticas<br />
- - 4 - - - 4<br />
Todos os meios propostos - 8 4 - 4 - 16<br />
Outros - - 4% - - - 4<br />
TOTAL 12 16 52 8 4 8 100%<br />
Observa-se, portanto, que maior parte dos professores, 24% utiliza Provas (exercícios)<br />
orais e Questões práticas na avaliação dos alunos, 20% trabalha com provas (exercícios) orais.<br />
Outros, 20%, apenas utilizam Provas (exercícios) orais ou Provas (exercícios) escritos<br />
dissertativos e uma minoria, 4%, recorre a Provas (escritas) dissertativas ou a estas últimas<br />
incluindo Questões práticas.<br />
Os professores que trabalham com todos meios descritos na tabela anterior, (16%), são<br />
predominantemente aqueles cujas turmas possuem entre 45 à 55, concomitantemente estão os<br />
professores com 55 à 65 e 75 à 85 alunos respectivamente. Os professores cujas turmas dispõem<br />
entre 45 à 55 utilizam mais as Provas (exercícios) orais ou Escrita dissertativa. Nas turmas em<br />
que o número de aluno consta entre 35 à 45 utilizam mais Questões práticas, 8% e Provais<br />
(exercícios orais) 4%, o mesmo também se pode dizer para turmas entre 65 à 75 e 85 à 95 alunos<br />
que utilizam tanto questões práticas quanto orais. Enquanto, na turma cujo número de aluno está<br />
entre 75 à 85 seus professores utilizam todos os meios propostos.<br />
Porém, do ponto de vista da realidade em sala de aula, avaliar alunos, sobretudo, com<br />
questões orais e práticas parece viável em turmas numerosas se se tiver em conta a pretensão<br />
abrangente de alunos, o que depreende intenções avaliativas formais sem necessariamente<br />
analisar seus contornos, ou seja, o professor procura cumprir o processo de avaliação apenas por<br />
necessidade burocrática, tornando-lhe difícil acompanhar o a aprendizagem do aluno.<br />
Quanto ao recurso de meios informais, as informações da Tabela 3 apresentam uma<br />
tendência na qual o aluno toma conhecimento de que está a ser avaliado informalmente, isto se<br />
considerarmos, sobretudo, os trabalhos de recuperação apontam por caminho da interação<br />
avisada. Porém, também realça-se que nem sempre esta avaliação é convertida em nota ou<br />
conceito do desempenho do aluno como em alguns casos se possa parecer.<br />
Tabela 3 – Recurso à Avaliação Informal<br />
MEIOS DE AVALIAÇÃO % FREQUÊNCIA<br />
Profs. Bacs Profs Lics Prof.Ms % Total<br />
Observação 4 8 - 12<br />
Entrevista 4 8 - 12<br />
Entrevista e Trabalho de recuperação 4 4 - 8<br />
Trabalho de recuperação - 20 4 24<br />
Observação e Trabalho de recuperação 4 8 - 12<br />
Todos os meios propostos 4 12 - 16<br />
14
*Nenhum dos propostos - 8 - 8<br />
Não respondeu - 8 - 8<br />
TOTAL 20 76 4 100%<br />
* Utiliza apenas documentos formais<br />
O recurso a Observação, a Observação e Trabalho de recuperação e a Entrevista como<br />
meios de avaliação informal figuram com relevância da prática pedagógica dos pesquisados<br />
porquanto, 12% considera prioritário estes meios, 8% não utiliza nenhum destes e outros 8% não<br />
respondeu a questão. Repara-se que 16% dos pesquisados utiliza todos os meios propostos e<br />
maior parte, portanto 24% utiliza apenas Trabalhos de recuperação. Trabalho percebido em<br />
algumas práticas como complemento avaliativo (por escrito ou oral) cujo fim é, sobretudo, elevar<br />
a nota dos alunos fracassados na avaliação formal, sem necessariamente considerar os níveis de<br />
desempenho do interessado na nota. Nesta proporção, tem-se 20% de professores licenciados<br />
destacando este recurso.<br />
Observando a frequência da utilização por número de alunos a tabela a seguir aponta.<br />
Tabela 4 – Utilização dos Recursos de Avaliação Informal por número de aluno<br />
NÚMERO DE ALUNO POR TURMA<br />
MEIOS DE AVALIAÇÃO 35 à 45 45 à 55 55 à 65 65 à 75 75 à 85 85 à 95 % Total<br />
Observação 4 4 4 - - - 12<br />
Entrevista 4 - 4 - - - 8<br />
Entrevista e Trabalho de<br />
recuperação<br />
- 4 4 - - 4 12<br />
Trabalho de recuperação - - 16 4 - - 20<br />
Observação e trabalho de<br />
recuperação<br />
- - 8 - 4 - 12<br />
Todos os meios propostos - 4 16 - - - 20<br />
Outros - - 4 4 - - 8<br />
Não respondeu - - 4 - - 4 8<br />
TOTAL 8 12 60 8 4 8 100%<br />
Globalmente, a utilização dos mais variados meios para avaliação informal em função das<br />
circunstâncias é o que se pode observar com maior frequência na tabela acima. Para tal, 20%<br />
assim o diz, não obstante outros 20% do conjunto de professores afirmarem apenas recorrem à<br />
trabalhos de recuperação na avaliação informal. Nota-se que a par deste último recurso junta-se a<br />
entrevista ou observação, 12% e, adiante outros 8% afirma utilizar todos os meios e igual<br />
percentagem, a mesma representação percentual dos pesquisados omitiu seu posicionamento<br />
quanto a utilização dos meios em referência.<br />
Embora, os pesquisados tenha passado a ideia de lidarem com as duas modalidades de<br />
avaliação desgolgadamente em suas práticas, registra-se porém, que algumas dificuldades ainda<br />
os acompanham na elaboração de tais meios, tal como o diagnóstico na tabela 5 revela.<br />
Tabela 5 - Dificuldades na Construção de Recurso de Avaliação<br />
MEIOS DE AVALIAÇÃO<br />
% FREQUÊNCIA %Total<br />
Profs. Bacs Profs. Lics Profs. Ms<br />
Formal 16 8 4 28<br />
Informal - 16 - 16<br />
Formal e Informal - 28 - 28<br />
15
Sem dificuldades - 4 - 4<br />
Não respondeu 4 20 - 24<br />
TOTAL 20 76 4 100%<br />
Na anterior vê-se que maior parte dos professores, 28%, encontra dificuldades na<br />
construção de meios de avaliação formal e informal; 16% enfrenta dificuldades com meios<br />
informais e apenas, 4% do total dos pesquisados diz não ter dificuldades, embora 24%,<br />
percentagem significante, não respondeu a este questionamento. Este nível percentual, é tão<br />
notório em relação o global. Também, é notório que a maior dificuldade recai aos professores<br />
licenciados, portanto 28% e, depois aos professores bacharéis, 16%.<br />
De forma geral, tais dificuldades são pontuadas nas duas modalidades, 28% com maior<br />
relevancia a modalidade formal. E como se vê na Tabela 6 o nível de dificuldades não é<br />
proporcional ao número de aluno por turma atendento a realidade em discussão.<br />
Tabela 6 – Dificuldades de construção de recursos de avaliação por número de aluno<br />
MEIOS DE DIFICULDADES DE CONSTRUÇÃO POR NÚMERO DE ALUNO POR TURMAS<br />
AVALIAÇÃO 35 à 45 45 à 55 55 à 65 65 à 75 75 à 85 85 à 95 % Total<br />
Formal 8 4 8 - 4 4 28<br />
Informal - 4 4 4 - - 12<br />
Formal e Informal - 4 20 4 - 4 32<br />
Sem dificuldades - 4 - - - - 4<br />
Não respondeu - - 24 - - - 24<br />
TOTAL 8 16 56 8 4 8 100%<br />
Professores cujas turmas apresentam entre 55 à 65 são os que mais apresentam<br />
dificuldades na construção de meios de avaliação, 20%. Verifica-se que os professores que não se<br />
pronunciaram sobre as suas dificuldades são aqueles cujas turmas têm entre 55 à 65 alunos. A<br />
abstenção em trazer ao decima suas dificuldades de algum modo estaria associada a<br />
impermeabilidade do pensamento arcaico de que, o professor não deve transparecer a sua<br />
ignorância sobre o que presumivelmente devia saber enquanto formador. Esta, ignorância, por<br />
vezes, também pode estar associada a fundamentos insuficientes de saberes e conhecimentos não<br />
contemplados durante a formação inicial ou experiência de magistério.<br />
A prática em sala de aula absorve lacunas de um processo vivencial profissional pelo<br />
que as fragilidades do professor relativamente ao conhecimento sobre as modalidades de<br />
avaliação o remetem na utilização dos meios por imitação aos colegas.<br />
Na realidade, a prática pedagógica e o processo avaliativo em sala de aula, escondem<br />
não menos frequente, uma avaliação oculta que por vezes influencia negativamente o<br />
desempenho do aluno como a própria atividade do professor a mercê das suas intenções. O lado<br />
latente é enfatisado na avaliação informal,porém, o ideal seria captar desta modalidade seu<br />
aspecto positivo, porque só este interessa para ajudar os alunos a aprender.<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
O centro das atenções do processo pedagógico é cuidar da aprendizagem o aluno,<br />
porém, esta pretensão por vezes perpassa a vontade do professor. Embora, em parte, se considere<br />
que, se o professor estiver bem preparado pode encontrar equilíbrio para um processo avaliativo<br />
profícuo.<br />
16
As avaliações formal e informal da aprendizagem estão sempre presentes no cotidiano<br />
das atividades pedagógicas de professores e alunos, e discutir a sua utilização possibilitou<br />
perceber o destaque a elas atribuídas na sala de aula. Com efeito, verificou-se que o número de<br />
aluno por turma, isto é, o elevado número de alunos por turma pode influenciar na escolha de<br />
meios que facilitem o trabalho na sala de aula sem satisfazerem as necessidades de aprendizagem<br />
do aluno.<br />
Apegar-se permanentemente aos mesmos meios para avaliar, sem que se revelem<br />
oportunos pode limitar a elasticidade pedagógica do professor e prejudicar o aluno<br />
principalmente quando a questão ter a ver com a formação de professores formadores, pois, a<br />
―passagem‖ de sua experiência docente carregada de insuficiências pode de algum modo se<br />
alastrar para os futuros professores quando não trabalhadas devida e oportunamente.<br />
As dificuldades que permeiam a prática dos professores na construção de distintos<br />
meios constituem barreira para a consecução coerente das finalidades que se propõe.<br />
A grosso modo, dentro do contexto da formação de professores para o nível médio (2º<br />
ciclo) em Angola depreende-se, a partir deste estudo, a necessidade da absorção epistemológica<br />
da avaliação em sala de aula pelos professores formadores de tal sorte que, diante das<br />
adversidades sobre as quais a atividade docente se exerce se fecundem ações valiosas tendentes a<br />
promoção da aprendizagem e a qualidade de ensino.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
CASTILLO ARREDONDO, Santiago e DIAGO, Jesús Cabrerizo. Avaliação educacional e<br />
promoção escolar. Trad. Sandra Dolinsky. São Paulo: Ibepex/Unesp, 2009.<br />
DESPRESBITERIS, Lea e TAVARES, Marialva Rossi. Diversificar é preciso…: instrumentos e<br />
técnicas de avaliação de aprendizagem. SENAC: São Paulo, 2009.<br />
HAYDT, Regina Célia. Curso de didática geral. 8ªed. São Paulo: Ática, 2006.<br />
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 2008.<br />
VILLAS BOAS, Benigna Maria. Portfólio, avaliação e trabalho pedagógico. 7ªed. São Paulo:<br />
Papirus, 2004.<br />
UMA ANÁLISE DO MODELO DE ADMINISTRAÇÃO DA REVISTA NOVA ESCOLA GESTÃO<br />
ESCOLAR<br />
Resumo<br />
17<br />
Marina de Souza Bortolucci<br />
bsaniram@yahoo.com.br<br />
Faculdade de Educação, UNICAMP<br />
A Revista Nova Escola é uma publicação da Fundação Victor Civita que possui, desde sua primeira edição<br />
em 1986 pela Editora Abril, grande penetração junto aos educadores, em todo o território nacional. Em
abril de 2009 foi lançada uma vertente dessa revista com conteúdo específico de política e organização<br />
educacional, direcionada aos gestores escolares: a Revista Nova Escola Gestão Escolar. Buscando<br />
conhecer os modelos de administração escolar difundidos nesta fonte de informação e consulta do gestor<br />
escolar, o trabalho ―Uma análise do modelo de administração da Revista Nova Escola Gestão Escolar‖<br />
tem por objetivo analisar a concepção de gestão predominante nas seis primeiras edições desta revista.<br />
Para tanto, utiliza como referencial teórico os estudos de Sander (2007) sobre os modelos de<br />
administração educacional: eficiência econômica; eficácia pedagógica; efetividade política; e relevância<br />
cultural. Optou-se pela metodologia qualitativa dos conteúdos para o desenvolvimento da pesquisa,<br />
verificando como a revista se estruturou nestas primeiras edições, as principais temáticas abordadas e o<br />
tratamento dispensado à gestão democrática da educação. Observou-se que a revista utiliza linguagem<br />
genérica, no intuito de atingir público abrangente. Apresenta-se de maneira sintética, assumindo caráter<br />
prescritivo – predominam difusões de ‗receitas‘ ou ‗procedimento práticos‘ a serem seguidos pelos<br />
gestores escolares para atingir determinado objetivo. Assim, o gestor assume a figura de líder da<br />
instituição, responsável pelo sucesso ou fracasso da escola, tendo como parâmetro de qualidade os índices<br />
atingidos em avaliações externas, não levando em consideração a especificidade de cada unidade escolar.<br />
A gestão participativa foi concebida em seu caráter instrumental. Constatou-se que, apesar de alguns<br />
momentos a revista abrir espaço para concepções características do modelo de administração para a<br />
relevância cultural, o modelo para a eficácia pedagógica é o que prevalece: as metas são definidas pelas<br />
instâncias externas a unidade escolar, cabendo ao diretor implantar ações para atingi-las, entre essas o<br />
engajamento da comunidade escolar para a consecução dos objetivos.<br />
Palavras-chave: Gestão educacional; Revista Nova Escola Gestão Escolar; Modelo de administração<br />
escolar.<br />
UMA ANÁLISE DO MODELO DE ADMINISTRAÇÃO DA REVISTA NOVA ESCOLA GESTÃO<br />
ESCOLAR<br />
A Revista Nova Escola é uma publicação da Fundação Victor Civita que possui, desde sua<br />
primeira edição em 1986, pela Editora Abril, grande penetração junto aos educadores no Brasil. Em abril<br />
de 2009 foi lançada uma vertente desta revista com conteúdo específico de política e organização<br />
educacional, direcionada aos gestores escolares: a Revista Nova Escola Gestão Escolar.<br />
Buscando conhecer os modelos de administração escolar difundidos nesta fonte de informação do<br />
gestor escolar, o presente trabalho visa analisar a concepção de gestão predominante nas seis primeiras<br />
edições desta revista. Para tanto, utiliza como referencial teórico os estudos de Sander (2007) sobre os<br />
modelos de administração educacional brasileira do período republicano.<br />
O primeiro modelo é a administração para a eficiência econômica: surgiu no contexto econômico<br />
da Revolução Industrial, sendo as instituições educacionais compreendidas como sistemas fechados, tendo<br />
como valores a economia e a produtividade. Considera-se eficiente o indivíduo que produz o máximo com<br />
o mínimo de desperdício. Acentuam características extrínsecas e instrumentais dos atos administrativos, e<br />
seus protagonistas pautam suas ações pela lógica econômica. Por isto, esta prática não se conforma a<br />
natureza ética que a educação exige.<br />
A administração para a eficácia pedagógica, segundo modelo apontado, é uma derivação<br />
conceitual da escola comportamental de administração e acentua características intrínsecas e instrumentais<br />
dos atos administrativos. Preocupa-se com a consecução dos objetivos educacionais das instituições e<br />
sistemas de ensino, estando estreitamente vinculada aos aspectos pedagógicos da escola. As práticas de<br />
intervenção institucional pela eficácia pedagógica, portanto, incentivam a eficiência econômica, quando<br />
esta contribui para os objetivos específicos da instituição.<br />
O terceiro modelo refere-se à administração para a efetividade política – deriva das experiências<br />
práticas da administração pública e da gestão da educação durante as décadas posteriores à II Guerra<br />
Mundial. Esta perspectiva concebe a organização como um sistema aberto e adaptativo, no qual a<br />
mediação administrativa enfatiza as variáveis do ambiente externo. A efetividade está relacionada ao<br />
18
conceito de responsabilidade social e surgiu como critério superador dos conceitos técnicos e<br />
instrumentais de eficiência e eficácia, pois exige um envolvimento na vida da comunidade através de uma<br />
filosofia solidária e metodologia participativa.<br />
Por fim, Sander (2007) apresenta a administração para a relevância cultural, derivação conceitual<br />
de formulações interacionistas recentes, que concebe a organização como um sistema aberto e<br />
multicultural, preocupando-se com os significados culturais e os valores éticos que definem o<br />
desenvolvimento humano sustentável e a qualidade de vida. Guarda relação com a atuação para a melhoria<br />
dessa qualidade, na escola e na sociedade como um todo, através da participação cidadã. A relevância é<br />
definida por todos os participantes da organização, em função de interpretações conscientes dos<br />
fenômenos sociais, objetivando precaver o gestor da educação contra os perigos do ativismo desprovido<br />
de valor cultural.<br />
Outro aspecto analisado pela pesquisa é a relevância com que a Revista Nova Escola Gestão<br />
Escolar trata a democracia no âmbito escolar, considerando-se que a Gestão Democrática da Escola<br />
Pública no Brasil está assegurada pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, visando à<br />
socialização do poder, a participação coletiva, a prática da reciprocidade e da autonomia.<br />
A gestão democrática visa garantir o controle do processo e do produto do trabalho pelos<br />
educadores, rompendo com a divisão entre pensar e executar. Para isto, um estudo sobre a estrutura de<br />
poder na escola se faz necessário, já que por muito tempo, esteve centralizado na figura do diretor,<br />
adquirindo caráter autoritário, separando os setores no interior da escola, atribuindo ao diretor um poder<br />
que não corresponde à necessária democracia escolar.<br />
De acordo com o estudo de Pedroso (1999), fez-se a relação das seções presentes nas seis<br />
primeiras edições da revista e selecionaram-se cinco para a análise do conteúdo, após terem sido dividas<br />
em três grupos distintos: Matérias de capa (Capa); Assuntos Temáticos (Entrevista e Ética na Escola); e<br />
Experiências, Relatos Pessoais e Cartas dos Leitores (Eu Fiz Assim e Cartas), tendo como critério de<br />
escolha a relação com a linha editorial, a representatividade das temáticas abordadas e por refletirem a<br />
perspectiva predominante de gestão que perpassa nas edições referidas.<br />
Ao retomar o referencial teórico da pesquisa (SANDER, 2007), observou-se, em relação às<br />
matérias de capa, que a revista utiliza linguagem genérica no intuito de atingir público abrangente. As<br />
temáticas abordadas referem-se a vivências cotidianas no campo da educação, como articulação entre<br />
escola e família, a violência no interior da escola, características do bom gestor, entre outras.<br />
As matérias trazem sempre exemplos de vivências de instituições escolares bem sucedidas, que<br />
aplicaram o proposto pela reportagem para superar determinado problema. Ao fazer isto, a revista<br />
desconsidera as especificidades de cada unidade escolar e o contexto em que estão inseridas: se deu certo<br />
numa escola, caso bem aplicado, dará bons resultados em qualquer outra.<br />
Em oposição a essa concepção, entende-se que a escola deve ser compreendida como uma unidade<br />
social – uma instituição dinâmica, formada por um grupo complexo com características próprias. Neste<br />
pressuposto, a escola não é mera reprodutora de valores presentes na sociedade, mas tem certa autonomia<br />
que lhe permite ter uma produção própria: ―os elementos que integram a vida escolar são em parte<br />
transpostos de fora; em parte redefinidos na passagem, para ajustar-se às condições grupais; em parte<br />
desenvolvidos internamente [...]‖ (CÂNDIDO, 1987, pp. 12-13).<br />
Observou-se nas reportagens a presença de instruções para gestores, predominando a difusão de<br />
‗receitas‘ para se atingir o sucesso, assumindo caráter prescritivo. Reforça a separação entre o pensar e o<br />
fazer: cabe ao gestor e a equipe da escola seguir acriticamente o proposto para alcançar certos resultados.<br />
Afasta-se por isto da gestão democrática, que busca garantir a comunidade escolar o controle do processo<br />
e do produto do trabalho, rompendo com a divisão entre teoria e prática.<br />
O estudo revelou que as reportagens de capa promovem uma visão de gestão cujo principal<br />
parâmetro de qualidade da escola está alicerçado nos resultados atingidos em avaliações externas. As<br />
metas da escola já estão postas (atingir determinado índice nas avaliações externas), não cabendo à<br />
comunidade escolar defini-las, mas apenas desenvolver ações para atingi-las, sendo estas supervisionadas<br />
pelo líder-gestor, tido como o responsável pelo sucesso ou pelo fracasso da escola.<br />
19
Partindo desta visão do gestor como líder, a gestão participativa é apresentada em diversos<br />
momentos nas reportagens. Nesta perspectiva, a direção compartilha decisões, e não tomadas de decisões,<br />
estabelecendo as formas de participação da família e da comunidade na escola:<br />
No documento mais importante da escola [PPP], já devem estar previstas as possíveis<br />
contribuições das famílias. Exemplos: pais, mães e avós podem ser convidados para falar<br />
durante o desenvolvimento de atividades sobre profissões e brincadeiras de infância<br />
(HEIDRICH, 2009a, p. 27).<br />
Esta forma de organização assume a aparência da participação e da autonomia, porém ambas<br />
despojadas de seu sentido político: trata-se de uma participação instrumental, controlada, já que se está<br />
determinado como a participação se dará. Tal técnica de gestão garante coesão e consenso, e uma<br />
autonomia operacional – participar não significa controlar instâncias decisórias.<br />
Pode-se afirmar, portanto, que a seção Capa se aproxima de uma modelo gerencial de gestão, pois<br />
se enquadra em diferentes características desta, segundo Castro (2008):<br />
Um outro delineamento proposto é a melhoria da capacidade de gestão, para dar maior<br />
protagonismo à comunidade educativa local e um papel mais estratégico à administração<br />
central. Nesse sentido, traçam-se, entre outras diretrizes: a) a criação pelo Estado de<br />
condições para que as escolas cheguem a um nível adequado de autonomia; b) a garantia<br />
da atualização permanente de diretores, salientando e respeitando suas competências<br />
como líderes da instituição; c) o desenvolvimento de mecanismos que facilitem a gestão<br />
participativa das famílias e o fortalecimento da escola; e d) a otimização do tempo e do<br />
horário letivo efetivo para melhorar as oportunidades de aprendizagem (p. 397).<br />
Conclui-se que nas seis matérias de capa analisadas, a forma de gestão defendida é a participativa,<br />
concebida em seu caráter instrumental. Retomando Sander (2007), constata-se que o modelo da eficácia<br />
pedagógica é o que prevalece: nesta perspectiva, as metas estão postas, definidas por instâncias externas a<br />
unidade escolar (pelas avaliações externas), cabendo ao ‗gestor-líder‘ implantar ações para atingi-las,<br />
dentre estas, conseguir o engajamento da comunidade escolar para a consecução, e não determinação, dos<br />
objetivos.<br />
Apesar de em alguns momentos as reportagens se posicionarem como defensoras da gestão<br />
democrática, o que perpassa em seus conteúdos reforça um posicionamento acrítico da comunidade<br />
escolar, desconsiderando as especificidades de cada unidade, estimulando a adoção de uma gestão<br />
participativa, de caráter gerencial como solução para os problemas da educação brasileira.<br />
Para o grupo Assuntos Temáticos foram escolhidas duas seções para comporem a análise – optouse<br />
pelas entrevistas, por se tratar de um espaço que a revista abre para profissionais da área da educação, e<br />
pela coluna intitulada Ética na Escola, pois encerra todas as edições da revista.<br />
As entrevistas analisadas trazem diferentes assuntos a serem discutidos por uma personalidade da<br />
área da educação. Possuem características peculiares, já que a seção dá voz a sujeitos que não fazem parte<br />
de seu corpo editorial. A edição quatro, por exemplo, ao trazer o ensino religioso e questões<br />
constitucionais envolvidas neste debate, caracteriza-se como uma entrevista contestadora, que discute a<br />
problemática em contexto nacional, defendendo a escola pública laica, criticando privilégios dados a uma<br />
minoria – ao fazer isto, a entrevistada Roseli Fischmann, respeita e valoriza a diversidade existente no<br />
país, que se reflete no interior das escolas, além de defender direitos assegurados constitucionalmente.<br />
As entrevistas da edição de número dois e três, apesar de abordarem temáticas completamente<br />
diferentes, aproximam-se em relação ao posicionamento dos entrevistados – em alguns momentos a<br />
revista faz perguntas direcionadoras, baseadas nos princípios observados na análise das matérias de capa,<br />
porém, os entrevistados, Rui Canário e Dermeval Saviani, respectivamente, deixam claro que têm opiniões<br />
diferentes da revista.<br />
Ambos assumem posicionamento crítico, em suas falas os problemas da educação não recaem<br />
sobre a figura do diretor, questionam as condições de trabalho dos professores, tratam de um<br />
20
envolvimento real da comunidade com os processos decisórios da escola, valorizando a diversidade e os<br />
princípios democráticos, reconhecendo a especificidade de cada unidade escolar.<br />
Na pergunta feita ao educador Rui Canário, percebem-se algumas questões referentes às<br />
características observadas nas matérias de capa intrínseca na pergunta (que traz o gestor como<br />
responsável, além de vários termos gerenciais), como do próprio entrevistado, que se contrapõe,<br />
colocando a responsabilidade para todos os envolvidos e a especificidade de cada escola:<br />
Então, para promover a escola e dar visibilidade a ela, o gestor precisa reconhecer a<br />
diversidade, ser inovador nas propostas e, ao mesmo tempo, otimizar a utilização de<br />
recursos?<br />
CANÁRIO As escolas não são governáveis por controle remoto. Cada uma vive uma<br />
realidade única, e isso em diversos aspectos, a começar pela localização, o que faz com<br />
elas atendam a públicos diferenciados. Os espaços e os equipamentos disponíveis variam<br />
muito e, claro, as equipes pedagógicas têm distintos perfis. Portanto, para bem cumprir<br />
suas funções, as escolas precisam desenvolver e utilizar da melhor maneira possível o<br />
potencial criativo do diretor, do coordenados pedagógico, do corpo docente e dos<br />
alunos para definir metas, identificar problemas e mobilizar recursos. Se todos juntos<br />
traçarem uma estratégia, ficará mais fácil construir uma identidade única e alcançar<br />
melhores resultados (NADAL, 2009b, p. 16, grifo nosso).<br />
A entrevistada Maria Helena Guimarães de Castro ao trazer aspectos gerenciais e meritocráticos<br />
como fundamentos para a melhora da educação, reforça que a qualidade se reflete no bom desempenho em<br />
avaliações externas. A respeito do papel do gestor observa-se a responsabilização deste pela criação de<br />
uma boa convivência, que se reflete numa educação de qualidade, desconsiderando-se as diversas questões<br />
que influem na escola.<br />
Há duas entrevistas cujos entrevistados defendem a gestão gerencial, afastando-se completamente<br />
dos pressupostos da gestão democrática – a primeira, trata do gestor enquanto líder, e a quinta, que traz o<br />
subsecretário de educação de Nova York, Chris Cerf. Ambos reforçam características das matérias de<br />
capa: gestor como liderança em favor do bem coletivo, defesa da gestão participativa nos moldes<br />
gerenciais, família enquanto fiscalizadora e não participante dos processos decisórios da escola, índices<br />
em avaliações externas como parâmetro de qualidade, e receitas de sucesso que podem ser seguidas em<br />
qualquer contexto educacional.<br />
Em relação as entrevistas, ressalta-se que independente do entrevistado, as perguntas são<br />
genéricas, de pouca problematização e profundidade. Referem-se ao como fazer, buscando receitas que<br />
possam ser aplicadas em qualquer contexto, o diretor como principal agente na resolução de problemas da<br />
escola, sem problematizar entraves encontrados por estes profissionais.<br />
Pode-se considerar que o modelo de administração predominante nesta seção é o da eficácia<br />
pedagógica, pois cabe ao diretor, numa postura de liderança, implantar ações para atingir certo padrão de<br />
qualidade, seguindo receitas prontas, adaptadas de outros contextos educacionais, além de reforçar a<br />
transferência de conceitos próprios do gerencialismo empresarial para o campo da educação, como<br />
proposta para a solução dos problemas existentes.<br />
Vale apontar a especificidade desta seção ao dar voz a diferentes posicionamentos a respeito da<br />
educação. Encontram-se falas que defendem a diversidade e o respeito, o questionamento das condições<br />
de trabalho no campo da educação, a defesa de uma gestão democrática, sendo desta forma não centrada<br />
no gestor, considerando que a comunidade deve participar das decisões no interior da escola. Ao trazer<br />
estes posicionamentos, a revista acaba abrindo espaço a outro modelo de administração: o da relevância<br />
cultural, pois<br />
o conceito de relevância [...] dá primazia às considerações culturais da administração da<br />
educação e ao ideal de qualidade de vida humana coletiva como critério orientador para<br />
a atuação política na escola e na sociedade. Esta orientação visa precaver o<br />
administrador da educação contra os perigos do ativismo extrínseco desprovido de valor<br />
21
cultural e de considerações intrínsecas sobre o ser humano vivendo em sociedade<br />
(SANDER, 2007, p. 84).<br />
Apesar da complexidade da seção analisada, conclui-se que a administração para a eficácia<br />
pedagógica ainda é a predominante, pois reflete as concepções defendidas pela revista de maneira geral,<br />
porém abre espaço para outros posicionamentos que se enquadram na administração para a relevância<br />
cultural, mesmo não sendo os princípios valorizados por esta.<br />
A seção Ética na Escola, escrita pela professora Terezinha Azerêdo Rios, fecha as edições<br />
analisadas – os temas abordados são: moral, ética, autonomia, identidade, entre outros. Levanta reflexões<br />
direcionadas ao educador de maneira geral. Nesta coluna o diretor aparece de forma distinta daquela<br />
definida pelo modelo gerencial: em nenhum momento é caracterizado como o único responsável por tudo<br />
que ocorre na escola, como líder da instituição.<br />
Pode-se afirmar que a seção diferencia-se dos moldes gerenciais e abre espaço para discussões<br />
importantes para o campo da educação. Porém, ressalta-se que as reflexões são direcionadas ao fazer<br />
pedagógico do leitor – questiona-se o que cada um faz em seu trabalho na escola –, caracterizando-se<br />
como intervenções locais e individuais, não levando a um posicionamento crítico em relação às condições<br />
postas a educação brasileira num âmbito mais geral.<br />
Aproxima-se da administração para a relevância cultural, com ressalvas, já que valoriza o contexto<br />
em que a escola está inserida, mas não privilegia aspectos políticos característicos desta abordagem, que<br />
pretendem qualidade para a educação, mas também para a sociedade em geral.<br />
Assim, em relação ao grupo Assuntos Temáticos, percebeu-se que há indícios de duas concepções<br />
bem distintas de administração – para a eficácia pedagógica e para a relevância cultural, mas o que<br />
prevalece é a administração para a eficácia pedagógica, pois apesar de abrir espaço para contribuições<br />
importantes do outro modelo, se o leitor não tiver um olhar atento, estas passam despercebidas, e percebese<br />
que a intenção da revista é direcionar o leitor aos aspectos gerenciais da administração como salvação<br />
para os problemas da educação.<br />
O grupo Experiências, Relatos Pessoais e Cartas dos Leitores analisa depoimentos de experiências<br />
da seção ―Eu Fiz Assim‖ e comentários de leitores publicados em ―Cartas‖, que a partir do segundo<br />
número passou a se chamar ―Espaço do Leitor‖, acreditando-se que refletem de alguma maneira a<br />
receptividade do público em relação aos assuntos e ideias divulgadas pela revista.<br />
A seção intitulada ―Eu Fiz Assim‖ traz relatos de vivências de escolas que superaram alguma<br />
adversidade. Trata-se de um espaço cujos redatores são os próprios sujeitos que participaram do processo<br />
descrito, geralmente o diretor da instituição, trazendo o panorama de como era a escola, o problema em<br />
questão, as ações que foram tomadas e os resultados obtidos.<br />
Mesmo a seção sendo escrita pelos sujeitos da escola, a revista não deixa de acrescentar<br />
comentários, que expressam uma interpretação do que foi relatado pelo profissional. Nestes ‗acréscimos‘<br />
da revista posicionamentos se destacam: o gestor é o responsável pelas transformações ocorridas, ao<br />
articular sua equipe, e não a equipe da escola, para atingir determinado objetivo. Esta concepção de gestão<br />
se reflete no próprio nome da seção – Eu Fiz Assim – desconsiderando a escola como um local que<br />
necessita do trabalho coletivo dos sujeitos que a constitui.<br />
Porém, nos relatos, nenhum diretor atribui a si as mudanças ocorridas na escola, e sim ao<br />
envolvimento de toda a comunidade, como fica evidente no relato: ―O projeto que elaboramos foi<br />
ambicioso. Abrimos as portas para a comunidade, oferecendo atividades esportivas e convidando os<br />
familiares para acompanhar o processo de ensino e aprendizagem‖ (LUIZ, 2009, p. 19).<br />
Na quinta edição desta seção, na conclusão do relato do diretor aparece a qualidade de ensino<br />
como sinônimo de bom desempenho em avaliações externas – valoriza posições alcançadas em avaliações<br />
externas, reforçando a ideia de que a escola tem autonomia para trabalhar com seus alunos o conteúdo da<br />
forma como desejar, desde que atinja boas metas de desempenho.<br />
Outra questão a ser levantada é que a revista acaba sugerindo que soluções encontradas por uma<br />
instituição pode ser aplicada em qualquer outra, descontextualizando estas de suas realidades, cabendo ao<br />
gestor da escola esforçar-se para que sua equipe supere determinado problema.<br />
22
Em alguns momentos percebem-se pontos nas falas destes leitores/escritores que se diferem da<br />
proposta da revista, pois não admitem que os caminhos percorridos devam ser simplesmente copiados por<br />
outras instituições – encaram o espaço oferecido pela revista como uma possibilidade de troca de<br />
experiências que devem ser analisadas dentro do contexto que a escola está inserida.<br />
Por isso, a mesma complexidade encontrada na análise das entrevistas, é observada aqui – a<br />
revista reforça uma administração escolar para a eficácia pedagógica, mas ao dar voz aos sujeitos que<br />
estão inseridos no cotidiano educacional, abre espaço para o modelo da relevância cultural.<br />
Analisou-se a seção ―Cartas‖ – espaço da revista destinado à publicação de opiniões de leitores<br />
sobre as temáticas abordadas na edição anterior, revelando a receptividade do público aos assuntos<br />
tratados. Neste estudo foram analisados os comentários referentes às seções selecionadas para a pesquisa,<br />
uma vez que as opiniões a respeito das outras seções ficariam descontextualizadas.<br />
O primeiro número difere-se do restante, já que não há edição anterior para ser comentada – as<br />
colocações referem-se à própria publicação de uma nova vertente da revista da Nova Escola, direcionada<br />
aos gestores da educação. O comentário em destaque é do professor do Instituto de Psicologia da<br />
Universidade de São Paulo, Lino de Macedo – ―Os gestores agora podem compartilhar experiências e<br />
problemas comuns e ter de volta o valor da liderança na função e nos projetos que podem conceber e<br />
realizar em favor dela‖ (MACEDO, 2009, p. 8, grifo nosso).<br />
Ao retomar a análise das demais seções da Revista Nova Escola Gestão Escolar, percebe-se que o<br />
comentário do professor Macedo defende uma das principais características desta, que é o diretor numa<br />
posição de liderança, responsável pelo sucesso ou fracasso da instituição escolar.<br />
Na segunda edição, todas as colocações referem-se à necessidade de orientações para enfrentar<br />
problemas presentes nas escolas e como a primeira edição correspondeu a esta expectativa dos leitores. Os<br />
comentários revelam ser uma expectativa do leitor que se traga orientações para os gestores, reforçando<br />
outra característica marcante em suas matérias: exemplos de escolas que através de algumas ações<br />
superaram uma dificuldade.<br />
Ressalta-se que tal posicionamento da revista reforça a ideia de que algo que foi implantado em<br />
determinada escola pode ser colocado em prática em outra. Esta questão traz a seguinte problemática – a<br />
receita de como atingir o sucesso está posta, cabendo aos gestores apenas executá-la; como algumas<br />
escolas colocaram em prática e alcançaram resultados, quando o gestor, leitor da revista, não consegue<br />
atingir o esperado, a responsabilidade do fracasso recai sobre sua figura.<br />
Há apenas uma colocação a respeito de outra seção que não seja a ―Capa‖ – refere-se a primeira<br />
entrevista da revista, e apoia a tese defendida pela entrevistada Heloísa Lück a respeito da gestão<br />
participativa. Como já foi abordado anteriormente, é importante ressaltar que a gestão participativa<br />
defendida pela entrevistada difere-se da gestão democrática – trata-se de uma participação direcionada,<br />
pois não cabe aos sujeitos definirem as metas que almejam para a escola, estas já estão postas e o diretor<br />
deve engajar todos os envolvidos na consecução destas.<br />
Na terceira edição os comentários analisados referem-se à Capa anterior – os comentários<br />
reforçam o ensino de técnicas, característico da revista, na forma de receitas. Não há um posicionamento<br />
crítico, como as técnicas são aplicadas em algumas escolas com respostas positivas de acordo com a<br />
revista, serão incorporadas a prática pedagógica sem nenhum questionamento.<br />
Na edição quatro todos os comentários a respeito da capa da edição anterior tratam do papel do<br />
educador para aproximar os pais à escola, como a própria reportagem sugere. Dão ênfase ao papel do<br />
gestor para que essa relação aconteça, sendo o gestor mero executor do proposto na reportagem – o papel<br />
que o gestor ocupa não é do agente reflexivo, que pensa e orienta sua práxis a partir de um<br />
posicionamento que reflita os interesses da comunidade escolar, pelo contrário, não há necessidade de<br />
questionar o seu trabalho pedagógico e de toda equipe da escola, pois a revista já traz as orientações do<br />
que deve ser feito, no caso desta edição, para trazer os pais à escola.<br />
A quinta edição traz apenas um comentário a respeito da capa, e pode-se levantar a hipótese que<br />
talvez não tenha sido bem recebida pelo público. A temática mais comentada foi a entrevista ―Escola<br />
Pública não é lugar de religião‖. As considerações publicadas apoiam a entrevistada, principalmente sobre<br />
23
ser um desrespeito à diversidade religiosa impor uma forma de pensar. A última revista analisada dedica<br />
duas páginas para esta seção, e por isso traz mais colocações do que as anteriores: todas parabenizam as<br />
matérias e afirmam que auxiliará a prática.<br />
Percebeu-se nas colocações do público, que este se mostra receptivo aos conteúdos das<br />
reportagens da revista, aceitam as orientações sobre como devem agir em determinadas situações, e pedem<br />
que a revista traga procedimentos para serem seguidos em determinado assunto.<br />
São poucos os comentários que refletem um posicionamento crítico perante o que foi apresentado<br />
na revista, e quando aparecem referem-se não as concepções da revista, mas as temáticas abordadas,<br />
problematizando questões não levantadas pela reportagem. Por isso, pode-se afirmar que o ―Espaço do<br />
Leitor‖ traz comentários que apoiam a perspectiva presente nas diferentes seções, reforçando que esta<br />
auxilia a prática pedagógica dos leitores, e assim configura-se dentro do mesmo modelo de administração<br />
predominante até então – para a eficácia pedagógica.<br />
A análise da Revista Nova Escola Gestão Escolar possibilitou a compreensão do modelo de<br />
administração defendido, muitas vezes despercebido ao leitor, que incorpora as práticas sugeridas ao seu<br />
fazer pedagógico sem um posicionamento crítico. Os momentos mais complexos da análise foram os que<br />
a revista dá voz a sujeitos que não fazem parte de sua equipe, possibilitando que perspectivas diferentes<br />
aparecessem, mesmo sem corresponderem ao principal enfoque das edições.<br />
Estes pressupostos enquadram-se na perspectiva gerencial da administração educacional – o gestor<br />
é o líder da instituição escolar, responsável pelo engajamento de sua equipe, e não mais a equipe da<br />
escola, na consecução de objetivos que estão postos. Este enfoque responsabiliza o gestor pelos fracassos<br />
da escola, tirando o foco de problemáticas que permeiam a educação brasileira.<br />
Outra característica ressaltada ao longo das reportagens é a participação e a autonomia, ambas<br />
destituídas do caráter político: participar não significa decidir o que se deseja, e o mesmo ocorre em<br />
relação à autonomia, que está relacionada ao processo e não ao produto – os sujeitos da escola são livres<br />
para decidir como percorreram o caminho até o objetivo que lhes foi imposto.<br />
A revista apresenta ‗procedimentos práticos‘ para guiar o educador no seu fazer pedagógico, além<br />
de utilizar linguagem genérica no intuito de atingir público abrangente. Diante de todas estas questões<br />
levantadas, conclui-se que, apesar da revista em alguns momentos se posicionar a favor da gestão<br />
democrática, as ideias que defende não levam a sua concretude.<br />
Posto isto, retomando-se o referencial teórico da pesquisa (SANDER, 2007), apesar de alguns<br />
momentos, características da administração para a relevância cultural aparecerem, o principal modelo de<br />
administração defendido nas diferentes seções analisadas da Revista Nova Escola Gestão Escolar<br />
enquadra-se na administração para a eficácia pedagógica, pois acentua características instrumentais dos<br />
atos e fatos administrativos, preocupando-se com a consecução dos objetivos educacionais das instituições<br />
de ensino, colocados externamente, principalmente através de avaliações externas, cabendo a comunidade<br />
escolar apenas executar procedimentos propostos pela revista, reforçando desta maneira a separação entre<br />
o pensar e o fazer.<br />
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EXAME NACIONAL DE DESEMPENHO DE ESTUDANTES: um estudo a partir da produção científica<br />
brasileira (2004-2010)<br />
Resumo<br />
26<br />
Adauto Marin Molck – mestrando<br />
admolck@hotmail.com<br />
Adolfo Ignacio Calderón – pós-doutor<br />
adolfo.ignacio@puc-campinas.edu.br<br />
Instituição: Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong><br />
Eixo Temático: Gestão e avaliação<br />
O presente projeto de pesquisa a ser executado no Programa de Mestrado em Educação da Pontifícia<br />
Universidade Católica de <strong>Campinas</strong> se insere no campo da Avaliação Educacional, especificamente no<br />
que diz respeito à Avaliação em larga escala. Partindo do consenso no âmbito governamental a respeito da<br />
importância e da necessidade do aprimoramento continuo dos programas de avaliação, objetivando o<br />
aperfeiçoamento das políticas educacionais, pretende-se identificar, nas teses de doutorado e dissertações<br />
de mestrado produzidas no Brasil em torno do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE),<br />
os impactos do referido exame nos cursos de graduação, as estratégias para a melhoria do desempenho<br />
institucional adotadas pelas Instituições de Educação Superior, bem como a percepção dos autores das<br />
teses e dissertações estudadas sobre o referido programa de avaliação. O ENADE, implantado em 2004,<br />
faz parte do SINAES, com o objetivo de avaliar o desempenho dos alunos de cada curso de forma que<br />
também os cursos recebam conceitos ordenados numa escala de cinco níveis. O ENADE, juntamente com<br />
o Conceito Preliminar de Curso (CPC) e o Índice de Diferença de Desempenho (IDD), perfila-se como<br />
poderosos meios de rankeamento das Cursos e Instituições de Educação Superior, no final do governo<br />
Lula (a partir de 2008) e início do governo da Presidenta Dilma Rousseff. Desta forma, pretende-se<br />
realizar um estudo do tipo Estado da Arte em torno do ENADE tendo como referências as dissertações de<br />
mestrado e teses de doutorado produzidas no Brasil, no período de 2004 a 2010, tendo como parâmetros<br />
três objetivos específicos: (a) estudar o ENADE no contexto das Avaliações em Larga Escala implantadas<br />
no Brasil na área da Educação Superior; (b) mapear a produção científica brasileira, expressa nas<br />
dissertações de mestrado e teses de doutorado, produzidas desde a implantação do ENADE; (c) identificar<br />
os impactos do ENADE nos cursos de graduação, as estratégias para a melhoria do desempenho<br />
institucional adotadas pelas Instituições de Educação Superior e a percepção dos autores das teses e<br />
dissertações estudadas sobre o referido programa de avaliação. Trata-se de uma pesquisa quantitativa e<br />
qualitativa, essencialmente de cunho bibliográfico, do tipo Estado da Arte, utilizando como referência às<br />
técnicas de Análise de Conteúdo do material coletado.
A GESTÃO ESCOLAR PODE INTERFERIR NO APRENDIZADO E PRODUÇÃO DE<br />
CONHECIMENTO?<br />
Resumo<br />
27<br />
Cecília da Silva Barros<br />
Graduanda da Faculdade de Educação<br />
Elvira Cristina Martins Tassoni<br />
Docente do PPGE e da Faculdade de Educação<br />
Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong><br />
Eixo Temático: Gestão e Avaliação<br />
Apresentação: Pôster<br />
e-mail: cesilva@unicamp.br; cristinatassoni@gmail.com<br />
Este relato refere-se ao trabalho desenvolvido no estágio supervisionado vinculado à disciplina Gestão da<br />
Educação Básica, do 8º período do Curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da <strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong>. O<br />
estágio foi realizado em duas escolas públicas estaduais, uma de Ensino Fundamental e outra de Ensino<br />
Fundamental e Médio, problematizando em que medida a Gestão Escolar pode influenciar no aprendizado<br />
dos alunos, como também que influências as estruturas física, administrativa e didático-pedagógica podem<br />
ter na produção de conhecimento. Teve por objetivo desenvolver uma compreensão pedagógica de Gestão<br />
Escolar, nos contextos micro e macro da escola, contemplando as dimensões do trabalho pedagógico<br />
coletivo; compreender os princípios da gestão democrática e sua influência na organização do trabalho<br />
pedagógico. A coleta das informações ocorreu por entrevistas com membros da equipe gestora e<br />
funcionários da escola, análise documental do Projeto Político Pedagógico, Regimento Escolar e outros<br />
documentos disponibilizados e observação, contemplando a organização da escola; a estrutura<br />
administrativa; os aspectos relacionados com a gestão escolar e os momentos coletivos. A experiência<br />
realizada possibilitou concluir que a Escola de Ensino Fundamental estagiada é acolhedora com seus<br />
alunos, aberta à discussão e participação dos professores e dos pais nas decisões. Esse ambiente<br />
institucional promove um espaço de aprendizado onde existe o diálogo e a preocupação com a efetividade<br />
do processo educativo. A estrutura física deixa a desejar e isso prejudica a produção do conhecimento. O<br />
Projeto Político Pedagógico foi elaborado de forma coletiva e, apesar das dificuldades que a escola<br />
apresenta, caminha em busca de uma Gestão Democrática. Na Escola de Ensino Fundamental e Médio<br />
estagiada percebeu-se que há uma preocupação real com o aprendizado do aluno, porém não há<br />
institucionalmente delimitado um espaço de troca entre Direção, Coordenação Pedagógica, Professores e<br />
alunos. Não se identifica um clima de coletividade, onde todos participam das decisões e conhecem<br />
claramente as regras e objetivos. A escola tem uma ótima estrutura física, mas pelo que pôde ser<br />
observado não possui uma Gestão Democrática. Desta forma, o estágio possibilitou fazer uma reflexão<br />
concreta a respeito do papel da Gestão Escolar e sua influência no aprendizado do aluno.<br />
Palavras-chave: Gestão Democrática; Educação Básica; Estágio Supervisionado.<br />
O COTIDIANO DA GESTÃO ESCOLAR<br />
Débora Ariane do Amaral Lima<br />
debora.ariane1@hotmail.com<br />
Elvira Cristina Martins Tassoni<br />
cristinatassoni@puc-campinas.edu.br<br />
Eixo Temático: Gestão e avaliação<br />
Pôster<br />
Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong>
Resumo<br />
28<br />
Faculdade de Educação<br />
O trabalho refere-se à experiência de estágio supervisionado, vinculado à disciplina Gestão da<br />
Educação Básica, no curso de Pedagogia da <strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong>. Foi realizado numa escola<br />
pertencente à rede estadual da cidade de Artur Nogueira – SP. Essa escola abrange o Ensino<br />
Fundamental, o Ensino Médio e o EJA, recebendo alunos do próprio bairro, bairros vizinhos e<br />
zona rural. O trabalho teve como objetivo trazer informações do Projeto Político Pedagógico, do<br />
Regimento Escolar, da estrutura administrativa e sobre as formas de participação na escola, das<br />
funções, da estrutura didática e da qualidade de ensino, por meio de análise documental,<br />
observações e entrevistas. Desse modo, o foco do estágio foi voltado para a gestão administrativa<br />
e pedagógica da escola, possibilitando a articulação entre a teoria estudada na disciplina de<br />
Gestão na Educação Básica e a prática vivenciada no campo de estágio. Essa experiência foi<br />
desenvolvida em 51 horas, distribuídas em 25 horas para o Ensino Fundamental e 26 horas para o<br />
Ensino Médio. O estágio propriamente dito foi realizado em três momentos. O primeiro momento<br />
envolveu a análise documental do Projeto Político Pedagógico e Regimento Escolar. No segundo<br />
momento foram feitas observações a respeito da estrutura administrativa e a participação na<br />
escola. Posteriormente foram realizadas entrevistas com alguns funcionários, em busca de coletar<br />
informações de como era exercida a Gestão Democrática naquela unidade escolar. No terceiro<br />
momento foram realizadas observações referentes às funções da escola, a estrutura didática e a<br />
qualidade de ensino. Essa experiência proporcionou uma visão mais aprofundada sobre a<br />
elaboração e a implementação do Projeto Político Pedagógico e um conhecimento a respeito dos<br />
aspectos que compõem o Regimento Escolar. Foi possível obter informações sobre a estrutura, o<br />
funcionamento administrativo e como se organizam os espaços de participação da comunidade<br />
escolar, contribuindo para uma maior compreensão dos princípios da Gestão Democrática,<br />
destacando a participação dos funcionários, dos pais, dos professores e da comunidade, em<br />
espaços instituídos formalmente. Os Conselhos de Classe são um exemplo, pois contam com a<br />
presença de um aluno de cada classe, juntamente com os professores. Na escola há em<br />
funcionamento o Grêmio Estudantil, que é muito atuante.<br />
Palavras-chave: Estágio Supervisionado; Gestão Democrática; Educação Básica<br />
INTRODUÇÃO<br />
O trabalho refere-se à experiência de estágio supervisionado, vinculado à disciplina<br />
Gestão da Educação Básica, no curso de Pedagogia da <strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong>. Foi realizado numa<br />
escola pertencente à rede estadual da cidade de Artur Nogueira – SP. Essa escola abrange o<br />
Ensino Fundamental, o Ensino Médio e a EJA (Educação de Jovens e Adultos), recebendo alunos<br />
do próprio bairro, bairros vizinhos e zona rural. O estágio foi desenvolvido em 51 horas, sendo 25<br />
horas realizadas no Ensino Fundamental e 26 horas no Ensino Médio.<br />
PROBLEMA<br />
Dessa forma, a questão norteadora foi a seguinte: como se organiza a gestão de escola, no<br />
que se refere aos princípios da gestão democrática?
OBJETIVOS<br />
Para respondermos essa questão, os nossos objetivos foram coletar informações sobre o<br />
Projeto Político Pedagógico, o Regimento Escolar, a estrutura administrativa e sobre as formas de<br />
participação na escola, as funções da gestão e a estrutura didática.<br />
MÉTODO<br />
O estágio foi realizado em três momentos, envolvendo, análise documental do Projeto<br />
Político Pedagógico (PPP) e Regimento Escolar, observações da estrutura administrativa e<br />
didática, bem como dos espaços de participação na escola e entrevistas com alguns funcionários.<br />
De acordo com Caulley (1981 apud LÜDKE e ANDRÉ, 2005, p. 38), ―a análise<br />
documental busca identificar informações factuais nos documentos a partir de questões ou<br />
hipóteses de interesse‖.<br />
No que se refere à observação, Lüdke e André (2005, p. 25) destacam que para que<br />
[…] se torne um instrumento válido e fidedigno de investigação científica, a observação<br />
precisa ser antes de tudo controlada e sistemática. Isso implica a existência de um<br />
planejamento cuidadoso do trabalho e uma preparação rigorosa do observador.<br />
Quanto ao uso das entrevistas as autoras apontam que<br />
RESULTADOS OBTIDOS<br />
a grande vantagem da entrevista sobre outras técnicas é que ela permite a captação<br />
imediata e corrente da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de<br />
informante e sobre os mais variados tópicos. Uma entrevista bem-feita pode permitir o<br />
tratamento de assuntos de natureza estritamente pessoal e íntima, assim como temas de<br />
natureza complexa e de escolhas nitidamente individuais. (LÜDKE, ANDRÉ, 2005,<br />
p.34)<br />
No primeiro momento coletamos informações do P.P.P. e do Regimento Escolar, que traz<br />
a concepção que a escola estagiada assume que é a Sociointeracionista. Relata também a meta da<br />
escola que é formar cidadãos conscientes, mas como identificamos nos documentos, a escola<br />
enfrenta um grande problema que é a evasão escolar, principalmente no período noturno, em que<br />
o PPP traz a informação de que os alunos matriculados no Ensino Médio, a maioria são<br />
trabalhadores.<br />
O presente documento revela os números de alunos matriculados na escola e também<br />
descreve a quantidade de funcionários que contém na escola. O mesmo relata a organização<br />
técnico – administrativa.<br />
No que diz respeito ao núcleo de direção, que é o foco nesse estágio, a sua função é a<br />
elaboração e execução da Proposta Pedagógica; a administração do pessoal e dos recursos<br />
materiais e financeiros; o cumprimento dos dias letivos e horas aulas estabelecidas; a legalidade,<br />
a regularidade e a autenticidade da vida escolar dos alunos; os meios para o reforço e recuperação<br />
da aprendizagem dos alunos; a articulação e integração da escola com as famílias e comunidade;<br />
informar aos pais sobre a frequência e o rendimento dos alunos; comunicar ao Conselho Tutelar<br />
os casos de maus tratos dos alunos e casos de evasão escolar.<br />
29
O que o PPP descreve sobre a gestão democrática, nesta unidade escolar, rege-se pela<br />
busca do pluralismo de ideias, pluralismo de concepções pedagógicas e da garantia de adequado<br />
padrão de qualidade do ensino. Há menção sobre uma gestão participativa, destacando que a<br />
Proposta Pedagógica foi elaborada com a participação dos profissionais da escola, dos diferentes<br />
segmentos da comunidade escolar, direção, professores, pais, alunos e funcionários, nos<br />
processos consultivos e decisórios através do Conselho de Escola e Associação de Pais e Mestres<br />
(APM).<br />
Observa-se na escola o funcionamento de organizações específicas que promovem a<br />
participação da comunidade escolar em diferentes âmbitos: a APM, o Grêmio Estudantil,<br />
formado por alunos das séries finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio e os colegiados,<br />
como o conselho de escola, composto por membros que representam, sendo um representante de<br />
cada setor, secretaria, biblioteca, cozinha e limpeza, e os conselhos de classe, que contam com a<br />
presença de um aluno de cada classe, juntamente com os professores. Paro (2007) afirma que,<br />
Uma das formas de aferir as perspectivas democráticas da atual escola pública<br />
fundamental é examinar a situação em que se encontram os mecanismos de ação coletiva<br />
de que ela dispõe, nomeadamente o conselho de escola, a associação de pais e mestres e<br />
o grêmio estudantil. (PARO, 2007, p. 100)<br />
No que diz respeito à Avaliação, a Proposta Pedagógica retrata que a escola tem como<br />
base uma Avaliação Formativa: de ação – reflexão – ação e o Regimento Escolar descreve que a<br />
Avaliação também é constituída pela média de aproveitamento do aluno.<br />
No segundo momento desse trabalho, foram feitas as observações e as entrevistas, para<br />
obtermos informações acerca da estrutura administrativa e a participação na escola.<br />
Foram feitas entrevistas com três funcionários da comunidade escolar: uma servente de<br />
limpeza, a cozinheira e um agente de organização escolar.<br />
Por meio das entrevistas realizadas foi possível perceber que toda a comunidade escolar<br />
tem uma grande preocupação com o processo educativo. Todos se preocupam com a questão que<br />
envolve o ensino e a aprendizagem.<br />
Por isso, todos os membros da unidade escolar, colaboram por meio de suas funções para<br />
a efetivação do processo educativo, contribuindo para que a escola alcance sua meta que é a de<br />
formar cidadãos conscientes.<br />
Juntamente com os dados obtidos nas observações realizadas, foi possível identificar que<br />
a diretora tem uma grande preocupação com a parte pedagógica. Assiste as aulas quando alguma<br />
sala está com um barulho fora do normal, para compreender o que pode estar errado; alerta para o<br />
uso da quadra nas aulas de Educação Física, demonstrando estar muito presente e informada<br />
no/sobre o funcionamento e o andamento da escola.<br />
No terceiro momento, que se refere às funções da escola, a estrutura didática e a qualidade<br />
de ensino. Pudemos analisar que a escola segue uma gestão sócio-crítica, democrático -<br />
participativa.<br />
No que diz respeito à função da escola podemos destacar que uma dessas funções é<br />
alcançar os objetivos e as metas da escola, que fundamentalmente se relacionam à estrutura<br />
didática e à qualidade de ensino. Portanto, na escola em que foi realizado o estágio, observa-se<br />
que a gestão está preocupada em viabilizar condições para que se alcancem os objetivos e metas<br />
previstas.<br />
No que se refere à qualidade de ensino, pode-se destacar de acordo com as informações<br />
obtidas por um professor da disciplina de Matemática, que ministra aulas no Ensino Fundamental<br />
30
e Ensino Médio, que os professores da escola estagiada, estão sempre buscando o<br />
desenvolvimento profissional, através de cursos e de palestras, buscando melhorias para o ensino.<br />
Os projetos que são desenvolvidos na escola estagiada são bons exemplos para a promoção do<br />
desenvolvimento profissional, pois pressupõem a troca de experiências. Esses projetos são<br />
elaborados entre todos os docentes da escola, das diversas áreas do conhecimento e são<br />
desenvolvidos em todos os níveis de ensino e em todas as séries. Tais projetos exploram o pensar,<br />
o aprender e o sucesso. São eles: Bullying; Preservação do patrimônio; Prevenção às drogas;<br />
Africanidades. Através desses projetos podemos analisar que a estrutura didática da escola,<br />
procura desenvolver nos alunos autonomia, participação, vivências cotidianas, o desenvolvimento<br />
cognitivo e social.<br />
Na escola ainda são desenvolvidos outros Projetos considerados como especiais, que são<br />
as atividades de reforço e recuperação da aprendizagem e orientação de estudos, organização de<br />
multimeios, de multimídia, de leitura e laboratórios - o de Informática e de Ciências. Observa-se<br />
que todos esses projetos contribuem para a melhoria da qualidade de ensino.<br />
No que diz respeito à disciplina, a escola oferece aulas de religião, para os alunos do 6º ao<br />
9º ano do Ensino Fundamental, que é opcional e ministrada pelo professor de Filosofia. As aulas<br />
acontecem no contra-turno e buscam trabalhar a reflexão, que traz algum efeito para a formação<br />
do aluno.<br />
Com relação à família, foi possível observar que os pais são ativos na questão que envolve<br />
a aprendizagem, participando das reuniões convocadas pela escola. Demonstram preocupação<br />
com a indisciplina e a qualidade do ensino.<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
O estágio proporcionou uma visão mais aprofundada sobre a elaboração e a<br />
implementação do Projeto Político Pedagógico e um conhecimento a respeito dos aspectos que<br />
compõem o Regimento Escolar. Foi possível obter informações sobre como se organizam os<br />
espaços de participação da comunidade escolar, contribuindo para uma maior compreensão dos<br />
princípios da Gestão Democrática, destacando a participação dos funcionários, dos pais, dos<br />
professores e da comunidade, em espaços instituídos formalmente.<br />
A experiência possibilitou a articulação entre a teoria estudada em sala de aula e a prática<br />
vivenciada no campo, ampliando os conhecimentos, promovendo crescimento no campo<br />
acadêmico e profissional.<br />
REFERÊNCIAS<br />
LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A.. Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas. São Paulo. EPU, 1988.<br />
PARO, Vitor Henrique. Gestão escolar, democracia e qualidade do ensino. São Paulo. Editora Ática, 2007.<br />
A RESSIGNIFICAÇÃO DA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NOS CICLOS E NA PROGRESSÃO<br />
CONTINUADA<br />
31<br />
Autoras¹: Edna Buoro Jorge¹<br />
Orientadora: Profª Dr.ª Jussara C. B. Tortella¹<br />
Linha de pesquisa: Estudo em Avaliação
Resumo<br />
32<br />
Mestrado em Educação<br />
<strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong>/SP<br />
A avaliação, no corpo das políticas educacionais, é um ponto importante a ser observado e ganha<br />
cada vez mais destaque, principalmente como ferramenta de aprimoramento, e se bem aplicada,<br />
representa a possibilidade de atenuar os desencontros avaliativos no ambiente escolar. Assim,<br />
compreendendo o mecanismo da escola e sua dinâmica de transformação constante, coloca-se<br />
como adequado que educadores e outros responsáveis tenham prudência às questões de avaliação,<br />
mudanças e possibilidades de aprimoramento em tempo presente. Em reuniões realizadas na<br />
Secretaria Municipal de Educação de uma cidade do interior do Estado de São Paulo observou-se<br />
como fundamental o entendimento das mudanças ocorridas nas escolas, a partir da implantação<br />
da progressão continuada e do sistema de ciclos e reestruturação dos processos avaliativos.<br />
Parece premente uma análise profunda acerca dos resultados do ato de avaliar e do ato<br />
pedagógico na lógica dos ciclos e a da progressão continuada, que têm como diretriz repensar os<br />
tempos escolares, procurando respeitar o ritmo de cada aluno. Para que o ritmo do aluno seja<br />
respeito é necessário utilizar a avaliação como ferramenta para diagnosticar, replanejar e rever<br />
práticas. Os estudos têm apontado distorções do entendimento de ciclos e progressão continuada<br />
e apontamentos de prós e contras de cada um deles, assinando a problemática da prática<br />
avaliativa. Diante desta realidade, levantamos a seguinte problemática: Como tem se configurado<br />
o processo avaliativo nos ciclos e progressão continuada, em uma Secretaria Municipal de<br />
Educação de uma cidade do interior do Estado de São Paulo, considerando os três âmbitos:<br />
Secretaria de Educação, escola e sala de aula, à luz dos pressupostos da gestão participativa? A<br />
partir desta questão temos outras decorrentes: Quais os documentos municipais oficiais que<br />
regulamentaram a implantação dos ciclos e progressão continuada? Quais são os instrumentos de<br />
avaliação utilizados nas escolas? Para responder às questões traçamos um projeto de pesquisa que<br />
objetiva verificar como se configura o processo avaliativo nos ciclos e progressão continuada, na<br />
Secretaria Municipal de Educação de uma cidade do interior do Estado de São Paulo,<br />
considerando os três âmbitos: Secretaria de Educação, escola e sala de aula, à luz dos<br />
pressupostos da gestão participativa. E como objetivos específicos: a) Analisar um conjunto de<br />
informações disponíveis sobre os ciclos e a progressão continuada nos documentos oficiais do<br />
município pesquisado; b) Analisar as concepções da equipe gestora, dos docentes e alunos sobre<br />
ciclos e progressão continuada; c) Pesquisar, junto aos docentes de escolas, as ações de formação<br />
e aprimoramento docente para os ciclos e progressão continuada no ambiente da aprendizagem;<br />
d) Analisar o conjunto de instrumentos de avaliação utilizados nas escolas da rede, após a<br />
implantação dos ciclos e progressão continuada. Serão participantes da pesquisa<br />
aproximadamente 30 alunos do ciclo I e 30 alunos do ciclo IV do Ensino Fundamental; 36<br />
professores ciclo I e 66 professores do ciclo IV do Ensino Fundamental; 10 coordenadores<br />
pedagógicos das unidades escolares e da Secretaria Municipal de Educação (SME) ; 7 diretores<br />
das unidades escolares; 3 diretores de Projeto Pedagógico da SME; e 2 supervisores da SME.<br />
Espera-se que esta pesquisa venha contribuir para uma reflexão profícua sobre avaliação dentro<br />
dos regimes de ciclos e progressão continuada à luz uma gestão participativa. Os resultados<br />
parciais e finais serão divulgados em congressos, artigos científicos e em cursos de formação<br />
inicial e continuada de professores.<br />
Palavras-chave: Avaliação, Ciclos, Progressão Continuada, Gestão Participativa.
INTRODUÇÃO<br />
A presente pesquisa pretende analisar a avaliação e os atos pedagógicos, buscando<br />
ressignificar a avaliação dentro do contexto das políticas educacionais estaduais e municipais. Em<br />
reuniões realizadas por uma Secretaria de Educação do interior do Estado de São Paulo,<br />
observou-se como fundamental o entendimento das mudanças ocorridas nas escolas, a partir da<br />
implantação da progressão continuada e do sistema de ciclos e reestruturação dos processos<br />
avaliativos. Notou-se, durante as discussões, que a equipe pedagógica e docentes utilizavam os<br />
dois termos progressão continuada e ciclos como sinônimos, fato observado também em<br />
documentos das unidades escolares. Observou-se também a desarticulação dos discursos e<br />
práticas sobre estes termos. Com as transformações que sofre o ambiente educativo, tendo em<br />
vista sua dinâmica, parece premente uma análise profunda acerca dos resultados do ato de avaliar<br />
e do ato pedagógico na lógica dos ciclos e da progressão continuada.<br />
Ressignificar o conceito sobre avaliação no sistema de ensino municipal e no contexto<br />
escolar é ponderar para ir além do que está posto, por meio das políticas implantadas, com o<br />
propósito da melhoria da qualidade do ensino público, atendendo a demanda e suas<br />
especificidades.<br />
A avaliação será vista como ponto essencial do processo ensino aprendizagem,<br />
entrelaçando com as políticas implementadas, bem como suas ações, como, por exemplo, os<br />
ciclos e a progressão continuada e seus reflexos nos dias atuais. A progressão continuada é<br />
considerada questão crítica na educação de São Paulo. Os profissionais da educação discutem<br />
sobre os desencontros que tal regime vem mostrando desde sua implantação até os dias atuais.<br />
(FREITAS, 2003; BERTAGNA, 2003). Nesse contexto, a gestão no setor público é considerada<br />
ponto fundamental para atender com qualidade a população e suas necessidades, e no campo<br />
educativo, ao menos no discurso, é percebido como possibilidade de desenvolver ações que<br />
promovam o conhecimento de forma mais ampla e democrática, bem como a participação<br />
consciente dos envolvidos no contexto educacional, corrigindo eventuais distorções, que seriam<br />
estabelecidas eventualmente nos serviços para educação.<br />
Com a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB 9394/96), permitiu-se a<br />
adoção do regime de progressão continuada no estado de São Paulo, com o objetivo de propor um<br />
regime com práticas mais justas e menos excludentes, frente ao modelo de seriação.<br />
Na tentativa de superar o fracasso escolar, a LDB 9394/96 nos artigos 23 e 32 preconiza o<br />
acesso e permanência na escola, bem como deu ênfase para o aprimoramento de políticas<br />
voltadas para a melhoria da educação, a partir das demandas das diversas realidades do sistema<br />
educacional brasileiro.<br />
Alavarse (2009) defende políticas que visam impedir pedagogias de reprovação, no<br />
entanto, observa que tais políticas necessitam de esforços adicionais:<br />
Diante das nefastas consequências sociais e pedagógicas da reprovação na escolarização<br />
obrigatória, são plenamente defensáveis as políticas públicas que visam impedi-la, como<br />
regra. Disso não decorre a fortiori, apesar das construções discursivas que a<br />
acompanham com muita frequência, que sua eliminação garanta mecanicamente a<br />
escolarização em patamares satisfatórios para os alunos que se livram da reprovação,<br />
sendo necessários esforços adicionais para que os alunos possam ter, na escolarização<br />
sem repetência, um salto de qualidade em suas aprendizagens. (ALAVARSE, 2009,p.40)<br />
33
O salto de qualidade nas aprendizagens parece ser o ponto chave da questão, não basta<br />
aprovar e sim aprender. O papel da gestão, na teoria, neste sentido, seria promover condições<br />
para a implantação e implementação de um novo formato, no caso, a progressão continuada, com<br />
participação dos envolvidos no ambiente educacional, garantindo a efetiva aprendizagem. No<br />
entanto, na prática, mostrou-se incipiente em demasia, principalmente na formação continuada do<br />
professor e no despreparo das famílias e alunos, causando desencontros nocivos para os caminhos<br />
da educação no estado de São Paulo (ALAVARSE, 2009; BERTAGNA, 2003).<br />
Diante da situação apresentada, distorções do entendimento de ciclos e progressão<br />
continuada, apontamentos dos prós e contras de cada um dos regimes e a problemática da prática<br />
avaliativa, levantamos a seguinte problemática: Como tem se configurado o processo avaliativo<br />
nos ciclos e progressão continuada, na Secretaria Municipal de Educação de uma cidade do<br />
interior do Estado de São Paulo, considerando os três âmbitos: Secretaria de Educação, escola e<br />
sala de aula, à luz dos pressupostos da gestão participativa? A partir do questionamento principal<br />
levantamentos outros: Quais os documentos municipais oficiais que regulamentaram a<br />
implantação dos ciclos e progressão continuada? Quais são os instrumentos de avaliação<br />
utilizados nas escolas?<br />
Assim, tem-se como objetivo geral verificar como se configura o processo avaliativo nos<br />
ciclos e progressão continuada, em uma Secretaria Municipal de Educação de uma cidade do<br />
interior do Estado de São Paulo, considerando os três âmbitos: Secretaria de Educação, escola e<br />
sala de aula, à luz dos pressupostos da gestão participativa. E como objetivos específicos:<br />
Analisar um conjunto de informações disponíveis sobre a avaliação nos ciclos e na<br />
progressão continuada nos documentos oficiais do município pesquisado;<br />
Analisar as concepções da equipe gestora, dos docentes e alunos sobre ciclos e progressão<br />
continuada com foco na avaliação;<br />
Pesquisar, junto aos docentes de escolas do município pesquisado, as ações de formação e<br />
aprimoramento docente para avaliação nos ciclos e progressão continuada.<br />
Analisar o conjunto de instrumentos de avaliação utilizados nas escolas da rede do<br />
município pesquisado, após a implantação dos ciclos e progressão continuada.<br />
REFERENCIAL TEÓRICO<br />
Nos anos 90, cerca de 50% das crianças da escola pública repetiam a 1ª série do 1º grau<br />
enquanto a rede privada somava 5% (FRANCO, 1997). Após a implantação dos ciclos e da<br />
progressão continuada o quadro muda, 51% dos estudantes matriculados nas séries iniciais não<br />
sabem ler adequadamente na 4ª série (FREITAS, 2003). Se por um lado as políticas procuraram<br />
garantir a permanência das crianças na escola, e garantiu; por outro, não conseguiu a equidade da<br />
aquisição de saberes. O que se pode levantar de relevante desses dados? Anterior às políticas dos<br />
ciclos e da progressão continuada as crianças eram simplesmente excluídas das escolas. Hoje elas<br />
permanecem nas escolas, porém os pressupostos teórico-metodológicos, dentro das escolas, não<br />
acompanharam as mudanças como deveriam, o ato pedagógico permanece o mesmo. Podemos<br />
observar nas tabelas a seguir, taxas de aprovação do Ensino Fundamental de 2010, no Brasil,<br />
organizadas pelo Instituto Nacional de Estudos Educacionais Anísio Teixeira, que o índice de<br />
reprovação diminuiu, mas a aprendizagem dos alunos obtiveram igual crescimento, se<br />
observarmos os dados do PISA (Programa Internacional de Avaliação) .<br />
O PISA (Programa Internacional de Avaliação) realizado pela Organização para<br />
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) tem como objetivo avaliar estudantes de 15<br />
34
anos nas disciplinas: matemática, ciências e leitura. O Ministro da Educação Fernando Haddad,<br />
em entrevista ao Correio Braziliense em 08 de dezembro de 2010, fez a seguinte análise: cerca de<br />
20 mil alunos em todos os estados participaram dessa avaliação. O Brasil ficou com a média de<br />
401 pontos em 53º posição, porém apresentou uma boa evolução em relação aos outros anos, com<br />
um a diferença de 33 pontos, das três disciplinas avaliadas, a que apresentou maior evolução se<br />
relaciona com leitura (412 pontos), seguida de ciências (405 pontos) e matemática (386 pontos).<br />
Mas qual a razão de centralizar esforços para que as crianças não sejam reprovadas?<br />
Segundo Freitas (2004), o objetivo de se reduzir a reprovação está alicerçada em três<br />
aspectos: social, político e econômico. Quanto ao aspecto social, há a preocupação com os alunos<br />
excluídos tornarem-se suscetíveis à violência e às várias desordens sociais ou envolvimento com<br />
a criminalidade. O aspecto político centra-se no ponto de vista da submissão, o aluno pode não<br />
aprender os conteúdos básicos, mas permanecendo na escola aprenderá a obedecer, e o terceiro<br />
aspecto, o econômico, que aborda a problemática: quanto mais tempo o aluno fica na escola<br />
reprovando, mais gasto para o Estado.<br />
Para que esses três aspectos sejam transformados, os ciclos foram implantados, com o<br />
discurso de repensar os tempos e os espaços da escola e a partir da concepção de um processo de<br />
construção e reconstrução, valorizando o aluno enquanto principal agente do processo ensinoaprendizagem,<br />
aquilatando seus saberes e propondo uma organização da proposta curricular<br />
diversificada a partir de acepções coletivas, uma proposta curricular que se articula aos temas<br />
transversais e às disciplinas obrigatórias (FREITAS, 2004).<br />
Ao repensar tempos e espaços, enfatiza-se a avaliação com o paradigma emancipador,<br />
contemplando tempos diferenciados de aprendizagem e propondo formas de ensinar que<br />
contemple os níveis e ciclos, ou seja, o estudante não retoma do zero na aprendizagem, mas a<br />
partir do estágio em que ele se encontra. (FREITAS, 2004).<br />
No regime seriado, o aluno tinha seu tempo dividido em bimestres e com a avaliação ao<br />
final do ano ele poderia ser aprovado ou reprovado; quando reprovado o aluno iniciava o ano<br />
revendo todos os conteúdos, mesmo os que já havia dominado. Com as propostas dos ciclos há<br />
um prolongamento do tempo, respeitando o ritmo de aprendizagem do aluno. No regime seriado<br />
imperava uma avaliação de caráter classificatória e excludente, com a finalidade de promover ou<br />
reter o aluno; os ciclos propõem uma ruptura na cultura avaliativa tradicional, induzindo uma<br />
reflexão sobre o papel de avaliação no processo de ensino aprendizagem, ressignificando<br />
avaliação nesse novo contexto (ARCAS, 2009).<br />
A implementação de ciclos no estado de São Paulo no ensino fundamental ocorreu em<br />
1992, juntamente com o regime de progressão continuada. A progressão continuada tem como<br />
objetivos respeitar o ritmo de aprendizagem do aluno, bem como implementação e adequação dos<br />
recursos, para a efetivação do bom desempenho dessa aprendizagem. Mas quando submetemos<br />
alunos com diferentes ritmos a um mesmo tempo de aprendizagem, produzimos desempenhos em<br />
níveis diferenciados, ou seja, alunos que dominam mais ou menos do que outros.<br />
Faz-se necessário diversificar os tempos de acordo com o ritmo do aluno para que esse<br />
regime seja eficiente e eficaz. Mas será que esse tempo realmente foi oferecido ao aluno? Os<br />
alunos continuam fazendo provas bimestrais, o ano permaneceu da mesma forma que no sistema<br />
seriado após a adoção desse regime. Pensando dessa forma, a progressão continuada não se opõe<br />
à seriação, limitando-se a aprovação em massa e preservando, desta forma, as características da<br />
seriação. O funcionamento do regime de progressão não deveria prever apenas um tempo maior<br />
ao aluno, mas oferecer igualmente um suporte, uma ajuda pontual para que o aluno apreenda<br />
(BERTAGNA, 2003; FREITAS, 2004).<br />
35
Nessa ocasião, o ensino fundamental, no estado de São Paulo, foi organizado em três<br />
ciclos, e com as alternâncias de governos em 2000 optou-se por dois ciclos apenas, de quatro<br />
anos cada com a possibilidade de retenção ao final de cada ciclo (Conselho Estadual de<br />
Educação. Deliberação CEE nº 9/97 e Indicação nº 22/97).<br />
O ex Secretário de Educação do Estado de São Paulo, o professor Paulo Renato, em<br />
entrevista ao Jornal Correio Popular, no dia 13 de junho de 2010, afirma que ―Nem os<br />
professores, nem o Poder Público entenderam o que é a progressão continuada. Hoje, o que se<br />
pratica é a aprovação automática, que não avalia se o aluno aprendeu ou não.‖ Na situação, o<br />
Secretário comenta sobre as dificuldades da implantação do regime de progressão continuada, no<br />
Estado de São Paulo. Apresenta-se uma realidade intrigante e o quanto pesquisas nesta direção<br />
são importantes.<br />
Gadotti (2010) observa:<br />
Em primeiro lugar, o que ―mata‖ a proposta dos ciclos é a arrogância da sua decretação,<br />
o autoritarismo com que ela é, às vezes, implantada. Trata-se, por isso, de inserir a<br />
discussão na escola, formando professores, pais, alunos e toda a comunidade escolar<br />
para essa reforma estrutural e cultural. A progressão continuada mexe profundamente<br />
com a cultura escolar elitista e sua implantação não será bem-sucedida sem uma<br />
mudança nessa cultura (p.01).<br />
O regime de progressão continuada com ciclos surgiu após debates e considerações de<br />
especialistas sobre democratização do ensino, o papel da escola, mas principalmente sobre o<br />
papel disciplinador que a avaliação e a reprovação sempre tiveram no espaço escolar e da<br />
necessidade de se desenvolver conceitos e práticas mais justas aos novos desafios dentro da<br />
unidade escolar. Autores declaram que a avaliação precisava perder seu caráter classificatório e<br />
excludente e estar inserida num processo mais amplo (GADOTTI, 2010; FREITAS, 2003).<br />
Da forma como foi implantado o regime de progressão continuada e ciclos, causou no<br />
professor e também na escola um esvaziamento de funções, dada a forma como foi tratado o<br />
assunto na época. A não reprovação faz com que os docentes sintam que perderam a autoridade, e<br />
nesse sentido, só fez reforçar indefinições de papéis, esvaziamento de respeito e de autoridade<br />
(LUCKESI, 2011). Houve resistência, discordância, críticas. Perdeu-se muito tempo com<br />
movimentos que poderiam ser usados para o crescimento, para o desenvolvimento de ações de<br />
esclarecimento da política adotada e suas justificativas e contribuições. Não ocorreu um trabalho<br />
de gestão profícua que desenvolvesse, de forma democrática, as diretrizes que se colocavam.<br />
Os exemplos de desencontros, a partir da implantação da progressão continuada foram<br />
muitos e permanecem ainda. A proposta conforme pede a lei não aconteceu plenamente, com as<br />
recuperações, avaliações e todo formato para garantia de uma aprendizagem menos excludente e<br />
mais democrática. Sobrou, grosso modo, um formato híbrido de seriação e progressão com ciclos.<br />
Surgiu, então, a celeuma da promoção automática e pior, a insistência em encontrar culpados para<br />
a incompetência de muitos responsáveis, da insatisfação e desautorização do professorado, do<br />
desrespeito dos alunos e da incompreensão dos demais agentes sociais.<br />
Fundamental que a escola reflita o seu papel e se organize, a partir de políticas públicas<br />
mais adequadas, justas e democráticas. Alavarse pondera:<br />
(...)mas pode ser organizada com base em políticas públicas; primeiro, para atenuar em<br />
seu interior os mecanismos que, pior do que obstaculizar um pretenso ascenso social<br />
produza a desmoralização pela crença, imputada explicitamente de incapacidade; depois,<br />
pode estabelecer um compromisso pelo ensino e pela aprendizagem que resulte no<br />
36
chamamento aos professores não como culpados potenciais, mas como profissionais que<br />
devem responder pelas aprendizagens de seus alunos; e responder significa estabelecer<br />
uma interlocução com os dirigentes, interlocução que pressupõe a possibilidade de<br />
divergência e levantamento das causas dos eventuais resultados discrepantes e das<br />
condições a serem satisfeitas (ALAVARSE, 2009, p.42).<br />
O salto de qualidade nas aprendizagens parece ser o ponto chave da questão, não basta<br />
aprovar e sim aprender. O papel da gestão, na teoria, neste sentido, seria promover condições<br />
para a implantação e implementação de um novo formato, no caso, a progressão continuada, com<br />
participação dos envolvidos no ambiente educacional, garantindo a efetiva aprendizagem. No<br />
entanto, na prática, mostrou-se incipiente em demasia, principalmente na formação continuada do<br />
professor e no despreparo das famílias e alunos, causando desencontros nocivos para os caminhos<br />
da educação no estado de São Paulo.<br />
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS<br />
Trata-se de uma pesquisa qualitativa que utilizará como instrumentos a análise<br />
documental, questionários e entrevistas. Como já foi dito tem-se como objetivo geral verificar se<br />
configura o processo avaliativo nos ciclos e progressão continuada, na rede Municipal de um<br />
município do interior do Estado de São Paulo, considerando os três âmbitos: Secretaria de<br />
Educação, escola e sala de aula, à luz dos pressupostos da gestão participativa.<br />
A pesquisa utilizará como instrumentos a análise documental, questionários e entrevistas<br />
para atingir os objetivos propostos.<br />
A pesquisa será realizada na Secretaria de Educação de uma cidade do interior do Estado<br />
de São Paulo. Serão participantes da pesquisa aproximadamente 30 alunos do ciclo I e 32 alunos<br />
do ciclo IV do Ensino Fundamental; 36 professores ciclo I e 66 professores do ciclo IV do Ensino<br />
Fundamental; 10 coordenadores pedagógicos das unidades escolares e da Secretaria Municipal de<br />
Educação (SME); 7 diretores das unidades escolares; 3 diretores de Projeto Pedagógico da<br />
SME; e 2 supervisores da SME.<br />
A amostra se dará por conveniência. Os alunos serão selecionados representam uma<br />
amostra de cada unidade escolar sendo: seis alunos de cada unidade do Ensino Fundamental I<br />
(cinco escolas) totalizando 30 alunos; oito alunos de cada unidade do Ensino Fundamental II<br />
(quatro escolas) totalizando 32 alunos. O número de alunos representa cerca de 5% dos alunos<br />
matriculados na rede, nos ciclos I e IV. Com critério de participação estabeleceu-se os alunos que<br />
apresentam domínio da leitura e da escrita e com devida autorização dos responsáveis. Os demais<br />
sujeitos representam o número total de professores, coordenadores e diretores que atuam neste<br />
segmento. Dos questionários respondidos pelos participantes serão selecionados um terço para a<br />
entrevista semi estruturada.<br />
Instrumentos<br />
Os instrumentos a serem utilizados podem ser assim descritos:<br />
Questionário: Equipe gestora, alunos e professores responderão a um questionário que traz<br />
questões sobre a avaliação nos ciclos e progressão continuada com o objetivo de levantar<br />
diferentes concepções sobre a temática.<br />
Entrevistas: Após análise dos questionários serão selecionados um terço dos participantes, os<br />
selecionados responderão a uma entrevista semi-estruturada: alunos, os diretores, professores e<br />
equipe da SME, para ampliar a compreensão do tema estudado.<br />
37
Análise documental: Será realizada a partir do levantamento de registros da implementação dos<br />
ciclos e progressão continuada, bem como as orientações para a estruturação da avaliação e<br />
instrumentos utilizados, disponibilizadas pela SME e unidades escolares.<br />
Análise de dados<br />
Com os questionários, pretende-se realizar um levantamento do perfil de alunos,<br />
professores e gestores, objetivando identificar as implicações dos regimes de ciclos e progressão<br />
continuada nos atos avaliativos.<br />
Ressalta-se que a pesquisa está em andamento e que os dados serão avaliados a partir da<br />
Análise dos Conteúdos e das ponderações que cada profissional fizer acerca do assunto abordado.<br />
Moraes (1999) observa que a Análise de Conteúdo é uma metodologia que atua para<br />
delinear e interpretar o conteúdo de todo conjunto de documentos e outros textos. Esta<br />
metodologia colabora para uma compreensão e reinterpretação das mensagens e seus significados<br />
para além da leitura comum.<br />
Análise de Conteúdo é uma forma de se organizar nas várias possibilidades textuais<br />
através de técnicas e procedimentos organizados. Bardin (1977) destaca:<br />
A análise de Conteúdo se define como um conjunto de técnica de análise das<br />
comunicações que aposta no rigor do método como forma de não se perder na<br />
heterogeneidade de seu objeto, visa obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivo de<br />
descrição do conteúdo das mensagens, indicadores e conhecimentos relativos às<br />
condições de variáveis inferidas na mensagem (p.31).<br />
Analisar é ter a possibilidade de técnicas objetivas e precisas que garantam o verdadeiro<br />
significado, é uma prática que tem a intenção de verificar o que está por trás do que foi dito.<br />
Bardin (1977) organiza 3 fases de análise de conteúdo:<br />
Considera-se a escola como um espaço microssocial, de constantes mudanças caracterizase<br />
como um comportamento observável e registrável, uma reconstrução do dado em um contexto<br />
de regras, valores, associações e reações. O indivíduo não é um mero portador de ideologias e<br />
crenças coletivas, mas pensadores ativos essenciais à interação social.<br />
Considerando as implicações metodológicas, os dados serão tabulados e registrados<br />
colocando apenas as iniciais dos participantes. Serão analisadas as questões que apresentarem<br />
convergências e divergências no discurso dos diferentes atores e documentos analisados,<br />
realizando uma triangulação dos dados.<br />
Para contemplar esses aspectos, faz-se necessário uma investigação qualitativa, a fim de<br />
buscar dados que possam contribuir para uma reflexão profícua sobre avaliação dentro dos<br />
regimes de ciclos e progressão continuada à luz da gestão participativa.<br />
Espera-se que esta pesquisa venha contribuir para uma reflexão profícua sobre avaliação<br />
dentro dos regimes de ciclos e progressão continuada à luz uma gestão participativa. Os<br />
resultados parciais e finais serão divulgados em congressos, artigos científicos e em cursos de<br />
formação inicial e continuada de professores.<br />
REFERÊNCIAS<br />
ALAVARSE, Ocimar M. A organização do ensino fundamental em ciclos: algumas questões.<br />
Revista Brasileira de Educação. <strong>Campinas</strong>/SP: Autores Associados. v.14, nº 40, p. 143-155,<br />
jan/abr 2009.<br />
38
ARCAS, Paulo Henrique. Implicações da Progressão Continuada e do SARESP na Avaliação<br />
Escolar: Tensões, dilemas e tendências. Tese (doutorado) – Universidade de São Paulo,<br />
Faculdade de Educação, São Paulo, 2009.<br />
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa, Portugal: Edição 70, 1977.<br />
BERTAGNA, R. H. Progressão Continuada: Limites e Possibilidades. Tese (doutorado)<br />
Universidade Estadual de <strong>Campinas</strong>, Faculdade de Educação, <strong>Campinas</strong>, São Paulo, 2003.<br />
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as<br />
diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: .<br />
Acesso em: 31 mar. 2011.<br />
FRANCO, M. L. P. B. Pressupostos epistemológicos da Avaliação educacional. <strong>Campinas</strong>, SP:<br />
Papirus, 1997.<br />
FREITAS, L.C. de. Ciclos, seriação e Avaliação: Confronto de lógicas. São Paulo: Moderna,<br />
2003.<br />
FREITAS, L.C. de. Ciclos ou séries? O que muda quando se altera a forma de organizar os<br />
tempos-espaços da escola. Trabalho produzido para GT 13 Educação Fundamental. 27ª. Reunião<br />
Anual da ANPED, Caxambu (MG) novembro de 2004.<br />
GADOTTI, Moacir. Por que progressão continuada? Portal UNIMEP. Disponível em:<br />
Disponível em:
Resumo<br />
40<br />
Pôster<br />
boro@boro.com.br<br />
atortella@uol.com.br<br />
Muito se discute sobre os propósitos do Ensino Superior e sobre a eficiência dos métodos de<br />
ensino e aprendizagem dentro da universidade, exigindo uma formação que alie teoria à prática e<br />
que promova ao aluno uma autonomia intelectual.A informação passou a ser disseminada de<br />
forma indiscriminada e o sistema universitário passa então por uma transformação, cuja<br />
adaptação se faz necessária em detrimento das constantes exigências da sociedade, da cultura e da<br />
ciência. O método ProblemBased-Learning (PBL) tem como propósito tornar o discente capaz de<br />
construir o aprendizado conceitual, procedimental e atitudinal através de problemas propostos<br />
que o expõe a situações motivadoras e o prepare para o mercado com simulações próximas à<br />
realidade que enfrentará.O referido método aplicado na disciplina de finanças no curso de<br />
Administração de Empresas de uma universidade particular nos motivou a realizar a pesquisa a<br />
partir de duas questões norteadoras: 1) Pode-se afirmar que está de acordo com os pressupostos<br />
teóricos do referido método?; 2) Quais os desafios para o aprimoramento do PBL na disciplina de<br />
finanças?O presente trabalho tem por objetivo geral avaliar a aplicação do método PBL na<br />
disciplina de finanças do curso de Administração de Empresas e por objetivos específicos: a)<br />
Avaliar a coerência entre os pressupostos teóricos e a aplicação do método PBL na disciplina de<br />
finanças; b) Analisar os materiais atualmente empregados para o desenvolvimento do método,<br />
com a finalidade de verificar sua eficiência no que tange ao cumprimento dos objetivos traçados<br />
pelo método PBL; c) Identificar possíveis mudanças visando o aprimoramento da aplicação do<br />
método a partir das concepções de docentes e discentes.Para este propósito, far-se-á uma análise<br />
documental sobre o material utilizado, entrevistas com os docentes de finanças e com os exdiretores,<br />
questionário com discentes que já cursaram a disciplina de finanças e observação.As<br />
pesquisas apontam que o uso do método na disciplina de finanças é muito recente e para tanto,<br />
carece de uma avaliação de seu emprego.É esperado que a avaliação do método possa servir<br />
como fonte de informação e de aprimoramento do uso do método PBL.<br />
Palavras-chave: Avaliação; Ensino Superior; PBL<br />
A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO CONTEXTO DA REFORMA EDUCATIVA EM ANGOLA<br />
Resumo<br />
Francisco Caloia Hombo Alfredo<br />
Mestrando do PPGE– <strong>PUC</strong> <strong>Campinas</strong><br />
franciscocaloia10@gmail.com<br />
Jussara Cristina Barboza Tortella<br />
Doutora pela UNICAMP. Docente do PPGE/<strong>PUC</strong>C<br />
Agência financiadora: CAPES<br />
Eixo temático: Gestão e Avaliação<br />
Categoria: Pôster
O sistema educativo angolano passa por uma segunda reforma desde 2004. A reestruturação do<br />
sistema de formação de professores também vivencia esta mudança tanto do ponto de vista<br />
curricular quanto do ponto de vista da avaliação da aprendizagem. Como nova política de<br />
avaliação da aprendizagem parece haver mais conscientização sobre as características e<br />
procedimentos que ela encerra dentro de uma organização constituída. A intenção da procura da<br />
qualidade de ensino e da aprendizagem faz da avaliação um meio de refinamento e<br />
enquadramento de tais intenções. O foco deste estudo é a Escola de Formação de Professores de<br />
nível médio (EFP) a partir da qual pretende-se compreender a configuração das políticas de<br />
avaliação da aprendizagem proposta para a formação de professor do fundamental um em<br />
Angola. Neste país a formação de professores se dá tanto em nível superior quanto em nível<br />
médio, sendo que, a presente pesquisa recai neste último. De maneira específica, pretende-se<br />
estudar a legislação sobre a avaliação da aprendizagem, compreender a operacionalização da<br />
avaliação formativa na sala de aula e identificar concepções dos professores e alunos da EFP a<br />
respeito das políticas de avaliação e da avaliação formativa. O referencial teórico estará<br />
fundamentado em literatura cujo paradigma da avaliação formativa é colocado em relevo como<br />
âmbito da modalidade da avaliação da aprendizagem evidenciando o feedback como necessidade<br />
que aproxima as partes constituintes do processo avaliativo e da aprendizagem com<br />
responsabilidades interpessoais. Contará com professores e respectivos alunos considerando as<br />
quatro séries de formação numa amostra probabilística. Os dados coletadas através da aplicação<br />
de questionários, estudo de documentos e das observações sistemáticas serão cruzadas na<br />
tentativa de uma elaboração de análise global do fenómeno em questão. Espera-se que os<br />
resultados da pesquisa, que se encontra em fase de andamento, sejam divulgados junto de escolas<br />
de formação de professores em Angola e não só que trabalham com a formação inicial e<br />
continuada, em veículos de difusão científica, que contribua na analise da organização da<br />
avaliação da aprendizagem de outros níveis numa altura em que se abeira a avaliação global da<br />
reforma educacional do país.<br />
Palavras-chave: politicas de avaliação da aprendizagem, avaliação formativa, formação de<br />
professor.<br />
INTRODUÇÃO<br />
O sistema educacional angolano está a vivenciar uma segunda reforma em todos os<br />
níveis. A formação de professor, em particular, também está imbuída nesta nova página. Reparase<br />
que na primeira reforma educacional (1978) o ingresso à formação docente de nível médio<br />
exigia a frequência de duas séries precedentes a esta formação, correspondendo o fundamental<br />
dois. Na reforma atual de 2004, exige-se três séries também correspondente o fundamental dois.<br />
A pesquisa centra-se no estuda da avaliação da aprendizagem na Escola de Formação de<br />
Professores (EFP) de nível. Para o entendimento da avaliação no cotidiano pedagógico da sala de<br />
aula uma base teórica ilumina a percepção do estudo na perspectiva da visibilidade sobre o<br />
desempenho do aluno nas diversas áreas do conhecimento, das atividades avaliativas do<br />
professor, do processo de aprendizagem, dos resultados obtidos pelos alunos e a importância que<br />
o professor atribui à interação com o aluno no decurso da prática pedagógica (BARRETO e<br />
PINTO, 2001).<br />
41
Este olhar coloca a avaliação não simplesmente permeável às discussões, os contextos,<br />
procedimentos ou estruturas das atividades já realizadas, mas que ela deve ser posicionada na<br />
dinâmica de comunicação permanente entre os interlocutores do processo pedagógico<br />
(SOBRINHO, 2008; BARRETO e PINTO, 2001). E quando a questão tem a ver com a formação<br />
de professores Sordi e Ludk (2009) afirmam ser importante que a aprendizagem da avaliação seja<br />
uma necessidade estratégica, onde a autoavaliação e a avaliação devem ser exercícios<br />
permanentes dos pares.<br />
Para Luckesi (2009) a definição clara do padrão de qualidade de conduta que se espera da<br />
aprendizagem do aluno é importante na medida em que todas as ações desenvolvidas ou a<br />
desenvolver convirjam ao ideal estabelecido. Assim, a avaliação vista como parceira da<br />
aprendizagem e não conjunto de instrumentos de medição de conhecimentos do aluno para<br />
classifica-lo, ela se torna num meio de preocupação permanente do professor no sentido de ajudar<br />
o aluno a aprender bem e a desenvolver competências e habilidades requeridas.<br />
Dar significado a avaliação é permitir ao professor a atenção voltada para a progressão da<br />
aprendizagem do aluno. o que demanda pensar em ambiente favorável ao aluno de sorte a se dar<br />
conta do seu nível de aprendizagem no circuito das atividades escolares que o colocam ciente das<br />
suas necessidades e limitações.<br />
O desafio estabelecido pelas práticas avaliativas, eleva a necessidade de competência do<br />
professor enquanto profissional da educação de sorte a lidar com a complexidade de variáveis à<br />
sua prática, pois, o professor tem o dever, juntamente com os seus pares fazer da escola o lugar<br />
democrático tornando a avaliação em modalidade cada vez mais formativa (SIROTNICK s/d<br />
apud SORDI; LUDKE, 2009).<br />
Levar o aluno aprender de forma autônoma e eficaz pressupõe considerar a sua prática<br />
social às teorias que lhe são apresentadas. Allal (1986 apud DEPRESBITERIS, 1991) aponta<br />
para uma avaliação formativa alicerçada na concepção de uma estratégia consubstanciada na<br />
função de orientação definindo assim, um quadro teórico que considere os aspectos cognitivo,<br />
afetivo e social da aprendizagem e das interações no sistema educativo.<br />
2. PROBLEMA E OBJETIVOS<br />
Partindo de indagações como elevado número de aluno por turma, insuficiências de<br />
condições de trabalho (biblioteca, laboratórios, salas desequipadas) parecem óbvias na<br />
formulação da questão: Como é operacionalizada a avaliação formativa no cotidiano da EFP<br />
tendo como referência as políticas de avaliação da aprendizagem implementadas para a formação<br />
de professores pelo Ministério da Educação de Angola?<br />
Com esta questão objetiva-se compreender a configuração das politicas de avaliação da<br />
aprendizagem proposta para o 1º ciclo do ensino secundário em Angola, a partir de um estudo de<br />
caso – a Escola de Formação de Professores do Lubango.<br />
De maneira específica, a investigação pretende:<br />
1. Estudar a legislação sobre a avaliação da aprendizagem para a formação de<br />
professores do 1º ciclo do ensino secundário emanada pelo Ministério da Educação de<br />
Angola.<br />
2. Compreender a forma como é realizada a avaliação formativa no cotidiano escolar,<br />
identificando procedimentos avaliativos, instrumentos adotados e critérios de<br />
aprovação ou reprovação dos alunos.<br />
42
3. Identificar as concepções dos professores e alunos da Escola de Formação de<br />
Professores do Lubango sobre o sistema de avaliação das aprendizagens e curso e da<br />
avaliação formativa.<br />
3. METODOLOGIA<br />
A pesquisa parte de um estudo de caso. Este tipo de estudo é definido como ―um estudo em<br />
profundidade de um fenômeno educacional, com ênfase na sua singularidade e levando em conta<br />
os princípios e métodos da etnografia‖ (ANDRÉ, 2005, p. 19).<br />
3.1 Participantes<br />
Alunos das quatro séries da Escola a realizar a pesquisa (10ª,11ª,12ª e 13ª séries) e os<br />
respectivos professores. A amostra é probabilística.<br />
3.2 Instrumentos<br />
Utilizaremos os três métodos de coleta de dados nos estudos de caso apontados por André<br />
(2005, p. 51) ―fazer perguntas […], observar eventos (e prestar atenção no que acontece) e ler<br />
documentos‖, pois eles permitem identificar o problema considerando a averiguação das<br />
concepções dos professores e alunos. Os instrumentos a serem utilizados podem ser assim<br />
descritos:<br />
I. Questionário: Far-se-á o levantamento das representações dos atores (professores e<br />
alunos);<br />
II. Ficha de análise: A leitura do documento orientador sobre a avaliação da aprendizagem<br />
será realizada a partir de uma ficha previamente construída que contém as indicações<br />
teóricas sobre a avaliação formativa.<br />
III. Roteiro de observação: A partir do roteiro serão observadas algumas aulas na<br />
consolidação das representações da avaliação formativa.<br />
3.3 Análise de dados<br />
A pesquisa é descritiva, pois, ― a descrição do objeto por meio da observação e do<br />
levantamento de dados ou ainda pela pesquisa bibliográfica e documental‖ (BARROS;<br />
LEHFELD, 1990, p.34) possibilitará responder a questão investigativa.<br />
A observação surge da necessidade de se adquirir maior precisão e clareza do sentido<br />
sobre o fenômeno em estudo. Outrossim, colmatar lacunas que os questionados venham,<br />
eventualmente, apresentar. A observação oferece a ―possibilidade de se obter informações na<br />
ocorrência espontânea do fato‖ (idem, p.77). O questionário além de abranger o grupo alvo em<br />
pouco de tempo oferece maior liberdade ao respondente. Permite efetuar um número elevado de<br />
questões aos destinatários expressando suas opiniões, crenças, situações vivenciadas e<br />
sentimentos (GIL 1996). A abordagem é quanti-qualitativa.<br />
Os dados serão agrupados em tabelas possibilitando o emprego da estatística e<br />
representação gráfica. O exame documental poderá identificar o tipo de relação do processo<br />
avaliativo e a prática pedagógica.<br />
O estudo encontra-se em fase de desenvolvimento, no presente momento estamos<br />
realizando um levantamento bibliográfico e a análise documental.<br />
RESULTADOS ESPERADOS<br />
Ao final da pesquisa espera-se ampliar-se a compreensão da avaliação da aprendizagem<br />
com realce a formativa de sorte a descortinar apegos à práticas de avaliação conservadora. As<br />
43
eflexões e discussões permanentes sobre a atuação dos atores podem viabilizar um clima<br />
democrático e, ocasionar novas perspectivas de lidar com a avaliação.<br />
Entendemos que as diferentes realidades de ensino e aprendizagem venham oportunizar<br />
ao professor a escolha criativa de instrumentos valorativos à critérios estabelecidos para avaliar<br />
bem o aluno.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
ANDRÉ, Marli Afonso de. Estudo de caso em pesquisa e avaliação educacional. Brasília:<br />
Liberlivros, 2005.<br />
BARRETO, Elba de Sá., PINTO, Rergina Pahim (coords). Avaliação na Educação Básica (1990<br />
- 1998), Brasília, MEC/Inep/COmped, 2001. 219p. (Série Estado do Conhecimento, nº4).<br />
BARROS, Aidil de Jesus P. de.; LEHFELD, Neid Aparececida de S. Projeto de Pesquisa:<br />
propostas metodológicas. 17ªed. Petrópoles, RJ: Vozes, 1990.<br />
DESPRESBITERIS, Lea. Avaliação da Aprendizagem – Revendo conceitos e posições. In.<br />
SOUSA, Clarilza (org). Avaliação do rendimento escolar. 6ªed. <strong>Campinas</strong>-SP: Papirus, 1991.<br />
GIL, António Carlos. Como elaborar Projetos de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 1996.<br />
LUCKESI, Cipriano Carlos. A avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 20ª<br />
ed. São Paulo: Cortez, 2009.<br />
MARTINEZ, Carmen Lídia P., CARVALHO, Lizete Maria de. Avaliação Formativa: autoavaliação<br />
do aluno e auto formação de professores. Revista Ciencia & Educação, 2005, v.11, n.1,<br />
p.133-144.<br />
SOBRINHO, José Dias. Avaliação Educativa: produção de sentidos com valores de formação.<br />
Avaliação (<strong>Campinas</strong>) mar 2008, v 13 n.1 pp. 193-207.<br />
SORDI, Mara Lemes de; LUDKE, Menga. Da avaliação da Aprendizagem à Avaliação<br />
Institucional: aprendizagens necessárias. Avaliação (<strong>Campinas</strong>) [on-line]. 2009, v 14. n.2. pp<br />
313-336.<br />
GESTÃO PARTICIPATIVA E DEMOCRÁTICA: UMA REVISÃO DAS PESQUISAS EDUCACIONAIS DE<br />
1998 A 2010<br />
44<br />
Autor: Lauro Vinicius Lima Chirotto<br />
Orientadora: Profª Dr.ª Jussara C. B. Tortella<br />
Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong><br />
Eixo temático: Gestão e Avaliação<br />
Grupo de Pesquisa: Qualidade de Ensino<br />
Apresentação de pôster<br />
lauro.chirotto@gmail.com
Resumo<br />
A estrutura da educação brasileira vem sofrendo diversas modificações, influenciadas por<br />
questões políticas, sociais e econômicas, despertando o interesse por novas ideias e modelos de<br />
gestão, como por exemplo, a participativa e democrática. As mudanças legislativas, contidas<br />
tanto na Constituição Federal em 1988 como na LDB de 1996 e mais o crescimento econômico<br />
da última década trazem novos paradigmas, consequentemente, novas propostas para a gestão da<br />
escola. O desenvolvimento deste estudo baseia-se em considerações da Sociologia da<br />
Reprodução, em particular a de Bourdieu e nas ideias de gestão participativa contidas na obra de<br />
Paulo Freire e outros pesquisadores contemporâneos que abordam o tema. A partir da análise do<br />
trabalho desenvolvido pela Anpae denominado ―Políticas e Gestão da Educação no Brasil no<br />
período de 1991 a 1997‖ encontramos categorias e dados interessantes sobre as relações e<br />
perspectivas entre os fatores internos e externos que permeiam as políticas e gestão da educação,<br />
e nos interessamos pela categoria denominada: Democratização da Gestão e Autonomia. Os<br />
dados evidenciados nesse documento conduzem a novas questões, que se traduz na problemática<br />
de nossa pesquisa: Como tem se configurado o tema ―gestão democrática e participativa‖ em<br />
teses e dissertações nacionais de educação entre 1998 e 2010? Quais políticas públicas<br />
favoreceram ou não a implementação da gestão democrática e participativa no contexto<br />
educacional? O objetivo investigativo da presente pesquisa será analisar e interpretar como tem<br />
se configurado o tema ―gestão democrática e participativa‖ em teses e dissertações nacionais de<br />
educação entre 1998 e 2010. A partir da perspectiva dos trabalhos ―estado do conhecimento‖,<br />
realizaremos um levantamento bibliográfico, analítico e crítico em teses e dissertações entre 1998<br />
e 2010, considerando os resumos. O banco de dados utilizado para a seleção das pesquisas será o<br />
da Capes, com a palavra chave: gestão da escola. Os critérios de análise estarão pautados no<br />
trabalho realizado pela Anpae citado anteriormente. Partindo do pressuposto que a gestão<br />
educacional brasileira está em um avançado momento de transformações estruturais, esta<br />
pesquisa pretende contribuir com a investigação de como estão se consolidando as novas gestões,<br />
em particular a gestão participativa e democrática.<br />
Palavras-chave: gestão escolar; gestão democrática; gestão participativa.<br />
INTRODUÇÃO<br />
A Gestão participativa e democrática vem ganhando destaque nas pesquisas científicas<br />
brasileiras nos últimos anos. A estrutura da educação brasileira vem sofrendo modificações,<br />
influenciadas por questões políticas, sociais e econômicas, despertando o interesse por novas<br />
ideias e modelos de gestão. As mudanças legais e de ideais educacionais, contidos tanto na<br />
Constituição Federal em 1988 como na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional , e mais<br />
o crescimento econômico da última década trazem novos paradigmas, consequentemente, novas<br />
propostas para a gestão da escola. A complexidade para a implantação desse tipo de gestão é algo<br />
conturbado no cotidiano das escolas brasileiras, é um processo que necessita de colaboração e<br />
compromisso de todos os envolvidos a fim de se obter um êxito.<br />
Segundo Luck (2006) para que se possa ter uma gestão democrática é preciso que haja a<br />
emancipação de uma autonomia escolar, para que as decisões da escola passem a ser<br />
compartilhadas com os sujeitos da escola. E para contornar esta complexidade é preciso<br />
45
comprometimento, competência, liderança, mobilização coletiva, transparência, visão estratégica,<br />
visão proativa, iniciativa e criatividade de todos os envolvidos na gestão da escola. Como<br />
mencionado anteriormente, a gestão da escola está a se tornar um tema de expressão no meio<br />
educacional brasileiro e assunto de preocupação por parte dos dirigentes e governantes do sistema<br />
educacional. As pesquisas científicas brasileiras direcionadas a este tema estão dando uma<br />
atenção particular à gestão da escola. Esta atenção é seguida por mudanças que a gestão da escola<br />
vem sofrendo como consequência das mudanças do país. Os fatos e acontecimentos<br />
sociais/políticos/culturais são repercutidos no cotidiano de uma escola e consequentemente na sua<br />
gestão.<br />
A presente pesquisa, em andamento, tem objetivo principal realizar um levantamento<br />
bibliográfico para investigar como está se configurando o tema ―gestão democrática e<br />
participativa‖ em teses e dissertações brasileiras, a partir da perspectiva dos trabalhos ―estado do<br />
conhecimento‖. Seria inviável realizar um trabalho com este objetivo, sem antes mapear,<br />
particularizar e explicar o que é gestão da escola e como ela está configurada na literatura<br />
brasileira. O desenvolvimento desta pesquisa deverá basear-se na articulação de estudos da área<br />
da Educação, Sociologia, Psicologia da Educação, trazendo contribuições de autores como:<br />
Bourdieu (1998); Freire (1996); Nóvoa (1999); Mello (1991); Paro (2002); Wittmann (2001);<br />
Luck (2006); Puig (2000); Valerien (2000); Vianna (2003) dentre outros.<br />
PERCURSO METODOLÓGICO<br />
A base dados escolhidos para o levantamento das teses e dissertações foi o banco de<br />
dados da CAPES. A palavras-chave utilizada foram: gestão da escola. A opção metodológica<br />
escolhida para a pesquisa está diretamente relacionada com o objeto de estudo selecionado.<br />
Trata-se de um estudo denominado estado do conhecimento com tratamento qualitativo e<br />
quantitativo a fim de mapear e expor de maneira clara e explicativa as informações coletadas. No<br />
campo da pesquisa qualitativa, oferece-se uma riqueza de características, auxiliando na<br />
compreensão do estudo em questão. Já a abordagem de cunho quantitativo é caracterizada pelo<br />
uso da quantificação, tanto relacionado à coleta de informações, como também no tratamento<br />
destas utilizando ferramentas estatísticas. Esta opção se deu ao fato da utilização de um trabalho<br />
já publicado como base para este estudo, no qual a abordagem investigativa foi quanti-qualitativa,<br />
A seleção dos trabalhos considerados relevantes para a pesquisa está sendo realizado da<br />
seguinte maneira: um recorte do resumo e de informações referente ao autor e à instituição,<br />
cadastramento em uma planilha eletrônica, facilitando assim a análise e a seleção dos trabalhos<br />
relevantes para o seguimento da pesquisa. Referente à leitura dos resumos, temos evidenciado<br />
que alguns resumos não trazem as informações necessárias, tendo a necessidade de se considerar<br />
a publicação na íntegra. Paralelamente ao levantamento de dados, está em andamento um<br />
levantamento bibliográfico referente à literatura da gestão escolar, democrática e participativa,<br />
autonomia da escola, psicologia moral, enfim fontes que deem um embasamento teórico<br />
suficiente para a realização do capítulo I da pesquisa<br />
RESULTADOS ESPERADOS<br />
Partindo do pressuposto que a gestão educacional brasileira está em um avançado<br />
momento de transformações estruturais, esta pesquisa pretende contribuir com a investigação de<br />
como estão se consolidando as novas gestões, em particular a gestão participativa e democrática.<br />
46
Algo que torna a pesquisa instigante é a contribuição que ela pode instituir para a implantação<br />
desse tipo de gestão em escolas brasileiras.<br />
REFERÊNCIAS<br />
ANPAE. Políticas e Gestão da Educação no Brasil (1991 a 1997). (Série Estado do Conhecimento, v. 5).<br />
Brasília: MEC/INEP/Comped, 2001.<br />
BRASIL. Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional: Lei 9394/96. Brasília 20 de<br />
Dezembro de 1996. Diponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L9394.htm<br />
BRASIL Constituição Federal - Carta de 1988. 1988. Disponível em:<br />
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituição/constiuição.htm<br />
BOURDIEU, P. Os Ritos de Instituição. In:______. A economia das trocas linguísticas: o que<br />
falar quer dizer. 2 ed. São Paulo: EDUSP, 1998. pp. 97-106.<br />
DE BLASI, Jacqueline; FALÇÃO, Sandra. Gestão Participativa na Escola. Sinergia: Revista do<br />
Centro Federal de Educação Tecnológica. São Paulo, v. 9, n. 1, Jan/Jun. 2008.<br />
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 35 ed. São<br />
Paulo: Paz e Terra, 1996.<br />
LIBÂNEO J.C., at al. Educação escolar: políticas, estruturas e organização. São Paulo: Cortez,<br />
2007.<br />
LUCK, Heloísa. Concepções e Processos Democráticos de Gestão Educacional. Petrópolis,<br />
RJ: Vozes, 2006.<br />
MELLO, Guiomar Namo de; SILVA, Rose N. da. A gestão e a autonomia da escola nas novas<br />
propostas de políticas educativas para a América Latina. Estudos Avançados, vol. 5, n. 12,<br />
maio/agosto 1991.<br />
NÓVOA, A. Para uma análise das instituições escolares. In: NÓVOA, A. (org.). As<br />
organizações escolares em análise. Lisboa: Dom Quixote, 1999.<br />
PARO, V. H. Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Ática, 2002.<br />
VIEIRA, Sofia Lerche; CORRÊA, Juliane. Não basta autonomia delegada: é preciso construí-la<br />
no cotidiano escolar. In: Sofia Lerche Vieira (org). Gestão da escola: Desafios a Enfrentar. Rio<br />
de Janeiro: DP&A, 2002, pp. 57-64.<br />
XAVIER, A. C. R.; AMARAL SOBRINHO, J.; MARRA, F. (Org.). Gestão escolar: desafios e<br />
tendências. Brasília, DF: IPEA, 1994.<br />
WITTMANN, Lauro C. & GRACINDO, Regina Vinhas (Coord.). O estado da Arte em<br />
políticas e gestão da educação no Brasil – 1991 – 1997. Brasília: Autores Associados, 2001.<br />
PUIG, J. et al. Democracia e participação escolar. São Paulo: Moderna, 2000.<br />
47
VALERIEN, J. Gestão da escola fundamental: subsídios para análise e sugestão de<br />
aperfeiçoamento. 6. ed. São Paulo: Cortez/UNESCO/MEC, 2000.<br />
Eixo 2: Formação de Professores e Prática Pedagógica<br />
A PASSAGEM DA EDUCAÇÃO INFANTIL PARA O ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS: A<br />
ATENÇÃO PARA A ESCUTA INFANTIL<br />
Resumo<br />
Adriana Zampieri Martinati<br />
azmartinati@gmail.com<br />
Maria Sílvia Pinto de Moura Librandi da Rocha<br />
msilvia@puc-campinas.edu.br<br />
Formação de professores e práticas pedagógicas<br />
Comunicação oral<br />
Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong>/<strong>Campinas</strong>/São Paulo<br />
Agência de financiamento: CAPES<br />
A presente pesquisa objetiva analisar como tem se construído a transição da Educação Infantil<br />
(EI) para o Ensino Fundamental (EF) de nove anos, sob a perspectiva da criança. Os documentos<br />
oficiais do Ministério da Educação (MEC) destacam a importância do trabalho pedagógico se<br />
centralizar nas peculiaridades das crianças ingressantes, que passam a fazer parte do EF com seis<br />
anos de idade. Desse modo, o problema a ser investigado nesse trabalho é: ―Como as crianças<br />
interpretam a sua passagem da Educação Infantil para o Ensino Fundamental de nove anos?‖. O<br />
método qualitativo terá como sujeitos as crianças que serão acompanhadas nesse processo de<br />
passagem, que se sucederá em duas etapas: Fase I (2º semestre/2011) com um grupo de crianças<br />
de 5/6 anos de uma Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) do município de <strong>Campinas</strong>;<br />
Fase II (1º semestre/2012), realizada com o mesmo grupo de crianças, mas agora com 6/7 anos e<br />
ingressantes no 1º ano do EF. Os instrumentos utilizados serão: entrevista reflexiva, desenho<br />
dialogado, entrevista narrativa e observação participante com registro no diário de campo , por<br />
meio da vídeofilmagem. Como a pesquisa é referenciada na abordagem histórico-cultural, outro<br />
instrumento de coleta de dados será a análise documental, com informações provenientes do<br />
prontuário das crianças e do projeto pedagógico das unidades escolares envolvidas. Os resultados<br />
da revisão bibliográfica indicaram escassez de trabalhos sobre o novo EF, cujo núcleo temático<br />
focalize o período de transição, o mesmo aplicável às pesquisas que dão voz às crianças. Eis a<br />
relevância científica e social desta pesquisa, que por meio da escuta infantil, poderá trazer<br />
contribuições para a ressignificação do trabalho pedagógico na saída da EI e ingresso no EF, para<br />
que a transição ocorra sem rupturas, como prescrevem os documentos oficiais do MEC. Assim,<br />
os resultados da presente pesquisa poderão subsidiar as práticas pedagógicas e se consolidarem<br />
como instrumento valioso na formação continuada dos professores.<br />
Palavras-chave: Ensino Fundamental de nove anos. Educação Infantil. Passagem escolar.<br />
Abordagem histórico-cultural. Escuta infantil.<br />
INTRODUÇÃO<br />
48
O novo Ensino Fundamental brasileiro (EF) passou a vigorar com a Lei nº 11.274/06,<br />
ampliando a sua duração de oito para nove anos. Fato recente na educação brasileira requer<br />
mudanças organizacionais, estruturais, curriculares e de gestão, sobretudo para as crianças de seis<br />
anos que estão em processo de adaptação, como ressaltam os documentos do Ministério da<br />
Educação e Cultura (MEC):<br />
É necessário assegurar que a transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental<br />
ocorra da forma mais natural possível, não provocando nas crianças rupturas e impactos<br />
negativos no seu processo de escolarização (BRASIL, 2004b, p. 22).<br />
Os processos educativos precisam ser adequados à faixa etária das crianças ingressantes<br />
para que a transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental aconteça sem<br />
rupturas traumáticas para elas. A ampliação tem implicações, que não podem ser<br />
subestimadas, em vários aspectos: proposta pedagógica, currículo, organização dos<br />
espaços físicos, materiais didáticos e aspectos financeiros. Também repercute sobre a<br />
Educação Infantil, pois as diretrizes em vigor para esta etapa precisarão ser reelaboradas<br />
(BRASIL, 2004a, p.2).<br />
Depreende-se que a passagem da Educação Infantil (EI) para o EF deverá ter, ao menos<br />
relativa continuidade; mas, na prática, sabemos que ela é marcada por dicotomias que podem ser<br />
assim sintetizadas: na EI a criança brinca e no EF ela estuda.<br />
Tradicionalmente, toda transição é, potencialmente, uma ruptura já que a passagem do<br />
conhecido para o desconhecido pode desencadear sentimentos de ansiedade, expectativas<br />
positivas e negativas, tensões, estresses, medos, traumas e crises que, no caso de ocorrência,<br />
incidem sobre o desenvolvimento biopsicológico da criança (FACCI, 2004; SARETTA, 2004;<br />
VYGOTSKI, 1996). Apesar da importância teórica dada às transições e seus impactos na vida<br />
dos sujeitos, o processo de adaptação escolar é um tema ainda escassamente estudado na<br />
literatura científica brasileira; quanto à transição da EI para o EF de nove anos, esta escassez se<br />
acentua, por ser quadro recente na educação do Brasil.<br />
Estes dados vem ratificar a necessidade de maior aprofundamento sobre o assunto, tendo<br />
em vista que estas transições podem deixar profundas marcas na vida da criança como também<br />
podem ser bastante produtivas.<br />
Mas, o que dizem as crianças sobre isso? As pesquisas têm escutado as crianças ou tem<br />
renunciado às suas vozes?<br />
Como bem postulado por Campos (2008, p.35): ―A criança faz parte da pesquisa<br />
científica há muito tempo, principalmente na condição de objeto a ser observado, medido,<br />
descrito, analisado e interpretado‖. É bastante frequente a presença das crianças em pesquisas da<br />
área educacional: muito tem se falado nelas, mas pouco elas tem sido ouvidas. Ouvir as crianças<br />
é um passo fundamental para analisar suas necessidades, interesses, vontades, permitindo-nos<br />
acessar o ideário infantil, colocando-a na posição de sujeito ativo e também protagonista do<br />
processo educacional.<br />
As pesquisas com crianças são ainda discretas, mas vem despertando o interesse dos<br />
pesquisadores (tais como ARFOUILLOUX, 1980, CAMPOS, 2008, DEMARTINI, 2002 e<br />
outros). Soma-se isso ao fato de que as pesquisas que dão voz às crianças na passagem da EI para<br />
o EF são praticamente inéditas, justificando a relevância da presente investigação, em que se<br />
assume como principal problema o seguinte questionamento: ―Como as crianças interpretam a<br />
sua passagem da EI para o EF de 9 anos?‖.<br />
49
Procurar dar voz às crianças, reconhecendo-as como agentes sociais participativos é o<br />
caminho para a compreensão dos fenômenos educacionais sob o seu ponto de vista e não apenas<br />
do adulto, trazendo implicações educacionais incisivas sobre o ser e estar criança na escola.<br />
O objetivo geral deste trabalho é analisar como se tem constituído o processo de transição da EI<br />
para o EF de 9 anos, da perspectiva das crianças de 5, 6 e 7 anos de idade. Os objetivos específicos são:<br />
analisar as interpretações das crianças sobre suas experiências na EI e no EF e sobre a obrigatoriedade de<br />
ingressarem no EF.<br />
DESENVOLVIMENTO<br />
Método<br />
A metodologia centrada na abordagem qualitativa e referenciada na abordagem histórico-cultural<br />
terá como sujeitos as crianças, que serão analisadas em seu processo de transição da EI para o EF de nove<br />
anos, portanto, a pesquisa se sucederá em duas fases distintas:<br />
Fase I (2º semestre de 2011): inicialmente, a pesquisa se realizará com um grupo de crianças de<br />
aproximadamente 20 a 25 crianças (a depender do número preciso de matriculados por ocasião do<br />
início da pesquisa e da adesão dos pais ou responsáveis a ela) na faixa etária de 5 ou 6 anos de<br />
idade, de uma turma de uma Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) do município de<br />
<strong>Campinas</strong>;<br />
Fase II (1º semestre de 2012): pesquisa com o mesmo grupo de crianças, mas agora com 6 ou 7<br />
anos de idade e ingressantes do 1º ano do EF de uma Escola Municipal de Ensino Fundamental<br />
(EMEF) próxima da EMEI. O número de crianças só poderá ser precisamente identificado por<br />
ocasião da matrícula dos alunos da EMEI na EMEF. Estima-se, porém, que por volta de 10 a 15<br />
crianças da EMEI da Fase I devam ser matriculadas na EMEF, na Fase II.<br />
Instrumentos de pesquisa<br />
A construção do material empírico se dará por meio dos seguintes instrumentos de pesquisa:<br />
Análise documental<br />
A análise documental, como o próprio nome diz, refere-se à análise de documentos, onde se<br />
colhem informações relevantes para a pesquisa:<br />
Os documentos constituem também uma fonte poderosa de onde podem ser retiradas<br />
evidências que fundamentem afirmações e declarações do pesquisador. Representam<br />
ainda uma fonte ―natural‖ de informação. Não são apenas uma fonte de informação<br />
contextualizada, mas surgem num determinado contexto e fornecem informações sobre<br />
esse mesmo contexto. (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p.39).<br />
A análise documental possibilita ao pesquisador novas fontes de informações sobre o fenômeno<br />
pesquisado. Para tanto, documentos utilizados nesta pesquisa serão o prontuário do aluno, para melhor<br />
caracterizar e descrever os sujeitos envolvidos e o projeto político-pedagógico da escola, para maior<br />
compreensão da cultura e filosofia escolar.<br />
Observação participante<br />
Segundo Chizzotti (2006, p.90-91), a observação participante caracteriza-se pela atuação direta do<br />
pesquisador com o fenômeno a ser analisado, dentro de seu ambiente natural, com o objetivo de extrair<br />
informações do contexto a partir do ponto de vista de seus atores: ―[...] o observador participa em<br />
50
interação constante em todas as situações espontâneas e formais, acompanhando as ações cotidianas e<br />
habituais, as circunstâncias e sentido dessas ações, e interrogando sobre as razões e significados dos seus<br />
atos‖. Assim, as observações contemplarão o maior número de redes de significações 1 tecidas no interior<br />
da escola. É no diálogo entre as perspectivas do pesquisador, as das crianças e delas com a professora que<br />
se buscará compreender melhor o objeto de estudo.<br />
Lüdke e André (1986) revelam que a observação requer a realização de um planejamento sobre ―o<br />
quê‖ e ―como‖ observar, para que se torne um instrumento fidedigno de pesquisa. Para isso, foi criado um<br />
roteiro de observação da rotina do aluno da EI e do EF com o intuito de saber ―o quê‖ será observado. Em<br />
relação ao ―como‖ será observado, este contempla os diversos recursos utilizados durante a observação,<br />
que nesta pesquisa serão a videofilmagem e o diário de campo. Tais recursos, de acordo com Chizzotti<br />
(2006) são excelentes formas de registro de uma observação participante.<br />
As observações se sucederão no ambiente natural da criança – o escolar – na rotina diária da<br />
turma, uma vez por semana durante cinco encontros, tanto na CEMEI quanto na EMEF. Os encontros<br />
serão videofilmados e transcritos na íntegra para que possam ser coletadas as informações relevantes para<br />
a pesquisa.<br />
Para maior riqueza de coleta de informações, além da filmagem, a pesquisadora se valerá de<br />
outras duas formas de registro:<br />
a) Fotografia: registro fotográfico dos espaços escolares (sala de aula, áreas, pátio, quadra,<br />
parquinho), com o objetivo de analisar o contexto escolar, já que é nesses espaços e dos materiais<br />
e recursos disponíveis que as crianças vivem a maior parte de seu tempo na escola.<br />
b) Diário de Campo: instrumento utilizado como forma de ―captar‖ os diálogos, comportamentos e<br />
situações vivenciadas pelas crianças em interação com seus pares e que muitas vezes podem estar<br />
ocultas na vídeofilmagem, mas que constituem informações pertinentes de análise para<br />
compreensão dos sujeitos envolvidos na pesquisa e de seu entorno.<br />
Entrevista<br />
Ao dar a voz à criança, um dos instrumentos de pesquisa produtivos para essa experiência é a<br />
entrevista, justificando o critério de sua escolha nesta pesquisa. Não existe outro modo de escutar a<br />
criança que não seja ouvindo-a, ―(...) não há outra forma/método: ou se recorre às crianças ou se fica<br />
sempre trabalhando com a visão do adulto‖. (DEMARTINI, 2002, p. 10).<br />
O tipo de entrevista utilizada nesta pesquisa é a reflexiva, proposta por Szymanski e Prandini<br />
(2004, p.14), é assim chamada ―(...) tanto porque leva em conta a recorrência de significados durante<br />
qualquer ato comunicativo quanto à busca pela horizontalidade‖. A opção desse tipo de entrevista ocorreu<br />
em função de seus interlocutores, que requerem maiores aproximações, vínculos, afetividade e<br />
esclarecimentos que um adulto.<br />
A busca de horizontalidade é uma característica da entrevista reflexiva, sinônimo de inter-relação<br />
entre entrevistador-entrevistado, que ocupam a mesma posição no processo dialógico e interativo,<br />
condição relevante quando se trata de pesquisa com criança, pois nessa condição ela não se sentirá<br />
intimidada e pressionada pelo adulto. Pelo contrário, estabelecerá um clima de intimidade, confiabilidade,<br />
igualdade e credibilidade, que possibilitarão à criança se expressar e interagir em parceria com o adulto.<br />
Em relação à outra característica da pesquisa reflexiva – a recorrência de significados em qualquer ato<br />
comunicativo compreende-se que a interação contida numa entrevista pode influenciar as falas de seus<br />
interlocutores, motivo pelo qual se chama de recorrência de significados. O diálogo envolve não apenas<br />
palavras, mas a interação de dois interlocutores, que se comunica, expressa, emite valores, sentimentos e<br />
emoções. Assim, a conversa consiste na junção do linguajar e do emocionar, no qual as emoções ocupam<br />
1 Esse posicionamento destaca a centralidade das interações nos processos de condução e transação dos significados<br />
e sentidos, na construção do ato, na ação de significar (significado-ação), na constituição e no desenvolvimento das<br />
pessoas. Considerando a complexidade em que os processos de desenvolvimento humano ocorrem, nossa meta tem<br />
sido buscar compreender quais e como os vários elementos (interacionais-pessoais-contextuais) participam desses<br />
processos. (ROSSETTI-FERREIRA; AMORIM; SILVA, 2004, p.24).<br />
51
lugar de destaque no processo relacional, podendo influenciar o linguajar, ―[...] no conversar, portanto,<br />
temos um contínuo ajuste de ações e emoções‖ (SZYMANSKI; PRANDINI, 2004, p.11).<br />
Na presente pesquisa, a entrevista será videofilmada, seguindo um roteiro prévio para as<br />
crianças da EI e do EF. As entrevistas serão grupais, em arranjos compostos por quatro crianças<br />
(em média) e foi assim escolhida em função de seus interlocutores, por potencialmente oferecer<br />
um ambiente mais natural à criança, comparativamente ao formato mais tradicional de<br />
entrevistador-entrevistado; pretendemos que, assim, as crianças se sintam mais à vontade, ouçam<br />
outros pontos de vista diferentes, abrindo maior leque de diálogos e interações, muito próximas<br />
das situações de seu cotidiano.<br />
A vantagem da entrevista grupal é que a interação promove a ampliação da construção de<br />
conhecimentos, trocas, partilhas, descontração, gerando situações mais criativas e espontâneas. É<br />
possível também identificar os pensamentos, comportamentos e valores das crianças, bem como a<br />
mudança de opinião, as lideranças e, primordialmente, o envolvimento emocional de seus<br />
componentes, algo pouco presenciado numa entrevista a dois. (BAUER; GASKELL, 2008).<br />
Vale destacar que as pesquisas com crianças apresentam ainda outro desafio<br />
metodológico: a utilização de instrumentos e recursos que privilegiem diversas linguagens<br />
infantis, pois como já apontado anteriormente, quanto menores as crianças, menores são suas<br />
capacidades de articularem suas percepções e interpretações através apenas da linguagem verbal.<br />
(ARFOUILLOUX, 1980; CAMPOS, 2008; FRANCISCHINI; CAMPOS, 2008; GOBBI, 2002;<br />
QUINTEIRO, 2002; ROCHA, 2008). A utilização de recursos expressivos contidos em jogos,<br />
brincadeiras, desenho, pintura, história são importantes quando se pensa em pesquisar crianças.<br />
Dentro desse contexto, nessa pesquisa, os recursos adicionais que complementarão a entrevista<br />
serão a entrevista narrativa (história) e o desenho dialogado.<br />
a) Entrevista Narrativa: a história<br />
É um tipo de entrevista não estruturada que busca superar sua perspectiva tradicional<br />
(fundamentada na estrutura pergunta-resposta) e que é substituída pelo contar e escutar histórias e<br />
comentá-las: ―O pressuposto subjacente é que a perspectiva do entrevistado se revela melhor nas<br />
histórias onde o informante está usando sua própria linguagem em espontânea narração dos<br />
acontecimentos‖. (BAUER; GASKELL, 2008, p. 95-96).<br />
A entrevista narrativa se sucederá em grupos constituídos por, em média, quatro crianças.<br />
A história utilizada é a recente publicação ―Kika vai para escola‖, de Roquete e Gargaglioni<br />
(2010), adequado para crianças que estão saindo da EI e entrando para a escola, em função da<br />
temática abordada e do modo pelo qual os autores a desenvolvem.<br />
b) O desenho dialogado<br />
Segundo Arfouilloux (1980, p.44), o desenho corresponde a uma linguagem, pois ―(...)<br />
tem uma função de expressão e de comunicação e obedece [a] regras de construção que<br />
permite[m] nele identificar um código‖. Assim, o desenho é um documento representativo da<br />
expressividade, interpretação, criatividade e do imaginário infantil.<br />
Dentro da abordagem histórico-cultural, o desenho infantil é uma interpretação de seu<br />
ambiente cultural, já que a criança desenha o que conhece e não apenas o que vê imediatamente<br />
(VIGOTSKY, 2003). O conhecer, necessariamente, implica a relação da criança com o outro, que<br />
realiza sua inserção no/apropriação do seu ambiente. Logo, o desenho pode revelar as concepções<br />
e interpretações que as crianças elaboram sobre seu contexto social e cultural, e essa realidade<br />
pode ser representada e/ou reconstruída por meio do registro gráfico. Desse modo, no sentido de<br />
52
conhecer as interpretações das crianças sobre o contexto escolar atual e passado/futuro – relativo<br />
ao período de transição, será proposto que produzam desenhos com as seguintes temáticas:<br />
- Crianças da Educação Infantil:<br />
1. Desenho da sua escola;<br />
2. Desenho sobre como acha que será a escola do Ensino Fundamental;<br />
3. Desenho sobre como gostaria que fossem a escola de EI e a de EF.<br />
- Crianças do Ensino Fundamental:<br />
1. Desenho da sua escola;<br />
2. Desenho do que mais sente saudades da Educação Infantil;<br />
3. Desenho sobre como gostaria que fosse a escola de EF.<br />
Durante e após a realização dos desenhos, a pesquisadora procurará ir conversando com<br />
as crianças sobre os mesmos e sobre a temática, sendo este o motivo de o instrumento ser<br />
conceituado como ―dialogado‖ – a conjugação do desenho com a oralidade. A interlocução a ser<br />
realizada deverá contribuir para evitar interpretações equivocadas do adulto sobre a produção<br />
infantil.<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
O EF de nove anos, ao se consagrar como uma das mais recentes políticas educacionais de<br />
abrangência nacional e como um fenômeno novo, traz consigo uma série de desafios a serem<br />
superados. Um dos desafios diz respeito ao processo de transição da Educação Infantil para o EF,<br />
que se deve caracterizar pela continuidade e não por rupturas, pois estas impactam diretamente<br />
sobre o desenvolvimento da criança, potencialmente imprimindo-lhes marcas negativas.<br />
Dessa forma, analisar-se como se tem constituído o processo de transição da EI para o EF<br />
de 9 anos sob a ótica da criança torna-se um aspecto vital para a contribuição na construção de<br />
escolas de qualidade, na medida em que os documentos oficiais assumem que a criança é o centro<br />
do processo educacional e, que, infelizmente na prática, as pesquisas nem sempre dão conta de<br />
integrar suas vozes em seus delineamentos metodológicos:<br />
As abordagens, na maioria das vezes, encontram-se distantes de suas formas de<br />
expressão, das brincadeiras, das culturas às quais pertencem e produzem no seu dia-adia.<br />
(...) Dessa maneira, podemos pensar e imaginar produções acadêmicas e, por que<br />
não, um mundo em que percebamos a presença de meninos e meninas pequenos e bem<br />
pequenos a partir de suas criações, de seus risos, de seus gestos, e no qual seus olhares<br />
possam revelar fenômenos sociais que se encontram obscurecidos e cuja revelação<br />
contribuirá tanto para as pesquisas que estão sendo empreendidas, como para ações<br />
políticas que respeitem as crianças. (GOBBI, 2002, p. 73).<br />
Visto a escassez de pesquisas que integram as crianças como participantes e que tratam do<br />
processo de transição da EI para o EF, bem como a inexistência de trabalhos científicos que se<br />
proponham a fazer um acompanhamento deste processo, abarcando as experiências das mesmas<br />
crianças nestes dois segmentos educacionais, a presente proposta poderá ser uma fonte<br />
potencializadora de novas contribuições e indagações sobre o debate, especificamente no que se<br />
refere à saída da criança da EI e seu ingresso no EF, enfatizando o papel das atividades lúdicas<br />
sobre o desenvolvimento infantil, pois a grande maioria das publicações acadêmicas indicaram<br />
que as atividades propostas aos ingressantes do novo EF se dedicam, quase que exclusivamente,<br />
às atividades de alfabetização e letramento.<br />
53
Espera-se que os resultados do trabalho contribuam de maneira profícua na<br />
(re)significação: (i) do tempo, do espaço e das atividades desenvolvidas pela e com a criança – a<br />
protagonista do processo educacional, (ii) na práxis pedagógica e, indubitavelmente, (iii) na<br />
formação continuada dos profissionais da educação.<br />
REFERÊNCIAS<br />
ARFOUILLOUX, A entrevista com a criança: a abordagem da criança através do diálogo, do brinquedo e<br />
do desenho. 2 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1980.<br />
BAUER, M. W.; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual<br />
prático. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.<br />
BRASIL. Ampliação do Ensino Fundamental para nove anos: relatório do Programa. Brasília:<br />
MEC/SEB, 2004a.<br />
_______. Ensino Fundamental de nove anos: orientações gerais. Brasília: MEC/SEB, 2004b.<br />
_______. Lei nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006. Estabelece as diretrizes e bases da educação<br />
nacional, dispondo sobre a duração de 9 anos para o EF, com matrícula obrigatória a partir dos 6<br />
anos de idade.<br />
CAMPOS, M. M. Por que é importante ouvir a criança?: a participação das crianças pequenas na pesquisa<br />
científica. In: CRUZ, S. H. V. (Org.). A criança fala: a escuta de crianças em pesquisas. São Paulo:<br />
Cortez, 2008, p.35-42.<br />
CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2006.<br />
DEMARTINI, Z. B. F Infância, pesquisa e relatos orais. In: FARIA, A. L. G.; DEMARTINI, Z.<br />
B. F.; PRADO, P. O. Por uma cultura da infância: metodologias de pesquisa com crianças.<br />
<strong>Campinas</strong>, SP: autores associados, 2002, p.1-17. (Coleção educação contemporânea).<br />
FACCI, M. G. D. A periodização do desenvolvimento psicológico individual na perspectiva de<br />
Leontiev, Elkonin e Vigotski. Cadernos CEDES. <strong>Campinas</strong>, v.24, n.62, p.64-81, 2004.<br />
FRANCISCHINI, R.; CAMPOS, H. C. Crianças e infâncias, sujeitos de investigação: bases teóricometodológicas.<br />
In: CRUZ, S. H. V. (Org.). A criança fala: a escuta de crianças em pesquisas. São Paulo:<br />
Cortez, 2008, p.102-117.<br />
GOBBI, M. Desenho infantil e oralidade: instrumentos para pesquisas com crianças pequenas. In:<br />
FARIA, A. L. G.; DEMARTINI, Z. B. F.; PRADO, P. O. Por uma cultura da infância:<br />
metodologias de pesquisa com crianças. <strong>Campinas</strong>, SP: autores associados, 2002, p.69-92.<br />
(Coleção educação contemporânea).<br />
LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo:<br />
EPU, 1989.<br />
54
QUINTEIRO, J. Infância e educação no Brasil: um campo de estudos em construção. In: FARIA,<br />
A. L. G.; DEMARTINI, Z. B. F.; PRADO, P. O. Por uma cultura da infância: metodologias de<br />
pesquisa com crianças. <strong>Campinas</strong>, SP: autores associados, 2002, p.19-47. (Coleção educação<br />
contemporânea).<br />
ROCHA, E. A. C. Por que ouvir as crianças? Algumas questões para um debate científico<br />
multidisciplinar. In: CRUZ, S. H. V. (Org.). A criança fala: a escuta de crianças em pesquisas.<br />
São Paulo: Cortez, 2008, p.43-51.<br />
ROSSETTI-FERREIRA, M. C.; AMORIM, M. C.; SILVA, A. P. S. Rede de significações: alguns<br />
conceitos básicos. ROSSETTI-FERREIRA, M. C. et al.(Org). Rede de significações e o estudo do<br />
desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed, 2004.<br />
ROQUETE, C.; GARGAGLIONI, D. Kika vai para escola. <strong>Campinas</strong>, SP: Alínea e Átomo,<br />
2010.<br />
SARETTA, P. A um passo do ensino fundamental: dando voz aos sentimentos das crianças.<br />
Dissertação: (Mestrado em Psicologia Escolar). <strong>Campinas</strong>: <strong>PUC</strong>C, 2004.<br />
SZYMANSKI, L. R. A.; PRANDINI, R. C. A. A entrevista na pesquisa em educação: a prática reflexiva.<br />
Brasília: Liber, 2004.<br />
VIGOTSKY, L. S. La imaginación y el arte en la infancia. Madrid: Akal, 2003.<br />
VYGOSTSKI, L.S. Obras escogidas. Madrid: Visor. 1996. v.3.<br />
OS ARGUMENTOS ACADÊMICOS SOBRE A EDUCAÇÃO PARA CRIANÇAS DE 0 A 5 ANOS:<br />
REFLEXÕES SOBRE O CURRÍCULO.<br />
Resumo<br />
Alessandra Elizabeth Ferreira Gonçalves Prado (mestre em educação)<br />
Heloisa Helena Oliveira de Azevedo (doutora em educação)<br />
Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong><br />
Programa de Pós-graduação em Educação – SP/CAPES<br />
Eixo temático: Formação de Professores e Prática Pedagógica<br />
Comunicação Oral<br />
O objetivo deste artigo é analisar o tipo de currículo que estaria em consonância com as ideias defendidas<br />
por pesquisadores que propõem a ―consolidação de uma pedagogia para a infância‖. Para tanto,<br />
analisamos artigos aprovados na ANPEd (2000-2009), na categoria de comunicação oral, no grupo de<br />
trabalho ―Educação de Criança de 0 à 6 anos‖ (GT 7). A partir desta análise, constatamos que as ideias<br />
defendidas sobre formação de professores e propostas pedagógicas no referido fórum, evidenciam<br />
concepções presentes na área, cuja base teórica vem se tornando predominante em pesquisas na área da<br />
educação infantil, sendo que esta base advém da chamada ―abordagem Reggio Emilia‖. A partir de seus<br />
pressupostos, pesquisadores da área têm preconizado a necessidade de consolidação de uma pedagogia da<br />
Educação infantil, com princípios filosóficos e pedagógicos claramente opostos à organização de um<br />
55
currículo que se baseie em um conhecimento sistematizado e que pense possibilidades para ensinar<br />
crianças neste período de sua vida escolar. Nossos argumentos caminham em outra direção. Posicionamonos<br />
pela defesa da educação escolar, embasados na teoria histórico-cultural vigotskiana e defendemos que<br />
o currículo para educação infantil, tanto quanto em outras etapas educativas, deva ter objetivos claros que<br />
contribuam para a inserção da criança ao conhecimento do mundo objetivado, isto é, construído pelo<br />
conjunto dos homens ao longo de sua história.<br />
Palavras-chave: Currículo; Educação Infantil; Educação Escolar.<br />
FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO INFANTIL: DESAFIOS DA CONSTRUÇÃO<br />
DA PROFISSIONALIDADE DOCENTE<br />
Resumo<br />
Aline Aparecida Akamine - Mestranda<br />
Profª Drª Heloisa Helena Oliveira de Azevedo<br />
<strong>PUC</strong> <strong>Campinas</strong> – Mestrado em Educação<br />
Eixo temático: Formação de Professores e Práticas Pedagógicas<br />
Modalidade: Comunicação Oral<br />
aline_akamine@yahoo.com.br;<br />
hazevedo@puc-campinas.edu.br<br />
Esta pesquisa em andamento aborda o processo de construção da profissionalidade de professores de<br />
educação infantil, cujo problema de investigação situa-se em conhecer como se dá esta construção na<br />
formação oferecida nos cursos de Pedagogia, uma vez que a formação inicial tem um papel fundamental<br />
nesse processo, pois envolve reflexão crítica e (re) construção permanente, de modo a interferir no perfil<br />
do profissional de educação infantil a ser formado, possibilitando ou não a busca por um reconhecimento<br />
social. Com relação ao termo profissionalidade, entende-se que este diz respeito a uma ―afirmação daquilo<br />
que é específico no trabalho docente‖ e, segundo Sacristán (1991), refere-se a uma série de<br />
comportamentos, saberes, atitudes, habilidades, valores, enfim, aspectos que caracterizam e demarcam a<br />
especificidade docente, sobre o que implica ser professor, num processo de construção da identidade<br />
profissional. Nosso objetivo principal é o de investigar o papel da formação inicial na construção da<br />
profissionalidade de professores de educação infantil. A metodologia utilizada pauta-se na abordagem<br />
qualitativa de pesquisa empregando técnicas de coleta de dados como a aplicação de questionário e<br />
realização de entrevistas semi-estruturadas, tendo como sujeitos de pesquisa os alunos concluintes de um<br />
curso de licenciatura em Pedagogia de uma universidade pública localizada no Estado de São Paulo.<br />
Buscamos referência nos estudos teóricos de Sacristán (1991), Pimenta (2002), Azevedo (2007), Saviani<br />
(2008), Angotti (2001), Facci (2004), entre outros. Os resultados parciais deste estudo apontam para a<br />
necessidade de se refletir a respeito da formação inicial de professores de educação infantil e qual o perfil<br />
profissional se pretende formar, uma vez que é por meio dela que se (re) constrói a profissionalidade com<br />
vistas ao fortalecimento e valorização docentes. Espera-se com esse estudo contribuir com a formação<br />
inicial de professores de educação infantil, apontando possibilidades de reformulação e melhorias, de<br />
modo a incitar estudos posteriores na área.<br />
Palavras-chave: Formação de professores. Educação Infantil. Profissionalidade docente.<br />
INTRODUÇÃO<br />
56
Esta pesquisa em andamento aborda o processo de construção da profissionalidade de<br />
professores de educação infantil na formação inicial, uma vez que essa tem um papel<br />
fundamental nesse processo, de modo a interferir no perfil do profissional de educação infantil a<br />
ser formado, possibilitando ou não a busca por um reconhecimento social.<br />
Com relação ao termo profissionalidade, entende-se que este diz respeito a uma<br />
―afirmação daquilo que é específico no trabalho docente‖ e, segundo Gimeno Sacristán (1991),<br />
refere-se a uma série de comportamentos, saberes, atitudes, habilidades, valores, enfim, aspectos<br />
que caracterizam e demarcam a especificidade docente, sobre o que implica ser professor, num<br />
processo de construção da identidade profissional. Importante ressaltar que diz respeito ao que é<br />
específico no trabalho docente, de modo a compreendê-la como uma construção social nos<br />
diversos contextos institucionais e culturais.<br />
Assim, a profissionalidade docente envolve uma redefinição de características da<br />
profissão em busca de uma identidade e desenvolvimento de uma nova cultura construída desde a<br />
formação inicial, com esforços da categoria para efetivar mudanças no próprio trabalho<br />
pedagógico, e com vistas ao fortalecimento e valorização docente.<br />
Segundo Angotti (2001) o alcance da profissionalidade advém do compromisso com sua<br />
própria formação, vivência e troca de experiências, fatores esses que dialogam com a relação que<br />
se tem com o próprio saber.<br />
A formação inicial oferecida pelo curso de Pedagogia passa então a ser vista como fator<br />
preponderante para a qualidade do ensino oferecido à criança na escola, numa via em que tal<br />
qualidade está intimamente ligada ao tipo de profissional que se forma e sua atuação.<br />
O foco aqui direcionado visa entender a concepção de professor de educação infantil, que<br />
por muito tempo foi visto como cuidador. Hoje, no entanto, este é visto enquanto profissional<br />
exercendo um ofício repleto de especificidades, que somente uma formação inicial forneceria<br />
bases para sua atuação. Assim sendo, a construção de uma profissionalidade na formação inicial<br />
de professores de educação infantil se faz necessária, posto que é consenso a importância da<br />
formação profissional deste para atuar nas instituições desta etapa de ensino.<br />
No entanto, é preciso atentar para o tipo de formação pensada para esses professores de<br />
educação infantil, a qual, por vezes, restringe-se ao mero incentivo à formação de nível superior,<br />
de modo que o conhecimento pragmático não é superado: com formações aligeiradas e à<br />
distância em telessalas o saber fica restrito ao pragmatismo passando longe da relação entre<br />
saberes teóricos e práticos. A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9394/96) prevê<br />
sim a formação de professores a ser realizado no ensino superior, contudo não determina que<br />
aconteça somente nas universidades, mas também em institutos superiores, técnicos e etc, sem<br />
incentivos à pesquisa, o que acaba sucateando essa formação, ao invés de qualificá-la.<br />
Se a luta aqui defendida é pela profissionalização do professor de educação infantil e<br />
construção de sua profissionalidade não se pode ter posição estanque frente a essa situação de<br />
desvalorização da docência e desqualificação da formação, caracterizando-a como amadora e<br />
improvisada aproximando as funções desse profissional com as funções domésticas. Ao se<br />
defender uma formação que prima à prática em detrimento à teoria, defende-se uma falta de<br />
conhecimentos específicos na profissão de professor, sendo possível, inclusive, que qualquer<br />
pessoa exerça esse papel, afinal irá se aprender a ser professor no dia-a-dia em sala de aula, sem a<br />
relação com conhecimentos pedagógicos. Para uma sociedade neoliberal que prioriza o saber e o<br />
valoriza, essa é uma grande contradição. Afinal, se em todas e qualquer profissão é preciso ter<br />
conhecimento específico para ser qualificado à atuação, por que com a educação deve ser<br />
diferente?<br />
57
Esse caráter amador que se nota na imagem do professor não está presente somente nos<br />
documentos oficiais que regem a educação brasileira. Está também na imagem que a sociedade<br />
tem a respeito dessa profissão. O mundo globalizado traz consigo avanços na tecnologia e na<br />
comunicação que trazem à tona uma gama de informações que chegam fáceis até cada indivíduo<br />
dentro de sua casa, em frente a uma tela, seja ela de computador ou de televisão. O saber não é<br />
mais exclusividade da escola e da figura do professor, e agora disputam a atenção dos alunos com<br />
as informações atrativas e ‗mastigadas‘ da mídia eletrônica.<br />
É sabido que a educação infantil tem buscado nos últimos tempos o reconhecimento de seu papel<br />
e de sua especificidade e defende-se aqui que o professor da educação infantil não é aquele cujo ofício é<br />
passível de todos. Muito pelo contrário, há saberes próprios da profissão de professor que somente são<br />
conhecidos por meio da formação profissional. É necessária a luta pela valorização e reconhecimento do<br />
professor como profissional da educação, pela construção de uma profissionalidade docente na formação<br />
inicial, com vistas a deixar de lado fatores que desmerecem e dão um ar amador para a profissão de<br />
professor.<br />
PROBLEMA<br />
Questiona-se: Qual o papel da formação inicial na construção da profissionalidade de<br />
professores de educação infantil?<br />
OBJETIVOS<br />
O objetivo geral dessa pesquisa em andamento é o de investigar o papel da formação<br />
inicial na construção da profissionalidade docente. Nesse sentido, nossos objetivos específicos<br />
visam:<br />
conhecer os caminhos percorridos pela educação e pelo curso de Pedagogia no<br />
Brasil e o tipo de formação que ofereceu ao longo de seu histórico social e<br />
cultural;<br />
descrever e analisar o que pensam os estudantes do último ano do curso de<br />
Pedagogia a respeito da formação e atuação do professor de educação infantil, com<br />
vistas à compreensão do papel da formação inicial na construção de sua<br />
profissionalidade;<br />
contribuir com as pesquisas na área da formação docente, ampliando o debate e<br />
estimulando mudanças.<br />
METODOLOGIA<br />
A presente pesquisa, de cunho qualitativo, buscará compreender se os cursos de<br />
Pedagogia propiciam a construção de uma profissionalidade docente junto aos alunos concluintes<br />
desse curso, por entendermos que já percorreram quase que todo o processo que implica a<br />
formação inicial.<br />
Considerando o nosso propósito de refletir a respeito da formação inicial de professores<br />
de educação infantil, no que se refere ao processo de construção de sua profissionalidade docente,<br />
foram escolhidos como sujeitos da pesquisa alunos concluintes de um curso de licenciatura em<br />
58
Pedagogia de uma universidade pública situada no Estado de São Paulo, com o fim de verificar<br />
suas impressões acerca do tema em meio à finalização do processo de formação inicial e iminente<br />
inserção no âmbito da docência.<br />
As técnicas de coletas de dados utilizadas foram aplicação de questionários e realização<br />
de entrevistas semi-estruturadas com uma turma de cerca de sessenta alunos concluintes,<br />
convidados a participarem voluntariamente da pesquisa. Os questionários tiveram a função de, a<br />
partir de critérios previamente definidos, selecionar os sujeitos que participariam das entrevistas<br />
posteriormente.<br />
Após análise das respostas obtidas no questionário, foram identificados os possíveis<br />
sujeitos da pesquisa de acordo com o perfil verificado em suas respostas, os quais foram, então,<br />
convidados a participar voluntariamente da segunda etapa da pesquisa. Dezesseis alunos dessas<br />
duas turmas de concluintes foram selecionados para a segunda fase da coleta de dados e, dentre<br />
eles, cinco aceitaram participar.<br />
Para a análise dos dados obtidos nas entrevistas foram formuladas categorias, as quais,<br />
segundo Franco (2008), consistem na organização dos dados de acordo com segmentos que<br />
tratem de um mesmo tema e que possam ser abordados numa mesma categoria.<br />
Assim, após leituras exaustivas, organização e classificação dos dados identificamos as<br />
seguintes categorias: Formação inicial para atuar na educação infantil, Concepções de educação<br />
infantil, Profissionalidade docente na educação infantil.<br />
Primeiro, quanto às bases da formação inicial os sujeitos da pesquisa falam em<br />
consonância a respeito de uma fragmentação do curso, no qual os dois primeiros anos são<br />
dedicados aos estudos teóricos e os dois últimos práticos, sendo desses dois últimos um para o<br />
ensino fundamental e o outro para a educação infantil nesta ordem, isto é, trata-se primeiro do<br />
ensino fundamental e depois da educação infantil. Assim, o contato com as especificidades do<br />
ofício de professor de educação infantil somente é feito no último ano do curso.<br />
A esse respeito, Carla 2 aponta que:<br />
[...] o curso dá uma bagagem muito grande para o professor de forma geral, de qual vai ser<br />
nosso papel na escola, agora eu acho que quando a gente pensa no professor de educação<br />
infantil, especificamente, fica um pouco mais pobre aí a nossa formação porque a gente<br />
tem disciplinas de educação infantil só no último ano. E nesses três primeiros anos, pelo<br />
menos eu sinto isso, a gente não sabe muito bem com o que está lidando.<br />
No entanto, o que acontece nesse modelo de formação é o distanciamento da articulação<br />
entre teoria e prática, de modo a construir uma visão de educação pautada em cartilhas e livros<br />
didáticos tomados como receitas para se conceber a prática educativa. Não existe nessa prática a<br />
reflexão crítica de seu trabalho, somente a busca por novas receitas que lhe servirão de guia do<br />
fazer docente.<br />
Ora, este modelo presente na matriz curricular do curso o qual os sujeitos dessa pesquisa<br />
estão envolvidos forma que tipo de professores? Aqueles que só sabem seguir manuais para atuar<br />
na sala de aula?<br />
As situações do cotidiano escolar envolvem particularidades que muitas vezes não estão<br />
nos livros, então o professor formado nesse modelo de teoria desencontrada com a prática não<br />
2 Trata-se de um nome fictício dado ao sujeito da pesquisa para garantir o sigilo na participação voluntariosa desse<br />
estudo.<br />
59
possui uma base teórico-prática para articular esses saberes e trazer ao cotidiano escolar sua<br />
reflexão crítica a partir de seus conhecimentos enquanto professor.<br />
Segundo, o relato das especificidades e do cotidiano da educação infantil apontadas em<br />
cada uma das falas dos entrevistados está intimamente relacionado às suas concepções de escola,<br />
professor, aluno e ensino na educação infantil, a qual reflete a tendência pedagógica que cada um<br />
adota como fundamento de sua práxis.<br />
Assim, na fala de Andréia 3 percebe-se de maneira bastante clara suas concepções quanto<br />
ao perfil de professor e de seu papel na educação infantil enquanto mediador de aprendizagens,<br />
onde sua intervenção educativa não é estanque de intencionalidades. Para ela:<br />
[...] a situação cotidiana num berçário de creche ela é permeada por momentos educativos<br />
porque a criança aprende a se relacionar, aprende a andar, aprende a sentir, ela aprende<br />
a pensar, ela não aprende só um conteúdo sistematizado que é transmitido verbalmente.<br />
Complementando essa ideia expressa em sua fala, ainda questiona:<br />
[...] o que que é pedagógico num berçário de creche? O que é que ensina? A professora tem<br />
que ter formação específica, mas para que? Então não é escolarizante? Não é maternal? E<br />
é o que...?<br />
Percebe-se claramente os conflitos de Andréia e a busca pela compreensão do papel do<br />
professor. Afinal, se a educação infantil é uma modalidade de especificidades quanto às<br />
necessidades da criança, e essas necessidades não dizem respeito somente ao que está relacionado<br />
aos cuidados num caráter assistencialista, mas também ao educar e ao que é específico para o seu<br />
desenvolvimento pleno, o professor precisa compreender a criança dessa faixa etária, intervir e<br />
planejar de acordo com seus objetivos para essa criança.<br />
Nesse ponto está clara a necessidade de um profissional formado para atuar na educação<br />
infantil, pois seu trabalho não está relacionado somente ao cuidado e proteção como se fosse uma<br />
babá, exercendo uma função de extensão ao papel da mãe. A escola não é uma extensão da casa,<br />
não é um ambiente familiar, mas sim uma instituição educativa para crianças de determinada<br />
faixa etária conviverem, aprenderem e se desenvolverem em meio ao ensino de conhecimentos<br />
próprios de sua idade, através da mediação de um professor, aquele que possui formação<br />
profissional para tal, e que, valorizando o que as crianças já sabem, proporciona avanços em suas<br />
aprendizagens e em seu desenvolvimento.<br />
Terceiro, serão discutidos aspectos emblemáticos acerca do perfil de professor de<br />
educação infantil, seus papeis e saberes necessários, com vistas a compreender se a<br />
profissionalidade docente está sendo construída nos cursos de Pedagogia.<br />
Convém, portanto, retomar o conceito de profissionalidade que, de acordo com Gimeno<br />
Sacristán (1991) abarca tudo aquilo que demarca e caracteriza a profissão docente como saberes,<br />
valores, crenças, imagens, perfis, enfim, o que o define enquanto profissional.<br />
Quanto ao perfil de professor da educação infantil, todos os entrevistados concordaram a<br />
respeito da importância desse ser um profissional formado, pois trata-se de um ofício específico<br />
3 Trata-se de um nome fictício dado ao sujeito da pesquisa para garantir o sigilo na participação voluntariosa desse<br />
estudo.<br />
60
que exige saberes peculiares de sua formação. A luta pela valorização e reconhecimento do ofício<br />
de professor como o de um profissional é vista como legítima para os entrevistados.<br />
Para tanto, é preciso defender o ofício do professor como profissão, que também se<br />
caracteriza por trabalho, tendo em vista que trata-se de uma atividade de subsistência e de<br />
organização da sociedade. Contudo, mais do que um trabalho trata-se de uma profissão, pois é<br />
necessária uma formação específica e apreensão de saberes específicos. Constrói-se assim a<br />
profissionalidade docente.<br />
O professor de educação infantil que já foi visto como babá, tia, enfim, como figura de<br />
caráter materno e não profissional, tem conquistado avanços com relação à imagem que se tem de<br />
seu trabalho, que é também profissão. Fica clara a importância da formação inicial para atuar<br />
nessa etapa educativa, dadas suas especificidades.<br />
RESULTADOS PARCIAIS<br />
Os resultados parciais deste estudo apontam para a necessidade de se refletir a respeito da<br />
formação inicial de professores de educação infantil e qual o perfil profissional se pretende<br />
formar, uma vez que é por meio dela que se (re) constrói a profissionalidade com vistas ao<br />
fortalecimento e valorização docentes.<br />
CONSIDERAÇÕES PARCIAIS<br />
Por meio das entrevistas realizadas e de sua análise, pudemos inferir que quando se pensa<br />
na formação inicial de professores de educação infantil e construção de uma profissionalidade<br />
para esses que por muito tempo não foram vistos como profissionais, a questão do perfil que está<br />
sendo formado e a imagem que está sendo construída tornam-se ainda mais preocupantes, em<br />
vista da necessidade de busca pela valorização profissional para esta etapa da educação,<br />
reconhecendo seus saberes e sua formação enquanto necessários na atuação docente.<br />
Foi na análise das falas dos sujeitos da pesquisa que essa preocupação tomou forma, uma<br />
vez que percebemos que, para um dos entrevistados: o professor da educação infantil não é um<br />
professor, é um observador, facilitador de aprendizagens. Ora, é essa a imagem que se constrói<br />
nos cursos de formação inicial? A de que o professor observa? Não atua como mediador? De que<br />
maneira então se estaria construindo a profissionalidade docente?<br />
Ao perpetuarmos esta imagem de professor de educação infantil relacionada a uma figura<br />
maternal que infere cuidados, o gostar de crianças e ―paciência‖, pormenorizando-a socialmente<br />
com o errôneo pretexto de respeitar as especificidades da criança, estamos também retrocedendo<br />
nos avanços científicos da área, desconsiderando a necessária formação de indivíduos críticos, os<br />
quais necessitam de professores que não tenham medo de ensinar os conhecimentos próprios da<br />
educação infantil.<br />
REFERÊNCIAS<br />
ANGOTTI, M. Semeando o trabalho docente. In.: OLIVEIRA, Z. M. R. (Org.). Educação<br />
Infantil: muitos olhares. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 2001. pp. 51-68.<br />
61
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 22 de dezembro de<br />
1996. Brasília, DF: MEC, 1996.<br />
FRANCO, M. L. P. B. Análise de conteúdo. Brasília, 3.ed.: Líber livro editora, 2008.<br />
GIMENO SACRISTÁN, J. Consciência e acção sobre a prática como libertação profissional dos<br />
professores. In: NÒVOA, A. (org.). Profissão professor. Portugal: Porto, 1991.<br />
A FORMAÇÃO MATEMÁTICA DAS FUTURAS PROFESSORAS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO<br />
FUNDAMETAL<br />
Resumo<br />
Ana Paula Araujo Mota<br />
Mestranda da <strong>PUC</strong> CAMPINAS (ana.pam@puccampinas.edu.br)<br />
Maria Auxiliador Bueno Andrade Megid<br />
Professora da <strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong> (dmegid@puc-campinas.edu.br)<br />
Agência Financiadora: CAPES<br />
O presente trabalho configurou-se a partir de nossas inquietações relacionadas à formação inicial de<br />
professoras dos primeiros anos do Ensino Fundamental, no que se refere à matemática. Elegemos dois<br />
aspectos para nós inquietantes, que se configuraram nas seguintes questões: Quais são os enfrentamentos<br />
de futuras professoras dos primeiros anos do ensino fundamental em sua formação inicial no que se refere<br />
à reconstrução de conteúdos relacionados à matemática a ser ensinada neste ciclo da aprendizagem?<br />
Como tais dificuldades podem ser abordadas numa disciplina na formação inicial de professores? Na<br />
busca de tais respostas, tivemos por objetivo compreender as dificuldades manifestadas pelas alunas de<br />
Pedagogia em uma disciplina que focava o ensino de matemática, e as contribuições que são possíveis<br />
quando a matemática é apresentada e refletida a partir de reflexões e produções das alunas envolvidas<br />
sobre os conceitos ensinados. Elencamos as principais dificuldades enfrentadas pelas alunas (futuras<br />
professoras) de uma disciplina voltada para os aspectos metodológicos e conceituais do Ensino de<br />
matemática do curso de Pedagogia da <strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong>, buscando verificar como os conteúdos são<br />
trabalhados na referida disciplina visando a sua reconstrução pelas alunas. A perspectiva metodológica foi<br />
de natureza qualitativa e utilizamos como técnica para coleta de dados: documentos oficiais da instituição;<br />
as narrativas pessoais das alunas; observações e notas de campo. Os dados foram interpretados e<br />
categorizados à luz do referencial teórico de formação de professores e estudos sobre práticas<br />
pedagógicas. Com esta pesquisa espera-se contribuir com a produção de novos conhecimentos<br />
relacionados à formação inicial de professores dos primeiros anos do Ensino Fundamental, que vão<br />
ensinar matemática. Ainda possibilitar reflexões sobre as políticas públicas de formação inicial de<br />
professores para essa modalidade no que se refere ao ensino de matemática. Tais expectativas se devem ao<br />
fato de que ainda há pouca divulgação de trabalhos que abordam este tema.<br />
Palavras-chave: Formação de professores; ensino de matemática; curso de pedagogia.<br />
1– INTRODUÇÃO<br />
A política educacional brasileira conforme Saviani (2008, p.7) é marcada pela histórica escassez<br />
de recursos financeiros destinados à educação pública e à sua descontinuidade. Também são históricas as<br />
medidas educacionais acionadas pelo Estado através de sequências intermináveis de reformas, cada qual<br />
prometendo a solução definitiva dos problemas que vão se perpetuando indefinidamente.<br />
62
Não é nossa intenção discutir essas reformas que ao longo do tempo vêm modificando o ensino,<br />
mas analisar como tem se dado a formação inicial de professores para os anos iniciais do ensino<br />
fundamental nos dias atuais. Dessa forma, discutiremos aspectos relacionados à legislação que<br />
regulamenta a formação de professores para os anos iniciais do ensino fundamental.<br />
A pesquisa foi realizada numa disciplina voltada para a matemática num curso de Pedagogia na<br />
<strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong>. A escolha das participantes deu-se por meio de um convite direcionado às 25 alunas<br />
participantes da disciplina, sendo que sete entre elas aceitaram participar da pesquisa.<br />
Na busca de compreender as dificuldades indicadas pelas alunas participantes da pesquisa,<br />
solicitamos que fizessem narrativas relacionadas às suas memórias de aprendizagem, contando quais<br />
foram as suas dificuldades relacionadas aos conteúdos aritméticos no período da educação básica.<br />
Além desta narrativa inicial, outras eram solicitadas ao término de cada aula, se constituindo<br />
numa metodologia da professora da disciplina de matemática, sendo usadas para proporcionar a reflexão<br />
por parte das alunas sobre suas crenças em relação aos conteúdos aritméticos.<br />
1.1 - FORMAÇÃO DE PROFESSORES NOS ANOS INICIAIS<br />
Compreendemos que a formação de professores de um modo geral não pode estar desarticulada do<br />
ensino, dos conteúdos, dos objetivos propostos para cada modalidade de ensino. Nem sempre nos<br />
preocupamos com o tipo de educação que é coerente com a formação daqueles que convivem em<br />
determinada sociedade.<br />
Gatti e Barreto (2009), realizaram uma pesquisa sobre os embates e desafios relacionados à<br />
formação de professores do Brasil. As autoras apresentam as estruturas formativas antes da lei 9.394/96,<br />
mostrando que:<br />
O licenciado fica entre duas formações estanques, ―com identidade problemática:<br />
especialista em área especifica ou professor? Matemático ou professor de matemática?<br />
Geógrafo ou professor de geografia? Físico ou professor de física? (GATTI, 1992, p.71).<br />
Questão que até hoje está em pauta quando se estudam essas formações. (GATTI e<br />
BARRETO, 2009, p.41)<br />
Essa discussão ainda é presente nos cursos de pedagogia, assim como, o quê ou que profissional<br />
deve formar? Professores para os anos iniciais ou especialistas da educação? Ou ainda, será que daria<br />
conta de formar os dois? Gatti (2009, p. 41) com bases nos estudos à época, indica que esses modelos de<br />
formação eram questionados e que os ajustes feitos pela legislação eram tanto fragmentados, ficando a<br />
necessidade de integração entre às disciplinas especificas, formação educacional geral e didática que<br />
considerasse o nível de ensino; outro fator indicado foi a necessidade de formadores preparados para<br />
realizar formação de professores e um novo conceito de profissionalização dos professores baseado na<br />
proposta de continuum de formação.<br />
Nesse contexto é que a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96 foi editada,<br />
trazendo diversas mudanças em relação às leis anteriores. Como exemplo, temos as alternativas de<br />
formação em cursos de curta duração e a inclusão da educação infantil (creches e pré-escolas) como a<br />
primeira etapa da educação básica, além de propostas de alterações para as instituições formadoras de<br />
professores. No entanto, a estrutura curricular dos cursos de formação de professores, conforme Gatti e<br />
Barreto (2004, p.41), ficou ainda com a marca da legislação anterior por um período relativamente longo,<br />
iniciando-se as primeiras adaptações de currículo a partir de 2002 com a promulgação das diretrizes<br />
curriculares para formação de professores e, nos anos subsequentes, com a aprovação pelo Conselho<br />
Nacional de Educação de diretrizes curriculares para cada curso de licenciatura.<br />
O Art. 62 da atual LDB estabelece que a formação para o Exercício do magistério para atuar na<br />
educação básica deverá ser em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em<br />
universidades e institutos superiores de educação ou em nível médio, na modalidade normal.<br />
63
Encontramos no Art. 63 da LDB 9.394/96 que os Institutos Superiores de Educação — ISE —,<br />
manterão os cursos direcionados à formação de professores para a educação básica, assim como o curso<br />
normal superior destinado tanto à formação de professores da educação infantil como dos primeiros anos<br />
do ensino fundamental.<br />
Dessa forma o profissional formado no curso de pedagogia ou nos ISE será responsável por<br />
ministrar todas as disciplinas do currículo dos anos iniciais do ensino fundamental. A indagação sobre a<br />
qual buscamos refletir diz respeito à formação desses professores. Ou seja, qual é a formação necessária<br />
para que o professor dos anos iniciais do Ensino Fundamental tenha conhecimento necessário para abordar<br />
tantas disciplinas?<br />
Essa é uma discussão que tem grande repercussão no meio acadêmico, principalmente quando se<br />
tem buscado discutir a identidade do curso de Pedagogia. Tal curso está dedicado à formação tanto do<br />
especialista em educação quanto do professor da educação infantil e dos anos iniciais do ensino<br />
fundamental.<br />
A seguri, traremos uma discussão a cerca de como tem se efetivado essa formação de professores<br />
no curso de pedagogia.<br />
Nesse período de estabelecimento da LDB 9.394/96, conforme indica Gatti e Barreto (2009, p.41),<br />
foi fixado o prazo de dez anos para que os sistemas de ensino fizessem as devidas adequações, uma vez<br />
que, a maioria dos professores dos anos iniciais do ensino fundamental nessa época possuía apenas<br />
formação no magistério, em nível de Ensino Médio. Também havia uma grande quantidade de professores<br />
leigos, sem nenhuma formação específica. Estes aspectos exigiriam, para os mesmos autores, tempo,<br />
esforço e financiamento para oferecer uma formação em nível superior para estes professores.<br />
Em 2002 foram instituídas diretrizes curriculares nacionais que direcionariam princípios,<br />
fundamentos a serem considerados na organização institucional e curricular de estabelecimentos de ensino<br />
que possuíssem cursos em licenciatura plena para a formação de professores da educação básica.<br />
No Art. 3° dessas diretrizes encontramos os ―princípios norteadores‖ que regulamentaram a<br />
formação de professores para a prática profissional na educação básica, como: a coerência entre formação<br />
oferecida e a prática esperada denominada de simetria invertida; aprendizagem como processo de<br />
construção de conhecimento; conteúdos como instrumento da constituição de competências; avaliação<br />
como ferramenta do processo de formação e diagnóstico dos resultados e a pesquisa como foco no<br />
processo de ensino e de aprendizagem.<br />
Ainda conforme as mesmas diretrizes, os cursos de formação de professores para a educação<br />
básica deveriam adequar seus projetos pedagógicos às exigências presentes nas diretrizes no prazo de dois<br />
anos e os novos cursos só seriam autorizados se contemplassem essas exigências.<br />
Em 2006 o Conselho Nacional de Educação direciona as Diretrizes Curriculares que<br />
regulamentam o curso em Pedagogia. No que se refere ao perfil do profissional que o curso de pedagogia<br />
deve formar encontramos no Art. 5° que este profissional deve está preparado para atuar com ética e<br />
compromisso no desenvolvimento de uma sociedade mais justa; compreender e educar crianças de zero a<br />
cinco anos visando o seu desenvolvimento físico, cognitivo e social; atuar em ambientes não escolares;<br />
ensinar as disciplinas propostas para o currículo dos anos iniciais do ensino fundamental de forma<br />
interdisciplinar e adequada a fase de desenvolvimento humano; relacionar linguagem dos meios de<br />
comunicação à educação e aos trabalhos em equipe estabelecendo diálogo entre a área da educação e<br />
demais áreas; promover relações de cooperação entre a escola, família e sociedade; participar da gestão no<br />
que se refere à elaboração, implementação, coordenação, acompanhamento e avaliação do projeto<br />
pedagógico; realizar pesquisa que possibilite conhecer e identificar problemas socioculturais e<br />
educacionais com postura investigativa, assim como demonstrar consciência da diversidade, respeitando<br />
as diferenças.<br />
Nesse sentido, o Projeto político pedagógico das instituições de ensino que formam esses<br />
profissionais deve contemplar os requisitos supracitados e organizá-los de forma integrada no decorrer da<br />
duração do curso.<br />
64
Com relação à carga horária do curso de Pedagogia, o Art. 7° das diretrizes define a carga horária<br />
mínima de 3.200 horas de efetivo trabalho acadêmico, distribuídas em: 2.800 horas dedicadas às<br />
atividades formativas que englobam seminários, pesquisas, consultas a bibliotecas e centros de<br />
documentação, visitas a instituições educacionais e culturais, atividades práticas e participação em grupos<br />
de estudos; 300 horas para Estágio Supervisionado, prioritariamente realizadas em salas de Educação<br />
Infantil e de anos iniciais do Ensino Fundamental. Ainda, 100 horas de atividades teórico-práticas de<br />
aprofundamento em áreas especificas de interesse dos alunos, por meio da iniciação cientifica, da extensão<br />
e da monitoria.<br />
Analisando os aspectos contidos nessas diretrizes, as autoras Nacarato, Mengali e Passos (2009)<br />
trazem algumas reflexões sobre a formação específica matemática de professores dos anos iniciais do<br />
ensino fundamental, foco de pesquisa dessas pesquisadoras. Argumentam que muito ainda precisa ser feito<br />
a fim de contemplar o desafio de ensinar matemática (e também as outras disciplinas ministradas nos anos<br />
iniciais do Ensino Fundamental), o que nem sempre ocorre no âmbito dos cursos de Pedagogia, como<br />
enfatizam as autoras.<br />
As autoras, ancoradas em Carvalho (2000), esclarecem que os currículos elaborados nesse período<br />
apresentam propostas com intenção construtivista no que se refere às tendências didático-pedagógicas,<br />
como: a criação de ambientes em que os alunos pudessem construir conceitos matemáticos e tivessem<br />
aprendizagem com significado. Entretanto ainda predomina a grande ênfase nos conteúdos, ―sem oferecer<br />
ao professor sugestões de abordagens metodológicas compatíveis com a filosofia anunciada na proposta‖<br />
(idem, p.17)<br />
1.2 - DIFICULDADES INDICADAS PELAS ALUNAS NA DISCIPLINA DE MATEMÁTICA<br />
No curso de Pedagogia da <strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong>, local onde nossa pesquisa se realizou, a matriz<br />
curricular disponibiliza duas disciplinas específicas voltadas para a matemática, intituladas Matemática A<br />
— que estuda a constituição histórica da matemática e os elementos constitutivos do ensino desta área<br />
curricular: números, conjuntos, geometria, formas e medidas —; e Matemática B — que estuda os<br />
números naturais e decimais, os elementos constitutivos da geometria e o tratamento da informação;<br />
analisa cartilhas e livros didáticos de matemática; estuda materiais didáticos auxiliares ao ensino da<br />
matemática. Na 1ª disciplina, foco da nossa atenção e local onde foram coletados os dados, a professora<br />
utilizou-se das narrativas como principal metodologia, além de atividades exploratório investigativas,<br />
realizadas individualmente ou em grupos, painéis de síntese e exposições orais.<br />
No 1° semestre de 2010, participamos das aulas da disciplina Matemática A. O contato foi muito<br />
importante com as alunas 4 , uma vez que, a partir desse momento começaram a serem estabelecidos<br />
vínculos de respeito e amizade.<br />
As narrativas feitas nas aulas da disciplina Matemática A, objetivaram auxiliar na reflexão sobre<br />
as experiências vivenciadas pelas alunas na educação básica e sobre as que vivenciaram como alunas no<br />
curso de pedagogia, com vistas à reconstrução de conteúdos aritméticos.<br />
As narrativas também buscavam trazer as experiências anteriores das alunas com a matemática e<br />
o novo olhar reconstruído relacionado aos aspectos abordados na disciplina.<br />
Nos grupos de estudo e trabalho foram discutidas as potencialidades de recursos como: material<br />
dourado, ábaco, e outros materiais envolvendo jogos que podem auxiliar a aprendizagem e o ensino da<br />
matemática, assim como o desenvolvimento cognitivo proporcionado pelos mesmos.<br />
No decorrer da disciplina as alunas demonstravam em suas narrativas diárias sobre as aulas as<br />
seguintes dificuldades:<br />
Descobrimos que praticamente todas usamos técnicas tradicionais para resolver<br />
contas (N3).<br />
4 Referimo-nos a alunas a partir dessa parte porque na referida turma só havia pessoas do sexo feminino.<br />
65
Tenho interiorizado que somar é mais fácil (N6).<br />
Fazer contas de uma maneira diferente parece difícil por que somos acostumadas a<br />
fazer do jeito tradicional (N5).<br />
Com relação à adição, as alunas consideravam fácil realizar contas usando técnicas tradicionais.<br />
Entretanto, ao serem instigadas a pensar em outras possibilidades, outros caminhos para efetuá-las,<br />
surgiram desconfianças e questionamentos. Haveria mesmo outras possibilidades?<br />
Ao ser proposto que em duplas deveriam registrar o raciocínio da colega para resolver uma<br />
operação, começavam a perceber que realmente havia diferenças nas formas de resolução. Através dos<br />
jogos, utilizando o material dourado, dados, dominós dentre outros, percebiam a possibilidade de trabalhar<br />
com a adição, subtração, multiplicação ou divisão, usavam a imaginação para construir jogos e regras.<br />
Além de divertido, conseguiam descobrir muitas outras formas de realizar os cálculos. Como exemplo,<br />
trazemos o caso de N4. Esta aluna demonstrou, durante as atividades, sentir dificuldade em se organizar<br />
para jogar.<br />
Na subtração as dificuldades se referem à ideia do ―emprestar‖. Na utilização de material concreto<br />
como o ábaco e o material dourado, as alunas encontravam ainda dificuldade de pensar em estratégias<br />
novas para resolução, uma vez que a forma tradicional aprendida estava muito enraizada em seus<br />
procedimentos, como podemos perceber nos relatos que se seguem:<br />
Faço a subtração do jeito da adição de emprestar um. (N1)<br />
Difícil registrar e calcular a subtração com o dourado (N3)<br />
Tenho trauma de subtração, fiquei um pouco travada, pois nunca usei ábaco e<br />
material dourado, não sabia por quê do um [empresta], mas no final da aula comecei<br />
a visualizar de maneiras diferentes. (N6)<br />
Esta última aluna ainda acrescenta que teve dificuldade de esquecer a forma aprendida para<br />
compreender e começar a usar as formas novas trabalhadas na aula.<br />
O registro nos cadernos de narrativas possibilita esse movimento de repensar as formas utilizadas<br />
para encontrar estratégias diferentes de resolver as operações (NACARATO, MENGALI e PASSOS,<br />
2009).<br />
Na multiplicação encontramos ainda resistência em pensar em possibilidades diferentes de efetuar<br />
essa operação e também permanece, para algumas, a ideia de que para saber multiplicar é preciso saber a<br />
tabuada de cor.<br />
Eu fico brigando comigo mesma, até conseguir acompanhar o raciocínio da<br />
professora (N3).<br />
Resolvemos algumas contas de multiplicação, onde acho que não tem outra forma de<br />
multiplicação; fiquei me perguntando o por quê do sinal de mais na multiplicação.<br />
(N6).<br />
Na minha opinião a multiplicação é muito complicada, principalmente para quem não<br />
sabe a tabuada de cor (como eu), mas gostei muito e estou super ansiosa para saber<br />
outras formas de multiplicação (N7).<br />
Já a divisão, as alunas naquele momento consideravam como a operação mais difícil,<br />
como podemos observar em suas declarações:<br />
A divisão foi a que achei a mais difícil (N1).<br />
Preciso escrever passo a passo para poder entender e faço isso sempre (N3).<br />
tive muitas dificuldades em pensar outras maneiras de fazer a divisão (N5).<br />
A divisão envolve uma série de noções como o trato com a tabuada, a ideia de repartir, a soma de<br />
parcelas iguais, agrupamentos de conjuntos e ainda ―quantos de um cabem no outro‖. Demonstravam<br />
saber resolver a divisão, mas não sabiam o porquê dos procedimentos.<br />
66
Dessa forma, a disciplina de Matemática A trabalhou principalmente as quatro operações<br />
elementares e com diversos materiais que possibilitaram um ensino que de fato fosse significativo para as<br />
alunas.<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Com relação às dificuldades das alunas (futuras professoras dos anos iniciais do ensino<br />
fundamental), podemos perceber que a maioria traz crenças negativas da sua relação com a matemática<br />
em virtude da não compreensão dos conteúdos e da forma tradicional na qual estudavam onde era preciso<br />
sempre acertar para ser um bom aluno.<br />
A partir da metodologia trabalhada na disciplina de Matemática A no curso de pedagogia que se<br />
refere à escrita das narrativas, as atividades exploratório-investigativas, os trabalhos individuais e em<br />
grupos, as socializações, dentre outras estratégias, todas permeadas pelo movimento da reflexão nessas<br />
atividades, a percepção diferenciada do erro e de como as duvidas podem ser trabalhadas no âmbito da<br />
sala de aula, as atividades passam a ser consideradas como potencializadoras. Nessa direção, uma nova<br />
concepção passa a ser indicada pelas alunas em relação à matemática: a de conseguir resolver velhos<br />
problemas e operações com novas e diferentes estratégias, assim como compreender os significados dos<br />
conteúdos antes desvinculados das suas realidades.<br />
As contribuições que uma disciplina que utiliza essas estratégias para trabalhar os conteúdos pode<br />
trazer vai ao encontro de (re) construir saberes necessários à docência e proporcionar um ensino<br />
diferenciado do que aquele que essas alunas receberam em seus anos iniciais. As mesmas entendem ser<br />
importante proporcionar atividades pautadas pela compreensão dos conteúdos, que de fato, tornem-se<br />
significativas para a realidade dos alunos.<br />
O que pudemos perceber, a partir das elaborações das alunas, é que a proposta de formação de<br />
professores, sobretudo no que se refere à matemática, objeto deste nosso estudo, ainda está longe de ser<br />
contemplada. A formação de professores, conforme os dados encontrados nesse recorte da nossa pesquisa<br />
nos fizeram constatar, ainda necessita de ser estudada e avaliada, fornecendo melhores recursos,<br />
aprofundando os conhecimentos necessários para a docência.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS<br />
BRASIL. Direrizes Nacionais para o Curso de Pedagogia<br />
http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_06.pdf. Acesso em 10 mar.2010<br />
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9.394/96 Disponível em<br />
http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=102480. Acesso em 10 mar. 2010.<br />
GATTI, Bernadete Angelina e BARRETO, Elba Siqueira de Sá. Professores do Brasil: impasses e<br />
desafios. Brasília: UNESCO, 2009.<br />
NACARATO, Adair. M, MENGALI, Brenda. L. S. e PASSOS, Carmen. L. A matemática nos anos<br />
iniciais do ensino fundamental: tecendo fios do ensinar e do aprender. Belo Horizonte: Autêntica<br />
editora, 2009 (Tendências em Educação Matemática)<br />
SAVIANI, Dermeval. Política educacional brasileira: limites e perspectivas. Revista de Educação<br />
<strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong>. n° 24, p. 07-16. <strong>Campinas</strong>: Flamboyant Ltda, jun/2008<br />
67
O ENSINO FUNDAMENTAL DE 9 ANOS: ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA PERSPECTIVA DO<br />
PROGRAMA MINEIRO “ALFABETIZAÇÃO NO TEMPO CERTO”<br />
Resumo<br />
Andréa Maria Martins Chiacchio<br />
Eixo temático: Formação de Professores e Práticas Pedagógicas<br />
Modalidade: Apresentação Oral<br />
Aborda-se a política educacional de Minas Gerais, com especial interesse na formação continuada de<br />
professoras de primeiros anos do novo Ensino Fundamental para o trabalho com a alfabetização e o<br />
letramento. O estado de Minas Gerais manifesta grande preocupação com o desempenho de leitura e<br />
escrita dos alunos; em 2008, almejando alcançar a meta estabelecida de ―que todas as crianças estejam<br />
lendo e escrevendo aos oito anos de idade‖, a SEE-MG lança o Programa de Intervenção Pedagógica<br />
Alfabetização no Tempo Certo (PIP). O PIP apresenta fundamentos teórico-metodológicos como<br />
subsídios na formação do professor alfabetizador para operacionalização do Ensino Fundamental de 9<br />
anos. Com a formação dos alfabetizadores o programa visa garantir oportunidades educativas relativas às<br />
capacidades básicas de alfabetização e letramento que os alunos devem dominar em cada ciclo de<br />
alfabetização. Trata-se de pesquisa qualitativa, fundamentada nos trabalhos de Magda Soares, Ângela<br />
Kleiman e na abordagem histórico-cultural de Vigotski em que, através do acompanhamento das reuniões<br />
de formação continuada, busca-se analisar as propostas de instrumentalização conceitual e técnica do<br />
trabalho das docentes de uma escola estadual mineira. Com as análises do material empírico, tem sido<br />
possível identificar o lugar destinado aos materiais fornecidos pela Secretaria do Estado de Educação de<br />
Minas Gerais para fundamentar as práticas pedagógicas (os Cadernos do Centro de Alfabetização e<br />
Letramento da Universidade Federal de Minas Gerais-Ceale/UFMG – e o material produzido para o<br />
programa de Intervenção Pedagógica- PIP), bem como as concepções das participantes das reuniões sobre<br />
alfabetização e letramento. Os resultados parciais indicam (i) tímida abordagem dos materiais<br />
disponibilizados, (ii) forma pragmática de operar com os recursos oferecidos (iii) aspectos das concepções<br />
de alfabetização e letramento explicitadas pelas professoras que merecem ser problematizados. Pretendese<br />
com este trabalho contribuir para reflexões sobre alfabetização e letramento com as professoras dos<br />
anos iniciais do Ensino Fundamental e expandi-las para os processos de implantação e implementação de<br />
políticas públicas.<br />
Palavras-chave: alfabetização e letramento, ensino fundamental de 9 anos, formação de alfabetizadores<br />
A RELAÇÃO AFETIVIDADE E APRENDIZAGEM, A FORMAÇÃO DE PROFESSORES E AS<br />
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS<br />
Resumo<br />
Angélica Niero Mendes dos Santos<br />
angelicaniero@terra.com.br<br />
Profa. Dra. Elvira Cristina Martins Tassoni<br />
cristinatassoni@gmail.com<br />
Eixo temático: Formação de professores e práticas pedagógicas<br />
Comunicação Oral<br />
Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong>, <strong>Campinas</strong> – São Paulo<br />
68
Este trabalho é um recorte de pesquisa de Iniciação Científica que teve como um dos objetivos<br />
problematizar a relação entre afetividade e aprendizagem. Partiu de um levantamento<br />
bibliográfico dos trabalhos apresentados na ANPEd (Associação Nacional de Pós-Graduação e<br />
Pesquisa em Educação), no período de 2000 a 2010, no GT20 – Psicologia da Educação.<br />
Pesquisar sobre as influências da afetividade nos processos de aprendizagem justifica-se no<br />
sentido de promover a ampliação das discussões a respeito da indissociabilidade dos domínios<br />
afetivo e cognitivo, contribuindo para as reflexões sobre as práticas pedagógicas e as formas com<br />
que podem influenciar a relação dos alunos com os objetos de conhecimento. A ANPEd foi<br />
escolhida como fonte de nossa coleta de dados por constituir-se um importante fórum de debates<br />
das questões científicas e políticas da área da Educação no Brasil, e, concentrar nossas buscas nos<br />
textos apresentados no GT20 – Psicologia da Educação, justifica-se em razão da aproximação<br />
deste com nosso objeto de estudo. Fundamentamos a metodologia de pesquisa em uma<br />
abordagem qualitativa de investigação, cuja técnica de análise e interpretação dos dados adotada<br />
foi a análise de conteúdo qualitativa aplicada aos trabalhos completos apresentados no GT20. Os<br />
textos, numa primeira fase, foram selecionados a partir de descritores indicativos da discussão<br />
sobre a afetividade e sua relação com a aprendizagem presentes nos títulos. Em um segundo<br />
momento foi realizada a leitura dos resumos destes textos buscando indicadores que revelassem<br />
mais detalhes sobre as relações entre afetividade e aprendizagem nas produções científicas<br />
selecionadas inicialmente. Esse levantamento resultou em 24 produções que foram lidas na<br />
íntegra, destacando as ideias principais sobre a temática em questão. Foi possível construir um<br />
panorama a respeito dos estudos sobre afetividade e sobre a forma como a relação afetividade e<br />
aprendizagem vem sendo discutida pelos pesquisadores, possibilitando compreender as relações e<br />
influências entre ambas, contribuindo para as discussões no âmbito da formação de professores e<br />
das práticas pedagógicas. Os dados possibilitaram concluir que a temática, ao longo do período<br />
pesquisado, sempre esteve presente nas discussões, embora haja lacunas nessa articulação entre<br />
afetividade e aprendizagem.<br />
Palavras-chave: afetividade e aprendizagem; sentimentos e emoções; mediação pedagógica,<br />
processo ensino-aprendizagem; formação de professores.<br />
INTRODUÇÃO<br />
Esta pesquisa faz um levantamento dos trabalhos apresentados na Associação Nacional de<br />
Pós-Graduação e Pesquisa em Educação – ANPEd, no período de 2000 a 2010, tendo como<br />
objetivo principal rastrear as produções científicas atuais que discutem a questão da afetividade e<br />
a sua relação com a aprendizagem.<br />
A escolha pela ANPEd justifica-se pela relevância que esta apresenta no cenário<br />
educacional, já que concentra significativa parcela da produção científica em Educação. Ela se<br />
organiza em 23 Grupos de Trabalho (GTs) 5 mas, por sua aproximação com nosso objeto de<br />
estudo, concentramos nosso levantamento no GT20 – Psicologia da Educação.<br />
Utilizamos o período de 2000 a 2010 para a realização do estudo, pois é a partir da 23ª<br />
Reunião Anual da ANPEd, que os textos estão disponíveis on-line no site do evento, facilitando o<br />
acesso ao material.<br />
Esta pesquisa fundamenta-se numa abordagem qualitativa de investigação, cuja técnica de<br />
análise e interpretação dos dados adotada foi a análise de conteúdo.<br />
5 Para maiores informações sobre cada GT acesse: http:\\www.anped.org.br<br />
69
Para o levantamento das produções, pautamo-nos em duas questões norteadoras: em que<br />
perspectivas teóricas os estudos sobre a afetividade têm sido abordados e discutidos? E em que<br />
medida tais estudos contemplam as influências dos aspectos afetivos nos processos de<br />
aprendizagem?<br />
Acreditamos na importância de se pesquisar sobre a afetividade na escola,<br />
compreendendo que na dinâmica da sala de aula circulam conhecimentos e sentimentos,<br />
constituindo-se, então, aspecto essencial para a reflexão das práticas pedagógicas e para a<br />
formação do professor.<br />
Apresentamos, a seguir, cada etapa dos procedimentos e apresentamos os resultados<br />
encontrados na pesquisa.<br />
A PESQUISA<br />
Após uma exploração detalhada do site da ANPEd de modo a conhecer suas<br />
especificidades, iniciamos à pesquisa propriamente dita. Para tal, fundamentamos a metodologia<br />
em Bardin (1977), que sugere três etapas de trabalho para o estudo bibliográfico: a pré-análise; a<br />
exploração do material coletado; e o tratamento das informações obtidas, a inferência e a<br />
interpretação.<br />
A pré-análise envolve a preparação do material a ser pesquisado. Nessa etapa, fizemos a<br />
primeira seleção das produções que poderiam contribuir para nossos estudos. Buscamos no título<br />
das produções os seguintes descritores: afetividade; subjetividade; processo ensinoaprendizagem;<br />
sentimentos e emoções; mediação pedagógica; psicologia e/da educação;<br />
sucesso/insucesso escolar; fracasso escolar; relação professor-aluno. Obtivemos um total de 77<br />
produções.<br />
Para garantir a aproximação do material selecionado com nosso objeto de estudo<br />
realizamos, ainda na pré-análise, o procedimento que Bardin (1977) denominou de ―leitura<br />
flutuante‖, que consiste em entrar em contato com o texto e permitir ser inundado pelas<br />
impressões que este traz. Neste procedimento buscamos angariar, através de descritores, as<br />
produções que davam indícios da validade da produção para nossa pesquisa. Os descritores<br />
utilizados para a seleção foram: afetividade; afetividade e aprendizagem; afetividade e cognição;<br />
sentimentos e emoções; relação professor-aluno; produção de significados e sentidos;<br />
subjetividade relacionada à identidade do aluno/estudante; subjetividade como constituição dos<br />
sujeitos nas relações sociais, relação eu/outro; sujeito histórico; subjetividade na Psicologia.<br />
Após esse procedimento ficamos com um total de 37 produções que passaram pela<br />
segunda etapa de tratamento de dados, que segundo Bardin (1977), consiste na exploração do<br />
material coletado.<br />
Realizamos a leitura completa e o fichamento de cada uma das produções, destacando as<br />
ideias centrais, bem como nossas impressões acerca do conteúdo apresentado. Nessa fase do<br />
trabalho, foram descartadas 13 delas, pois tratavam da afetividade de maneira periférica.<br />
Obtivemos um total de 24 produções.<br />
A Tabela 1 mostra o caminho percorrido para chegarmos ao número final de produções<br />
utilizadas em nosso estudo.<br />
Tabela 1. Quantidade total de produções apresentadas no GT20 – Psicologia da Educação<br />
da ANPEd e a quantidade de produções selecionadas em cada etapa do trabalho: pelo<br />
título, pelo resumo e pela leitura do texto completo.<br />
70
Reunião<br />
Total de<br />
produções<br />
apresentadas na<br />
reunião<br />
(GT20)<br />
Total de<br />
produções<br />
selecionadas por<br />
título (GT20)<br />
Total de<br />
produções<br />
selecionadas por<br />
resumo (GT20)<br />
Total de<br />
produções<br />
selecionadas pela<br />
leitura do texto<br />
completo (GT20)<br />
23ª – 2000 19 6 2 1<br />
24ª – 2001 29 11 6 4<br />
25ª – 2002 23 4 3 2<br />
26ª – 2003 35 6 4 3<br />
27ª – 2004 20 5 4 2<br />
28ª – 2005 33 11 4 2<br />
29ª – 2006 17 7 1 1<br />
30ª – 2007 17 6 2 1<br />
31ª – 2008 35 10 6 5<br />
32ª – 2009 33 5 3 1<br />
33ª – 2010 12 6 2 2<br />
TOTAL 273 77 37 24<br />
Realizamos a última etapa da metodologia de pesquisa – o tratamento das informações<br />
obtidas, a inferência e a interpretação – com 24 produções. Neste momento retomamos as<br />
questões norteadoras do estudo. Optamos, para fins didáticos, descrever a análise de cada um dos<br />
problemas separadamente.<br />
O primeiro problema da pesquisa<br />
Debruçamo-nos primeiramente no problema: Em que perspectivas teóricas os estudos<br />
sobre a afetividade têm sido abordados e discutidos? Buscamos, então, categorizar as produções<br />
de acordo com o referencial teórico que os autores utilizaram para discutir a afetividade, de forma<br />
a construir um panorama geral destes estudos.<br />
Das 24 produções finais que seriam analisadas, sete discutiram a afetividade sob a<br />
perspectiva de Wallon, assumindo a constituição do indivíduo como um todo composto pelos<br />
domínios cognitivo, afetivo e motor, formando o que este teórico denomina de ―pessoa‖.<br />
Os textos exploraram uma das maiores contribuições da teoria de Wallon para o estudo da<br />
afetividade – a ideia de que esta refere-se a um conjunto que compreende emoções, sentimentos e<br />
paixão e que sofre transformações qualitativas ao longo do desenvolvimento dos indivíduos.<br />
Duas das 24 produções abordaram a afetividade sob as perspectivas de Wallon e<br />
Vygotsky, os autores deste trabalho afirmam que estes teóricos comungam de muitas ideias,<br />
dentre elas destacaram o caráter, fundamentalmente, social da dimensão afetiva, a ideia de<br />
transformação da afetividade, e também, a sua indissociável relação com o domínio cognitivo.<br />
Exploraram a afetividade na relação professor-aluno como um aspecto que marca a relação deste<br />
com o objeto de conhecimento.<br />
71
Cinco produções trataram a afetividade à luz da Psicanálise, mais especificamente<br />
segundo Freud. Nestas, a afetividade foi discutida segundo alguns mecanismos psicanalíticos,<br />
como por exemplo, na identificação, na transferência, no luto, na frustração, entre outros.<br />
Essas produções abordaram mecanismos que os homens utilizam para defender-se do<br />
sofrimento, das situações que os afligem, sendo assim, a subjetividade é o aspecto central dessas<br />
discussões. É a forma como as pessoas lidam com as diferentes situações (ingresso na escola,<br />
forma de controlar alunos, pautada em apelos emocionais, etc.) que possui, impreterivelmente,<br />
estreita relação com os sentimentos e as emoções que perpassam o ambiente escolar.<br />
Das 24 produções, apenas uma abordou a questão da afetividade sob a perspectiva<br />
Behaviorista. Neste trabalho, baseado nas contribuições de Skinner, afirma-se que tudo o que se<br />
passa sob a pele humana é uma construção social, incluindo, os sentimentos, as percepções, os<br />
estados e o pensamento.<br />
O Behaviorismo Radical, abordado na produção selecionada, defende o caráter social<br />
daquilo que está sob a pele dos indivíduos. A afetividade, então, pode ser vista nas discussões<br />
sobre os sentimentos, que a produção em questão realiza. Sua manifestação é vista como uma<br />
resposta do indivíduo aos eventos (estímulos) públicos.<br />
Encontramos, ainda, duas produções que abordaram a afetividade na perspectiva<br />
construtivista, pautada em Piaget. Segundo este teórico, o conhecimento é uma construção que se<br />
dá a partir da relação que se estabelece entre sujeito e objeto. E é nessa discussão acerca do<br />
conhecimento e da inteligência, que Piaget traz sua contribuição a respeito da afetividade.<br />
Segundo ele, a afetividade e a inteligência se relacionam de forma indissociável, apesar de serem<br />
de naturezas diferentes. Para ele a afetividade sempre atua no funcionamento do pensamento,<br />
podendo interferir nos processos de desenvolvimento da inteligência.<br />
Apesar de trazer contribuições para o estudo dos aspectos afetivos, são os aspectos<br />
cognitivos que ganham maior destaque na teoria de Piaget.<br />
Das 24 produções selecionadas, apenas uma trouxe a afetividade discutida sob a<br />
perspectiva da Abordagem Centrada na Pessoa, pautada nas ideias desenvolvidas por Carl<br />
Rogers.<br />
Esta produção abordou os sentimentos dos profissionais de educação. Para Rogers a<br />
aprendizagem passa pela afetividade, portanto, é fundamental que se dê vazão aos sentimentos<br />
pessoais, pois estes interferem de maneira efetiva no processo de ensino-aprendizagem.<br />
Encontramos uma produção que situou a afetividade em uma abordagem mais filosófica,<br />
fundamentada em algumas discussões baseadas em Foucault.<br />
Nesta produção a afetividade foi abordada em sua relação com a Arte. A autora explorou<br />
a atribuição de sentido às obras de arte não só por saber sua importância, admirar seu ineditismo<br />
ou sua genialidade, mas afirmou a importância de construir significados pelas sensações que a<br />
obra contém. Desse modo, os afetos são a matéria prima da obra que se transforma na peça<br />
produzida pelo artista. O texto abordou a estreita relação entre pensar e sentir. Baseando-se em<br />
Foucault tal relação se mostra na ideia de que pensar é sentir com a imaginação.<br />
Ainda dentre as 24 produções encontramos duas que se basearam nos estudos do<br />
biólogochileno Maturana, embora tenham feito referência a outros autores como Mafessoli,<br />
Balandier, Morin e Latour.<br />
Maturana trouxe diversas contribuições ao estudo das emoções, classificando-as como o<br />
fundamento da razão. Trazendo esta ideia como norteadora de seu trabalho, rompe com a<br />
dualidade entre razão e emoção, afirmando que ―toda racionalidade seria, ela própria, o<br />
emergente de um emocionar‖ (2008). Maturana destaca o aspecto corpóreo da emoção e, também<br />
72
afirma que as ações do homem decorrem em consequência da emoção, destacando então, que<br />
para compreender as ações do ser humano é preciso conhecer a emoção e, para conhecer a<br />
emoção, é preciso olhar para a ação.<br />
Dentre as 24 produções estudadas, apenas uma se fundamenta nas ideias adaptadas –<br />
segundo a própria autora – de Abric.<br />
Esse texto não aborda especificamente a afetividade, mas as representações dos<br />
professores a respeito do ―fracasso escolar‖. Dentre essas representações os sentimentos de<br />
tristeza, fracasso, desmotivação estão presentes, mas não se constituíram no foco de estudo da<br />
autora.<br />
Uma das produções refere-se a um trabalho encomendado à Fernando Rey e aborda a<br />
subjetividade. Segundo o autor, não se encara a subjetividade individual como algo distinto da<br />
subjetividade social, pois, nenhuma atividade humana pode ser isolada do conjunto de<br />
significações produzidas no mundo em que vivemos (mundo histórico e social).<br />
Pautado na ideia de encarar tanto a escola, como a sociedade e o homem em um conjunto<br />
que está indissociavelmente relacionado, o autor defende a superação de dicotomias como<br />
subjetividade individual e subjetividade coletiva, afetividade e cognição, psicologia e educação.<br />
Para finalizar esta etapa da categorização encontramos uma produção que fez uma<br />
discussão entre os pressupostos de Vygotsky e Freud no que diz respeito ao afeto e a emoção. As<br />
autoras, responsáveis pelo trabalho, afirmaram que o estudo dos sentimentos e emoções<br />
(Vygotsky) e das pulsões (Freud) caracterizam-se como o capítulo mais obscuro da Psicologia.<br />
Magiolino e Smolka (2009) afirmam que apesar das grandes diferenças teóricas que<br />
aparecem nas teorias de Vygotsky e Freud, ambos comungam da ideia de uma concepção monista<br />
de ser humano (razão e emoção como interdependentes).<br />
A Tabela 2 mostra o panorama geral das perspectivas teóricas que os autores têm usado<br />
para o estudo da afetividade.<br />
Tabela 2. Perspectivas teóricas segundo as quais a afetividade foi abordada, nas produções<br />
selecionadas.<br />
Perspectiva teórica (autores) Número de textos selecionados<br />
Wallon e Vygotsky 2<br />
Wallon 7<br />
Freud 5<br />
Skinner 1<br />
Piaget 2<br />
Carl Rogers 1<br />
Foucault 1<br />
Maturana 2<br />
Abric 1<br />
Fernando Rey 1<br />
"Discussão" entre Freud e Vygotsky 1<br />
73
Total 24<br />
Observamos que a maioria das produções é discutida à luz do referencial walloniano. Elas<br />
representam 29,19% do total. Freud vem em segundo lugar sendo representado em 20,83% dos<br />
textos. Esses números demonstram os teóricos que mais norteiam as discussões sobre a<br />
afetividade.<br />
O segundo problema da pesquisa<br />
A partir da construção desse panorama geral dos referenciais teóricos em que a<br />
afetividade foi abordada, passamos a identificar as produções que abordavam a relação entre os<br />
aspectos afetivos e a aprendizagem, buscando repostas para o segundo problema de pesquisa –<br />
Em que medida tais estudos contemplam as influências dos aspectos afetivos nos processos de<br />
aprendizagem?<br />
Depois de analisar e fichar todas as produções constatamos que 21 delas trataram da<br />
afetividade em uma relação indissociável com a aprendizagem, o que representa 87,5% das<br />
produções selecionadas. Algumas abordaram esta relação de forma explícita e com discussões<br />
fundamentadas a respeito do tema, outras apenas citaram essa interdependência ou permitiram<br />
que ela fosse inferida de acordo com o conteúdo de seu texto. Apenas em 3 produções não foram<br />
feitas considerações acerca da relação entre os domínios afetivo e cognitivo.<br />
Trabalhando com o material verificamos que muitas produções trataram a relação<br />
afetividade e aprendizagem de forma superficial, apenas citando a interdependência desses dois<br />
aspectos em poucas linhas, muitas vezes encontradas na introdução ou nas considerações finais<br />
do texto, mais como uma alusão, do que propriamente um assunto a ser discutido.<br />
A relação entre os domínios afetivo e cognitivo vem citada por meio de diversas<br />
denominações: afetividade-aprendizagem, afeto-cognição, razão-emoção, razão-paixão e<br />
concepção monista de ser humano; estas variações de denominação acontecem devido à diferença<br />
de referencial teórico que fundamenta os autores das produções. Cada concepção teórica traz uma<br />
denominação diferente para a discussão do vínculo estabelecido entre os aspectos afetivos e<br />
cognitivos, isso não descaracteriza as discussões que, em sua maioria, direcionam sempre para a<br />
indissociabilidade desses aspectos.<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Durante toda a pesquisa notamos, além do conteúdo manifesto, situações que trazem<br />
elementos para reflexão.<br />
Percebemos que o tema Afetividade tem conquistado seu espaço nas discussões<br />
educacionais. Destacamos que em 2001 e em 2003 foram encomendadas, pelos coordenadores do<br />
GT20 e/ou organizadores da ANPEd, produções que discutiam essa temática. Vemos tal questão<br />
como um avanço nas pesquisas, embora ainda constatemos poucas produções que tratem da<br />
relação interdependente do domínio afetivo e cognitivo, nos ambientes de aprendizagem, de<br />
forma fundamentada.<br />
Observamos que no ano de 2008 as discussões sobre a afetividade foram mais produtivas,<br />
sendo que dos 24 trabalhos selecionados para a etapa da descrição analítica, cinco advém da<br />
Reunião Anual ocorrida nesse ano. Isso sugere que<br />
74
a partir da ampliação dos conhecimentos sobre a emoção e seus complexos processos de<br />
constituição, o conceito de homem centrado apenas na sua dimensão racional, típico da visão<br />
cartesiana, vem sendo revisto, em direção a uma concepção monista de constituição de ser humano,<br />
em que afetividade e cognição passam a ser interpretadas como dimensões indissociáveis do mesmo<br />
processo, não sendo mais aceitável analisá-las isoladamente. (Leite, 2006)<br />
Por analisarmos um importante fórum de pesquisa em educação, percebemos que no ano<br />
de 2008 uma parcela relevante dos pesquisadores nacionais tinha a afetividade como seu objeto<br />
de estudo. Esses dados nos revelam a notoriedade que o tema foi ganhando ao longo dos anos. A<br />
necessidade de pesquisá-lo demonstra sua importância para a compreensão da constituição do<br />
homem e, também, para a educação.<br />
Compreender o conceito afetividade, perceber a relação entre afetividade e aprendizagem,<br />
perceber a sala de aula como um local em que sentimentos e emoções estão presentes desde o ato<br />
de preparar a aula até o momento da avaliação são aspectos fundamentais para a reflexão acerca<br />
das práticas pedagógicas que permeiam a educação.<br />
Em nossos estudos encontramos 24 produções que teciam considerações sobre a<br />
afetividade. Os autores destes trabalhos utilizaram, essencialmente, dez teóricos diferentes para<br />
apoiar suas pesquisas, isso mostra que, as discussões sobre a emoção vêm sendo realizadas por<br />
autores de concepções teóricas distintas, comprovando a importância do papel desempenhado por<br />
ela no desenvolvimento do homem.<br />
Outro ponto bastante discutível diz respeito ao que se entende pela relação afetividade e<br />
aprendizagem, pois em alguns trabalhos os autores não abordam explicitamente essa relação, mas<br />
trazem informações e fazem constatações que se permite enxergar obviamente a interdependência<br />
desses aspectos – há ainda lacunas nessa articulação entre os domínios. Os trabalhos que tratam<br />
da representação dos professores em relação aos alunos, dos alunos em relação ao professor, dos<br />
alunos e professores em relação à escola etc., discutem claramente sobre essa relação<br />
indissociável, mas pouco enfocam teoricamente essa questão. Considerando essa afirmação<br />
deixamos uma pergunta a ser respondida: Representações marcam os processos de avaliação, de<br />
ensino e de aprendizagem; como se discutir, então, as influências da afetividade nessas<br />
representações?<br />
Conseguimos por meio desta pesquisa responder aos dois problemas que impulsionaram<br />
nossos estudos. Mas, o mais interessante é que a terminamos com uma questão já formulada e<br />
outras fervilhando. É essa dinâmica da pesquisa que encanta dos mais recentes pesquisadores e<br />
também aqueles que estão há muitos anos no meio científico.<br />
REFERÊNCIAS<br />
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.<br />
LEITE, S. A. S. O professor inesquecível: a afetividade nas práticas pedagógicas. In: SOUZA, M.<br />
T. C. C.; BUSSAB, V. S. R. Razão e Emoção: diálogos em construção. São Paulo: Casa do<br />
Psicólogo, 2006.<br />
LOPES, E. S. O emocionar de um professor. 31ª Reunião Anual da ANPEd, Caxambu, 2008.<br />
MAGIOLINO, L. L. S.; SMOLKA, A. L. B. Afeto e emoção no diálogo de Vygotsky com Freud:<br />
apontamentos para a discussão contemporânea. 32ª Reunião Anual da ANPEd, Caxambu, 2009.<br />
75
UM ESTUDO SOBRE A ESPIRITUALIDADE NAS AÇÕES PEDAGÓGICAS DOS PROFESSORES<br />
Resumo<br />
Antonio Douglas de Moraes<br />
Mestre em Educação<br />
UNICAMP - SP<br />
Eixo Temático: Formação de professores e práticas pedagógicas<br />
Comunicação Oral<br />
Antonio Douglas de Moraes (UNICAMP – SP)<br />
douglasedu2009@gmail.com<br />
Orly Zucatto Mantovani de Assis (UNICAMP – SP)<br />
orly.zma@gmail.com<br />
O objetivo da presente pesquisa foi verificar se o perfil espiritual do professor se manifesta no relato dos professores<br />
pesquisados sobre o seu fazer pedagógico. O marco teórico que fundamenta este trabalho permitiu entender a<br />
espiritualidade como uma dimensão inerente ao psiquismo humano. Para responder ao problema formulado<br />
utilizou-se de uma metodologia de pesquisa quantitativa e qualitativa. A metodologia quantitativa foi utilizada para<br />
avaliar o perfil espiritual de 30 professores da escola A (confessional) e 30 professores da escola B (pública). A<br />
abordagem qualitativa constou de uma entrevista com 10 professores que apresentaram o perfil espiritual mais<br />
elevado em cada uma das escolas, com o objetivo de verificar se eles admitem que a sua espiritualidade se revela no<br />
seu fazer pedagógico e como ocorre essa manifestação. O tratamento estatístico e a análise qualitativa das respostas<br />
às entrevistas permitiram constatar que a espiritualidade dos professores entrevistados manifesta-se na maneira pela<br />
qual interagem com seus alunos, trabalham os conteúdos curriculares e no ambiente sócio-afetivo propiciados em<br />
suas salas. Diferentemente do que era esperado o perfil espiritual dos professores não foi influenciado pelo tipo de<br />
escola em que atuavam, nem pela idade dos participantes e, tampouco, pela religião que professam. A formação<br />
acadêmica dos professores entrevistados também não influenciou os resultados que os mesmos apresentaram no<br />
instrumento PEP (Perfil Espiritual Pessoal). Os fundamentos teóricos da pesquisa, bem como a análise e discussão<br />
dos resultados encontrados possibilitaram que fossem feitas inferências sobre como a manifestação da<br />
espiritualidade do professor pode assegurar a criação de um ambiente sócio-afetivo que se caracteriza pelo respeito<br />
mútuo, trocas por reciprocidade entre os alunos, tomada de decisão conjunta, professor e aluno, por promover a<br />
autonomia moral e intelectual do aluno. Os futuros estudos poderão superar as limitações desta pesquisa e<br />
corroborar para o entendimento da relação entre Espiritualidade e Educação.<br />
Palavras-chave: Educação; Psicologia; Espiritualidade; Religiosidade; Pedagogia.<br />
INTRODUÇÃO<br />
O ambiente escolar não pode prescindir de uma reflexão sobre o conceito de pessoa e, em<br />
particular, os educadores não podem deixar de pensar a própria missão de suscitar e provocar nos<br />
alunos um apego às exigências das principais necessidades do ser humano, sobretudo a dimensão<br />
espiritual. A busca de sentido deve ser considerada como seiva que alimenta todas as áreas de<br />
conhecimento e atitudes pedagógicas e a complexidade possibilitará a todos um olhar e por que<br />
não citar aqui ―um olhar sobre o olhar que olha‖ Petraglia (2001). Para que a experiência do<br />
aluno na escola não seja um mal necessário, não seja um campo de dor e vazio, para que suas<br />
76
perdas e desencontros sejam considerados e para que suas vidas não sejam apenas contabilizadas<br />
ou numeradas, propôs-se uma pesquisa sobre a dimensão espiritual do professor.<br />
O aluno, como pessoa, pode expressar seu ser-espírito na liberdade, entendida como<br />
capacidade de afirmação, apesar dos condicionamentos e limitações, sem detrimento da sua<br />
responsabilidade na construção da própria existência, cuja plenitude é alcançada pela superação<br />
de si na transcendência. Para Frankl (1991) o homem é um ser único e irrepetível, constituído das<br />
dimensões biológica, psicológica, social, unificadas pela dimensão da<br />
espiritualidade/religiosidade que é o núcleo do ser-pessoa.<br />
A proposta dessa pesquisa corrobora a própria preocupação da legislação no nosso país,<br />
que vem sendo uma constante através da educação continuada, incentivada pelos Parâmetros<br />
Curriculares Nacionais – PCN definido e expresso na LDBEN 9394/96, no artigo 33 que afirma:<br />
―O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e<br />
constitui disciplina nos horários normais das escolas públicas de Educação Básica assegurando o<br />
respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.‖ 6<br />
Fatos como a violência aos professores na sala de aula, tornam-se cada vez mais<br />
frequentes e evidenciam a necessidade da emergência de valores que possam estabelecer uma<br />
nova relação entre professor o aluno. Não é suficiente o professor trazer à sala de aula o<br />
conhecimento, o conteúdo, se isso não estiver aliado a questões intrínsecas, nas quais a<br />
espiritualidade se faz presente, por meio de funções e comportamentos que têm como<br />
denominador comum a posse de valores éticos, estéticos, humanitários e altruístas.<br />
Sendo assim, o estudo da dimensão espiritual do educador, como uma força integradora<br />
que une e dá forma a todos os elementos intelectuais, emocionais e corporais, coloca-nos diante<br />
do infinito e incondicional, contribuindo para a integração educador/aluno no que se refere à<br />
prática educativa.<br />
Enfim, ajuda a compreender que espiritualidade/religiosidade, educação, ética e vida, se<br />
tecem junto, construindo uma vida integrada e complexa, ajudando a compreender que a<br />
educação só acontece num ambiente de afeto e amor.<br />
METODOLOGIA<br />
O problema que direcionou esta pesquisa foi o seguinte. Os professores que constituem a<br />
amostra admitem que a sua espiritualidade/religiosidade manifesta-se na maneira pela qual eles<br />
realizam o seu trabalho pedagógico? E como eles explicam que essa manifestação ocorre?<br />
A discussão dos dados coletados deverá permitir verificar as seguintes hipóteses:<br />
1. As respostas dadas ao PEP determinam o perfil espiritual dos professores que<br />
constituem a amostra.<br />
2. Os professores estudados admitem que o seu perfil espiritual manifesta-se no seu<br />
fazer pedagógico.<br />
3. Os professores esclarecem como percebem a manifestação de sua<br />
espiritualidade/religiosidade em suas ações pedagógicas.<br />
O eixo teórico que fundamentou esta pesquisa está voltado para o estudo da dimensão<br />
espiritual/religiosa de professores que se manifesta em suas crenças, na interação social que<br />
estabelece com seus alunos e nas suas ações pedagógicas.<br />
Assim sendo, os objetivos dessa pesquisa podem ser assim formulados:<br />
6 LDBEN. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil-11/02/09. Acesso em 11 de fev. 2009.<br />
77
1. Identificar o Perfil Espiritual do professor.<br />
2. Verificar se os professores reconhecem a manifestação de sua<br />
espiritualidade/religiosidade no seu fazer pedagógico.<br />
3. Contribuir para uma reflexão educacional por meio de paradigmas não reducionistas,<br />
mediante o conceito de pessoa, advindo da espiritualidade/religiosidade para criar um<br />
ambiente escolar sócio afetivo.<br />
Foram coletadas informações referentes a 30 professores de um Colégio confessional<br />
Católico, todos com formação superior, e idade variando de 21 a 57 anos, atingindo uma média<br />
de aproximadamente 40 anos, sendo que 17 deles com formação em pós graduação e 30<br />
professores sorteados aleatoriamente dentre aqueles de um Colégio Público, todos com formação<br />
superior, com idade variando de 28 a 57 anos, atingindo uma média de aproximadamente 40<br />
anos, sendo que 15 deles com formação em pós graduação. Os professores entrevistados de<br />
ambas as escolas atuam na Educação Infantil e Ensino Fundamental.<br />
Os instrumentos utilizados na coleta de dados foram os seguintes:<br />
1.PEP<br />
Para a coleta de dados foi utilizado o instrumento PEP 7 (Perfil Espiritual Pessoal),<br />
inventário proposto por Richard Wolman (2001), sintetizado para esse estudo, que foi respondido<br />
pelos professores, tendo como meta evidenciar comportamentos, atividades e experiências<br />
pessoais, como uma tentativa de articular e especificar o conceito de espiritualidade no nível<br />
mais fundamental e básico da sua atividade pessoal, e assim, determinar o perfil individual da<br />
dimensão espiritual do psiquismo de cada um. Este instrumento foi utilizado na primeira etapa da<br />
coleta de dados.<br />
Cumpre esclarecer que esse instrumento já foi validado por Wolman nos EUA numa<br />
pesquisa que envolveu mais de 6000 pessoas e foi utilizado em pesquisa de mestrado de Portal<br />
(2004/2005), Scussel (2007) realizadas na <strong>PUC</strong>-RS.<br />
Trata-se de uma pesquisa ex-post facto ―cujo propósito foi verificar a relação entre variáveis‖<br />
(GIL, 2002, p. 49), sem, contudo, que houvesse controle das mesmas visto que elas são características<br />
dos sujeitos. Assim por exemplo: a dimensão espiritual/religiosa já existe nos professores que<br />
participaram da pesquisa o que deve ser determinado é o nível de espiritualidade de cada um.<br />
A opção pela abordagem quantitativa/qualitativa norteou-se pela própria temática da<br />
pesquisa que exigiu uma subjetividade maior e também pela qualidade das respostas tendo como<br />
base as experiências e percepções dos sujeitos. Adotar uma postura integradora exigiu uma visão<br />
ampliada, daí a opção em não separar as abordagens quantitativa e qualitativa.<br />
Face a toda complexidade contextual, o tema da espiritualidade/religiosidade tem<br />
causado embaraço para os acadêmicos, visto que a ciência atual não está preparada para estudar<br />
situações que não se possa medir objetivamente. Apesar disso, são encontradas pesquisas com<br />
número razoável de provas científicas, como as de Zohar e Marshall (2000), revelando as<br />
fundações neurais do Quociente espiritual no cérebro, que está ligado ao propósito da vida,<br />
responsável pelo significado da nossa existência.<br />
RESULTADOS<br />
7 PEP corresponde ao PSI em português<br />
78
De acordo com a visão dos professores que constituíram a amostra, a espiritualidade se<br />
manifesta como um reconhecimento multidimensional do ser humano, conforme afirmam os<br />
autores que se seguem.<br />
Leonardo Boff (1994) enfatiza a necessidade de se refletir sobre o sentido da vida como<br />
algo totalmente integrado à realidade humana, e de maneira especial à prática educativa.<br />
De modo geral, as respostas dos professores demonstram que a espiritualidade independe<br />
da prática de uma religião. Segundo Petraglia (2000), Edgar Morin (1970) traz para o contexto<br />
da educação uma reflexão filosófica a respeito da espiritualidade, sobretudo, quando expressa<br />
seu pensamento sobre a teoria da complexidade, segundo a qual: espiritualidade não é algo<br />
perfeito ou sobrenatural, mas sim algo totalmente incorporado à realidade humana.<br />
A análise dos resultados da aplicação do PEP mostrou a importância de mantermos a<br />
visão do todo para conhecermos nossos pensamentos, sentimentos, práticas e experiências<br />
espirituais. Embora o perfil de cada um seja distinto, os elementos estruturais que o constituem<br />
são comuns a todas as pessoas.<br />
O conteúdo das respostas às entrevistas realizadas com os professores possibilitou<br />
confirmar as hipóteses levantadas nessa pesquisa, ao constatarmos que, ao relatarem as<br />
atividades desenvolvidas, suas vivências e percepções de seu fazer pedagógico, afirmam e<br />
identificam a presença da espiritualidade.<br />
Com a colaboração dos estudos de Fowler (1992), foi possível compreender que a fé é<br />
algo natural do ser humano e por isso mesmo pode ser desenvolvida ou amenizada com o tempo,<br />
mas não pode ser ensinada. Se a fé busca caminhos naturais para se desenvolver, se o<br />
desenvolvimento humano acontece de forma integrada nos seus mais diversos aspectos, inclusive<br />
no espiritual, segundo Fowler (idem), é correto procurar caminhos em círculos familiares,<br />
comunitários, sociais e, portanto, nos ambientes educativos, para que se possa auxiliar no<br />
desenvolvimento espiritual com vista ao desenvolvimento humano na sua totalidade.<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Entre outras, as considerações finais podem ser assim resumidas.<br />
É preciso fundamentar a visão que o professor tem do aluno que implica em considerá-lo<br />
como um ser único em seus aspectos físicos mentais e espirituais. Nesse contexto, é necessário<br />
que a dicotomia professor-aluno seja substituída por uma relação de pertença professor e aluno<br />
visto que ambos são seres humanos buscando seus próprios objetivos, a sua realização pessoal.<br />
Os autores mencionados também sugerem que o professor deve propiciar ao aluno a<br />
oportunidade de conhecer a si mesmo e que o conteúdo a ser estudado em cada matéria deveria<br />
se transformar em um instrumento de crescimento pessoal e não a imposição de um currículo.<br />
Neste sentido, as avaliações seriam realizadas para que o professor e o aluno analisassem os<br />
próprios desempenhos e deixariam de ser um instrumento de controle, de cobranças, geradores<br />
de competição entre os alunos desencadeadores de ansiedades.<br />
Todo o marco teórico e, sobretudo, a manifestação dos professores à entrevista mostram a<br />
importância de o professor revelar a sua espiritualidade na prática pedagógica que emprega em seu<br />
trabalho. Mesmo que não tome consciência desse fato, o professor expressa sua espiritualidade por<br />
meio de suas reflexões, atitudes, sentimentos, e no relacionamento com o educando.<br />
A espiritualidade manifesta-se também em atitudes morais e na vivência ética que ajudam<br />
os alunos a ser generosos ao satisfazerem as suas necessidades e as dos outros, com gestos de<br />
amor, de solidariedade, mais do que transmitir teorias claramente formuladas. É importante o<br />
79
professor despertar em seus alunos sentimentos, e possibilitar ações concretas de fraternidade,<br />
justiça, compaixão, caridade.<br />
É importante ressaltar que ao promover o despertar de uma espiritualidade, não se<br />
descuide da racionalidade, que vai favorecer o pensamento crítico, a lucidez e o<br />
conhecimento e, consequentemente, a rejeição do autoritarismo, da manipulação, do<br />
fundamentalismo, e do fanatismo.<br />
Para que essa prática se concretize é preciso que a escola se torne um lugar plural onde<br />
todas as posições sejam consideradas, analisadas, conhecidas e discutidas, sejam elas científicas,<br />
filosóficas, políticas, estéticas, religiosas, as quais são de grande importância para propiciar a<br />
construção da autonomia intelectual e moral dos alunos.<br />
Velando para que não sejam assumidas atitudes ingênuas, tendenciosas e genéricas,<br />
descartáveis, ‗lights‘ e vendáveis, fruto do mercado capitalista que despejam seus livrinhos de<br />
auto-ajuda, magia, com soluções rápidas e fáceis para superar dificuldades.<br />
É preciso saber diferenciar o diálogo da mistura de religiões e crenças onde se junta tudo<br />
numa confusão de idéias. O diálogo é fundamental para que cada um possa respeitar e ser<br />
respeitado no seu ponto de vista, guardando os seus fundamentos. Nesse aspecto, destaca-se o<br />
cuidado com uma tendência da escola laica que ao tentar fugir de um dogmatismo religioso,<br />
desenvolve os seus próprios dogmatismos, fundamentalismos e proibições.<br />
REFERÊNCIAS<br />
BIGHETO, Alessandro C. & INCONTRI, Dora. In: Educação e Espiritualidade. Educação e<br />
espiritualidade – interfaces e perspectivas. Org. Dora Incontri.Bragança Paulista – SP:<br />
Comenius, 2010.<br />
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BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria da Educação Média e Tecnológica. Parâmetros<br />
curriculares nacionais: ensino médio. Brasília: Ministério da Educação, 1999.<br />
DELVAL, Juan. Introdução à prática do método clínico: descobrindo o pensamento das<br />
crianças. Trad. Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2002.<br />
FOWLER, James W. Estágios da Fé: a psicologia do desenvolvimento humano e a busca de<br />
sentido. São Leopoldo: Sinodal, 1992.<br />
FRANKL, Viktor. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis –<br />
RJ: Vozes, 1991.<br />
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisas. São Paulo: Atlas, 2002.<br />
PETRAGLIA, Izabel. Olhar sobre o olhar que olha: Complexidade, Holística e Educação.<br />
Petrópolis – RJ: Vozes, 2001.<br />
___________. Complexidade e auto-ética. In: Eccos Revista Científica, São Paulo, v.2, 2000,<br />
p. 09-17.<br />
PORTAL, Leda Lísia Franciosi; et al. Inteligência espiritual ampliada e prática docente bem<br />
sucedida: uma tissitura que revela outros rumos para a educação. Prática de Pesquisa do<br />
Programa de Pós-Graduação em Educação – Mestrado e Doutorado da Pontifícia Universidade<br />
Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: 2004/2005.<br />
SALDANHA, Vera. Psicologia Transpessoal. Ijuí: Unijuí, 2008.<br />
SCUSSEL, Marcos André. Religiosidade humana e fazer educativo. Dissertação de Mestrado<br />
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do<br />
Rio Grande do Sul. Porto Alegre: 2007.<br />
80
WOLMAN, Richard N. Inteligência Espiritual. Um método revolucionário para você avaliar e<br />
expandir seu nível de consciência e energia espiritual. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.<br />
ZOHAR, Dana; MARSHALL, Ian. Inteligência Espiritual. QS. O ―q‖ que faz a diferença. Rio<br />
de Janeiro: Record, 2000.<br />
FORMAÇÃO DOCENTE E OS DESAFIOS DO COTIDIANO DE UMA ESCOLA RIBEIRINHA NO<br />
AMAZONAS<br />
Resumo<br />
Cláudio Gomes da Victoria<br />
Doutorando- Programa de Pós Graduação em Educação da Unicamp<br />
Eixo: Formação de Professores e práticas pedagógicas<br />
Comunicação Oral –<br />
victoriaclaudio@hotmail.com<br />
Bolsista da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas – FAPEAM.<br />
Este texto traz uma reflexão acerca dos resultados obtidos na pesquisa de mestrado intitulada ―Desafios do<br />
cotidiano na formação e práxis dos (as) educadores (as) de uma escola ribeirinha no município do Careiro-<br />
AM‖, que teve como objetivo central conhecer o cotidiano de uma escola ribeirinha, identificando como a<br />
temática das diferenças se projeta na formação e na prática dos professores que atuam nessa realidade.<br />
Para um melhor direcionamento da pesquisa, levantamos alguns questionamentos que nos ajudaram a<br />
trilhar o caminho percorrido. Como é o cotidiano da escola ribeirinha e quais os seus principais<br />
problemas? Como funciona o Programa de Formação e Valorização dos Profissionais de Educação da<br />
Universidade do Estado do Amazonas (PROFORMAR - UEA)? O processo de formação vivido pelos<br />
professores(as) da rede municipal do Careiro, através do PROFORMAR-UEA, contribui para a melhoria<br />
do cotidiano da escola? De que forma o multi/interculturalismo se expressa no dia-a-dia da escola? Quem<br />
são os professores(as) que nela trabalham? A pesquisa assumiu uma abordagem qualitativa, com<br />
características do tipo etnográfico, privilegiando a observação participante e utilizando também, como<br />
coleta dos dados, a entrevista semi-estruturada e a técnica de grupo focal. Teve a participação de oito<br />
professores que atuam na escola. A partir da inserção nesse universo foi possível traçar um diálogo teórico<br />
com as categorias: Interculturalidade – diversidade cultural e formação docente, articuladas com os<br />
desafios enfrentados pelos professores de uma escola ribeirinha, ajudando-nos na reflexão sobre a<br />
formação docente enquanto mecanismo de construção de uma postura crítica frente às diferenças culturais<br />
na perspectiva de uma ação coletiva que possibilite abrir o horizonte para uma nova perspectiva de se<br />
fazer educação, na qual a construção do currículo e da formação, tenha como foco a vida da escola, em<br />
suas múltiplas dimensões, bem como o significado de ser aluno(a) e ser professor(a) em uma escola<br />
ribeirinha, no contexto amazônico.<br />
Palavras-chave: Interculturalidade, escola ribeirinha, formação docente.<br />
BULLYING E DIFERENÇAS: A BUSCA POR UM OLHAR AMPLIADO<br />
81<br />
Mestranda Elise Helena de Morais Batista<br />
Dra. Dirce Djanira Pacheco e Zan<br />
Grupo Violar- Faculdade de Educação – UNICAMP
Eixo Temático: Formação de professores e práticas pedagógicas<br />
Comunicação Oral<br />
elisehelena2000@yahoo.com.br<br />
Resumo<br />
O bullying é um assunto que tem sido cada vez mais abordado no meio educacional, muitas vezes<br />
esvaziado de maiores reflexões. Por este motivo, o presente estudo objetiva problematizar o<br />
fenômeno a partir de uma análise crítica que o relaciona à questão das diferenças. Para tanto, no<br />
ano de 2009 foram observadas aulas de educação física de oito quintas-séries, com registros<br />
realizados em um Diário de Campo. A partir dos dados obtidos, no ano posterior foi formado um<br />
grupo com quinze alunos dentre os observados, para participarem de discussões em Grupo Focal<br />
(GATTI, 2005). Essa metodologia teve como objetivo ouvir os alunos a respeito da convivência<br />
escolar, para a partir dessas falas analisar e compreender o bullying. Por meio dos registros do<br />
Diário de Campo e das discussões expressas no Grupo Focal, é possível indicar que os alunos<br />
apresentam concepções estereotipadas e permeadas de preconceitos em relação às diferenças,<br />
vinculadas aos padrões de beleza, raça, cor, gênero e sexualidade. As agressões caracterizadas<br />
como bullying estão fortemente ligadas aos preconceitos existentes nas relações cotidianas. Nesse<br />
sentido, é possível estabelecer uma relação entre o destaque dado à problemática do bullying na<br />
atualidade com uma nova concepção de cidadania citada por Dagnino (1994), que se constitui a<br />
partir dos movimentos sociais da década de 1980. Portanto, para que o fenômeno seja abordado e<br />
analisado, é necessário que os aspectos sociais e culturais sejam problematizados nas discussões<br />
sobre o assunto. Para compreendê-lo, é necessário um olhar ampliado que considere a fala dos<br />
alunos, e a criação de espaços escolares nos quais estes possam falar e refletir.<br />
Palavras-chave: Bullying, Juventude, Preconceito, Diferenças.<br />
UMA REFLEXÃO SOBRE A ALFABETIZAÇÃO E O TRABALHO COM A ESCRITA NOS ANOS<br />
INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL<br />
Resumo<br />
Heloisa Dragojevic<br />
Graduanda do curso de Pedagogia <strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong><br />
Bolsista CNPQ<br />
Elvira Cristina Martins Tassoni<br />
Docente do Programa de Pós-Graduação em Educação e da Faculdade de Educação – <strong>PUC</strong>-<br />
<strong>Campinas</strong><br />
Eixo temático: Formação de professores e práticas pedagógicas<br />
Comunicação Oral<br />
e-mail:<br />
lololpn@gmail.com<br />
cristinatassoni@gmail.com<br />
82
Esse trabalho é um recorte de pesquisa de Iniciação Científica que teve como problema investigar<br />
quais são as práticas pedagógicas presentes na sala de aula dos anos iniciais do Ensino<br />
Fundamental referentes ao ensino da escrita. Tal estudo permitiu identificar as práticas<br />
pedagógicas de uso da escrita que circulam e que são valorizadas em sala de aula pelos<br />
professores. Discutir sobre o trabalho pedagógico realizado em sala de aula envolvendo a<br />
alfabetização e o ensino da língua nas séries iniciais do Ensino Fundamental justifica-se em razão<br />
das críticas ao ensino da escrita como uma atividade descontextualizada e mecânica, bem como<br />
em razão dos resultados pouco satisfatórios em relação ao domínio da língua por parte dos<br />
alunos. A pesquisa partiu de dados empíricos, coletados numa escola estadual da Região<br />
Metropolitana de <strong>Campinas</strong>, baseando-se numa abordagem qualitativa. A metodologia pautou-se<br />
por observações das práticas escolares de uso da escrita realizadas nas classes de Ensino<br />
Fundamental do 1º ao 5º ano. Os dados obtidos foram registrados em diário de campo. Cada<br />
classe tem, aproximadamente, 30 alunos. Os dados apontaram que no 1º e 2º ano o trabalho, em<br />
geral, enfatiza os desenhos, a pintura de letras, tracejados e cópias da lousa de exercícios. A<br />
forma de correção, na maioria das vezes, é feita fora dos momentos de aula. A professora leva os<br />
cadernos dos alunos para casa e no dia seguinte devolve-os corrigidos. Do 3º ao 5º ano há<br />
atividades de interpretação de textos, leituras feitas pelos alunos, atividades envolvendo as regras<br />
gramaticais, completando a letra que falta nas palavras, separando sílabas, realizando cópias e,<br />
ainda as atividades do material ―Ler e Escrever‖ fornecido pela Secretaria Estadual, que explora<br />
textos variados e a análise e reflexão sobre a língua a partir destes textos. A discussão sobre as<br />
práticas pedagógicas observadas possibilitou uma reflexão mais criteriosa sobre a alfabetização e<br />
o ensino da língua nos anos iniciais do Ensino Fundamental, problematizando a frequência com<br />
que as atividades são trabalhadas, as razões de se trabalhar essa ou aquela atividade, a forma com<br />
que são realizadas, como também refletir sobre os argumentos das escolhas feitas.<br />
Palavras chaves: Alfabetização, letramento, práticas pedagógicas, formação de professores.<br />
LIBERDADE E A FORMAÇÃO DO EDUCADOR<br />
Resumo<br />
Autor: Henrique R.C. Sperandio<br />
Faculdade de Direito<br />
Orientador: Prof. Dr. Samuel Mendonça<br />
Eixo temático: Práticas Pedagógicas e Formação do Educador<br />
Título: Liberdade e a formação do educador<br />
Modalidade: Comunicação Oral<br />
E-mail: henrique.sperandio@ig.com.br<br />
A presente proposta tem por objetivo expor a investigação realizada acerca da discussão do tema da<br />
liberdade a partir do pensamento de Kant (1996) e Nietzsche (2007), colocando-se em relevo a liberdade<br />
na formação do educador. Esta investigação é realizada no grupo de pesquisa Direito à Educação, no<br />
contexto do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação, sob a coordenação do Prof. Dr.<br />
Samuel Mendonça. A relevância da investigação justifica-se no campo de fundamentos da educação à<br />
medida que, dentre os desafios da educação, a formação do educador é, seguramente, um dos mais<br />
importantes. Se por um lado a formação se dá no interior da escola, é preciso repensar a estrutura, seja de<br />
conteúdo, ou de procedimentos para este agente de transformação da sociedade; por outro lado, é o<br />
83
educador o responsável por sua formação, no sentido de que não se pode pensar a formação sem<br />
considerar o processo de preparação deste sujeito. A discussão da preparação do educador coloca em<br />
relevo o tema da educação aristocrática; afinal, que educação fundamenta a busca de si mesmo como<br />
conquista da liberdade? Assim, a questão que norteia esta investigação baseia-se na pergunta: é possível<br />
uma educação que considere a liberdade como um valor inegociável? O método utilizado é a revisão<br />
bibliográfica sobre a concepção de educação aristocrática a partir de Mendonça (2009), o conceito de<br />
liberdade a partir da reflexão de Nietzsche (2007) e de Kant (1996) e de importantes comentadores e a<br />
formação do educador é discutida a partir de Freire (1987). Como conclusão considera-se que a<br />
construção do aprendizado pelo próprio educando que se tornará educador pode ser viabilizada a partir de<br />
suas próprias motivações e questionamentos se ele perseguir o caminho da autossuperação e da<br />
autocrítica, na busca pela excelência. Para Kant (1996), o esclarecimento é pressuposto para a liberdade<br />
que, no entanto, não pode ser obtida sem que os indivíduos deixem a comodidade de se submeter às<br />
opiniões dos formadores. Para Nietzsche (2007), a liberdade só é possível ao aristocrata que se afasta dos<br />
valores das massas e se torna capaz de criar sua própria tábua de valores como uma criança que não se<br />
cansa de ―jogar‖ a vida e inventar sempre novas regras para nortear sua conduta.<br />
Palavras-chave: Liberdade, formação, educador.<br />
INTRODUÇÃO<br />
Dentre os desafios da educação, a formação do educador é, seguramente, um dos mais<br />
importantes. Freire (1987) já mostrava a sua preocupação com a formação do educador ao criticar<br />
o professor descompromissado. Se por um lado a formação se dá no interior da escola, é preciso<br />
repensar a estrutura, seja de conteúdo, ou de procedimentos para este agente de transformação da<br />
sociedade; por outro lado, é o educador o responsável por sua formação, no sentido de que não se<br />
pode pensar a formação sem considerar o processo de preparação deste sujeito. Neste sentido, o<br />
tema da formação perpassa a distinção professor versus educador, discutida principalmente por<br />
Freire (1987). A discussão da preparação do educador colocará em relevo o tema da educação<br />
aristocrática; afinal, que educação fundamenta a busca de si mesmo como conquista da<br />
liberdade?<br />
Este artigo parte da seguinte pergunta: é possível uma educação que considere a liberdade<br />
como um valor inegociável? O texto pretende investigar os desafios da formação do educador no<br />
contexto da liberdade. Estes desafios apontam para a concepção de educação aristocrática, que<br />
será discutida a partir de Mendonça (2009). O conceito de liberdade será discutido a partir da<br />
reflexão de Nietzsche (2007) e de Kant (1996) e de importantes comentadores. A questão da<br />
formação do educador será discutida a partir de Freire (1987), com base no desenvolvimento<br />
amplo das potencialidades do sujeito que educa, por meio de uma educação que não se vincule a<br />
conceitos pré-determinados.<br />
1. EDUCAÇÃO ARISTOCRÁTICA COMO EDUCAÇÃO DO SOLITÁRIO<br />
A fim de instrumentalizar o educador para que não se resolva em um transmissor de<br />
conhecimento, potencializando a sua capacidade de mediação do saber, e mais, para que ele tenha<br />
a dimensão da motivação do questionamento no contexto de sua formação, aponta-se a educação<br />
aristocrática como possibilidade deste caminho de desenvolvimento.<br />
Por educação aristocrática entende-se a educação do indivíduo solitário, o que não quer<br />
dizer uma educação individualista, mas, ancorada na dimensão da grande e nobre<br />
individualidade. A educação aristocrática, neste sentido, remete à autocrítica e à autossuperação,<br />
84
elementos fundamentais do processo de autoeducação, aspectos que serão desenvolvidos ao<br />
longo deste artigo.<br />
Para que o educador tenha condições de interferir no processo de transmissão da cultura ele<br />
precisa ser preparado para questionar e ser questionado. Deve ser um indivíduo que busque a<br />
autossuperação e que tenha autocrítica.<br />
Pode-se dizer que superação ainda pressupõe a atitude de ser protagonista do conhecimento<br />
contrapondo-se, porém, não apenas à autoridade divina como também aos conceitos préelaborados<br />
sempre que não fizerem sentido para o conjunto de conceitos apreendidos pelo<br />
educador. É fundamental que o educador seja um indivíduo que consiga compreender a<br />
relevância do seu papel, o quanto pode influenciar no processo de aprendizado dos que vai<br />
educar, sem se permitir igualar às massas, sem se conformar em apenas repassar os conteúdos<br />
que lhe foram anteriormente ensinados.<br />
A concepção de educação aristocrática, então, segundo Mendonça (2009), é a capacidade<br />
do homem se autossuperar e se autocriticar. Para que seja capaz de não aceitar a pressão social de<br />
se conformar com o caminho fácil, o pré-estabelecido, ele deve possuir não apenas a coragem<br />
para criticar o que está posto como também de criticar a si próprio, seus valores, e permitir-se até<br />
mesmo tornar-se um novo homem. Tal posicionamento se obtém a partir de uma educação<br />
aristocrática, aqui mencionada não na acepção política e corrente em nosso país ou do dicionário<br />
que define o aristocrata como ―aquele que tem maneiras distintas, requintadas‖ (AURÉLIO,<br />
1975, p. 132), ou mesmo como forma de governo oligárquica como define Abbagnano (2007, p.<br />
567), mas com o amparo oferecido pelos escritos de Nietzsche e seus comentadores. Segundo<br />
Mendonça (2009), a educação aristocrática decorre de uma vida aristocrática que é vivida pelo<br />
―homem do futuro, muito livre, um indivíduo incomum, singular, irritado e perplexo com a<br />
massificação do homem no mundo‖ (MENDONÇA, 2009, p. 100).<br />
2 - O CONCEITO DE LIBERDADE<br />
2.1. Considerações propedêuticas e análise kantiana de liberdade<br />
O significado mais comum que se encontra sobre a liberdade diz respeito à ―faculdade de<br />
cada um se decidir ou agir segundo a própria determinação‖ (AURÉLIO, 1975, p. 835). Esse<br />
parece ser o sentido corrente do termo liberdade. Mas como se forma esta faculdade? E a<br />
determinação? E como acomodar o agir próprio quando este se coloca em contraposição à<br />
faculdade de terceiros?<br />
Oliveira (2004) ressalta que em Sobre a pedagogia, Kant descreve os diversos estágios da<br />
educação passando pela fase da criança, quando estão presentes vários procedimentos que<br />
também adotam os animais como, por exemplo, o cuidado. Em seguida, vem a disciplina pela<br />
qual o homem aprende a domar sua animalidade, não no sentido de aniquilá-la, mas de prepará-lo<br />
para que ela não prejudique a sociedade. Seria então a disciplina, uma forma de limitar a<br />
liberdade do homem, ou justamente um treinamento para a liberdade?<br />
Em Crítica da Razão Pura, Kant (1974) alerta para o fato de que mesmo aquele que<br />
aprendeu todos os princípios de uma determinada teoria filosófica, apesar de ter apreendido bem<br />
os conceitos não conseguirá responder a um só questionamento que seja contraditório ao que<br />
aprendeu, se não adquiriu o conhecimento pela razão, se não passou pelo processo de crítica<br />
durante a aprendizagem.<br />
Em O que é o esclarecimento?, Kant (1974) aborda a forma como os indivíduos, em geral,<br />
abrem mão de sua autonomia deixando-se guiar por outros. Parecem se sentir seguros, por não<br />
85
precisarem emitir opiniões próprias, atendo-se a pré-conceitos que não ousam questionar. Para<br />
Kant, a busca pelo esclarecimento seria inescapável no caminho para a reconquista da liberdade.<br />
Porém, mesmo conseguindo se apoderar do esclarecimento, os indivíduos não tomariam o rumo<br />
do esclarecimento imediatamente após sua libertação já que, por inércia ou mesmo por apego aos<br />
valores instituídos, continuariam exigindo dos educadores a proteção representada pela não<br />
necessidade de formular sua própria opinião. Neste ponto é preciso enfatizar a relevância do<br />
papel do educador que além de contribuir para o esclarecimento, deve incentivar os educandos a<br />
se despirem dos valores dissonantes de seus próprios valores e ousarem construir seus próprios<br />
caminhos.<br />
Kant lembra que uma transformação como a proposta acima geraria muitos problemas,<br />
apesar de que, para se chegar a uma situação de esclarecimento, a liberdade seria fundamental.<br />
Se, por exemplo, um sacerdote discordasse de alguns pontos da doutrina, como poderia defender<br />
tais pontos em público, contrariando as normas de seus superiores? Como não é possível manter a<br />
ordem se ela estiver em constante questionamento, um indivíduo não pode, por exemplo, deixar<br />
de pagar seus impostos porque não considera tal imposição válida. Por outro lado, qualquer<br />
ordenamento que impeça o esclarecimento do povo deveria ser eliminado. E qualquer norma,<br />
código ou mesmo a constituição deveria ser passível de discussão por indivíduos da sociedade<br />
que tivessem condições intelectuais para fazê-lo.<br />
Kant (1974) acreditava que a liberdade poderia ser garantida por um governante esclarecido<br />
que tivesse condições de manter a ordem com a grande vantagem de que a população, ao se sentir<br />
livre para pensar e expressar suas próprias opiniões, sentir-se-ia impelida a contribuir mais<br />
facilmente com suas tarefas e obrigações.<br />
2.2. Análise nietzschiana da liberdade<br />
Segundo Barranechea (2008), Nietzsche não relaciona a liberdade com as normas, o<br />
castigo ou a moral, mas ao alinhamento com as forças terrestres conforme sua ideia de eterno<br />
retorno – que para Mendonça sugere ―a ideia da permanência, ou de que não há mudança<br />
(MENDONÇA, 2009, p. 61) – que coloca o indivíduo numa postura de amor fatti, ou seja, numa<br />
postura de aceitar e querer o destino. O ser livre é aquele que aceita a dinâmica dessas forças,<br />
submetendo-se à contínua repetição dos fatos e criando para eles diferentes significados.<br />
De acordo com Barrenechea (2008), nos primórdios, o conceito de liberdade tinha uma<br />
finalidade coercitiva à medida que viabilizava que determinadas denominações – como o<br />
sacerdote, ou o moralista – conseguissem exigir a submissão do povo ou, para usar a terminologia<br />
de Nietzsche, a submissão do ―rebanho‖. Ou seja, a liberdade seria, em realidade, a faculdade<br />
para obedecer. Ao descobrir quem são os que falam da liberdade e por que falam, Nietzsche<br />
consegue tornar evidente que o conceito embute um instrumento de poder.<br />
Nos dias atuais, ainda é possível perceber situações que indicam a manipulação do<br />
conceito de liberdade. Na sociedade capitalista, por exemplo, o trabalhador é livre para<br />
―escolher‖ seu emprego, porém não apenas se vê limitado na virtual escolha em função de seu,<br />
muitas vezes, deficiente preparo, como também está sujeito à oscilação da oferta de trabalho.<br />
Claramente não tem o poder de escolher esse ou aquele emprego. Quando este trabalhador é o<br />
próprio educador, está também submetido ao interesse de uma classe dominante? Ou, retomando<br />
a pergunta do artigo, é possível não abrir mão da liberdade enquanto o educador exerce seu papel<br />
de trabalhador?<br />
Segundo Barrenechea (2008), Nietzsche defende que qualquer apreciação moral embute<br />
uma deturpação dos atos ao sugerir que o indivíduo é capaz de prever os mecanismos que levam<br />
86
a uma determinada ação e que as normas morais são universais. As palavras, ou mesmo a ação,<br />
no entanto, descrevem apenas a forma final de um determinado ato sem descrever os processos<br />
que levam à consumação dos atos. Ou seja, ao enxergar uma determinada ação ou ouvir uma<br />
palavra não necessariamente se conhece os elementos que levaram à sua manifestação de forma<br />
que, frequentemente, não se tem como enxergar a moral por detrás das ações. Esse aspecto faz<br />
com que o entendimento do que está por detrás das ações ou do discurso fiquem pouco evidentes.<br />
O educador que age com liberdade, age como a criança, sem medo de tentar novos<br />
caminhos, inventar novas abordagens, perseguir o desconhecido e procura compreender o que<br />
descobre neste caminho de forma genuína, sem procurar um caminho apenas para justificar uma<br />
verdade pré-concebida.<br />
Em vários pontos de sua obra Nietzsche critica o estabelecimento de uma moral dominante.<br />
Procurando se fortalecer para combater o inimigo, o homem tende a se igualar. Mas Nietzsche<br />
desmonta o raciocínio ao indagar: qual inimigo? Se o motivo para se igualar é o combate ao<br />
inimigo, então, na ausência deste, não é mais preciso caminhar no sentido da igualdade. Em<br />
momentos como este, os indivíduos passam então a dar vazão para suas próprias tendências e<br />
vontades, criando seus próprios modelos através de uma lei individual, mas em seguida aparecem<br />
novamente outros filósofos da moral para reestabelecer a ordem através de um modelo que<br />
acreditam ser o de um homem normal. Essa reflexão remete ao entendimento de que o indivíduo<br />
deve se comportar com liberdade sem se deixar ludibriar por ―pré-conceitos‖ que procuram<br />
incutir-lhe a necessidade de um modelo, na verdade desnecessário, ainda mais em se tratando da<br />
conduta do educador no processo de sua formação.<br />
3. LIBERDADE E A FORMAÇÃO DO EDUCADOR<br />
Abbagnano (2007) explicita que formação ―indica o processo de educação ou de<br />
civilização, que se expressa nas duas significações de cultura, entendida como educação e como<br />
sistema de valores simbólicos‖ (ABBAGNANO, 2007, p. 545). O termo cultura é empregado por<br />
Kant ora como uma forma pela qual a humanidade procura superar sua animalidade ora como<br />
transmissão de conteúdos específicos. Formação se refere, então, ao processo de transmissão de<br />
ferramentas que contribuem para que o homem consiga dominar sua animalidade.<br />
Freire (1987) diferencia professor de educador. Para ele, o professor foca seu trabalho nas<br />
questões técnicas enquanto o educador é capaz de trazer elementos que possibilitem ao educando<br />
uma reflexão política. À caracterização de Freire (1987) de professor e educador, é preciso<br />
acrescentar a autocrítica e a autossuperação como elementos necessários para a formação do<br />
educador, pois sem a busca de si mesmo, tanto faz se o indivíduo é apenas professor ou mesmo<br />
educador, uma vez que, afinal de contas, não deve ser apenas um sujeito que dialoga com o<br />
estudante, mas, antes disto, deve buscar dialogar consigo mesmo, buscando o que tem de melhor,<br />
seu caráter aristocrático.<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
A pergunta do artigo, ―é possível uma educação que considere a liberdade como um valor<br />
inegociável?‖ não se esgota em um texto. Entretanto, algumas considerações podem ser<br />
sugeridas. O homem que vive como o camelo citado por Nietzsche pode ser capaz de transmitir a<br />
cultura, de ensinar as ferramentas necessárias para se satisfazer enquanto vive. Entretanto, para<br />
que possa trazer contribuições relevantes, para que possa criar, melhorar o que aprendeu, terá de<br />
87
ter a coragem de passar por uma fase de desconstrução, pelo momento leão, para que possa ser<br />
capaz de criar novos valores, de estabelecer novos juízos, permitir-se trabalhar sob novas regras<br />
sendo capaz de, eventualmente, contribuir de forma importante para seu próprio bem estar e para<br />
o daqueles que educa.<br />
Na perspectiva de responder à pergunta ―É possível uma educação que considere a<br />
liberdade como um valor inegociável?‖, pode-se inferir que sim, é possível permitir ao educando,<br />
que se tornará educador, construir seu aprendizado a partir de suas próprias motivações e<br />
questionamentos se ele perseguir o caminho da autossuperação e da autocrítica, na busca pela<br />
excelência.<br />
Para Kant, a conquista da liberdade pressupõe o esclarecimento. Por outro lado o<br />
esclarecimento não se obtém sem liberdade. Uma forma de superar esse impasse, como aponta<br />
Kant, seria desencadear um processo de preparação dos indivíduos para a liberdade.<br />
Entende-se que a visão de Kant contém vínculos com a educação aristocrática na medida<br />
em que ele relaciona a obtenção do conhecimento com a liberdade. Questiona a letargia dos<br />
indivíduos decorrente da comodidade de não ter de se responsabilizar por suas próprias opiniões.<br />
Declara que para se caminhar no sentido da melhoria da espécie é fundamental que exista um<br />
ambiente de livre expressão, onde se possa questionar as regras e eventualmente reformulá-las.<br />
Assim, se formaria um círculo virtuoso no qual a sociedade se visse mais comprometida com a<br />
coletividade uma vez que participou da formulação ou reformulação das regras.<br />
A liberdade em Nietzsche só é possível ao aristocrata que, conhecendo o que está por trás<br />
dos valores ―mecanicamente‖ aceitos pelas massas, é capaz de romper com o modelo vigente e<br />
criar sua própria tábua de valores baseada exclusivamente nos seus impulsos, na sua vontade de<br />
potência, como uma criança que não se cansa de ―jogar‖ a vida e inventar sempre novas regras e<br />
brincadeiras.<br />
Portanto, tanto Kant como Nietzsche, discutem os elementos da formação do educador<br />
através da educação aristocrática na medida em que idealizam um homem livre que é capaz de se<br />
conduzir por sua própria tábua de valores, que não se conforma com a mentalidade de rebanho e<br />
não se cansa de buscar o esclarecimento, a excelência sem jamais abrir mão da liberdade que lhe<br />
torna senhor de sua vida.<br />
REFERÊNCIAS<br />
ALMEIDA, R. M. Nietzsche e o Paradoxo. São Paulo: Loyola, 2005.<br />
BARRENECHEA, M. A. Nietzsche e a liberdade. 2. ed. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2008.<br />
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.<br />
KANT, I. Resposta à pergunta o que é Esclarecimento. In Textos Seletos. Trad. Floriano de Sousa<br />
Fernandes. Petrópolis: Vozes, 1974.<br />
_______ A crítica da razão pura. São Paulo: Abril Cultural, 1974.<br />
_______ Sobre a pedagogia. Piracicaba, SP: Editora UNIMEP, 1986<br />
88
MENDONÇA, S. Educação Aristocrática em Nietzsche: perspectivismo e auto-superação do<br />
sujeito (Tese de Doutorado). <strong>Campinas</strong>, SP: Unicamp, 2009.<br />
NIETZCHE, F.W. Escritos sobre Política / Friedrich Nietzsche. Organização,tradução.<br />
Apresentação e notas Noéli Correia de Melo Sobrinho. v.1, Rio de Janeiro: Ed. <strong>PUC</strong>-Rio, 2007.<br />
OLIVEIRA, M. Nietzsche A educação na ética kantiana. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30,<br />
n.3, p. 447-460, set./dez. 2004. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ep/v30n3/a05v30n3.pdf,<br />
acesso em 10 de junho de 2011.<br />
EDUCAÇÃO INFANTIL: A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA INFÂNCIA NO BRASIL<br />
Resumo<br />
Jaqueline Cristina Massucato - Mestranda<br />
Profª Drª Heloisa Helena Oliveira de Azevedo<br />
<strong>PUC</strong> <strong>Campinas</strong> – Mestrado em Educação<br />
Eixo temático: Formação de Professores e Práticas Pedagógicas<br />
Comunicação Oral<br />
jaquemassucato@ig.com.br;<br />
hazevedo@puc-campinas.edu.br<br />
O conceito de infância é uma construção social, que perpassa a história e sua dinamicidade. As<br />
representações sociais que temos sobre as crianças e suas infâncias são variadas, ancoradas em<br />
nossas experiências individuais, coletivas, profissionais, dentre outras. São criadas em<br />
determinados espaços sociais, portanto, a representação que se tem sobre um objeto social varia<br />
entre as diferentes culturas. Dessa forma, uma retomada de alguns conceitos criados<br />
historicamente e hoje cristalizados no meio educacional referentes à infância e as crianças, são<br />
determinantes para direcionar a prática do professor, assim como as propostas de formação<br />
inicial. Podemos dizer infâncias, uma vez que são muitas as infâncias em nosso país, assim como<br />
são várias as experiências que cada criança protagoniza em sua vida. Nesse sentido, pretendemos<br />
problematizar como se deu a institucionalização da infância no Brasil, objetivando realizar essa<br />
revisão histórica para analisarmos qual a representação social que os professores de educação<br />
infantil têm sobre a criança e sua educação, atentando para a necessidade da revisão dos<br />
conceitos historicamente construídos, a fim de buscarmos desvelar os caminhos para a<br />
reconstrução de uma identidade profissional que seja condizente com seu papel social e<br />
profissional. Dessa maneira, apesar de no século XXI a criança permanecer como foco das<br />
políticas públicas, o cenário desfavorecedor continua, assim como as crueldades que vitimizam as<br />
crianças por todo o Brasil, cabendo ao Estado e às famílias zelarem pelo seu futuro, efetivando<br />
seus direitos. Diante de tal contexto, procederemos a análise crítica do tema, utilizando o método<br />
bibliográfico e esperando construir subsídios para conhecer as necessidades educacionais das<br />
crianças pequenas e consequentemente, possíveis necessidades formativas no âmbito da formação<br />
inicial, na busca pela redefinição de sua identidade profissional, que contemple sua<br />
profissionalidade docente. Afinal, refletir sobre qual a representação social que os professores de<br />
educação infantil têm sobre a criança e sua educação, atentando para a necessidade da revisão dos<br />
89
conceitos historicamente construídos é central para trilharmos caminhos para o reconhecimento<br />
profissional e social.<br />
Palavras-chave: Educação Infantil. Representação Social de Criança e Educação. Identidade<br />
Docente. Formação Inicial de Professores.<br />
A ALFABETIZAÇÃO E O LETRAMENTO NA VISÃO DE UMA PROFESSORA DO 2º ANO<br />
DO ENSINO FUNDAMENTAL<br />
Resumo<br />
Lidia Silva Vaz e Vaz<br />
lidiavazevaz@hotmail.com<br />
Elvira Cristina Martins Tassoni<br />
cristinatassoni@puc-campinas.edu.br<br />
Eixo temático: Formação de professores e práticas pedagógicas<br />
Comunicação oral<br />
<strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong> – SP.<br />
Os conceitos de letramento, de sistema simbólico e de usos sociais da leitura e da escrita vêm<br />
marcando o cenário atual da alfabetização levando a uma necessidade de ressignificação das<br />
práticas pedagógicas de alfabetização. As avaliações em larga escala desenvolvidas pelo Instituto<br />
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC) com o objetivo de<br />
avaliar a qualidade do ensino oferecido pelo sistema educacional brasileiro, vêm apontando<br />
resultados nem sempre satisfatórios. Nesse contexto, estudos que problematizam a alfabetização,<br />
tanto no que se refere ao trabalho desenvolvido por professores, como também em relação às<br />
concepções dos mesmos, têm contribuído para as discussões no âmbito da formação inicial e/ou<br />
em serviço e das práticas pedagógicas. A figura do professor é imprescindível como elemento<br />
mediador entre os alunos e o objeto de conhecimento. Assim, torna-se importante conhecer a<br />
forma com que o professor pensa e age em relação ao ensino da língua. O presente trabalho parte<br />
da seguinte questão: que visão uma professora alfabetizadora tem a respeito das práticas<br />
pedagógicas envolvendo a alfabetização e o letramento? Para isso, apresenta comentários de uma<br />
professora do segundo ano do Ensino Fundamental a respeito da sua prática pedagógica, de sua<br />
sala de aula, do processo de ensino-aprendizagem, da alfabetização, das práticas de leitura e de<br />
escrita em sua classe, trazendo dados coletados em uma escola privada da Região Metropolitana<br />
de <strong>Campinas</strong>. O procedimento metodológico utilizado foi a autoscopia, que consistiu em realizar<br />
videogravações da sala de aula da professora, durante as atividades de alfabetização. Os registros<br />
videogravados foram analisados e as cenas com momentos significativos serviram de base para a<br />
elaboração de um roteiro de questões a serem feitas à professora. Os resultados obtidos revelaram<br />
os aspectos mais valorizados pela professora no trabalho com a alfabetização e que, na sua<br />
concepção encontra-se articulado com o letramento. Busca-se com essa discussão trazer<br />
contribuições para a formação de um educador comprometido e envolvido com a formação de<br />
seus alunos enquanto leitores e produtores de texto, destacando o tipo de mediação e as<br />
concepções que regem a prática docente, visando maior qualidade da/na ação pedagógica.<br />
Palavras-chave: Alfabetização, Letramento, Práticas Pedagógicas e Formação do Educador<br />
90
INTRODUÇÃO<br />
As avaliações em larga escala desenvolvidas pelo Instituto Nacional de Estudos e<br />
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC) com o objetivo de avaliar a qualidade do<br />
ensino oferecido pelo sistema educacional brasileiro, vêm apontando resultados nem sempre<br />
satisfatórios.<br />
Os olhares são voltados, com grande preocupação, à questão da alfabetização, marcada<br />
pelo baixo desempenho das competências leitoras e escritoras de crianças, jovens e adultos.<br />
Assim, diferentes estudos e reflexões problematizam a alfabetização, fazendo da mesma objeto<br />
de estudo e pesquisa.<br />
Essas pesquisas vêm, por meio de seus resultados, orientando a prática da aprendizagem<br />
da leitura e escrita, como também, norteando o trabalho desenvolvido por professores<br />
alfabetizadores, contribuindo para as discussões no âmbito da formação inicial e/ou em serviço.<br />
Nessas pesquisas, a figura do professor é destacada como imprescindível. Este é<br />
considerado elemento mediador entre os alunos e o objeto de conhecimento. Assim, torna-se<br />
importante conhecer a forma com que o professor pensa e age em relação ao ensino da língua.<br />
Aliado a essas discussões estão os conceitos de letramento, de sistema simbólico e de usos<br />
sociais da leitura e da escrita que vêm marcando o cenário atual da alfabetização levando a uma<br />
necessidade de ressignificação das práticas pedagógicas de alfabetização.<br />
CONCEPÇÕES SOBRE A ESCRITA<br />
Por muito tempo a alfabetização foi orientada por uma concepção de escrita pautada num<br />
modelo tradicional que exigia do indivíduo o suficiente para o domínio do código escrito, numa<br />
aprendizagem da leitura e da escrita restrita à decifração do código centrado na mecânica do ler e<br />
escrever.<br />
Nesse modelo, apenas o professor, o método e o material didático são valorizados,<br />
desconsiderando a capacidade de aprender dos alunos levando muitos deles à condição de não<br />
alfabetizados ou analfabetos funcionais. Os esforços empreendidos apenas para a decodificação<br />
do código escrito reduzem a escrita a um reflexo da linguagem oral com preocupação voltada ao<br />
método de ensino utilizado.<br />
A ênfase maior nessa concepção de aprendizagem da leitura e escrita está no domínio da<br />
mecânica do ler e escrever. O professor que possui essa concepção exige do seu aluno o<br />
suficiente para lidar com os aspectos do código tornando restrita a forma de compreensão da<br />
função da escrita.<br />
Para Lamy (2010), nessa forma mecânica de conceber a aprendizagem da leitura e da<br />
escrita, as ações dos alunos são controladas pelo professor de maneira que os conteúdos são<br />
apresentados passo a passo. Quanto ao aluno, cabe a reprodução fiel desses conteúdos.<br />
Num procedimento sistematizado, ao aluno são apresentadas sílabas novas que serão<br />
fixadas com a realização de uma sequencia de diferentes exercícios que priorizam as capacidades<br />
de discriminação e reprodução gráfica de sons das palavras como também a análise e síntese de<br />
palavras e sílabas.<br />
O professor terá sua atenção voltada à cadeia de respostas, à sequencia cumulativa, à<br />
avaliação imediata e ao ritmo individualizado privilegiando os aspectos pedagógicos com ênfase<br />
na proposta metodológica de alfabetização.<br />
91
Segundo Carvalho (2009), por muitas décadas as discussões estiveram voltadas para a<br />
escolha do melhor método de alfabetização que contemplasse as necessidades de aprendizagem<br />
dos estudantes.<br />
Nessas discussões os olhares estiveram voltados sobre quais métodos seriam mais<br />
eficazes e apropriados para o processo de alfabetização nas escolas. Que métodos poderiam<br />
proporcionar melhores resultados suprindo as necessidades dos alunos: se os chamados sintéticos,<br />
se os analíticos ou mistos 8 .<br />
Diferentes materiais foram elaborados a fim de que pudessem contemplar as abordagens<br />
desses métodos, que conduziriam o processo de alfabetização. O uso da estratégia lúdica<br />
favorecia a aquisição da leitura procurando associar as letras e os sons a personagens, canções,<br />
gestos, cores e desenhos. Esses materiais eram inovados em matéria de histórias, personagens,<br />
vocabulário e exercícios.<br />
Para Cagliari (2008) alguns desses materiais traziam guias de orientações e explicações<br />
contendo o passo a passo da alfabetização no sentido de auxiliar o professor alfabetizador. Essas<br />
orientações vinham como suporte para que o professor, subsidiado com explicações mais<br />
detalhadas, pudesse garantir a alfabetização de seus alunos. Contudo, o índice de reprovações nas<br />
classes de alfabetização, mais precisamente na primeira série, não se apresentava baixo.<br />
Cagliari (2009) vê no método de alfabetização a prioridade do processo de ensino em<br />
detrimento do processo de aprendizagem. Ao passar pelo processo passo a passo, numa ordem do<br />
mais fácil para o mais difícil, o aluno parte do ponto zero e vai progredindo por meio de<br />
elementos já dominados de maneira lógica e ordenada.<br />
A concepção que orientou o modelo tradicional de alfabetização perdurou por muito<br />
tempo em nossas escolas. Com esse tipo de concepção, a visão de escrita é reduzida a uma mera<br />
reflexão da fala seguida de um processo de alfabetização reduzido ao ensino do código escrito,<br />
centrado na mecânica da leitura e da escrita.<br />
As produções textuais são centradas nas práticas escolares por meio de atividades cuja<br />
função é restrita ao ensinar a ler e escrever, trazendo contribuições apenas para o contexto escolar<br />
em que o aluno, sujeito passivo no processo, torna-se mero copista e decodificador do código<br />
linguístico.<br />
Em contrapartida, os atuais estudos e concepções na área da Alfabetização têm abordado<br />
aspectos de fundamental importância no que diz respeito à escrita: o seu caráter semiótico e o seu<br />
uso social.<br />
Quanto ao caráter semiótico, refere-se a considerá-la um sistema particular de signos que<br />
sofre transformações ao longo do tempo, em função de necessidades de cada contexto social,<br />
tendo como essência a questão da representação. Quanto ao uso social, destaca-se a importância<br />
de se considerar a linguagem escrita em funcionamento no dia a dia das pessoas. Juntamente a<br />
essa nova forma de compreender a escrita surge o conceito de letramento.<br />
Segundo Leite (2010), esse novo olhar para a alfabetização escolar veio trazer mudanças<br />
na maneira de ensinar e aprender a ler e escrever. Diferencia-se da concepção centrada no<br />
código dirigindo-se a uma concepção centrada no processo simbólico.<br />
1. Os Métodos Sintéticos partem de unidades menores da fala: fonema, letra, sílaba e chega à unidades maiores<br />
como palavra, frases e textos. Métodos Analíticos ou Globais partem de unidades maiores como texto, frases,<br />
palavras e chegam a unidades menores da fala como sílabas, letras e fonemas. Métodos Mistos tem a combinação<br />
de aspectos dos métodos Analíticos e Sintéticos. Para mais detalhes sobre Métodos sugerimos a leitura de<br />
Carvalho (2009).<br />
92
O impacto do letramento nas práticas pedagógicas foi imediato, contudo o autor atenta<br />
para a perda da especificidade da alfabetização que ocorreu quando o letramento prevaleceu<br />
sobre a alfabetização e quando procuraram tratar os dois como sinônimos. Para Leite (2010),<br />
isso se deu pelo impacto do construtivismo e sua acolhida como teoria para solucionar os<br />
problemas na área da alfabetização no Brasil. Com a ânsia de mudanças das concepções<br />
tradicionais pelas atuais, a busca pelas práticas de letramento desvinculadas das dimensões<br />
específicas da alfabetização trouxe graves consequências.<br />
Todavia, a palavra letramento veio para definir novas formas de compreender a escrita.<br />
Kleiman (2009) define o letramento como conjunto de práticas e eventos individuais ou sociais<br />
e que não se limita apenas à produção escrita envolvendo, também, a oralidade visto que, ―o<br />
texto ouvido tem as marcas de planejamento e lexicalização típicas da modalidade escrita‖<br />
(p.182).<br />
Soares (1995), por sua vez, apresenta que<br />
dos indivíduos já se requer não apenas que dominem a tecnologia do ler e escrever,<br />
mas também que saibam fazer uso dela, incorporando-a a seu viver, transformando-se<br />
assim seu estado ou condição, como consequência do domínio dessa tecnologia<br />
(SOARES, 1995, p. 7).<br />
Tal afirmação refere-se não só à utilização da leitura e da escrita no dia a dia pelas<br />
pessoas, mas, sobretudo aos impactos que esses usos provocam na relação do sujeito com o<br />
mundo, com as outras pessoas e com ele mesmo.<br />
É interessante notar que, a concepção que envolve a dimensão do letramento inclui o<br />
trabalho da aprendizagem do domínio do código escrito com a utilização das práticas sociais.<br />
Para Soares (2002), estas práticas incluem não só a escrita na cultura do papel como<br />
também as diferentes tecnologias de escrita criando diferentes letramentos.<br />
Nesse contexto, a figura do professor é imprescindível como elemento mediador entre os<br />
alunos e o objeto de conhecimento. Assim, torna-se importante conhecer a forma com que o<br />
professor pensa e age em relação ao ensino da língua.<br />
METODOLOGIA<br />
O presente trabalho traz parte dos resultados de uma pesquisa de mestrado que tem como<br />
problema a seguinte questão: que visão uma professora alfabetizadora tem a respeito das práticas<br />
pedagógicas envolvendo a alfabetização e o letramento? Para isso, apresenta comentários de uma<br />
professora do segundo ano do Ensino Fundamental a respeito da sua prática pedagógica,<br />
envolvendo a sua sala de aula, o processo de ensino-aprendizagem, a alfabetização, as práticas de<br />
leitura e de escrita em sua classe.<br />
A professora, sujeito da pesquisa, leciona em uma escola que está localizada em uma cidade da<br />
Região Metropolitana de <strong>Campinas</strong> (SP), que atende um total de 4.000 alunos da Educação Infantil ao<br />
Ensino Superior. Tem sua formação no magistério e graduação em Pedagogia. Foi escolhida por<br />
apresentar boa atuação em sua prática pedagógica de acordo com a indicação da direção. No contato da<br />
pesquisadora com a professora indicada foram apresentados os objetivos da pesquisa e os procedimentos<br />
metodológicos.<br />
O procedimento metodológico utilizado foi a autoscopia, que segundo Sadalla e Larocca<br />
(2004) consiste em realizar uma vídeogravação do sujeito sozinho ou em grupo e posteriormente, em<br />
sessões de análise e observação do conteúdo gravado, o sujeito comentar e refletir sobre sua prática.<br />
O procedimento da autoscopia tem sido utilizado em pesquisas voltadas para a reflexão do<br />
professor, enquanto processo de formação, tendo uma importante função avaliativa. Na utilização deste<br />
93
procedimento busca-se apreender as ações do professor no ambiente em que ele atua, bem como registrar<br />
o cenário e a trama que compõem a situação. (SADALLA & LAROCCA, 2004).<br />
Foram realizadas videogravações da sala de aula da professora, durante as atividades de<br />
alfabetização. Os registros videogravados foram analisados e as cenas com momentos<br />
significativos serviram de base para a elaboração de um roteiro de questões a serem feitas à<br />
professora.<br />
A coleta de dados ocorreu no período da manhã, com sessões de filmagens na classe da<br />
professora. A pesquisadora colocou na sala de aula uma câmera acoplada a um tripé. Assim, foram<br />
registradas as atividades desenvolvidas durante as aulas que envolviam a leitura e a escrita. Após os<br />
registros videogravados a pesquisadora analisou as cenas numa etapa inicial de análise, a fim de destacar<br />
os momentos mais significativos. Nessa análise e observação das cenas foi elaborado um roteiro de<br />
questões a serem feitas a professora participante da pesquisa. Em um segundo momento, a professoras<br />
assistiu a videogravação onde comentou as suas práticas de acordo com o roteiro proposto pela<br />
pesquisadora. Tais comentários foram audiogravados e constituíram os dados a serem analisados.<br />
RESULTADOS OBTIDOS<br />
Os resultados obtidos na autoscopia realizada com a professora revelam os aspectos mais<br />
valorizados por ela no trabalho com a alfabetização e que, na sua concepção, encontram-se<br />
articulados com o letramento.<br />
A professora destaca em seu depoimento a importância das intervenções, da motivação,<br />
do uso do elogio e incentivo. Não dá respostas prontas ao aluno incentivando-o a refletir sobre a<br />
lingua. A professora vê como fundamental o passar pelos grupos para acompanhar o<br />
desenvolvimento das atividades demonstrando uma preocupação com o processo. Incluem-se<br />
ainda as manifestações afetivas que cooperam para a promoção da aprendizagem e<br />
desenvolvimento do indivíduo. Os dados revelam que esta é uma dimensão que se faz presente<br />
em todos os momentos de ensino-aprendizagem.<br />
Sobre os eventos de leitura e escrita desenvolvidos pela professora destacam-se: a<br />
produção de texto com elementos criados pelos alunos, o uso de textos que fazem parte da<br />
vivência dos alunos ou seja, textos que estão inseridos no universo da criança, como também o<br />
trabalho com diferentes gêneros textuais.<br />
Quanto a configuração da sala de aula, os alunos são organizados em grupos para<br />
interação, cooperação e construção de relações. Desta forma a professora atua na zona de<br />
desenvolvimento proximal, conceito cunhado por Vygotsky (1994) que exploraprocessos de<br />
aprendizagem em desenvolvimento.<br />
Segundo a visão da professora, o que ela deixa transparecer em sua fala e ação<br />
observadas, a alfabetização e letramento são processos que estão articulados e que estão presentes<br />
em sua prática pedagógica ao utilizar o texto como ponto de partida e dele desenvolver atividades<br />
de reflexão sobre a língua. Estes aspectos estão presentes a seguir,em sua fala:<br />
Então eu gosto sempre de trazer uma leitura que proponha um significado, por exemplo:<br />
um pequeno texto. Mas nunca uma sílaba ou palavra como já se foi trabalhado há muito<br />
tempo. Então, do todo entenda o que está acontecendo. Dentro daquele texto vão ter<br />
várias palavrinhas parecidas e a gente vai trabalhando aquelas leituras. Eles vão lendo,<br />
vão relacionando o som com o som de outras palavras e eles vão tirando a suas próprias<br />
conclusões.<br />
94
Segundo a sua concepção o trabalho de alfabetização e letramento a partir da utilização do<br />
texto e da contextualização de atividades do cotidiano da criança auxilia na identificação da<br />
função da escrita, como vemos a seguir:<br />
Você vai trabalhando, dramatizando, fazendo receita, vai lendo poesia, lendo gibi e eles<br />
querem aprender porque é interessante é gostoso, a professora está lendo. Aí, no<br />
cantinho da leitura, ele vai querer ler. Ele viu você lendo, ele quer ler também porque é<br />
interessante, é gostoso. Ele vai sair por aí lendo placas e tudo, mas de uma forma natural.<br />
Assim, realizar eventos de letramento em sala de aula, e proporcionar interações entre<br />
professor e aluno e entre alunos, há uma grande aproximação do contexto social vivenciado pelos<br />
alunos fora da sala de aula, em seu cotidiano.<br />
A professora está sempre atenta ao desenvolvimento das atividades dos alunos e isso é<br />
visível ao passar pelos grupos acompanhando a realização das mesmas. Essa atitude é vista como<br />
positiva, pois demonstra a preocupação com o processo e não apenas com o resultado. Nesse<br />
contexto, as intervenções acontecem como vemos a seguir quando a criança pergunta à<br />
professora com que letra se escreve a palavra pato. A professora devolve a pergunta ao aluno<br />
pedindo que o mesmo olhe os cartazes do alfabeto expostos na sala de aula, levando a criança a<br />
pensar. Quanto a essa atitude a professora justifica sua ação como:<br />
Eu acredito que ao devolver a pergunta eu estou proporcionado a ele a possibilidade, de<br />
certa forma, através desse conflito, buscar essa resposta, construir o que ele está<br />
buscando.<br />
Procurar no que ele já aprendeu. Mexer lá na cabecinha dele, mas como será que é? Se<br />
eu chego e dou a resposta pronta daqui dois minutos ele vai perguntar de novo porque<br />
ele já não lembra mais<br />
Ao ser questionada sobre a possibilidade da criança, mesmo com as dicas não encontrar a<br />
resposta a professora apresentou a utilização da seguinte estratégia:<br />
Eu costumo primeiro recorrer à criança, depois dar dica e sempre tem alguém ali perto<br />
que já sabe. Então eu tento primeiro dar dicas pra que ele construa aquela resposta e se<br />
mesmo assim ele não consegue, eu peço ajuda aos amigos que estão próximo.<br />
A professora leva a criança a pensar, descobrir por si mesmo ou levantar novos<br />
questionamentos. A grande manifestação de preocupação em não dar respostas prontas e até<br />
mesmo em ter o cuidado de responder ao aluno é devido à ideia de fazê-lo pensar sobre os<br />
aspectos da língua e, como sujeito ativo no processo de apropriação, mediado pelo professor, seus<br />
amigos e pelo próprio recurso pedagógico existente em sala de aula possa chegar às respostas<br />
procuradas. Neste sentido, há um destaque também importante à presença da interação em que as<br />
trocas realizadas possibilitam a produção social do conhecimento.<br />
A pesquisa procurou apresentar a visão de uma professora do segundo ano quanto à<br />
alfabetização e letramento tendo a sua discussão articulada com a perspectiva histórico cultural e<br />
os estudo do letramento.<br />
Busca-se com essa discussão trazer contribuições para a formação de um educador<br />
comprometido e envolvido com a formação de seus alunos enquanto leitores e produtores de<br />
texto, destacando o tipo de mediação e as concepções que regem a prática docente, visando maior<br />
qualidade da/na ação pedagógica.<br />
95
REFERÊNCIAS:<br />
CAGLIARI, Luiz Carlos A respeito de alguns fatos do ensino e da aprendizagem da leitura e<br />
escrita pelas crianças na alfabetização. Em Alfabetização e letramento: perspectivas lingüísticas/<br />
Roxane Rojo (org) <strong>Campinas</strong>, SP: Mercado de Letras, 2009.<br />
CARVALHO, Marlene Alfabetizar e letrar: um diálogo entre a teoria e a prática. Petrópolis,<br />
Rio de Janeiro: Vozes, 2009.<br />
LAMY, Gersolina Antonia de Avelar. HOELLER, Solange Aparecida de Oliveira (orgs)<br />
Alfabetização em Destaque. <strong>Campinas</strong>, SP: Mercado das Letras, 2010.<br />
LEITE, Sergio Antonio da Silva Alfabetização e letramento: pontos e contrapontos / Sergio Antonio da<br />
Silva Leite, Silvia M. Gasparian Colello; Valeria Amorim Arantes (org.) – São Paulo: Summus, 2010.<br />
SADALA, Ana Maria Falcão de Aragão & LAROCCA, Priscila Autoscopia: um procedimento de<br />
pesquisa e de formação. Educ. Pesqui. vol.30 nº.3 São Paulo, Set./Dez. 2004.<br />
SOARES, Magda Becker. Língua escrita, sociedade e cultura Relações, dimensões e<br />
perspectivas. Revista Brasileira de Educação, nº 0, 1995, PP. 5 – 16. Disponível em:<br />
. Acesso em: 28 março<br />
2011.<br />
_____________________Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educ.<br />
Soc., <strong>Campinas</strong>, v. 23, n. 81, Dec. 2002 . Available from<br />
. access on 04 Sept. 2011.<br />
http://dx.doi.org/10.1590/S0101-73302002008100007.<br />
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1994.<br />
“PROJETO DE ENSINO FLORA FANEROGÂMICA DO ESTADO DE SÃO PAULO”: MUDANÇAS E<br />
PERMANÊNCIAS NA FORMAÇÃO DE UM GRUPO DE PROFESSORES<br />
Resumo<br />
Lilian Pereira Cruz<br />
Mestre em Educação (UNICAMP)<br />
Docente do Departamento de Ciências Agrárias e Biológicas<br />
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)<br />
liliancruz@ceunes.ufes.br<br />
Jorge Megid Neto<br />
megid@unicamp.br<br />
Doutor em Educação (UNICAMP)<br />
Docente do Programa de Pós-Graduação em Educação<br />
Faculdade de Educação – Universidade Estadual de <strong>Campinas</strong> (UNICAMP)<br />
Eixo temático: Formação de Professores/ Comunicação oral<br />
O Projeto ―Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo‖ teve início em 1993, com o objetivo de estudar a<br />
vegetação paulista. Em 1997 foi apresentado para professores de quatro escolas públicas ,<br />
96
espectivamente em <strong>Campinas</strong>, Santos, São Carlos e São Paulo. Em <strong>Campinas</strong>, o projeto foi desenvolvido<br />
em uma escola municipal de ensino fundamental com a participação de professores de Ciências,<br />
Português, Artes, História e Geografia.Vários anos após a aplicação do FFESP, verificamos a não<br />
existência de pesquisas ou publicações que procuraram avaliar o Programa e suas contribuições para a<br />
formação dos professores e pesquisadores participantes. Assim, esta pesquisa se propôs a tratar o seguinte<br />
problema: a participação dos professores no Programa de Ensino do Projeto Flora Fanerogâmica<br />
promoveu mudanças de concepções e de práticas pedagógicas, e quais foram? Desenvolvemos a pesquisa<br />
por meio de entrevistas, realizadas com cinco professores e três pesquisadores acadêmicos participantes,<br />
além de analisar livros, relatórios e outras publicações decorrentes do mesmo. Os resultados reforçam o<br />
que a literatura sugere, ou seja, a importância de se apresentar propostas de formação continuada aos<br />
professores, com base nos princípios da reflexividade e do desenvolvimento de pesquisas colaborativas<br />
entre escolas, universidades e institutos de pesquisa, buscando aproximar os professores das pesquisas<br />
recentes e capacitá-los para desenvolverem suas aulas de forma mais aprimorada. Por outro lado, na escola<br />
investigada notamos poucos traços de mudanças permanentes nas práticas pedagógicas dos professores<br />
participantes do Programa alguns anos após seu encerramento. O programa contribuiu de modo relevante<br />
para a formação dos professores e trouxe melhoria de infraestrutura para a escola, mas as práticas<br />
interdisciplinares inovadoras construídas no decorrer do Programa não permaneceram após sua<br />
finalização.<br />
Palavras-chave: projeto flora fanerogâmica, formação continuada de professores, pesquisa colaborativa,<br />
professor reflexivo, ensino de botânica.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
No Brasil, como em outros países latino-americanos e europeus, um dos pontos críticos dos<br />
sistemas educacionais é a formação docente, que nas últimas décadas tem passado por mudanças<br />
influenciadas fortemente por novos paradigmas, construídos a partir das transformações ocorridas nos<br />
diversos setores da sociedade. Dentre estas, as econômicas, as tecnológicas, as sociais e políticas, e,<br />
também, a desvalorização da profissão e a despotencialização da autoridade intelectual, pedagógica e<br />
moral do professor, elaboradas tanto dentro da instituição escolar quanto por outras instituições<br />
(FREITAS, 2002).<br />
As questões que afetam ao professor também são consideradas por Augusto (2010), ao comentar<br />
que nas últimas décadas temos assistido a um quadro de desprofissionalização da profissão docente. A<br />
autora considera como uma das principais causas da baixa qualidade do ensino, a necessidade de grande<br />
número de professores para atender a democratização do ensino, sem os devidos investimentos<br />
econômicos em educação, imprescindíveis para dar sustentação ao crescimento vertiginoso das matrículas<br />
na educação básica.<br />
Frente a esta realidade, Nóvoa (1995) e Gimeno (1990) reforçam a necessidade de existir uma<br />
forte interconexão entre o currículo da formação inicial de professores e o currículo da formação<br />
permanente ou continuada, com o objetivo de promover o aperfeiçoamento dos professores como um<br />
modelo de desenvolvimento profissional e pessoal, evolutivo e contínuo.<br />
Selles (2002) aponta que a formação inicial tem sido insuficiente para o desenvolvimento<br />
profissional do professor e, concomitantemente, não está proporcionando subsídios necessários para uma<br />
prática efetiva. A autora considera que as atividades docentes, como todos os processos sociais, são<br />
caracterizados por uma dinâmica não determinística, sendo impossível antecipar a experiência pedagógica<br />
aos futuros professores nos cursos de licenciatura. Portanto, torna-se imprescindível que o professor em<br />
exercício disponha de um programa de formação continuada, que seja capaz de funcionar, não apenas<br />
como oportunidade de atualização de conhecimentos devido às inúmeras inovações que surgem, mas<br />
também como elemento ―decodificador‖ das práticas vivenciadas no dia a dia da sala de aula.<br />
97
Desta forma, os cursos de formação continuada de professores têm como objetivo não apenas<br />
garantir a atualização dos docentes, mas também suprir deficiências da formação inicial.<br />
Jacobucci (2006), por sua vez, afirma que as Universidades têm encontrado dificuldades para<br />
transferir o conhecimento que produz sobre ―formação de professores‖, para as atividades que<br />
organiza, o que resulta na manutenção do distanciamento entre o que seria ideal e o que é efetivamente<br />
realizado nas escolas. Esse distanciamento, segundo Garrido e Carvalho (1995), é apontado como a<br />
principal característica da ineficiência dos cursos de formação continuada de professores.<br />
2. O PROGRAMA DE ENSINO DO PROJETO FLORA FANEROGÂMICA DO ESTADO DE<br />
SÃO PAULO.<br />
O ―Projeto Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo‖, desenvolvido entre meados dos ano<br />
1990 e início dos anos 2000 e financiado pela FAPESP, teve como objetivo conhecer a vegetação<br />
remanescente do Estado e, com a publicação dos resultados para a sociedade, difundir conhecimentos e<br />
experiências adquiridas durante o seu desenvolvimento. Seus produtos finais constituem publicações<br />
técnicas, como monografias com diversas informações sobre as espécies de fanerógamas, incluindo as<br />
espécies nativas de gimnospermas presentes no Estado, as quais possuem importância florística e<br />
paisagística em determinadas regiões. Outros produtos do Projeto Flora são os livros sobre a vegetação do<br />
Estado e as plantas úteis da nossa flora nativa (KINOSHITA et al., 2006).<br />
Na medida em que os resultados do Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo foram<br />
apresentados para a FAPESP, a Diretoria Científica da agência sugeriu a elaboração de um Programa de<br />
Ensino vinculado ao projeto temático, com a perspectiva de divulgação de seus resultados para as escolas<br />
da rede pública de ensino da educação básica (WEIGERT et al., 2005).<br />
Essa experiência, conforme Kinoshita (1997) teve como objetivos gerais desenvolver novas<br />
metodologias para o ensino prático de botânica, em uma perspectiva interdisciplinar, e promover a<br />
conscientização e a mudança de atitude do aluno, de forma que pudesse adquirir postura crítica e ativa em<br />
relação aos problemas ambientais. Objetivou-se, também, dar subsídios para o desenvolvimento de<br />
materiais didáticos ao final do projeto.<br />
Durante o Projeto, que durou três anos e meio (julho de 1998 a dezembro de 2001), alguns<br />
professores e pesquisadores saíram, enquanto outros passaram a compor a equipe. Nos dois primeiros<br />
anos, teve a participação de equipes das quatro cidades envolvidas (<strong>Campinas</strong>, Santos, São Carlos e São<br />
Paulo), havendo continuidade a partir de junho de 2000 apenas em <strong>Campinas</strong> e em São Carlos. As<br />
instituições e escolas receberam equipamentos, livros e recursos, para que pudessem desenvolver as<br />
atividades propostas e produzir material didático de apoio, além de placas de identificação de plantas, a<br />
serem fixadas nos jardins das instituições envolvidas (KINOSHITA et al., 2006).<br />
Formação dos grupos de professores e pesquisadores do Programa de Ensino Flora<br />
Fanerogâmica<br />
Participaram do Projeto Flora Ensino oito pesquisadores da UNICAMP, sete do Instituto<br />
de Biologia e um da Faculdade de Educação, dois pesquisadores do núcleo de Pesquisa e<br />
Desenvolvimento do Jardim Botânico do Instituto Agronômico de <strong>Campinas</strong> (IAC) e seis<br />
professores da referida escola municipal: as professoras de Ciências, História, Português, Artes e<br />
Educação Física e o professor de Geografia. A professora de História participou durante o ano de<br />
1999 e, ao transferir-se para outra escola, foi substituída pela professora de Educação Física<br />
(KINOSHITA et al., 2006).<br />
Houve também o envolvimento dos alunos de graduação e graduados em Ciências<br />
Biológicas da UNICAMP, que atuaram no desenvolvimento das atividades tanto na Escola<br />
quanto nas instituições de pesquisa.<br />
98
Com base nas informações obtidas junto à Coordenadora do Projeto e mediante análise dos<br />
relatórios enviados à FAPESP, verificamos que <strong>Campinas</strong> foi a cidade que participou durante os<br />
três anos de realização do Projeto, e apresentou documentos para análise, o que justificou<br />
descrever a sua experiência da escola. Além disto, nas outras escolas, além de não termos<br />
documentos descritivo-analíticos do trabalho ali desenvolvido, houve grandes mudanças no grupo<br />
de professores devido a aposentadorias, mudanças de escolas etc.<br />
O Programa de Ensino do Projeto Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo, na cidade<br />
de <strong>Campinas</strong>, ocorreu em uma escola municipal de ensino fundamental, localizada entre a região<br />
central e a periférica da região sudoeste da cidade. O Projeto foi realizado no período de agosto<br />
de 1998 a julho de 2001.<br />
3. METODOLOGIA<br />
A presente pesquisa se caracteriza como um estudo de caso sobre as influências do programa de<br />
ensino do Projeto Flora Fanerogâmica na formação dos professores participantes do projeto em uma<br />
escola municipal de ensino fundamental, localizada na cidade de <strong>Campinas</strong>/SP.<br />
Mais especificamente, pretende-se investigar a seguinte questão central: quais as mudanças de<br />
concepções pedagógicas ocorridas com os professores participantes no Programa de Ensino do Projeto<br />
Flora Fanerogâmica?<br />
Em função desses problemas, tivemos como objetivo geral avaliar os resultados do Programa de<br />
Ensino do Projeto Flora Fanerogâmica, no que se refere às suas características enquanto processo de<br />
formação continuada de professores e de possíveis mudanças decorrentes desse processo formativo nas<br />
concepções e nas práticas pedagógicas dos professores participantes.<br />
Os tópicos da entrevista foram abordados com base nos relatórios finais das atividades do<br />
projeto, os quais foram cedidos pela Coordenadora Geral do Projeto Flora Fanerogâmica, para<br />
que pudessem auxiliar na elaboração das questões.<br />
4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS<br />
Desenvolvimento das aulas antes do Projeto Flora na escola<br />
Com o objetivo de verificar como eram realizados os planejamentos e as atividades dos docentes,<br />
antes da participação no Projeto Flora, foi proposta a seguinte questão aos professores: Como eram as<br />
suas aulas antes do Projeto Flora? Com base nas falas dos professores podemos inferir que o docente<br />
teve uma formação muito específica, e que não foi preparado na universidade para trabalhar e desenvolver<br />
experiências baseadas nos princípios da interdisciplinaridade.<br />
Relação Universidade-Escola<br />
Segundo Kinoshita et al. (2006), o Programa de Ensino do PFFESP abordou a pesquisa<br />
colaborativa como linha metodológica para desenvolver o projeto, tendo como principais objetivos romper<br />
com as hierarquias do saber e estabelecer um grupo de trabalho envolvido com um conjunto de objetivos<br />
comuns e, desta forma, contribuir para o desenvolvimento da pesquisa, da educação, da ciência e da<br />
formação de professores. Com base nesse trecho, elencamos a seguinte questão: ―Como eram as reuniões<br />
com o grupo de professores?” Nota-se, nos trechos citados das entrevistas, a valorização que os<br />
professores deram para esses eventos, pois, conforme os entrevistados, a maioria das escolas públicas não<br />
disponibilizam desse tempo para se discutir ou planejar o projeto pedagógico da escola. Esses dados<br />
corroboram com a afirmação de Zeichner (2003), o qual destaca a importância da participação dos<br />
professores na criação, na interpretação e na implementação das atividades que compõem o currículo<br />
escolar.<br />
99
Permanência da metodologia sugerida pelo Projeto Flora<br />
Com o objetivo de constatar se, mesmo depois do término do projeto na escola, as atividades<br />
ainda fazem parte do planejamento pedagógico dos professores, propusemos a seguinte questão: “Você<br />
ainda aplica a metodologia sugerida pelo Projeto Flora ou alguma atividade feita naquela época<br />
como parte do projeto? (Por que sim ou Por que não?)”. Conforme as falas dos docentes verificamos<br />
que estes procuram resgatar algumas atividades vivenciadas, no entanto, são realizadas de maneira<br />
pontual e não desenvolvidas com a mesma intensidade de tempo e interação na época em que o Projeto<br />
Flora estava em vigência na escola.<br />
Influências do Projeto Flora na formação do professor<br />
A questão formulada aos professores: ―Quais mudanças o projeto trouxe para você, na sua<br />
formação ou no trabalho em sala de aula?” foi dirigida para constatar se a participação no Projeto Flora<br />
influenciou em sua formação ou em suas práticas e de que forma.<br />
O conjunto das respostas sinaliza para a influência que o projeto ocasionou na formação de cada<br />
professor, tendo em vista as manifestações elogiosas a respeito do planejamento e do desenvolvimento do<br />
currículo escolar, sendo esse elaborado em conjunto e baseado na formação do professor–reflexivo e<br />
interdisciplinar. Verificamos também que o projeto motivou os docentes para continuarem seus estudos,<br />
sendo que, mesmo depois de terem concluído a pós-graduação, ainda lecionam para o ensino fundamental.<br />
Contudo, podemos inferir que os docentes procuram melhorar o ensino público por meio de aulas<br />
que apresentem e desenvolvam uma interação entre os conteúdos, buscando temas que fazem parte do<br />
cotidiano dos alunos e assim tornar os encontros mais significativos e a aprendizagem mais eficaz.<br />
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
A análise das respostas obtidas sobre as reuniões do grupo revela que os pesquisadores<br />
acadêmicos auxiliavam os docentes na elaboração das atividades, estimulavam e apresentavam questões<br />
que direcionavam a realização dessas práticas. Além disso, eram realizadas discussões em conjunto sobre<br />
as dificuldades e as possíveis soluções para as situações apresentadas pelos professores. Somam-se a esses<br />
momentos as discussões de textos que direcionaram o desenvolvimento do projeto sobre as seguintes<br />
temáticas: professor-reflexivo, professor-pesquisador e interdisciplinaridade.<br />
Com relação aos modelos de formação docente, julgamos que o Programa de Ensino do Projeto<br />
Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo esteve inserido no modelo prático-reflexivo, porque durante a<br />
realização do Projeto Flora os professores participaram da elaboração, do desenvolvimento e da avaliação<br />
em conjunto das atividades vivenciadas, e os docentes refletiram sobre suas práticas pedagógicas, tendo<br />
como objetivo aperfeiçoar as metodologias desenvolvidas e, concomitantemente, os aspectos relacionados<br />
à formação docente individual e coletiva. No entanto, não foram encontrados elementos de que o Projeto<br />
Flora teve como objetivo transformar a realidade local e escolar.<br />
Nesta perspectiva, constatamos que o currículo desenvolvido com as turmas participantes do<br />
projeto foi modificado, pois os docentes, durante todo o período de vigência do projeto, não utilizaram o<br />
livro didático para auxiliá-los no desenvolvimento das atividades em sala de aula. Estas foram<br />
desenvolvidas conforme o planejamento realizado pelos professores, semanalmente, na Biblioteca da<br />
escola, seguindo a metodologia sugerida pelo Projeto Flora. Desta forma, constatamos que cada professor<br />
teve liberdade e autonomia nos processos de elaboração e de desenvolvimento das atividades.<br />
Em relação às influências que o Projeto Flora teve na prática pedagógica dos professores<br />
participantes, verificamos que ocorreram mudanças, principalmente, no planejamento das atividades, de<br />
forma que os docentes passaram a se questionar quais eram os reais objetivos que tinham ao desenvolver<br />
determinada atividade. Portanto, é possível inferir que os professores não buscavam apenas cumprir com o<br />
planejamento curricular estabelecido, mas também desenvolver atividades que trouxessem sentido para a<br />
aprendizagem dos alunos.<br />
100
Com base na leitura dos materiais disponíveis, julgamos que foram produzidos na perspectiva<br />
interdisciplinar, visto que foi planejado, desenvolvido e avaliado coletivamente. Houve articulação entre<br />
as disciplinas, sendo priorizado o diálogo entre os participantes de forma não hierárquica; o projeto<br />
buscou articular as disciplinas, tendo como eixo temático a Botânica.<br />
Quanto aos pesquisadores envolvidos, quando indagados sobre as dificuldades para a realização<br />
do projeto, apontaram o contato com as leituras da área educacional e a pouca experiência na participação<br />
em projetos deste tipo, pois a maioria é da área de Botânica e não tinha como linha principal de pesquisa<br />
aspectos relacionados à temática educacional abordada. No entanto, podemos considerar que o Projeto<br />
contribuiu para a formação desses pesquisadores, pois ampliou as leituras, os conhecimentos e as<br />
experiências no desenvolvimento de projetos dentro de outra perspectiva acadêmica.<br />
Por fim, gostaríamos de ressaltar, de acordo com Megid Neto et al. (2007), que os modelos de<br />
formação continuada de professores não podem ser considerados como fatores singulares para a melhoria<br />
do ensino público, visto que, simultaneamente, tais ações devem ser acompanhadas por outras ações, tão<br />
ou mais fundamentais que essas. Os autores destacam a “melhoria da infra-estrutura escolar,<br />
contratação de bibliotecários, técnicos de laboratório e outros profissionais para o funcionamento de<br />
serviços especiais em todos os períodos de funcionamento da escola; carreira digna para professores e<br />
especialistas, com salários decentes; jornada de trabalho docente dividida em 50% em sala de aula e<br />
50% destinada à preparação de aulas, organização de projetos coletivos, interface com a comunidade,<br />
participação em programas de formação; escolas de tempo integral, em cujo período complementar as<br />
crianças e adolescentes sejam devidamente assistidos por professores” (Megid Neto, 2007, p.82).<br />
Nesse contexto, os professores e gestores terão as condições necessárias para realizarem uma<br />
educação de qualidade, e não dependerem exclusivamente da universidade e de seus pesquisadores para<br />
se engajarem nas propostas de formação continuada, pois o próprio cotidiano escolar vai proporcionar<br />
que estes se formem continuamente e se envolvam com as propostas de ensino.<br />
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de uma proposta inovadora no processo de formação de professoras. 330 p. Tese (Doutorado em<br />
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GIMENO, S.J. Conciencia y acción sobre La prática como liberación profesional de los profesores.<br />
Comunicação apresentada as Jornadas sobre ―Modelos y estratégias em la formación permanente Del<br />
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Paulo. Projeto de pesquisa. (não publicado)<br />
______________et al. A botânica no ensino básico: relatos de uma experiência transformadora. São<br />
Carlos: Rima, 2006. 143 p.<br />
101
_____________. Produção e uso de material didático no ensino de botânica: uma proposta na cidade<br />
de <strong>Campinas</strong>. 1999.<br />
______________. Espaços de produção do ensino de botânica: uma experiência de inovação curricular<br />
na cidade de <strong>Campinas</strong>. 1999.<br />
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construção do planejamento interdisciplinar. 187p. Dissertação (Mestrado em Educação) –<br />
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contradições. In: BARBOSA, R. L. L. (Org.) Formação de educadores: desafios e perspectivas. São<br />
Paulo: UNESP, 2003. p.35-55.<br />
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A FORMAÇÃO CONTINUADA DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO<br />
INFANTIL NO MUNICÍPIO DE CAMPINAS<br />
Resumo<br />
102<br />
Maria Cristina de Oliveira<br />
mcristinaoliveira.ol@gmail.com<br />
Maria Auxiliadora Andrade Bueno Megid<br />
dmegid@puc-campinas.edu.br<br />
A presente pesquisa é parte da dissertação de mestrado e tem como principal objetivo analisar a formação<br />
continuada oferecida aos professores de educação infantil no município de <strong>Campinas</strong> e quais as políticas<br />
públicas criadas para esta formação dos profissionais da Rede Municipal de Ensino. Para isso, foi feito um<br />
levantamento (recorte) das políticas públicas sobre a formação continuada para o professor de educação<br />
infantil do município do período compreendido entre 1983 e 2010. Como referência teórica para este<br />
levantamento, utilizamos publicações de profissionais que atuaram/atuam em diferentes áreas da própria<br />
Rede Municipal de Educação, bem como ancoramos na legislação do município. Diante desta análise,<br />
constatamos os principais aspectos enfatizados pelos diferentes governos que a cidade teve durante o<br />
período por nós escolhido e verificamos que estas políticas estabelecidas pelo município, para a formação<br />
continuada dos docentes atuantes na educação infantil em determinados momentos privilegiaram a<br />
formação continuada. Porém, o que observamos em relação a esta formação se refere à descontinuidade de<br />
propostas avaliadas como bem sucedidas, o que não proporcionou a possibilidade da participação efetiva<br />
de todos os professores que atuam nesta etapa da educação básica. Convém destacar que alguns governos
não consideraram relevantes este tipo de formação. A presente pesquisa, cujo objeto de estudo é a<br />
formação continuada dos professores de educação, utilizou a metodologia qualitativa. Buscamos a partir<br />
de um levantamento bibliográfico inicial em teses e dissertações sobre o assunto assim como em Leis,<br />
Resoluções, Decretos, Comunicados. Espera-se que a presente pesquisa possa contribuir para a<br />
compreensão dos rumos tomados pela formação continuada oferecida pelo município de <strong>Campinas</strong> e quais<br />
os desafios que esta enfrenta a fim de que possa efetivamente colaborar para as práticas docentes nas salas<br />
de aula das unidades de educação infantil do município no sentido de aprimorar a qualidade do trabalho<br />
didático pedagógico docente da Rede Municipal de Ensino. Utilizamos como principais referências foram<br />
COLLARES, FERRAZ e FURGERI.<br />
PALAVRAS CHAVE: Formação continuada, educação infantil e políticas públicas.<br />
INTRODUÇÃO<br />
A formação continuada oferecida aos profissionais da educação infantil no município de<br />
<strong>Campinas</strong>, ainda traz questionamentos quanto à relação teoria e prática vivenciada nas escolas e quanto às<br />
propostas de mudanças significativas para a educação infantil da cidade.<br />
A Prefeitura de <strong>Campinas</strong>, seguindo a legislação vigente no que se refere à formação continuada,<br />
aumentou os investimentos e criou novos espaços para a formação dos profissionais.<br />
Apesar disto frequentemente questiona-se se isto contribui para a reflexão-ação das práticas<br />
docentes, se colabora para o aperfeiçoamento da formação inicial do professor e se ajuda na qualidade<br />
pedagógico-didática do que é oferecido. Muitos cursos são oferecidos para estes profissionais através da<br />
Coordenadoria Setorial de Formação do Departamento Pedagógico e dos Núcleos de Ação Educativa<br />
Descentralizados.<br />
Para o desenvolvimento do presente texto, traremos algumas Leis, Resoluções, Decretos e<br />
Comunicados que fomentaram a formação docente continuada no município de <strong>Campinas</strong> nos últimos<br />
trinta anos.<br />
Nosso objetivo com esta pesquisa é o de analisar as políticas públicas sobre a formação<br />
continuada do professor de educação infantil da Rede Municipal de Educação de <strong>Campinas</strong> e se tais<br />
políticas contribuíram para a qualificação profissional destes professores.<br />
A seguir apresentaremos os principais fatos que marcaram este período.<br />
A FORMAÇÃO CONTINUADA DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL DO<br />
MUNICÍPIO DE CAMPINAS: UMA ANÁLISE HISTÓRICA DO PERÍODO ENTRE<br />
1983 E 2011.<br />
As políticas públicas para formação continuada do professor de Educação Infantil no<br />
município de <strong>Campinas</strong> são tão recentes quanto a história da Educação Infantil no país e surgiram<br />
como uma necessidade para se adequar as alterações na legislação que estavam acontecendo em<br />
âmbito nacional, como já foi visto no capítulo anterior.<br />
Para discorrer sobre esta recente trajetória, utilizamos o resgate histórico feito por<br />
diferentes autores que pesquisaram o tema da formação continuada no município. Cabe destacar<br />
que antes de 1983, a partir do levantamento que fizemos, não existia nenhuma literatura<br />
produzida sobre o tema na cidade.<br />
Para o desenvolvimento de nossa pesquisa, entendemos ser necessário realizar um resgate<br />
histórico da formação continuada em nível de Secretaria Municipal de Educação no período de<br />
1983 a 2011, período em que ocorrem mudanças significativas na Educação Infantil no<br />
Município. Destacaremos os aspectos que consideramos mais relevantes em termos de política de<br />
formação docente.<br />
103
O primeiro avanço relacionado à formação continuada na cidade de <strong>Campinas</strong>, segundo<br />
Ferraz (2001), ocorreu a partir 1983. Neste período buscou-se a desvinculação da visão tecnicista<br />
vivida em período anterior e na qual as práticas de formação de professores eram denominadas de<br />
―treinamento‖ e aconteciam para grande grupos, num determinado período do ano letivo,<br />
normalmente no início de semestres letivos.<br />
Outro avanço conquistado nesta época, segundo a mesma autora, foi a alteração do<br />
calendário escolar. Isto só ocorreu depois de muitas discussões entre os profissionais,<br />
principalmente diretores, assistentes pedagógicos (APs) e professores:<br />
O calendário passou a priorizar as atividades pedagógicas. Previa os cursos<br />
iniciais, chamados de período de reciclagem, que aconteciam no início do ano<br />
letivo (três a quatro dias), as reuniões mensais previstas em um número mínimo<br />
de 04 ao ano (planejamento), as ―paradas‖ quinzenais (reuniões de integração) e,<br />
quando a unidade educacional sentia necessidade de espaços extras, o diretor tinha<br />
autonomia para criá-los, respeitando as diretrizes da SME. De acordo com os<br />
profissionais entrevistados, foram esses momentos que possibilitaram ―o<br />
crescimento da escola‖.<br />
Além desses espaços citados, os calendários previam a possibilidade de cursos de<br />
aperfeiçoamento, atualização e reciclagem para o pessoal docente, durante o<br />
período de recesso escolar (FERRAZ, 2001, p. 82).<br />
Ainda segundo Ferraz (2001), a transposição do cargo de Assistente Pedagógico para<br />
Orientador Pedagógico, em 1987, e a criação do cargo de Assessor Técnico-Pedagógico (ATP)<br />
fizeram com que as tarefas de formulação e implementação, em nível de Secretaria Municipal, se<br />
concentrassem na figura do ATP enquanto a ação de formação no interior da unidade escolar<br />
passava a ser da responsabilidade do Orientador Pedagógico (OP). Estes profissionais foram<br />
divididos quanto ao campo de atuação:<br />
(...) dois ficaram responsáveis pela educação infantil que abrangia EMEIs<br />
(Escolas Municipais de Educação Infantil), Centros Municipais de Educação<br />
Infantil (CEMEIs) e entidades conveniadas e oito para o Ensino Fundamental,<br />
constituído 35 unidades. A Educação Infantil era trabalhada pelos dois OPs, e as<br />
unidades de Ensino Fundamental eram agrupadas de forma que cada OP ficasse<br />
responsável por um número de unidades. (p.85)<br />
Em 1988 houve a criação do Departamento Pedagógico, o aumento do número de<br />
Orientadores Pedagógicos e a criação de momentos que propiciassem a formação docente nas<br />
unidades escolares, bem como a criação de grupos de estudo. Os cursos de reciclagem, as<br />
reuniões do Conselho de Representantes e os eventos, ainda segundo Ferraz (2001), fomentaram<br />
mudanças mais profundas que aconteceriam nas gestões posteriores e resultariam no I Congresso<br />
Municipal de Educação, em 1990, evento que gerou as Diretrizes Político/Pedagógicas da<br />
Secretaria Municipal de Educação.<br />
Outro importante momento, agora na década de 1990, foi a criação do Estatuto do<br />
Magistério que normatizou as competências dos profissionais do ensino e instituiu, em seu artigo<br />
77, o Trabalho Docente (TD) (FERRAZ, 2001). Neste momento, todos os professores passam a<br />
ter em sua jornada de trabalho de 2 a 4 horas semanal para se dedicarem, na própria unidade<br />
escolar, entre outras coisas, às reuniões pedagógicas, administrativas e reuniões com os pais. O<br />
mesmo estatuto regulamentou os grupos de estudo remunerados, autorizando o pagamento de até<br />
104
12 horas/aula para projetos que fossem compatíveis com o Projeto Pedagógico da unidade<br />
escolar, e ainda assegurou a oportunidade de participação em cursos de atualização,<br />
especialização profissional, aperfeiçoamento e extensão universitária, seminário, encontro,<br />
congresso, sem prejuízo dos vencimentos desde que devidamente autorizados.<br />
Também, nesta década, deve-se fazer o destaque de outro grande ganho na política de<br />
valorização de formação do professor que foi a publicação da Lei Orgânica do Município que no<br />
inciso XII, capítulo II seção I. Nela encontramos algumas regulamentações quanto aos<br />
profissionais docentes como:<br />
Valorização dos profissionais de ensino mediante a fixação de planos de carreira<br />
para o Magistério Público Municipal, piso salarial profissional nunca inferior ao<br />
mínimo estabelecido a nível nacional, carga horária compatível com o exercício<br />
das funções, ingresso na carreira exclusivamente por concurso público de provas e<br />
títulos, e formação e aperfeiçoamento permanentes (1990).<br />
Outro destaque feito por Ferraz (2001) foi o comunicado que a Secretaria divulgou e que<br />
regulamentava a participação dos educadores nas propostas de formação. Isso estimulou os<br />
professores a continuarem seus estudos através de especializações, pós-graduação e participação<br />
em eventos como congressos e seminários o que propiciariam diferentes movimentações na<br />
carreira e ajudariam na superação da má formação inicial. A autora também comenta a trajetória<br />
da carreira do Orientador Pedagógico que passa a ser um importante personagem na formação<br />
continuada do docente no interior das unidades escolares e uma liderança pedagógica. Para<br />
Ferraz (2001):<br />
Essa visão reforçou a importância do trabalho do OP junto à equipe escolar no<br />
sentido de motivação e aperfeiçoamento contínuo e da articulação das orientações<br />
dos órgãos centrais com os Projetos Pedagógicos das unidades educacionais<br />
(vinculação do PP da SME com os PP das escolas), visando, cada vez mais, a<br />
melhores resultados no processo educacional, pois se acreditava que era o<br />
cotidiano da U.E. que deveria ser um dos objetos de reflexão do professor (p. 99).<br />
Apesar dos avanços, na modalidade Educação Infantil, segundo a autora, só em 1992 é<br />
que começa a formação docente nos Grupos de Estudo (GEs) que a princípio aconteciam<br />
quinzenalmente, em horário contrário ao de trabalho do professor, em local previamente<br />
estabelecido pelo grupo e com disponibilidade física. Havia remuneração para este período,<br />
tinham duração de duas horas e todos recebiam certificados. Estes GEs foram organizados tendo<br />
a frente dois Coordenadores Pedagógicos (CPs) na estrutura do Departamento Pedagógico. Eles<br />
abordavam temáticas diferenciadas para os professores que trabalhavam com crianças de três<br />
meses a quatro anos e de quatro a seis anos.<br />
Profissionais ligados às Universidades eram convidados para o trabalho nestes Grupos de<br />
Estudo e alternavam com as Coordenadoras Pedagógicas as atividades. Porém não houve uma<br />
ação específica que contemplasse todos os professores de Educação Infantil; apenas dois Grupos<br />
de Estudo foram criados e os mesmos abordavam o tema alfabetização na Pré-Escola. Convém<br />
considerar que os profissionais envolvidos com as crianças de creche não foram contemplados<br />
em suas especificidades, visto que a alfabetização não é foco desta faixa Etária (FERRAZ, 2001).<br />
Somente após a reorganização proposta pela Secretaria de Educação, em 1994, foram<br />
reiniciados os Grupos de Estudo, mas agora ministrados por ―professores monitores‖<br />
coordenados pelos CPs, sendo que apenas alguns consultores foram contratados para este fim<br />
105
(FERRAZ 2001). Também, segundo a autora, entre 1992 e 1996 o trabalho dos Grupos de Estudo<br />
não só se ampliou em dados quantitativos como também em dados qualitativos, uma vez que as<br />
temáticas abrangiam as necessidades no que se refere às práticas pedagógicas dos professores.<br />
Outro dado importante que Ferraz (2001) ressalta refere-se à implementação, em 1995,<br />
das Oficinas Pedagógicas. Estas se constituíram em modalidade de formação docente e foram<br />
organizadas pelos Coordenadores Pedagógicos. Passaram a ser realizadas com a colaboração dos<br />
diversos segmentos que integram a Secretaria Municipal de Educação e tornaram-se obrigatórias,<br />
envolvendo, além dos professores, os demais segmentos das escolas. Estas Oficinas foram<br />
realizadas de forma descentralizada, ou seja, por regiões da cidade, pelas antigas SAR (Secretaria<br />
de Ação Regional), hoje denominadas NAED (Núcleo de Ação Educativa Descentralizado). Tais<br />
oficinas são hoje viabilizadas através de monitoria pelos profissionais da Secretaria Municipal de<br />
Educação (especialistas, professores e monitores).<br />
Como se percebe, as mudanças foram significativas, mas não pararam por aí. A partir de<br />
1997, os Grupos de Estudo, agora com a análise de Furgeri ―passaram a ter a duração de 90<br />
horas/aula e eram acompanhados por um mesmo professor monitor‖ (2007, p. 101). Segundo a<br />
autora, a maioria dessas propostas tinha o objetivo de suprir fundamentos da formação inicial e<br />
proporcionar a reflexão da prática pedagógica.<br />
Infelizmente, como acontece na transição de um governo para outro, a descontinuidade<br />
vivida nestes períodos de transição provocou a interrupção dos trabalhos de formação no ano de<br />
2001. Estes só voltam em 2002 e em 2003 sofrem reestruturação, sendo abertos a todos os<br />
educadores da Rede Municipal e independentemente de sua situação funcional, de acordo com<br />
Furgeri (2007). Indica que ―A meta era localizar as demandas e buscar formas de atendê-las de<br />
maneira equilibrada, consequente, organizada, dentro dos prazos, buscando restaurar o sentido de<br />
respeito e de escuta, de valorização pessoal e profissional (FURGERI, 2007, p. 104)‖.<br />
A mesma autora ainda destaca que os objetivos da Coordenadoria de Formação eram<br />
definidos e a preocupação principal era a de manter a interlocução e recolher as transformações<br />
que objetivam ter o local de trabalho como lugar primordial de formação.<br />
Em 2004, a conquista dos professores no que diz respeito à formação continuada foi a<br />
instituição do Plano de Cargos Carreiras e Vencimentos através da Lei nº 12.012/04. Essa Lei<br />
afetou significativamente a carreira de todos os professores da rede municipal de <strong>Campinas</strong>. A<br />
partir da implantação do Plano de Cargos, Carreiras e Salários da Prefeitura, muitos professores<br />
tiveram, na época, seus salários equiparados aos valores praticados pelas universidades públicas<br />
brasileiras. Através do enquadramento, o professor de educação infantil graduado (os antigos<br />
professores III) e com jornada de 32 horas/aula - teve um aumento médio de 47,71%. Foi a maior<br />
valorização da carreira do professor na história da cidade de <strong>Campinas</strong>, tanto em termos de tempo<br />
de serviço, quanto em termos de formação, pois, para o professor que optasse, pela jornada que<br />
incluía o Trabalho Docente em Projetos (TDPR) esta seria acrescida de 4 horas/aula e passaria<br />
para 36 horas/aula. Esta jornada poderia ser usada ou para a realização de projetos na escola ou<br />
para a participação de cursos oferecidos pela Secretaria Municipal de Educação. Porém, estas 4<br />
horas/aula só podiam acrescentadas na jornada do professor durante o ano letivo.<br />
De 2004 a 2006 houve uma redução na oferta de cursos de formação ou grupos de<br />
trabalho e, para um universo de aproximadamente 4,5 mil professores, monitores e especialistas<br />
da SME e da Fundação Municipal para a Educação Comunitária (FUMEC) foram abertas entre<br />
1000 e 1500 vagas em 25 cursos. Em 2007, sobe para aproximadamente 3400 vagas em 76 cursos<br />
oferecidos, mas muitos tiveram que ser suspensos devido à baixa procura (FURGERI, 2007).<br />
106
A partir de 2008, segundo Furgeri (2007), na Resolução SME nº 15/2007 que<br />
regulamentava a opção do TDPR em incorporação na jornada, a participação e remuneração em<br />
atividade de formação sofreram grandes alterações. Se, anteriormente, a frequência aos grupos de<br />
trabalho era remunerada por meio do seu enquadramento com o Trabalho Docente em Projetos<br />
(TDPR), com a nova legislação, ocorreu a extinção do TDPR, que foi parcialmente substituído<br />
pelas CHP (Carga Horária Pedagógica) e HP (Hora Pedagógica) respectivamente destinada ao<br />
trabalho pedagógico direto com alunos, exclusivamente, no caso da Educação Infantil, para<br />
desempenhar apoio pedagógico nas salas com alunos portadores de necessidades especiais, e HP,<br />
nas quais era possível realizar a formação docente, mas apenas em cursos previamente<br />
determinados pelo Departamento Pedagógico (DEPE), e aprovados pelos Núcleos de Ação<br />
Educativas Descentralizados (NAEDs).<br />
Essas HPs, ainda segundo Furgeri (2007), são remuneradas pela Secretaria Municipal de<br />
Educação a partir da distribuição de um saldo de horas, conferidos pelo DEPE aos NAEDs. Isso<br />
significa que a participação de docentes em cursos passou a depender da disponibilidade de horas<br />
e da aprovação sucessiva pelo NAED e DEPE, o que criou uma série de restrições e limitações<br />
para a participação dos professores.<br />
Em 2008, acompanhando as regras expostas sobre a distribuição de horas e de<br />
remuneração da participação em cursos, segundo Siqueira (2009), a oferta de formação<br />
continuada foi sensivelmente reduzida, não apenas quanto ao número de vagas, num total de 30<br />
cursos, como também às temáticas abrangidas. Ainda, segundo a autora, ―priorizando itens<br />
obrigatórios do currículo, a formação oficial deixou de proporcionar cursos e grupos em áreas<br />
como meio ambiente, transversalidade a as mídias e suas linguagens (entre eles, Imprensa na<br />
Escola, Rádio e TV, Histórias em Quadrinhos e o próprio Pedagogia da Imagem)... O Pró-Dança,<br />
já tradicional na rede, foi extinto‖ (p. 33).<br />
Também em 2008, outro fato que merece ser destacado, foi a inauguração do<br />
CEFORTEPE (Centro de Formação, Tecnologia e pesquisa Educacional ―Milton Santos‖),<br />
localizado no prédio do antigo colégio Parthenon, que substituiu o já insuficiente Centro de<br />
Formação CEFORMA, localizado na Vila Marieta. Este espaço, além de abrigar os cursos de<br />
formação oferecidos pelo DEPE, ainda abrigou a parte de tecnologia, até então instalada na<br />
Lagoa do Taquaral, e que ofereciam os cursos de informática oferecidos pelo Núcleo de<br />
Tecnologia Educacional (NTE).<br />
Em 2009, foram oferecidos 26 cursos em várias áreas, neste novo espaço. No ano de<br />
2010, <strong>Campinas</strong> começou a abrigar um pólo da UAB (Universidade Aberta do Brasil) no<br />
CEFORTEPE e que, além de cursos pós-graduação em matemática e ciências, ainda forma<br />
professores da educação pública na modalidade a distância. Quanto aos NAEDs, ainda não há<br />
nenhum levantamento sistemático dos cursos de formação oferecidos nestes locais desde a sua<br />
descentralização até hoje.<br />
Neste momento, biênio 2010/2011, estão ocorrendo propostas e alterações que podem modificar a<br />
formação continuada no município. A pedido do então secretário de Educação no Conselho Consultivo<br />
Pedagógico (O Conselho Consultivo foi criado pelo Secretário da Educação com o objetivo de ser um<br />
momento para debates e discussões com os especialistas da SME e foi dividido em três grupos:<br />
Supervisão, feito com os supervisores; Pedagógico, feito com os orientadores pedagógicos e<br />
coordenadores pedagógicos; Administrativos, feito com os diretores do Ensino Fundamental e Educação<br />
Infantil), foi elaborado um documento onde buscou-se recuperar estudos, propostas e resoluções que nos<br />
últimos dez anos foram produzidos por diferentes grupos de profissionais relacionados à formação<br />
continuada em <strong>Campinas</strong>.<br />
107
Este documento que já se encontra em elaboração, deverá conter elementos para uma política de<br />
formação e valorização dos profissionais da educação na Rede Municipal de Ensino e servirá como base<br />
de estudo e debate com os educadores da Rede. A partir dele, uma proposta de formação tem sido<br />
gestada, cuja intenção é fazer com que cada profissional das unidades de educação infantil tenham o seu<br />
próprio plano com o objetivo de contribuir para a melhoria da qualidade da formação continuada realizada<br />
pela SME.<br />
Neste Plano de Formação, segundo a Coordenadoria Setorial de Formação que faz parte do<br />
Departamento Pedagógico, haverá uma proposta de estudo individual de cada profissional da Rede<br />
Municipal de Educação de <strong>Campinas</strong> a curto, médio e longo prazo. Uma das propostas, por exemplo,<br />
indica que entre um e quatro ano seja possível apontar assuntos de interesse para aprofundamento teóricoprático<br />
sobre determinado tema e/ou aprimoramento da competência profissional. Este plano faz, ainda,<br />
referência ao tempo destinado para o estudo e o local onde acontecerá a formação, o que se compreende<br />
por espaços formativos. Por fim, revela a consonância de um Plano de Formação para com os propósitos<br />
do indivíduo e do coletivo, relacionando-se com os propósitos do Projeto Pedagógico da Unidade<br />
Educacional ao qual o profissional da Rede Municipal vincula-se.<br />
ALGUMAS PERCEPÇÕES<br />
O que pudemos depreender, até o momento, leva-nos a perceber que muitos foram os desafios<br />
enfrentados pelos diferentes profissionais envolvidos com a formação continuada na Educação Infantil no<br />
município de <strong>Campinas</strong>.<br />
Verificamos que o município de <strong>Campinas</strong>, em determinados momentos, teve políticas de<br />
formação continuada que beneficiaram o professor de educação infantil com grandes conquistas como, por<br />
exemplo, a valorização vivida pela implantação do Plano de Cargos. Em outros momentos, tais políticas<br />
ficaram estagnadas e sem perspectivas de uma efetiva garantia que oportunizasse a participação de todos<br />
nestes cursos de formação por não haver um número suficiente de vagas. Outro aspecto ainda diz respeito<br />
à descontinuidade de algumas das políticas governamentais, o que trouxe a ruptura de muitas conquistas<br />
atingidas no que se refere à qualificação profissional docente.<br />
A avaliação dessas práticas de formação se faz necessária, na perspectiva de que o espaço da<br />
Educação Infantil possa ser cada vez mais concebido como importante local onde a educação infantil se<br />
inicia, merecendo empreendimento sério e constante dos gestores. Na mesma direção, empreender<br />
esforços para a concepção de políticas públicas que proporcionem formação de qualidade, que considerem<br />
as condições específicas onde os espaços da educação infantil estão inseridos.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
CAMPINAS. Lei Orgânica do Município. Diário Oficial do Município. <strong>Campinas</strong>, 31 mar<br />
1990.<br />
__________. Lei nº 6.894, de 24 dez 1991. Dispõe sobre Estatuto do Magistério Público.<br />
<strong>Campinas</strong>, 1991.<br />
__________. Lei nº 12012, de 29 de jun 2004. Dispõe sobre a criação e transformação de cargos na<br />
administração direta, no Hospital Municipal Dr. Mário Gatti e na FUMEC, reestrutura o Plano de<br />
Carreiras da Prefeitura Municipal de <strong>Campinas</strong>, instituído pela Lei Municipal nº 8.340 de 26 de maio de<br />
1995, e dá outras providências de <strong>Campinas</strong>. Diário Oficial do Município, <strong>Campinas</strong>, 30 jun 2004.<br />
Suplemento<br />
108
__________. Lei nº 12985, de 28 jun 2007. Dispõe sobre o Plano de Cargos, Carreiras e<br />
Vencimentos dos Servidores do Município de <strong>Campinas</strong> e dá outras Providências. Diário Oficial<br />
do Município, <strong>Campinas</strong> 29 jun 2007. Suplemento.<br />
__________. Resolução nº 15/2007. Dispõe sobre o trabalho docente de participação em CHP.<br />
Diário Oficial do Município, <strong>Campinas</strong>, 24 nov 2007.<br />
___________. Resolução SME nº 02/08. Dispõe sobre a regulamentação das Horas-Projeto na<br />
rede Municipal de Ensino de <strong>Campinas</strong>. Diário Oficial do Município. <strong>Campinas</strong>, 14 fev 2008.<br />
FERRAZ, Ângela. Educação Continuada de Professores. Um estudo das políticas da<br />
Secretaria Municipal de Educação de <strong>Campinas</strong> – 1983/1996. 2001, 173 p. Dissertação<br />
(Mestrado). Faculdade de Educação, Universidade Estadual de <strong>Campinas</strong>, <strong>Campinas</strong>, 2001.<br />
FURGERI, Denise K. P. Sentidos da Proximidade. 2007, 125 p. Tese (Doutorado). Faculdade<br />
de Educação, Universidade Estadual de <strong>Campinas</strong>, <strong>Campinas</strong>, 2007.<br />
SIQUEIRA, Juliana Mara. Quem educará os educadores? A Educomunicação e a formação<br />
de docentes em serviço. 2009, 357 p. Dissertação (Mestrado). Escola de Comunicações e Artes.<br />
Universidade de São Paulo. São Paulo, 2009.<br />
FORMAÇÃO CONTINUADA: APROPRIAÇÕES DO PROGRAMA LER E ESCREVER NA<br />
IMPLANTAÇÃO DO ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS<br />
Resumo<br />
109<br />
Autora: Maria do Carmo Jürgensen Lencioni<br />
Mestranda em Educação<br />
Orientadora: Maria Silvia Pinto de Moura Librandi da Rocha<br />
Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong><br />
Eixo temático: Formação de professores e práticas pedagógicas<br />
Modalidade: Comunicação Oral<br />
mariacjlencioni@uol.com.br<br />
silrocha@uol.com.br<br />
O tema deste trabalho se refere à implementação do novo Ensino Fundamental (EF) de nove<br />
anos, com interesse, mais especificamente, sobre a formação continuada dos/as professores/as<br />
nesse processo, requerendo, portanto, adaptações e investimentos na formação continuada dos/as<br />
docentes diante dessa nova realidade educacional. O programa Ler e Escrever (produzido pela<br />
Secretaria de Estado de Educação de São Paulo) configura-se como um desses investimentos. O<br />
presente trabalho tem como objetivo compreender o Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo<br />
(HTPC) num momento específico da implantação do EF de nove anos e sua utilização para o<br />
estudo e apropriação do material Ler e Escrever, adotado como material obrigatório na rede<br />
municipal de ensino de Limeira. Trata-se de um estudo com abordagem qualitativa, referenciado<br />
na teoria histórico-cultural. O material empírico foi obtido por meio de observação participante
nos encontros do HTPC realizados nesta escola, recortando destes encontros, os que congregaram<br />
professoras de primeiros anos e professoras coordenadoras do Ensino Fundamental e da<br />
Educação Infantil. O trabalho analítico permitiu encontrar três núcleos de significação, em torno<br />
dos quais as enunciações registradas (sobretudo as da professora coordenadora do Ensino<br />
Fundamental) se organizaram. São eles: o Ensino Fundamental, a importância do trabalho em<br />
equipe e concepções sobre os/as professores/as. Esses núcleos de significação foram subdivididos<br />
em tópicos, buscando refinar as análises. Em relação aos resultados obtidos até o momento, é<br />
possível identificar através dos dados empíricos que há grandes conflitos que permeiam a<br />
dinâmica escolar como: (i) questões recorrentes no cenário educacional como a maneira<br />
inadequada como ocorreu a implantação do EF de nove anos, (ii) as dúvidas relacionadas às<br />
práticas pedagógicas e o processo de ensino e aprendizagem dos/as alunos/as com a adoção do<br />
Programa Ler e Escrever e a falta do material para trabalhar com os/as discentes, (iii) o silêncio<br />
das professoras que permeia as reuniões do HTPC, sendo que a professora coordenadora detém o<br />
controle da fala – ressaltando que seria mais produtivo que esses momentos fossem de<br />
interlocução entre os participantes. Espera-se que com os dados obtidos com esse estudo, haja a<br />
possibilidade de reflexões acerca das formas de implementação do EF, bem como de apontar<br />
diretrizes para debates e tomadas de decisões, tendo em vista que haverá a devolutiva dos<br />
achados da pesquisa para os/as docentes, o que poderá ser ponto de partida para aprimoramento<br />
de ações de formação continuada.<br />
Palavras - Chave: Ensino Fundamental de Nove Anos, Formação Continuada, HTPC.<br />
AS ENTREVISTAS RECORRENTES COMO POSSIBILIDADE DE REFLEXÃO DO PROFESSOR<br />
SOBRE A PRÓPRIA PRÁTICA PEDAGÓGICA<br />
Resumo<br />
110<br />
Nestor Bertini Junior<br />
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação da <strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong><br />
Bolsista CAPES<br />
Elvira Cristina Martins Tassoni<br />
Docente do Programa de Pós-Graduação em Educação da <strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong><br />
Eixo Temático: Formação de Professores e práticas pedagógicas<br />
Comunicação Oral<br />
As pesquisas qualitativas em Educação vêm abrindo possibilidades para procedimentos de coleta de dados<br />
que busquem uma maior interação entre pesquisador e sujeito, bem como um detalhamento dos dados e,<br />
consequentemente, um cuidadoso processo de coleta dos mesmos. Procedimentos metodológicos que<br />
promovam tais aspectos vêm se consolidando e ganhando espaços em diversas pesquisas. Nesse sentido,<br />
as entrevistas recorrentes têm se mostrado um procedimento interessante e eficiente do ponto de vista da<br />
produção de conhecimento sobre o tema, de forma planejada e compartilhada. Tal procedimento envolve<br />
grande interação entre pesquisador e sujeitos. Baseia-se em algumas etapas de entrevista, inicialmente<br />
aberta onde uma questão disparadora é elaborada, a fim de despertar, no sujeito da pesquisa, as primeiras<br />
ideias sobre o problema a ser investigado. Estes dados são transcritos e passam por um processo inicial de<br />
análise com a organização de categorias e servem de base para a elaboração de um roteiro de questões, a<br />
fim de se obter esclarecimentos, ampliações, detalhamentos a partir do problema de pesquisa, segundo a
necessidade do pesquisador e/ou do próprio sujeito. Este encontro e os próximos têm um formato semiestruturado.<br />
Tais encontros acontecerão sempre a partir das transcrições e categorizações a serem<br />
apresentadas ao sujeito. O problema de pesquisa balizará a realização das entrevistas e também a<br />
quantidade de encontros a serem feitos com cada sujeito, pois será a referência para que pesquisador e<br />
sujeito decidam, em conjunto, o momento em que se esgotaram as informações a respeito da problemática<br />
da investigação. As entrevistas recorrentes, como procedimento metodológico, foram utilizadas na<br />
pesquisa realizada pelos autores e tiveram como questão disparadora: ―Como se deu a sua escolha pela<br />
Educação Física e qual significado ela tem na sua docência e na vida de seus alunos?‖ A coleta de dados<br />
envolveu quatro professores de Educação Física do ensino público, com tempo de formado e de docência<br />
diferentes. Desta forma, buscamos investigar de que maneira as mudanças ocorridas na área da Educação<br />
Física vêm marcando a concepção e a prática pedagógica de professores. Esperamos contribuir para<br />
ampliar as discussões a respeito da Educação Física e da formação docente.<br />
Palavras-chave: Entrevistas Recorrentes; Procedimento Metodológico; Práticas Pedagógicas;<br />
Formação de Professores.<br />
INTRODUÇÃO<br />
As pesquisas qualitativas em Educação têm oportunizado o surgimento de procedimentos<br />
metodológicos que promovam uma maior interação entre os sujeitos e pesquisador, portanto vêm<br />
se consolidando e ganhando espaços em diversas pesquisas, tais procedimentos.<br />
Bogdan e Biklen (1982) esclarecem que as pesquisas qualitativas têm características específicas,<br />
tais como: o ambiente como fonte de dados e o pesquisador como instrumento principal; os dados<br />
coletados são descritivos; o processo tem maior relevância que o produto final; as pessoas e os<br />
significados que estas dão a suas vidas merecem o foco do pesquisador; e por fim, a análise se dá por um<br />
processo interpretativo. Desta forma, ―a pesquisa qualitativa (...) envolve a obtenção de dados descritivos,<br />
obtidos no contato direto do pesquisador [e] se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes‖<br />
(LÜDKE e ANDRÉ, 1986, p. 13).<br />
Minayo (2008) destaca que o<br />
método qualitativo é o que se aplica ao estudo da história, das relações, das<br />
representações, das crenças, das percepções e das opiniões, produtos das interpretações<br />
que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si<br />
mesmos, sentem e pensam. (p. 57).<br />
A autora reforça ainda que as pesquisas qualitativas se ―conformam melhor a investigações de<br />
grupos e segmentos delimitados e focalizados, (...)‖ (p. 57).<br />
Segundo Gómez, Flores e Jiménez (1996), na pesquisa qualitativa, o trabalho de campo constituise<br />
em dois momentos. O acesso ao campo e a coleta de dados. O acesso ao campo não significa apenas a<br />
entrada no local onde os dados serão coletados, mas principalmente a possibilidade de estabelecer<br />
vínculos de confiança e segurança, a fim de que os sujeitos se sintam à vontade para fornecer as<br />
informações necessárias. Além disso, salientam que, a cada momento, o investigador tem que tomar<br />
decisões entre as diferentes alternativas que vão se apresentando.<br />
Assim, este trabalho apresenta o procedimento metodológico conhecido como entrevista<br />
recorrente utilizado em uma pesquisa que tem por objetivo saber qual a visão que o professor de Educação<br />
Física tem desta área de conhecimento e de sua própria docência. A opção pelas entrevistas recorrentes se<br />
deu em função da intenção em dar voz a quatro professores de Educação Física, a fim de buscar, nos<br />
diferentes discursos, a maneira com que as mudanças ocorridas na área nos últimos anos vêm marcando a<br />
concepção e a prática pedagógica dos sujeitos investigados.<br />
111
Tradicionalmente, a entrevista tem sido considerada um dos mais ricos instrumentos que privilegia<br />
a interação social entre pesquisador e sujeito pesquisado. De maneira especial, as entrevistas recorrentes<br />
têm se mostrado um procedimento interessante e eficiente do ponto de vista da produção de conhecimento<br />
sobre o tema que se investigada, de maneira planejada e compartilhada, pois possibilita uma intensa<br />
interação entre pesquisador e sujeitos.<br />
Devemos considerar para uma entrevista alguns pontos importantes como: a interação e<br />
relacionamento entre as partes, a elaboração das perguntas, os registros e a devolutiva dos resultados do<br />
pesquisador para com o pesquisado (GÓMEZ, FLORES e JIMÉNEZ, 1996). Vale reforçar que temos que<br />
considerar a existência de diferentes estratégias e técnicas de entrevistas. A nossa opção foi pelas<br />
entrevistas recorrentes, em razão do tipo de informação que nos interessava.<br />
AS ENTREVISTAS RECORRENTES<br />
Esta técnica de coleta de dados, segundo Leite e Colombo (2006), envolve um número reduzido<br />
de sujeitos e escolha intencional dos mesmos. Baseia-se, inicialmente, em entrevistas individuais abertas,<br />
gravadas em áudio, contando com uma questão disparadora e com pouca interferência do pesquisador.<br />
Esse primeiro momento de coleta de dados é transcrito e o material obtido é submetido a uma análise<br />
inicial, a fim de se realizar uma primeira categorização e a organização de um roteiro semi-estruturado que<br />
norteará o momento seguinte. É nesse momento que teremos a oportunidade de explorar e inferir em busca<br />
de contribuições que por ventura o(s) encontro(s) passados ainda deixaram a desejar, esclarecendo ou<br />
finalizando o material.<br />
Após essa primeira etapa, segue-se um segundo momento de entrevista, em que os sujeitos são<br />
incentivados a completar/alterar/propor novos arranjos e o pesquisador pode solicitar esclarecimentos de<br />
informações. Nesta etapa as entrevistas são semi-estruturadas, com uma participação mais ativa do<br />
pesquisador. Novas transcrições e análise dos dados colhidos, neste segundo momento, levam a uma nova<br />
categorização, forçando um novo encontro no qual o sujeito novamente lê toda a entrevista tendo a<br />
disposição os trechos do primeiro e do segundo momento e suas categorizações, incluindo as novas<br />
categorias, caso tenham surgido. No terceiro encontro, o sujeito novamente, se achar necessário, indica<br />
arranjos, complementos, faz esclarecimentos e quando mais nada tiver para acrescentar, encerra-se o<br />
encontro, deixando agendado mais um e, neste caso o último, para uma revisão geral e definitiva. É<br />
importante destacar que esta dinâmica pode ocorrer de forma diferente de sujeito para sujeito, variando o<br />
número de encontros. Como parte prevista nos procedimentos, inclui-se a possibilidade de novas<br />
entrevistas, caso necessário. Ressaltando que o problema da pesquisa balizará os encontros e a construção<br />
da entrevistas influenciando diretamente na coleta dos dados, principalmente a partir do segundo encontro.<br />
Na etapa final de organização dos dados ocorre novas análises e todo o material coletado, deve ser<br />
lido, buscando a familiarização e a apropriação das informações, por parte do pesquisador, propiciando a<br />
revisão das categorias já elaboradas. Outro ponto importante no processo de análise do material é se<br />
atentar para as alterações propostas pelo sujeito em cada reencontro, podendo perceber se estas alterações<br />
mantêm a fidelidade dos dados.<br />
A questão disparadora do primeiro encontro foi a seguinte: ―Como se deu a sua escolha pela<br />
Educação Física e qual significado ela tem na sua docência e na vida de seus alunos?‖ A coleta de dados<br />
envolveu quatro professores de Educação Física do ensino público da região de Jundiaí. A escolha pela<br />
escola pública se deu pela crença em um terreno fértil para as investigações e reflexões. A escolha dos<br />
sujeitos observou critérios como: trabalhar somente no ensino público e com tempo de formado e de<br />
docência diferentes. Esperamos com isso investigar possíveis alterações nas formas de compreender a área<br />
e se isso influencia a prática pedagógica, o que não quer dizer que existam, necessariamente, marcos<br />
relevantes para área nestas décadas e sim que a diferença entre os anos de formação possa nos trazer<br />
contribuições importantes quanto à história dos sujeitos, as relações que mantêm com a área e a história de<br />
formação de cada um.<br />
112
O sujeito 1 é um docente formado na década de 1970 na USP que além de trabalhar na docência,<br />
hoje também ocupa cargo na gestão escolar. O sujeito 2 é formado em 2005 na Universidade de Sorocaba,<br />
desde então trabalha como professor do Ensino Fundamental I e II. O sujeito 3 está formado pela ESEF<br />
desde 1986 e atua no Ensino Fundamental II e Médio. Por fim temos o último sujeito que é formado na<br />
década de 1990 pela ESEF e atuando no Ensino Fundamental I.<br />
Os encontros variaram em número, mas nunca inferior a três e superior a cinco, com um tempo<br />
médio de duração de sessenta minutos cada um. Claro que cada sujeito, a sua maneira e diante de seus<br />
conhecimentos e experiências, realizava a cada encontro suas inferências, que na maioria das vezes se<br />
davam mais no campo da qualificação de suas falas, do que na mudança de conceitos. Desta forma,<br />
buscamos investigar de que maneira as mudanças ocorridas na área da Educação Física vêm marcando a<br />
concepção e a prática pedagógica de professores, esperando contribuir para ampliar as discussões a<br />
respeito da Educação Física e da formação docente.<br />
RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
Diante dos dados obtidos nos vários encontros, por meio das entrevistas recorrentes<br />
estamos num processo de consolidação das categorias identificadas juntamente com a anuência<br />
dos sujeitos entrevistados.<br />
Leite e Colombo (2006) destacam que<br />
a construção das categorias finais é fruto de processos centrados em decisões<br />
marcadamente inferenciais, porém, não aleatórias. Isto significa que tais decisões são<br />
assumidas a partir da consistência e coerência dos próprios dados coletados e<br />
analisados, além, obviamente, do referencial teórico assumido previamente pelo<br />
pesquisador, como base de todo o trabalho desenvolvido (p. 127).<br />
Assim, as informações fornecidas pelos sujeitos durante os encontros para as entrevistas são a<br />
matéria prima para a busca de indicadores que revelaram qual a visão que eles têm da Educação Física<br />
enquanto área de conhecimento e da própria docência e de que maneira as mudanças ocorridas na área,<br />
nos últimos anos, vêm marcando as suas concepções as suas práticas pedagógicas.<br />
O momento inicial de análise gerou uma lista de recortes de comentários e opiniões explicitadas<br />
pelos sujeitos, consideradas importantes para a compreensão do objetivo da investigação. Coletamos ao<br />
longo dos encontros uma grande diversidade de dados, envolvendo clichês, crise de identidade, de<br />
inferioridade, pontos vulneráveis na formação.<br />
Construímos quadros com recortes dos comentários dos sujeitos entrevistados, que se constituíram<br />
nos indicadores que possibilitarão discutirmos a problemática a qual nos propusemos. Até o momento<br />
temos como indicadores: Visão do docente sobre a Educação Física, Organização da Prática Pedagógica,<br />
Formação de Professores, Condições de Trabalho, Valorização do Professor e Valorização da área.<br />
CONCLUSÕES<br />
A nossa pesquisa, além de discutir e situar a Educação Física ao longo da sua história, identificada na<br />
visão dos professores apresentou o papel da Educação Física e do seu docente, buscando aprofundar os<br />
conhecimentos sobre a área. Nossa intenção é contribuir para discussões que possam consolidar a<br />
Educação Física como área de conhecimento e problematizar a formação de professores. Diante do que<br />
conseguimos até o momento com nossos dois sujeitos e focando sempre o nosso problema principal que<br />
visa identificar as mudanças da área nas últimas décadas e suas influências nas concepções e nas práticas<br />
pedagógicas destes docentes. O que temos até agora marcante nestes sujeitos é que mesmo com uma<br />
diferença de idade e consequentemente neste caso de formação e atuação profissional, apuramos que eles<br />
reconhecem mudanças no que se refere à legislação e em iniciativas pedagógicas por parte dos governos<br />
113
Federal e Estadual. Por outro lado, na prática do dia a dia das escolas não tem se efetivado mudanças<br />
significativas, trazendo reflexos diretos na valorização deste profissional em relação aos demais<br />
professores de outras áreas curriculares. Somando-se a este cenário, o profissional da Educação Física<br />
ainda sofre as mazelas de ser uma disciplina que gera dúvidas quanto à sua real importância e utilidade e<br />
tem como herança uma área técnica, esportiva e de características exclusivas, indo contra o que realmente<br />
se espera e se pode alcançar dentro da área.<br />
A pesquisa espera lançar indagações e propostas a fim de gerar reflexões por parte dos docentes,<br />
retirando-os de uma possível zona de acomodação e/ou estagnação, quanto ao seu papel, mas<br />
principalmente o que sua prática pedagógica pode ou não influenciar na valorização da área, contribuindo<br />
para o reconhecimento definitivo da Educação Física como uma área de conhecimento em substituição ao<br />
rótulo de mera atividade e ocupação.<br />
Esperamos com a finalização de a pesquisa poder:<br />
Discutir e situar a Educação Física ao longo da história, identificada na visão dos<br />
professores;<br />
Apresentar o papel da Educação Física e do seu docente;<br />
Buscar aprofundar os conhecimentos sobre a área, contribuindo para as discussões e<br />
consolidando a área como de conhecimento;<br />
Problematizar a formação de professores;<br />
Assumir o que é a Educação Física e suas especificidades.<br />
Os dados coletados por meio da entrevistas recorrentes, demonstram que nossos sujeitos até o<br />
momento reconhecem as mudanças no que se refere à legislação e quanto às abordagens pedagógicas<br />
percebendo-se como profissionais desvalorizados e atuando em uma área de importância questionável e<br />
desvalorizada. Pudemos também reconhecer a importância de problematizar e discutir a formação do<br />
docente em Educação Física e a urgência que a área tem de se assumir, de reconhecer suas<br />
especificidades, fugindo de uma generalização que até hoje não influenciou positivamente nem a área e<br />
tão pouco seus docentes.<br />
Por isso esperamos contribuir para ampliar as discussões a respeito da Educação Física e da<br />
formação do docente em Educação Física.<br />
REFERÊNCIAS<br />
BOGDAN, Robert. & BIKLEN, Sari. Investigação Qualitativa em Educação - Uma introdução à teoria e<br />
aos métodos. Porto, Portugal: Porto Editora, 1994.<br />
GÓMEZ, G. R.; FLORES, J. G. e JIMÉNEZ, E. G. Metodología de la investigación cualitativa.Ediciones<br />
Aljibe: Málaga, 1996.<br />
LEITE, Sérgio Antonio da Silva e COLOMBO, Fabiana Aurora. A voz do sujeito como fonte<br />
primária na pesquisa qualitativa: a autoscopia e as entrevistas recorrentes. In: PIMENTA,<br />
Selma Garrido; GHEDIN, Evandro;<br />
LÜDKE, Menga & ANDRÉ, Marli Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo:<br />
E.P.U.,1986.<br />
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Introdução à metodologia de pesquisa social. Em: O desafio do<br />
conhecimento. Pesquisa qualitativa em Saúde (4ª. Ed.). São Paulo/Rio de Janeiro: Hubitec-Abrasco, 2008.<br />
114
PESQUISA-AÇÃO E FORMAÇÃO DE EDUCADORES NA/DA EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL: DESAFIOS,<br />
LIMITES E ALCANCES<br />
Resumo<br />
115<br />
Renata Sieiro Fernandes<br />
pedagoga, mestre e doutora em Educação – Unicamp,<br />
ex-bolsista Prodoc – Capes, na Faculdade de Educação – Unicamp e<br />
docente do Programa de Mestrado em Educação – Unisal – Americana<br />
Eixo temático: Formação de professores e práticas pedagógicas;<br />
Comunicação Oral<br />
e-mail: rsieirof@hotmail.com e renata.fernandes@am.unisal.br<br />
Esta comunicação trata de uma pesquisa-ação (2008-2010) desenvolvida em dois espaços de educação<br />
não-formal, em regiões periféricas de <strong>Campinas</strong>, o Progen, na Vila Castelo Branco e o CPTI, no Nova<br />
Aparecida. O público envolvido foram os coordenadores pedagógicos e os educadores dessas instituições.<br />
O interesse das instituições foi investir na formação contínua de seus educadores e rever suas opções<br />
teórico-prática-metodológica, orientadas por princípios filosófico-político de formação de sujeitos que<br />
melhor se adequassem ao campo da educação não-formal e ao papel institucional de organizações na<br />
sociedade atual. Para tanto, desenvolveu-se um curso de formação diferenciado em cada instituição e<br />
ocorreram reuniões e encontros presenciais de orientação com coordenadores e educadores,<br />
individualmente ou em grupo, ou a distância, via e-mails. O formato e conteúdo dos cursos de formação<br />
foram criados tomando-se os interesses e demandas de cada instituição, somando-se a assuntos que a<br />
pesquisadora indicou a fim de compor um ―desenho‖ de curso negociado. Fez-se, ainda, a construção de<br />
um site, como instrumento de publicização das práticas e reflexões, meio de registro e sistematização dos<br />
trabalhos, espaço de conversas e trocas virtuais, entre educadores e coordenadores de ambas as<br />
instituições, visando aproximar as realidades e experiências, compartilhar dúvidas, soluções e sugestões.<br />
Houve deslocamentos por parte dos educadores, coordenadores pedagógicos das instituições envolvidas e<br />
da pesquisadora. Empreender uma pesquisa-ação no universo das Ongs exige esforço de ambos os lados e<br />
muitas vezes, o que inicia-se como uma demanda urgente, ao longo do tempo, passa a ser secundário em<br />
razão de outras urgências burocráticas – captação de recursos, escritas de projetos, relatórios de prestação<br />
de contas -, de reestruturações – trocas de função, alta rotatividade de funcionários – e de limitações dos<br />
próprios educadores – falta de tempo, muitas tarefas cotidianas se sobrepondo ao pedagógico, reflexão e<br />
ação mais lentas quando comparadas as expectativas da instituição e da pesquisa. Houve frustrações ao<br />
longo da pesquisa, muitas reorientações – que é próprio de uma pesquisa-ação – e alguns pontos foram<br />
preteridos. Também houve satisfações por perceber mudanças nas práticas pedagógicas dos educadores e<br />
entusiasmo verbalizado por parte deles ao perceberem e incorporarem novas possibilidades em seus<br />
trabalhos.<br />
Palavras-chave: pesquisa-ação, formação de educadores, educação não-formal<br />
“VIVENCIANDO AS AULAS EXPLORATÓRIO-INVESTIGATIVAS: DESCOBERTAS DE<br />
MUITOS/INFINITOS CAMINHOS POSSÍVEIS PARA ENSINAR E APRENDER MATEMÁTICA NOS<br />
ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL.”<br />
ROSANA FERREIRA DA SILVA 9<br />
rosana_fsilva@ig.com.br<br />
ROSANA CATARINA RODRIGUES DE LIMA 10<br />
9 Licenciada em Pedagogia e Pós Graduanda em Psicopedagogia, Membro do GREPEM-FAMA.
INTRODUÇÃO<br />
116<br />
catarinarosana@uol.com.br<br />
FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS<br />
COMUNICAÇÃO ORAL<br />
FACULDADE DE MAUÁ – FAMA / MAUÁ-SP<br />
Este artigo foca a análise do episódio ―Explorando as conjecturas: um olhar em outras direções:‖<br />
da terceira etapa de uma aula exploratório-investigativa realizada com educandos do 3º ano do Ensino<br />
fundamental, o qual integra a pesquisa desenvolvida durante a graduação do curso de Licenciatura Plena<br />
em Pedagogia. Assim, no decorrer deste trabalho científico buscamos refletir sobre os desafios postos<br />
atualmente no processo de ensino e aprendizagem na Matemática nos anos iniciais do Ensino<br />
Fundamental, no qual protagonizam docentes e educandos.<br />
Como objetivo específico pretendeu-se refletir sobre a resolução de problemas numa perspectiva<br />
exploratório-investigativa nas aulas de matemática, para que o seu ensino seja voltado à construção de um<br />
conhecimento significativo em que o educando possa transformar ativamente seu meio.<br />
Considerando este cenário, buscou-se investigar as contribuições de aulas exploratórioinvestigativas<br />
para o ensino e aprendizagem da matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental e,<br />
quais as habilidades matemáticas podem ser desenvolvidas e mobilizadas no contexto dessas aulas?<br />
Na busca de respostas para tais questões, após os estudos bibliográficos procedeu-se à pesquisa de<br />
campo cujos dados foram analisados qualitativamente. De acordo com Vianna (2001), a pesquisa<br />
qualitativa procura analisar e identificar relações, causas, efeitos, significados, opiniões, conseqüências,<br />
categorias e outros inúmeros aspectos relevantes indispensáveis para que compreenda-se a realidade.<br />
Assim, além de promover reflexões sobre novas abordagens metodológicas para o ensino de<br />
matemática, esta pesquisa buscou contribuir para o rompimento da visão tecnicista e mecanizada ainda<br />
predominante no processo de ensino e aprendizagem da matemática nos dias atuais. Tendo em vista que,<br />
atualmente alguns grupos de estudos em Educação Matemática vêm se debruçando sobre novas formas de<br />
desenvolver e mobilizar habilidades matemáticas que levem o educando a explorar e analisar as situações<br />
problemas, buscar por regularidades e semelhanças, formular e testar as conjecturas, argumentar e<br />
comunicar as ideias matemáticas por meio do uso de habilidades oral, escrita e de leitura.<br />
Neste sentido, o desenvolvimento de tais habilidades exige a busca de uma nova abordagem em<br />
sala de aula que desperte no educando o espírito de investigar e explorar a matemática de forma genuína,<br />
um exemplo são as aulas exploratório- investigativas, tarefas abertas que requerem predisposição e<br />
aptidões dos educandos conforme mencionado nas linhas acima, assim essas aulas servem, geralmente,<br />
para introduzir um novo tema de estudo ou para problematizar e produzir significados a um conceito<br />
matemático (FIORENTINI, 2006). Nesta concepção, o educando cria conjecturas, testa, experimenta,<br />
busca novos caminhos tendo uma maior autonomia durante seu aprendizado e quando estabelece relações<br />
estas são significativas, pois vem de um processo, no qual faz sentido para o mesmo (PONTE, 2010).<br />
Deste modo, quando se enfatiza que as explorações e investigações matemáticas são um tipo de<br />
atividade que todos os educandos devem experimentar, coloca-se a questão de compreender como se torna<br />
possível realizá-las. Deste modo, permeiam algumas indagações tais quais: Como organizar este tipo de<br />
aula? E quais as etapas a percorrer para desenvolver esta prática nas aulas de matemática?<br />
Neste contexto, tanto os trabalhos de Ponte, Brocardo e Oliveira (2009) quanto os de Fiorentini<br />
(2006) ressaltam que esta prática possui as seguintes características:<br />
Exploração inicial de uma tarefa, situação-problema ou questão matemática;<br />
10 Mestre em Educação Matemática, Docente da Faculdade de Mauá – FAMA, Curso de Licenciatura em Pedagogia<br />
e Pós em Psicopedagogia, Mauá, SP, Brasil. Membro do GDS-Unicamp e Coordenadora do GREPEM – FAMA.
Levantamento de conjecturas acerca da proposta;<br />
Verificação/testes das conjecturas;<br />
Busca de uma prova/demonstração ou argumentação que valide as conjecturas.<br />
Sendo estas as etapas que nortearam nossa pesquisa. Passamos agora a especificar o<br />
desenvolvimento de uma prática exploratório-investigativa experiênciada pela pesquisadora.<br />
A PRÁTICA EXPLORATÓRIO-INVESTIGATIVA NAS AULAS DE MATEMÁTICA:<br />
MINHAS PRIMEIRAS VIVENCIAS COM ESTA ABORDAGEM<br />
A Pesquisa de campo iniciou-se no dia 04 de outubro de 2010 seguindo de um encontro<br />
semanal e finalizou dia 17 de dezembro de 2010. Inicialmente, com o intuito de sondar e traçar o<br />
perfil dos educandos que participariam da aplicação das atividades propostas pela pesquisa,<br />
buscou-se saber quais conteúdos matemáticos já haviam sido abordados, qual a metodologia<br />
aplicada pela docente e quais os conhecimentos que os educandos possuíam na disciplina de<br />
matemática, pois devido ao tempo disponibilizado pela docente efetiva da sala decidimos<br />
trabalhar os conceitos matemáticos na perspectiva exploratório-investigativa para aprofundar os<br />
conceitos já trabalhados em sala pela docente, no semestre anterior.<br />
Após acompanhar a docente da sala durante três semanas, realizamos uma atividade<br />
exploratório-investigativa que propiciou aos educandos um conhecimento contextualizado da<br />
tabuada e também contribuiu para a familiarização dos educandos com a proposta num primeiro<br />
momento. Em seguida, realizamos outra atividade exploratório-investigativa um pouco mais<br />
elaborada, que contribuiu para que os educandos compreendessem o que é explorar e investigar<br />
nas aulas de matemática e assumissem esta postura. Após uma analise desses, dois momentos<br />
desenvolvemos e realizamos uma aula exploratório-investigativa, que contemplou a análise<br />
descrita neste trabalho.<br />
Considerando que, a abordagem exploratório-investigativa era algo novo tanto para a<br />
pesquisadora iniciante na prática docente como para os educandos, procurou-se seguir durante a<br />
realização das três etapas do trabalho proposto algumas orientações descritas em Ponte apud<br />
Conti e Soares (2005, p.139-140), no qual reiteram que, numa abordagem deste tipo o educador<br />
deve motivar os educandos a investigar e explorar a matemática, apresentar e ler conjuntamente a<br />
atividade, interagir junto aos educandos na realização da proposta, incentivar a apresentação oral<br />
dos resultados das impressões aos colegas, organizar a apresentação dos educandos e ajudá-los a<br />
sistematizar na lousa as considerações expressas na atividade e, apresentá-las oralmente para que<br />
os demais colegas possam registrar os vários aspectos evidenciados apropriando-se assim das<br />
variadas investigações realizadas.<br />
Para esta aula contou-se com 29 crianças que foram distribuídas num total de 7 grupos<br />
indicados nesta pesquisa como G-BRANCO, G-VERDE, G-AZUL, G-AMARELO, G-ROSA, G-<br />
VERMELHO E G-ROXO. Devido a quantidade de alunos um dos grupos foi composto por 5<br />
crianças e todos os demais constituíram-se de 4 crianças. Como recurso material para esta aula,<br />
utilizou-se pastilhas de azulejo (3 x 3 cm) encapadas com papel contact nas cores roxo, azul, rosa,<br />
vermelho, branco, verde e amarelo que representariam as mesas como conta a história da<br />
Lanchonete do Alan Xonete.<br />
Após a formação dos grupos, iniciou-se a distribuição dos papéis de cada componente do<br />
mesmo, ou seja, qual seria a atuação de cada componente na realização e no desenvolvimento da<br />
atividade, sendo que, dois seriam relatores, ou seja, iriam expor o trabalho para a sala, um seria o<br />
117
edator, responsável por redigir as considerações que o grupo produziu e o outro seria o<br />
coordenador do grupo, cujas funções seriam controlar o tempo, verificar o que o grupo está<br />
produzindo, chamar a docente pesquisadora para esclarecer dúvidas, resolver possíveis conflitos e<br />
ajudar na elaboração do material para a apresentação. Em seguida, passou-se a leitura dos<br />
critérios, roteiro da atividade e a entrega da atividade e recursos materiais, e, para esta etapa<br />
utilizamos quatro horas até a conclusão da atividade.<br />
Deste modo, vale evidenciar que o roteiro, foi construído a partir das idéias retiradas da<br />
narrativa sobre a tarefa ―Explorações com números‖ de Cristovão (2006) apoiado em Ponte<br />
(2003), com o intuito de sustentar o trabalho dos educandos fornecendo informações para a<br />
compreensão efetiva do que lhes seria proposto no decorrer da atividade e solicitado como<br />
produto final.<br />
A LANCHONETE DO ALAN XONETE 11 : UMA CONEXÃO ENTRE A MATEMÁTICA<br />
E AS TAREFAS EXPLORATÓRIO-INVESTIGATIVAS<br />
Esta atividade conta a história de um grupo de amigos Aderdal, Bruno, Cristiane e Danilo que,<br />
após a aula foram comer pizza e tomar guaraná na lanchonete do Alan Xonete. Chegando lá o garçom<br />
Edgar Som já havia separado uma mesa para os quatro amigos se sentarem. A conversa ia animada<br />
quando chegaram Eduardo e Flávio e o garçom Edgar Som apressou-se e ajeitou mais uma mesa ao lado<br />
da primeira, ficando duas mesas com 6 lugares.<br />
Era dia de reunião da turma para descansar e passar bons momentos brincando e conversando e<br />
logo chegaram Graziela e Hortênsia. E o garçon Edgar Som, colocou uma nova mesa ao lado das duas<br />
anteriores e avisou ao Falco Zinheiro, o cozinheiro, para preparar mais duas pizzas. Assim, ficaram três<br />
mesas com 8 lugares.<br />
A turma esperava mais convidados, logo chegaram Izilda e Joana e mais uma mesa foi colocada.<br />
A partir daí, foram propostas situações-problemas envolvendo a disposição das mesas para que os<br />
educandos pudessem resolvê-las numa postura exploratório-investigativa. Segue abaixo, as situações<br />
propostas.<br />
a) Faça o desenho representando a nova quantidade de mesas e seus ocupantes, sempre respeitando a<br />
mesma disposição das mesas à sua volta.<br />
b) Desenhe a representação das mesas quando chegaram Karen e Leandro.<br />
c) Quantas mesas seriam necessárias para acomodar 14 pessoas?<br />
d) E para acomodar 18 pessoas?<br />
e) Se forem colocadas 9 mesas quantas pessoas podem ser acomodadas, usando a mesma disposição das<br />
mesas?<br />
f) Quantas mesas serão necessárias para receber as 32 pessoas?<br />
EXPLORAR AS CONJECTURAS: UM OLHAR EM OUTRAS DIREÇÕES<br />
Uma das situações-problema da tarefa solicitava aos grupos que informassem quantas mesas<br />
seriam necessárias para acomodar 14 pessoas. E, na apresentação dos resultados, os sete grupos<br />
conseguiram chegar à resolução desta questão atingindo os objetivos propostos, concluindo que seria<br />
necessário 6 mesas para acomodar 14 pessoas. Assim, quando nos reportamos à formulação de questões e<br />
ao teste de conjecturas é necessário que o docente no decorrer da atividade coloque algumas indagações<br />
aos educando que os estimulem a olhar em outras direções os fazendo refletir sobre o que estão<br />
11 Esta atividade foi elaborada por Adilson Pedro Roveran professor especialista em matemática para o Ensino<br />
Médio e encontra-se disponível em seu contexto original no livro: “Histórias e investigações de/em aulas de<br />
matemática”, 2006.<br />
118
produzindo para garantir que os educandos estão evoluindo na realização da investigação. (PONTE,<br />
BROCARDO E OLIVEIRA, 2009).<br />
Neste sentido, cabe relatar um momento que se deu quando observava o desenvolvimento do<br />
trabalho do G-BRANCO registrando suas considerações, e um de seus integrantes fez a seguinte<br />
indagação à pesquisadora:<br />
A1: Nossa Prô! Está muito fácil esta atividade.<br />
Neste momento, tendo em vista a indagação realizada pelo integrante do grupo, fez-se necessário<br />
propiciar aos educandos novas descobertas por meio da experimentação. E de acordo com Lorenzato<br />
(2008) a importância introduzir nas aulas momentos de experimentação reside no poder que ela tem de<br />
conseguir provocar raciocínio e reflexão, por facilitar que o educando levante hipóteses, busque<br />
alternativas, tome novos caminhos, tire dúvidas e possa constatar o que é verdadeiro, válido, correto ou<br />
solução.<br />
O autor ainda destaca que, experimentar é valorizar o processo de construção do saber em<br />
vez de se apegar aos resultados dele, pois na formação do educando mais importante do que<br />
conhecer a solução é saber como encontrá-la. Partindo destes pressupostos foi proposto ao grupo<br />
um novo desafio que escrevessem a resposta utilizando uma expressão matemática. E para minha<br />
surpresa o G-BRANCO aceitou o desafio sem contestamento algum. Neste momento passei a<br />
observá-los e segue abaixo trechos da discussão sobre as hipóteses e os testes de conjecturas que<br />
o G-BRANCO realizou durante o desafio proposto:<br />
A4: Você foi falar que estava fácil agora complicou!<br />
A1: Vamos ver, acho que dá pra usar conta de vezes.<br />
A3: Mas como? são 6 mesas e 6x2 é 12 e são 14 pessoas<br />
A5: 7x2=14 vamos ver?<br />
A1: São 6 mesas e não 7.<br />
A5: Então esta errada a resposta. Vamos contar?(Inicia a contagem)<br />
A3: 7 mesas cabem 16 pessoas.<br />
Passado algum tempo o grupo retoma a discussão, após observarem a disposição das mesas e dos<br />
lugares de cada ocupante.<br />
A1: Olhem! Tem quatro mesas que tem apenas 2 pessoas sentadas.<br />
A2: E?<br />
A1: E duas mesas que tem 3 pessoas<br />
A3: É verdade nas mesas do meio tem lugar para duas pessoas e nas mesas da ponta tem lugar<br />
para três pessoas.<br />
A4: Tá! E onde entra a conta de vezes.<br />
A2: Não entendi 4 x 2 = 8 e 2 x 3 =6 ( observando a representação no papel feita A1).<br />
Registro da resposta da 3º situação-problema do G- BRANCO<br />
119
A1: Então, 4 x 2 = 8 e 2 x 3 = 6 e 8 + 6 = 14.<br />
A3: Olhem, nas 6 mesas cabem 2 e somamos mais 2 porque são estes que se sentaram ao lado<br />
também da 14. 6 x 2 = 12 + 2.<br />
Deste modo, um dos pontos relevantes a ser discutido nesta etapa do trabalho diz respeito à<br />
exploração dos conceitos de expressão numérica nos anos iniciais do Ensino Fundamental, pois a<br />
discussão desse conceito contribui para o estabelecimento do pensamento algébrico nos anos<br />
subsequentes.<br />
Assim, quando os educandos chegaram à expressão:<br />
4 x 2 = 8 e 2 x 3 = 6<br />
8 + 6<br />
14<br />
Seria pertinente que a docente pesquisadora os indagassem quanto ao que representa os números<br />
4 e 2 na expressão sendo que, seria a quantidade de mesas com duas e três pessoas respectivamente.<br />
4 x 2 = 8 e 2 x 3 = 6<br />
8 + 6<br />
14<br />
E ao que representa o número 2 e 3 na expressão, que seria a quantidade de pessoas em cada mesa.<br />
São indagações que num primeiro momento aparentam ser simples, porém contextualizam toda a<br />
expressão, pelo fato que se torna claro que a priori devemos resolver as multiplicações para depois com<br />
posse dos resultados somar a quantidade e descobrir o número de pessoas. Pois, um erro frequente dos<br />
educandos nos anos subsequentes quando é abordado o conteúdo de expressão numérica, é não saberem a<br />
prioridade das operações a serem resolvidas em uma expressão.<br />
Assim, concluindo nas palavras de Ponte, Brocardo e Oliveira (2009) numa aula investigativa<br />
pode-se sempre programar o modo de começá-la, porém nunca se sabe como ela irá acabar, pois a<br />
variedade de percursos que os educandos podem chegar, seus avanços e recuos, as divergências que<br />
surgem no decorrer da atividade ou o modo como o grupo reage às intervenções do educador são<br />
elementos largamente imprevisíveis no contexto dessas aulas.<br />
Por fim, vale salientar que quando nos reportamos às habilidades matemáticas que podem<br />
ser mobilizadas ou desenvolvidas no contexto das aulas exploratório-investigativas podemos<br />
reiterar que a habilidade da leitura está presente no próprio ato de ler a atividade proposta, as<br />
etapas do trabalho e o roteiro da atividade e no próprio registro, a escrita esta presente nos<br />
registros realizados pelos educandos do decorrer da aula e a comunicação esta desde a discussão<br />
interna do grupo acerca das estratégias que utilizaram até a socialização dos resultados onde<br />
ocorre a validação, a construção ou re-significação de conceitos matemáticos.<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Neste contexto, podemos considerar que, torna-se necessário antes de tudo que os docentes assumam<br />
um compromisso com a ação educativa voltando-se para processo de ensino e aprendizagem e assim,<br />
dentro deste compromisso educacional as aulas exploratório-investigativas em matemática se constituem<br />
como uma valiosa abordagem metodológica que apóie a construção de conhecimentos matemáticos<br />
significativos e efetivos para os educandos, rompendo assim, com a visão tecnicista e mecanizada desta<br />
120
disciplina no contexto atual, pois o processo que caracteriza o desenvolvimento do trabalho com essas<br />
aulas permite ao educando entre outras coisas que, escolha o curso de ação que irá trilhar ou percorrer,<br />
baseando-se na autonomia dada nesta abordagem, em seus conhecimentos e na forma como vai<br />
desenvolver a situação proposta. Sendo que, essas ações lhes permitem concluir, validar ou re-significar<br />
conceitos<br />
Nesta pesquisa, evidenciou-se que, algumas habilidades básicas que praticamente estavam<br />
adormecidas podem ser desenvolvidas e mobilizadas no contexto das aulas exploratório-investigativas são<br />
elas a argumentação, dedução e comunicação matemática, leitura, escrita que são subsidiadas pelo<br />
registro, conforme relatado na análise das atividades realizada junto aos educandos.<br />
Assim, a realização deste estudo exploratório-investigativo viabilizou-me além de vivenciar pela<br />
primeira vez ação docente colocando em prática o que foi despertado em mim ao longo da graduação, o<br />
gosto de ensinar e aprender matemática possibilitou-me também inferir três percepções, a primeira, que<br />
não há receitas prontas e acabadas de como ensinar matemática, e, muitas vezes, torna-se necessário<br />
buscar novas abordagens metodológicas, para que se consiga alcançar os objetivos esperados para que se<br />
efetive a construção de conhecimentos matemáticos, a outra, permeia a importância das aulas<br />
exploratório-investigativas no processo de ensino e aprendizagem da matemática no âmbito escolar em<br />
especial nos anos iniciais do Ensino Fundamental e a última reitera a importância e a necessidade das<br />
inovações na ação educativa e na prática pedagógica dos docentes dos anos iniciais do Ensino<br />
Fundamental, visto que esses educadores são à base da escolarização e do processo de ensino e<br />
aprendizagem.<br />
Portanto, não ficam aqui esgotadas as questões inerentes as potencialidades e possibilidades em<br />
desenvolver um trabalho com as aulas exploratório-investigativas em matemática. Ao contrário, este<br />
estudo buscou subsidiar novas reflexões acerca da prática pedagógica e do uso de novas abordagens<br />
metodológicas para que o ensino e aprendizagem da matemática seja efetivo e significativo para os<br />
educandos.<br />
REFERÊNCIAS<br />
FIORENTINI, Dario; CRISTOVAO, Eliane M.(Orgs.). Histórias e Investigações de/em Aulas<br />
de Matemática. <strong>Campinas</strong> - SP: Alínea, 2006.<br />
CONTI, Keli Cristina; SOARES, Décio Lauro. Primeiras Experiências em Aulas<br />
Investigativas. In: FIORENTINI, Dario; CRISTOVAO, Eliane M.(Orgs.). Histórias e<br />
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CRISTOVÃO, Eliane Matesco. Investigando, Começamos a Aprender a Investigar. In:<br />
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A educação moral e virtudes aristotélicas: a formação do educador para a autonomia<br />
Talita Carneiro Gader Safa<br />
Orientador: Prof. Dr. Samuel Mendonça<br />
Instituição: <strong>PUC</strong> <strong>Campinas</strong> – Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação / Mestrado<br />
em Educação<br />
Eixo temático: Formação de professores e práticas pedagógicas<br />
Comunicação oral<br />
Endereço eletrônico: talitasafa@gmail.com<br />
Resumo<br />
A pesquisa ―A educação moral e virtudes aristotélicas: a formação do educador para a<br />
autonomia‖, em andamento, coloca em relevo a necessidade do cultivo de virtudes para a<br />
construção da excelência moral do homem. Temos discutido a importância da compreensão de<br />
valores clássicos, em específico, o da justiça e o da amizade, como base para a discussão da<br />
educação moral. Trata-se de uma pesquisa realizada no contexto de fundamentos da educação,<br />
mais precisamente de filosofia da educação, portanto, seu caráter é especulativo. Se a educação<br />
moral exerce algum papel na formação da personalidade da criança, então, é preciso examinar<br />
que virtudes são efetivamente necessárias para o desenvolvimento do caráter do homem. Com<br />
efeito, para além da discussão de fundamentos teóricos que embasam a educação moral, essa<br />
investigação também tensiona a discutir que concepção de educação moral pode embasar a<br />
convicção do educador para a efetiva tarefa de formar a personalidade da criança. A educação<br />
moral, tal como temos concebido, possibilita a construção da autonomia do aluno para que ele se<br />
torne um cidadão emancipado, independente, crítico e antes, autocrítico. Neste sentido, o<br />
problema dessa pesquisa consiste na pergunta: quais os desafios para a formação do educador na<br />
consideração de virtudes aristotélicas em se tratando de educação moral? O objetivo principal<br />
desse trabalho, portanto, é compreender os elementos que envolvem a educação moral na<br />
consideração de virtudes aristotélicas, especialmente a justiça e a amizade, com vistas aos<br />
desafios que se colocam aos educadores. Do ponto de vista específico, esse exame pretende: (i)<br />
compreender a filosofia de Aristóteles no que se refere às virtudes; (ii) analisar a educação moral<br />
e sua articulação com as virtudes aristotélicas e (iii) discutir e problematizar os desafios para a<br />
formação do educador no que se refere à educação moral na consideração de virtudes<br />
122
aristotélicas. Do ponto de vista do método, o trabalho é realizado a partir de revisão bibliográfica<br />
e procura problematizar, conceituar e argumentar, características típicas do método filosófico. Os<br />
resultados esperados consistem na possibilidade do educador conseguir compreender, de forma<br />
mais rigorosa, virtudes fundamentais para a formação do caráter do homem.<br />
Palavras-chave: educação moral, virtudes, Aristóteles, formação do educador.<br />
INTRODUÇÃO<br />
O tema da educação moral pode até parecer retrógrado para alguns, no entanto, mesmo<br />
com a chamada crise de valores, instaurada, sobretudo nas últimas décadas do século passado, ou<br />
ainda considerando as críticas de Nietzsche (2007) à moral alemã de sua época, este tema<br />
continua despertando o interesse de intelectuais de diversos campos de conhecimento, como a<br />
educação, a filosofia, a psicologia e o direito, para citar alguns.<br />
A pesquisa intitulada ―A educação moral e virtudes aristotélicas: a formação do educador<br />
para a autonomia‖ se desenvolve no grupo de pesquisa Direito à Educação, do Programa de Pós-<br />
Graduação Stricto Sensu em Educação, da Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong>. Este<br />
trabalho tem articulação com a linha de pesquisa Práticas Pedagógicas e Formação do Educador.<br />
O interesse pela temática da educação moral nasceu por ocasião do desenvolvimento do<br />
Trabalho de Conclusão de Curso de Pedagogia e aquele escrito gerou mais inquietação sobre a<br />
moralidade. Com efeito, o contato com a obra de Aristóteles, especialmente com o livro Ética a<br />
Nicômacos, é recente, porém suficiente para estimular a presente investigação. O estagirita<br />
analisa diversas virtudes e selecionamos a justiça e a amizade como essenciais para a discussão<br />
da formação do educador enquanto interlocutor e formador da personalidade do humano. É neste<br />
sentido que a retomada deste clássico, e o destaque para estes conceitos, presentes na sociedade<br />
atual, de forma superficial, constitui-se de base necessária para a discussão da moralidade.<br />
Embora a educação moral tenha recebido acepções diferentes ao longo da história do<br />
pensamento humano, nessa pesquisa pretendemos deslocar a discussão da moral, que para muitos<br />
ainda situa-se no âmbito de uma moral dogmática. Não podemos ignorar a importância da<br />
educação moral, que não deve ser limitada a matérias curriculares ou momentos específicos da<br />
rotina escolar, nem desvinculada das experiências diárias vivenciadas pela criança. Neste sentido,<br />
buscamos criticar a educação moral como educação sectária, estanque e imposta aos alunos, a<br />
partir da retomada de fundamentos presentes na obra de Aristóteles. A educação moral aqui<br />
concebida, enquanto educação das potências afetivas e intelectivas da criança, é fundamental para<br />
a formação integral da pessoa e está presente na vida social de todos os indivíduos. Com efeito,<br />
esta educação tem passado por diferentes concepções, então, a necessidade de revalorar 12 o seu<br />
status, no sentido de ressignificar a sua presença na formação do caráter do homem, é<br />
absolutamente fundamental.<br />
12 Mendonça (2009, p. 15) aponta que o termo revalorar indica uma “nova” construção de valores.<br />
Evidente que a acepção utilizada por Mendonça encontra amparo nos escritos de Nietzsche e este autor<br />
não se refere a uma referência dessa dissertação, ainda assim, é preciso considerar a noção de<br />
revaloração como possibilidade de atribuir novos significados à educação moral. Estudos mais acurados<br />
sobre Nietzsche no Brasil têm sido feitos por Almeida (2005), seguramente uma das maiores referências<br />
do filósofo da vontade de potência. Nietzsche e o Paradoxo, por exemplo, de Almeida (2005) foi traduzido<br />
para o inglês, tendo sido produzido inicialmente em francês, por ocasião da vivência deste filósofo<br />
brasileiro naquele país.<br />
123
A educação moral tal como temos concebido, possibilita a construção da autonomia do<br />
aluno para que ele se torne um cidadão emancipado, independente, crítico e antes, autocrítico.<br />
PROBLEMA<br />
Neste sentido, o problema dessa pesquisa, do ponto de vista formal, consiste na pergunta:<br />
quais os desafios para a formação do educador na consideração de virtudes aristotélicas em se<br />
tratando de educação moral?<br />
OBJETIVOS<br />
O objetivo principal desse trabalho, portanto, é compreender os elementos que envolvem<br />
a educação moral na consideração de virtudes aristotélicas, especialmente a justiça e amizade,<br />
com vistas aos desafios que se colocam aos educadores. Do ponto de vista específico, esse exame<br />
pretende: (i) compreender a filosofia de Aristóteles no que se refere às virtudes; (ii) analisar a<br />
educação moral e sua articulação com as virtudes aristotélicas e (iii) discutir e problematizar os<br />
desafios para a formação do educador no que se refere à educação moral na consideração de<br />
virtudes aristotélicas.<br />
PERCURSO METODOLÓGICO<br />
Do ponto de vista do método, o trabalho será realizado a partir de revisão bibliográfica,<br />
buscando refletir sobre a necessidade de ressignificação da educação moral, que considere o<br />
educador como efetivo agente de transformação social.<br />
O percurso escolhido para a investigação está fundamentado na abordagem filosófica. Isto<br />
significa, de imediato, que não se trata de método científico. É importante que se evidenciem os<br />
passos da pesquisa para a compreensão do seu caminho. Então, na medida em que a reflexão<br />
filosófica busca abrir para novos questionamentos e, por assim dizer, especular sobre o<br />
conhecimento, a ciência, por outro lado, busca circunscrever o fenômeno estudado com respostas<br />
e, é neste sentido que não podemos confundir a abordagem filosófica com a científica. Não se<br />
percorre o caminho em busca de uma resposta derradeira a respeito dos desafios que se colocam<br />
diante dos educadores em relação ao trabalho com valores nessa investigação, mas, ao contrário,<br />
busca-se questionar a validade de perguntas que coloquem em evidência a necessidade de<br />
aprimoramento da formação do educador para o trabalho com a educação moral.<br />
Assim sendo, o nosso trabalho de cunho filosófico, desenvolve-se sob os fundamentos da<br />
filosofia da educação. As principais referências são Aristóteles (1985), Puig (1988; 1998; 2004) e<br />
Freire (1982; 1987; 1996), buscando encontrar articulação entre os escritos destes teóricos e o<br />
trabalho com valores com vistas à formação do educador. Acreditamos que esta articulação<br />
oferecerá ocasião para a possível ressignificação da educação moral com foco na formação do<br />
educador.<br />
Folscheid e Wunenburger (2006) esclarecem que:<br />
Com efeito, escolhe-se geralmente seguir uma formação filosófica porque essa<br />
disciplina, apesar de sua abstração, corresponde a interrogações e a interesses<br />
existenciais e porque envolve convicções e valores pessoais. No entanto, a filosofia,<br />
desde a sua origem, apresentou-se como uma atividade do espírito que pede que<br />
suspendamos as opiniões imediatas, que nos mantenhamos afastados das discussões<br />
124
espontâneas, na medida em que estas só nos remetem a preconceitos e a nossas crenças<br />
irrefletidas. (FOLSCHEID; WUNENBURGER, 2006, p. IX).<br />
Tendo em mente esta concepção de método, partimos para o desenvolvimento da pesquisa que, no<br />
seu bojo discorre estruturada de forma como reflete o fragmento acima, convida-nos a suspender as<br />
opiniões imediatas, a fim de que possamos ir além das discussões espontâneas e aprofundarmos na<br />
questão da educação moral.<br />
DESENVOLVIMENTO<br />
Defendemos uma concepção de educação moral que se distancia, por um lado, daquela<br />
que se baseia em valores absolutos e, por outro, daquela que se alicerça em valores relativos. Esta<br />
ideia parte dos princípios de autonomia e razão dialógica e os aproveita como ferramentas que<br />
tornam possíveis valores como a crítica, a abertura para com os demais e o respeito aos direitos<br />
fundamentais. Esta proposta de educação moral parece não ter como agredir as crenças plurais<br />
dos homens e mulheres das sociedades democráticas, mas pelo contrário, parece contribuir com a<br />
consolidação de uma vida mais justa e solidária. Consideramos que nesta cabe a retomada de<br />
virtudes aristotélicas para sua consolidação enquanto concepção educacional e também enquanto<br />
fundamentação teórica para a formação do educador.<br />
Antes de prosseguir, vale lembrar que a justiça e a amizade são as virtudes escolhidas para<br />
a delimitação desta investigação. Aristóteles, em Ética a Nicômacos, analisa outras virtudes, mas<br />
consideramos a justiça e a amizade como aquelas imprescindíveis ao âmbito da educação moral.<br />
Por um lado, entendemos que é absolutamente necessária a compreensão da justiça, dado se tratar<br />
de uma das principais virtudes do homem. No contexto escolar, seja na formação do educador ou<br />
na vivência do educando, situações injustas são experimentadas e, portanto, a hipótese da justiça<br />
encontra terreno fértil de desenvolvimento, e, por outro, a discussão dos desafios para a formação<br />
do educador, em se tratando da educação moral, indica também a necessidade de análise da<br />
amizade. Isto porque Aristóteles diz que quando temos a amizade não necessitamos da justiça,<br />
contudo, quando temos a justiça, ainda assim, necessitamos da amizade (ARISTÓTELES, 1985).<br />
Puig (2004, p. 143) assevera que ―a virtude se refere à força ou às qualidades de um ser ou<br />
de uma coisa. Assim, a virtude de uma faca é cortar, a de um cavalo é galopar, a de um músico é<br />
interpretar, e a de um ser humano é comportar-se humanamente‖. De acordo Abbagnano (2007,<br />
p. 1198), a virtude ―designa uma capacidade qualquer ou excelência, seja qual for a coisa ou o ser<br />
a que pertença‖. Por conseguinte, compreendemos a virtude como uma capacidade que possibilita<br />
que cada ser aja, ou que cada uma das coisas seja utilizada, de acordo com sua própria natureza.<br />
Puig (2004, p. 143) evidencia a característica singular da virtude:<br />
Isso significa que a virtude não é uma qualidade geral de todos os seres, mas uma<br />
qualidade específica, uma qualidade própria de cada ser ou de cada coisa. Podemos<br />
dizer, portanto, que a virtude é uma qualidade singular que outorga valor a cada ser ou a<br />
cada coisa: a virtude se refere à excelência que lhe é própria. Reconhece-se a virtude de<br />
uma coisa ou de um ser vendo como desempenham de modo excelente a função para a<br />
qual sua natureza os predispõe. (PUIG, 2004, p. 143)<br />
Sendo assim, entendemos que a virtude concede valor a cada pessoa ou a cada objeto. E<br />
então questionamos: o que é o valor? Abbagnano (2007, p. 1176) esclarece que, em geral, a<br />
palavra valor significa ―o que deve ser objeto de preferência ou de escolha‖. Destaca, inclusive,<br />
que o uso filosófico do termo só começou quando seu significado foi generalizado para indicar<br />
qualquer objeto de preferência ou de escolha. Nesta direção, podemos considerar que a virtude,<br />
125
que se refere aos atributos individuais mais estritos de cada pessoa e de cada objeto confere valor<br />
a cada um destes, e o valor é aquilo que as pessoas preferem ou escolhem. Por isto, concordamos<br />
com Puig (2004, p. 144) quanto a sua posição em relação à virtude humana: ―a virtude dos seres<br />
humanos terá a ver com a realização excelente de tudo aquilo que os faz mais humanos‖.<br />
Para se tornarem mais humanos, apenas a existência da virtude nas pessoas parece não<br />
ser suficiente. Puig (2004, p. 144) explicita que ―trata-se de buscar uma excelência que nos torne<br />
mais humanos, e não unicamente mais hábeis‖.<br />
Ao falar dos seres humanos, as virtudes não se referem a qualquer excelência, mas<br />
àquele conjunto de qualidades que deveríamos possuir para ser, na verdade, plenamente<br />
humanos, e para formar sociedades igualmente humanas. (PUIG, 2004, p. 144)<br />
Assim, parece que quando delongamos a noção de virtude aos humanos, pensamos na<br />
maneira de ser ou no conjunto de disposições apreciáveis que projetam o melhor do caráter de um<br />
sujeito. Entretanto, Puig adverte que tais disposições não são dadas ou preparadas pela natureza:<br />
―resultam de um esforço intencional da vontade que se empenha em adquirir algo semelhante a<br />
um hábito‖ (PUIG, 2004, p. 144).<br />
Trata-se de uma segunda natureza que não se outorga, mas que se adquire – uma nova<br />
pele propriamente humana, obtida por treinamento moral. É totalmente impossível<br />
chegar a confeccioná-la sem grandes doses de esforço, e a chave do êxito na sua<br />
aquisição é a repetição de atos virtuosos. Uma vez adquirida, porém, a virtude tem uma<br />
certa estabilidade ou durabilidade. As virtudes não são atos pontuais nem modas<br />
passageiras adotadas por tempo limitado. São traços de caráter cuja duração não é<br />
indefinida – requerem exercício e podem chegar a desaparecer -, mas também não é<br />
efêmera. As virtudes permanecem. Por outro lado, as virtudes são traços de caráter cuja<br />
atualização permite grande flexibilidade. Não se trata meramente de hábitos<br />
mecanizados, nem de pura repetição invariável de atos fixos. As virtudes são qualidades<br />
que predispõem a comportar-se de acordo com critérios ou valores. Portanto, são<br />
comportamentos plásticos, criativos e adaptados às necessidades de cada situação<br />
particular. Não são uma repetição de atos sempre iguais, mas uma adaptação de padrões<br />
de excelência. Em suma, as virtudes são aquilo que realmente somos. (PUIG, 2004, p.<br />
144)<br />
Por conseguinte, parece que as disposições das quais necessitamos para nos tornar<br />
plenamente humanos no contexto social depende da prática constante de atos virtuosos. E não se<br />
trata de simplesmente repeti-los todos os dias da mesma maneira. Tais ações implicam<br />
flexibilidade e adaptação às necessidades de cada situação; pensamos em indigências próprias de<br />
cada sujeito, seja na esfera individual, seja na esfera coletiva, já que consideramos que mesmo<br />
quando agimos em prol da maioria buscamos, direta ou indiretamente, alcançar algum interesse<br />
próprio. Neste sentido:<br />
(...) as virtudes põem em jogo o pensamento, os sentimentos, os desejos e a ação. (...)<br />
são nossa própria forma de ser e de atuar enquanto seres humanos. Portanto, não é<br />
qualquer forma de ser ou de agir que tem valor, mesmo que ela mostre qualidades<br />
excelentes; têm valor unicamente aquelas formas de ser e de agir que nos fazem<br />
realmente mais humanos, ou seja, que nos aproxima de nosso bem. (PUIG, 2004, p. 145)<br />
Puig (2004, p. 145) sinaliza que ―as virtudes fundamentam-se em uma concepção prévia<br />
dos seres humanos, que mostra precisamente quais são as excelências que devem ser alcançadas‖.<br />
126
Então, parece pertinente afirmar que aprendemos a definição de justiça e injustiça e aprendemos<br />
também a escolher entre ser justo ou ser injusto. O autor evidencia que tal ―concepção dos seres<br />
humanos deve ser comum ou compartilhada: não se trata de uma opinião ou de um desejo<br />
individual, mas do reconhecimento conjunto da direção a seguir‖. (PUIG, 2004, p. 145).<br />
Puig (2004, p. 142) assinala que é impossível não pensar no que as virtudes representam e<br />
propõem. De acordo com o autor, durante os dois últimos séculos, as virtudes ―mudaram de<br />
nome, um ou outro de seus elementos-chave foi modificado, exerceram influência mesmo na<br />
sombra, a hierarquização das mais valorizadas mudou ou, simplesmente, deixaram de ser<br />
consideradas assunto prioritário‖ (PUIG, 2004, p. 142). Podemos pensar que a escola se aproxima<br />
das ideias de virtude e de bem quando apresentam atitudes e valores como conceitos centrais em<br />
suas propostas de educação moral. E embora as virtudes não sejam destaque no contexto<br />
educacional, nos documentos oficiais e nas propostas pedagógicas, ainda assim podemos afirmar<br />
que elas são intrínsecas a todas as práticas e relações do âmbito educacional, visto que formar<br />
cidadãos pressupõe definir e ensinar virtudes, ou seja, educar moralmente.<br />
Talvez essa presença obscura e silenciosa das virtudes no mundo da educação explique a<br />
grande desorientação sobre seus modos de transmissão – se é que realmente é possível<br />
transmiti-las. Em nossa opinião, as escolas mostram um bom número de práticas que<br />
transmitem virtudes, mas poucas vezes os educadores associam tais práticas – que, sem<br />
dúvida, conhecem e aplicam - à transmissão de virtudes. Conseqüentemente, e apesar de<br />
só se ter voltado a falar de virtudes há bem pouco tempo, acho que é possível mostrar<br />
que as escolas sempre as ensinaram, embora, talvez, não com a intensidade que seria<br />
desejável. (PUIG, 2004, p. 143)<br />
Assim como as virtudes, a temática da educação moral não tem sido muito valorizada em<br />
nossa sociedade e até mesmo na estrutura de nossas escolas. Sabemos também, que identicamente<br />
como ocorre com as virtudes, mesmo de maneira indireta, consciente ou inconscientemente, as<br />
escolas trabalham valores com seus alunos, mas, de acordo com Puig (1988, p. 08), ―isso vem<br />
sendo feito de forma desarticulada, incipiente e baseando-se, na verdade, nos valores e na<br />
moralidade de cada grupo, professor ou professora‖, fato que se torna perigoso quando pensamos<br />
que os valores de um grupo ou de um determinado professor podem não estar de acordo com os<br />
interesses gerais da sociedade, como por exemplo, quando apresentam práticas e discursos<br />
discriminatórios contra outras etnias ou contra as diversas deficiências.<br />
Para além da dimensão da educação moral como algo estabelecido, estático, aqui, ela é<br />
entendida como a possibilidade de revalorar os valores, na busca da emancipação dos sujeitos.<br />
Consideramos que o desenvolvimento da educação moral é fundamental na busca da promoção<br />
da autonomia, e neste sentido, a escola constitui espaço ideal para construção das diversas<br />
relações de colaboração e cooperação para esta formação. Paradoxalmente, a instituição escolar<br />
também se constitui de espaço para relações heterônomas e buscar a superação destas relações é o<br />
principal desafio para a formação do educador no ofício da educação moral.<br />
Puig sinaliza que frequentemente a educação moral é associada à imposição heterônoma<br />
de valores e normas (dogmatismo moral), e nesta acepção se baseia em valores absolutos<br />
inquestionáveis e imutáveis, impostos por um poder autoritário muitas vezes de forma coercitiva;<br />
ou como algo exclusivamente pessoal (relativismo moral) - ―que cada indivíduo adota em função<br />
das circunstâncias e de suas preferências‖ (PUIG, 1988, p. 15). Neste sentido, por um lado, a<br />
educação moral é prescrita e determinante e, por outro, é percebida com uma tarefa docente<br />
impossível, visto que há em absoluto nada para ensinar, já que as normas de conduta e os valores<br />
127
morais são considerados subjetivos e pessoais, não havendo um consenso sobre a melhor forma<br />
de agir. Todavia, Puig (1988, p. 15) acredita que a educação moral precisa transformar-se em<br />
―um âmbito de reflexão individual e coletiva que permita elaborar racional e autonomamente<br />
princípios gerais de valor, princípios que ajudem a defrontar-se criticamente com realidades<br />
como a violência, a tortura ou a guerra‖. Assim, tal educação deve contribuir para uma análise<br />
crítica da realidade cotidiana e das normas sociomorais vigentes, com o objetivo de cooperar para<br />
idealização de formas mais justas e adequadas de convivência. O autor evidencia que a educação<br />
moral pretende ―formar hábitos de convivência que reforcem valores como a justiça, a<br />
solidariedade, a cooperação ou o cuidado com os demais‖ (PUIG, 1988, p. 15).<br />
Precisamente porque a educação moral supõe orientar-se autonomamente em situações<br />
de conflito de valores, não se pode catalogá-la de prática reprodutora ou inculcadora de<br />
valores; seria, provavelmente, melhor entendê-la como lugar de mudança e de<br />
transformação pessoal e coletiva, como lugar de emancipação. Se, por outro lado, a<br />
educação moral supõe orientar-se racional e dialogicamente em situações de conflito de<br />
valores, não se pode catalogá-la de prática individualista ou subjetivista; seria melhor<br />
considerá-la como lugar de diálogo e talvez acordo entre pessoas e grupos. (PUIG, 1988,<br />
p. 17)<br />
Compreender a educação moral a partir deste ponto de vista parece nos oferecer motivos<br />
suficientes para justificar a relevância do tema, mas consideramos necessário destacar outras<br />
razões complementares que explicam o nosso interesse. Em primeiro lugar, o fato de que a<br />
educação moral foi e continua sendo a principal finalidade educativa para muitas escolas, se<br />
considerarmos que estas, como já comentamos, de maneira consciente ou não, influenciam<br />
significativamente na formação moral das crianças. Podemos considerar impossível evitar<br />
mensagens que dizem respeito à educação moral nas escolas, já que as relações intra-escolares<br />
fundamentam-se em normas e comportamentos, fornecendo informações sobre o que é ―bom‖ ou<br />
―mau‖, ―certo‖ ou ―errado‖. As normas e os valores são transmitidos em inúmeras situações que<br />
ocorrem no cotidiano de uma escola (pelas regras da classe, pelo comportamento dos alunos,<br />
pelas relações interpessoais, pelos livros, pela forma como disciplinam, pela avaliação, pela<br />
maneira como o conteúdo é trabalhado, pela organização do espaço físico etc.).<br />
Em segundo lugar, devemos enfatizar a importância da educação moral quando tratamos<br />
da tão desejada educação integral, presente em nossa legislação atual, embora seja cada vez mais<br />
comum práticas educativas restritas a um acúmulo de aquisições intelectuais. Além destas razões,<br />
consideramos pertinente destacar mais uma, colocada por Puig (1988, p. 16), a de que precisamos<br />
considerar que vivemos em um contexto histórico e social em que as certezas absolutas estão<br />
desaparecendo, exigindo dos indivíduos um esforço cada vez maior ―de construção de critérios<br />
morais próprios, raciocinados, solidários e não-sujeitos a exigências heterônomas‖. O autor<br />
assinala que ―a melhor maneira de viver parece ser aquela em que o sujeito decide voluntária e<br />
racionalmente como viver‖ (PUIG, 1988, p. 16).<br />
CONSIDERAÇÕES<br />
Neste sentido, nosso grande desafio parece ser como se relacionar com as crianças e<br />
proporcionar situações adequadas para que elas participem da elaboração de seus próprios<br />
conhecimentos morais em/com relação aos outros; daí a importância da formação do educador,<br />
128
que está sempre trabalhando com a moralidade, mesmo quando julga que não o faz, já que esse<br />
aspecto é intrínseco às relações entre as pessoas.<br />
Enfim, nesse processo de construção da educação moral na consideração de virtudes<br />
aristotélicas, ressaltamos a importância da retomada de fundamentos para o trabalho com valores,<br />
neste caso, a retomada dos escritos do filósofo de A Poética e também a importância da formação<br />
do educador, interlocutor indispensável no processo de conquista da autonomia por meio da<br />
educação moral.<br />
RESULTADOS ESPERADOS<br />
Os resultados esperados consistem na possibilidade do educador conseguir compreender,<br />
de forma mais rigorosa, virtudes fundamentais para a formação do caráter do homem.<br />
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prática educativa. 27. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.<br />
129
PUIG, J. M. Ética e valores: métodos para um ensino transversal. Trad. Ana Venite Fuzatto. 2.<br />
ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1988.<br />
_________. A construção da personalidade moral. Trad. Luizete Guimarães Barros e Rafael<br />
Camorlinga Alcarraz. São Paulo: Ática, 1998.<br />
_________. Práticas morais: uma abordagem sociocultural da educação moral. Trad. Cristina<br />
Antunes. São Paulo: Moderna, 2004.<br />
ZATTI, V. Autonomia e educação em Immanuel Kant e Paulo Freire. Porto Alegre: EDI<strong>PUC</strong>RS,<br />
2007.<br />
UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU- FURB<br />
REFERENCIAIS PARA A FORMAÇÃO DAS SUBJETIVIDADES DOCENTES<br />
130<br />
Trabalho em Processo<br />
Vilisa Rudenco 13<br />
Adolfo Ramos Lamar 14<br />
Ernesto Jacob Keim 15<br />
vilisarudenco@hotmail.com<br />
Eixo- Formação de Professor e práticas<br />
pedagógicas<br />
Comunicação oral<br />
Resumo<br />
O presente trabalho tem como tema a formação das racionalidades dos professores indígenas e se<br />
propõe a analisar o documento ―Referenciais para a formação de professores indígenas (BRASIL,<br />
2002) pela ótica da Epistemologia Social de Th. Popkewitz. O trabalho não só problematiza a<br />
definição dos perfis e atributos do professor indígena definidos pelo documento, como também<br />
debate as competências norteadoras para ação educacional e curricular indígena. O trabalho faz<br />
ainda uma análise qualitativa acerca do que o MEC chamou de guia do professor indígena,<br />
procedendo além de uma pesquisa bibliográfica e de caráter documental a uma pesquisa de<br />
campo, que possibilita compreender a atuação de professores da comunidade Xokleng/Laklãnõ<br />
de Santa Catarina para evidenciar a necessidade da construção do Projeto Político Pedagógico das<br />
duas escolas existentes nessa terra indígena. O objetivo do trabalho é examinar os sistemas de<br />
raciocínios presentes no documento supracitado, que penetram nas subjetividades, trazendo<br />
embutidas as relações de poder, que geram princípios para a formação de professores, verificando<br />
especificamente de que forma isso reflete na prática e nos discursos dos professores<br />
Xokleng/Laklãnõ. O trabalho parte do aspecto de que o poder reside no conjunto de relações<br />
13 Mestranda em Educação<br />
14 Pós Doutor em Filosofia da Educação<br />
15 Pós Doutor em Filosofia da Educação
através das quais esses profissionais vão construindo suas experiências subjetivas e assumem<br />
uma identidade em suas relações, operando através da maneira de como os professores sentem e<br />
pensam as ações da pedagogia. As experiências subjetivas são compostas por normas que<br />
definem o perfil do professor. Os atributos e competências são norteadoras para ação educacional<br />
e curricular indígena e as normas apresentadas neste documento se expressam como sendo<br />
características ―do bom professor‖ e podem ser compreendidas enquanto efeitos de poder<br />
utilizados pela Pedagogia para determinar o que o professor e o aluno indígena são e como eles<br />
devem vir a ser. A prerrogativa do documento é que a escola de qualidade, bilíngüe e<br />
intercultural só é viável quando os próprios índios estiverem à frente do processo como gestores e<br />
professores, para assim produzirem ações mobilização da comunidade enquanto líderes e<br />
formadores de opiniões.<br />
A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO SOCIAL<br />
Resumo<br />
131<br />
Alessandra Cristina T.C. Ambrósio - Graduanda<br />
Ana Carolina S. Payolla - Graduanda<br />
Aparecida Élida R. C. Batista - Graduanda<br />
Denise R. Gonçalves - Graduanda<br />
Elaine Cristina de Souza - Graduanda<br />
Elisabete de Fátima dos Santos- Graduanda<br />
Larissa Ayela Ilkiu - Graduanda<br />
Lúcia Helena F. R. Lima- Graduanda<br />
Maria Elena Fonseca- Graduanda<br />
Nilza Maria Maia - Graduanda<br />
Sandra Regina Jacques- Graduanda<br />
E-mail: larissailkiu@yahoo.com.br<br />
Luciana S. Gonçalves - Mestre em Educação<br />
Eixo Temático: Formação do professor e práticas pedagógicas<br />
Pôster<br />
Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong>-PARFOR<br />
Este estudo busca compreender a prática do profissional da Pedagogia para além da instituição<br />
escolar. Consideramos aqui, o âmbito social, no espaço não escolar em diferentes setores. Os<br />
avanços no debate que diz respeito à valorização das minorias excluídas e a defesa de seus<br />
direitos básicos revelam que a inclusão desta temática na formação do Pedagogo está propiciando<br />
a diversidade dos educandos e valorizando suas identidades. Os objetivos foram: a) destacar a<br />
importância da formação teórica para o Pedagogo Social definindo como tal profissional exerce<br />
suas atividades, bem como seus espaços de atuação; b) ressaltar os elementos da natureza humana<br />
que são formados através do trabalho do Pedagogo Social. Nossa justificativa orienta-se nos<br />
novos desafios contemporâneos percebidos na atuação do profissional da área da Pedagogia no<br />
âmbito social, diante do cuidado social traduzido em ações de prevenção e intervenção. Dentre as<br />
informações relevantes, a educação é um processo que ocorre em diferentes âmbitos da
sociedade. A Pedagogia precisa estar atenta para formar educadores para atuar nestes vários<br />
espaços. Todas as formas de educação possuem um aspecto relevante, pois, atuam perante<br />
sujeitos sociais e históricos e fazem parte da construção dos mesmos. Dessa forma, entende-se<br />
Pedagogia Social como ―transversalizada, compreendida como um espaço particular, sutil, volátil<br />
e artesanal, no qual ocorre efetivamente o processo de ensinar e aprender‖ (MOURA;<br />
ZUCCHETTI, 2007, p.196). Através deste estudo, concluímos que o pedagogo social é um<br />
profissional que ainda necessita de formação teórica e ampliação da discussão de sua atuação,<br />
pois este atua em espaços específicos, que surgiram e foram tidos como importantes há pouco<br />
tempo.<br />
Palavras-chave: Pedagogia; Atuação profissional; Âmbito social<br />
INTRODUÇÃO<br />
Este estudo busca compreender a prática do profissional da Pedagogia para além da instituição escolar.<br />
Consideramos aqui, o âmbito social, no espaço não escolar em diferentes setores. Os avanços no debate<br />
que diz respeito à valorização das minorias excluídas e a defesa de seus direitos básicos revelam que a<br />
inclusão desta temática na formação do Pedagogo está propiciando a diversidade dos educandos e<br />
valorizando suas identidades.<br />
Os cursos de Pedagogia visam à formação não só do docente, mas do profissional que atua em diferentes<br />
setores ligados à educação. Movimentos sociais têm demonstrado que existe uma demanda pouco atendida<br />
para a inclusão dos menos favorecidos. Assim, há dois enfoques da Pedagogia Social: a formação e<br />
socialização do indivíduo e o segundo refere-se ao trabalho social. Ressalta-se a importância de<br />
aprofundar discussões e ampliar o domínio de conhecimentos teóricos na área de Pedagogia Social. Os<br />
objetivos deste estudo foram: a) destacar a importância da formação teórica para o Pedagogo Social<br />
definindo como tal profissional exerce suas atividades, bem como seus espaços de atuação; b) ressaltar os<br />
elementos da natureza humana que são formados através do trabalho do Pedagogo Social. Nossa<br />
justificativa pauta-se nas discussões a partir da disciplina ―Introdução à Educação‖, orientando-nos sobre<br />
novos desafios contemporâneos percebidos na atuação do profissional da área da Pedagogia no âmbito<br />
social, diante do cuidado social traduzido em ações de prevenção e intervenção. Realizamos um estudo<br />
bibliográfico com a identificação das referências bibliográficas relacionadas ao tema, localizando<br />
diversas fontes de informações; partindo-se em seguida para a leitura, análise e interpretação dos<br />
documentos escolhidos, objetivando encontrar respostas aos problemas formulados e levantar<br />
contradições. Os fundamentos teóricos coletados esclarecem a atuação do Pedagogo no campo<br />
social.<br />
ATUAÇÃO DO PEDAGOGO SOCIAL<br />
Para um melhor entendimento, esclarecemos que diante dos novos desafios contemporâneos,<br />
podemos perceber que o profissional da área da Pedagogia atua também no âmbito social, diante<br />
do cuidado social traduzido em ações de prevenção e intervenção. A reflexão, no tocante à<br />
responsabilidade, à solidariedade e aos valores humanos, necessita de uma prática pedagógica<br />
cotidiana. Educação é um processo que ocorre em diferentes âmbitos da sociedade.<br />
Dessa forma, entende-se a Pedagogia Social como ―transversalizada, compreendida como um<br />
entre espaço particular, sutil, volátil e artesanal, no qual ocorre efetivamente o processo de<br />
ensinar e aprender‖ (MOURA; ZUCCHETTI, 2007, p.196). A Pedagogia Social apresenta-se<br />
como uma ciência que cria, possibilita a sistematização, reorganização e transmissão de<br />
conhecimentos, com a prática orientada e intencional. Tais intervenções ocorrem na educação<br />
132
não-formal da educação popular. Ela surgiu da necessidade de cuidado social traduzido em ações<br />
de intervenção e prevenção.<br />
Apresenta-se atrelada ao campo da educação não formal, pelas ONGs, setores privados em<br />
parcerias com empresas, as igrejas e o Estado. A atuação do pedagogo social se amplia na<br />
atenção a estruturas sociais diversificadas, como projetos educacionais; atenção às minorias, às<br />
classes menos favorecidas, questões ecológicas, de trânsito, de terceira idade, a questão cultural<br />
(origem e ampliação de horizontes); carências urbanas e rurais; populações indígenas; formação<br />
política, pesquisa e participação comunitária; mobilização e contestação do poder do Estado;<br />
desvios sociais e lazer.<br />
A orientação do trabalho do pedagogo social é a que leva o indivíduo a pensar, refletir, agir,<br />
articular, integrar, transformar direcionar, coordenar a sua realidade social e a sua própria<br />
essência. Para Ortega e Santiago (2009, p.122), eles se encontram assim relacionados:<br />
1)O aprendizado de uma observação precisa e do pensar claro;<br />
2)Desenvolvimento da capacidade de aprender a perceber a realidade dos<br />
processos que cuidam da construção e da regeneração;<br />
3)Percepção da realidade social através das relações humanas;<br />
4)Aprender a perceber a nós mesmos como ser, para que possamos também<br />
observar organismos sociais em sua essência.<br />
A Pedagogia precisa estar atenta para formar educadores para atuar nestes vários espaços. Todas<br />
as formas de educação possuem um aspecto relevante, pois, atuam perante sujeitos sociais e<br />
históricos e fazem parte da construção dos mesmos.<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Diante do estudo, foi possível observar que o pedagogo social é um profissional que ainda<br />
necessita de formação teórica e ampliação da discussão de sua atuação, pois este atua em espaços<br />
específicos que surgiram foram tidos como importantes há pouco tempo. Segundo Libâneo<br />
(2002, p.6) ―o trabalho pedagógico e político dos educadores não estão restritos a sala de aula,<br />
mas a um contexto complexo e de formação geral.‖ Ou seja, é uma forma de Educação relevante,<br />
pois opera com sujeitos que formam a própria história.<br />
Apesar de que ainda não esgotado o debate sobre a questão da educação escolar básica, essas<br />
novas demandas se incorporam aos desafios à formação do educador. A educação ao longo da<br />
vida também ratifica a necessidade de se discutir a educação além dos limites da escola.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
CALIMAN, Geraldo. Fundamentos teóricos e metodológicos da pedagogia social na<br />
Europa.In:www.proceedings.scielo.br/scielo.hp?pid=MSC0000000092006000100015&script=sc<br />
i_arttext. Acesso em 04 jun 2011.<br />
LIBÃNEO, José Carlos. Pedagogia e Pedagogos, para quê? 6ª ed. São Paulo, Cortez, 2002.<br />
MACHADO, Evelcy Monteiro. Pedagogia e a Pedagogia Social: Educação Não Formal. In:<br />
www.boaaula.com.br/iolanda/.../evelcy17art.html. Acesso em 05 jun 2011.<br />
133
MOURA, E.P.G.; ZUCCHETTI, D.T. Educação Não Escolar: refletindo sobre práticas para<br />
uma (outra) epistemologia da Pedagogia Social. São Paulo, Contrapontos, 2007, p.185-199.<br />
ORTEGA, Lenise Maria; SANTIAGO, Nilza Bernanrdes. A atuação do Pedagogo: que<br />
profissional é esse? In: www.periodicos.pucminas.br/index.php/.../1080. Acesso em 05 jun.<br />
2011.<br />
A PEDAGOGIA HOSPITALAR<br />
Resumo<br />
Alessandra L. Pedroso - Graduanda<br />
Deusa Aparecida R.Godoi - Graduanda<br />
Eliane N. S. Foregatto - Graduanda<br />
Marlene A. Oliveira - Graduanda<br />
Sheila Cristiane Lourenço - Graduanda<br />
Sônia U. Freitas - Graduanda<br />
Tatiana C. Souza - Graduanda<br />
Luciana S. Gonçalves - Mestre em Educação<br />
E-mail: sheila_crislou@hotmail.com<br />
Eixo Temático: Formação de professores e práticas pedagógicas<br />
Pôster<br />
Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong> – PARFOR<br />
Este estudo busca conhecer a atuação do pedagogo no âmbito hospitalar e foi realizado na<br />
disciplina ―Introdução à Educação‖ no 1º semestre de 2011. Um novo campo de atuação<br />
onde o pedagogo desenvolve seu trabalho em ambiente hospitalar, auxiliando as crianças,<br />
jovens a darem continuidade às atividades educacionais, mesmo quando afastados da escola<br />
regular. Os objetivos foram: a) conhecer o pedagogo em espaços não escolares; b)<br />
possibilitar a compreensão de atuação profissional do pedagogo no âmbito hospitalar. De<br />
acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), o direito a educação é dever de<br />
toda a sociedade e é, neste contexto, que surge uma nova área de atuação para os<br />
profissionais da educação: o hospital. Ao longo do semestre foram feitas leituras de textos e<br />
artigos, documentos estes que tratavam sobre o tema: atuação do pedagogo e pedagogia<br />
hospitalar. Algumas das informações relevantes levantadas neste estudo foram: a qualidade<br />
de cuidado em saúde está referida diretamente a uma concepção ampliada em que o<br />
atendimento as necessidades de moradia, trabalho e educação, assumem relevância para<br />
compor a atenção integral. Já existem alguns hospitais que trabalham com o pedagogo<br />
hospitalar como o Hospital Boldrini, o Hospital Joana de Gusmão e a Unicamp.<br />
Concluímos que é possível pensar o hospital como espaço de educação para as crianças e<br />
adolescentes internados. Mais do que isso, é possível pensar o hospital como um lugar de<br />
encontros e transformações, tornando-o um ambiente propício ao desenvolvimento integral<br />
do indivíduo, sendo esta uma das finalidades para a atuação do pedagogo.<br />
134
Palavras-chave: Pedagogia; Atuação profissional; Âmbito Hospitalar.<br />
INTRODUÇÃO<br />
Este estudo busca conhecer a atuação do pedagogo no âmbito hospitalar e foi realizado na<br />
disciplina ―Introdução à Educação‖ no primeiro semestre de 2011. Um novo campo de<br />
atuação onde o pedagogo desenvolve seu trabalho em ambiente hospitalar, auxiliando as<br />
crianças, jovens a darem continuidade às atividades educacionais, mesmo quando afastados<br />
da escola regular. Os objetivos deste estudo foram: a) conhecer o pedagogo em espaços<br />
não escolares; b) possibilitar a compreensão de atuação profissional do pedagogo no âmbito<br />
hospitalar. Neste ambiente o pedagogo conscientiza, discute e amplia as ideias dos<br />
profissionais da educação e saúde, dando a criança hospitalizada uma melhor qualidade de<br />
vida, um olhar especial e um atendimento individualizado fazendo com que ela de<br />
continuidade em suas atividades educativas, envolvendo o lúdico e o pedagógico no seu<br />
contexto geral.<br />
A realização deste estudo surgiu da necessidade de apresentar uma pesquisa sobre o tema<br />
pedagogia hospitalar, proposto pela professora da disciplina ―Introdução à Educação‖.<br />
Ao longo do semestre foram feitas leituras de textos, artigos e sites, documentos estes que<br />
tratavam sobre o tema: atuação do pedagogo e pedagogia hospitalar.<br />
A pedagogia hospitalar é um campo de atuação onde o pedagogo desenvolve seu trabalho<br />
em ambiente hospitalar auxiliando as crianças e jovens a darem continuidade às atividades<br />
educacionais, mesmo afastados da escola regular.<br />
A PEDAGOGIA HOSPITALAR<br />
De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o direito a educação é dever<br />
não só da escola, mais da sociedade, buscar alternativas que amenizem as dificuldades<br />
encontradas em muitas situações. Nesse contexto, surge uma nova área de atuação para os<br />
profissionais da educação: o hospital.<br />
O enfermo hospitalizado em se tratando da criança e do adolescente, passa por uma<br />
experiência dolorosa de privação de saúde e de liberdade, vivida pela dor física e<br />
desequilíbrio emocional devido à sensação de abandono no ambiente hospitalar. Tal<br />
situação dificulta a cura e prolonga o tratamento. Neste sentido a escola da criança fica<br />
fragmentada podendo ate perder o ano letivo.<br />
A finalidade da pedagogia hospitalar e integrar educadores, equipe médica e família, num<br />
trabalho em conjunto, a fim de garantir o direito à escolaridade do educando, mesmo em<br />
um ambiente diferenciado. O currículo escolar e reorganizado para que atenda as<br />
especificidades por meio de ações lúdicas, recreativas e pedagógicas, assegurando a saúde<br />
física, emocional e mental aos enfermos.<br />
Segundo MATOS (1998, p. 3633),<br />
A resolução 02 CNE/CEM MEC/ Secretaria de Estado da Educação –<br />
Departamento de Educação Especial, datado em 11 de setembro de 2001,<br />
determina expressamente que a implantação de hospitalização<br />
escolarizada com a finalidade de atendimento pedagógico aos alunos com<br />
necessidades especiais transitórias e consequentemente a elaboração de<br />
cursos acadêmicos destinados a atender nova demanda, reforça por outro<br />
135
lado, o direito a saúde, segundo a Constituição Federal (Art.196), deve ser<br />
garantido mediante políticas econômicas e sociais que visem ao acesso<br />
universal e igualitário às ações e serviços, tanto para a sua promoção,<br />
quanto para a sua proteção e recuperação. Assim, a qualidade do cuidado<br />
em saúde está referida diretamente a uma concepção ampliada em que o<br />
atendimento às necessidades de moradia, trabalho, e educação, entre<br />
outras, assumem relevância para compor a atenção integral. A<br />
integralidade é, inclusive, uma das diretrizes de organização do Sistema<br />
Único de Saúde, definido por lei (Art.197). (MEC, maio 2002).<br />
Já existem alguns hospitais que trabalham com o pedagogo hospitalar como o Hospital<br />
Boldrini, o Hospital Joana de Gusmão e a Unicamp.<br />
Segundo Ormaneze (2008), no blog ―Ensinando e aprendendo em sala de recursos‖:<br />
No Mário Gatti, primeiro hospital de <strong>Campinas</strong> a contar com esse<br />
trabalho, a classe hospitalar existe há dez anos.<br />
Professores/educadores transitam pelos corredores, entram de<br />
quarto em quarto da pediatria distribuindo lições, livros, tintas,<br />
desviando a atenção das crianças enfermas para uma forma solidária<br />
de ensinar e aprender.<br />
‗No começo, encontramos muitas resistências da equipe médica.<br />
Hoje, todos já perceberam que nosso trabalho auxilia no tratamento.<br />
A recuperação é mais rápida‘, conta Corte. (...) ‗Para uma criança<br />
que vive na UTI, sem luz natural, saber que a claridade é<br />
característica do dia e que a escuridão é sinônimo da noite, ainda<br />
que seja quando a luz da sala se apaga, tem o valor do<br />
conhecimento de um ano todo‘, explica Selma Favaretto, outra<br />
professora que trabalha no Mário Gatti. Quando esse trabalho se<br />
desenvolve, cria-se a esperança de que o ano letivo não está<br />
perdido, assim as preocupações maiores da criança com a doença e<br />
com a escola, dão espaço a preocupações normais do dia-a-dia,<br />
podendo viver de maneira mais tranquila. ‗Se não fossem essas<br />
aulas, acho que eu ia reprovar e aí teria de estudar com outros<br />
meninos, que eu nem conheço direito‘, conta o garoto Cláudio<br />
Vinícius da Silva Santos, de 12 anos, que ficou internado 38 dias<br />
por causa de uma infecção. ‗Sinto nosso trabalho como uma espécie<br />
de elo com o mundo externo‘, explica a professora Luciana<br />
Assunção de Mello, no Centro Infantil Domingos Boldrini, que<br />
trabalha no local há quatro anos. ‗Com o tempo, a gente vai<br />
desmontando a idéia de que a pedagogia é uma extensão da sala de<br />
espera. Temos um compromisso com a qualidade de vida dos<br />
pacientes‘, ela afirma.<br />
Já existem instituições que oferecem cursos para profissionais da área educacional,<br />
respeitando a legislação brasileira vigente especialmente o Estatuto da Criança e do<br />
Adolescente (ECA). O este profissional deve ser preparado para lidar com as perdas e a<br />
elaboração dos lutos nas situações de doenças, acidentes, limitações físicas e sensoriais.<br />
136
Conforme De Paula e Foltran (2007, pp.1-2):<br />
O brincar é uma atividade essencial para a saúde física, emocional e<br />
intelectual do ser humano. Brincar é coisa séria, porque na brincadeira há<br />
sinceridade, engajamento e doação. É brincando que se desenvolve o<br />
reequilíbrio e a reciclagem das emoções vividas, da necessidade do<br />
conhecer e reinventar a realidade, desenvolvendo ao mesmo tempo a<br />
atenção, concentração e muitas outras habilidades (...) Quando uma<br />
criança sofre uma internação hospitalar o seu curso de desenvolvimento, a<br />
sua forma de ver o mundo tem continuidade, mas muitas vezes promovem<br />
uma série de alterações na rotina e na vida da criança e de sua família.<br />
Para assisti-la é necessária uma atuação que busque sempre diminuir os<br />
efeitos da doença e seu tratamento, porque os efeitos da doença e seu<br />
tratamento muitas vezes irão acometer a crianças de forma global. A<br />
criança internada pode apresentar perda de algumas funções em vários e<br />
diversos níveis do seu desenvolvimento, mas na maioria das vezes não<br />
perde a percepção do que está acontecendo a sua volta e quer participar<br />
ser ouvida e respeitada. É necessário um investimento na criança, que<br />
continua a desenvolver-se, continua gostando de suas atividades, ou seja,<br />
de brincar. Neste sentido, é essencial oferecer e encontrar alternativas de<br />
atividades nas quais ela possa vivenciar o universo lúdico e continuar<br />
participando no seu meio. (...) Entendendo o brincar como uma função<br />
básica da criança, que brincando ela explora, descobre, aprende e<br />
apreende o mundo a sua volta e que numa situação de internação<br />
hospitalar, toda a sua rotina é modificada, a brinquedoteca apresenta-se<br />
como uma alternativa rica para atender a essa demanda.<br />
É possível pensar o hospital como um espaço de educação para as crianças internadas. Mais<br />
do que isso, é possível pensá-lo como um lugar de encontros e transformações, tornando-o<br />
um ambiente propício ao desenvolvimento integral da criança.<br />
―Enxergar e acreditar na criança enferma, assim como em qualquer criança, é um primeiro<br />
passo para compreendê-la, respeitá-la e auxiliá-la em seu processo de desenvolvimento,<br />
porque a criança não sabe senão viver sua infância. Conhecê-la pertence ao adulto‖<br />
(WALLON, 1941, p. 11 apud FONTES, 2005).<br />
Com efeito, a contribuição do pedagogo no âmbito hospitalar, como profissional da<br />
educação, desenvolvendo um trabalho multidisciplinar junto ou com outras equipes<br />
especializadas dentro do hospital e, assim como, trabalhar na condição de técnico por<br />
excelência do processo cognitivo, objetivando oferecer maiores possibilidades de clareza<br />
aos respectivos entendimentos, com vista a especificidades de suas ações pedagógicas.<br />
Considerações finais<br />
Algumas das informações relevantes levantadas neste estudo foram: a qualidade de cuidado<br />
em saúde está referida diretamente a uma concepção ampliada em que o atendimento as<br />
necessidades de moradia, trabalho e educação, assumem relevância para compor a atenção<br />
integral.<br />
Concluímos que é possível pensar o hospital como espaço de educação para as crianças e<br />
adolescentes internados. Mais do que isso, é possível pensar o hospital como um lugar de<br />
137
encontros e transformações, tornando-o um ambiente propício ao desenvolvimento integral<br />
do indivíduo, sendo esta uma das finalidades para a atuação do pedagogo.<br />
BIBLIOGRAFIA<br />
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Promulgada em 05 de outubro<br />
de 1988.<br />
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei federal n. 8.069, de 13 de julho de<br />
1990.<br />
DE PAULA, Ercília Maria Angeli Teixeira. FOLTRAN, Elenice Parise. Projeto Brilhar:<br />
brinquedoteca, literatura e arte no ambiente hospitalar. Universidade Estadual de Ponta<br />
Grossa, UEPG/PR: 2007. Disponível em:<br />
http://www.tibagi.uepg.br/pex/conexasp/trabalhos/7465/artigo_brinquedoteca_5conex.pdf<br />
Acesso dia 02 de junho de 2011.<br />
ESTEVE, C. R. Pedagogia hospitalar: Um breve histórico. Secretaria Municipal de<br />
Educação. Salvador, BA: 2008. Disponível em:<br />
http://www.smec.salvador.ba.gov.br/site/documentos/espaco-virtual/espaco-educacaosaude/classes-hospitalares<br />
Acesso dia 2 de junho de 2011.<br />
FONTES, Rejane de S. A escuta pedagógica à criança hospitalizada: discutindo o papel da<br />
educação no hospital. Revista Brasileira Educação, Ago 2005, no.29, p.119-138.<br />
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n29/n29a10.pdf Acesso dia 02 de junho de<br />
2011.<br />
MATOS, Elizabeth L. M. Diante dos desafios tecnológicos a pedagogia hospitalar vem<br />
apontando novos olhares para o educador. Disponível em:<br />
http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2006/anaisEvento/docs/PL-339.pdf <strong>PUC</strong>PR,<br />
1998. Acesso dia 02 de junho de 2011.<br />
LIBÂNEO, José. Carlos. Pedagogia e pedagogos para quê? 6 ed. São Paulo. Cortez, 2002.<br />
ORMANEZE, Fabiano. Classe hospitalar dá injeção de ânimo. 2008. Disponível em:<br />
http://ensinandoeaprendendoemsaladerecursos.blogspot.com/2008/06/classe-hospitalar-dinjeo-de-nimo.html<br />
Acesso 02 de junho de 2011.<br />
Links:<br />
Pedagogia Hospitalar: Atuação do Educador no Atendimento Pedagógico Domiciliário e<br />
Hospitalar http://cogeae.pucsp.br/cogeae/cursos/156<br />
ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO MERCADO DE TRABALHO<br />
138<br />
Ana Paula D. Leite - Graduanda
139<br />
Cássio A. Barbosa - Graduando<br />
Heloísa Helena V. Campanini - Graduanda<br />
Inês P. Landim - Graduanda<br />
Luciana Maria T. Aguiar - Graduanda<br />
Mayra Regina O. António - Graduanda<br />
Raquel S. F. Pereira - Graduanda<br />
Renata C. O. Sousa – Graduanda<br />
Talita B. Corsi - Graduanda<br />
Luciana S. Gonçalves - Mestre em Educação<br />
Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong> – PARFOR<br />
Eixo Temático: Formação de professores e práticas pedagógicas<br />
Pôster<br />
e-mail: talitacorsi@hotmail.com<br />
Resumo<br />
Esta pesquisa buscou conhecer a atuação do pedagogo no âmbito empresarial. O campo da<br />
Educação tem passado por diferentes mudanças, devido à desvalorização profissional, o(a)<br />
pedagogo(a) tem dado preferência à outras áreas de atuação. Esta pesquisa teve por objetivos: a)<br />
conhecer uma nova área de atuação do(a) pedagogo(a) dentro de empresas públicas ou privadas<br />
nem sempre vinculados ao desenvolvimento de projetos educacionais; b) conhecer qual o motivo<br />
que levou o(a) pedagogo(a) a atuar neste campo de trabalho; c) refletir sobre o impacto dessa<br />
mudança de posicionamento profissional do (a) pedagogo(a) dentro das instituições educacionais.<br />
Justificativa: Pesquisa voltada à disciplina ―Introdução à Educação‖ realizada no 1º semestre de<br />
2011, que discutiu sobre a importância da atuação do(a) pedagogo(a) no mercado de trabalho,<br />
sendo assim, redefinindo seu campo de atuação profissional (escolar, social, hospitalar e<br />
empresarial). Os métodos foram: leituras de textos e artigos, documentos estes que tratavam<br />
sobre o tema: atuação do pedagogo e pedagogia empresarial. Destacamos que esta pesquisa se<br />
desenvolveu, principalmente, por meio de discussões e leituras de textos em sala de aula acerca<br />
do campo de atuação do pedagogo e suas relações no âmbito empresarial. Considerações finais: o<br />
pedagogo empresarial pode desenvolver funções dentro das empresas como seleção de<br />
funcionários, treinamentos de Recursos Humanos (RH), além do desenvolvimento de projetos<br />
educacionais que a empresa pode promover. Esta nova oportunidade de atuação, dentro de<br />
contexto histórico em que vivemos, trará grandes inovações à identidade do pedagogo.<br />
Palavras-chave: Pedagogia; Atuação profissional; Âmbito Empresarial<br />
INTRODUÇÃO<br />
Esta pesquisa buscou conhecer a atuação do pedagogo no âmbito empresarial. O campo da<br />
Educação tem passado por diferentes mudanças, devido à desvalorização profissional, o(a)<br />
pedagogo(a) tem dado preferência à outras áreas de atuação. Segundo LIBÂNEO (2002, p.26):<br />
―Mas é evidente que as transformações contemporâneas contribuíram para consolidar o<br />
entendimento da educação como fenômeno plurifacetado, ocorrendo em muitos lugares,<br />
institucionalizados ou não, sob várias modalidades‖.<br />
Esta pesquisa teve por objetivos: a) conhecer uma nova área de atuação do(a) pedagogo(a) dentro<br />
de empresas públicas ou privadas nem sempre vinculados ao desenvolvimento de projetos
educacionais; b) conhecer qual o motivo que levou o(a) pedagogo(a) a atuar neste campo de<br />
trabalho; c) refletir sobre o impacto dessa mudança de posicionamento profissional do (a)<br />
pedagogo(a) dentro das instituições educacionais. A pesquisa esta voltada à disciplina<br />
―Introdução à Educação‖ realizada no primeiro semestre de 2011, que discutiu sobre a<br />
importância da atuação do(a) pedagogo(a) no mercado de trabalho, sendo assim, redefinindo seu<br />
campo de atuação profissional (escolar, social, hospitalar e empresarial). Os métodos foram:<br />
leituras de textos e artigos, documentos estes que tratavam sobre o tema: atuação do pedagogo e<br />
pedagogia empresarial. Destacamos ainda que esta pesquisa se desenvolveu, principalmente, por<br />
meio de discussões e leituras de textos em sala de aula acerca do campo de atuação do pedagogo<br />
e suas relações no âmbito empresarial.<br />
Dentro do contexto sócio-histórico que vivemos, com a velocidade cada vez maior de obtenção<br />
de informação e conhecimento e com a desmotivação e dificuldades encontradas pelos<br />
profissionais da educação para se atualizarem, através de formação em exercício, formação<br />
continuada e cursos de especialização, fica cada vez mais distante a relação professor-aluno. A<br />
pedagogia empresarial vem demonstrando inserida neste contexto, cada vez mais dinâmico e<br />
produtivo, que valoriza o desempenho de resultados.<br />
PEDAGOGO NO ÂMBITO EMPRESARIAL<br />
O(a) pedagogo(a) se adapta ao modelo da empresa e desenvolve seu trabalho a partir de conceitos<br />
determinados pela mesma. O recrutamento de funcionários e de clientes faz parte das funções<br />
desempenhadas por esse profissional, além, é claro do desenvolvimento de projetos educacionais<br />
quando estes estão presentes dentro do contexto da empresa. Esse perfil de profissional é<br />
reconhecido pelo mercado de trabalho, pela gama de disciplinas oferecidas dentro do curso de<br />
graduação em Pedagogia, que garante capacidade e competência ao pedagogo nessa área de<br />
atuação. No entanto, essas novas áreas de atuação, a empresarial, a social e a hospitalar, por<br />
exemplo, vieram diversificar e ampliar a profissão do(a) pedagogo(a). O que não pode acontecer,<br />
é a transferência dos profissionais docentes para outras áreas pela decepção, desvalorização e<br />
descaso com os mesmos. O profissional da educação precisa ser valorizado na sua integralidade.<br />
O professor/educador precisa ser respeitado em suas escolhas e estimulado a continuar na área,<br />
tendo garantidos seus direitos como profissional. A escola não existe sem um educador/mediador<br />
capacitado para estimular a aprendizagem e a relação com o(a) aluno(a).<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
O pedagogo no âmbito empresarial pode desenvolver funções dentro das empresas como seleção<br />
de funcionários, treinamento de Recursos Humanos (RH), além do desenvolvimento de projetos<br />
educacionais que a empresa pode aplicar. Esse campo de atuação está disponível ao pedagogo(a),<br />
pois sua formação acadêmica, que abrange várias áreas do conhecimento, lhe garante capacidade<br />
para atuar com competência dentro da área empresarial.<br />
A dificuldade e as incertezas encontradas pelo(a) pedagogo(a) em instituições de ensino, dentro<br />
da docência, não podem desestimulá-los(as), porém essa nova oportunidade de atuação, dentro do<br />
novo contexto histórico em que vivemos, trará grandes inovações à identidade do pedagogo.<br />
BIBLIOGRAFIA<br />
140
BOSSA, N. L.; RIBAS, K. M. F. O pedagogo e sua inserção no âmbito empresarial. In: Revista<br />
Eletrônica Lato Sensu – Ano 3, n.1, março de 2008. Disponível em .<br />
Acesso em:3 de junho de 2011.<br />
GONÇALVES, R. A Pedagogia empresarial e as práticas pedagógicas dentro da empresa.<br />
Disponível em Acesso em: 3 de junho de 2011.<br />
LIBÂNEO, José. Carlos. Pedagogia e Pedagogos, para quê? 6 ed. São Paulo, Cortez, 2002.<br />
RIBEIRO, A. E. do. A Pedagogia empresarial: atuação do pedagogo na empresa. Rio de<br />
Janeiro: Wak, 2003.<br />
SOUSA, J.F. A nova formação do pedagogo para atuar no mercado de trabalho. Disponível em<br />
http://www.webartigos.com/articles/35693/1/A-Nova-Formacao-do-Pedagogo-para-Atuar-no-<br />
Mercado-de-Trabalho-no-DF/pagina1.html> Acesso em: 2 de junho de 2011.<br />
Links:<br />
Visão Assessoria em Recursos Humanos - http://www.visaorh.com.br/index.php<br />
PEDAGOGIA HOSPITALAR<br />
Resumo<br />
141<br />
Andréa Cristina dos Santos – Graduanda<br />
Diva de Souza Brito - Graduanda<br />
Irene Apolinário - Graduanda<br />
Fátima Cristina de B. Silva - Graduanda<br />
Jesuína Aparecida Barbosa – Graduanda<br />
Lucilene M. S. Santos – Graduanda<br />
Maria Aparecida Ribeiro - Graduanda<br />
Maria de Fátima de Souza – Graduanda<br />
Luciana dos Santos Gonçalves – Mestre em Educação<br />
E-mail: divasbt2009@hotmail.com<br />
Eixo temático: Formação de professores e práticas pedagógicas<br />
Pôster<br />
Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong> - PARFOR<br />
Este estudo busca conhecer a atuação do pedagogo no espaço não formal. Como o pedagogo<br />
hospitalar contribui na prevenção, correção ou minimização dos problemas decorrentes de<br />
possíveis efeitos tardios no desenvolvimento cognitivo do paciente. Os objetivos foram a)<br />
possibilitar a compreensão da atuação do profissional pedagogo no âmbito hospitalar; b)<br />
Conhecer o pedagogo que atua em espaços não escolares. Justificativa do tema nos levou a<br />
conhecer uma nova área de atuação do pedagogo, que com os conhecimentos que adquiridos
podemos acompanhar e auxiliar a criança e o jovem a darem continuidade às atividades<br />
educacionais mesmo estando afastado da escola regular. Dentre as informações relevantes,<br />
destacamos que atuação do pedagogo muitas das vezes está restrita ao ambiente escolar e que<br />
com o avanço dos estudos na área da educação, sua prática se expandiu e, atualmente, esta<br />
relacionada também educação não formal, tendo em vista o profissional pedagogo. Este estudo<br />
foi realizado na disciplina ―Introdução à Educação‖ visando conhecer essa nova área em que o<br />
futuro pedagogo pode atuar, que é o ambiente hospitalar, ou seja, numa prática educativa do<br />
âmbito não formal. Nossas considerações finais revelam que a classe hospitalar é uma<br />
modalidade de ensino cuja oferta está assegurada por lei. No entanto, muitos alunos internos ou<br />
em tratamento de saúde estão sendo privados desse direito. Assim, faz-se necessário uma política<br />
pública educacional voltada aos interesses desses alunos, pois eles sofrem pelas patologias e pelo<br />
afastamento de seus familiares e da escola.<br />
Palavras-chave: Pedagogia; Atuação profissional; Âmbito Hospitalar<br />
INTRODUÇÃO<br />
Este estudo busca conhecer a atuação do pedagogo no espaço não formal. Como o pedagogo<br />
hospitalar contribui na prevenção, correção ou minimização dos problemas decorrentes de<br />
possíveis efeitos tardios no desenvolvimento cognitivo do paciente. A pedagogia hospitalar é um<br />
tema de muita importância, pois percebemos que há um déficit na questão da aprendizagem<br />
dentro do hospital. Crianças que necessitam de muitos períodos de internação acabam sofrendo<br />
uma carência em relação a aprendizagem, nos como futuros profissionais da educação vemos que<br />
há muito para fazer pela educação pois por meio do acompanhamento educacional dentro do<br />
ambiente hospitalar iremos resgatar vários sentimentos nessas crianças como aceitação,<br />
autoestima, segurança, uma melhor qualidade de vida e a continuidade do desenvolvimento das<br />
potencialidades que elas apresentam.<br />
O pedagogo será mediador para recuperar sentimentos de amor próprio entre outros e<br />
assegurando a valorização da vida do paciente. A pedagogia hospitalar situa-se na modalidade da<br />
Educação Especial, definindo como suas principais ações as atividades de classes hospitalares e<br />
atendimento domiciliar para crianças e adolescentes em tratamento de saúde. De acordo com<br />
Matos e Mugiatti (2001, p. 31):<br />
Comparativamente, pode-se entender o hospital para a criança/adolescente como<br />
um amplo cenário do qual participam os mais diversos atores [...] considerando,<br />
portanto, esse valioso elenco participante, vê-se como da mais extrema<br />
importância a atuação de todos, quanto às suas respectivas atribuições, pela<br />
necessidade de preservação da real qualidade de suas tarefas.<br />
Os objetivos deste estudo foram a) possibilitar a compreensão da atuação do profissional<br />
pedagogo no âmbito hospitalar; b) Conhecer o pedagogo que atua em espaços não escolares.<br />
Justificativa do tema baseou-se na disciplina ―Introdução à Educação‖ cursada no primeiro<br />
semestre de 2011, que nos levou a conhecer uma nova área de atuação do pedagogo, que com os<br />
conhecimentos que adquiridos podemos acompanhar e auxiliar a criança e o jovem a darem<br />
continuidade às atividades educacionais mesmo estando afastado da escola regular. A educação é<br />
um direito de toda e qualquer criança ou adolescente, e isso inclui o universo da criança e do<br />
adolescente hospitalizado, que iremos daqui por diante tratar apenas como criança hospitalizada.<br />
142
FORMAÇÃO PROFISSIONAL E ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO ÂMBITO<br />
HOSPITALAR<br />
Destacamos que atuação do pedagogo muitas das vezes está restrita ao ambiente escolar e que<br />
com o avanço dos estudos na área da educação, sua prática se expandiu e, atualmente, esta<br />
relacionada também educação não formal, tendo em vista o profissional pedagogo. A educação<br />
em ambiente hospitalar é um direito de toda criança ou adolescente hospitalizado. Porém, os<br />
estudos já realizados demonstram que, na prática, nem todas as crianças usufruem desse direito<br />
em virtude do número de hospitais que fazem esse tipo de atendimento.<br />
O tempo de tratamento de saúde, em âmbito hospitalar ou na reclusão domiciliar, pode propiciar<br />
o afastamento do ciclo escolar, pela impossibilidade de frequentar as aulas regularmente. Isso<br />
acarreta prejuízo ao individuo no tocante ao desenvolvimento da educação escolar, o que traz em<br />
si consequências negativas ao desenvolvimento psicológico e as relações sociais e familiares.<br />
Nesse contexto a pedagogia hospitalar pode contribuir para a manutenção da reação do individuo,<br />
pois atua reforçando indiretamente a sua autoestima ao dar-lhe possibilidade de continuidade de<br />
desenvolvimento. Além do benefício terapêutico, é evidente a importância da continuidade da<br />
escolarização no ambiente hospitalar, sem prejuízos maiores a formação escolar proposta,<br />
respeitando o individuo como cidadão em seu direito a educação.<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Nossas considerações finais revelam que a classe hospitalar é uma modalidade de ensino cuja<br />
oferta está assegurada por lei. No entanto, muitos alunos internos ou em tratamento de saúde<br />
estão sendo privados desse direito. Assim, faz-se necessário uma política pública educacional<br />
voltada aos interesses desses alunos, pois eles sofrem pelas patologias e pelo afastamento de seus<br />
familiares e da escola. Então, o trabalho do pedagogo no hospital é propiciar uma prática<br />
educativa visando à formação integral do aluno enfermo numa proposta de amenizar a possível<br />
desmotivação e o estresse ocasionados pela internação. Diante do exposto, entende-se a<br />
necessidade de desenvolver propostas consistentes, tanto do ponto de vista pedagógico quanto de<br />
apoio teórico, deixando de lado o cunho assistencial ou recreativo, que na maioria das vezes<br />
camufla o contexto da pedagogia hospitalar. A sociedade devem-se soluções urgentes para essa<br />
situação, no sentido de que todos os esforços sejam direcionados para uma ação coletiva, que<br />
envolva a família, a escola e o quadro clínico da criança e do adolescente, garantindo que seus<br />
direitos sejam preservados nesse momento de fragilidade que é ocasionado pela doença.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
ESTEVES, C. R. Pedagogia Hospitalar: Um breve histórico. SECRETARIA MUNICIPAL DE<br />
EDUCAÇÂO. Salvador, BA: 2008. Disponível em:<br />
.<br />
Acesso em: 3 de<br />
maio de 2011.<br />
FONTES, R.S. A escuta pedagógica à criança hospitalizada: discutindo o papel da educação no<br />
hospital. Revista Brasileira de Educação. Rio de Janeiro, n.26, maio/agosto, 2005, pp. 119-138<br />
143
Disponível em: . Acesso em: 3 de maio de<br />
2011.<br />
LIBÂNEO, José. Carlos. Pedagogia e Pedagogos, para quê? 6 ed. São Paulo, Cortez, 2002.<br />
A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO INFANTIL NO PROJETO NAVES-<br />
MÃE DO MUNICÍPIO DE CAMPINAS<br />
Resumo<br />
144<br />
Bárbara Carvalho Marques Toledo Lima<br />
barbara_mt@yahoo.com.br<br />
Profa. Dra. Heloisa Helena de Oliveira Azevedo<br />
hazevedo@puc-campinas.edu.br<br />
Eixo Temático: Formação de professores e práticas pedagógicas<br />
Pôster<br />
Programa de Pós-Graduação em Educação da <strong>PUC</strong> <strong>Campinas</strong>/SP<br />
Bolsista Capes, modalidade Prosup I<br />
A presente pesquisa, em andamento, discute as concepções pedagógicas que orientam o trabalho<br />
docente de professores de educação infantil no projeto de creches e pré-escolas do município de<br />
<strong>Campinas</strong>, denominado Naves-Mãe. Este projeto tem se preocupado com a formação dos<br />
profissionais principalmente por apresentar uma proposta curricular pautada na ―Pedagogia dos<br />
Sentidos‖, sendo necessário que os professores passem por treinamentos, cursos e formação<br />
continuada para atuarem na nova abordagem que asseguram. É, portanto, no ―Centro de<br />
Formação Continuada da Pedagogia dos Sentidos‖ que parte desta formação acontece. Percebe-se<br />
que as mudanças que ocorrem hoje nas concepções pedagógicas das diversas instituições de<br />
ensino implicam também em modificações na formação docente, desta forma, repensar e refletir<br />
as concepções é uma necessidade urgente, uma vez que são elas que orientam as práticas<br />
pedagógicas. Nesta perspectiva, surgiu a problemática a ser investigada: qual a concepção de<br />
escola, criança e professor que norteia o trabalho pedagógico das Naves-Mãe pautado na<br />
Pedagogia dos Sentidos? Em um primeiro momento, faz-se necessário discutir como<br />
historicamente a infância se configurou na sociedade, qual a função atribuída às instituições para<br />
atendê-las e como, a partir disto, se deu o processo cultural da formação docente. Assim, através<br />
de entrevista com professores e diretores, análise documental e observação no Centro de<br />
Formação Continuada da Pedagogia dos Sentidos, buscar-se-á conhecer as concepções<br />
pedagógicas que orientam a prática dos professores nas Naves-Mãe. No desenvolvimento inicial<br />
deste trabalho, evidenciamos que as Naves-Mãe têm demonstrado preocupação em oferecer ao<br />
aluno e às comunidades locais um ensino que valoriza a pareceria com a família e a formação de<br />
seus professores. Entretanto, é perceptível que, apesar das conquistas em prol da melhoria na<br />
educação infantil ao longo dos anos, ainda identificamos muitos aspectos nas instituições de<br />
ensino que atendem crianças de 0 a 5 anos e 11 meses que merecem ser objeto de estudo.<br />
Palavras-chave: Criança; Educação Infantil; Formação Docente; Concepções Pedagógicas.
INTRODUÇÃO<br />
Pensar o papel da escola na sua dimensão pedagógica e social, mais especificamente aqui<br />
a escola de Educação infantil, requer também que seja refletido sobre a formação dos<br />
profissionais que nela atuam, principalmente a formação do profissional em serviço que vem para<br />
discutir as transformações da metodologia da escola, concepções ou reflexões sobre a prática<br />
cotidiana. Um exemplo de programa que valoriza a necessidade de continuidade da formação do<br />
professor da Educação Infantil é o projeto de creches e pré-escolas, traduzido por Naves-Mãe, do<br />
município de <strong>Campinas</strong>. Tal projeto é voltado para crianças de zero a cinco anos e onze meses<br />
das classes populares do município (SILVA, 2010).<br />
A Pedagogia dos Sentidos é a proposta assumida pelas Naves-Mãe: ―um processo de<br />
aprendizado baseado na neurociência, que estimula os sentidos, como incorpora mães e<br />
familiares, promovendo uma ação integradora que visa resgatar a família e a dignidade humana‖<br />
(SANTOS, 2010, 55).<br />
Alicerçada a essa ―nova pedagogia‖, está também uma nova formação dos educadores,<br />
que ao serem contratados para as Naves-Mãe, passam por treinamentos semestrais voltados para<br />
capacitação e orientação para atuarem com a Pedagogia dos Sentidos (SANTOS, 2010).<br />
De acordo com as informações apresentadas no site oficial do município de <strong>Campinas</strong>, no<br />
dia 15 de agosto de 2010 foi inaugurado o Centro de Formação da Pedagogia dos Sentidos ―Vila<br />
Antiga‖, que constitui-se em um projeto da Fundação Douglas Andreani, em parceria com a<br />
Prefeitura, destinado à pesquisa, formação e treinamento de professores com base na ―pedagogia<br />
dos sentidos‖, além de oferecer oficinas e atividades lúdicas que atendem também os alunos e a<br />
comunidade.<br />
Esse projeto nasce como apoio à pedagogia dos sentidos, pois a preocupação com a<br />
formação de nossas crianças deve começar com a formação dos professores,<br />
responsáveis por transmitir os valores às crianças. Este local pretende ser o símbolo da<br />
pedagogia dos sentidos (Carlos Andreani - Presidente da Fundação Douglas Andreani,) 16<br />
O programa criado pela fundação Douglas Andreani atende a população em geral e os<br />
cursos oferecidos pelo Centro de Formação Continuada Pedagogia dos Sentidos é aberto ao<br />
público, sendo que uma porcentagem das vagas é exclusivamente destinada aos professores de<br />
escolas públicas de Educação Infantil do município de <strong>Campinas</strong>.<br />
PROBLEMA<br />
Com base na justificativa para este trabalho surgiu a problemática a ser investigada: qual a<br />
concepção de escola, criança e professor que norteia o trabalho pedagógico das Naves-Mãe de<br />
<strong>Campinas</strong> na Pedagogia dos Sentidos?<br />
OBJETIVO<br />
1.1.1 16 Disponível em: < http://www.campinas.sp.gov.br/noticiasintegra.php?id=2803>.<br />
Acesso em: 31 mar, 2011.<br />
1.1.2<br />
145
Buscaremos investigar, através do Centro de Formação Continuada ―Vila Antiga‖, a<br />
concepção de criança, escola e professor que norteia o trabalho pedagógico das Naves-Mãe de<br />
<strong>Campinas</strong>, já que esta é a abordagem assumida pelo projeto e seus professores têm participado de<br />
tal formação na Pedagogia dos Sentidos.<br />
MÉTODO<br />
A pesquisa será de caráter qualitativo, que segundo Chizzotti (2006), caracteriza-se pela<br />
busca de resposta nas ações humanas, em que se coletam informações vividas pelo homem<br />
através dos fatos.<br />
Para atender aos objetivos deste trabalho será necessário recorrer a três técnicas de coleta<br />
de dados: observação, entrevistas e análise documental.<br />
A observação ocorrerá nos encontros dos professores das Naves-Mãe no Centro de<br />
Formação Continuada Pedagogia dos Sentidos, de acordo com sua periodicidade.<br />
Os professores e os possíveis diretores que participam dos encontros de formação<br />
continuada serão entrevistados, com o objetivo de conhecer, a partir das suas perspectivas, a<br />
importância da formação em serviço e quais as concepções apresentadas nos cursos que orientam<br />
seus trabalhos na sala de aula. A análise documental ocorrerá com base nas referências teóricas<br />
sobre o tema, a fim de buscar interpretar as concepções pedagógicas do Centro de Formação<br />
Continuada Pedagogia dos Sentidos.<br />
RESULTADOS ESPERADOS<br />
Espera-se que esta pesquisa evidencie, a princípio, a importância que existe na formação<br />
continuada do professor, principalmente aquela que vem como oportunidade de refletir sua<br />
prática em meios que tragam sua autovalorização. E que através da formação continuada, sejam<br />
evidenciadas as concepções de criança, escola e professor que orienta todo o trabalho pedagógico<br />
da instituição de ensino, trazendo reflexão, conhecimento e possíveis formas de avanço.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
AZEVEDO, Heloisa H. de O. Formação Inicial de Professores de Educação Infantil:<br />
Desmistificando a Separação Cuidar-Educar. 2005. 201f. Tese (Doutorado em Educação) –<br />
Universidade Metodista de Piracicaba, SP, 2005.<br />
CHIZZOTTI, A. Pesquisa Qualitativa em Ciências Humanas e Sociais. Petrópolis-RJ, Vozes:<br />
2006.<br />
KRAMER, Sônia. Com a Pré-Escola nas mãos. Uma alternativa curricular para a Educação<br />
Infantil. 14ª Edição. São Paulo: Ática, 2007.<br />
LUDKE, M; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas. São Paulo:<br />
EPU, 1986.<br />
146
OLIVEIRA, Stela Maris Lagos. Crenças e valores dos profissionais de Creche e importância da<br />
Formação Continuada na Construção de um Novo Papel junto à criança de 0 a 3 anos. Revista<br />
Em Aberto, Brasilia, v. 18, n. 73. P. 89-97. Julho 2001.<br />
SANTOS, Dr. Hélio de O. Naves-mãe e a Pedagogia dos Sentidos. De <strong>Campinas</strong>, novos<br />
paradigmas para a educação infantil no Brasil. <strong>Campinas</strong>: Komed, 2010.<br />
SILVA, Débora Alice Machado da. 8º Congresso de Pós-Graduação: Nave-Mãe: Um Projeto para<br />
Educação Infantil em <strong>Campinas</strong>. Primeiras observações. Unimep, 2010.<br />
VOGL, Ingrid. Vila Antiga abrigará Centro de Formação da Pedagogia dos Sentidos.<br />
Disponível em: < http://www.campinas.sp.gov.br/noticias-integra.php?id=2803>. Acesso em: 31<br />
mar, 2011.<br />
FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM PERIÓDICOS DA EDUCAÇÃO NA PRIMEIRA DÉCADA DESTE<br />
SÉCULO<br />
Resumo<br />
147<br />
Dra Maria Auxiliadora B. A. Megid<br />
dmegid@puc-campinas.edu.br<br />
Carolina Lucenti Pereira<br />
carolinalucenti@uol.com.br<br />
A pesquisa analisa artigos publicados na Revista Brasileira de Educação e na Revista Zetetike<br />
que abordem a formação inicial e/ou continuada de professores dos anos iniciais do Ensino<br />
Fundamental. Justifica-se pela intenção de mapear as produções publicadas nesse periódico na<br />
perspectiva de verificar as concepções de pesquisadores sobre o foco Formação de Professores. O<br />
período escolhido compreende a primeira década do século XXI. Selecionamos nove artigos na<br />
Revista Brasileira de Educação e quinze na Zetetike. Nos artigos encontrados destacamos as<br />
ideias sobre as temáticas em questão, construindo um primeiro quadro de análise. Num segundo<br />
momento, identificamos eixos convergentes relacionados às Políticas Públicas, TIC, o currículo,<br />
didática e avaliação na formação de professores. A partir dos estudos realizados, indicamos que<br />
nossa pesquisa se enquadra no enfoque metodológico da analise de conteúdo. Pudemos verificar<br />
que a concentração das publicações dos artigos sobre formação de professores se dá entre os anos<br />
de 2005 a 2010 e que a maioria dos autores dos artigos está ligada às instituições públicas da<br />
região sudeste. Destacamos que este trabalho configura-se na produção final de uma Iniciação<br />
Científica e que se vincula a pesquisa ―As narrativas pedagógicas no desenvolvimento<br />
profissional de professores em início de carreira: um estudo sobre os impactos e a permanência<br />
das aprendizagens construídas no curso de Pedagogia‖, desenvolvida pela orientadora desta<br />
Iniciação.<br />
Palavras- Chaves: concepção de formação inicial, formação profissional de docentes em início<br />
de carreira, formação continuada.
INTRODUÇÃO<br />
O presente trabalho, advindo de uma atividade de Iniciação Científica, tem por objetivo<br />
analisar os artigos que abordam a temática da formação inicial e continuada de professores<br />
encontrados em dois periódicos de circulação nacional a respeito da educação. Foram escolhidas<br />
a Revista Brasileira de Educação da ANPEd e a Revista Zetetike, da Faculdade de Educação da<br />
Unicamp. Quanto ao recorte de período para o levantamento dos artigos, escolhemos aquele<br />
compreendido entre os anos de 2001 e 2010, visto que interessava-nos os trabalhos desenvolvidos<br />
e publicados mais recentemente.<br />
A escolha das revistas deveu-se em função de neles encontrarmos artigos relacionados ao<br />
tema da pesquisa e por se tratar de periódicos de ampla circulação nacional.<br />
Na busca de analisar os artigos que pesquisamos, foi necessário buscar caminhos<br />
metodológicos que nos auxiliassem. A partir de estudos realizados, indicamos que nossa pesquisa<br />
se enquadra no enfoque metodológico da análise de conteúdo. Para Fiorentini e Lorenzato (2006, p.<br />
138), entende-se como análise de conteúdo um estudo minucioso de conteúdo, das palavras e frases<br />
que dele fazem parte, buscando o sentido e captando as intenções, as divergências, avaliando e<br />
rejeitando os aspectos que não contribuem ou não são essenciais.<br />
Uma primeira seleção dos artigos foi feita a partir da leitura dos resumos das revistas. No<br />
caso da Revista Brasileira da Educação, inicialmente encontramos 23 artigos que nos interessaram.<br />
Estes foram lidos na íntegra, o que permitiu que selecionássemos nove dentre eles, visto que os<br />
demais tratavam de aspectos que não nos interessavam diretamente para o presente estudo. Na<br />
revista Zetetike, como se trata de uma revista mais diretamente relacionada à Educação<br />
Matemática, os quinze artigos inicialmente selecionados a partir de seus resumos, foram<br />
aproveitados para o nosso estudo, visto que a leitura do artigo completo resultou em interesse para<br />
a nossa pesquisa.<br />
Elegemos três categorias para analisar as publicações, quais sejam: focos dos trabalhos; a<br />
abordagem dos mesmos em relação à formação inicial e/ou continuada de professores e a<br />
regionalização das instituições de pesquisa dos autores.<br />
Revista Brasileira de Educação (ANPEd)<br />
A Revista Brasileira de Educação é organizada pela ANPEd apresentando estudos sobre a<br />
Educação. Sua publicação é trimestral e ela é distribuída por todo o território brasileiro. Sua<br />
divulgação online está disponibilizada através do site SCielo, reconhecido mundialmente por<br />
publicar artigos científicos. Entre os anos de 2001 e 2010 foram publicados, ao todo, 313 artigos.<br />
Quatro entre os nove artigos foram escritos por autores somente atuantes em<br />
universidades públicas da região sudeste (EFES, UFMG, UERJ, USP, UFU, UNICAMP); uma<br />
publicação tem por autor um pesquisador de universidade particular da região sudeste (<strong>PUC</strong>-<br />
Minas); um artigo foi escrito por um autor da região sudeste e outro da região sul (USP e UFSC);<br />
outro produzido por um pesquisador da região sudeste e outro dos EUA (UFRRJ e ASU). Os outros<br />
dois artigos foram produzidos por uma pesquisadora da ANPED e outra da Fundação Carlos<br />
Chagas. No que se refere às regiões de atuação dos autores, dez dentre os quinze pesquisadores<br />
atuam em universidades públicas e privadas da região sudeste e um na região sul.<br />
No que se refere à abordagem — formação inicial e formação continuada —, cinco dentre<br />
os artigos, relacionavam-se com a Formação Continuada, dois com a Formação inicial e um deles<br />
com os dois focos de formação, tanto inicial como continuada.<br />
148
Quanto ao foco de estudo, três dentre os nove artigos abordavam como foco a História da<br />
Educação da pós-graduação no Brasil. Um dos artigos traz em seu foco principal as políticas<br />
públicas brasileiras de formação continuada. Um dos trabalhos traz um estudo relacionado ao uso<br />
da tecnologia da informação. Outro artigo refere-se a uma pesquisa que focava a formação e<br />
valorização do magistério a partir das vozes de profissionais da educação.<br />
Finalmente, e que para nós tem significado especial como evidenciaremos mais adiante,<br />
encontramos dois dentre os nove trabalhos relacionados à formação de professores na revista da<br />
ANPEd (anos de 2001 a 2010) com o foco de estudos na formação inicial de professores de<br />
matemática.<br />
REVISTA ZETETIKE – FE – UNICAMP<br />
A revista Zetetike é organizada e publicada pela Faculdade de Educação da Universidade<br />
Estadual de <strong>Campinas</strong> (UNICAMP). Seu foco de estudo é a Educação Matemática, área de<br />
pesquisa das autoras deste trabalho.<br />
Desde nossas primeiras buscas, foram encontrados quinze artigos na Revista Zetetike<br />
envolvendo as palavras chave: concepção de formação inicial, formação profissional de docentes<br />
em início de carreira e formação continuada. Os estudos apresentavam diferentes focos de estudo<br />
acerca da formação inicial e continuada de professores. Verificamos que a procedência dos autores<br />
advém de diferentes regiões e instituições públicas e privadas.<br />
Dentre os quinze artigos, escritos por trinta e dois autores, doze foram produzidas a partir<br />
de trabalhos desenvolvidos em instituições públicas, dois em Universidades privadas, dois em<br />
Universidades portuguesas e um artigos foi escrito por três autores, sendo dois de Universidade<br />
Estadual e um de Universidade Particular.<br />
Em relação às regiões de atuação dos autores, ou seja, suas universidades de origem,<br />
dentre os 32 autores, 23 trabalham na região sudeste, cinco na região sul e quatro deles atuam em<br />
Portugal.<br />
Em relação à abordagem dos artigos sobre formação inicial de professores e formação<br />
continuada, verificamos que dentre os quinze artigos, dez referem-se à formação inicial e cinco à<br />
formação continuada de professores.<br />
Quanto ao foco de estudo, quatro dentre os quinze artigos abordavam a didática do<br />
professor em relação à formação inicial de professores. Quatro artigos apresentam aspectos sobre a<br />
importância do currículo para a formação inicial de professores em Educação Matemática. Dois<br />
artigos trazem contribuições sobre a formação continuada de professores abordando como foco de<br />
estudo as Políticas Públicas. Um artigo refere-se a uma pesquisa que focava a interdisciplinaridade<br />
para a formação continuada de professores e as contribuições possíveis ao articular outros<br />
conteúdos de diferentes áreas do conhecimento para ensinar matemática. Um artigo traz estudos<br />
sobre as contribuições dos recursos de um laboratório de materiais pedagógicos para a formação<br />
inicial de professores de matemática. Em relação à formação inicial de professores, um estudo<br />
focava as tecnologias da informação e comunicação, também na perspectiva do ensino de<br />
matemática. Um último artigo traz como foco de estudo a revisão bibliográfica de quinze anos dos<br />
artigos da Revista Zetetiké sobre a formação continuada de professores, publicados entre os anos<br />
de 1993 a 2007.<br />
3. PROPOSTAS DE ANÁLISES: ENTRELAÇAMENTO DAS INFORMAÇÕES<br />
APRESENTADAS NOS ARTIGOS DAS DUAS REVISTAS<br />
149
Iniciamos nossa análise, verificando a distribuição dos artigos encontrados que<br />
abordavam a formação inicial e/ou continuada de professores, ao longo do período por nós<br />
escolhido: os anos de 2001 e 2010.<br />
Nos quatro primeiros anos, entre 2001 e 2004, analisando os dois periódicos, encontramos<br />
apenas um artigo publicado na Revista Zetetiké, em 2001, que trata da interdisciplinaridade, e está<br />
relacionado à formação continuada de professores em início de carreira. Somando-se este artigo aos<br />
demais 23, publicados entre os anos de 2005 e 2010, verificamos que configuram um total de<br />
menos de 6% dos artigos publicados em ambas as revistas.<br />
Nosso estranhamento em relação a este fato se dá em função de que há pesquisas sendo<br />
realizadas em maior número acerca da formação de professores desde a segunda metade do século<br />
XX. Consideramos que as mesmas pudessem ter sido mais amplamente encontradas nos artigos<br />
desses periódicos, uma vez que os mesmos dedicam-se à divulgação de pesquisas sobre a área da<br />
Educação. Afinal, como encontramos em Nacarato et al (2009, p. 9), ―Há muito a dizer e narrar<br />
sobre práticas da sala de aula e sobre a formação das profissionais que atuam nesse nível de<br />
ensino‖. No entanto, embora as pesquisas estejam de certa maneira sendo numericamente<br />
ampliadas, ainda há pouca divulgação das mesmas.<br />
Selecionamos os artigos, de acordo com seus objetivos de estudos, em categorias,<br />
aglutinando focos comuns. Elegemos 13 focos, que estarão contemplados em três eixos de análise,<br />
como apresentaremos a seguir.<br />
Primeiro eixo: Focos específicos das publicações e o periódico onde foram divulgados<br />
Analisando os artigos publicados nas duas revistas, podemos perceber que aqueles<br />
encontrados na Revista Brasileira de Educação abordam diferentes focos de estudo sobre formação<br />
inicial e/ou continuada de professores como: formação continuada, formação de professores de<br />
matemática, história da Educação, tecnologia da informação e comunicação e Políticas Públicas. Já<br />
os que encontramos na Zetetike têm como temas de estudo a interdisciplinaridade, didática,<br />
currículo, recursos materiais, avaliação, políticas publicas, tecnologia da informação e<br />
comunicação e revisão bibliográfica.<br />
Como pudemos constatar no que se refere à formação inicial e/ou continuada de<br />
professores, encontramos dois focos comuns: o uso de tecnologias (TIC) e as Políticas Públicas de<br />
formação de professores. A seguir traremos nossas análises acerca dos dois focos.<br />
Segundo eixo: Formação inicial e formação continuada<br />
Outro eixo para análise foi identificar nos artigos previamente selecionados, a existência<br />
das palavras chave inicialmente usadas para a seleção dos mesmos e se estas estavam neles<br />
contempladas, ou seja, se os artigos versavam sobre formação inicial e/ou formação continuada de<br />
professores.<br />
Dentre os vinte quatro artigos selecionados no período de 2001 a 2010, treze focavam<br />
apenas a formação inicial de professores (dois na Revista Brasileira de Educação e onze na<br />
Zetetike), dez artigos abordavam estudos relacionados à formação continuada de professores (seis<br />
na Revista Brasileira de Educação e quatro na Zetetike) e apenas um artigo aprofundava-se sobre a<br />
formação inicial e continuada de professores concomitantemente (publicado na Revista Brasileira<br />
de Educação). O gráfico que se segue, apresenta os dados que constituíram a tabela indicada<br />
anteriormente e nos permite visualizar a distribuição de publicação dos artigos no período por nós<br />
estabelecido.<br />
GRÁFICO 1<br />
150
Distribuição da publicação dos artigos referentes à pesquisa<br />
A partir do gráfico apresentado e das análises realizadas sobre as publicações, entendemos<br />
que a Revista Zetetiké concentra um maior número percentual de publicações sobre Formação<br />
Inicial e Continuada de Professores, uma vez que no período por nós estudado, encontramos 15<br />
entre os 105 artigos publicados relacionados a este tema, ou seja, 14,28% das publicações. Já a<br />
Revista Brasileira de Educação tem apenas 2,87% de seus artigos publicados com a temática da<br />
formação de professores, ou seja, nove entre as 313 publicações.<br />
Terceiro Eixo: A regionalização dos autores<br />
Ao analisar os artigos verificamos a procedência dos autores no que se refere às suas<br />
instituições de origem. Constatamos uma maior concentração dos pesquisadores nas regiões<br />
sudeste e sul.<br />
Na Revista Brasileira de Educação, não foi encontrado nenhum artigo sobre formação de<br />
professores advinda de pesquisadores das regiões norte, nordeste e centro-oeste. Entre os dezesseis<br />
autores dos artigos, foram identificados doze da região sudeste (75%), um da região sul (6,2%),<br />
dois autores estão ligados às instituições em nível nacional (12,5%, sendo um da ANPED e outro<br />
da Fundação Carlos Chagas) e um autor (6,2%) é pesquisador de Universidade dos Estados Unidos.<br />
A partir do gráfico que a seguir apresentamos, será possível visualizar esta distribuição geográfica<br />
das publicações nesta revista.<br />
GRÁFICO 2<br />
151
Regionalização dos autores de trabalhos Sobre formação de professores na Revista Brasileira de Educação<br />
Na Revista Zetetike, a distribuição não difere muito. Dentre os 32 autores, não<br />
encontramos nenhum pesquisador com procedência das regiões norte, nordeste e centro-oeste. De<br />
maneira assemelhada à outra revista, a concentração está na região sudeste com 23 autores<br />
(71,8%); cinco outros autores advêm de instituições da região sul (15,6%) e quatro outros autores<br />
são procedentes de instituições portuguesas (12,5%). No gráfico seguinte, apresentamos a<br />
distribuição por regiões dos autores de trabalhos sobre formação de professores publicados na<br />
Zetetiké<br />
.GRÁFICO 3<br />
Regionalização dos autores de trabalhos sobre formação de professores na Revista Zetetike<br />
Embora as revistas pesquisadas sejam diretamente relacionadas à educação, tendo,<br />
portanto interesses que se assemelham. E uma dessas semelhanças, qual seja, o fato da<br />
concentração das publicações ter como autores pesquisadores das regiões sul e sudeste. Tal fato nos<br />
permitiria uma indagação: as pesquisas nas demais regiões são feitas em menor número ou são<br />
menos divulgadas? Resposta a esta questão, merece discussão pelos pesquisadores da área da<br />
educação e também dos editores das revistas.<br />
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES<br />
O que pudemos depreender das análises feitas nos dois periódicos nos faz refletir sobre<br />
como as pesquisas sobre a formação inicial e/ou continuada vem sendo difundidas. Retomamos que<br />
apenas menos de 6% dos artigos publicados Na Revista Brasileira de Educação e na Zetetike<br />
abordam essas temáticas. Ainda assim, a Revista Zetetike, que traz mais especificamente resultado<br />
152
de pesquisas direcionadas ao ensino e à aprendizagem de matemática, tem uma maior concentração<br />
dessa temática.<br />
Retomamos também a evidente concentração de publicações de artigos escritos por<br />
pesquisadores das regiões sudeste e sul do Brasil. Esta é uma preocupação que se direciona em dois<br />
sentidos. Em primeiro nos inquieta saber se a produção de pesquisas relacionadas à formação de<br />
professores é mesmo pequena nas demais regiões do país; e em segundo, se as publicações, em<br />
geral, das mesmas revistas, tem ou não trazido artigos advindos de espaços de pesquisa das regiões<br />
norte, nordeste e centro-oeste do Brasil. Na nossa compreensão, há muito que entender estudar,<br />
pesquisar, em todos os espaços onde a educação se faz presente no nosso país.<br />
REFERÊNCIAS<br />
BARRETO, Raquel. As tecnologias da informação e da comunicação na formação de<br />
professores. P. 31 a 42. Revista Brasileira de Educação – volume 11, número 31, 2006.<br />
FIORENTINI, Dario. A educação matemática enquanto campo profissional de produção de<br />
saber: a trajetória brasileira. Dynamis, Blumenau, 1 (7): p. 7-17, 1994.<br />
FIORENTINI, Dario e LORENZATO, Sérgio A. Investigação em educação matemática:<br />
percursos teórico e metodológicos. <strong>Campinas</strong>: Autores Associados, 2006.<br />
FLICK, Uwe. Uma introdução à pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Bookman, 2004.<br />
PÁDUA, Elisabete Matallo Marchesini. Metodologia da Pesquisa: abordagem teórico-prática.<br />
<strong>Campinas</strong>, SP: Papirus, 1998.<br />
PIMENTA, S. G.; GHEDIN, E. e FRANCO, M. A. S. (Orgs.) Pesquisa em Educação –<br />
Alternativas investigativas com objetos complexos. São Paulo: Loyola, 2006.<br />
REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO – ANPED<br />
UNICAMP. Revista ZETETIKE. Faculdade de Educação<br />
SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 22ª. ed. São Paulo:<br />
Cortez: 2002.<br />
ARTIGOS PESQUISADOS<br />
ALMEIDA, Matilde e FERNANDES José Antônio. A comunicação promovida por<br />
futuros professores na aula de Matemática. Revista Zetetike FE Unicamp. 2010.<br />
BARRETO, Raquel. As tecnologias da informação e da comunicação na formação<br />
de professores. Revista Brasileira de Educação – ANPEd. Volume 11, revista 31, 2006<br />
BAUMANN Ana Paulo, BICUDO Maria Aparecida. Cursos de Pedagogia e de<br />
Matemática formando professores de Matemática para os anos iniciais do Ensino<br />
153
Fundamental: em busca de uma compreensão. Revista Zetetike FE Unicamp, Volume<br />
18 Revista 34, 2010.<br />
CALDEIRA, Ademir e MEYER, João Francisco. Educação Matemática e Ambiental: Uma<br />
proposta de Formação Continuada – e de Mudanças . Revista Zetetiké FE Unicamp.<br />
Volume 9, Revista 15/16, 2001<br />
CARNEIRO, Reginaldo e PASSOS, Cármen. Vivências de professores de<br />
matemática em inicio de carreira na utilização da informação e comunicação.<br />
Revista Zetetike FE Unicamp. Volume 17 Revista 32, 2009<br />
CURRY, Carlos Roberto. Trinta por trinta: dimensões da pós-graduação em<br />
educação. Revista Brasileira de Educação – ANPEd. Volume 13, revista 37, 2008<br />
FIORENTINI, Dario. Desafios e potencialidades da escrita na formação docente em<br />
matemática. Revista Brasileira de Educação – ANPEd. Volume 13, revista 37, 2008<br />
GATTI, Bernadetti. Análise das políticas públicas para formação continuada no<br />
Brasil, na última década. Revista Brasileira de Educação – ANPEd. Volume 13,<br />
revista 37, 2008<br />
HORTA, José. O sistema CAPES de avaliação da pós-graduação: da área de<br />
Educação à grande área de Ciências humanas. Revista Brasileira de Educação –<br />
ANPEd, volume 11, revista 30, 2006<br />
JUNIOR, Armando e PIRES Célia. Grupo colaborativo e o desenvolvimento<br />
profissional de formadores de professores de matemática. Revista Zetetike FE<br />
Unicamp volume 17 Revista 31, 2009.<br />
A PEDAGOGIA SOCIAL<br />
Resumo<br />
154<br />
Douglas Beiro - Graduando<br />
Graciélia A. Almeida - Graduanda<br />
Leonir Aparecida Pereira - Graduanda<br />
Lúcia M. Alves - Graduanda<br />
Marcela F. Coelho - Graduanda<br />
Maria das Dores F. S. Santana - Graduanda<br />
Suzulei Bueno - Graduanda<br />
Zeni Marcelina Lopes - Graduanda<br />
Luciana S. Gonçalves - Mestre em Educação<br />
E-mail: mafernandes2020@yahoo.com.br<br />
Eixo Temático: Formação de professores e práticas pedagógicas<br />
Pôster<br />
Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong> – PARFOR
Este estudo busca conhecer a atuação do pedagogo no âmbito social e foi realizado na disciplina<br />
―Introdução à Educação‖ no 1º semestre de 2011. A pedagogia social supera a lógica do bem estar social<br />
para uma perspectiva complexa que se aproxima dos conceitos de qualidade de vida, desde intervenções e<br />
finalidade pedagógicas. Ambas, intervenções e finalidade promovem o desenvolvimento humano e a<br />
qualidade do viver. Os objetivos foram: a) conhecer o pedagogo que atua em espaços não escolares; b)<br />
possibilitar a compreensão de atuação profissional do pedagogo no âmbito social. Nossa justificativa<br />
alicerça nas varias possibilidades de atuação que possui o pedagogo, ampliando para além das instituições<br />
escolares seu campo de atuação profissional, abrangendo também ações socioeducativas. Como métodos<br />
foram feitas leituras de textos e artigos, documentos estes que tratavam sobre o tema: atuação do<br />
pedagogo e pedagogia social. Destacamos algumas das informações relevantes, a importância do<br />
profissional em questão e a expansão do campo de atuação do pedagogo e suas relações no contexto<br />
social. Considerações finais: este estudo possibilitou maior compreensão sobre a pedagogia social, assim<br />
como seus diversos objetivos, entre eles esclarecer a realidade através de métodos eficazes abertos à várias<br />
respostas diferenciadas entre si dentro de grupos uniformes que compartilham o mesmo espaço ou não<br />
(classes escolares, setor de uma indústria, pessoas em trânsito nas ruas). Portanto, concluímos que o<br />
pedagogo social tem um papel fundamental neste processo ao atuar como mediador em processos de<br />
transformação política e social.<br />
Palavras-chave: Pedagogia; Atuação profissional; Âmbito Social<br />
INTRODUÇÃO<br />
Este estudo busca conhecer a atuação do pedagogo no âmbito social e foi realizado na disciplina<br />
―Introdução à Educação‖ no 1º semestre de 2011. A pedagogia social supera a lógica do bem estar social<br />
para uma perspectiva complexa que se aproxima dos conceitos de qualidade de vida, desde intervenções e<br />
finalidade pedagógicas. Ambas, intervenções e finalidade promovem o desenvolvimento humano e a<br />
qualidade do viver. O pedagogo social atua em diversas áreas da sociedade, dentre elas: ONG‘s, abrigos,<br />
presídios, etc. Trabalha com a socialização em condições normais e/ou especiais. O trabalho do pedagogo<br />
social requer a ação sobre os seres humanos em diversas atividades.<br />
Os objetivos deste estudo foram: a) conhecer o pedagogo que atua em espaços não escolares; b)<br />
possibilitar a compreensão de atuação profissional do pedagogo no âmbito social. Nossa justificativa<br />
baseia-se nas várias possibilidades de atuação que possui o pedagogo, ampliando para além das<br />
instituições escolares seu campo de atuação profissional, abrangendo também ações socioeducativas.<br />
Como métodos foram feitas leituras de textos e artigos, documentos estes que tratavam sobre o tema:<br />
atuação do pedagogo e pedagogia social.<br />
A PEDAGOGIA NO ÂMBITO SOCIAL<br />
Essa prática pedagógica surge no século XIX na Alemanha a partir de problemas sociais que surgiram em<br />
decorrência da industrialização, assim tenta incorporar-se no âmbito das políticas sociais e assistências,<br />
porém gradativamente em função das demandas e urgências, começa a expandir-se e no século XX,<br />
consolida-se. A partir de então passa a ser vista como uma ciência das humanidades e do social, apontando<br />
sua relevância no desenvolvimento industrial aliada a preocupação com os limites éticos e o potencial de<br />
risco que é a vida da humanidade. Articula-se em diversos setores e de várias maneiras: reflexão da<br />
educação (elaborando conceitos e os fatores sociais presentes nas instituições), conhecimento da educação<br />
política, e o saber da convivência social.<br />
Podemos dizer que a pedagogia social é uma ciência que vem se constituindo, destacando uma duvida<br />
sistemática, perplexidade e curiosidade, agregando conhecimento aos saberes pedagógicos e sociais e<br />
principalmente às praticas exercidas pelas pessoas e instituições.<br />
155
A intencionalidade é fundamental para a pedagogia social, pois justifica sua práxis e as razões que<br />
fundamentam sua intervenção em situações problemáticas e de conflito.<br />
A pedagogia social tende a associar a educação valores que possam favorecer a cultura da solidariedade e<br />
uma ética do cuidado.<br />
Sabemos que a educação é um direito universal, assegurado pela constituição brasileira, assim como pela<br />
declaração universal dos direitos humanos, porém na prática é vivenciado com muitas restrições.<br />
Entendemos que o acesso ao direito pleno a uma educação de qualidade pressupõe mudanças e avanços<br />
nas políticas públicas educacionais.<br />
Entendemos que a escola é por excelência um espaço formativo, mas a complexidade atual da nossa<br />
sociedade dificulta, e em determinados momentos até impede essas necessidades educativas supridas. Essa<br />
crise contribui para que fora do ambiente escolar estejam presentes necessidades educativas em todas as<br />
faixas etárias, relacionando-se com a cultura, o lazer, ao suprimento das necessidades básicas, ao<br />
atendimento à população em risco, ao trabalho, aos direitos humanos e etc.<br />
A pedagogia no âmbito social reflete sobre as diversas transformações sociais, políticas e culturais que<br />
perpassam os diferentes momentos e espaços históricos, nesse aspecto, exigindo uma constante mediação<br />
desse profissional com as situações apontadas.<br />
A atuação do profissional do pedagogo no âmbito social acontece dentro das instituições não formais de<br />
educação e sua prática pode se dar, também, fora dela, com indivíduos que não tenham uma condição<br />
social mínima definida e por isso, passam suas vidas nas ruas. Esta atuação exige do pedagogo social uma<br />
visão ampla e crítica e consciente da realidade social dos indivíduos envolvidos neste contexto de, muitas<br />
vezes, miséria, marginalização e injustiça social. Assim, a formação do profissional da educação no<br />
âmbito social envolve: conhecer a realidade histórica social do mundo da sociedade e a realidade que o<br />
rodeia, ter um saber crítico e instrumentos teóricos que o orientem em sua práxis.<br />
No Brasil as primeiras reflexões sobre a pedagogia social no permeiam o questionamento sobre uma<br />
intervenção fora da escola em processos não formais, via-se como área de atuação, apenas o espaço não<br />
escolar, o não formal, mas esses contextos precisaram ser revistos, pois o não formal pode passar a ser<br />
formal dependendo do contexto. Surgem novas demandas frente a um processo que desvincula a escola e a<br />
pedagogia social, mas que defende a construção de uma sociedade inclusiva e educadora com programas e<br />
intervenções que possam se articular e relacionar-se com a música, arte, esporte, lazer, turismo e a<br />
comunicação.<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Com este estudo buscamos aprofundar nossa compreensão acerca do pedagogo no âmbito social, bem<br />
como suas principais práticas. Conhecer este tipo de trabalho pedagógico e visualizar suas relações no<br />
meio social é fundamental para percebermos a importância do profissional em questão e a expansão do<br />
campo de trabalho do profissional da educação. Este estudo possibilitou maior compreensão sobre a<br />
prática e a teoria da pedagogia social, assim como seus diversos objetivos, entre eles esclarecer a realidade<br />
através de métodos eficazes abertos a várias respostas diferenciadas entre si dentro de grupos uniformes<br />
que compartilham o mesmo espaço ou não (classes escolares, setor de uma indústria, pessoas em trânsito<br />
nas ruas). Portanto, compreendemos que o pedagogo no âmbito social tem um papel fundamental neste<br />
processo ao atuar com o mediador em processos de transformação política e social.<br />
BIBLIOGRAFIA<br />
LIBÂNEO, José. Carlos. Pedagogia e Pedagogos, para quê? 6 ed. São Paulo, Cortez, 2002.<br />
ZUCCHETTI,Dinora Tereza. A Pedagogia Social e as racionalidades do campo sócio educativo. Revista<br />
Brasileira de Educação, vol. 13, n° 38. Rio de Janeiro, maio/agosto de 2008. Disponível em http://www.<br />
scielo.br, acesso em 10/06/2011.<br />
156
GRACIANI, M. S. S. Pedagogia Social: impasses, desafios e perspectivas em construção. Congresso<br />
Internacional Pedagogia Social. Ano. 1. Mar. 2006.<br />
CALIMAN, Geraldo. Fundamentos Teóricos e metodológicos da Pedagogia Social na Europa (Itália).<br />
Congresso Internacional Pedagogia Social. Ano. 1. Mar. 2006.<br />
O TRABALHO INFANTIL E A TRAJETÓRIA ESCOLAR<br />
157<br />
Eline Lira Oliveira- Graduanda da Faculdade de Educação<br />
Profa. Dra. Cássia Geciauskas Sofiato- Docente da Faculdade de Educação<br />
Instituição: Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong><br />
Eixo Temático: Formação de professores e práticas pedagógicas.<br />
E-mail: elinelira@yahoo.com.br; cassiasofiato@gmail.com<br />
Resumo<br />
O presente trabalho em andamento está sendo realizado na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso,<br />
do curso de Pedagogia, tendo como foco principal o estudo do trabalho infantil e suas implicações na<br />
trajetória escolar das crianças que são submetidas a esta prática. Este trabalho apresenta uma abordagem<br />
qualitativa. Para tal, além do estudo bibliográfico, escolhemos para a realização de uma pesquisa de<br />
campo uma instituição que abarca o PETI - Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, sediada no<br />
município de Sumaré (SP), que atende crianças e adolescentes de 06 a 15 anos de idade. O PETI está<br />
vinculado ao programa Bolsa Família do Governo Federal. No decorrer deste estudo alguns<br />
questionamentos se fazem presentes: como as crianças trabalhadoras têm conciliado o trabalho e os<br />
estudos? O PETI tem atingido seus objetivos de erradicação do trabalho infantil? A trajetória escolar<br />
dessas crianças está sendo comprometida? Quais problemáticas referentes à infância surgiram devido ao<br />
trabalho infantil? Por meio do estudo bibliográfico tem sido possível perceber que os problemas que giram<br />
em torno do trabalho infantil têm nos atingindo desde a abolição da escravidão, no entanto, com o passar<br />
dos anos, tem sido interpretado à luz de diferentes enfoques: visto como algo ‗natural‘ em nossa sociedade<br />
e em contrapartida, analisado do ponto de vista político e social. Espera-se por meio deste estudo ter uma<br />
perspectiva acerca das ações desenvolvidas pelo PETI, pois tem-se observado com base nos estudos<br />
desenvolvidos até então, que as políticas públicas voltadas à erradicação do trabalho infantil apresentam<br />
resultados, porém ainda tímidos.<br />
Palavras-chave: Trabalho infantil, criança, trajetória escolar.<br />
Introdução<br />
O presente trabalho está sendo realizado na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso, do<br />
curso de Pedagogia, tendo como foco principal o estudo do trabalho infantil e suas implicações na<br />
trajetória escolar das crianças que são submetidas a esta prática.<br />
O trabalho infantil sempre esteve presente na história da sociedade humana. Existem relatos de<br />
trabalho infantil desde a Idade Média quando as crianças e adolescentes ajudavam os seus pais e<br />
familiares nas atividades rurais. A presença do trabalho infantil era importante, pois por meio dele era<br />
garantido o sustento das famílias. Neste período, todos desde cedo iam trabalhar juntos com os familiares<br />
nas atividades rurais ( Peres, 2001)<br />
A participação da criança no mundo do trabalho inicia-se efetivamente entre os séculos XVIII e<br />
XIX. Desde então os pequenos trabalhadores eram sinônimo de mão de obra barata e/ou não remunerada,<br />
possibilitando assim que a indústria crescesse cada vez mais, gastando menos com salários e com
condições empregatícias impróprias. Segundo Rizzini, Rizzini e Holanda (1996) a criança era vista como<br />
instrumento a ser moldado.<br />
De acordo com Vilani (2007), no período da Revolução Industrial, os abusos praticados contra as<br />
crianças trabalhadoras foram bárbaros, pois elas eram obrigadas a trabalhar obedecendo a mesma carga<br />
horária exigida ao adulto, levando-as a exaustão física. Existem alguns relatos de que crianças deveriam se<br />
manter em silêncio, para que assim pudessem trabalhar mais e não perderem a atenção com coisas fúteis, e<br />
se caso desobedecem as ordens seriam sujeitas a castigos e penalizações. Tais crianças trabalhavam cerca<br />
de 19 horas seguidas, com breves e rápidas paradas para alimentação, era muito comum haverem nas<br />
fábricas turnos de trabalho noturno.<br />
No Brasil, o trabalho infantil não era muito diferente do que se praticava em outros países.<br />
Rizzini, Rizzini e Holanda (1996) ponderam que em nosso país o sistema de ideias ligados ao trabalho<br />
infantil está totalmente associado à passagem do trabalho escravo para o trabalho livre, que ocorreu em<br />
meados do século XIX. Vilani (2007), aponta que neste cenário o negro era visto como objeto, coisa, sem<br />
qualquer tipo de direitos, e o trabalho infantil era encarado com total naturalidade.<br />
Estamos vivendo num período em que já temos a consciência de que o trabalho infantil não traz<br />
benefícios para a nossa sociedade, apesar de muitos segmentos acreditarem e persistirem contrariando esta<br />
ideia. O trabalho infantil é citado na Constituição Federal, na Consolidação das Leis do Trabalho e no<br />
Estatuto da Criança e Adolescente. No entanto, muitas crianças e adolescentes atualmente encontram-se<br />
empregadas, sendo privadas de seus direitos, principalmente do direito à educação, que é garantido pela de<br />
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.º 9394 /96.<br />
Deste modo, governo e sociedade buscam juntos, por meio de políticas públicas, erradicarem o<br />
trabalho infantil no Brasil. Segundo o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (MPAS, 1997), a<br />
erradicação do trabalho infantil em nosso país faz parte da agenda política social, sendo uma das<br />
principais metas do Programa Nacional de Direitos Humanos.<br />
De acordo com o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (Brasil, 2011) muitas<br />
são as causas do trabalho infantil no Brasil, sendo que entre as predominantes estão: a necessidade<br />
financeira de sustentação familiar; a reprodução ideológica, os mitos sobre o trabalho infantil e a falha da<br />
garantia e cumprimento dos direitos das crianças, adolescentes e suas famílias.<br />
A assistência social tem um papel de grande importância na promoção de ações voltadas a<br />
erradicação do trabalho infantil. Deste modo foi criado o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil<br />
(PETI), que se encontra na área de assistência social no Ministério de Desenvolvimento Social e Combate<br />
à Fome (MDS). Tal programa teve início no ano de 1996; e a sua primeira experiência deu-se no Mato<br />
Grosso do Sul em carvoarias.<br />
O PETI articula um conjunto de ações em parceria com alguns outros ministérios e agências de<br />
fomento, procurando e incorporando novas metas que promovam e garantam a eficácia do programa que<br />
tem como foco a criança e adolescente que se encontram inseridos no mundo do trabalho. Entretanto, o<br />
trabalho com as famílias é primordial, somente desta maneira as ações terão os resultados esperados.<br />
Neste sentido, o PETI busca contribuir e garantir a permanência da criança e adolescente na escola, uma<br />
vez que o trabalho infantil rouba-lhes a chance de estudar e aprender com qualidade. (MPAS, 1997).<br />
Problema/questões<br />
No decorrer deste estudo alguns questionamentos estão presentes: como as crianças trabalhadoras<br />
têm conciliado o trabalho e os estudos? O PETI tem atingido seus objetivos de erradicação do trabalho<br />
infantil? A trajetória escolar das crianças trabalhadoras é comprometida? Quais problemáticas referentes à<br />
infância surgiram devido ao trabalho infantil?<br />
Objetivos<br />
Os objetivos gerais desta pesquisa são: conhecer o campo de abrangência do PETI e as<br />
implicações que o trabalho infantil trouxe para a trajetória escolar das crianças trabalhadoras. Além disso,<br />
possui como objetivos específicos: compreender e analisar como as crianças trabalhadoras têm conciliado<br />
158
o trabalho e os estudos; analisar se o PETI tem atingido seus objetivos de erradicação do trabalho infantil;<br />
diagnosticar se a trajetória escolar está sendo comprometida ou foi comprometida devido ao trabalho<br />
infantil e verificar quais problemáticas referentes à infância surgiram devido ao trabalho infantil.<br />
Método<br />
A pesquisa apresenta uma abordagem qualitativa, uma vez que ela é a que melhor contribui para a<br />
análise de processos sociais, pois abrange uma maior compreensão da realidade. Segundo Minayo (2007),<br />
a pesquisa qualitativa trabalha com os significados e seus ensejos:<br />
A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se ocupa, nas<br />
Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela<br />
trabalha com o universo dos significados, motivos, aspirações, crenças, dos valores e das<br />
atitudes. (Minayo, 2007, p. 21,22).<br />
Para tal, além do estudo bibliográfico, escolhemos para a realização de uma pesquisa de campo<br />
uma instituição que contempla o PETI - Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, sediada no<br />
município de Sumaré (SP), que atende crianças e adolescentes de 06 a 15 anos de idade. O PETI está<br />
vinculado ao programa Bolsa Família do Governo Federal. São sujeitos da pesquisa quatro profissionais<br />
inseridos no PETI, da referida instituição, que desenvolvem um trabalho junto aos alunos que participam<br />
do Programa.<br />
Resultados Esperados<br />
Espera-se por meio deste estudo ter uma perspectiva acerca das ações desenvolvidas pelo PETI,<br />
pois tem-se observado com base nos estudos desenvolvidos até então, que as políticas públicas voltadas à<br />
erradicação do trabalho infantil apresentam resultados, porém ainda tímidos. É possível perceber que nas<br />
cidades onde existe o PETI, o número de crianças trabalhando tem diminuído, no entanto a ideia de que as<br />
crianças que estão no PETI são de famílias pobres que querem apenas receber o auxilio financeiro do<br />
Bolsa Família ainda está enraizada no imaginário da sociedade, contudo é necessário que os mitos e<br />
ideologias errôneas voltadas ao trabalho infantil sejam quebrados e desmitificados.<br />
Por meio do estudo bibliográfico tem sido possível perceber que os problemas que giram em torno<br />
do trabalho infantil têm nos atingindo desde a abolição da escravidão no Brasil, no entanto, com o passar<br />
dos anos, tem sido interpretado à luz de diferentes enfoques: visto como algo ‗natural‘ em nossa sociedade<br />
e em contrapartida, analisado do ponto de vista político e social.<br />
Referências<br />
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. 2011. Disponível em:<br />
. Acesso em: 14 abr. 2011.<br />
MINAYO, Maria Cecília de Souza (org). Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. Petrópolis – RJ:<br />
Vozes, 2003.<br />
MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL. Programa de Erradicação do Trabalho<br />
Infantil: área de assistência social. Brasília – DF: MPAS, 1997. São Paulo: Instituo Souza Cruz, 2001.<br />
PERES, Andréia; BENEDICTO, Nair. A caminho da escola: 10 anos de luta pela erradicação do<br />
trabalho infantil no Brasil.<br />
RIZZINI, I., RIZZINI, I., E HOLANDA, F. R. (1996). A criança e o Adolescente no mundo do<br />
trabalho. Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil: Amais Livraria e Editora.<br />
VILANI, Jane Araújo dos Santos. A questão do trabalho infantil : mitos e verdades. Inclusão Social, 2 n.<br />
1, 83-92. 2007.<br />
PEDAGOGO NAS EMPRESAS E NAS INSTITUIÇÕES<br />
159
Resumo<br />
160<br />
Elza Kiredjian Jorge – Graduanda<br />
Lilian Bortolotto – Graduanda<br />
Luciana dos Santos Gonçalves – Mestre em Educação<br />
Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong> – PARFOR<br />
Eixo Temático: Formação de professores e práticas pedagógicas<br />
Pôster<br />
E-mail: np.lilib@uol.com.br<br />
Esse estudo busca conhecer o pedagogo empresarial. Percebemos que este está totalmente envolvido no<br />
aperfeiçoamento das relações humanas, sendo uma das missões é auxiliar os funcionários no sentido de<br />
refletir as práticas dentro das empresas, buscando desenvolver maneiras para alcançar melhor rendimento<br />
e desempenho de seu trabalho, com o intuito de desenvolvimento nos âmbitos pessoal e profissional.<br />
Dessa forma, os objetivos foram a) conhecer o pedagogo como atuante em outros contextos que não sejam<br />
somente escolares; b) possibilitar a compreensão de atuação profissional do pedagogo no âmbito<br />
empresarial. Justifica-se este estudo por meio da atuação do pedagogo em contextos variados, além da<br />
estreita ligação com questões escolares; isto é, atualmente, é perceptível o trabalho do pedagogo nesses<br />
outros contextos, como o empresarial, apesar de ainda não haver uma divulgação maior referente aos<br />
mesmos. A empresa é um ambiente educativo porque se constitui de seres humanos que possuem a<br />
capacidade de criar. Nesse contexto, algumas das informações relevantes, destacamos a importância do<br />
pedagogo está em utilizar suas ferramentas por meio de estratégias e metodologias a fim de buscar<br />
informações, conhecimentos, os quais corroborarão no cumprimento e na qualificação profissional e<br />
pessoal da força de trabalho. O pedagogo formado, uma vez na empresa, deve atuar como mediador e<br />
educador dos profissionais presentes; assim como, tem o papel de implantar, onde houver viabilidade,<br />
cursos e programas educacionais adequados, conforme ementas e objetivos da empresa. Conclusão, este<br />
estudo mostrou a importância do pedagogo nas empresas, bem como os diversificados contextos em que<br />
este profissional pode trabalhar. Também percebemos uma notoriedade ao pedagogo enquanto<br />
profissional mais preparado e capacitado para assumir trabalhos no âmbito empresarial, englobando<br />
diversos campos, responsável pela educação, qualificação e treinamento dos colaboradores, o que, como<br />
descrito no tema e nas informações relevantes, colabora no rendimento e desempenho profissional de cada<br />
colaborador.<br />
Palavras-chave: Pedagogia; Atuação profissional; Âmbito empresarial<br />
Introdução<br />
Esse estudo busca conhecer o pedagogo empresarial. Percebemos que este está totalmente envolvido no<br />
aperfeiçoamento das relações humanas, sendo uma das missões é auxiliar os funcionários no sentido de<br />
refletir as práticas dentro das empresas, buscando desenvolver maneiras para alcançar melhor rendimento<br />
e desempenho de seu trabalho, com o intuito de desenvolvimento nos âmbitos pessoal e profissional. O<br />
profissional de pedagogia, ao atuar numa empresa, estará totalmente envolvido no aperfeiçoamento das<br />
relações humanas. Uma das missões 17 é auxiliar os funcionários no sentido de refletir sobre suas práticas<br />
dentro das empresas e, em meio a esta reflexão, buscar desenvolver maneiras para alcançar melhor<br />
rendimento e desempenho de seu trabalho, com o intuito de desenvolvimento nos âmbitos pessoal e<br />
profissional.<br />
Dessa forma, os objetivos deste estudo foram a) conhecer o pedagogo como atuante em outros contextos<br />
que não sejam somente escolares; b) possibilitar a compreensão de atuação profissional do pedagogo no<br />
17 http://pedagogiaempresarialfespuemg.blogspot.com/
âmbito empresarial. Justifica-se este estudo a partir da disciplina ―Introdução à Educação‖, realizada no<br />
primeiro semestre de 2011, na busca por conhecer a atuação do pedagogo em contextos variados, além da<br />
estreita ligação com questões escolares. Nesse sentido, sabe-se que a atuação do pedagogo mostra uma<br />
estreita ligação com questões escolares; contudo, atualmente, é perceptível o trabalho do pedagogo em<br />
contextos diversificados, como o empresarial, apesar de ainda não haver uma divulgação maior nesses<br />
outros contextos. Sendo assim, este estudo apresenta a contribuição e compreensão do pedagogo no<br />
âmbito empresarial. Em outras palavras, se torna imprescindível conhecer o pedagogo como atuante em<br />
outros contextos que não sejam somente escolares, como também possibilitar a compreensão de atuação<br />
profissional do pedagogo no âmbito empresarial.<br />
O pedagogo empresarial<br />
A empresa é um ambiente educativo porque se constitui de seres humanos que possuem a capacidade de<br />
criar. Nesse contexto, a importância do pedagogo está em utilizar suas ferramentas por meio de estratégias<br />
e metodologias a fim de buscar informações, conhecimentos, os quais corroborarão no cumprimento e na<br />
qualificação profissional e pessoal da força de trabalho.<br />
―Um dos propósitos da Pedagogia na Empresa é a de qualificar todo o pessoal da organização nas áreas<br />
administrativas, operacional, gerencial, elevando a qualidade e produtividade organizacionais‖<br />
(FERREIRA, 1985, p. 74 apud RIBEIRO, 2004, p. 9). Sendo assim, o pedagogo formado, uma vez na<br />
empresa, deve atuar como mediador e educador dos profissionais presentes; assim como, tem o papel de<br />
implantar, onde houver viabilidade, cursos e programas educacionais adequados, conforme ementas e<br />
objetivos da empresa.<br />
Ademais, "o pedagogo deve interagir, interpretar e ouvir as necessidades dos componentes desse espaço<br />
onde ocorre o trabalho em equipe, buscando a qualidade social, a visão de um todo, a percepção da vida e<br />
do ser humano em todas as suas complexidades e sua colocação na sociedade" (JESUS et al., 2010, p.2).<br />
Nesse contexto, destacamos a importância do pedagogo está em utilizar suas ferramentas por meio de<br />
estratégias e metodologias a fim de buscar informações, conhecimentos, os quais corroborarão no<br />
cumprimento e na qualificação profissional e pessoal da força de trabalho. O pedagogo formado, uma vez<br />
na empresa, deve atuar como mediador e educador dos profissionais presentes; assim como, tem o papel<br />
de implantar, onde houver viabilidade, cursos e programas educacionais adequados, conforme ementas e<br />
objetivos da empresa.<br />
Considerando o aspecto social, a ação tanto da empresa como da pedagogia está em direcionar as<br />
realizações de idéias e objetivos estabelecidos por meio do trabalho, provocando mudanças nos<br />
comportamentos dos indivíduos (HOLTZ, 1999).<br />
Assim sendo, quando um indivíduo na empresa muda sua visão, ou atitude, ou comportamento, o<br />
aprendizado originado cresce e podem vir junto tecnologias, favorecendo a revelação do conhecimento.<br />
Dessa forma, como já descrito, é também atribuição do pedagogo empresarial lidar com as pessoas<br />
durante as mudanças comportamentais dentro das organizações/empresas (TOMAZETTO e RIBAS,<br />
2007).<br />
Ainda para Tomazetto e Ribas (2007, p. 10), ―o Pedagogo Empresarial deverá visualizar o incentivo como<br />
fator indispensável ao funcionário, valorizando-o no seu próprio trabalho, o que influenciará<br />
positivamente na qualidade do seu desempenho‖.<br />
Por fim, o estudo sobre pedagogia empresarial mostrou a importância do pedagogo nas empresas, bem<br />
como os diversificados contextos em que este profissional pode trabalhar. A partir das pesquisas<br />
realizadas, também se tornou possível uma notoriedade ao pedagogo enquanto profissional mais preparado<br />
e capacitado para assumir trabalhos no âmbito empresarial, englobando diversos campos e conceitos, os<br />
quais impelem à criticidade de sempre transformar, planejar e até ir além quando necessário.<br />
Ademais, ir além quando necessário significa que o pedagogo nas empresas passar a ser responsável pela<br />
educação, qualificação e treinamento dos colaboradores, o que colabora no rendimento e desempenho<br />
profissional de cada colaborador.<br />
161
Considerações Finais<br />
Este estudo mostrou a importância do pedagogo nas empresas, bem como os diversificados contextos em<br />
que este profissional pode trabalhar. Também percebemos uma notoriedade ao pedagogo enquanto<br />
profissional mais preparado e capacitado para assumir trabalhos no âmbito empresarial, englobando<br />
diversos campos, responsável pela educação, qualificação e treinamento dos colaboradores, o que, como<br />
descrito no tema e nas informações relevantes, colabora no rendimento e desempenho profissional de cada<br />
colaborador.<br />
Referência Bibliográfica<br />
HOLTZ, M L M. Lições de Pedagogia Empresarial. Sorocaba, SP: MH Assessoria Empresarial S/C<br />
Ltda, 1999.<br />
JESUS, C R C de; SILVA, L R L M; TORRES, P R; DIAS, V L C. Pedagogia empresarial: um espaço<br />
diversificado para a atuação do profissional pedagogo. Faculdade de Educação e Arte (FEA),<br />
Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), Jacareí, São Paulo, 2010.<br />
RIBEIRO, A E A. Pedagogia empresarial: atuação do pedagogo na empresa. 2 ed. Rio de Janeiro:<br />
Wak, 2004.<br />
TOMAZETTO, G; RIBAS, K M F. A Pedagogia Empreendedora e sua Evolução nas Organizações<br />
Modernas. In: Revista Eletrônica Lato Sensu, ano 2, nº1, julho de 2007.<br />
Link:<br />
http://pedagogiaempresarialfespuemg.blogspot.com/<br />
PEDAGOGO NAS EMPRESAS E NAS INSTITUIÇÕES<br />
Resumo<br />
162<br />
Elza Kiredjian Jorge – Graduanda<br />
Lilian Bortolotto – Graduanda<br />
Luciana dos Santos Gonçalves – Mestre em Educação<br />
Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong> – PARFOR<br />
Eixo Temático: Formação de professores e práticas pedagógicas<br />
Pôster<br />
E-mail: np.lilib@uol.com.br<br />
Esse estudo busca conhecer o pedagogo empresarial. Percebemos que este está totalmente envolvido no<br />
aperfeiçoamento das relações humanas, sendo uma das missões é auxiliar os funcionários no sentido de<br />
refletir as práticas dentro das empresas, buscando desenvolver maneiras para alcançar melhor rendimento<br />
e desempenho de seu trabalho, com o intuito de desenvolvimento nos âmbitos pessoal e profissional.<br />
Dessa forma, os objetivos foram a) conhecer o pedagogo como atuante em outros contextos que não sejam<br />
somente escolares; b) possibilitar a compreensão de atuação profissional do pedagogo no âmbito<br />
empresarial. Justifica-se este estudo por meio da atuação do pedagogo em contextos variados, além da<br />
estreita ligação com questões escolares; isto é, atualmente, é perceptível o trabalho do pedagogo nesses
outros contextos, como o empresarial, apesar de ainda não haver uma divulgação maior referente aos<br />
mesmos. A empresa é um ambiente educativo porque se constitui de seres humanos que possuem a<br />
capacidade de criar. Nesse contexto, algumas das informações relevantes, destacamos a importância do<br />
pedagogo está em utilizar suas ferramentas por meio de estratégias e metodologias a fim de buscar<br />
informações, conhecimentos, os quais corroborarão no cumprimento e na qualificação profissional e<br />
pessoal da força de trabalho. O pedagogo formado, uma vez na empresa, deve atuar como mediador e<br />
educador dos profissionais presentes; assim como, tem o papel de implantar, onde houver viabilidade,<br />
cursos e programas educacionais adequados, conforme ementas e objetivos da empresa. Conclusão, este<br />
estudo mostrou a importância do pedagogo nas empresas, bem como os diversificados contextos em que<br />
este profissional pode trabalhar. Também percebemos uma notoriedade ao pedagogo enquanto<br />
profissional mais preparado e capacitado para assumir trabalhos no âmbito empresarial, englobando<br />
diversos campos, responsável pela educação, qualificação e treinamento dos colaboradores, o que, como<br />
descrito no tema e nas informações relevantes, colabora no rendimento e desempenho profissional de cada<br />
colaborador.<br />
Palavras-chave: Pedagogia; Atuação profissional; Âmbito empresarial<br />
PROBLEMATIZANDO A PRÁTICA DE CONTROLE DE ESTOQUE EM UMA TURMA DE EDUCAÇÃO<br />
INFANTIL: LIMITES E POSSIBILIDADES<br />
Resumo<br />
Érica Mitsue Nakamura<br />
Mestranda do Programa de Pós-Graduação Multiunidades em Ensino de Ciências e Matemática da<br />
Universidade Estadual de <strong>Campinas</strong> (UNICAMP)<br />
Anna Regina Lanner de Moura (orientadora)<br />
Eixo temático: Formação de professores e práticas pedagógicas<br />
Pôster<br />
e-mail: ericamitsue@gmail.com<br />
As práticas pedagógicas instituídas na Educação Infantil, em sua maior parte, consideram os conceitos<br />
como algo fixo em um plano abstrato, com uma essência a ser apropriada pelas crianças de forma<br />
gradativa. A problematização de práticas socioculturais, inspirada no pensamento filosófico de<br />
Wittgenstein, busca desconstruir essa concepção, entendendo que os diferentes jogos de linguagem<br />
mobilizados nas práticas apresentam entre si, no máximo, semelhanças de família. Deste modo, a presente<br />
pesquisa teve como questões norteadoras: Como as crianças e a professora mobilizam a prática de<br />
controle de estoque através do código de barras no processo de problematização? Que jogos de<br />
linguagem se fazem presentes neste processo? O estudo teve como objetivo principal investigar de que<br />
modo as crianças de uma turma de Educação Infantil de 5 a 6 anos e a pesquisadora-professora mobilizam<br />
esta prática sociocultural, identificando que jogos de linguagem são mobilizados pelas crianças durante o<br />
processo de problematização, refletindo sobre o papel da pesquisadora-professora e analisando a<br />
participação das crianças neste processo. A pesquisa foi realizada em uma Escola Municipal de Educação<br />
Infantil (EMEI) na cidade de <strong>Campinas</strong>-SP. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, sendo que a construção<br />
do corpus desta pesquisa deu-se a partir tanto da observação participante como também de momentos de<br />
intervenção da pesquisadora, ao problematizar a prática de controle de estoque através do código de barras<br />
utilizando-se da contação de histórias e da leitura de imagens. Os momentos de intervenção foram<br />
registrados em vídeo que, posteriormente, deram origem a narrativas das problematizações. A partir da<br />
análise dos jogos de linguagem mobilizados nas interações crianças-professora e crianças-crianças, foi<br />
possível perceber como o processo de problematização de uma prática sociocultural permite às crianças<br />
estabelecerem significados para esta prática, aprendendo a vê-la de outras maneiras. Neste processo, as<br />
163
crianças remetem a rastros de significação de vivências com a prática em questão, problematizando suas<br />
próprias percepções de mundo.<br />
PALAVRAS-CHAVE: práticas socioculturais; jogos de linguagem; educação infantil; problematização<br />
Introdução<br />
As práticas pedagógicas instituídas na Educação Infantil, em sua maior parte, consideram os<br />
conceitos como algo fixo em um plano abstrato, com uma essência a ser apropriada pelas crianças de<br />
forma gradativa. A problematização de práticas socioculturais, inspirada no pensamento filosófico de<br />
Wittgenstein, busca desconstruir estas concepções de aprendizagem como internalização ou apropriação<br />
de conhecimentos, considerando que os diferentes jogos de linguagem mobilizados nas práticas<br />
apresentam entre si, no máximo, semelhanças de família e que possibilitam ver de outras formas os<br />
significados neles constituídos. De acordo com Wittgenstein (1992, p. 14),<br />
eles [os jogos de linguagem] são mais ou menos semelhantes ao que na linguagem<br />
comum chamamos jogos. É por meio desses jogos que a língua materna é ensinada às<br />
crianças e aqui eles têm o mesmo carácter divertido dos jogos. Não consideramos,<br />
contudo, os jogos de linguagem como partes incompletas de uma linguagem, mas como<br />
linguagens completas em si mesmas, como sistemas completos da comunicação humana.<br />
A concepção wittgensteiniana contrapõe-se à orientação construtivista, que pressupõe o<br />
desenvolvimento linear da racionalidade do aluno. Para o filósofo, cada novo uso do conceito de número,<br />
por exemplo, tem uma semelhança de família com as aplicações anteriores. Wittgenstein (1975, p. 43)<br />
caracteriza essa rede complexa de semelhanças com a expressão semelhanças de família, ―pois assim se<br />
envolvem e se cruzam as diferentes semelhanças que existem entre os membros de uma família: estatura,<br />
traços fisionômicos, cor dos olhos, o andar, o temperamento, etc., etc.‖.<br />
Problema/questões<br />
A presente pesquisa teve como questões norteadoras: Como as crianças e a pesquisadoraprofessora<br />
mobilizam a prática de controle de estoque através do código de barras no processo de<br />
problematização? Que jogos de linguagem se fazem presentes neste processo?<br />
Objetivos<br />
Este estudo teve como objetivo principal problematizar a prática sociocultural de controle de<br />
estoque por meio do código de barras em uma turma de Educação Infantil, com crianças na faixa etária de<br />
5 a 6 anos, de uma Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) na cidade de <strong>Campinas</strong>-SP. Como<br />
objetivos específicos, podemos citar: 1. investigar de que modo as crianças e a pesquisadora-professora<br />
mobilizam a prática de controle de estoque através do código de barras; 2. identificar que jogos de<br />
linguagem são mobilizados pelas crianças durante a problematização; 3. discutir o papel da<br />
pesquisadora-professora durante a problematização; 4. analisar a participação das crianças no processo de<br />
problematização.<br />
Método<br />
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, sendo que a construção do corpus desta pesquisa deu-se a<br />
partir tanto da observação participante como também de momentos de intervenção da pesquisadora, ao<br />
problematizar a prática de controle de estoque através do código de barras utilizando-se da contação de<br />
164
histórias e da leitura de imagens. Os três momentos de intervenção realizados foram registrados em vídeo<br />
que, posteriormente, deram origem a narrativas das problematizações.<br />
Resultados obtidos<br />
As diferentes maneiras com que a pesquisadora-professora e as crianças mobilizam<br />
conhecimentos no decorrer das problematizações manifestam-se nos usos da linguagem. É importante<br />
ressaltar que esses jogos de linguagem se constituem na interação entre a pesquisadora-professora e as<br />
crianças, bem como na interação entre as próprias crianças. As narrativas dos momentos de<br />
problematização sugerem que a prática de fazer compras no supermercado fazia parte das práticas<br />
rotineiras de algumas crianças, que se remeteram a rastros de significação de vivências desta prática e, ao<br />
fazê-lo, passaram a jogar jogos memorialísticos. Um desses rastros de significação de vivências apontados<br />
pelas crianças refere-se à relação sonora que elas estabelecem com a passagem de um produto no leitor<br />
óptico: - Pi, pi, pi... Além disso, uma parte das crianças considerou que as barras têm algo que pode ser<br />
lido, não restringindo sua leitura aos números presentes no código de barras. Por exemplo, quando a<br />
pesquisadora-professora perguntou para as crianças onde estava escrito o preço do sabonete, Mateus<br />
respondeu:<br />
– Aqui, ó! Nesse risquinho aqui ó! – ele se levanta e aponta para o código de barras que está<br />
registrado no sabonete. (...) É porque quando eu fui no mercado com a minha mãe, e daí, apontou pros<br />
risquinhos e não pros números! (Narrativa 1)<br />
Os significados que as crianças atribuíram ao código de barras não decorrem de definições<br />
aprendidas, mas da observação que fazem do uso do código de barras:<br />
– E esses números aqui embaixo? Para que servem?<br />
– É pra pagar! – afirma Letícia. (Narrativa 2)<br />
– Pra... pra quando for comprar e o computador dizer quanto custa! – afirma Mateus. (Narrativa<br />
3)<br />
No entanto, as crianças não estabeleceram uma relação entre as barras e os números presentes no<br />
código de barras:<br />
(...) a pesquisadora-professora tenta perguntar mais uma vez o que a moça do caixa faz quando<br />
não consegue fazer a leitura do código de barras:<br />
– E se não der certo? O que a moça faz?<br />
– Daí ela fica parada! – responde Mateus. E acrescenta: – Sem fazer nada!<br />
(...) A pesquisadora-professora insiste um pouco com as crianças para ver se conseguem pensar<br />
em alguma solução, mas o Mateus e o Tiago dizem que não dá mesmo para resolver. (Narrativa 1)<br />
Neste processo, coube à pesquisadora-professora esclarecer idéias e termos, confrontar ideias<br />
apresentadas pelas crianças, instigá-las a observar e refletir sobre a prática problematizada e incentivar sua<br />
participação nas discussões. Destaca-se ainda que, no processo de problematização, as crianças não<br />
possuem um papel passivo nos diálogos. Ao contrário, este estudo mostrou que elas inclusive fazem<br />
deslocamentos do jogo de linguagem proposto, redirecionando a própria problematização da<br />
pesquisadora-professora.<br />
– (...) Então a Lilian interrompe a conversa e diz: – Porque custa caro...<br />
A pesquisadora-professora pergunta o que custa caro, a Lilian responde que algumas coisas<br />
custam caro. O Mateus concorda com a Lilian e comenta:<br />
– Se a pessoa não tiver dinheiro, o computador fala quanto que é e daí a pessoa vai devolver no<br />
lugar porque não tem bastante dinheiro pra comprar! (Narrativa 1)<br />
Deste modo, a partir da análise dos jogos de linguagem mobilizados nas interações criançasprofessora<br />
e crianças-crianças, foi possível perceber como o processo de problematização de uma prática<br />
sociocultural permite às crianças estabelecerem significados para esta prática, aprendendo a ―vê-la de<br />
outras maneiras‖, como sugere Wittgenstein. Neste processo, as crianças remetem a rastros de significação<br />
de vivências com a prática em questão, problematizando suas próprias percepções de mundo.<br />
165
Referências<br />
GOTTSCHALK, C. M. C. A construção e transmissão do conhecimento matemático sob uma perspectiva<br />
wittgensteiniana. Cad. Cedes, <strong>Campinas</strong>, v. 28, n. 74, p. 75-96, 2008.<br />
LAVE, J. Teaching, as Learning, in Practice. Mind, Culture and Activity, v. 3, n. 3, p. 149-164, 1996a.<br />
______. A selvajaria da mente domesticada. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 46, p. 109-134,<br />
1996b.<br />
______. Do lado de fora do supermercado. In: FERREIRA, M. K. L. (org.). Idéias matemáticas de povos<br />
culturalmente distintos. São Paulo: Global, 2002, p. 65-98.<br />
MIGUEL, A.; VILELA, D. S. Práticas escolares de mobilização de cultura matemática. Cad. Cedes,<br />
<strong>Campinas</strong>, v. 28, n. 74, p. 97-120, 2008.<br />
MIGUEL, A.; VILELA, D. S.; MOURA, A. R. L. de. Problematização nas práticas escolares de<br />
mobilização de cultura matemática. In: ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICA DE<br />
ENSINO, 15., 2010a, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte, UFMG, 2010. 1 CD-ROM.<br />
______. Descontruindo a matemática escolar sob uma perspectiva pós-metafísica de educação. 2010b.<br />
Zetetiké, <strong>Campinas</strong>, v. 18, Número Temático, p. 129-206, 2010b.<br />
NAKAMURA, E. M. Problematização da prática de controle de estoque: limites e possibilidades em<br />
uma turma de Educação Infantil. 75 p. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso de Pedagogia) –<br />
Faculdade de Educação, Universidade Estadual de <strong>Campinas</strong>, <strong>Campinas</strong>, 2010.<br />
WITTGENSTEIN, L. Investigações filosóficas. Trad. José Carlos Bruni. São Paulo: Abril Cultural, 1975.<br />
______. O livro castanho. Rio de Janeiro: Edições 70, 1992.<br />
TRANSDISCIPLINARIDADE COMO PRÁTICA PEDAGÓGICA: SOLUÇÕES PARA AS NOVAS<br />
DEMANDAS DA PÓS-MODERNIDADE<br />
Resumo<br />
166<br />
Felipe Adaid<br />
Prof. Dr. Samuel Mendonça<br />
<strong>PUC</strong> <strong>Campinas</strong> – Faculdade Direito<br />
E mail: felipeadaid@gmail.com<br />
Eixo 3: Formação de professores e práticas pedagógicas<br />
Em detrimento da apresentação nas sessões de comunicação oral do V Seminário sobre a produção do<br />
conhecimento em Educação: desafios da educação, pretende discutir a transdisciplinaridade enquanto<br />
prática pedagógica. O desenvolvimento do conhecimento após a revolução científica do século XVII,<br />
grosso modo, buscou a especificidade do saber, necessária aos desafios do homem moderno, não obstante,<br />
esta especificidade gerou consequências nefastas à articulação entre os saberes e o próprio processo de<br />
aprendizagem. Neste diapasão, evidenciou-se a partir do último século um período de crise no<br />
conhecimento, o qual, batizado de pós-modernidade, clama por soluções que gerem uma mudança no<br />
paradigma. Assim sendo, a hipótese de pesquisa consiste no seguinte questionamento: será possível se
pensar na transdisciplinaridade como prática pedagógica, levando em consideração as novas demandas da<br />
pós-modernidade? Em outras palavras: será que a negação a especificidade e o fomenta à<br />
transdisciplinaridade é uma solução à esta crise? Neste contexto, deve-se entender a transdisciplinaridade<br />
segundo o sentido do próprio prefixo grego trans – para além de –, desta forma, a nova ciência se<br />
aproximaria mais da universalidade filosófica. A metodologia consiste em revisão bibliográfica e justificase<br />
por se tratar de um tema investigado no contexto de fundamentos da educação. Este estudo dos<br />
fundamentos educacionais é realizado por intermédio de outras áreas do saber, como por exemplo, a<br />
psicologia, a sociologia e a filosofia, então, neste caso específico, considerando a orientação feita no<br />
contexto de filosofia da educação, destarte, este método é, em última instância, filosófico. Por método<br />
filósofo entende-se a necessidade de esquadrinhar conceitos, de problematizar e de argumentar, de modo a<br />
tornar evidente o fenômeno estudado. Os resultados esperados nesta investigação consistem na hipótese de<br />
que as práticas pedagógicas, indiretamente inferindo nas práticas pedagógicas, possam ser ressignificadas.<br />
Palavras-chave: transdisciplinaridade; prática pedagógica; ciência; pós-modernidade.<br />
Introdução<br />
Desde a Idade Antiga o homem preocupa-se com a questão da subjetividade humana. Pode-se<br />
entender que o próprio surgimento da razão e da filosofia tenha surgido com a busca por respostas<br />
relacionadas a estes fenômenos psíquicos: os pensamentos, sentimentos, relações sociais,<br />
comportamentos, et caetera. Até o século XVIII, esta subjetividade – encontrada na psicologia,<br />
sociologia, antropologia e política – era objeto de estudo exclusivo da filosofia, enquanto que a ciência<br />
propriamente dita se ocupava com a física – φύσις, natureza (DICIONÁRIO ACADÊMICO A, 2008, p.<br />
410). Ou seja, a filosofia estudava os subjetividade – subjectum, a relação entre os sujeitos (DICIONÁRIO<br />
ACADÊMICO B, 2008) – enquanto que a ciência estudava a objetividade – objectum, a relação entre os<br />
objetos físicos (Idem).<br />
Esta divisão de estudo – filosofia para o subjetivo e ciência para o subjetivo – era bastante<br />
adequada, visto que os fenômenos físicos são passíveis de serem empiricamente observados e testados –<br />
como no caso caso da química e da biologia. Não obstante, a partir do século XIX a ciência passou a<br />
considerar o homem – enquanto sua subjetividade – como objeto cognoscível também, dando origem às<br />
ciências humanas. Neste período surge então o Positivismo, iniciado com Augusto Comte, cuja ideia era<br />
empregar a metodologia da ciência natural nas humanas (CHAUÍ, 1999). Durhkeim também foi outro<br />
prodigioso expoente desta tentativa de tornar o conhecimento humano – e toda sua subjetividade –<br />
passível de ser analisado pela metodologia científica natural.<br />
Eficiente ou não, este novo modelo de pensamento, que perdura até hoje, gerou grande<br />
instabilidade entre os intelectuais, dando início a um período crítico a partir do século XIX. Este momento<br />
de crise, caracterizado por uma visível estagnação produtiva, onde já se confunde o que é ciência e o que é<br />
filosofia, é este momento que para alguns autores – como Lyotard (1993) – representa o início do pósmodernismo.<br />
Segundo Boaventura de Souza Santos (2001), as ciências naturais passaram por um<br />
momento de ―crise do paradigma dominante‖, este fenômeno explica esta instabilidade e a estagnação<br />
produtiva.<br />
Método<br />
O método utilizada para esta pesquisa será a qualitativa, através da revisão bibliográfica dos seguintes<br />
autores: Bittar (2009), Freire (1996), Lyotard (1983) e Santos (2003). Desta forma, talvez seja possível<br />
responder a questão inicialmente proposta: será possível se pensar na transdisciplinaridade como prática<br />
pedagógica, levando em consideração as novas demandas da pós-modernidade?<br />
Resultados e Discussão<br />
167
Não há dúvidas de que o conhecimento é único e subjetivo, uma vez que o homem apreende<br />
através de suas sensações e reflete sobre ele. Cogitar possíveis classificações em relação ao conhecimento<br />
é meramente pedagógica. Talvez pela própria limitação humana, em compreender seus sentidos e refletir<br />
sobre eles, que foram desenvolvidos mecanismos para facilitar este processamento subjetivo de<br />
informações. Entretanto, a crítica que se faz aqui é sobre a forma como o conhecimento é visto na<br />
sociedade hodierna, ou seja, como a saber é encarado. Além disso, critica-se principalmente a maneira<br />
como este conhecimento é ensinado nas instituições de ensino. Logo, critica-se a forma especifista e<br />
insular, ou seja, os ―ditos‖ ramos do conhecimento são ensinado de forma autônoma e dicotômica, sem o<br />
devido cuidado com a interdisciplinaridade.<br />
É evidente que este modelo de ensino dicotômica não é regra, muito educadores utilizam-se da<br />
interdisplinaridade como meio de educador. Neste caso, entende-se a interdisciplinaridade na educação<br />
como o processo pelo qual o aluno apreende o conhecimento necessário, tendo consciência de que aquela<br />
informação relaciona-se com diversas outras. Talvez seja neste sentido que Freire (1996) assevera que<br />
ensinar não é meramente transmitir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou<br />
construção, de forma que este saber pareça-lhe próximo e funcional.<br />
A interdisciplinaridade não é uma novidade nos dias de hoje. Entretanto, a intenção deste trabalho<br />
é trazer à prática pedagógica não apenas esta relação simples entre os conhecimento. Neste sentido, fala-se<br />
em ―transdisciplinaridade‖, neste contexto, deve-se entender a transdisciplinaridade segundo o sentido do<br />
próprio prefixo grego trans – para além de. Esta visão de ―para além do objeto‖ se assemelha muito com a<br />
ideia que se tem de filosofia: conhecimento analisado sendo sua universalidade e sua relação com o todo.<br />
Visão evidentemente oposto à ciência e a própria especificidade.<br />
Sugere-se então que esta transdisciplinaridade se aproxima muito de estudo de viés filosófico.<br />
Assim, pensar na influência filosófica em um conhecimento de cunho humanístico é totalmente aceito,<br />
mesmo porque é muito mais familiar ao homem tratar de uma ciência humana como filosófica – pelos<br />
próprios motivos citado alhures. Contudo, cogitar uma influência da filosofia numa ciência biológica ou<br />
exata, não parece ter o menor sentido.<br />
Possivelmente esta má impressão se dá pela própria concepção de conhecimento proposta<br />
atualmente. Mas este trabalho não tem por objetivo definir uma ideia pronta. A pergunta proposta – será<br />
possível se pensar na transdisciplinaridade como prática pedagógica, levando em consideração as novas<br />
demandas da pós-modernidade? – foi criada muito mais à título de provocação e instigação à reflexão de<br />
alternativas para este crise, que evidentemente influi na educação, do que propriamente uma proposta<br />
derradeira.<br />
Mas de nada adianta falar em transdisciplinaridade se os educadores não tiverem uma formação<br />
adequada. Ou seja, uma sólida formação que lhes dêem subsídios para serem educadores formadores de<br />
seres pensantes e capazes de realizar esta relações inter e transdisciplinares. Para tanto, é fundamental que<br />
o educador desenvolva principalmente suas habilidades críticas e a consciente de seu papel enquanto<br />
educador.<br />
Esta questão do professor crítico é muito explora por Freire (1996) e, segundo ele, um elemento<br />
importantíssimo na processo educativo, que deve estar presente na vida do educador é a pesquisa. Não há<br />
ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Essas atividades se encontram uma no corpo da outra. O<br />
educador deve ser um sujeito inquieto, questionar-se a todo momento, sempre tentando buscar respostas.<br />
Por este motivo, deve-se pesquisar, para constatar o que não se sabe e educador.<br />
O conhecimento de áreas diversas da formação de um educador pode ser muito útil, pois o tornaria<br />
mais capaz em realizar relações entre as duas áreas de seu domínio. Por mais distantes que essas áreas<br />
possam parecer a priori, o conhecimento é um só, então sempre existe uma relação entre elas. Cita-se<br />
como exemplo desta formação transdisciplinar o caso do médico que, após terminar os exaustivos estudos<br />
de medicina, decidiu cursar música. Sua decisão aparentemente incipiente, tornou um profissional único<br />
no mercado de trabalho, era o único professor de música que conhecia a fundo a fisiologia dos músculos,<br />
ossos e tendões. Este conhecimento tornou-o capaz de atuar muito melhor como profissional.<br />
168
Conclusão<br />
Diante da inegável crise paradigmática do conhecimento, não há como ignorar o fato de que este é<br />
o momento de se refletir sobre alternativas. Neste caso, fala-se em alternativas às práticas pedagógicas. Na<br />
tentativa de estimular mais os educandos a pensarem de forma crítica e aumentar seu repertório de<br />
interpretação, a transdisplinaridade seria uma solução pedagógica.<br />
Contrária à especificidade científica, essa forma de se buscar e ensinar o conhecimento se<br />
aproximaria da filosofia. Mas não se confundiria com ela, pois a transdisciplinaridade teria por objetivo<br />
fazer relações maiores entre as áreas do saber. Por este motivo se falou em relacionar áreas que<br />
aprioristicamente não possuem relação.<br />
Em epítome, conclui-se que a formação do educador é de suma importância. Muito mais do que se<br />
ultraespecialisar, o educador deve procurar conhecimentos novos e distantes de sua área. A pesquisa é<br />
fundamental para a educação, mas não apenas para o educador. O educando também deve ser incentivado<br />
a pesquisar e buscar o conhecimento de forma autodidática. Desta forma, a educação talvez possa cumprir<br />
seu papel de construção intelectual do indivíduo.<br />
Referências<br />
BITTAR, Educardo. O direito na pós-modernidade. São Paulo: Forense Universitária, 2009.<br />
DICIONÁRIOS ACADÊMICOS A. Grego-Português; Português-Grego. Porto, Portugal: Porto Editora,<br />
2008.<br />
DICIONÁRIOS ACADÊMICOS B. Latim-Português; Português-Latim. Porto, Portugal: Porto Editora,<br />
2008.<br />
CHAUI, M. Convite à filosofia. SP: Editora Ática, 1999.<br />
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e<br />
Terra, 1996.<br />
LYOTAR, Jean-François. O pós-moderno. Rio de Janeiro: José Olympo, 1983.<br />
SANTOS, Boaventura de Sousa. Um Discurso sobre as Ciências. São Paulo: Cortez, 2003.<br />
TERMÔMETRO POR VARIAÇÃO DE CORPOS (OU OBJETOS) NA GLICERINA – GALILEU<br />
Autor: ¹MARCOM, Guilherme Stecca Marcom.<br />
Email: gui.marcom@gmail.com<br />
Coautor: ²SILVA, Ennio Peres da Silva.<br />
Email: lh2ennio@ifi.unicamp.br<br />
1. Graduando em Física, Instituto de Física Gleb Wataghin – UNICAMP; 2. (Orientador) Professor<br />
Doutor, Instituto de Física Gleb Wataghin – UNICAMP.<br />
Eixo Temático: Formação de professores e práticas pedagógicas.<br />
Forma de Apresentação: Pôster.<br />
Universidade Estadual de <strong>Campinas</strong> – UNICAMP/ <strong>Campinas</strong>/ São Paulo.<br />
169
Resumo<br />
O termômetro por variação de corpos (ou objetos) na glicerina é um experimento que tem como objetivo<br />
principal demonstrar uma relação física difícil de ser observada apenas com uma apresentação teórica: de<br />
como a variação da temperatura influencia na densidade de um fluido. Esse experimento foi desenvolvido<br />
para a disciplina F 609 – Tópicos no Ensino de Física, ministrado no Instituto de Física Gleb Whataghin –<br />
Unicamp. Essa disciplina tem como objetivo desenvolver projetos que auxiliem os professores de física na<br />
demonstração da teoria com um trabalho experimental, de baixo custo, podendo ser desenvolvido pelos<br />
próprios alunos, proporcionando uma experiência única de trabalhar com teoria e prática, ressaltando a<br />
importância do trabalho experimental. A metodologia da produção do termômetro é muito simples, os<br />
materiais utilizados são pequenos frascos de vidro, uma garrafa de vidro, glicerina, água e corantes. O<br />
restante do processo se dá a partir de tentativa e erro, no qual calibra-se os conjuntos (frasco+água) de<br />
forma que cada conjunto ao flutuar na glicerina determine uma temperatura. Após a confecção do<br />
termômetro, pede-se aos alunos que variem a temperatura da glicerina com o auxilio de um secador de<br />
cabelo, para facilitar o processo de aquecimento. Com isso os alunos observarão as mudanças nas posições<br />
dos conjuntos dentro da coluna de glicerina. Após a observação os alunos, com o auxilio do professor,<br />
chegam ao conceito físico desejado a partir da experimentação. Como encerramento do projeto, esse<br />
experimento foi apresentado no Colégio Prudente de Moraes (Salto-SP), pelo professor Danilo Borges da<br />
Cunha, para os alunos do segundo e terceiro anos do ensino médio. Através de entrevistas fechadas e<br />
abertas realizadas com os alunos foi possível registrar não só suas impressões, mas também as<br />
contribuições na prática do projeto. Concluiu-se, então, a evidente importância da experimentação para a<br />
compreensão dos conceitos físicos em séries de ensino médio.<br />
Palavras Chaves: Termômetro, densidade, temperatura e experimento.<br />
Introdução<br />
O termômetro por variação de corpos (ou objetos) na glicerina é um experimento que demonstra<br />
uma relação física difícil de observar apenas com uma apresentação teórica, de como a variação da<br />
temperatura influencia na densidade de um fluido. Esse experimento foi desenvolvido para a disciplina<br />
F609 – Tópicos no ensino de física, ministrado pelo Instituto de Física Gleb Whataghin da Unicamp com<br />
a orientação do Prof. Dr. Ennio Peres da Silva.<br />
Questões<br />
Como enfoque desse trabalho, procurou-se responder se o trabalho experimental associado a uma<br />
teoria complexa, melhora a compreensão dos alunos de Ensino Médio.<br />
Objetivos<br />
O experimento se propõe em auxiliar o professor de física na demonstração de uma teoria<br />
complexa, através de um trabalho experimental, de baixo custo, com a possibilidade de desenvolvido<br />
pelos próprios alunos, proporcionando-lhes uma experiência única de observar as diferenças entre a teoria<br />
e prática, mostrando-lhes assim a importância do trabalho experimental.<br />
Metodologia<br />
A produção do termômetro se dá a partir de um processo de tentativa e erro, calibrando cada<br />
conjunto (frasco+água) de maneira totalmente experimental, fixando uma temperatura da coluna de<br />
glicerina e variando a massa de cada conjunto até que o mesmo permaneça submerso no meio do frasco de<br />
glicerina, esse processo seria repedido diversas vezes até que se fosse calibrado um número considerável<br />
170
de conjuntos para que, representam as temperaturas que o termômetro marcaria, e se pudesse observar a<br />
variação da posição dos vários conjuntos calibrados. Após o processo de confecção do termômetro, pedese<br />
aos alunos que façam variar a temperatura da glicerina com o auxilio de um secador de cabelo, para<br />
facilitar o processo de aquecimento, com isso os alunos poderiam ver a mudança na posição dos conjuntos<br />
dentro da coluna de glicerina.<br />
O termômetro foi apresentado aos alunos do segundo ano do Ensino Médio, do Colégio Prudente<br />
de Moraes, pelo professor de física Danilo Borges da Cunha, para avaliar os efeitos da demonstração do<br />
experimento em classe foi aplicado um questionário fechado.<br />
Quadro 1: Questionário aplicado aos alunos:<br />
Avaliação de Aula<br />
Data: 13/06/2011 Escola: Colégio Prudente de Moraes<br />
Aula (Tema): Termômetro por variação de corpos (ou objetos) na glicerina - Galileu<br />
Nome do Professor: Danilo Borges da Cunha<br />
Dê uma nota de 1 a 5 a cada item relacionado com a aula.<br />
Item avaliado 1 2 3 4 5<br />
Quanto você achou esse tema interessante?<br />
Há relação entre o termômetro e o conceito que você<br />
estudou na aula de física?<br />
A apresentação do conceito que envolve o termômetro<br />
ficou clara?<br />
Você gostou da aula?<br />
Resultados<br />
A partir da análise do questionário criou-se a seguinte tabela, com o número total de notas para<br />
cada questão.<br />
Tabela 1: Resultados das respostas dos alunos.<br />
Classificação Questão 1 Questão 2 Questão 3 Questão 4<br />
5 8 18 15 11<br />
4 17 6 8 9<br />
3 1 1 3 6<br />
2 0 1 0 0<br />
1 0 0 0 0<br />
Para uma análise melhor dos dados da Tabela 1, produziu-se um gráfico que demonstra melhor o<br />
número de notas atribuído a cada item avaliado.<br />
Imagem 1: Número de respostas de 1 - 5.<br />
171
Com base nos dados acima se pode observar que os alunos compreenderam melhor a teoria<br />
proposta pelo professor de que a densidade do líquido variaria de acordo com a temperatura, o que foi de<br />
grande importância para meu projeto, demonstrando como a teoria ao ser completada com a prática<br />
facilita o aprendizado dos alunos.<br />
Como fica evidente a demonstração de um experimento agrada aos alunos que puderam<br />
compreender melhor uma teoria, no caso de como a temperatura influencia na densidade de um fluido.<br />
Fica evidente que demonstrar a relação entre teoria e prática aos alunos é de extrema importância,<br />
principalmente no ensino de física, pois facilita a compreensão dos alunos de Ensino Médio.<br />
Referências<br />
GÜÉMEZ, J. Física de juguetes y dispositivos sencillos: Termómetro de Galileo. Espanha,<br />
2007. Disponível em:<br />
. Acesso<br />
em 28 de junho de 2011.<br />
MAZALI, I. O. Determinação da densidade de sólidos pelo Método de Arquimedes.<br />
<strong>Campinas</strong>. Disponível em:<br />
.<br />
Acesso em 28 de junho de 2011.<br />
MEDEIROS, A. A termometria: de Galileu a Fahrenheit. Recife: Editora Liber, 1999.<br />
O EDUCADOR E A MEDIAÇÃO DA APRENDIZAGEM DE ATITUDES PARA O DESENVOLVIMENTO<br />
DA AUTONOMIA<br />
Gustavo Henrique Escobar Guimarães<br />
gheguimaraes@gmail.com<br />
Prof. Dr. Samuel Mendonça<br />
samuelms@gmail.com<br />
Eixo Temático: Formação de professores e práticas pedagógicas<br />
Pôster<br />
Programa de Pós-graduação em Educação Stricto Sensu <strong>PUC</strong> <strong>Campinas</strong> - SP<br />
172
Resumo<br />
A presente proposta, ―O educador e a mediação da aprendizagem de atitudes para o<br />
desenvolvimento da autonomia‖, foi apresentada na comunicação-pôster no V Seminário sobre a<br />
produção do conhecimento em Educação: desafios da Educação e VI Seminário da Faculdade de<br />
Educação da <strong>PUC</strong> <strong>Campinas</strong>, e busca discutir e analisar a identificação e a organização dos<br />
principais desafios do educador na mediação da aprendizagem de atitudes sociais para a<br />
autonomia. A investigação acerca da mediação do professor para o desenvolvimento de atitudes<br />
para a busca da autonomia constitui-se do objeto do presente projeto de dissertação de mestrado.<br />
A pergunta da investigação consiste em identificar os desafios para contribuição docente na<br />
mediação do desenvolvimento das atitudes sociais para autonomia ? Os objetivos consistem na<br />
exposição, discussão e aplicação conceitual das peculiaridades do processo de mediação da<br />
aprendizagem, da formação e mudança das atitudes sociais e, das concepções e implicações da<br />
autonomia. As referências teóricas sobre o processo de mediação da aprendizagem dizem respeito<br />
a Vygotski e Feuerstein. Para a problematização do conceito de atitudes sociais utilizar-se-á<br />
Rodrigues e para o esquadrinhamento do conceito de autonomia serão utilizados Kant e Dewey.<br />
A opção de pesquisa delimitar-se-á a partir da bibliográfica e descritiva. O tratamento dos dados<br />
e a abordagem realizada na pesquisa será de ordem quantitativa, na qual se utilizará o<br />
instrumento Questionário para categorizar os desafios eleitos pelos sujeitos da pesquisa, e,<br />
posteriormente, uma perspectiva qualitativa, valendo-se do instrumento de Entrevista semiestruturada,<br />
a fim de aprofundar algumas das contribuições por meio da análise de conteúdo. Os<br />
sujeitos desta pesquisa são docentes das habilitações profissionais técnicas de nível médio da área<br />
da Saúde do Senac São Paulo U.O. <strong>Campinas</strong> – SP, distribuídos inicialmente pela variável tempo<br />
de atuação docente na Instituição. Espera-se como resultado compor um quadro, devidamente<br />
categorizados e nomeado pelos docentes, no que concerne aos desafios da mediação da<br />
aprendizagem de atitudes sociais para a autonomia, além de, conceitualmente, desmistificar os<br />
termos associados, em uma retomada elucidatória de coesão e aplicação deles.<br />
Palavras-chave: mediação da aprendizagem; atitudes sociais; autonomia.<br />
INTRODUÇÃO<br />
Imbuído da necessidade de introduzir a temática central e seus respectivos aportes<br />
teóricos na perspectiva da presente pesquisa, de forma propedêutica, destacam-se algumas<br />
contribuições iniciais associadas às referências teóricas.<br />
No horizonte da mediação da aprendizagem, serão basilares as concepções de Vygotski<br />
(1997) e Feuerstein (1994) sobre o processo, além da contribuição de alguns de seus<br />
comentadores, oportunamente explorados.<br />
Para Souza, Depresbiteris, Machado (2004) a partir da Teoria da Modificabilidade<br />
Cognitiva Estrutural do psicólogo romeno Reuven Feuerstein,<br />
[...] a mediação é um fenômeno que surgiu com o começo da humanidade, no momento<br />
em que o homem tomou consciência da morte e, com ela, do desejo de prolongar sua<br />
existência, por meio das futuras gerações, O fundamento da mediação é, portanto,<br />
transmitir a outros um mundo de significados, ou seja, a cultura, entendida aqui não<br />
173
como classificação de raças e etnias, mas como um conjunto de características que um<br />
povo tem em comum (p. 38)<br />
Para a abordagem das atitudes sociais, a referência central será a contribuição de<br />
Rodrigues (1998), no que condiz a constituição, formação e a mudança das atitudes.<br />
Rodrigues (1998), define ―atitude como sendo um sentimento pró ou contra um objeto<br />
social, sendo que este pode ser uma pessoa, um acontecimento social, ou qualquer outro produto<br />
da atividade humana.‖ (p.34)<br />
Para Bardin (1977),<br />
Uma atitude é uma pré-disposição, relativamente estável e organizada, para reagir sob<br />
forma de opiniões (nível verbal), ou actos (sic!) (nível comportamental), em presença de<br />
objectos (sic!) (pessoas, ideias, acontecimentos, coisas, etc.) de maneira determinada.<br />
Correntemente falando, nós temos opiniões sobre as coisas, os seres, os fenômenos<br />
(sic!), e manifestamo-las por juízos de valor. Uma atitude é um núcleo, uma matriz<br />
muitas vezes inconsciente, que produz (e que se traduz por) um conjunto de tomadas de<br />
posição, de qualificações, de descrições e de designações de avaliação mais ou menos<br />
coloridas (p. 156)<br />
A autonomia será enfatizada a partir do estímulo e desenvolvimento no contexto das<br />
ações educacionais, sendo para esta finalidade, cortejada pelas ideias de Dewey (2002) e Kant<br />
(1996), além de importantes pensadores contemporâneos.<br />
Immanuel Kant (1996), em Sobre a pedagogia, ao dissertar sobre uma doutrina de<br />
educação ou pedagogia, responsável pela humanização da natureza humana, apresentando as<br />
especificidades de uma educação física e prática ou moral, além das responsabilidades inerentes a<br />
uma educação doméstica e dos institutos públicos de educação, questiona, ―Quanto tempo deve<br />
durar a educação ? Até o momento em que a natureza determinou que o homem governe a si<br />
mesmo; [...] (p. 33). Após este questionamento, Kant (1996) continua e traz a ideia da sujeição do<br />
educando, trabalhando-a sob duas perspectivas, uma positiva, enquanto não pode julgar por si<br />
mesmo, deve fazer o que é mandado, possuindo apenas a capacidade de imitar e, uma dimensão<br />
negativa, pois o educando faz aquilo que os outros desejam, por sua vez, faz o que é agradável<br />
aos outros.<br />
John Dewey (2002) em A escola e a sociedade, apresenta, talvez, a raiz do que hoje se<br />
convencionou chamar de Nova Educação, aliás, atribui-se a con<strong>sensu</strong>almente a este autor, o papel<br />
de representante desta vertente, por mais que ele pouco ou quase nada se importava com estes<br />
tipos de rótulos, ainda sim, apresenta uma educação atrelada ao progresso social, para isso, a<br />
educação deveria sofrer mudanças tão radicais quanto as que se processavam na sociedade como<br />
um todo, sejam os avanços no comércio e indústria, até a perda gradativa com o modelo produção<br />
doméstica e suas implicações. Ao introduzir suas concepções e aplicações sobre a Psicologia das<br />
Ocupações, estas enquanto atividades semelhantes e atreladas as condições sociais, como centros<br />
do processo educacional, sugere<br />
―[...] a mudança na atmosfera mora da escola, na relação entre alunos e professores – na<br />
disciplina; a introdução de fatores mais activos (sic!), expressivos e de autonomia – tudo<br />
isso não são meros acidentes, são exigências duma evolução social mais vasta [...]<br />
Quando a escola for capaz de iniciar e exercitar cada um dos novos membros da<br />
sociedade na participação numa comunidade tão reduzida, impregnando-os dum espírito<br />
de altruísmo e fornecendo-lhes os instrumentos duma autonomia efectiva (sic!), teremos<br />
174
OBJETIVO GERAL<br />
melhor garantia de que a sociedade no seu todo é digna, admirável e harmoniosa‖<br />
(DEWEY, 2002, p.35)<br />
Identificar os principais desafios eleitos pelo educador para a mediação do<br />
desenvolvimento da aprendizagem de atitudes sociais para a autonomia.<br />
OBJETIVOS ESPECÍFICOS<br />
Discorrer sobre o conceito, características e aplicações da mediação da aprendizagem na<br />
abordagem histórico-cultural;<br />
Explorar conceituações sobre atitudes sociais que estimulem o desenvolvimento da<br />
autonomia, contextualizando o significado e implicações nos horizontes da psicologia social;<br />
MÉTODO<br />
Entende-se que a epistemologia científica necessária para alicerçar este projeto de<br />
pesquisa, encontra sustentação nas ideias de Severino (2007) no que condiz a pesquisa<br />
bibliográfica e, em Chizzotti (2006) e Bogdan & Biklen (1994) no que tange a abordagem<br />
qualitativa em pesquisa, como um conjunto de ações que objetivam interpretar o sentido de<br />
determinado evento a partir do significado atribuído por aqueles que falam e fazem, onde será<br />
possível para isso, utilizar-se ou não da quantificação.<br />
Para a obtenção dos dados primários junto à amostra identificada posteriormente, serão<br />
utilizados segundo Charoux (2006) e Severino (2007), dois instrumentos para a coleta dos dados:<br />
primeiro um Questionário; após a quantificação dos dados, será aplicada uma Entrevista semiestruturada.<br />
Como sujeitos desta pesquisa identifica-se uma amostra de 20 (vinte) educadores que<br />
atuam como docentes nas habilitações profissionais técnicas de nível médio da área da Saúde.<br />
Inicialmente, a única variável de classificação será o tempo de atuação na Instituição como<br />
docente na modalidade supracitada, inferior ou superior a um ano.<br />
Para o tratamento dos dados dos questionários e, sobretudo das entrevistas, pauta-se nas<br />
ideias de Bardin (1977) sobre a organização da análise de conteúdo, da pré-análise a inferência,<br />
no intuito mais próximo possível da objetividade parcial. Para isso, elege-se a priori algumas<br />
categorias, a fim de nortear a apropriação dos conteúdos, a partir dos objetivos propostos,<br />
agrupando-os em classes em razão dos próprios caracteres comuns como subsídio a análise.<br />
Contudo, adverte-se que as presentes categorias não encerram a possibilidade de, conforme o<br />
contexto das respostas transcritas, a necessidade de estabelecer-se novas categorias ou rever as<br />
previamente definidas.<br />
RESULTADOS ESPERADOS<br />
Compor um cenário com os principais desafios identificados pelos docentes, bem como,<br />
sugerir caminhos a superação, e implantação de ações educacionais mediadas.<br />
Elucidar os principais conceitos envolvidos na pesquisa, enriquecidos pelas diferentes<br />
abordagens e conotações nas perspectivas de diferentes autores, destacando as divergências e<br />
175
organizando as semelhanças para o entendimento das possibilidades de superação dos desafios<br />
compostos acima.<br />
Abordar e contextualizar os conceitos de atitudes sociais e autonomia, originalmente<br />
explorados no vértice, ora da psicologia social ora da filosofia, numa leitura pedagógica, precisa<br />
num contexto de sala de aula, acenando possibilidades e limitações neste enfoque.<br />
REFERÊNCIAS<br />
BARDIN, LAURENCE. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.<br />
BOGDAN, Robert C. & BIKLEN, Sari K. Investigação qualitativa em educação: uma<br />
introdução à teoria e aos métodos. Portugal: Porto Editora, 1994.<br />
CHAROUX, Ofélia M. G. Metodologia: processo de produção, registro e relato do<br />
conhecimento. 3. ed, São Paulo: DVS Editora, 2006.<br />
CHIZZOTTI, Antônio. Pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais. Petrópolis: Vozes,<br />
2006.<br />
DEWEY, John. A escola e a sociedade. Lisboa: Relógio D´Água, 2002.<br />
FEUERSTEIN, R. & FEUERSTEIN, F. A mediated learning experience theoretical,<br />
psychosocial and learning implications. Londres : Freund Publishing House, 1994.<br />
KANT, Immanuel. Sobre a pedagogia. Piracicaba, Editora Unimep, 1996.<br />
RODRIGUES, Aroldo. Psicologia Social para Principiantes: estudo da interação humana. 4ª<br />
edição, Vozes, Petrópolis – RJ, 1998.<br />
SEVERINO, Antônio J. Metodologia do trabalho científico. 23ª edição revista e atualizada – 1ª<br />
reimpressão. São Paulo: Cortez Editora, 2007.<br />
SOUZA, Ana M. M. de; DEPRESBITERIS, Léa; MACHADO, Osny T. M. A mediação como<br />
princípio educacional: bases teóricas das abordagens de Reuven Feuerstein, São Paulo: Editora<br />
Senac, 2004.<br />
VYGOTSKI, L.S. Obras Escogidas: fundamentos de la defectologia. Tomo V. Madrid: Visor e<br />
MEC, 1997. (tradução: Antonio Machado)<br />
O ALUNO UNIVERSITÁRIO E SUA RELAÇÃO COM A LEITURA<br />
Autora: Jessica Correia Gutierrez Blanco<br />
Professor orientador: Cássia Geciauskas Sofiato<br />
Graduando em Educação da Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong>/SP<br />
176
Resumo<br />
177<br />
E-mail: Jessica_correia@hotmail.com<br />
Eixo: Formação do professor e práticas pedagógicas<br />
Apresentaçao de Pôster<br />
A presente pesquisa em andamento, fruto do trabalho de conclusão de curso, procura discutir a<br />
formação dos alunos universitários no que diz respeito à leitura. É necessário entender que a<br />
leitura faz parte vida pessoal de muitas pessoas. Para alguns a prática da leitura faz parte da vida<br />
e dessa forma, torna-se algo comum e fácil; para outros, a leitura é algo complicado, é estressante<br />
e muitas vezes desnecessária. Motivadas por estes aspectos é que estudaremos o hábito da leitura<br />
no ensino superior, com as seguintes problemáticas a serem discutidas: como o aluno<br />
universitário pode aprimorar o hábito da leitura quando ingressa na universidade? De que forma<br />
os docentes universitários podem ajudá-lo se esse hábito não foi construído ao longo de sua<br />
trajetória na Educação Básica? Sendo assim, o objetivo deste trabalho é entender a relação do<br />
aluno universitário com a leitura e como o professor pode auxiliar nesse processo para formar o<br />
leitor universitário. Esse trabalho traz como abordagem a qualitativa, que possibilita que o<br />
fenômeno pesquisado seja observado em suas particularidades. Além do estudo bibliográfico,<br />
também está prevista uma pesquisa de campo que será realizada numa universidade no município<br />
de <strong>Campinas</strong>. Os sujeitos participantes deste trabalho são algumas alunas curso de Pedagogia da<br />
instituição citada. Pretende-se ao final deste trabalho conhecer de que forma o trabalho de leitura<br />
é realizado na universidade em questão e também saber quais são as estratégias utilizadas pelos<br />
docentes, em sala de aula, para a formação de novos leitores, e também para a manutenção da<br />
prática da leitura para com os alunos habituados com tal procedimento.<br />
Palavras-Chave: Ensino Superior, Educação Básica, leitura.<br />
PARFOR: FORMAÇÃO INICIAL EM EXERCÍCIO DE PROFESSORAS (ES) PARA A EDUCAÇÃO<br />
INFANTIL<br />
RESUMO<br />
Juliana Gomes Santos – mestranda.<br />
Profª Drª Heloisa Helena Oliveira de Azevedo- orientadora.<br />
Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong>.<br />
Eixo: Formação de professores e práticas pedagógicas.<br />
Pôster<br />
O projeto de pesquisa, ―PARFOR: uma reflexão sobre a formação de professoras para a educação<br />
infantil‖, trata do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR), com<br />
alunas do curso de Pedagogia/PARFOR da Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong>. O objeto de<br />
pesquisa é o processo de formação de professores da educação infantil que atuam na região metropolitana<br />
de <strong>Campinas</strong> e iniciaram sua formação acadêmica por meio da Política Nacional de Formação de<br />
Profissionais do Magistério da Educação Básica, decreto nº 6755. O problema a ser investigado é quais as<br />
implicações da formação inicial acadêmica para a reflexão das concepções de educação infantil, criança e<br />
professora de educação infantil. Será analisada, a partir de narrativas de formação elaboradas pelos<br />
sujeitos de pesquisa a importância atribuída à formação acadêmica e se para esses profissionais essa<br />
formação se faz necessária e transformadora da prática por eles realizada. Faremos o estudo de
documentos referentes ao PARFOR, além de pesquisa bibliográfica sobre a formação de professores para<br />
educação infantil e a relação teoria e prática, onde destacamos, Saviani (1997) e Pimenta (2002). Nossa<br />
perspectiva metodológica é qualitativa e para coleta de dados solicitaremos a elaboração de uma narrativa<br />
de formação por parte dos sujeitos relatando assim sua concepção de educação infantil, criança e<br />
professora de educação infantil, assim será feita a análise das narrativas para que selecionados os sujeitos<br />
participem de discussão coletiva sobre o tema por meio da técnica do grupo focal, tendo sempre um olhar<br />
qualitativo sobre os dados coletados e o diálogo permanente com a teoria. A pesquisa está em andamento<br />
e, a partir de levantamento bibliográfico inicial, foi possível perceber que a discussão teórico-prática é<br />
tema frequente, mas não esgotado nas pesquisas sobre a formação docente. Esperamos com essa pesquisa<br />
contribuir com o debate sobre a temática de formação de professores e da relação teoria e prática,<br />
principalmente para a educação infantil.<br />
Palavras-chave: PARFOR; formação de professores; educação infantil; teoria e prática.<br />
INTRODUÇÃO<br />
A presente pesquisa que está em andamento trata sobre a formação de professores pelo Plano Nacional de<br />
Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR) e será realizada com alunos que estão iniciando<br />
o curso de Pedagogia do PARFOR na <strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong>, ou seja, com profissionais cursistas em exercício<br />
que atuam na região metropolitana de <strong>Campinas</strong> na educação infantil. A fundamentação teórica está<br />
ancorada em autores que trazem a história da formação de professores e do curso de Pedagogia Brzezinski<br />
(1996), Saviani (2008), além da análise de documentos referentes ao PARFOR, Diretrizes Curriculares<br />
Nacionais para o curso de Pedagogia e o estudo do Projeto Pedagógico para o Plano Nacional de<br />
Formação dos Professores da Educação Básica (PARFOR) elaborado pela instituição <strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong> para<br />
o curso vigente onde encontraremos os sujeitos que farão parte da pesquisa. Nossa pesquisa com<br />
abordagem qualitativa terá como uma das estratégias de coleta de dados a observação participante, porém<br />
os dados aqui apresentados fazem parte da pesquisa bibliográfica por nós realizada no Projeto Pedagógico<br />
para o Plano Nacional de Formação dos professores da Educação Básica (PARFOR) elaborado pela <strong>PUC</strong>-<br />
<strong>Campinas</strong>, a partir de autores que tratam da temática formação de professores e da relação teoria e prática,<br />
além das primeiras impressões que tivemos depois do contato com os alunos ingressantes no curso de<br />
Pedagogia e ainda de conversas com professores do PARFOR.<br />
O PARFOR<br />
O Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica – PARFOR é um conjunto de ações do<br />
Ministério da Educação- MEC, com as secretarias de educação dos estados e municípios e as instituições<br />
de educação superior que irão ministrar cursos superiores gratuitos para professores em exercício das<br />
escolas públicas sem formação adequada à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, de<br />
dezembro de 1996. Os estados e municípios em 2007 aderem ao Plano de Desenvolvimento da Educação -<br />
PDE, elaboram Planos de Ações Articuladas - PAR, com base no diagnóstico feito sobre a necessidade de<br />
formação adequada aos professores em exercício e assim se tem um levantamento de demandas por<br />
formação. Com o Decreto nº 6.755, de janeiro de 2009, que preza pela melhoria da educação básica, o<br />
MEC (Ministério de Educação e Cultura) institui a Política Nacional de Formação dos Profissionais do<br />
Magistério da Educação Básica, com a finalidade de organizar os Planos Estratégicos da formação inicial<br />
e continuada, com base em arranjos educacionais acordados nos Fóruns Estaduais Permanentes de Apoio à<br />
Formação Docente.<br />
O PARFOR terá assim todas as licenciaturas das áreas de conhecimento da educação básica nas<br />
modalidades presencial e à distância, com cursos de 1ª Licenciatura para professores sem graduação, de 2ª<br />
Licenciatura para licenciados atuando fora da área de formação e de Formação Pedagógica, para bacharéis<br />
sem licenciatura. Nosso enfoque nessa pesquisa está no curso de 1ª licenciatura em Pedagogia na<br />
modalidade presencial, com alunos que iniciaram o curso neste ano e, portanto, estão no 1º período. Os<br />
178
professores em exercício para iniciarem essa formação precisam fazer sua pré-inscrição num sistema<br />
informatizado que foi criado pelo MEC, denominado Plataforma Paulo Freire, se cadastrar e atualizar seu<br />
currículo. Posteriormente quando a resposta é positiva para o início do curso, irão freqüenta-lo no horário<br />
oposto ao horário de serviço. A avaliação dos cursos de PARFOR será feita pela Coordenação de<br />
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, para que essa experiência inédita com a<br />
preocupação na melhoria da educação básica pública possa ser uma experiência sempre avaliada e<br />
repensada para melhor atender os profissionais em exercício.<br />
Nosso campo de pesquisa, a instituição <strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong>, traz no seu Projeto Pedagógico para formação dos<br />
professores do PARFOR considerações sobre a educação brasileira e os problemas que a cercam.<br />
A educação brasileira é historicamente marcada por graves problemas, a saber:<br />
analfabetismo; seletividade do sistema escolar; baixos índices de desempenho escolar,<br />
representados por altos índices de reprovação escolar e evasão escolar; baixa taxa de<br />
acesso ao ensino superior; graves deficiências no processo de formação dos professores<br />
e das práticas educativas, sobretudo na educação básica, que contribuem para a<br />
desvalorização da profissionalização docente (<strong>PUC</strong>-CAMPINAS, FACULDADE DE<br />
EDUCAÇÃO, PROJETO PEDAGÓGICO PARA O PLANO NACIONAL DE<br />
FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARFOR, 2010, p.<br />
29).<br />
Em se tratando da deficiência no processo de formação de professores destacamos a formação de<br />
professores para a educação infantil, isso porque com base no estudo do projeto pedagógico do PARFOR<br />
elaborado pela <strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong> a porcentagem 18 de professores que atuam na educação infantil (Creche) e<br />
que não fizeram a formação em nível superior alcança 51%. Já a porcentagem de professores que atuam<br />
na educação infantil (Pré-escola) e não possuem a formação em nível superior, tendo somente a<br />
escolaridade básica é menor, porém ainda preocupante, pois totaliza 31%.<br />
Assim para solucionar o problema da formação de professores da educação básica foram definidas<br />
políticas e no que diz respeito ao curso de Pedagogia PARFOR a preocupação da instituição seria formar<br />
futuros pedagogos com compromisso social, formação sólida e capacidade crítica para, sobretudo,<br />
analisar os objetivos e os interesses políticos ocultos nas políticas educacionais. A análise da<br />
concretização deste objetivo, assim como da real mudança ocorrida na atuação das professoras em<br />
exercício, cursistas do PARFOR na <strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong>, são o nosso objetivo.<br />
Essa preocupação da instituição conjuntamente com o objetivo geral do curso proposto traz à tona o<br />
exercício da docência enquanto<br />
(...) ação educativa e processo pedagógico metódico e intencional, construído em<br />
relações sociais, étnico-raciais e produtivas, as quais influenciam conceitos, princípios e<br />
objetivos da Pedagogia, desenvolvendo-se na articulação entre conhecimentos científicos<br />
e culturais, valores éticos e estéticos inerentes a processos de aprendizagem, de<br />
socialização e de construção do conhecimento, no âmbito do diálogo entre diferentes<br />
visões de mundo (BRASIL, DIRETRIZES CURRICULARES CURSOS DE<br />
PEDAGOGIA, 2006).<br />
Por fim a proposta que observamos para formação de pedagogos pelo PARFOR neste Projeto<br />
Pedagógico é que o professor/ estudante de Pedagogia trabalhe com um repertório de conhecimentos<br />
teóricos-práticos, com reflexão e análise do exercício da profissão docente, fundamentando-se em<br />
princípios de interdisciplinaridade, contextualização, democratização, pertinência e relevância social, ética<br />
e sensibilidade afetiva e estética. De fato estes sujeitos (os estudantes do PARFOR) já atuam na educação<br />
infantil e acreditando que a prática também pode ser formativa, será de grande importância para a<br />
discussão teórico-prática e análise das contribuições que a graduação em nível superior pode trazer para o<br />
18 Porcentagem com base na fonte: MEC/Inep/Deed.<br />
179
aperfeiçoamento da atuação docente. Por este fato justifica-se a nossa pesquisa que tentará através da<br />
abordagem qualitativa de pesquisa discutir a formação e a relação teoria e prática. Queremos assim saber<br />
se a intervenção do Estado ao propor a formação em nível superior trará mudanças significativas ao<br />
trabalho dos professores em exercício na educação infantil.<br />
TEORIA E PRÁTICA<br />
Nossa metodologia é de natureza qualitativa, pois entendemos que a metodologia adotada precisa nos<br />
fornecer amplo conhecimento sobre a realidade e contemplar as especificidades que os sujeitos trazem<br />
dessa realidade. Usaremos como técnica de pesquisa a observação participante. Tal metodologia se<br />
sustenta na perspectiva de que,<br />
O investigador introduz-se no mundo das pessoas que pretende estudar, tenta conhecêlas,<br />
dar-se a conhecer e ganhar a sua confiança, elaborando um registro sistemático de<br />
tudo aquilo que ouve e observa (BOGDAN e BIKLEN, 1994, p. 16).<br />
Essa observação será realizada com as turmas do curso de Pedagogia PARFOR que iniciaram o curso no<br />
ano de 2011 e atualmente freqüentam o primeiro semestre. São professores em exercício que irão<br />
frequentar disciplinas descritas no Projeto Pedagógico do curso de PARFOR como disciplinas voltadas<br />
para a formação teórico-prática do docente. Pretendemos assim observar, participar e trazer como dados<br />
esses momentos nas aulas dessas disciplinas que estão descritas na Matriz Curricular do curso.<br />
Nossos sujeitos têm um perfil que consideramos diferenciado no que diz respeito aos cursos de Pedagogia<br />
oferecidos, pois estes sujeitos estão em exercício na educação infantil e já vivenciam a prática<br />
diferentemente de alunos do curso de Pedagogia que na maioria das vezes terá o primeiro contato com a<br />
prática nos estágios que serão realizados no decorrer do curso. Queremos em nossa pesquisa trazer além<br />
dos dados obtidos a partir da observação participante nas aulas com os sujeitos, a discussão sobre a<br />
realidade da formação desses profissionais em exercício e isso com embasamento na relação teoria e<br />
prática que vem a tona nesse momento em nosso problema de pesquisa Qual a influência da formação<br />
acadêmica na prática docente de profissionais que já atuam na educação infantil: o caso PARFOR.<br />
Essa preocupação com a relação teoria e prática está no Projeto Pedagógico do curso PARFOR da <strong>PUC</strong>-<br />
<strong>Campinas</strong> no seguinte item: Existência de articulação curricular entre teoria e prática, onde traz que a<br />
articulação acontece devido ao diálogo da atuação educativa e da formação acadêmica na Universidade,<br />
nossos sujeitos já vivenciam a atuação educativa na educação infantil e acabam de iniciar a formação<br />
acadêmica na Universidade, assim pensamos que nessa profissão docente escolhida<br />
A dependência da teoria em relação a prática e a existência dessa como últimos<br />
fundamentos e finalidades da teoria evidenciam que a prática – concebida como uma<br />
práxis humana total – tem a primazia sobre a teoria; mas esse primado, longe de implicar<br />
uma contraposição absoluta à teoria, pressupõe uma íntima vinculação com ela<br />
(PIMENTA, 1997, p. 93).<br />
Diante do exposto queremos em nossa pesquisa buscar compreender como na formação e atuação<br />
profissional estes professores vêem e vivenciam a relação teoria e prática e qual é a importância dada a<br />
essa articulação, já que a prática é por eles conhecida e realizada na educação infantil e nesse momento em<br />
que estão em exercício iniciam uma nova etapa, que é a formação acadêmica com discussões teóricas.<br />
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES<br />
Estamos no inicio de nossa pesquisa e nesse processo de elaboração e revisão bibliográfica as inquietações<br />
sobre a importância da formação acadêmica para esses sujeitos em exercício foi latente. Vivenciamos um<br />
momento de apropriação de conhecimento sobre esse plano que interfere diretamente na formação dos<br />
profissionais que estão nas escolas, nesse caso mais especificamente, na educação infantil. Portanto<br />
180
acreditamos que este momento de mudanças na educação brasileira é para nós uma oportunidade de<br />
estudar, discutir, refletir e apurarmos nosso olhar para essas questões da formação de professores.<br />
Acreditamos que a discussão teórico-prática nesse contexto apresentado de professores/ alunos em<br />
formação se faz necessária e queremos com essa pesquisa contribuir e ampliar a reflexão sobre a formação<br />
docente e mais ainda sobre a formação no curso de Pedagogia PARFOR da <strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong> para<br />
professores em exercício na educação infantil da região metropolitana de <strong>Campinas</strong>.<br />
REFERÊNCIAS<br />
BOGDAN, R. e BIKLEN, S. Investigação Qualitativa em Educação: uma introdução à teoria e aos<br />
métodos. Porto Ed., 1994.<br />
BRZEZINSKI, Iria. Pedagogia, pedagogos e formação de professores. <strong>Campinas</strong>, SP. Editora Papirus,<br />
1996.<br />
MINAYO, Maria Cecília de Souza (organizadora) Pesquisa Social – Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.<br />
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA/Conselho Nacional de Educação. Diretrizes<br />
Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia. Parecer n.º 5/2005, reexaminado pelo<br />
parecer CNE/CP n.º 03/2006. Brasília. 2006.<br />
PIMENTA, Selma Garrido. O estágio na formação de professores: unidade teoria e<br />
prática? São Paulo, SP. Editora Cortez, 1997.<br />
PIMENTA, S. G., GHEDIN, E. (Orgs.) Professor reflexivo no Brasil – gêneses e crítica de um conceito.<br />
Ed. Cortez. São Paulo – SP, 2002.<br />
<strong>PUC</strong>-CAMPINAS. FACULDADE DE EDUCAÇÃO, Projeto Pedagógico para o Plano Nacional de<br />
Formação dos Professores da Educação Básica PARFOR. <strong>Campinas</strong>, SP. Julho/ 2010.<br />
SAVIANI, D. A nova Lei da Educação: Trajetória, Limites e Perspectivas. <strong>Campinas</strong>: Autores<br />
Associados, 1997.<br />
__________ Pedagogia Histórico-Crítica. <strong>Campinas</strong>, SP: Autores Associados, 1997.<br />
__________ A Pedagogia no Brasil: história e teoria, <strong>Campinas</strong>, SP: Autores Associados, 2008.<br />
ANALISANDO O DISCURSO DOS LIVROS UTILIZADOS NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DO<br />
ENSINO FUNDAMENTAL<br />
Resumo<br />
181<br />
Autor: Leandro Trindade Pinto.<br />
Email: leandrotrindadep@yahoo.com.br<br />
Eixo temático: Formação de professores e práticas<br />
pedagógicas.<br />
Doutorando em Ensino de Ciências<br />
e Matemática UNICAMP.
Ao se falar de alfabetização e letramento, no ensino de Ciências, dentro de um contexto escolar, seja<br />
dentro das escolas nas classes de alfabetização, seja em debates acadêmicos ou vinculados através da<br />
mídia na divulgação das mais variadas políticas educacionais certas terminologias ganham diferentes<br />
significados e representações nos contextos sócio–históricos em que se apresentam. A despeito de toda<br />
problemática envolvida neste tema, urge salientar, que toda área de conhecimento, linha de pesquisa ou,<br />
até mesmo, uma abordagem diferenciada, gera indubitavelmente novas terminologias e formas de se<br />
expressar. Todavia, diante de um novo discurso a apropriações de linguagens e metáforas oriundas de<br />
outros campos de conhecimento se fazem necessárias com o objetivo de expressar as novas idéias ou<br />
paradigmas que despontam. No ensino de Ciências, tal problemática não se furta à mesma apreciação. Em<br />
foco sobre este ponto, a questão sobre um estudo do discurso de terminologias próprias da educação em<br />
ciências se faz necessário. Expressões recorrentes nesta área de conhecimento como alfabetização e<br />
letramento, alfabetização científica, letramento científico geram indagações acerca do reflexo no plano<br />
discursivo em diferentes contextos, tais como a prática social, no campo das inovações educacionais e dos<br />
materiais didáticos por ela produzidos. Dada à importância política e social que cada vez mais o Ensino de<br />
Ciências ganha em nossa sociedade, as indagações que surgem neste trabalho visam não se ater apenas a<br />
questões de ordem puramente linguísticas que por si mesmas já carecem de apreciações. O entendimento<br />
do conceito de alfabetização científica e letramento científico denotam um apontamento de como esse<br />
discurso pode contribuir para a sociedade, vista sua importância no âmbito educacional. Com objetivo de<br />
alçar questionamentos proveitosos, este trabalho visa contribuir sobre tais indagações, inquirindo e<br />
apontando sobre alguns itens em como são abordados o entendimento sobre alfabetização científica e<br />
letramento científico presentes, sobretudo, nos livros de Ciências utilizados no curso de formação de<br />
professores, não só dentro do ponto de vista acadêmico, mas também no campo das mudanças sociais<br />
aplicadas no campo da educação.<br />
Palavras chave: Formação de professores, Ensino de Ciências, Livros didáticos.<br />
Introdução<br />
Devido às complexidades inseridas dentro das relações sociais que permeiam a formações de<br />
professores, muitos são os parâmetros que podem ser alçados para uma análise crítica dos problemas<br />
encontrados pelos docentes durante a sua formação. Esse levantamento mostra uma análise de livros<br />
usados na formação de professores no primeiro segmento do ensino fundamental e como o discurso<br />
expresso em suas obras pode contribuir para a formação dos professores.<br />
Questionar as interações dos professores dentro do seu espaço de formação, como a relação<br />
inserida nos discursos dos livros de Ciências para formação de professores no ensino fundamental, pode<br />
servir de ferramenta para entender a sua prática social (RIBEIRO, 2007). A apropriação deste pensamento<br />
por parte dos professores pode ser entendida também pelo discurso indireto nos cursos de formação de<br />
professores. Esse, entendido por não ser oralizado ou escrito explicitamente, pode ser analisado por sua<br />
prática. Aponta para este aspecto (COHEN, 2008, p.510):<br />
No caso da educação em ciências e em particular dos textos que circulam<br />
nesta esfera da educação, a perspectiva dos estudos do discurso vem<br />
contribuindo para o debate sobre uma série de questões, entre elas, a<br />
produção de textos didáticos.<br />
Ao analisar os discursos encontrados nos livros de ciências destinados a formação dos professores,<br />
pode-se ter um indicativo da proposta de alfabetização científica levantado durante o curso de formação<br />
docente. Esse é um dos indicativos da problemática do ensino de ciências, principalmente nas séries<br />
iniciais do ensino fundamental. O ensino de ciências não deve ser repensado apenas nas propostas<br />
didáticas e pesquisas educacionais destinadas ao ensino regular da educação básica. As práticas e projetos<br />
educacionais envolvendo as ciências também devem ser refletidos durante a formação do professor. Um<br />
182
dos indicativos que servem de parâmetro para o entendimento de como os professores dos primeiros<br />
segmentos do ensino fundamental encaram o ensino de ciências é a escolha dos livros didáticos utilizados<br />
na sua formação, bem como o conteúdo nele expresso. Um indicativo desse trabalho é que além da<br />
pequena carga horária destinada aos ensinamentos sobre didática do ensino de ciências, os discursos neles<br />
apresentados merecem a necessária apreciação.<br />
Problema<br />
Analisando o discurso apresentado nos livros durante a formação dos professores, pode-se<br />
perceber que existe uma tendência a colocar o ensino de Ciências apenas como algo lúdico e maravilhoso,<br />
e não com base na alfabetização científica e formação da cidadania. Além destas ponderações PINTO<br />
(2008) mostra, de forma geral, que desde a carga horária dentro dos cursos de formação até a prática<br />
docente formal, a área de Ensino de Ciências quase sempre é menos valorizada durante o curso de<br />
formação. Tal situação também é colocada por ROSA & TERRAZAN (2001), que procura explicitar tão<br />
situação, por meio de questões envolvendo políticas educacionais, indicando que um dos principais<br />
problemas neste segmento é a prioridade dada a Língua portuguesa e Matemática, fato que vem<br />
prejudicando as outras áreas de conhecimento, como Ciências.<br />
O problema de formação no curso no primeiro segmento do ensino fundamental não pode ser visto<br />
sem uma análise do seu contexto sócio-histórico. O descaso das políticas públicas de ensino há muito<br />
tempo contribuem para que o pensamento dos professores das séries iniciais no Ensino de Ciências seja<br />
esvaziado das contribuições da pesquisa na área.<br />
Objetivo<br />
O objetivo do presente trabalho é compreender de que modo os discursos presentes na formação dos<br />
professores do ensino fundamental podem influenciar na prática educativa.<br />
Metodologia<br />
Foram analisados as coleções de quatro cursos de formação de professores do primeiro segmento do<br />
ensino fundamental no estado do Rio de Janeiro. Os livros são empregados no curso de formação de<br />
professores em nível médio, para a formação de professores do primeiro segmento do ensino fundamental.<br />
Destaca-se para fins de análise mais aprofundada, um curso, na rede privada de ensino, pós-ensino médio,<br />
que possui a duração de 14 meses, divididos em 28 encontros, tendo um livro para cada encontro.Tais<br />
livros são divididos em vários temas pertinentes a formação do professor, tais como: pedagogia,<br />
psicologia, matemática, português, ciências, história, prática de ensino, dente outros conteúdos.<br />
Resultados obtidos<br />
Dos 28 livros do curso de formação de professores, apenas 2 volumes estavam relacionados ao ensino<br />
de Ciências e que foram debatidos por apenas duas semanas. Neste primeiro volume, pode-se perceber que<br />
em suas 159 páginas, não foi apresentado nenhum referencial teórico ao ensino de Ciências. O segundo<br />
volume apenas mostra as principais doenças transmissíveis em crianças, procurando envolver as relações<br />
entre doença-transmissão e sintoma. O restante do primeiro livro se ateve a mostrar a maneira correta de<br />
se montar experiências de Ciências, sobretudo um terrário. A maior parte do livro mostra um roteiro<br />
seqüencial de atividades experimentais que muitas vezes não apresentam relação interdisciplinar e não<br />
representam um aprendizado significativo com a sua realidade social.<br />
No livro Didático das Ciências, ensinando crianças no primeiro grau, módulo único, de 1999, apenas<br />
a página 9 apresenta uma orientação metodológica ao professor, sendo aqui retirada a característica mais<br />
representativas:<br />
183
Considerações<br />
“Para trabalhar com crianças você tem que ser um pouco de criança também.<br />
Você precisará de todos os conhecimentos de Psicologia e de muito amor por<br />
elas. E porque temos experiência disso um pouco mais que você, vamos<br />
mostrar-lhe como tirar partido dos conteúdos de Ciências para motivar seus<br />
alunos e mobilizá-los em aulas alegres, criativas, bonitas, às vezes misteriosas,<br />
investigadoras como o trabalho dos detetives e poéticas como o espírito mágico<br />
infantil.”<br />
O discurso do texto aponta para uma ausência de aprofundamento no conhecimento em ensino de<br />
Ciências, sobretudo um discurso excessivamente paternalista que permeia principalmente o primeiro<br />
segmento do ensino fundamental.<br />
Referências<br />
RIBEIRO, Ruth Marina Lemos and MARTINS, Isabel. O potencial das narrativas como recurso para o<br />
ensino de ciências: uma análise em livros didáticos de Física. Ciênc. educ. (Bauru) [online]. 2007, vol.13,<br />
n.3, pp. 293-309. ISSN 1516-7313.<br />
MARTINS, I. ; JANSEN, M ; ABREU, T. B. ; SANTOS, L. M. F. . Contribuições da análise crítica do<br />
discurso para uma reflexão sobre questões do campo da Educação Ambiental: olhares de educadores em<br />
ciências. Pesquisa em Educação Ambiental (UFSCar), v. 3, p. 129-154, 2008.<br />
LIMA, M. E. C. C., MAUÉS, E. Uma releitura do papel dos professores das séries iniciais no<br />
desenvolvimento e aprendizado de ciências das crianças. Ensaio – Pesquisa em educação em ciências, v.8,<br />
n.2, jan. 2000.<br />
PINTO, L.T. Formação e atuação de professores do primeiro segmento do ensino fundamental: Um estudo<br />
descritivo referente ao ensino de Ciências no município de Duque de Caxias/RJ. 2008. 91 f. Monografia<br />
(pós-graduação lato <strong>sensu</strong> em Ensino de Ciências)-Especialização em Ensino de Ciências. IFRJ/ RJ<br />
unidade Maracanã, Rio de Janeiro.<br />
COHEN, M. C. R.; MARTINS, I. Discursos de profesores de los ciclos iniciales de enseñanza<br />
primaria acerca de las relaciones entre escuela, salud y medio ambiente. Enseñanza de las<br />
Ciencias, v. 26, p. 53-66, 2008.<br />
MOREIRA M.A. MASINI, E.F.S. Aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel, São Paulo:<br />
Editora Moraes, 1982.<br />
FREIRE, P. Professora sim, Tia não: Cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho d‘ água, 1998.<br />
ROSA, D. C.; TERRAZZAN, E. A. Elaboração e implementação de atividades didático-pedagógicas: um<br />
caminho para a educação em ciências naturais nas séries iniciais. In:II ENPEC, Ouro Preto. Atas.<br />
Universidade Federal de Ouro Preto, 2001.<br />
NUNES, C.: Memórias e práticas na construção docente. In. SELLES, E. S.; FERREIRA, M. S. Formação<br />
docente em Ciências. Niterói. Editora: eduff, p. 12- 27. 2003.<br />
184
BRASIL, Ministério de Educação. Secretaria do Ensino Fundamental. Parâmetros Curriculares para o<br />
ensino médio. Brasília: MEC/SEF, 2001.<br />
VASCONCELOS, S.D.; SOUTO, E. ―O livro didático de ciências no ensino fundamental – proposta de<br />
critérios para análise do conteúdo zoológico‖.Ciência & Educação, v. 9, p. 93-104. 2003.<br />
OLHARES SOBRE O CONSELHO DE CLASSE ESCOLAR<br />
Resumo<br />
185<br />
LEITE, Lilian Ianke – UFPR<br />
lilianianke@gmail.com<br />
Eixo temático:<br />
Formação de professores e práticas pedagógicas<br />
O conselho de classe é uma das práticas que compõe o cotidiano escolar. Essa instância colegiada é<br />
formada, em geral, pelo coletivo de professores, equipe pedagógica e direção do estabelecimento de<br />
ensino. Em alguns casos, também contempla a participação de pais e alunos. A ―classe‖ caracteriza-se<br />
pela distribuição dos alunos na instituição escolar, a partir de critérios legalmente estabelecidos. Em<br />
síntese, podemos dizer que o conselho de classe é uma reunião de professores de uma turma, com o<br />
objetivo de avaliar o desempenho individual dos alunos e ou o coletivo de uma determinada classe,<br />
buscando diagnosticar avanços e problemas,bem como propor encaminhamentos que contribuam para a<br />
melhoria do processo de ensino e de´aprednizagem. Essa reflexão é uma síntese de um capítulo da minha<br />
tese de doutoramento, em fase de conclusão. Foi realizada a partir da análise de um conjunto de produções<br />
acadêmicas (teses, dissertações e artigos) localizadas em bibliotecas de instituições de ensino superior e ou<br />
disponibilizadas eletronicamente e que tomaram o conselho de classe como objeto de estudos, publicados<br />
até o final ano de 2007. Nessa incursão a análise foi centrada nas diferentes definições de conselho de<br />
classe, utilizadas pelos pesquisadores no desenvolvimento de seus trabalhos. Compartilhar a síntese das<br />
reflexões que realizei sobre a construção do conceito de conselho de classe, a partir da ótica de<br />
determinados profissionais e pesquisadores é o objetivo desta comunicação.<br />
Palavras-chave: conselho de classe, pesquisas, educação, objeto de estudos<br />
CONHECENDO A GESTÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL A PARTIR DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO<br />
Resumo<br />
Lucilene Cristina Lima Mattoso<br />
lclmattoso@yahoo.com.br<br />
Elvira Cristina Martins Tassoni<br />
cristinatassoni@puc-campinas.edu.br<br />
Eixo Temático:<br />
Pôster<br />
Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong> – S.P<br />
Faculdade de Educação<br />
Este trabalho refere-se às observações obtidas durante o estágio supervisionado vinculado à<br />
disciplina de Gestão da Educação Infantil, que visa estudar a estrutura, a organização e o
funcionamento de instituições de Educação infantil. O estágio foi realizado no período de abril a<br />
junho de 2011, totalizando 51 horas, num Centro Municipal de Educação Infantil (CEMEI) da<br />
cidade de <strong>Campinas</strong>, que atende alunos de três meses a seis anos de idade. Algumas questões<br />
nortearam a ida a campo: como é o dia a dia de uma instituição de Educação Infantil? Quais são<br />
as suas especificidades? Que aspectos são priorizados na proposta pedagógica para esse nível de<br />
ensino? Para buscar as respostas a essas questões, a coleta de dados ocorreu por meio de leitura<br />
de documentos, observação da rotina administrativa e pedagógica, entrevistas com funcionários e<br />
com a gestão. Conhecer na prática as possibilidades em relação ao trabalho pedagógico na<br />
Educação Infantil, envolvendo as relações entre o cuidar e educar; conhecer as dificuldades<br />
enfrentadas no cotidiano, as especificidades que vão desde o mobiliário, a organização dos<br />
espaços e tempos; até as reuniões com funcionários, propiciaram maior conhecimento sobre a<br />
criança, maior compreensão sobre as funções e dimensões do trabalho da gestão na instituição de<br />
Educação Infantil, como também maior conhecimento a respeito das tendências e concepções<br />
pedagógicas presentes nas instituições de Educação Infantil.<br />
Compreender a relação teoria-prática e constatar o quanto é importante um processo que<br />
considere o planejar, o fazer, o avaliar e o refletir, respeitando as características individuais dos<br />
envolvidos em tal processo, é uma das vivências que o estágio supervisionado proporciona ao<br />
graduando.<br />
Palavras chave: estágio supervisionado, formação docente, práticas pedagógicas, educação<br />
infantil, gestão escolar.<br />
Introdução<br />
Este trabalho refere-se às observações realizadas durante o estágio supervisionado<br />
vinculado à disciplina de Gestão da Educação Infantil, no curso de Pedagogia da <strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong>.<br />
O estágio foi realizado no período de abril a junho de 2011, totalizando 51 horas, num Centro<br />
Municipal de Educação Infantil (CEMEI) da cidade de <strong>Campinas</strong>, que atende 302 alunos, sendo<br />
78 de 3 meses a 3 anos, que são atendidos no período integral, e 224 de 3 a 6 anos atendidos em<br />
período parcial.<br />
Questão<br />
A ida a campo foi norteada pela seguinte questão: Como é o dia a dia de uma instituição<br />
de Educação Infantil? Quais são as suas especificidades? Que aspectos são priorizados na<br />
proposta pedagógica para esse nível de ensino? (OSTETTO, 2000).<br />
Objetivos<br />
O estágio teve como objetivo estudar a estrutura, a organização e o funcionamento da<br />
instituição de Educação Infantil, no que se refere ao trabalho pedagógico, envolvendo as relações<br />
entre o cuidar e educar. Também visou identificar as dificuldades enfrentadas no cotidiano da<br />
instituição, as especificidades quanto ao mobiliário, à organização dos espaços e tempos, aos<br />
momentos de planejamento e formação em serviço (OSTETTO, 2000).<br />
Método<br />
186
O estágio contemplou a inserção por dois meses na instituição-campo, a fim de vivenciar<br />
o dia a dia da mesma. Contou com os seguintes instrumentos de coleta de dados: a) leitura de<br />
documentos, b) observação da rotina administrativa e pedagógica, c) entrevistas com funcionários<br />
e com membros da equipe gestora.<br />
Resultados obtidos<br />
Referente à formação dos profissionais da instituição, constatamos que dos 50<br />
funcionários da instituição, em sua maioria concursados, 30% trabalha a mais de 10 anos na<br />
instituição e outros 25% atua há pouco mais de 2 anos. Deste total, 36% possui formação<br />
(graduação e pós-graduação) na área da Educação e 30% possui nível médio de escolaridade,<br />
32% ensino fundamental (sendo que 5 incompletos) e 2 % não possui nenhuma escolaridade.<br />
Importante ressaltar que algumas agentes de educação estão cursando Pedagogia, sendo que<br />
algumas pelo PARFOR 1 (Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica).<br />
O Projeto Pedagógico baseia-se nos pressupostos teóricos de Piaget, Vigotski e Wallon,<br />
considerando a necessidade da promoção de práticas de educação e de cuidados que possibilitem<br />
a integração dos aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivos e sociais da criança. O<br />
currículo organiza-se por temas geradores. Está embasado em documentos legais como LDB<br />
9394/96, ECA, RCNEI, ―Currículo em Construção‖ – documento específico da prefeitura<br />
municipal de <strong>Campinas</strong> e nos Indicadores de Qualidade para a Educação Infantil.<br />
Nas entrevistas relataram que este é o primeiro planejamento construído coletivamente<br />
pelos professores, monitores e/ou agentes de educação e gestores. Pois desde a chegada dos<br />
‗novos funcionários‘, em 2009, os planejamentos estavam no período de receberem somente<br />
adendos, conforme orientação da Secretaria de Educação do Município de <strong>Campinas</strong>, constando<br />
alterações no projeto validado em 2008.<br />
1- PARFOR é um plano emergencial, que visa a assegurar a formação exigida na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB para<br />
todos os professores que atuam na rede pública de educação básica, oferecendo, gratuitamente, cursos superiores de qualidade. O plano é<br />
executado em regime de cooperação entre a CAPES, o MEC, as secretarias de educação dos estados e municípios e as instituições públicas e<br />
comunitárias de ensino superior. Como a demanda de professores com nível superior na cidade de <strong>Campinas</strong> está bem atendida, a Secretaria<br />
Municipal de Educação ofertou vagas aos Agentes de Educação Infantil/Monitores Infanto-Juvenis.<br />
Nos momentos de observação da rotina diária foi possível detectar que o trabalho<br />
pedagógico valoriza o brincar e busca a formação da autonomia. Foi possível observar a rotina<br />
diária dos três tipos de agrupamentos que a instituição atende, conhecendo as particularidades de<br />
cada período – integral, parcial manhã e parcial tarde. E assim constatar que tais aspectos<br />
realmente são bastante valorizados pelos educadores. As crianças são estimuladas para<br />
desenvolverem o lúdico em vários momentos e espaços, nos parques, na brinquedoteca, na<br />
biblioteca e até nas salas de aula isto é muito evidenciado.<br />
No que se refere à autonomia, o aprender a ser um indivíduo autônomo, mesmo com os<br />
pequenos, no caso os do Agrupamento 1 (crianças de 0 a 18 meses de idade), são estimulados a<br />
realizarem pequenas atividades sozinhos como: comer, guardar brinquedos, escolher livros na<br />
biblioteca, reconhecer seus pertences.<br />
Como as salas de aula são de dimensões pequenas, os espaços externos são bastante<br />
valorizados pelas educadoras e apreciados pelas crianças. Há um cronograma para a utilização<br />
dos espaços comuns. Assim todas as turmas utilizam todos os espaços comuns externos, no<br />
mínimo uma vez por semana, por um tempo de 40 minutos.<br />
187
Buscando solucionar o problema de espaço adequado, a maioria das salas trabalha com<br />
―cantinhos‖, numa perspectiva freineriana, uma forma que algumas educadoras consideram como<br />
a melhor para incentivar as crianças a escolherem quais atividades querem participar, o dividir o<br />
mesmo espaço/brinquedos com outras crianças. Normalmente apresentam 4 cantos fixos, sendo<br />
que 3 são com atividades lúdicas. Até a Brinquedoteca foi recentemente reorganizada enfocando<br />
cantos fixos também. Para utilização dos espaços externos como biblioteca, brinquedoteca e<br />
parques há um cronograma que define horário, dia da semana e turma que utilizará qual espaço.<br />
Os momentos de planejamento e formação acontecem na instituição, seguindo um<br />
calendário e cronograma enviado pela Secretaria Municipal de Educação. Trabalho Docente<br />
Coletivo (TDC) e Grupo de Estudos do Monitor (GEM), ocorrem semanalmente; Reunião<br />
Pedagógica de Avaliação Institucional (RPAI), ocorre semestralmente; Formação Continuada<br />
(FC), que ocorre trimestralmente, além das Reuniões de Pais (RP) e das Reuniões de Conselho<br />
Escolar (CE).<br />
De todos estes momentos, destacaremos dois que consideramos essenciais para a<br />
instituição, como forma de troca de experiências e vivências e também de expectativas e<br />
reflexões acerca de uma educação com qualidade e uma instituição que busca o bem estar de seus<br />
alunos.<br />
Nas reuniões semanais de TDC há sempre um estudo dirigido por um professor, que se<br />
compromete a trazer um tema importante para a formação docente para socializar com os demais.<br />
Nessa apresentação deve haver uma abertura com uma poesia, poema, música ou vídeo. Na<br />
sequência acontece o estudo do tema em si, que deve iniciar com um debate ou uma roda de<br />
conversa sobre o que grupo já conhecia do tema, ou questionamentos sobre o que não conheciam.<br />
Esta reunião faz parte da jornada de trabalho dos professores. Porém como se definem<br />
muitas ações, atividades para a escola de maneira geral, a gestão abriu para a participação das<br />
agentes de educação/monitoras, tanto como expectadoras como expositoras de um tema. O que<br />
contribui para formação e estudo do grupo de educadoras como um todo.<br />
Na RPAI como o próprio nome já diz, é um momento de avaliação da instituição para se<br />
saber quais os pontos fortes da escola, quais os que ainda precisam ser melhorados, abertura para<br />
sugestões e questionamentos para melhoria ou esclarecimento de dúvidas surgidas referentes a<br />
algum procedimento. Além disso, se evidencia o compromisso em realizar o que é possível com<br />
os recursos disponíveis. A RPAI, foi montada com base nos Indicadores da Qualidade da<br />
Educação Infantil, sob supervisão do Núcleo de Atendimento Educacional Descentralizado –<br />
NAED – da região Sudoeste (onde se localiza o CEMEI) e a unidade pesquisada é uma das<br />
pertencentes ao projeto piloto desta avaliação. A partir de 2012 ela será obrigatória em toda a<br />
rede municipal de ensino de <strong>Campinas</strong>.<br />
Em conversa com a vice-diretora questionamos qual era a maior dificuldade que a gestão<br />
enfrentava. E ela respondeu que a falta de profissionais e os poucos recursos financeiros são as<br />
maiores dificuldade em realizar melhorias físicas na unidade. É de conhecimento de todos os<br />
funcionários as várias melhorias que o prédio necessita e que refletiria positivamente na<br />
qualidade da educação oferecida para as crianças.<br />
A estrutura da escola ainda necessita de muitos reparos e reformas como: aumento do<br />
solário e reforma da sala de troca/banho do Agrupamento 1; reforma do refeitório maior,<br />
utilizado pelos Agrupamentos 2 (alunos de 1 ano e meio a 3 anos de idade) e 3 (alunos de 3 a 6<br />
anos de idade); mais banheiros e lavatórios; cobertura de um dos pátios; sistema de drenagem de<br />
água pluvial da parte de baixo da escola. Alguns itens serão resolvidos em uma reforma e<br />
188
ampliação que está programada para ocorrer em 2012. Outros a direção tenta resolver na medida<br />
em que tem recursos financeiros disponíveis para este fim.<br />
Considerações<br />
Os estudos teóricos sobre a infância trazem possibilidades de compreender a importância<br />
de um processo que considere o planejar, o fazer, o avaliar e o refletir, respeitando as<br />
características individuais das crianças envolvidas em tal processo (OLIVEIRA, 2010).<br />
É importante reconhecer o papel da Gestão na promoção da valorização do trabalho em<br />
equipe, que tem objetivos comuns definidos e conhecidos por todos integrantes, visando ao bem<br />
estar da criança que atende. Independente das dificuldades em se administrar uma instituição<br />
escolar, considerando todas as relações que se estabelecem a partir dela e com ela, ficou<br />
evidenciado o quanto é importante se estabelecer relações de transparência com todos envolvidos,<br />
assim como a valorização para a formação profissional, fazendo com que resultados positivos se<br />
ampliem.<br />
Referências Bibliográficas<br />
OSTETTO, Luciana Esmeralda (org.). Encontros e encantamentos na educação infantil.<br />
<strong>Campinas</strong>: Papirus, 2000.<br />
OLIVEIRA, Zilma de. Educação infantil: muitos olhares. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2010.<br />
A ATIVIDADE LÚDICA NAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DOS INGRESSANTES NO ENSINO<br />
FUNDAMENTAL: UMA ANÁLISE DAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA<br />
1.1<br />
Maria Salete Pereira Santos<br />
Maria Silvia Pinto de Moura Librandi da Rocha<br />
Programa de Pós-Graduação em Educação - <strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong><br />
Formação de professores e prática pedagógicas - Pôster<br />
Agência de fomento - CAPES<br />
mariasaletinha@hotmail.com<br />
Introdução<br />
O fio condutor desta pesquisa é conhecer experiências de atividade lúdica no 1º ano do Ensino<br />
Fundamental (EF) em uma escola da Rede Municipal de <strong>Campinas</strong>-SP. Com a promulgação da lei<br />
11.274/06 que determina a ampliação do EF, temos novos sujeitos para esta etapa de escolarização e,<br />
consequentemente, novas reflexões se impõem a todos os que se relacionam com a educação. O Ministério<br />
da Educação (MEC) delibera para esta ampliação do ensino alguns objetivos e, dentre eles, o que nos<br />
importa discutir mais especificamente, são os relacionados à construção de um novo currículo e da<br />
presença da atividade lúdica neste. O seguinte excerto, extraído de um dos documentos publicados pelo<br />
MEC para servirem de guias orientadores da construção do novo EF, ilustra a importância dada a este<br />
tema:<br />
Partindo do princípio de que o brincar é da natureza de ser criança, não poderíamos<br />
deixar de assegurar um espaço privilegiado para o diálogo sobre tal temática<br />
189
[procurando entender] o brincar como um modo de ser e estar no mundo; o brincar como<br />
uma das prioridades de estudo nos espaços de debates pedagógicos, nos programas de<br />
formação continuada, nos tempos de planejamento; o brincar como uma expressão<br />
legítima e única da infância; o lúdico como um dos princípios para a prática pedagógica;<br />
a brincadeira nos tempos e espaços da escola e das salas de aula; a brincadeira como<br />
possibilidade para conhecer mais as crianças e as infâncias que constituem os anos/séries<br />
iniciais do ensino fundamental de nove anos. (Brasil, 2006b, p. 11-12).<br />
Pesquisas realizadas por Rocha (2009) desde 2006 em turmas de primeiros anos de unidades<br />
municipais nos apresentam o seguinte panorama: dificuldades em realizar atividade lúdica na sala de aula<br />
(ela aparece em situações de sobra de tempo ou para relaxar de outras atividades); fragilidade nos<br />
argumentos por parte do corpo docente para explicar a importância da brincadeira para os pais; exigência<br />
das famílias dos alunos de primeiros anos de que o ensino ocorra quase exclusivamente nas esferas da<br />
leitura, escrita e conhecimentos matemáticos. A constatação de Gorni (2007) de que a ampliação do novo<br />
EF precisaria de um maior tempo e melhor estrutura para sua implantação e implementação, evidenciando<br />
o despreparo dos profissionais nas escolas paranaenses, parece ser aplicável à maior parte dos sistemas de<br />
ensino brasileiros. Conforme Dantas (2009) algumas preocupações atravessam o trabalho de implantação<br />
do novo EF, como: desestrutura física e pedagógica na recepção da criança de seis anos; insegurança das<br />
professoras sobre o conteúdo e estratégias a serem contemplados no cotidiano escolar; ênfase na<br />
alfabetização e letramento; fragilidade em reconhecer a prática educativa como ―universo simbólicosócio-cultural<br />
das crianças‖ ( p.117).<br />
Sendo assim, um primeiro quadro que vemos nos permite afirmar que mesmo com a indicação do<br />
MEC sobre a importância de que se incluam as brincadeiras neste tempo ampliado de escolarização e na<br />
construção de um novo currículo, o cotidiano escolar dos ingressantes não tem sido construído desta<br />
forma. Entretanto, informações dadas pelos pais, professoras e crianças registram que as brincadeiras têm<br />
sido incluídas no cotidiano escolar, sobretudo mencionando a aula de Educação Física. Nossos contatos<br />
com escolas permitem-nos, porém, problematizar se e de que forma estas atividades estão, de fato, sendo<br />
incorporadas nestes espaços e tempos peri-sala de aula.<br />
No que diz respeito à formação de professores de Educação Física, sabemos que, classicamente,<br />
ocorre um privilégio aos jogos do tipo exercícios e/ou regras. Cabe ressaltar que Parâmetros Curriculares<br />
Nacionais de Educação Física (PCN) aborda a ludicidade, entendida como :<br />
[...] o lúdico é visto como necessariamente satisfatório e como sinônimo de ausência de<br />
técnica ou, no mínimo, como descompromisso com a eficiência. Em oposição, em busca<br />
da eficiência técnica é atribuído um caráter de seriedade e de mecanicismo, pautado em<br />
critérios de desempenho via de regra equivocados. Se, de fato, as atividades lúdicas<br />
contêm um caráter de fruição, de liberdade, de prazer e de improvisação, também é fato<br />
que constituem um universo de desafios na direção da eficiência e do aperfeiçoamento<br />
técnico. E vice-versa, todo esforço na direção do aperfeiçoamento técnico, seja em que<br />
grau for, pode e deve ser fonte de satisfação e prazer. (BRASIL, 1997, p.47)<br />
Entendendo que a nossa discussão nesta pesquisa se interessa em especial pelos os jogos de fazde-conta,<br />
procuramos assim perceber se esta modalidade se faz presente no cotidiano dos ingressantes do<br />
novo EF, levando também em conta as particularidades apresentadas pela disciplina que será nosso objeto<br />
de estudo.<br />
Desta forma, para embasar nossas reflexões consideramos a atividade lúdica do ponto de vista da<br />
Psicologia Histórico-cultural, sobretudo a partir dos trabalhos de L. S. Vygotsky, A. N. Leontiev e D. B.<br />
Elkonin.<br />
Objetivos<br />
190
Investigar a ocorrência de atividade lúdica com crianças ingressantes no primeiro ano do novo EF,<br />
nas aulas de Educação Física.<br />
Objetivos específicos<br />
Buscaremos, com o trabalho de campo, identificar:<br />
(i) se e como ocorrem episódios de atividade lúdica;<br />
(ii) dentre as diferentes modalidades de brincadeiras, se a prática pedagógica privilegia alguma(s)<br />
dela(s);<br />
(iii) de que modo(s) o faz-de-conta está sendo contemplado<br />
Metodologia<br />
Para um estudo que quer conhecer as práticas pedagógicas do 1º ano do EF incluindo o faz-deconta<br />
como ferramenta fundamental do desenvolvimento, utilizaremos o modelo de pesquisa qualitativa;<br />
tal pesquisa tem como fonte de dados o ambiente natural, conforme Lüdke e André (1996, p.11). Para o<br />
desenvolvimento desta pesquisa utilizaremos, com vistas à construção do material empírico, a observação<br />
participante, e a entrevista semi- estruturada, atentas, sobretudo às seguintes características destes<br />
procedimentos: visar à descoberta de fenômeno novo, enfatizar a interpretação dos protagonistas no<br />
contexto pesquisado e buscar compor um retrato da realidade de forma concreta e profunda.<br />
A escolha deste campo aconteceu a partir de uma reunião com as Coordenadoras Pedagógicas do<br />
EF e da Educação Infantil (EI) no Núcleo de Ação Educativa Descentralizada i (NAED) da região<br />
Sudoeste de <strong>Campinas</strong>.<br />
Realizaremos também análise documental, através de (i) leitura analítica da documentação da<br />
escola (Projeto Político Pedagógico, Planejamento do Ciclo, Plano de disciplina dos professores); (ii)<br />
estudo da documentação da Secretaria Municipal de Educação que orienta a inclusão das crianças de seis<br />
anos no novo Ensino Fundamental.<br />
Desenvolvimento<br />
Este estudo inicia-se com revisão bibliográfica que nos permitiu aprofundar nossos conhecimentos<br />
teóricos sobre a importância da atividade lúdica no desenvolvimento infantil. Sabendo que os documentos<br />
oficiais referenciam a teoria Histórico-cultural, enfatizando a importância da atividade lúdica integrada ao<br />
currículo dos anos iniciais do EF, valorizando o brincar e, especialmente, o faz-de-conta, buscaremos<br />
centrar nosso aprofundamento teórico nesta matriz da Psicologia.<br />
Foi realizada pesquisa inicial na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD) e no Scielo,<br />
com intuito de verificar que trabalhos científicos têm sido produzidos considerando nosso objetivo e a<br />
abordagem teórica que adotamos. Para esta verificação, utilizamos os descritores: atividade lúdica, faz-deconta,<br />
brincadeira e ensino fundamental de nove anos. Com isso, constatamos que para os descritores<br />
apresentados nove pesquisas tem relação com nosso estudo (oito no 1ª banco de dados e uma no 2º banco<br />
de dados) ora referindo-se à abordagem teórica e ora referindo-se à política de ampliação do EF; porem,<br />
não foram encontradas pesquisas que busquem olhar o faz de conta nos espaços peri-sala de aula,<br />
conforme nos propomos a fazer.<br />
Buscaremos, com o prosseguimento da pesquisa bibliográfica, identificar trabalhos<br />
contemporâneos que aprofundem e expandam a tese de Vygotsky (1994), que aponta o jogo de faz-deconta<br />
como atividade especialmente promissora para criação de zonas de desenvolvimento proximal e a<br />
tese de Leontiev (1978,1988), que o considera como atividade principal da infância. Nesta mesma direção,<br />
apoiando-nos em Elkonin (1998), buscaremos trabalhos que re-afirmem a importância da participação do<br />
professor no faz-de-conta para o surgimento e desenvolvimento da capacidade de brincar das crianças.<br />
A partir desta fundamentação, e entendendo que o faz de conta, contribui para processos<br />
psicológicos fundamentais do desenvolvimento humano, procuraremos discutir, e problematizar as<br />
191
experiências que encontraremos, tendo em vista o local de destaque que tal atividade precisa ocupar nas<br />
instituições educacionais.<br />
Resultados Parciais<br />
Os primeiros resultados encontrados para esta pesquisa dizem respeito a revisão bibliográfica, que<br />
nos mostra como a atividade lúdica tem acontecido no cotidiano dos ingressantes de nosso pais de forma<br />
muito tímida na sala de aula, Rocha (2009). Contudo é possível afirmar que mesmo com as pesquisas<br />
realizadas faz-se necessário discutir na formação dos professores de Educação física que aspectos ligados<br />
a atividade lúdica envolve-se em sua prática.<br />
Pretendemos também que os resultados deste trabalho tragam contribuições para aprimorarmos<br />
nossos conhecimentos sobre a construção do novo EF, especialmente no que diz respeito à garantia de um<br />
currículo composto por múltiplas atividades, de modo a proporcionar oportunidades para o<br />
desenvolvimento psicológico, em suas diversas esferas.<br />
Considerações Finais<br />
Partindo dos indícios de que existe uma lacuna no que diz respeito aos estudos sobre atividade<br />
lúdica fora da sala e que, como pudermos constatar em Rocha (2009), que as crianças brincam em espaços<br />
e tempos fora da sala de aula, entendemos que aprofundar os estudos nesta esfera constituir-se-á em uma<br />
importante contribuição para compreendermos as formas de implementação do novo EF. Há boas pistas de<br />
que encontraremos experiências de brincadeiras nos espaços a serem observados; entretanto, cabe<br />
investigar que brincadeiras são estas, buscando identificar de modo minucioso se o jogo simbólico tem<br />
sido contemplado, visto que pesquisas acadêmicas têm discutido e apresentado a importância da atividade<br />
lúdica e do faz de conta, mas não tem levado em consideração a relação entre o novo EF e os espaços no<br />
qual estas brincadeiras acontecem.<br />
Referências Bibliográficas<br />
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais : Secretaria de<br />
Educação Fundamental. – Brasília : MEC/SEF, 1997, disponível em<br />
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro06.pdf, acesso em 27 de maio de 2011.<br />
_______. Ensino Fundamental de 9 anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. 2.<br />
ed. Brasília: MEC/SEB, 2006.<br />
DANTAS, A. G. Ensino Fundamental de nove anos no Distrito Federal: reflexões sobre a inserção de<br />
crianças de seis anos no Ensino Fundamental público e a atuação Docente. Dissertação: (Mestrado em<br />
Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde). Brasília: Universidade de Brasília, 2009.<br />
ELKONIN, D. B. Psicologia do Jogo. Martins Fontes: São Paulo, 1988.<br />
GORNI, Doralice Aparecida Paranzini. Ensino Fundamental de 9 anos: estamos preparados para implantálo?.<br />
Ensaio: aval.pol.públ.Educ., Rio de Janeiro, v. 15, n. 54, mar. 2007 .<br />
LEONTIEV, A. N. A aprendizagem e o desenvolvimento intelectual na idade escolar. In: VYGOTSKI, L.<br />
S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone,<br />
1989.<br />
192
LUDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU,<br />
1986.<br />
ROCHA, M. S. P. M. L. A atividade lúdica, a criança de 6 anos e o ensino fundamental.Revista Semestral<br />
da associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional.v.13, n.2, p. 203- 212, 2009.<br />
SILVA, D. N. H. Imaginação, criança e escola: processos criativos na sala de aula. Tese: (Doutorado em<br />
Educação). <strong>Campinas</strong>: Universidade Estadual de <strong>Campinas</strong>, 2006.<br />
VIGOTSKI, L.S. (1988). A formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1988.<br />
“O PAPEL DO EDUCADOR NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOS ADOLESCENTES A PARTIR<br />
DAS QUESTÕES DE GÊNERO E SEXUALIDADE”<br />
Resumo<br />
193<br />
Morena Juliana Amancio<br />
Graduada em Ciências Sociais<br />
Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong><br />
Formação de professores e práticas pedagógicas<br />
Pôster<br />
morena_amancio@hotmail.com<br />
Discutir sexualidade e identidade de gênero na contemporaneidade ainda é um grande desafio,<br />
pois este assunto aparece de forma constrangedora e preconceituosa em nossa sociedade. Isso fica<br />
mais evidente no ambiente escolar, onde os estereótipos masculinos e femininos estão fortemente<br />
marcados com divisão social entre homens e mulheres. O presente trabalho realizado para a<br />
conclusão do curso de Ciências Sociais da <strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong>, no ano de 2010, foi realizado com<br />
alunos do 9º ano da escola CIC Eduardo Von Zuben, localizado na cidade de Vinhedo – SP. Teve<br />
como objetivo geral, primeiramente mostrar como ocorre à participação dos educadores e da<br />
própria instituição escolar na construção da identidade dos adolescentes, a partir das questões de<br />
gênero e de como os signos e significados são abordados, principalmente das questões referentes<br />
ao corpo e a sexualidade que rodeiam o universo dos adolescentes. O trabalho foi dividido em<br />
quatro capítulos. No primeiro capítulo apresenta-se com a definição do conceito de gênero e seu<br />
surgimento nas ciências humanas sobre as perspectivas de autores como: Krafft-Ebing (1840),<br />
Freud (1856), Havelock Ellis (1859), Malinowski (1884) e Haraway (2004). No capítulo dois<br />
apresenta-se uma análise de como as questões de gênero perpassam o universo escolar. São<br />
utilizados os conceitos de Louro (2007) para as definições de ambiente escolar, marcadores<br />
sociais e a importância da instituição escolar no processo de consolidação do conhecimento e da<br />
identidade do indivíduo. No terceiro capítulo há o relato da pesquisa de campo junto aos alunos e<br />
finalmente no quarto capítulo conclui-se a importância da criação de um espaço de discussão e<br />
reflexão sobre as questões de gênero e sexualidade dentro do ambiente escolar. Os métodos<br />
utilizados para este trabalho foram: o levantamento bibliográfico, as entrevistas semi-estruturadas<br />
com os adolescentes e a observação participante. Após freqüentar a escola, as conversas<br />
informais com os alunos e a observação participante, chegou-se a conclusão da necessidade da<br />
criação de um espaço de discussão mais consistente que não fossem somente a sala de aula, pois
o assunto predominantemente nas rodas de conversas entre os adolescentes eram, sobretudo sobre<br />
as questões relacionadas à sexualidade, corpo,papéis sociais e consequentemente de gênero.<br />
Palavras chaves: Estudos de Gênero, Sexualidade e Adolescência.<br />
EDUCAÇÃO ARISTOCRÁTICA NO TERCEIRO PERÍODO PRODUTIVO DE NIETZCHE<br />
RESUMO<br />
194<br />
Patricia Nunes Arantes<br />
Faculdade de Direito<br />
Prof. Dr. Samuel Mendonça<br />
Eixo temático: Práticas Pedagógicas e Formação do Educador<br />
Título: Educação Aristocrática no terceiro período produtivo de Nietzsche<br />
E-mail: pattylia13@hotmail.com<br />
A presente proposta tem por objetivo expor a investigação realizada acerca da chamada educação<br />
aristocrática, fundamentada nos fragmentos póstumos referentes ao terceiro período da vida produtiva de<br />
Friedrich Nietzsche. Esta investigação é realizada no grupo de pesquisa Direito à Educação, no contexto<br />
do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação, sob a coordenação do Prof. Dr. Samuel<br />
Mendonça. Os fragmentos póstumos, Nachlass, fazem parte dos três períodos produtivos de Nietzsche,<br />
pois tratam-se de anotações feitas ao longo do desenvolvimento de suas obras e de seu próprio<br />
pensamento. Neste sentido, os fragmentos têm "vida própria", na medida em que uma compreensão mais<br />
profunda das obras nietzschianas se dá a partir deles, ao revelar uma escrita mais íntima do filósofo, dado<br />
que o filósofo não vislumbrava sequer que aqueles fossem publicados. Assim, a questão que norteia esta<br />
investigação baseia-se na pergunta: há elementos de fundamentação de uma educação aristocrática nos<br />
escritos do terceiro período de Friedrich Nietzsche? Por educação aristocrática entendemos a educação de<br />
excelência, que possibilita ao aluno se tornar autodidata, no sentido daquele que buscará sua autocrítica e<br />
sua autossuperação, ou seja, a partir da vontade de potência. A vontade de potência (Der Wille zur Macht)<br />
é um dos termos centrais do pensamento do filósofo do eterno retorno e diz respeito, em linhas gerais, às<br />
forças internas e externas do homem e da natureza. A relevância da investigação justifica-se no campo de<br />
fundamentos da educação ao propor a revaloração da maneira como, atualmente, o ensino é concebido.<br />
Esta proposta não almeja estabalecer um modelo educacional, mas, de outra forma, trazer consigo a<br />
possibilidade de ressignificar ou repensar o modelo educacional tido como preponderante até o presente<br />
momento, isto é, o modelo educacional que indica a relação necessária entre o professor e o aluno. No que<br />
se refere ao método, acolheu-se aquele utilizado pelo próprio filósofo da vontade de potência: o<br />
perspectivismo. Este método consiste em não adotar nenhuma verdade como derradeira e absoluta, mas<br />
em considerar a possibilidade de outras tantas interpretações. Os resultados pretendidos baseiam-se na<br />
afirmação e fundamentação da educação aristocrática a partir dos escritos de Nietzsche.<br />
Palavras-chave: Nietzsche, educação aristocrática, fragmentos póstumos.<br />
INTRODUÇÃO<br />
Este trabalho contempla, ao mesmo tempo, três temas de difícil exposição. O primeiro deles é a educação,<br />
assunto ampla e historicamente explorado, já teve sobre si obras das mais diversas vertentes sem jamais se<br />
esgotar, visto que se renova, ou deveria se renovar, a todo momento. O segundo é Friedrich Nietzsche,<br />
com certeza um dos maiores pensadores do século XIX, incompreendido em sua época, e por vezes<br />
repreendido por possuir ideias a frente de seu próprio tempo. O estudo de seus textos demonstra uma<br />
riqueza inestimável e de grande potencial no campo da filosofia da educação. Por derradeiro, o terceiro
tema aqui presente pauta-se no aristocrata e na aristocracia de que fala Nietzsche, relacionado à educação,<br />
fundamentando assim a chamada educação aristocrática. A predileção pelo terceiro período do Solitário de<br />
Sils-maria recai em diversos motivos: é aquele que traz o apogeu de suas ideias, a expressão de seus<br />
pensamentos de maneira mais agressiva e reveladora que os períodos antecedentes. É aqui que Nietzsche<br />
anuncia a doutrina do eterno retorno, e, de maior importância para nossa investigação, aborda a vontade de<br />
potência (Der Wille zur Macht), a constante superação, construção e destruição da realidade pulsante. "A<br />
vontade de potência se caracteriza por uma contínua superação de si e por um constante tornar-se mais,<br />
tornar-se mestre, tornar-se senhor" (ALMEIDA, 2005, p. 167). É também nesse período, impelido pela<br />
doença, que o filósofo acredita obter um maior conhecimento de si, denotando a importância da solidão<br />
para o autoconhecimento e autodesenvolvimento. A solidão traz consigo a honestidade intelectual e a<br />
busca da excelência, na medida em que faz evidenciar ao homem o que ele é, trazendo-lhe a vida<br />
individual. Esta vida é incomum, genuína e singular, e aponta para a consciência do homem. A ela se<br />
contrapõe a vida coletiva, majoritária, comum e política, pressupostos da massificação e, por<br />
consequência, da igualdade e ausência de singularidade. Por isto, "muitas vezes o homem doente é mais<br />
saudável na sua alma que o homem são" (NIETZSCHE, 2005, p. 53). A predileção pelo terceiro período<br />
recai, sobretudo, no fato de ser ele o mais produtivo, ter sido ainda pouco explorado no mundo, e menos<br />
ainda em nosso país, possuir escassa tradução para a língua portuguesa, e ser quase inexistente o<br />
mapeamento de seus fragmentos póstumos.<br />
Neste sentido, é importante esclarecer, de maneira breve, o que são os chamados fragmentos<br />
póstumos. Os fragmentos póstumos, Nachlass, são escritos que perpassam toda a vida produtiva do<br />
filósofo da vontade de potência, eles transcrevem, portanto, o desenvolvimento do próprio Nietzsche, de<br />
sua potencialidades, na medida em que fornecem a possibilidade de conhecer as ideias mais intimas do<br />
filósofo, que sequer vislumbrava que seus fragmentos viessem a ser publicados. É assim, senão a<br />
oportunidade de compreender, ao menos acompanhar com maior profundidade o caos de genialidades que<br />
é fornecido pelo pensamento paradoxal do Discípulo de Dionísio. São nos Nachlass que as menções ao<br />
aristocrata aparecem com maior frequência, denotando a maturação das ideias do filósofo e o destaque que<br />
tal aristocrata possuía neste desenvolvimento.<br />
Mostra-se de grande importância salientar que em momento algum Nietzsche fala em uma<br />
educação aristocrática, esta possível relação é vista primeiramente em Mendonça (2009), que explora a<br />
possibilidade de fundamentar tal educação a partir das ideias de Nietzsche.<br />
A aristocracia de que fala o solitário de Sils-Maria não conserva o sentido corrente, referente às<br />
classes dominantes do sistema capitalista. A significação utilizada pelo filósofo, segundo Mendonça<br />
(2009), refere-se a origem da palavra nos termos grego aristós e cratios. O primeiro quer significar<br />
excelência, enquanto o último conota gestão, governo. Logo, a aristocracia é aquela em que os indivíduos<br />
governam sua própria excelência (MENDONÇA, 2009). A educação aristocrática seria, portanto, aquela<br />
em que o indivíduo se torna autodidata, capaz de construir sua própria tábua de valores, capaz de<br />
conhecer, e antes, se autoconhecer, despido-se das amarras sociais impetradas à ele em anos de<br />
domesticação social. Tal educação, revela-se assim uma busca individual e que exige daquele que a<br />
escolhe ser duro consigo mesmo, na medida em que terá que abrir mão de tudo aquilo que até então lhe<br />
parecia uma verdade imutável. Ou seja, desconstruir para, então, construir novamente, mas não na<br />
perspectiva de que esta seja uma obra finda, mas apenas mais uma construção que a qualquer momento<br />
terá, e deverá ser reconstruída.<br />
MÉTODO<br />
O método de abordagem do pensamento nietzschiano aqui utilizado, é aquele também escolhido<br />
pelo filósofo da Vontade de Potência: o perspectivismo. Que consiste em não adotar nenhuma verdade<br />
como única e absoluta, mas, de outra forma, visualizá-la como uma dentre inúmeras maneiras possíveis de<br />
interpretação de um objeto de estudo. Assinala Mendonça que ―o foco do perspectivismo é, sobretudo,<br />
interpretação, que credita ao homem a possibilidade de revalorar os valores no mundo‖ (2009). Revalorar,<br />
195
por sua vez, é um termo próprio de Nietzsche, e assinala a ideia de desconstrução de todo conhecimento<br />
prévio e viciado, a chamada filosofia a golpes de martelo, presente de maneira marcante na obra<br />
Crepúsculo dos Ídolos (2008).<br />
O método de exposição, todavia, por se tratar de pesquisa em filosofia da educação, é<br />
bibliográfico, e consiste na análise de textos de Nietzsche e importantes intérpretes e tradutores como<br />
Mendonça (2009) e Khote (2004).<br />
CONCLUSÕES<br />
Após extenso número de leituras e intensa dedicação, a educação aristocrática mostrou-se possível<br />
desde que pautada inicialmente na vida aristocrática (MENDONÇA, 2009). Esta vida seria marcada<br />
principalmente por três elementos: solidão, autossuperação e autocrítica. A solidão é aquela que propicia<br />
ao indivíduo a oportunidade de desvencilhar-se do engodo em que foi envolvido durante toda a vida,<br />
tornar-se senhor de si a partir do autoconhecimento. Este autoconhecimento é pressuposto para a<br />
auotocrítica, pois a partir do momento em que o sujeito inicia seu conhecimento de fato, e se torna capaz<br />
da autocrítica, então poderá começar sua autoconstrução e, quiçá, a critica sobre pensamentos alheios.<br />
Para que essa autocrítica se consolide será necessária uma autossuperação contínua, na medida em que a<br />
maior dificuldade e a maior virtude da construção de um conhecimento está em se desdizer, ou seja,<br />
desconstruir e construir novamente num ciclo contínuo, que tem como único fim a busca pelo saber.<br />
As possíveis contribuições da filosofia nietzschiana no campo da educação são de extensão e<br />
riqueza ainda pouco conhecidas, mas com imenso potencial de desenvolvimento. Sendo assim a educação<br />
aristocrática, que credita ao homem a possibilidade de construção do próprio conhecimento, é tão somente<br />
uma, dentre várias outras maneiras de relacionar Nietzsche e a educação. A investigação realizada bem<br />
como a própria educação aristocrática, portanto, não possui o intuito de servir como modelo a ser seguido,<br />
mas, de outra forma, tornar clara a necessidade de buscar outros olhares sobre o ensino, abandonando o<br />
modelo educacional reprodutivista que vigora na sociedade hodierna. Em outras palavras uma educação<br />
de excelência, como pode ser vislumbrada através da educação aristocrática, pode também ser vista sob a<br />
óptica de muitas outras vertentes, sendo exatamente esta a maior conquista de nossa investigação, suscitar<br />
outros tantos caminhos a serem explorados. Afinal, ser sempre horizonte, e, portanto, nunca findo é o que<br />
pretende a filosofia nietzschiana e é isso que se almeja transpor para a educação. O pensamento inacabado<br />
de que sempre haverá mais e mais territórios do conhecimento desejosos de serem explorados de maneira<br />
diversa, e para cada pergunta um infinito de possíveis respostas que paradoxalmente se contradizem e se<br />
completam, elementos que tornam a busca pela educação um ciclo que, apesar de contínuo é sempre novo.<br />
REFERÊNCIAS<br />
MENDONÇA, S. Educação Aristocrática em Nietzsche: perspectiva e autosuperaçäo do sujeito. (Tese de<br />
Doutorado). <strong>Campinas</strong>. Unicamp, 2009.<br />
KHOTE, F. In Nietzsche, Fragmentos do Espólio, Prefácio. Brasília: Editora Universidade de Brasília,<br />
2004.<br />
NIETZSCHE, F. W. Fragmentos do Espólio. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2004.<br />
________. Crepúsculo dos Ídolos. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.<br />
LITERATURA INFANTIL: O DESPERTAR DA SENSIBILIDADE<br />
196<br />
Priscila Fernanda Bertola dos Santos
Resumo<br />
197<br />
Mestranda em Educação Sóciocomunitária<br />
Unisal – Americana<br />
Eixo Temático: Formação de Professores e Práticas Pedagógicas<br />
Pôster<br />
pribertola@bol.com.br<br />
O objetivo desta pesquisa é refletir sobre a educação da sensibilidade sócio-afetiva e emocional das<br />
crianças que ainda não sabem ler, a partir de algumas obras infantis da autora Tatiana Belinky, escolhida<br />
pelo impacto que o conjunto da sua obra assumiu na literatura infantil brasileira nos últimos anos.<br />
Metodologicamente, se trata de um estudo bibliográfico e participativo, com crianças que dependem da<br />
leitura e interpretação de um leitor (que no nosso caso, será limitado ao professor em sala-de-aula). Os<br />
referenciais teóricos serão aqueles da análise literária, da educação, especialmente daquela voltada para o<br />
desenvolvimento da sensibilidade e da afetividade, como aqueles associados à perspectiva de Henri<br />
Wallon e analisaremos algumas obras infantis da escritora Tatiana Belinky. Como resultado espera-se<br />
identificar de que maneira a narrativa, isto é, a maneira como a história é contada, interfere na criança, no<br />
tocante ao reconhecimento e expressão de seus sentimentos. Além disso, investigar o envolvimento da<br />
criança e suas interpretações de mundo a partir da narração das histórias pelo professor, especialmente a<br />
socialização e as possibilidades para que possam compartilhar emoções, ideias e sentimentos.<br />
PALAVRAS-CHAVE: Educação, Literatura Infantil, Tatiana Belinky, Narrador (Professor)<br />
PROBLEMA<br />
Como de manifestam os sentimentos nas obras infantis de Tatiana Belinky?<br />
OBJETIVO<br />
O objetivo desta pesquisa é refletir sobre a educação da sensibilidade a partir de algumas obras infantis de<br />
Tatiana Belinky, destinadas as crianças que ainda não saibam ler, dependendo da leitura e interpretação de<br />
um leitor (que no nosso caso, será limitado ao professor em sala-de-aula).<br />
METODOLOGIA E REFERENCIAIS TEÓRICOS<br />
Para a realização deste projeto faremos um estudo bibliográfico, com base em referenciais teóricos da<br />
análise literária, como Regina Zilberman, da educação, especialmente daquela voltada para o<br />
desenvolvimento da sensibilidade e da afetividade, como aqueles associados à perspectiva de Henri<br />
Wallon e analisaremos algumas obras infantis da escritora Tatiana Belinky.<br />
LITERATURA INFANTIL: O DESPERTAR DA SENSIBILIDADE<br />
Resumo<br />
Priscila Fernanda Bertola dos Santos<br />
pribertola@bol.com.br<br />
Eixo Temático: Formação de Professores e Práticas Pedagógicas<br />
Pôster<br />
Unisal – Americana
As histórias fazem parte do dia-a-dia das pessoas, sejam através das novelas, teatros, jornais, livros ou<br />
contadas de geração em geração, de alguma maneira, sempre estamos em contato com elas. Para crianças<br />
pequenas, as histórias são de extrema importância, pois além de divertirem e proporcionarem momentos<br />
de descontração, permitem que as crianças envolvam-se, tomando contato com sentimentos e reações<br />
adormecidos ou até mesmo desconhecidos por elas. Além disso, ajudam no desenvolvimento da<br />
imaginação e criatividade, pois permitem que as crianças vivam e se identifiquem com o que está sendo<br />
contado. Esta pesquisa tem o objetivo de refletir sobre a educação da sensibilidade sócio-afetiva e<br />
emocional das crianças que ainda não sabem ler, a partir de algumas obras infantis da autora Tatiana<br />
Belinky, escolhida pelo impacto que o conjunto da sua obra assumiu na literatura infantil brasileira nos<br />
últimos anos e por serem obras que permitem as conclusões das próprias crianças. Metodologicamente, se<br />
trata de um estudo bibliográfico e participativo, com crianças que dependem da leitura e interpretação de<br />
um leitor (que no nosso caso, mesmo havendo diversos lugares para que isso aconteça, será limitado à<br />
sala-de-aula e tendo o professor como intérprete narrativo). Os referenciais teóricos serão aqueles da<br />
análise literária, tendo Regina Zilberman como principal referência, da educação, especialmente daquela<br />
voltada para o desenvolvimento da sensibilidade e da afetividade, como aqueles associados à perspectiva<br />
de Henri Wallon e analisaremos algumas obras infantis da escritora Tatiana Belinky. Como resultado<br />
espera-se identificar de que maneira a narrativa, isto é, a maneira como a história é contada, interfere na<br />
criança, no tocante ao reconhecimento e expressão de seus sentimentos. Além disso, investigar o<br />
envolvimento da criança e suas interpretações de mundo a partir da narração das histórias pelo professor,<br />
especialmente a socialização e as possibilidades para que possam compartilhar emoções, ideias e<br />
sentimentos.<br />
Palavras-Chave: Educação, Literatura Infantil, Tatiana Belinky, Narrador (Professor)<br />
Introdução<br />
A literatura infantil é consagrada através de seus contos. Ela teve início com o francês Charles<br />
Perrault, no século XVII, através da coletânea de contos e lendas da Idade Média. No século XIX, surgem<br />
os irmãos Grimm, na Alemanha. Eles escreviam suas histórias tendo como base lendas, relatos de<br />
viajantes, contos da carochinha e fatos reais que aconteciam na cidadezinha onde moravam (Cademartori,<br />
2010).<br />
Os contos de fadas são histórias mágicas, bonitas, que podem ser usadas em nossa<br />
realidade e que mesmo depois de muito (e muito) tempo, ainda continuam fazendo sucesso. Em<br />
seu livro ―A Psicanálise dos Contos de Fadas‖ (1980), Bruno Bettelheim, expõem que os contos<br />
de fadas, propriamente ditos, ajudam no desenvolvimento da criança, principalmente quando se<br />
trata da parte emocional. Para ele, as histórias assemelham-se com a realidade e isso pode ser<br />
notado em algumas histórias que começam com a morte do pai ou da mãe, ou que tenham<br />
situações de risco, criando na criança problemas angustiantes e consequentemente o medo, pois<br />
teme que isso ocorra também na vida real. De maneira diferente, porém complementar, é o<br />
pensamento de Henri Wallon. Para ele, a origem da consciência é a emoção, sendo de<br />
fundamental importância para o desenvolvimento da sensibilidade da criança.<br />
Com o passar do tempo, novos gêneros literários foram criados, não ficando limitado<br />
somente aos contos, mas fazendo parte deste universo também, as poesias, as crônicas, as<br />
histórias ... Atualmente, existe literatura para agradar a todo tipo de leitor. No nosso caso em<br />
específico, terão destaque as histórias infantis, pelo espaço garantido com o passar do tempo,<br />
principalmente das obras da escritora Tatiana Belinky.<br />
Em minha trajetória como professora, pude perceber o fascínio que as histórias<br />
proporcionam nas crianças e que após uma leitura, é comum que as brincadeiras baseiem-se nos<br />
198
personagens da mesma. Neste momento, as crianças são capazes de criar e transmitir diferentes<br />
reações e sentimentos.<br />
Ler histórias para crianças é algo extremamente prazeroso; poder observar suas reações<br />
enquanto a história se desenrola, é algo fascinante. São expressões de alegria, medo, tristeza,<br />
suspense.<br />
Nos dias atuais, as histórias estão diretamente ligadas ao nosso dia-a-dia, sejam através das<br />
novelas, livros, clássicos infantis ou até nas conversas com as crianças, onde podemos perceber a<br />
imaginação destinada na criação de um fato.<br />
Histórias para crianças pequenas, de qualquer idade, mas no nosso caso em especial, das que ainda<br />
não sabem ler, são de extrema importância, pois despertam a imaginação e incentivam a criatividade. Para<br />
este trabalho, o professor será o intérprete narrativo em destaque e apesar dos inúmeros lugares em que as<br />
crianças poderão ter contato com as histórias, selecionamos o ambiente escolar e a sala-de aula.<br />
Problema<br />
Como de manifestam os sentimentos nas obras infantis de Tatiana Belinky?<br />
Objetivo<br />
O objetivo desta pesquisa é refletir sobre a educação da sensibilidade a partir de algumas obras infantis de<br />
Tatiana Belinky, destinadas as crianças que ainda não saibam ler, dependendo da leitura e interpretação de<br />
um leitor (que no nosso caso, será limitado ao professor em sala-de-aula).<br />
Metodologia<br />
Para a realização deste projeto faremos um estudo bibliográfico, com base em referenciais<br />
teóricos da análise literária, como Regina Zilberman, da educação, especialmente daquela voltada<br />
para o desenvolvimento da sensibilidade e da afetividade, como aqueles associados à perspectiva<br />
de Henri Wallon e analisaremos algumas obras infantis da escritora Tatiana Belinky.<br />
Resultados Esperados<br />
199<br />
As histórias trazem o que foi e o que deveria ter sido. Trazem<br />
ainda o que poderá vir a ser. Elas curam a dor do que não<br />
podemos viver e ajudam a dar sentido para os sofrimentos que<br />
não podem ser mudados.<br />
Severino Antonio<br />
Como resultado espera-se identificar de que maneira a narrativa oralizada, isto é, a maneira como<br />
a história é contada, interfere na criança, no tocante aos seus sentimentos e construção e atribuição de<br />
significados, em especial aqueles afetivo-emocionais. Além disso, identificar o envolvimento da criança<br />
com o que está sendo narrado pelo professor através da história, ajudando-a a reconhecer alguns<br />
sentimentos, identificar e nomear o que está sentindo, proporcionando também, possibilidades para que<br />
possa discutir e compartilhar o que sente.<br />
Referências Bibliográficas<br />
BETTELHEIM, Bruno. A Psicanálise dos Contos de Fadas. 6ª edição, Rio de Janeiro-R.J.: Paz e Terra,<br />
1980.
CADEMARTORI, Ligia. O que é Literatura Infantil. Editora Brasiliense, 2ª edição, São Paulo-S.P., 2010<br />
CASHDAN, Sheldon. 'Os 7 pecados capitais nos contos de fadas: como os contos de fadas influenciam<br />
nossas vidas'. Rio de Janeiro: Campus, 2000.<br />
CARVALHO, Bárbara Vasconcelos de. A Literatura Infantil – Visão Histórica e Crítica. Global<br />
Universitária, 5ª edição, São Paulo-S.P., 1987.<br />
COELHO, Betty. Contar História Uma Arte Sem Idade. Editora Ática, São Paulo-S.P., 1986.<br />
FROMM, Erich. A Linguagem Esquecida. 5ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1973.<br />
GONÇALVES, Dil. Os Elementos Mágicos dos Contos de Fadas na Educação. Editora Adonis,<br />
Americana-S.P., 2010<br />
RAPPAPORT, Clara Regina. Psicologia do Desenvolvimento. Editora Vozes. Vol.II, São Paulo-S.P.,<br />
1991.<br />
ROVERI, Sérgio. Tatiana Belinky ... E quem quiser que conte outra. São Paulo: Imprensa Oficial,<br />
2007<br />
ZILBERMAN, Regina. A Literatura Infantil Na Escola. 6ª ed. São Paulo: Global, 2003<br />
O COORDENADOR PEDAGÓGICO COMO MEDIADOR DAS PRÁTICAS DOCENTES EM ESCOLAS<br />
DE EDUCAÇÃO INTEGRAL<br />
200<br />
Autora: Rita de Cássia Ventura Pattaro<br />
Orientadora: Profª Drª Vera Lúcia de Carvalho Machado<br />
Linha de Pesquisa: Práticas Pedagógicas e Formação Docente<br />
Grupo de Pesquisa: Políticas e Práticas Pedagógicas<br />
Modalidade: pôster<br />
ritapattaro@hotmail.com<br />
Agência de fomento: CAPES<br />
Palavras-chave: educação integral; coordenador pedagógico; práticas pedagógicas; políticas educacionais<br />
Introdução<br />
Em 2007, buscando ações de melhoria para todas as etapas da educação no país, o MEC criou o<br />
Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), que dentre inúmeras proposições, também dispôs aspectos<br />
relativos à educação integral.<br />
Como programas principais, o PDE apresentou o Plano de Metas e Compromisso Todos pela<br />
Educação, instituído pelo Decreto nº 6.094, de 24 de abril de 2007, cujo objetivo é articular esforços da<br />
União, Estados, Distrito Federal, Municípios, famílias e comunidade, para assegurar a qualidade da<br />
educação básica, seja no âmbito da educação integral ou não.
Constitui-se também como uma das metas do PDE, o Programa Mais Educação, instituído pela<br />
Portaria Normativa Interministerial nº 17/07, que tem por objetivo fomentar a educação integral de<br />
crianças, adolescentes e jovens, por meio de atividades sócio-educativas, no contraturno escolar,<br />
articuladas ao projeto de ensino desenvolvido pela escola. (MEC, 2009, pp. 23)<br />
Um estudo que aborde a dinâmica da implantação dessas metas governamentais, a partir do estudo<br />
do contexto escolar, tomado como uma representação de um todo maior, poderá contribuir para a<br />
compreensão da viabilização de tais políticas. Especificamente, neste trabalho, se procurará enfocar o<br />
trabalho do coordenador pedagógico como mediador do processo de implantação das políticas<br />
educacionais, no interior das escolas, com vistas ao atendimento qualitativo ao educando.<br />
A implantação da educação integral e o trabalho do Coordenador Pedagógico<br />
Discutir a educação 19 em seus diversos aspectos tem especial relevância para o entendimento das<br />
necessidades sociais inerentes a cada momento da história humana. De tempos em tempos, surgem novas<br />
políticas educacionais que propõem um novo olhar para a educação escolar, com o propósito de promover<br />
ajustes, inovações ou transformações. Uma das propostas atuais diz respeito à educação integral dos<br />
alunos do Ensino Fundamental.<br />
A educação integral, segundo Coelho (2009, p. 85 – 90) deve ser entendida como:<br />
[...] um sentido de completude que forma, de modo integral, o ser do que é humano e<br />
que não se descola de uma visão social de mundo. [...] esse modo de ver e perceber a<br />
formação do homem corresponde à natureza do que denominamos de educação integral:<br />
uma perspectiva que não hierarquiza experiências, saberes, conhecimentos. Ao contrário,<br />
coloca-os como complementares e fundados radicalmente no social: o espírito não é<br />
considerado através do ponto de vista puramente intelectual, formal ou de conteúdo, mas<br />
sim em relação com as suas condições sociais [...] podemos dizer que se caracteriza pela<br />
busca de uma formação a mais completa possível para o ser humano.<br />
Essa proposta, contida no cenário das políticas educacionais 20 , surge na década de 50, quando foram<br />
feitas tentativas de sua implantação no Ensino Fundamental, visando ao desenvolvimento integral do<br />
aluno, dentre as quais, é importante mencionar as Escolas Parque defendidas por Anísio Teixeira; mais<br />
recentemente, os Centros Integrados de Educação Pública (Cieps - Rio de Janeiro) e os Centros de<br />
Atenção Integral à Criança (Caics - Brasilia).<br />
Atualmente, a educação integral vem sendo viabilizada por políticas educacionais alicerçadas nas<br />
experiências já vivenciadas em âmbito nacional, prevendo, segundo o texto referência para seu debate,<br />
organizado pelo Ministério da Educação (MEC) e pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização<br />
e Diversidade (Secad) (2009, p 23)<br />
uma educação que abrange os processos formativos, os quais se desenvolvem na vida<br />
familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos<br />
movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais (Art.<br />
1º da LDB), ampliando os espaços e práticas educativas vigentes.<br />
Cabe ressaltar que a educação integral não deve ser vista apenas como uma reorganização dos<br />
espaços escolares, ou como a implantação de atividades no contraturno. Mas sim, como indica Arroyo<br />
(apud MEC, 2009, p.29),<br />
19 Entendida, nesta pesquisa, “como prática social intencionalizada, que influencia o desenvolvimento dos<br />
indivíduos na sua relação ativa com o meio natural e social.” (Libâneo, 1999, pp. 74, 75)<br />
20 Que são defendidas “a partir de uma concepção educacional que expressa a maneira como um determinado<br />
governo entende o mundo e as relações que se estabelecem na sociedade.” (GIRON, 2008, p. 18).<br />
201
é preciso convergir, para o seio dessa proposta, o diálogo numa rede de coletivos de ação<br />
para reeducar a gestão política dos sistemas escolares e de seus quadros, criando,<br />
inclusive, um sistema de comunicação com estudantes, profissionais da área de<br />
educação, professores, gestores de áreas afins e outros parceiros, para troca de<br />
informações, acompanhamento, dentre outras demandas. Isso tudo implica assumir uma<br />
disposição para o diálogo e para a construção de um projeto político e pedagógico que<br />
contemple princípios, ações compartilhadas e intersetoriais na direção de uma Educação<br />
Integral.<br />
Essa proposta requer um processo de implantação e o desenvolvimento de práticas coerentes com<br />
seus objetivos e com sua concepção de formação global (integral) do educando.<br />
Por isso, ao se analisar uma determinada realidade comprometida com esse tipo de educação, tornase<br />
fundamental a busca por respostas a questionamentos como: quais os entraves e os elementos<br />
facilitadores da dinâmica de implantação da educação integral em um contexto especifico? Os sujeitos que<br />
estão nos papéis de coordenadores pedagógicos, nas escolas representativas dessa educação integral, estão<br />
imbuídos de todos os saberes sobre essa proposta? A construção do Projeto Político Pedagógico objetivou<br />
a inter-relação dos objetivos propostos pela educação integral, com a filosofia que embasa as práticas<br />
pedagógicas daquela escola em específico?<br />
Ainda que todos esses questionamentos estejam, devidamente representados e considerados no<br />
plano das intenções, é preciso integrá-los à prática, ou ainda, torná-los reais e, de fato, construir uma<br />
educação de qualidade. É neste sentido que o trabalho do Coordenador Pedagógico configura-se como um<br />
dos instrumentos facilitadores desse processo.<br />
Ferreira (2001) aponta as práticas desse profissional da educação como sendo um<br />
[...] trabalho profissional que tem o compromisso de garantir os princípios de liberdade e<br />
solidariedade humana, no pleno desenvolvimento do educando, no seu preparo para o<br />
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho e, para isso, assegurar a<br />
qualidade do ensino, da educação, da formação humana. [...] é a garantia de qualidade da<br />
formação humana que se processa nas instituições escolares, no sistema educacional<br />
brasileiro, na atual conjuntura mundial. (FERREIRA, 2001, p.93)<br />
Dessa forma, o coordenador pedagógico deve ser considerado como<br />
aquele que está atento à realidade, que é competente para localizar os temas geradores<br />
(questões, contradições, necessidades) do grupo, organizá-los e devolver como um<br />
desafio para o coletivo, ajudando na tomada de consciência e na busca conjunta de<br />
formas de enfrentamento [...] aquele que tem um projeto assumido conscientemente e,<br />
pautado nele, é capaz de despertar, de mobilizar as pessoas para a mudança e fazer junto<br />
o percurso. (VASCONCELLOS, 2002, p.70)<br />
Esse sujeito, conforme nos aponta Ennia Braga Pires em sua dissertação de mestrado, precisa ser<br />
alocado no momento histórico atual para serem compreendidas as implicações impostas<br />
pela educação, que são vividas por ele em sua escola; além da necessidade de conhecer<br />
esse profissional, de desvelar sua posição nas relações de poder na escola, seu papel na<br />
implementação de políticas educacionais, a leitura analítica de suas atribuições e a<br />
dimensão política e ideológica que norteiam sua prática. (PIRES, 2005, p. 31)<br />
Como um dos profissionais comprometido com a organização da instituição escolar, o coordenador<br />
pedagógico assume um papel de mediador das práticas docentes. E, como tal, pode facilitar (ou não) a<br />
implementação dessa proposta.<br />
Libâneo (1999, p. 24), afirma que ―é intrínseco ao ato educativo seu caráter de mediação que<br />
favorece o desenvolvimento dos indivíduos na dinâmica sociocultural de seu grupo, sendo que o conteúdo<br />
202
dessa mediação são os saberes e modos de ação‖. Para ele, a mediação é o instrumento de ligação entre<br />
teoria e prática.<br />
Contudo, destaca ainda o autor, essa prática educativa deve ser intencional e ―compreender, assim,<br />
todo fato, influência, ação, processo, que intervém na configuração da existência humana, individual ou<br />
grupal, em suas relações mútuas, num determinado contexto histórico-social.‖ (ibid., p. 74). Obviamente,<br />
essa relação de mediação do coordenador pedagógico não encerra em si todas as contribuições favoráveis<br />
ou não à implementação da proposta de educação integral, afinal, ele é um dos sujeitos, dentre todos os<br />
envolvidos no cenário educativo.<br />
A pesquisa que se pretende realizar tem como objetivos: i) Conhecer o projeto de Educação<br />
Integral, em todo o seu processo de implantação, em escolas municipais de educação integral da cidade de<br />
Indaiatuba/SP; ii) Entender a atuação do coordenador pedagógico como mediador das práticas docentes;<br />
iii) Identificar quais as contribuições dessa mediação para o atendimento global ao aluno do ensino<br />
fundamental (anos iniciais).<br />
Seus fundamentos se assentam na teoria sócio-histórica, que propõe entender o homem a partir das<br />
relações por ele vivenciadas em um contexto social, mas que, ―apesar de ser histórica e socialmente<br />
determinado, também é capaz de tomar consciência de seu papel histórico, de educar-se por meio das<br />
ações políticas e de liberar-se através de sua prática.‖ (GAMBOA, 2008, p. 147).<br />
Esse enfoque é de extrema importância aos estudos que serão realizados, uma vez que o sujeito de<br />
pesquisa será o coordenador pedagógico visto como o elemento mediador das práticas pedagógicas dentro<br />
do contexto da educação integral e cujas ações devem ser norteadoras para o trabalho dos educadores da<br />
escola.<br />
A pesquisa terá como primeiro passo, a revisão bibliográfica 21 que deverá destacar dois pontos<br />
cruciais: a educação integral (historicidade, contemporaneidade – no Brasil - e fundamentação políticofilosófica)<br />
e o coordenador pedagógico (historicidade, contemporaneidade – no Brasil – e o caráter<br />
mediador de sua função). Todos os saberes acumulados por esses estudos servirão de base para a<br />
estruturação dos primeiros capítulos da dissertação, os quais procurarão tratar o coordenador pedagógico<br />
em um contexto sócio-histórico, demonstrando a importância de sua função mediadora na implantação da<br />
educação integral, bem como destacar a relevância das discussões sobre a temática pesquisada.<br />
A pesquisa de campo será realizada em três escolas representativas desse modelo educacional,<br />
envolverá seis coordenadores pedagógicos e terá a duração de seis meses aproximadamente.<br />
Esse segundo passo da pesquisa exigirá, como rigor metodológico, uma análise detalhada de dois<br />
documentos norteadores da implantação e do trabalho dessas instituições escolares, que são: Regimento<br />
Interno e Proposta Político-Pedagógica. Essa análise justifica-se pelo caráter qualitativo que este estudo<br />
apresenta, uma vez que ―os investigadores qualitativos fazem questão em se certificarem de que estão a<br />
apreender as diferentes perspectivas adequadamente‖ (BOGDAN, BIKLEN, 1994, p. 51.).<br />
Será realizada a observação participante, que, segundo Bogdan e Biklen (1994) insere o<br />
pesquisador na fonte direta de dados que será investigada, com o objetivo de conhecer os sujeitos<br />
(selecionados para a pesquisa) e suas ações, elaborar registros escritos e sistemáticos do que vivenciar<br />
(diário de campo). Além de observar, no ambiente, o processo natural em que está estabelecida a relação<br />
de mediação entre o coordenador pedagógico e as práticas docentes.<br />
Concomitantemente à observação participante serão realizadas entrevistas com os coordenadores<br />
pedagógicos atuantes nas escolas investigadas, com questões abertas, que, como afirmam Bogdan e Biklen<br />
(id, p.17), têm ―caráter flexível (...) permitem aos sujeitos responderem de acordo com a sua perspectiva<br />
pessoal, em vez de terem de se moldar a questões previamente elaboradas‖.<br />
21 Que, segundo ALVES (1992, p. 58), “é um aspecto essencial à construção do objeto de pesquisa e como tal deve<br />
ser tratado, se quisermos produzir conhecimentos capazes de contribuir para o desenvolvimento teóricometodológico<br />
na área e para a mudança de práticas que já se evidenciaram inadequadas ao trato dos problemas<br />
com que se defronta a educação brasileira.”<br />
203
Após a realização das entrevistas, que serão gravadas e, posteriormente, transcritas, será feita a<br />
análise das respostas elaboradas pelos sujeitos à luz do caráter mediador, que é intrínseco ao ato educativo<br />
e favorável ao desenvolvimento sociocultural do indivíduo (LIBÂNEO, 1999, p. 24).<br />
A análise dos dados coletados terá como referência as orientações fornecidas pelos documentos<br />
oficiais produzidos pelo MEC, o conteúdo do Regimento Interno e do Projeto Político Pedagógico das<br />
escolas pesquisadas, e outras produções bibliográficas sobre o tema educação integral e sobre o caráter<br />
mediador inerente à função do coordenador pedagógico, que servirão como base para a categorização dos<br />
dados, uma vez que ―lendo os dados, repetem-se ou destacam-se certas palavras, frases, padrões de<br />
comportamento, formas dos sujeitos pensarem e acontecimentos.‖ (BOGDAN, BIKLEN, 1994, p. 221).<br />
Ainda segundo esses autores, ―as categorias constituem um meio de classificar os dados descritivos que<br />
recolheu de forma a que o material contido num determinado tópico possa ser fisicamente apartado dos<br />
outros dados.‖ (p. 221).<br />
Resultados esperados<br />
Espera-se com a realização da pesquisa produzir um conhecimento sobre a contribuição do<br />
coordenador pedagógico para o atendimento global do aluno, enquanto mediador da prática docente em<br />
três escolas que atendem alunos do Ensino Fundamental na proposta de educação integral.<br />
Referências<br />
BOGDAN, Robert C.; BIKLEN, Sari K. Investigação qualitativa em educação – uma introdução à teoria<br />
e aos métodos. Porto, Portugal: Porto Editora, 1994.<br />
BRASIL, MEC, SECAD Série Mais Educação. Educação integral. Texto referência para o debate<br />
nacional. Brasília, 2009.<br />
BRASIL, MEC, SECRETARIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, ALFABETIZAÇÃO E<br />
DIVERSIDADE. Programa Mais Educação: gestão intersetorial no território. Brasília, 2009.<br />
BRASIL, MEC. Rede de saberes mais educação: pressupostos para projetos pedagógicos de educação<br />
integral: caderno para professores e diretores de escolas. Brasília, 2009.<br />
CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais. Petrópolis-RJ, Vozes, 2006.<br />
COELHO, Lígia Martha C. da Costa. História(s) da educação integral. In: Em Aberto, Brasília, v. 22, n.<br />
80, p. 83-96, abr. 2009.<br />
FERREIRA, Naura S. C. Supervisão Educacional: novas exigências, novos conceitos, novos significados.<br />
In: RANGEL, Mary. Supervisão Pedagógica: princípios e práticas. <strong>Campinas</strong>/SP: Papirus, 2001, p. 81-<br />
101.<br />
GIRON, Graziella Rossetto. Políticas públicas, educação e neoliberalismo: o que isso tem a ver com<br />
cidadania? Revista de Educação <strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong>. <strong>Campinas</strong>/SP: Gráfica e Editora Flamboyant Ltda. nº<br />
24, p. 17-26, jun/2008.<br />
LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? São Paulo, Cortez, 1999.<br />
PIRES, Ennia Débora Passos Braga. A prática do coordenador pedagógico: limites e<br />
perspectivas. 2005. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de <strong>Campinas</strong>, Faculdade de<br />
Educação, <strong>Campinas</strong>.<br />
204
RIBETTO, Anelice; MAURÍCIO, Lúcio Velloso. Duas décadas de educação em tempo integral:<br />
dissertações, teses, artigos e capítulos de livros. In: Em Aberto, Brasília, v. 22, n. 80, p. 137, abr. 2009.<br />
VASCONCELLOS, C. S. Coordenação de trabalho pedagógico: do projeto político-pedagógico ao<br />
cotidiano da sala de aula. São Paulo. Libertad, 2002.<br />
A INCLUSÃO DA CRIANÇA SURDA NA EDUCAÇÃO INFANTIL<br />
Resumo<br />
205<br />
Tamiris Delfito- Graduanda da Faculdade de Educação<br />
Profa. Dra. Cássia Geciauskas Sofiato- Docente da Faculdade de Educação<br />
Instituição: Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong><br />
Eixo Temático: Formação de professores e práticas pedagógicas.<br />
E-mail: tamiris.delfito@gmail.com; cassiasofiato@gmail.com<br />
O presente trabalho em andamento está sendo desenvolvido na disciplina de Trabalho de Conclusão de<br />
Curso, do curso de Pedagogia, da Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong>. Trata-se de um trabalho<br />
cuja abordagem é qualitativa, seguida de um estudo bibliográfico. O interesse pela educação de alunos<br />
surdos e a inclusão dos mesmos no ensino regular sempre foi algo que me chamou a atenção pelo fato de<br />
que tive a oportunidade de estudar com colegas surdos ao longo de minha trajetória escolar. À época,<br />
percebia que os professores não estavam preparados para lidar com este paradigma, e não modificavam a<br />
sua prática pedagógica. E ao final de meu curso de graduação, a questão do interesse pela educação<br />
inclusiva veio à tona, motivada pelo seguinte questionamento: quais os desafios para a inclusão da criança<br />
surda na Educação Infantil? O objetivo desta pesquisa é investigar sobre a formação do docente para<br />
trabalhar com a educação inclusiva na Educação Infantil, tendo em vista a necessidade de adequações da<br />
prática pedagógica para a inclusão efetiva da criança em questão. Com base em pesquisas realizadas na<br />
área da educação de surdos, verificamos que os docentes da Educação Básica ficam apreensivos muitas<br />
vezes pelo fato de terem um aluno surdo em seu grupo classe, por não saberem se comunicar com ele e<br />
também por apresentarem dificuldades em conduzir o processo pedagógico de forma específica para<br />
atender esse alunado. Espera-se que por meio deste estudo as reflexões acerca da educação da criança<br />
surda, especificamente na Educação Infantil, possam ser divulgadas, com vistas a qualificar ainda mais as<br />
práticas pedagógicas desenvolvidas neste nível da Educação Básica.<br />
Palavras-chave: Educação de surdos, Educação Infantil, educação inclusiva.<br />
Introdução<br />
O presente estudo está sendo desenvolvido na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso, do<br />
curso de Pedagogia, da Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong>. Aborda a questão da inclusão de<br />
alunos surdos na Educação Infantil e os desafios que se colocam para os docentes do ensino regular que<br />
possuem alunos com estas condições nesta etapa da Educação Básica.<br />
A educação de pessoas surdas sempre foi algo que me chamou a atenção pelo fato de que tive a<br />
oportunidade de estudar com colegas surdos ao longo de minha trajetória escolar. À época, percebia que<br />
os professores não estavam preparados para lidar com esta realidade, e consequentemente não<br />
modificavam a sua prática pedagógica para incluir os educandos nas atividades desenvolvidas na sala de<br />
aula. Devido a este fato, ficava nítida a angústia e as dificuldades dos alunos surdos em compreender o<br />
que estava sendo ensinado aos demais estudantes.
No atual contexto educacional brasileiro a educação de pessoas com deficiência está respaldada<br />
por uma série de legislações, entre elas a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n° 9394/96, que<br />
dedica um capítulo a Educação Especial.<br />
No Brasil, a construção de um sistema educacional inclusivo deu início por intermédio de alguns<br />
movimentos internacionais, ao haver a concordância com a Declaração Mundial de Educação para Todos,<br />
fruto da Conferência Mundial de Educação para Todos, ocorrida em Jomtiem, em 1990, e também ao<br />
mostrar abertura com os postulados produzidos em Salamanca, na Espanha, em 1994, por ocasião da<br />
Conferência de Salamanca.<br />
A Declaração de Salamanca em seus pressupostos, afirma que:<br />
A tendência da política social durante as duas últimas décadas foi de fomentar a<br />
integração e a participação e de lutar contra a exclusão. A integração e a<br />
participação fazem parte essencial da dignidade humana e do gozo e exercício<br />
dos direitos humanos. No campo da educação, essa situação se reflete no<br />
desenvolvimento de estratégias que possibilitem uma autêntica igualdade de<br />
oportunidades (Brasil, 1994).<br />
A Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica e desta forma, é a etapa que vai iniciar<br />
o processo de inclusão do aluno surdo na escola regular. Assim sendo, é fundamental que os docentes que<br />
atuam nesta etapa estejam preparados para receber o aluno surdo, a começar pela sua forma diferenciada<br />
de comunicar-se: ou por meio de uma fala e linguagem em desenvolvimento ou por intermédio da Língua<br />
de sinais, também em processo constante de aprimoramento.<br />
Reily (2008) afirma que para a criança surda ter um melhor desenvolvimento na aprendizagem da<br />
Língua Portuguesa é necessária que o indivíduo tenha contato com a Língua Brasileira de Sinais – Libras<br />
desde pouca idade. Segundo a mesma autora (2008) ―o aprendizado precoce é de fundamental<br />
importância, pois pesquisas têm mostrado que, quando a criança surda adquire linguagem desde bem<br />
pequena, o seu desempenho escolar será equivalente ao de crianças ouvintes‖.<br />
Uma das dificuldades observadas pelos docentes ao receberem alunos surdos na Educação Infantil<br />
e também nos outros níveis da Educação Básica é a comunicação entre os indivíduos surdos e os ouvintes.<br />
Pois, nem todos os alunos têm a Libras como língua e nem todos tem habilidades com a leitura labial.<br />
(REILY, 2008, p. 127). Além disso, encontramos descritas na literatura, dificuldades de cunho pedagógico<br />
enfrentadas pelos alunos surdos, em decorrência, na maioria das vezes, do singular desenvolvimento<br />
linguístico deste aluno (SILVA, 2001).<br />
Problema/questões<br />
Tendo em vista a minha trajetória enquanto estudante, já mencionada anteriormente, a questão do<br />
interesse pela educação inclusiva de alunos surdos na Educação Infantil veio á tona, motivada pelos<br />
seguintes questionamentos: quais os desafios para a inclusão da criança surda na Educação Infantil? Como<br />
os professores adaptam suas práticas pedagógicas para atenderem as especificidades da educação de<br />
surdos? Estes questionamentos possibilitam conhecer em parte a realidade das escolas inclusivas e saber<br />
como as mesmas estão enfrentando os desafios que se colocam frente ao paradigma da educação inclusiva<br />
por meio da atuação de seus docentes.<br />
Objetivo<br />
Objetiva-se investigar a formação do docente para trabalhar com a educação inclusiva na<br />
Educação Infantil, tendo em vista a necessidade de adequações da prática pedagógica para a inclusão<br />
efetiva da criança em questão.<br />
206
Método<br />
Trata-se de um trabalho cuja abordagem é qualitativa. A abordagem qualitativa de acordo com<br />
Minayo (1994) ―responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um<br />
nível de realidade que não pode ser quantificada‖ (p. 22). Para o desenvolvimento deste estudo pelo<br />
optou-se pela pesquisa bibliográfica. A pesquisa bibliográfica ―é desenvolvida com base em material já<br />
elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos‖. (GIL, 2002, p. 44). Buscou-se trazer<br />
contribuições de diferentes autores sobre o assunto de interesse, bastante discutido na contemporaneidade<br />
na área da Educação Especial.<br />
Resultados Esperados<br />
Espera-se por meio deste estudo trazer contribuições para o trabalho de inclusão da criança surda<br />
na Educação Infantil, tendo em vista as suas necessidades específicas de comunicação e encaminhamento<br />
pedagógico. Toda essa empreitada também deu-se em função de tentar minimizar os problemas<br />
enfrentados pelos alunos surdos no que se refere ao ingresso na Educação Infantil. Com o estudo em<br />
questão, a intenção é auxiliar no processo de qualificação docente com vistas ao desenvolvimento de<br />
práticas pedagógicas significativas que venham ao encontro das reais necessidades do alunado surdo.<br />
Referências<br />
BRASIL. Lei n°9.394, de 20 de dezembro de 1996. Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional<br />
(LDB); Brasília, 1996.<br />
DECLARAÇÃO DE SALAMANCA. Necessidades Educativas Especiais – NEE In: Conferência Mundial<br />
sobre NEE: Acesso em: Qualidade – UNESCO. Salamanca/Espanha: UNESCO 1994.<br />
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1991.<br />
MINAYO, Maria Cecília de Souza (org). Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. Petrópolis - RJ.<br />
Editora Vozes. 1994.<br />
REILY, Lucia. Escola Inclusiva: Linguagem e mediação. 3° edição. <strong>Campinas</strong>, SP: Papirus, 2008.<br />
SILVA, Marília da Piedade Marinho. A construção de sentidos na escrita do aluno surdo. São Paulo:<br />
Plexus Editora, 2001.<br />
207
Eixo 3: Democracia, Políticas Públicas e Educação<br />
A ESCOLA DE NOVE ANOS: ESTUDO SOBRE A CRIANÇA DE SEIS ANOS<br />
208<br />
Adriana Maria Leite de Campos<br />
adrianamlcampos@globo.com<br />
Graduanda do Curso de Pedagogia da <strong>PUC</strong>_<strong>Campinas</strong>.<br />
Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPq.<br />
Vera Lúcia de C. Machado<br />
veris@puc-campinas.edu.br<br />
Professora do PPGE e da Faculdade de Educação da <strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong><br />
Eixo Temático: Democracia, Políticas Públicas e Educação.<br />
Categoria: Pôster<br />
Resumo<br />
Reconhecendo que o cumprimento da Lei nº 11.274 de 06 de fevereiro de 2006, que sancionou a<br />
ampliação do ensino fundamental para nove anos, bem como a obrigatoriedade da matrícula das crianças<br />
de seis anos nesse nível de ensino, provocou entre gestores e educadores questionamentos principalmente<br />
quanto à prática pedagógica, acreditamos que reflexões visando a construção do conhecimento sobre os<br />
conceitos de desenvolvimento e aprendizagem da criança, são de extrema importância, pois os mesmos,<br />
articulados com aspectos educacionais e pedagógicos constituem os conteúdos fundamentais na<br />
construção da prática pedagógica. Com o objetivo de contribuir com essas reflexões, resgatamos os<br />
conceitos da teoria sociocultural e da Pedagogia histórico-critica, cujos pressupostos valorizam os<br />
processos de ensino-aprendizagem e o papel do professor, como elementos determinantes na qualidade do<br />
ensino e do desenvolvimento infantil. Apoiando-nos nesses conceitos, entendemos a criança como sujeito<br />
sócio-histórico, que pelo intercâmbio nas relações sociais apropria-se dos produtos da cultura e do<br />
conhecimento acumulado pela humanidade. A brincadeira, uma atividade peculiar nesse período da<br />
infância, é considerada como Atividade Principal, cujo percurso permite que outras atividades se<br />
desenvolvam em seu interior, ampliando os processos psíquicos superiores da criança, como a percepção,<br />
atenção, memorização, raciocínio lógico, a conscientização das ações e regras sociais . Compreendemos<br />
que a atividade lúdica, para as crianças de seis anos, é de fundamental importância e deve ser considerada<br />
como atividade pedagógica importante no ensino fundamental, melhorando significativamente a<br />
qualidade do ensino, desde que seu planejamento e aplicação tenham objetivos específicos mediados pela<br />
intervenção do professor. Nesse sentido, destacamos os conceitos da Pedagogia Histórico-Critica, na qual<br />
o professore socializa com a criança novos conceitos, desafios e experiências ampliando seu<br />
conhecimento, favorecendo a criação da Zona de Desenvolvimento Proximal . Diante do exposto<br />
consideramos que o ingresso da criança de seis anos no ensino fundamental garante-lhe a oportunidade de<br />
ampliar suas capacidades de desenvolvimento, uma vez que amplia qualitativamente suas interações<br />
sociais, possibilitando-lhe as apropriações dos produtos da atividade humana.<br />
Palavras chaves: Criança de seis anos; brincadeira; teoria sociocultural; pedagogia histórico-critica.<br />
Introdução<br />
O cumprimento da Lei nº 11.274 de 06 de fevereiro de 2006, que sancionou a ampliação do ensino<br />
fundamental para nove anos, bem como a obrigatoriedade da matrícula das crianças de seis anos nesse<br />
nível de ensino, provocou entre gestores e educadores questionamentos principalmente quanto à prática<br />
pedagógica.
Acreditamos que reflexões visando à construção do conhecimento sobre os conceitos de<br />
desenvolvimento e aprendizagem da criança, são de extrema importância, pois os mesmos, articulados<br />
com aspectos educacionais e pedagógicos constituem os conteúdos fundamentais na construção da prática<br />
pedagógica.<br />
Com o objetivo de contribuir com essas reflexões, resgatamos os conceitos da teoria sociocultural<br />
e da Pedagogia histórico-critica, cujos pressupostos valorizam os processos de ensino-aprendizagem e o<br />
papel do professor, como elementos determinantes na qualidade do ensino e do desenvolvimento infantil.<br />
Problemas/questões<br />
Diante dessa realidade, as questões pertinentes levantadas neste trabalho foram: haverá de fato<br />
diferença entre a criança de seis anos e outra de sete, no que diz respeito ao desenvolvimento sóciocultural<br />
e cognitivo, que justifiquem as preocupações apontadas pelos educadores? Quais as exigências<br />
postas para as práticas pedagógicas decorrentes do ingresso da criança aos seis no ensino fundamental?<br />
Objetivos<br />
Geral: Construir um conhecimento sobre a criança de seis anos no processo de escolarização, baseados na<br />
abordagem histórico-cultural e na Pedagogia Histórico-Crítica, cujos pressupostos valorizam os processos<br />
de ensino-aprendizagem e o papel do professor, como elementos determinantes na qualidade do ensino e<br />
do desenvolvimento infantil.<br />
Específicos: (I) Selecionar artigos em periódicos da área, que abordem a educação numa<br />
perspectiva histórico-cultural. (II) Identificar os conceitos de desenvolvimento da criança e de<br />
aprendizagem na abordagem histórico-cultural. (III) Relacionar os conceitos estudados com o trabalho<br />
pedagógico realizado nos anos iniciais da educação escolar. (IV) Identificar experiências ou propostas de<br />
ação/prática pedagógicas fundamentadas na abordagem histórico-cultural.<br />
Metodologia<br />
Realização de pesquisa bibliográfica, cujo dado empírico, foram as fontes bibliográficas, quais<br />
sejam, livros e artigos científicos publicados em periódicos da área da Educação e da Psicologia<br />
Educacional.<br />
Etapas do trabalho: (I) Exploração das fontes bibliográficas. (II) Leitura e seleção do material<br />
coletado. (III) Elaboração de fichas com registro das informações relevantes.(IV) Análise dos dados<br />
organizados nas fichas. (V) Conclusões relativas aos dados.<br />
Resultados obtidos<br />
Entendemos a criança como sujeito sócio-histórico, que pelo intercâmbio nas relações sociais<br />
apropria-se dos produtos da cultura e do conhecimento acumulado pela humanidade. Segundo nossos<br />
estudos a aprendizagem organizada conduz ao desenvolvimento e pode-se inferir que o ingresso das<br />
crianças no ensino fundamental aos seis anos não prejudica sua infância e as atividades pertencentes a essa<br />
faixa etária, como por exemplo, as brincadeiras que devem ser privilegiadas.<br />
A brincadeira, uma atividade peculiar nesse período da infância, é considerada como Atividade<br />
Principal, cujo percurso permite que outras atividades se desenvolvam em seu interior, ampliando os<br />
processos psíquicos superiores da criança, como a percepção, atenção, memorização, raciocínio lógico, a<br />
conscientização das ações e regras sociais. Elas ajudam no processo de alfabetização, pois as crianças<br />
209
iniciam o processo de apropriação e significação do mundo adulto socialmente constituído, pelas<br />
brincadeiras e jogos.<br />
Portanto compreendemos que a atividade lúdica, para as crianças de seis anos, é de fundamental<br />
importância e deve ser considerada como atividade pedagógica importante no ensino fundamental,<br />
melhorando significativamente a qualidade do ensino, desde que seu planejamento e aplicação tenham<br />
objetivos específicos mediados pela intervenção do professor.<br />
Nesse sentido, destacamos os conceitos da Pedagogia Histórico-Critica, na qual o professor<br />
socializa com a criança novos conceitos, desafios e experiências ampliando seu conhecimento,<br />
favorecendo a criação da Zona de Desenvolvimento Proximal. Consta-se que o papel da escola e do<br />
professor é de grande importância na trajetória do desenvolvimento sócio/cognitivo da criança, bem como<br />
a antecipação do seu ingresso no ensino fundamental favorece seu desenvolvimento.<br />
Conclui-se que os problemas na implantação do ensino de nove anos, bem como as dificuldades<br />
apresentadas no ingresso das crianças de seis anos no ensino fundamental, são de outra ordem e não da<br />
incapacidade de aprendizagem e desenvolvimento das crianças. Nesse sentido, superar as dificuldades das<br />
práticas pedagógicas requer, por parte dos educadores a compreensão da teoria que deverá embasar sua<br />
prática, para que possa buscar metodologias que atendam às necessidades das crianças nos anos iniciais de<br />
alfabetização.<br />
Diante do exposto consideramos que o ingresso da criança de seis anos no ensino fundamental<br />
garante-lhe a oportunidade de ampliar suas capacidades de desenvolvimento, uma vez que amplia<br />
qualitativamente suas interações sociais, possibilitando-lhe as apropriações dos produtos da atividade<br />
humana.<br />
Referências bibliográficas<br />
ARCE, A. ; MARTINS, L. A Educação Infantil e o ensino Fundamental de Nove Anos. In: Arce, A. e<br />
Martins, L. (org.) Quem Tem Medo de Ensinar na Educação Infantil: em defesa do ato de ensinar.<br />
<strong>Campinas</strong>, SP: Alínea, 2007. p. 37-62.<br />
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica – Ampliação do Ensino Fundamental<br />
para Nove Anos: 3º Relatório do Programa /Secretaria de Educação Básica- Brasília: Ministério da<br />
Educação, 2006.<br />
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L.S. Luria, A.R. Leontiev, A.N. Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem.7. ed. São Paulo: Ícone,<br />
2001b. p. 119-142.<br />
MACHADO, V. L. de C.. A implantação do ensino fundamental de nove anos em Escolas municipais de<br />
<strong>Campinas</strong>/SP: o olhar dos gestores. Anais da 33ª Reunião Anual da Anped. Caxambu, 2010. ISSN<br />
2175-8484.<br />
MARTINS, L. A.. Especificidades do desenvolvimento afetivo-cognitivo de crianças de 4 a 6 anos. In:<br />
Arce, A. e Martins, L. (org.) Quem Tem Medo de Ensinar na Educação Infantil: em defesa do ato de<br />
ensinar. <strong>Campinas</strong>, SP: Alínea, 2007. p.64-92.<br />
OLIVEIRA, M. K. de. Vygotsky - aprendizado e desenvolvimento: Um processo sócio histórico. São<br />
Paulo: Scipione, 1997.<br />
ROSSLER, J. H. O papel da brincadeira de papéis sociais no desenvolvimento do psiquismo humano. In:<br />
Arce, A. e Duarte, N. (org.); Rossler, J.H. [et al.] Brincadeiras de Papéis Sociais na Educação Infantil:<br />
as contribuições de Vigotski, Leontiev e Elkonin. São Paulo: Xamã, 2006. P. 51-63.<br />
SAVIANI, D. Pedagogia Histórico-Crítica: primeiras aproximações. 8. ed. Revista e ampliada -<br />
<strong>Campinas</strong>: Autores Associados, 2003, p. 11<br />
VIGOTYSKI, L.S. A formação social da mente. 7ª ed.- São Paulo: Martins Fontes, 2007.<br />
O PAPEL DO EDUCADOR E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A (TRANS)FORMAÇÃO DA VIDA DE<br />
JOVENS NO PROGRAMA EDUCAÇÃO PARA O TRABALHO<br />
RESUMO<br />
211<br />
Eixo Temático: Democracia, Políticas Públicas e Educação.<br />
Mestranda: Fatima Regina Colevate – RA 10400315<br />
Orientadora: profa. Dra. Maria Auxiliadora Bueno Andrade Megid<br />
Linha de Pesquisa: Práticas Pedagógicas e Formação do Educador<br />
Grupo de Pesquisa: Políticas e Práticas Pedagógicas<br />
O objeto de estudo desta pesquisa é o Programa Educação para o Trabalho realizado pelo Senac SP há<br />
quatorze anos. O curso foi escolhido em função dos resultados obtidos desde sua criação e pela<br />
relevância social que representa para jovens que o frequentam. No referido Programa, o mundo do<br />
trabalho é apresentado a jovens da faixa etária de 14 a 21 anos, oriundos de famílias de baixa renda,<br />
estudantes da rede pública de ensino. Tais jovens convivem habitualmente com a falta de capacitação<br />
profissional e com a busca pelo primeiro emprego. O Programa em estudo visa contribuir para o<br />
desenvolvimento de competências fundamentais nestes jovens que enfrentam um mercado de trabalho<br />
cada vez mais exigente e seletivo. Apresentamos conceitos e diferentes visões da Educação Social, da<br />
Pedagogia Social e do educador social. Buscamos aprofundar tais conceitos em autores como Luzuriaga<br />
(1960) e Silva (2009) que abordam diferentes momentos da educação social. A pesquisa tem por objetivo<br />
identificar a importância do papel do educador na contribuição para a transformação da vida de jovens<br />
que participam do Programa Educação para o Trabalho. A questão que norteia o presente estudo assim se<br />
configura: Pode a educação social, no caso do Programa em estudo, configurar-se em ambiente
complementar ao ensino formal, contribuindo com o desenvolvimento pessoal e profissional de jovens<br />
com interesse pelo mercado de trabalho? Por meio de pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso<br />
aplicamos 136 questionários e realizamos 17 entrevistas com alunos cursando o programa, docentes<br />
ministrando aulas no Programa e coordenadores do Programa. A realização das entrevistas semiestruturadas<br />
visa conhecer as percepções dos entrevistados a respeito das formas diferenciadas de educar<br />
que valorizam as experiências e realidades individuais dos alunos. Esperamos, ao concluir este trabalho,<br />
oferecer subsídios que permitam aos educadores oportunidades de reflexão sobre suas práticas<br />
educacionais e sobre a possível transformação da vida dos jovens em diferentes contextos sociais.<br />
Palavras-chave: educação social, transformação social e mundo do trabalho.<br />
INTRODUÇÃO<br />
O Programa Educação para o Trabalho, objeto de estudo da presente pesquisa, é realizado<br />
pelo Senac SP há quatorze anos em todas as suas unidades no estado de São Paulo. Neste curso o<br />
mundo do trabalho é apresentado a adolescentes e jovens entre 14 e 21 anos, oriundos de famílias<br />
de baixa renda, estudantes da rede pública de ensino, geralmente excluídos das oportunidades de<br />
trabalho. Tais jovens convivem com questões como falta de capacitação profissional e a busca,<br />
muitas vezes constante, pelo primeiro emprego. O Programa visa contribuir para o<br />
desenvolvimento desses jovens no que se refere às competências fundamentais para um mundo<br />
do trabalho cada vez mais exigente e seletivo.<br />
Em tempos atuais ―estudar significa garantir um lugar num mercado de trabalho em<br />
permanente e ilimitada expansão‖ (GIRON, 2008, p.20), e esta oportunidade de estudar e se<br />
aprimorar tem sido a espinha dorsal do programa que busca desenvolver habilidades como<br />
cooperação, iniciativa, criatividade e capacidade de assimilar e empreender mudanças. No<br />
entanto, não são considerados apenas os perfis ideais propostos pelo mercado de trabalho, mas<br />
também a capacidade do jovem se ver como agente de mudanças, com possibilidade de<br />
identificar e propor intervenções no ambiente em que vive, focando a melhoria das condições de<br />
vida individual e/ou coletiva.<br />
Neste cenário, a educação social se apresenta como uma possibilidade de formação ou<br />
capacitação para o mundo do trabalho.<br />
Conceitos da Pedagogia Social, ciência que surgiu em 1898 com Natorp que estuda a<br />
educação e suas relações com a sociedade (LUZURIAGA, 1960.) serão utilizados como<br />
referencial teórico a este trabalho.<br />
OBJETIVOS<br />
Na nossa concepção, o principal elo do processo de aprendizagem é o professor, que disponibiliza<br />
informações, orienta, ensina, compartilha suas experiências de vida, educa desde a infância até a vida<br />
adulta para que os alunos construam suas vidas com bases sólidas de respeito, ética e cidadania.<br />
Segundo Freire (1996) ―ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção<br />
no mundo‖ (p.98), por isso o educador pode ser considerado como instrumento fundamental para o<br />
desencadeamento do processo de transformação da vida de jovens. Neste sentido, o desafio maior desta<br />
pesquisa é identificar de que forma estes educadores fazem a diferença na vida dos jovens que participam<br />
do Programa Educação para o Trabalho, realizado pelo SENAC SP, unidade <strong>Campinas</strong>. Finalmente, a<br />
pesquisa pretende contribuir para a compreensão de diferentes práticas da educação social que marcam a<br />
vida dos alunos em ambientes educacionais.<br />
212
METODOLOGIA<br />
Ao analisarmos o contexto da investigação a ser realizada e as diferentes metodologias, decidimos<br />
por adotar a metodologia da pesquisa qualitativa, uma vez que se mostra como a mais adequada na<br />
interpretação de Bogdan e Bicklen (1994), por permitir maior detalhamento dos acontecimentos, das<br />
entrevistas e/ou conversas, possibilitando maior envolvimento do pesquisador.<br />
Segundo LUDKE, (1986), dentre as várias formas que uma pesquisa qualitativa pode assumir,<br />
destaca-se o estudo de caso, objeto da presente pesquisa realizada, conforme descrito no resumo e na<br />
introdução deste trabalho. Esta abordagem envolve um estudo muito aprofundado, devendo ser conduzida<br />
de forma a esclarecer todas as dúvidas para só assim permitir um amplo e completo conhecimento.<br />
Para a realização desta pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso, fez-se necessário o uso de<br />
instrumentos para coleta dos dados, sendo que neste caso específico optamos pelo uso de questionários e<br />
das entrevistas semi-estruturadas. Nestas, seguimos um roteiro de perguntas e realizamos áudio-gravação<br />
das mesmas, no intuito de possibilitar no momento da análise dos dados, maior aprofundamento e<br />
detalhamento na análise das respostas obtidas.<br />
A pesquisa foi realizada com sujeitos diversos, identificados de acordo com as turmas do<br />
Programa Educação para o Trabalho, realizado pelo Senac <strong>Campinas</strong> no segundo semestre de 2010, nas<br />
cidades de <strong>Campinas</strong>, Valinhos e Hortolândia. Os sujeitos da pesquisa são caracterizados como: alunos<br />
cursando o Programa (128 questionários respondidos e 9 entrevistas semi-estruturadas realizadas);<br />
docentes ministrando aulas no Programa (4 questionários respondidos e 4 entrevistas realizadas);<br />
coordenadores do Programa (2 questionários respondidos e 2 entrevistas realizadas) e egressos do<br />
Programa (2 questionários e 2 entrevistas realizadas).<br />
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA<br />
A pesquisa está baseada em conceitos da Pedagogia Social e da Educação Social,<br />
descritas por diversos autores, como por exemplo, Loureiro (2009, p.88). Para ele ―A Pedagogia<br />
Social constitui a disciplina cientifica enquanto a Educação social constitui a ação, um espaço<br />
de intervenção pública‖.<br />
Segundo Luzuriaga (1960, p.24): ―A educação existe desde o começo da sociedade<br />
humana‖, o que nos permite dizer que a educação deve ser considerada como um dos elementos,<br />
senão o mais importante, responsável pela contribuição e elevação da qualidade da vida das<br />
pessoas, das sociedades, das cidades e dos países. Ainda segundo Luzuriaga “não há educação<br />
sem sociedade e vice-versa.”. Outro aspecto relacionado à educação podemos encontrar em<br />
Piaget, citado por Ruiz e Bellini (1996):<br />
O principal objetivo da educação é criar homens capazes de fazer novas coisas,<br />
não simplesmente de repetir o que outras gerações fizeram – homens criativos,<br />
inventivos e descobridores (PIAGET, apud Ruiz e Bellini, 1996).<br />
Entendemos que é por meio da educação em todos os seus níveis e modalidades que os<br />
indivíduos conhecem, aprendem e experimentam novas e diversas experiências de vida que<br />
contribuirão para sua formação, nos aspectos da personalidade e caráter humanos, incluindo o<br />
profissional.<br />
Em tempos de globalização e de crises econômicas e políticas, em que as mudanças<br />
ocorridas no mundo do trabalho contribuem para o crescimento da desigualdade social e do<br />
213
desemprego, faz-se necessário pensar processos de formação diferenciados que contribuam com a<br />
mudança de comportamento individual e coletivo.<br />
Observa-se, que a maioria dos professores não percebe a importância que os mesmos<br />
têm como modelo e referência de sucesso na vida de jovens, ou não se percebem como um<br />
professor marcante.<br />
Segundo Castanho (2001), o professor marcante ―amplia os horizontes próprios e dos<br />
alunos, faz-se seguro e incute segurança, busca a verdade a despeito de todas as dificuldades e<br />
contingências‖ (p. 162).<br />
Ainda sobre o papel do professor, em Freire (1996) encontramos que o profissional de<br />
educação tem o compromisso de colaborar com o processo de transformação da sociedade, o que<br />
para o autor significa o verdadeiro comprometimento do educador.<br />
Para que haja uma transformação no contexto educacional, formas diferenciadas de<br />
educar devem ser consideradas e avaliadas como alternativas a serem utilizadas por professores<br />
preocupados realmente com o desenvolvimento dos alunos. Esta prática alternativa pode resultar<br />
em professores mais inventivos, criativos e comprometidos com a verdadeira independência da<br />
sociedade.<br />
Neste sentido, entendemos que a Educação Social e a Pedagogia Social têm papel<br />
relevante, na medida em que educadores sociais que atuam com programas de caráter sócioeducativos<br />
já se utilizam de práticas pedagógicas diferenciadas com base nos conceitos da<br />
Educação Social.<br />
O educador social estabelece-se intervindo com as mais diversas faixas etárias<br />
(...) e nos mais diferentes contextos sociais, culturais, educativos e econômicos<br />
(...) o educador social deve ser um ator social, um educador e um mediador<br />
social (LOUREIRO, 2009, p.88).<br />
Complementando tal afirmação, OTTO, (2009, p.37) nos traz que ―a idéia básica da<br />
Pedagogia Social é promover o funcionamento social da pessoa: a inclusão, a participação, a<br />
identidade e a competência social como membros da sociedade‖.<br />
Quanto à educação social no Brasil, consideramos de acordo com os autores lidos, esta<br />
como uma expressão relativamente nova, o que não significa que não tenhamos realizado ao<br />
longo de boa parte da nossa história, educação social de qualidade, conforme nos lembra Silva,<br />
(2009).<br />
A educação social tem suas origens na Alemanha, no período pós-guerra, e representa<br />
para Loureiro (2009, p.91) ―a intervenção da Pedagogia Social possibilitando a ação<br />
pedagógica sobre os indivíduos‖.<br />
É importante destacar que no decorrer da pesquisa, optamos por adotar as expressões Pedagogia<br />
Social e Educação Social, de acordo com Loureiro (2009). Para este autor ―A Pedagogia Social constitui<br />
a disciplina cientifica enquanto a Educação Social constitui a ação, um espaço de intervenção pública‖<br />
(LOUREIRO, 2009, p. 88).<br />
Concordamos também com Otto, (2009, p.37) no sentido de que ―a idéia básica da Pedagogia<br />
Social é promover o funcionamento social da pessoa: a inclusão, a participação, a identidade e a<br />
competência social como membros da sociedade‖.<br />
Esta opção está fundamentada nas leituras realizadas e práticas por nós observadas, sem contudo,<br />
representar uma negação aos estudos e práticas de grande relevância sobre educação não-formal<br />
214
ealizados no Brasil. Estes constituem e dão suporte ao cenário educacional que vivenciamos, no qual a<br />
educação não-formal representa o mecanismo possível de contribuição à educação formal.<br />
Desta forma, identificamos que o Programa Educação para o Trabalho, objeto de estudo desta<br />
pesquisa, apresenta todas as características da Educação Social, ou seja, da ação especificamente, e está<br />
embasado na teoria geral da Pedagogia Social e da ação da Educação social.<br />
Esta constatação nos possibilitará apresentar algumas considerações sobre como esta teoria e<br />
ação poderão dar suporte teórico aos documentos oficiais do Programa realizado pelo Senac São Paulo.<br />
QUEM É O EDUCADOR SOCIAL?<br />
Em tempos de globalização e de crises econômicas e políticas, quando as mudanças<br />
ocorridas no mundo do trabalho contribuem para o crescimento da desigualdade social e do<br />
desemprego, faz-se necessário pensar processos de formação diferenciados que poderão gerar<br />
mudanças de comportamento individual e coletivo, e ainda resultar em professores mais<br />
inventivos, criativos e comprometidos com a verdadeira independência da sociedade.<br />
Concordamos com Freire, (1979), para quem o profissional de educação tem o<br />
compromisso de colaborar com o processo de transformação da sociedade, o que para o autor<br />
significa o verdadeiro comprometimento do educador.<br />
Para Saviani (2008) o baixo desempenho que vigora nas escolas públicas tem origem<br />
em questões destacadas há muito tempo no ambiente educacional, tais como: a falta de interesse<br />
das administrações municipais nas questões de adequação do ambiente escolar, os baixos<br />
salários pagos aos professores da educação básica, e outros que contribuem para a situação atual<br />
no ambiente educacional.<br />
Interpretando Saviani (2008) acreditamos que o cenário conflituoso que vivenciamos<br />
no ambiente da educação formal pública brasileira contribui, em alguns aspectos, para o<br />
desinteresse dos alunos, o que pode gerar em médio prazo, um círculo vicioso no processo<br />
educacional: os alunos que não se interessam em aprender de um lado e do outro, professores<br />
que não conseguem ensinar porque os alunos estão desinteressados.<br />
Consideramos que, para que haja uma transformação neste cenário, formas<br />
diferenciadas de educar devem ser consideradas e avaliadas como alternativas para despertar<br />
novamente o interesse dos alunos. Neste sentido, educadores que atuam com programas de<br />
caráter sócio-profissional podem contribuir, compartilhando experiências, socializando<br />
informações e incorporando temas da educação formal em projetos de caráter sócio-educativos.<br />
Em países como Espanha, Portugal e Uruguai o profissional que atua como educador<br />
social é formado em curso Superior de Educação Social, sendo que nestes países existe toda<br />
uma estrutura para a formação e atuação deste profissional, segundo nos trazem Souza Neto,<br />
Silva e Moura (2009). Para os autores, esta estrutura vai desde a formação a partir das bases<br />
teóricas da Pedagogia Social até a organização político-administrativa para o exercício desta<br />
atividade.<br />
Diferentemente do que ocorre no Brasil, conforme nos trazem Souza, Silva e Moura<br />
(2009), onde o Educador Social é visto geralmente como um profissional de nível médio e/ou de<br />
nível técnico, ou seja, sem formação superior. E completam os autores o termo ―Educador<br />
Social‖ é usado para se referir aos oficineiros, artesãos, artistas, mestres de capoeira, arteeducadores<br />
com formações variadas, ou mesmo sem formação.<br />
Para Loureiro (2009, p.85) ―o educador social tem como objetivo primordial contribuir<br />
para a integração social do individuo‖.<br />
215
Para Carvalho (2009) ―é necessário que o educador social se afirme como um bom<br />
interprete da realidade social‖ (CARVALHO apud Souza, Silva e Moura, 2009, p. 90).<br />
Após analisarmos este contexto de quem é o educador social com base na teoria da<br />
Pedagogia Social, e principalmente avaliarmos o profissional que se convencionou chamar<br />
como Educador Social no Brasil, adotaremos a partir destas considerações, a expressão<br />
Educador para nos referirmos aos docentes e/ou professores que atuam no Programa Educação<br />
para o Trabalho realizado pelo Senac São Paulo, programa este objeto de estudo desta pesquisa.<br />
Esta opção baseia-se no fato de não causarmos confusão do papel, do perfil do<br />
educador social adotado no Brasil com o docente que atua no Programa, porém, acreditamos que<br />
este conceito deva ser alterado também no cenário brasileiro, a exemplo do que já ocorreu em<br />
outros países que adotam este termo ligado a uma formação profissional, como Portugal e<br />
Uruguai entre outros.<br />
CARACTERIZAÇÃO DOS PARCEIROS DA PESQUISA<br />
Os parceiros da pesquisa, também chamados de respondentes, participaram<br />
voluntariamente deste trabalho e constituem o grupo de pessoas envolvidas no Programa<br />
Educação para o Trabalho no momento da realização deste trabalho. Podemos caracterizá-los<br />
em 4 grupos:<br />
Alunos cursando o Programa,<br />
Coordenadores do Programa,<br />
Docentes ministrando aulas no Programa,<br />
Egressos do Programa.<br />
A partir do total de 128 questionários respondidos pelos alunos que cursavam o<br />
programa no final do segundo semestre de 2010, época da coleta dos dados desta pesquisa,<br />
obtivemos dados que nos permitem conhecer o perfil do jovem que participa do Programa em<br />
estudo.<br />
Iniciamos reconhecendo estes jovens a partir de suas idades, como apresentamos no<br />
Gráfico 1:<br />
.<br />
Gráfico 1: Idades dos alunos que responderam os questionários.<br />
A maior parte dos jovens (43%) que responderam ao questionário tinha à época da<br />
pesquisa 16 anos de idade. Quanto a escolaridade, a maior parte dos respondentes 44% cursava<br />
o 1º. Ano do Ensino Médio, conforme apresentamos no Gráfico 2 a seguir:<br />
216
Gráfico 2: Escolaridade dos alunos entrevistados<br />
No que se refere à participação anterior dos alunos em outros projetos sociais, observase<br />
que 77% dos jovens não participaram de nenhum curso, projeto e/ou programa social voltado<br />
especificamente para este público, sendo relatado por eles como motivo mais freqüente para esta<br />
não participação, a falta de oportunidade.<br />
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES<br />
A partir de alguns dados tabulados, é possível inferir que jovens residentes nas três cidades<br />
pesquisadas, localizadas na RMC – Região Metropolitana de <strong>Campinas</strong>, com idade de 16 anos e cursando<br />
o primeiro ano do Ensino Médio, demonstram em quase 50% do seu total, interesse por questões<br />
relacionadas ao mundo trabalho.<br />
Para SILVA (2009, p.184) ―a crescente visibilidade adquirida pela Educação Social constitui um<br />
fator a mais em torno da chamada crise da Educação Escolar‖.<br />
Nesse aspecto e com base nos conceitos apresentados, espera-se ao finalizar a análise das<br />
entrevistas e ampliar nossos estudos teóricos, apresentar algumas considerações sobre a possibilidade de<br />
que a educação social possa constituir-se num ambiente complementar ao da educação formal, no intuito<br />
de contribuir com o desenvolvimento pessoal e profissional de jovens com interesse pelo mercado de<br />
trabalho, atuando em parceria com as escolas públicas de ensino formal.<br />
Pretendemos também oferecer subsídios que permitam aos educadores de forma geral, uma<br />
oportunidade de reflexão sobre suas práticas de atuação, entendendo que estas se constituem em<br />
possibilidades de formação e transformação da vida dos jovens em diferentes contextos sociais.<br />
Referências<br />
BOGDAN, R. e BIKLEN, S. Investigação Qualitativa em Educação – Uma introdução à<br />
teoria e aos métodos. Porto, Portugal: Porto Editora, 1994.<br />
CASTANHO, Sérgio, CASTANHO, Maria Eugenia (orgs.) Sobre Professores Marcantes in:<br />
Temas e Textos em Metodologia do Ensino Superior, <strong>Campinas</strong>/SP, Papirus Editora, 2001.<br />
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.<br />
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.<br />
217
GIRON, Graziella Rossetto. Políticas públicas, educação e neoliberalismo: o que isso tem a<br />
ver com cidadania? Revista de Educação <strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong>. <strong>Campinas</strong>/SP: Gráfica e Editora<br />
Flamboyant Ltda. nº 24, p. 17-26, jun/2008.<br />
LOUREIRO, Manuel, CASTELEIRO, Steven, A Pedagogia Social em Portugal in: SOUZA<br />
NETO, João Clemente, SILVA, Roberto e MOURA, Rogério (org.). Pedagogia Social, São<br />
Paulo: Expressão e Arte Editora, 2009.<br />
LUZURIAGA, Loureiro. Pedagogia Social e Política. São Paulo. Companhia Editora Nacional,<br />
1960.<br />
OTTO, Hans-Uwe. Origens da Pedagogia Social in: SOUZA NETO, João Clemente, SILVA,<br />
Roberto e MOURA, Rogério (org.). Pedagogia Social, São Paulo: Expressão e Arte Editora,<br />
2009.<br />
SILVA, Roberto. As Bases cientificas da Educação não-formal in: SOUZA NETO, João<br />
Clemente, SILVA, Roberto e MOURA, Rogério (org.). Pedagogia Social, São Paulo: Expressão<br />
e Arte Editora, 2009.<br />
SOUZA NETO, João Clemente, SILVA, Roberto e MOURA, Rogério (org.). Pedagogia Social,<br />
São Paulo: Expressão e Arte Editora, 2009.<br />
RUIZ, Adriano R. e BELLINI, Luzia M. Educação, Construtivismo e Ética. Porto Ferreira, SP:<br />
Ed. Gráfica São Paulo, 1996.<br />
O EDUCADOR DIANTE DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS: PERSPECTIVAS PARA UMA EDUCAÇÃO<br />
DEMOCRÁTICA<br />
Resumo<br />
218<br />
Regina Carvalho Calvo de Faveri<br />
Mestranda do PPGE da <strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong><br />
Vera Lúcia de Carvalho Machado<br />
Professora do PPGE e da Faculdade de Educação da <strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong><br />
Agência de fomento: CAPES<br />
Eixo temático: Democracia, Políticas Públicas e Educação<br />
Categoria: Pôster<br />
reginafaveri@yahoo.com.br; veris@puc-campinas.edu.br<br />
Este trabalho objetiva identificar e analisar as concepções dos educadores acerca da Escola de<br />
Tempo Integral (ETI) no contexto da política educacional que rege a implementação desse<br />
modelo de escola. Tal objetivo origina-se na literatura consultada que aponta para a atuação<br />
docente e para o envolvimento dos profissionais com as propostas de ensino, sobretudo quando se<br />
tratam de reformas do sistema, como ponto essencial para o fracasso ou sucesso das políticas
educacionais no Brasil. A relevância deste trabalho, justifica-se pelo fato de a ETI ser<br />
mencionada nos principais documentos oficiais como a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e o<br />
Plano Nacional de Educação (PNE) como direito das camadas populares a uma educação de<br />
qualidade, de caráter democrático, em detrimento da desigualdade social presente nas sociedades<br />
modernas. Outra justificativa importante, que merece ser destacada, é o fato de a concepção dos<br />
educadores ser ponto recorrente na referida literatura, tanto por autores que defendem quanto<br />
pelos que criticam a implantação das ETI. Parte-se, portanto, dos seguintes questionamentos: De<br />
que maneira a concepção dos educadores repercute na implementação da ETI? A ampliação do<br />
tempo escolar, como política educacional, exige uma formação diferenciada dos educadores? A<br />
metodologia adotada neste estudo baseia-se, fundamentalmente, na pesquisa de campo, de<br />
natureza qualitativa, a ocorrer em duas ETI, de 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, de<br />
<strong>Campinas</strong>, São Paulo. Como principais procedimentos de coleta de dados serão utilizados<br />
registros em diário de campo; entrevistas semi-estruturadas com os docentes e gestores; análise<br />
de documentos como o Projeto Político Pedagógico (PPP) e a Proposta da Coordenadoria de<br />
Estudos e Normas Pedagógicas (CENP). Tais análises terão como foco a pergunta inicialmente<br />
elaborada. Contudo, espera-se identificar as concepções dos educadores acerca da ETI,<br />
compreendendo seus reflexos diante das políticas vigentes, contribuindo por meio da construção<br />
de conhecimentos sobre a temática. Como referencial teórico tomar-se-ão os autores Paro,<br />
Cavaliere, Coelho entre outros, além dos documentos oficiais já citados.<br />
Palavras-chave: Escola de Tempo Integral; Concepção do educador; Políticas educacionais.<br />
Esta pesquisa objetiva identificar e analisar as concepções dos educadores acerca da Escola de<br />
Tempo Integral (ETI) no contexto da política educacional que rege a implementação desse modelo<br />
de escola. A relevância do trabalho justifica-se pelo fato de a ETI ser mencionada nos principais<br />
documentos oficiais como a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e o Plano Nacional de Educação<br />
(PNE) como direito das camadas populares a uma educação de qualidade, de caráter democrático,<br />
em detrimento da desigualdade social presente nas sociedades modernas. Outra justificativa<br />
importante, que merece ser destacada, é o fato de a concepção dos educadores ser ponto recorrente<br />
na referida literatura, tanto por autores que defendem quanto pelos que criticam a implantação das<br />
ETI. Parte-se, portanto, dos seguintes questionamentos: De que maneira a concepção dos<br />
educadores repercute na implementação da ETI? A ampliação do tempo escolar, como política<br />
educacional, exige uma formação diferenciada dos educadores? A metodologia adotada neste<br />
estudo baseia-se, fundamentalmente, na pesquisa de campo, de natureza qualitativa, a ocorrer em<br />
duas ETI, de 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, de <strong>Campinas</strong>, São Paulo. Como principais<br />
procedimentos de coleta de dados serão utilizados registros em diário de campo; entrevistas semiestruturadas<br />
com os docentes e gestores; análise de documentos como o Projeto Político<br />
Pedagógico (PPP) e a Proposta da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (CENP). Tais<br />
análises terão como foco as perguntas inicialmente elaboradas. A ampliação do tempo escolar tem<br />
sido investigada por diferentes autores como aspecto determinante para uma reforma sistema<br />
educacional público. Sempre presente nas leis e nos discursos acadêmicos ou políticos, o aumento<br />
da jornada surge como estratégia minimizadora das desigualdades e parece relacionar-se ao ideal<br />
de uma educação mais democrática e à possibilidade de uma formação pedagógica mais completa.<br />
Portanto, a ETI aparece, historicamente, como solução para muitos problemas e como<br />
oportunidade para as camadas populares que necessitam incluir-se ativamente na sociedade, tendo<br />
219
seus direitos e deveres assegurados. A problemática da ETI se insere na corrente filosófica<br />
pragmatista, que se apóia na construção de uma nova identidade para a instituição escolar,<br />
alicerçada num ideal coletivo e, por isso mesmo, democrático. Segundo Cavaliere (2009), John<br />
Dewey, pensador norte americano seguidor dessa vertente, teve fortes influências sobre os<br />
precursores da ETI no Brasil. Os pressupostos de Dewey tiveram reflexos no país, como o<br />
movimento escolanovista nos anos de 1930. Dentro desse ideal, a escola seria universalizada e<br />
democrática, calcada na necessidade sócio-integradora do homem, diferentemente da escola<br />
chamada tradicional, cujas práticas acabavam por reforçar a desigualdade. Documentos oficiais<br />
produzidos pela União, estados ou municípios apontam para a ETI como política fundamental para<br />
o sistema de ensino no Brasil. Após muitos anos desde a implementação do Centro Carneiro<br />
Ribeiro, primeira experiência, idealizada por Anísio Teixeira, outros programas surgiram como os<br />
Centros de Educação Integral (CIEP), no Rio de Janeiro, idealizados por Darcy Ribeiro; o<br />
Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura (PROFIC) e o Programa de Atenção Integral<br />
à Criança (PRONAICA) no âmbito nacional; o Centro Integral de Atenção à Criança e ao<br />
Adolescente (CAIC) em várias regiões do país; os Centros de Educação Integral (CEI) em<br />
Curitiba; o Programa Mais Educação do governo federal; entre outros. Contudo, a ETI jamais se<br />
consolidou como política nacional pautada na garantia de direitos daqueles que necessitam incluirse<br />
ativamente na sociedade. Como se pode perceber, cada proposta assumiu papéis diferenciados,<br />
não havendo uma identidade fundamentada, prioritariamente, no seu caráter social. A literatura<br />
consultada confirma a ausência de uma linha norteadora, do sistema nacional de ensino, cujo<br />
enfoque seja efetivamente a democratização da escola na contemporaneidade. Sua implantação<br />
parece ter enfatizado o tempo como elemento chave, deixando num segundo plano a formação<br />
educacional. A ETI representa uma necessidade da sociedade contemporânea. A Lei de Diretrizes<br />
e Bases 9.394 de 1996, no caput do artigo 34 indica que ―A jornada incluirá pelo menos quatro<br />
horas em sala de aula, sendo progressivamente ampliado o período de permanência na escola.‖<br />
Ainda no mesmo artigo, 2º parágrafo, a LDB determina que ―O ensino fundamental será<br />
ministrado progressivamente em tempo integral, a critério dos sistemas de ensino.‖ Fica evidente<br />
que a ampliação progressiva da jornada escolar é compreendida como forma de garantir a<br />
qualidade da educação no trecho: ―Serão conjugados todos os esforços objetivando a progressão<br />
das redes escolares públicas urbanas de ensino fundamental para o regime de escolas de tempo<br />
integral‖ (Artigo 87, 5º parágrafo). Mas, de acordo com Cavaliere (2002), a ampliação da jornada<br />
escolar significa muito mais do que apenas um aumento de tempo. A autora destaca a possibilidade<br />
de se desenvolverem na escola experiências que normalmente ficam fora dela e que seriam<br />
imprescindíveis para uma educação de qualidade. A maneira como a escola se organiza passa,<br />
necessariamente, pela questão do tempo e, para além dele, exige a reestruturação das práticas<br />
educativas desenvolvidas. Concorda-se com Cavaliere (2002) quanto à perspectiva da ETI,<br />
baseada nos ideais da escola nova, representar uma tentativa de reformulação que a tornaria mais<br />
democrática por receber igualmente crianças com as mais diversas experiências de vida. Esse<br />
princípio seria inquestionavelmente democrático, se não estivesse também marcado pelo controle<br />
das classes dominantes sobre aquelas vistas como ameaça à ordem nacional. Pensa-se que desde o<br />
princípio a ETI contou com objetivos e interesses diferentes por parte de seus idealizadores. Por<br />
um lado, a luta pela implementação do modelo resulta da crença de uma educação democrática e<br />
qualitativamente melhor. Por outro, um mecanismo para que a ideologia dominante não perca sua<br />
força e assegure uma educação voltada para uma suposta homogeneidade. Há concordância com os<br />
argumentos de Cavaliere (2002) no que concerne à ETI como possibilidade de uma educação mais<br />
220
abrangente, mais profunda e que, por isso mesmo, inclui ações consideradas assistencialistas, mas<br />
que são urgentes. Considera-se, portanto, que a ampliação do tempo escolar exige,<br />
necessariamente, mudança na prática educativa e a recíproca se faz verdadeira. Crê-se que a<br />
implementação da ETI deve impactar sobremaneira a formação discente. Contudo, espera-se<br />
identificar as concepções dos educadores acerca da ETI, compreendendo seus reflexos diante das<br />
políticas vigentes, contribuindo por meio da construção de conhecimentos sobre a temática. Como<br />
referencial teórico tomar-se-ão os autores Paro, Cavaliere, Coelho entre outros, além dos<br />
documentos oficiais já citados.<br />
221
Eixo 4: Qualidade de Ensino<br />
A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA PÚBLICA NO BRASIL ATUAL: DESAFIOS E<br />
PERSPECTIVAS<br />
Resumo<br />
222<br />
José Aguiar Nobre/Mestrando<br />
Nobre.jose@gmail.com<br />
Samuel Mendonça/Doutor<br />
samuelms@gmail.com<br />
Eixo Temático: Qualidade de Ensino<br />
Comunicação oral<br />
Puc-<strong>Campinas</strong>/<strong>Campinas</strong>/SP<br />
Financiamento: Bolsa Reitoria da Puc-campinas<br />
A justificativa do presente trabalho surge a partir da percepção da necessidade de reflertimos sobre os<br />
desafios e perspectivas da gestão democrática no Brasil hoje, voltando sempre a nossa atenção para os<br />
anseios da efetivação da educação de qualidade para todos. Quando discutimos a gestão democrática da<br />
escola pública no Brasil, pensamos a gestão da educação a partir do uso racional dos métodos<br />
educacionais para atingirmos os fins da educação democrática. Entendemos que esses fins se atingem a<br />
partir do envolvimento da comunidade em torno da escola pública para efetivar a sua gestão democrática.<br />
Democracia aparece aqui com o sonho da boa educação com o acesso de todos e destacamos o adjetivo<br />
qualidade como um atributo que possibilita o pensar crítico do educando. Diante dessas premissas, do<br />
ponto de vista formal, a grande pergunta que permeia a nossa reflexão é: como possibilitar a efetivação da<br />
gestão democrática e quais as perspectivas para a sua concretização no Brasil hoje? Os objetivos<br />
consistem em provocar uma discussão sobre as condições em que se desenvolve a educação pública do<br />
Brasil atual, bem como criar condições para a politização social acerca dessa realidade a fim de se<br />
dispensar uma atenção melhor para a educação dos cidadãos. Ao discutir essa questão, valemo-nos do<br />
método filosófico da educação, circunscrevendo-se a partir da pesquisa bibliográfica. Sabemos que<br />
sistematizar os desafios que permeiam a questão da gestão democrática da escola pública não é tarefa<br />
fácil, entretanto, precisamos voltar o nosso olhar para esta realidade. Entendemos que a conscientização<br />
ou instrução da sociedade acerca da realidade da educação pública atual, bem como dos seus constituintes<br />
internos e externos constitui um caminho e uma perspectiva para se efetivar a educação pública de<br />
qualidade que sonhamos. Os resultados esperados consistem na possibilidade de investir na<br />
conscientização e instrução da sociedade, por meio da educação, acerca da importância de seu<br />
envolvimento na questão da gestão democrática da escola pública, como meio de pressionar o Estado a<br />
fim de que este trate a questão com maior cuidado.<br />
Palavras- chave: Gestão democrática, conscientização, politização, escola pública.<br />
Introdução<br />
Não há aqui uma pretensão totalizante em delinear ou sistematizar todos os desafios e todas as<br />
perspectivas que estão imbricadas em torno da questão da gestão democrática da escola pública no Brasil<br />
atual, uma vez que se essa pretensão se fizesse presente, o leitor consciente, certamente nem gastaria o seu
precioso tempo para continuar a leitura, pois já saberia, de imediato, que se trataria de uma leviandade.<br />
Fazemos o convite para uma trilharmos um itinerário tecendo uma reflexão acerca da complicada e<br />
desafiante tarefa que é gerir democraticamente a escola pública no Brasil da atualidade.<br />
Sabemos que a tarefa de democratizar a educação pública em busca da boa qualidade do ensino<br />
depende, em grande parte, de um cioso envolvimento dos usuários da escola, de maneira geral, de toda a<br />
sociedade civil para esta conquista. ―É certo que, tanto ontem quanto hoje, há muito pouca probabilidade<br />
de o Estado democratizar o saber, caso não existam esforços significativos da sociedade civil para<br />
compeli-lo a essa ação‖ (NUNES, 2009, p. 13). De maneira especial, faz-se necessário que os<br />
profissionais da educação como agentes dessa sociedade que está vivendo no dia a dia, nas salas de aulas,<br />
a realidade desafiadora da situação educacional brasileira, tomem a dianteira dessa compressão do Estado.<br />
O educador Anísio Teixeira acreditou na revolução por meio da educação e entendeu sempre que a<br />
educação é capaz de transformar a sociedade. Sabemos que é um ponto de herança da tradição pedagógica<br />
democratizante, o papel transformador da educação. Essa compreensão é praxe na sociedade educativa.<br />
―Afinal, se a educação não é livre para mudar a cultura e a sociedade, se é condicionada e reprodutora,<br />
como pode ser transformadora?‖ (NUNES, 2009, p. 14). Pela prática escolar dos conflitos cotidianos que<br />
vemos constantemente anunciados nos meios de comunicação social, sabemos que nem sempre existe uma<br />
correspondência direta entre os níveis das políticas públicas, das ideias pedagógicas e das práticas<br />
escolares. Pelo contrário, os ritmos do cotidiano escolar, não somente não coincidem com os da política<br />
educacional, mas acabam até colidindo entre si. Um olhar mais atento, nos leva a perceber que na<br />
especificidade do educacional, na sua vocação teleológica, o cotidiano da política escolar não se submerge<br />
aos âmbitos jurídicos e normativos, mas sempre terá um ritmo subversivo e veladamente próprio. Dito de<br />
outra forma, dependendo dos níveis de criticidade do educador, ele sempre se posicionará contra o<br />
burocratismo que entrava o saber, pois é consciente de que na prática, a lei deveria sempre estar a serviço<br />
da vida plena de acesso a todos.<br />
A gestão democrática da escola pública em si<br />
Quando discutimos a gestão democrática da escola púbica, remetemo-nos sempre ao<br />
envolvimento dos usuários dessa escola com os problemas referentes ela. Chamamos para a divisão de<br />
responsabilidades a fim de atingirmos o mesmo objetivo: a educação de qualidade para todos.<br />
Pensar dessa outra forma também nos responsabiliza mais; nos obriga, como<br />
educadores, professores e cidadãos, a abrir a unidade escolar para a participação<br />
efetiva dos seus usuários reais ou potenciais, de forma a permitir que cada escola<br />
pública construa um projeto de trabalho e ensino que a torne menos subserviente aos<br />
interesses dominantes presentes no Estado. Não basta, no entanto, defender a<br />
participação. É preciso também avaliar em que condições essa participação pode<br />
tornar-se realidade, e isso pressupõe a investigação tanto das potencialidades da<br />
participação quanto dos obstáculos a ela, presentes não só na unidade escolar mas<br />
também na comunidade em que está instalada (NUNES, 2009, p. 15).<br />
Como se ver, a necessidade de repensar a gestão democrática da escola pública é um convite<br />
constante quando compreendemos que a divisão de responsabilidades ou o envolvimento da sociedade<br />
civil em prol de uma causa, facilita a concretização de objetivos, pois todos se sentirão responsáveis e<br />
participantes em prol de uma conquista. E vimos também que para o seu alcance, há a necessidade<br />
histórica do planejamento educacional estratégico, isto é, faz-se necessário avaliar constantemente as<br />
potencialidades disponíveis na comunidade para essa participação e medir os obstáculos para que esses<br />
não acabem por sufocar as potencialidades.<br />
Quando se diz avaliar, pensa-se em considerar os padrões mínimos de qualidade da educação que<br />
é oferecida.<br />
223
Trata-se da avaliação de resultados, enquanto momento essencial no processo<br />
administrativo, propiciador, (...), de elementos que possibilitam informações<br />
constantes sobre o andamento do processo, para que se possam corrigir rumos,<br />
providenciar recursos, adequar procedimentos, redimensionar metas, superar<br />
fracassos, tudo isso que, em geral, está ausente da rede pública de ensino. Nesta, a<br />
única avaliação presente, em geral, é aquela (...) em que por meio de um processo<br />
punitivo procura-se culpar o aluno pelo fracasso do ensino, em lugar de avaliar o<br />
próprio trabalho da escola e reconhecer o quanto ela é ineficiente. A esse respeito,<br />
parece que uma medida que se faz necessária é acabar com as reprovações anuais<br />
(PARO, 2000, p. 93).<br />
Sendo assim, o desafio é entender que a melhoria da educação que nasce de uma gestão<br />
democrática que funcione leva em conta um processo constante e significativo de avaliação de todo o<br />
trabalho em que se rever o desempenho e procura meios de corrigir os erros durante todo o tempo, entendo<br />
a educação de forma processual.<br />
Na busca pela efetivação de um Estado democrático entendemos que se faz necessária a<br />
elaboração de um planejamento da educação pública. Escrevendo sobre a vida de Anísio Teixeira, retira<br />
da sua obra Educação é um direito, Luis Felippe Perret Serpa, (1992, p. 87-88) chama a atenção para essa<br />
experiência histórica que nos legou esse educador no campo do planejamento em busca da educação<br />
democrática, evocando a seus ensinamentos como fonte inspiradora e sublinha quatro características<br />
básicas que nos auxiliam no planejamento da educação para a democracia:<br />
224<br />
(1) Valorização da unidade escolar, com a participação conjunta da União, do Estado<br />
e do Município para o seu funcionamento pleno. (2) Valorização do professor,<br />
através do fortalecimento da unidade escolar e da valorização do seu salário, da<br />
utilização da concepção do custo-aluno/ano como base para o funcionamento da<br />
educação pública, e da atribuição de importância à formação e ao licenciamento do<br />
magistério. (3) População escolarizável como base para o financiamento da<br />
Educação Pública, através do conceito de custo-aluno/ano e da participação dos três<br />
níveis administrativos do poder público no financiamento da unidade escolar. (4)<br />
Integração da unidade escolar com a sociedade, através da gestão democrática da<br />
educação desenvolvida por órgãos colegiados em todos os níveis da escola, do<br />
município e do estado i .<br />
A gestão democrática da educação púbica, no nosso entender, vem como uma necessidade de efetivar a<br />
boa educação, isto é, aquela educação que possibilita a formação do cidadão capaz de um pensar crítico<br />
acerca dos problemas de seu tempo e viver também de forma democrática. Nas palavras de (TEIXEIRA,<br />
2009, p. 99):<br />
A forma democrática implica um desenvolvimento social e político que tem por base<br />
a educabilidade humana, e no qual a educação é concebida como processo<br />
deliberado, sistemático, progressivo e, praticamente, indefinido de formação do<br />
indivíduo e de realização da própria forma democrática.<br />
Esse processo deliberado, sistemático e progressivo da formação do indivíduo está diretamente<br />
relacionado com a realização e efetivação da gestão democrática. Sendo assim, tem a preocupação de<br />
livrar a escola de influências político-partidárias e eleitorais e, consequentemente, o grande desafio é fazer<br />
com que a educação livre-se da burocracia do Estado. Nesta perspectiva, no exercício da gestão<br />
democrática, propõe-se que:<br />
... os serviços de educação constituiriam serviços autônomos, de responsabilidade<br />
conjunta da União, dos estados e dos municípios, superintendidos por conselhos
epresentativos da sociedade e de composição leiga. Os recursos mínimos, previstos<br />
na Constituição, para tais serviços, passariam a ser considerados fundos de educação<br />
a serem administrados pelos conselhos (TEIXEIRA, 2009, p. 100).<br />
Essa concepção de gestão democrática da escola pública composta por conselhos de leigos como é<br />
apresentado acima, já é uma experiência histórica de planejamento da educação que nos foi legado pelo<br />
educador Anísio Teixeira e que poderá muito bem ser sintetizada ou traduzida como paradigma nas<br />
seguintes palavras do próprio Anísio Teixeira (2009, p. 99): ―As relações, portanto, entre Estado<br />
democrático e a educação são relações intrínsecas, no sentido de que a educação é a condição sine qua<br />
non i da existência do Estado democrático‖. Sendo a educação uma condição indispensável para a<br />
efetivação do Estado democrático, no tocante à gestão democrática da escola pública, sua efetivação<br />
dependerá de um certo mínimo de educação para todos. E, sendo a educação um direito constitucional de<br />
todos os brasileiros e responsabilidade dos três poderes: federal, estadual e municipal, com ações<br />
mutuamente complementares, ―torna indispensável um mínimo de ação coordenada e uniforme em que,<br />
acima de tudo, se fixem as responsabilidades de financiamento do esforço comum de educação de todos os<br />
brasileiros‖ (TEIXEIRA, 2009, p.100). Quando essa concepção está clara nas consciências das pessoas<br />
envolvidas com a escola, ou que chamamos de usuários da escola pública, todos trabalharão colegialmente<br />
no sentido de lutar para garantir o mínimo obrigatório da educação a ser oferecido a todos os brasileiros,<br />
ou seja, uma escola primária de qualidade que oferecerá uma boa base educacional, não permitindo assim,<br />
que para esta, os recursos sejam deficitários. É essa consciência que permitirá os envolvidos compreender<br />
os condicionantes internos e externos relacionados à gestão democrática da escola pública.<br />
a) Desafios da gestão democrática da escola pública<br />
Os condicionantes internos da gestão democrática nos mostram que o desafio principal da gestão<br />
democrática da escola pública está em perceber que os usuários dessa escola dos tempos hodiernos não<br />
são os mesmo de décadas anteriores.<br />
225<br />
Com a democratização do acesso à escola pública, esta passa a apresentar condições<br />
cada vez piores de funcionamento, o que leva à transferência para a rede escolar<br />
privada dos filhos de grupos sociais de melhor situação econômica e com maior<br />
poder de pressão sobre o Estado. A rede pública passa, então, a atender uma<br />
população totalmente diversa daquela à qual estava habituada a servir, só que, agora,<br />
sob precárias condições de funcionamento, já que o Estado Brasileiro, porta-voz, em<br />
muito maio medida, dos interesses das elites econômicas, tem-se mostrado<br />
inteiramente desinteressado pela apropriação do saber por parte das camadas pobres<br />
e majoritárias da população que procura a escola pública (PARO, 2000, p. 87)<br />
Ora, compreendemos que com a mudança de usuários da escola pública, não é mais cabível que<br />
ela continue buscando atingir os mesmos objetivos que buscavam em décadas atrás, uma vez que os seus<br />
usuários mudaram e, muito menos continuar provocando o desânimo nos educadores e total falta de<br />
perspectivas diante de seu trabalho.<br />
É preciso, pois, antes de mais nada, refletir a respeito da necessidade de um novo<br />
objetivo para a escola pública, já que nova é a sua população usuária. Mas isto não<br />
significa reivindicar um ensino mais pobre para populações pobres, (...)[e sim],<br />
buscar o provimento de um ensino adequado aos interesses dessa população,<br />
interesses estes que são diversos, e em muitos aspectos antagônicos, aos dos grupos<br />
que antes faziam uso da escola pública fundamental (PARO, 2000, p. 87).
Toda essa reflexão que poderá ser maior em um outro espaço pois aqui não nos permite delongas,<br />
mas somente acenos para a complexidade da questão, quer nos levar para uma reflexão que aponte para a<br />
necessidade de mudanças inclusive de programas, de métodos, de currículos e mesmo de conteúdos.<br />
Sabemos que o acesso à cultura constitui um direito universal do indivíduo enquanto ser humano<br />
pertencente a uma sociedade determinada, entretanto, ―os objetivos visados podem variar de acordo com<br />
os grupos sociais aos quais se pretende servir com essa apropriação cultural‖ (PARO, 2000, p. 88). Sendo<br />
assim, constitui desafio iminente descobrir ―quais são os objetivos que podem ser perseguidos para<br />
atender aos interesses das camadas de trabalhadores que se servem da escola pública‖ (PARO, 2000, p.<br />
89). Para isso, é necessário uma investigação rigorosa a fim de se compreender o que realmente essa<br />
população espera da escola pública e o que esta pode lhe oferecer efetivamente. Setores progressistas têm,<br />
nós últimos tempos, defendido como objetivo prioritário, o prepara para o exercício da cidadania, o que é<br />
muito importante, pois, as camadas trabalhadoras, por meio da apropriação do saber, de posse do<br />
conhecimento acerca da realidade injusta que a faz, muitas vezes de massa de manobra, assumirão o papel<br />
de sujeitos históricos que assumem a luta em prol de uma superação das injustiças em que estão<br />
submetidas. Isso é entendido como uma perspectiva de qualidade do ensino, no sentido de que para essa<br />
conquista, busca-se padrões mínimos de qualidade.<br />
b) As perspectivas da gestão democrática da escola pública da atualidade.<br />
Os condicionantes externos imbricados na gestão democrática da escola pública apontam para a<br />
necessidade de uma compreensão das causas referentes aos altos índices de repetência e evasão e mesmo<br />
sobre os resultados ineficientes daqueles que são aprovados. ―a imensa maioria das pessoas que são<br />
aprovadas está longe de apresentar um padrão satisfatório de apreensão dos conteúdos que a escola diz<br />
oferecer‖ (PARO, 2000, p. 90). Isso se deve ao fato de o Estado se eximir de com uma sociedade que não<br />
tem poder de pressão sobre si. Mas isso não quer dizer que devamos nos eximir de ―estudar a maneira de<br />
exigir padrões mínimos de qualidade compatíveis com os interesses dos usuários‖ (PARO, 2000, p. 90).<br />
Essa reflexão aponta para a perspectiva de que daqui para frente não podemos incorrer no erro de ao<br />
programar os conteúdos, métodos, currículos e meios, não pautarmos pelos padrões tradicionais, mas sim<br />
entendermos que o desafio está em<br />
(...) fazer uma escola competente para atender o seu usuário de hoje. Porém, (...) é<br />
preciso insistir em que adequar-se aos usuários não significa ‗baratear‘ conteúdos,<br />
mas sim colocar-se em consonância com as características e com os reais interesses<br />
(imediatos e estratégicos) da população a que se destina (PARO, 2000, p. 91).<br />
Portanto, se a população usuária da escola pública mudou, seus métodos e conteúdos também devem<br />
seguir o mesmo caminho da mudança para que assim a escola possa estabelecer comunicação e sintonia<br />
com os seus usuários.<br />
Desse modo, há um enorme caminho a ser percorrido e não basta mudar somente os conteúdos, mas<br />
também a maneira de comunica-los aos estudantes. Sendo assim:<br />
226<br />
Há um enorme caminho a percorrer no sentido de refazer inteiramente os currículos e<br />
programas, procurando selecionar, entre a imensa gama de conhecimentos<br />
acumulados historicamente, aqueles que melhor sirvam ao propósito de fornecer aos<br />
usuários elementos culturais necessários quer para melhor conduzir-se em sua vida<br />
pessoal, na produção de sua existência material e social, quer para captar mais<br />
criticamente o real, lutando para superar as injustiças de que são vítimas<br />
Esse processo deve levar em conta que a educação democrática de acesso para todos prepara para<br />
a cidadania, e sendo assim, o método também se orienta para conduzir o estudante para ser sujeito do seu
aprendizado, o que faz dele um ser emancipado na compreensão e condução de sua vida. Tem em mente<br />
essa metodologia, pressupões ter em mente não somente o que se ensina, mas acima de tudo, o como se<br />
ensina, fazendo com que método e conteúdo de ensino não fiquem dissociados mas estabelecem uma<br />
relação intrínseca quando se pretende a formação para a cidadania, pressupondo ao educando uma<br />
autonomia intelectual e polícia.<br />
Considerações finais<br />
As reflexões anteriores nos levam a compreender que ―ensinar é, acima de tudo, atribuição<br />
profissional da escola e que se o aluno não aprende é porque esta foi incompetente para ensiná-lo‖<br />
(PARO, 200, p. 94). De posse dessa compreensão, as considerações finais apontam para a necessidade<br />
constante se buscar racionalmente os objetivos para que estes esteja em consonância com a realidade<br />
possivelmente aplicável. E, no processo administrativo da gestão democrática da escola pública, a<br />
preocupação com a educação de qualidade se faz quando os agentes dessa administração procedam de tal<br />
forma que ―leve em conta os interesses dos usuários [e] deve induzir necessariamente a se priorizarem<br />
formas eficazes de proceder à avaliação do desempenho da escola, envolvendo nesse processo os próprios<br />
usuários que são os mais diretos beneficiários de uma educação de qualidade‖ (PARO, 2000, p. 94).<br />
Compreendemos que são os pais e alunos os principais usuários da escola e a eles compete apontar<br />
problemas e dar sugestões de acordo com os seus interesses. Isso se consegue com conscientização e esta,<br />
se dá por meio da utopia. ―A conscientização está evidentemente ligada à utopia, implica em utopia‖<br />
(FREIRE, 1980, p. 28). E a conscientização é tomar posse da realidade e esse tomar do real provoca a<br />
desmitologização. E, assim, quanto mais conscientizados os usuários da escola pública sobre os problemas<br />
que a cerca e sobre a importância de seu envolvimento nos seus desafios, mais capacitados para denunciar<br />
as situações desumanizantes e anunciar perspectivas ou saídas práticas para superar os problemas<br />
conforme os compromissos de transformação que assumem conjuntamente toda a comunidade escola, isto<br />
é, todos os envolvidos nos entornos da escola pública.<br />
Referências<br />
FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação: uma introdução ao pensamento de Paulo<br />
Freire. 3.ed. São Paulo: Moraes, 1980.<br />
NUNES, Clarice. Apresentação à segunda edição. In. TEIXEIRA, Anísio. Educação é um direito. 4. ed.<br />
Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2009.<br />
PARO, Vitor Henrrique. Gestão democrática da escola pública. 3. ed. São Paulo: Ática, 2000.<br />
SERPA, Luiz Felippe Perret. O paradigma de Anísio Teixeira: uma educação para um estado democrático.<br />
IN. ROCHA. João Augusto de Lima (Org.). Anísio em movimento – a vida e as lutas de Anísio Teixeira<br />
pela escola púbica e pela cultura no Brasil. Salvador: Fundação Anísio Teixeira, 1992.<br />
TEIXEIRA, Anísio Spínola. Educação é um direito. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2009.<br />
O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E A AVALIAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR<br />
227<br />
MARCELO MOREIRA ANTUNES<br />
Mestre em educação física pela UGF
RESUMO<br />
228<br />
Doutorando em educação física pela Unicamp<br />
antunesmm@hotmail.com<br />
No Plano Nacional de Educação (PNE) pluriênio 2001-2010 pôde-se destacar como meta o aumento do<br />
número de vagas no ensino superior, porém sem perder a qualidade do ensino. Esse foco coloca tensão no<br />
ponto relacionado a avaliação do ensino superior, pois o sistema de avaliação governamental deve<br />
equilibrar os padrões de qualidade almejados e a massificação da oferta apoiada na iniciativa privada.<br />
Mediar essa questão e administrar as tensões geradas por esses fatos é tarefa para o atual sistema da<br />
avaliação do ensino superior, que deve estar em consonância com a comunidade acadêmica, englobando<br />
todos no processo e se reconstruindo no cotidiano educacional. Questões como a relação número de<br />
alunos por turma versus corpo docente, atualização do projeto político pedagógico dos cursos, adequação<br />
da infraestrutura, devem ser levados em conta no que se refere a tão almejada qualidade do ensino<br />
superior. Deste modo o presente estudo objetiva refletir sobre as concepções presentes na avaliação do<br />
ensino superior frente as metas apresentadas no Plano Nacional de Educação (PNE) instituido pela Lei nº<br />
10172/2001 promulgada ainda sob o governo Fernando Henrique Cardoso. Este estudo se realizou a partir<br />
de uma revisão da literatura utilizando para tal a legislação vigente no período e da produção acadêmica<br />
acerca da avaliação da educação superior relacionada com o PNE. O aumento do número de vagas para o<br />
ensino superior norteado pelo PNE cria uma enorme complexidade para o sistema avaliativo<br />
governamental, pois o Estado não é capaz de ofertar o número de vagas que deseja. Deste modo coloca<br />
sobre a iniciativa privada a responsabilidade de gerar essas vagas, o que na lógica do mercado capitalista<br />
põe em cheque a qualidade deste mesmo ensino, pois, de mdo geral, o lucro é prerrogativa deste tipo de<br />
instituição. Cabe ainda ressaltar que segundo a análise da produção acadêmica o PNE (2001-2010) e o<br />
PNE (2010-2020) estão ainda na fase de projeto e não de plano de ações.<br />
Palavras Chaves: Avaliação do ensino superior. Qualidade do ensino. Plano Nacional de Educação.<br />
INTRODUÇÃO<br />
A avaliação do ensino superior brasileiro vem se tornando um tema recorrente e objeto de debates<br />
por parte da comunidade acadêmica especialmente aquela vinculada ao ensino superior (ANTUNES,<br />
POLITO, RESENDE, 2010). Este cenário de debates, de propostas e de realizações ganhou corpo, mais<br />
especificamente, a partir da promulgação da última Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional<br />
(LDB), Lei nº 9.394/96, em um desdobramento do Capítulo III, Seção I da Constituição Nacional<br />
promulgada em 1988 (BRASIL, 1988).<br />
Com a nova LDB, a avaliação ganhou orientações que, operacionalmente, implicaram em novas<br />
perspectivas. Da mesma forma, consolidou a obrigação do Estado de promover os processos avaliativos da<br />
educação, visando a melhoria e a consolidação da qualidade do ensino, em especial do ensino superior. E<br />
ainda, que o processo de autorização, reconhecimento e renovação dos cursos está intimamente ligada ao<br />
constante processo de avaliação.<br />
A partir do que é posto na LDB, e em acordo com o PNE (2001-2010), o Ministério da Educação<br />
delegou ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) a<br />
responsabilidade de conceber, planejar e conduzir o processo de avaliação do ensino superior brasileiro.<br />
Este processo engloba a avaliação institucional, a avaliação de cursos (condições de oferta de ensino) e a<br />
avaliação do desempenho dos estudantes. Este ato se consolida a partir da Lei nº 10.861/2004, que<br />
instituiu o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES). O SINAES tem por objetivo,<br />
segundo o Artigo 1º, ―assegurar o processo nacional de avaliação das instituições de ensino superior, dos<br />
cursos de graduação e do desempenho acadêmico de seus alunos‖.
Com a recente divulgação dos resultados da avaliação de instituições do ensino superior no Brasil<br />
do ano de 2009 baseados no novo índice de aferição denominado Índice Geral de Cursos (IGC), o debate<br />
sobre avaliação do ensino superior e a melhoria de sua qualidade ganha ainda mais corpo. Segundo dados<br />
do Ministério da Educação 39% das instituições avaliadas foram reprovadas. Este percentual é<br />
significativo, pois engloba desde universidades até faculdades isoladas. Os atuais dados ainda estão<br />
distantes das metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação (PNE) 2001-2010. Esse fato nos coloca<br />
frente a questão de que se é possível alcançar as metas estabelecidas pelo PNE, no pluriênio 2001-2010<br />
sem a queda da tão almejada qualidade do ensino? Considerando a situação problema configurada, o<br />
presente estudo tem por objetivo analisar as concepções da avaliação do ensino superior no Brasil e suas<br />
interfaces com os PNE pluriênio 2001-2010.<br />
A AVALIAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL<br />
Apesar da atual LDB marcar como obrigação do Estado a avaliação do ensino superior, o<br />
movimento de discussão sobre a avaliação do ensino superior no Brasil vem se desenvolvendo muito antes<br />
disso. O processo avaliativo do ensino superior iniciou-se antes mesmo do regime militar, quando tiveram<br />
início diversos movimentos de crítica da estrutura universitária, e iniciativas de questionamento e<br />
desenvolvimento de um sistema de avaliação que fornecesse suporte às modificações estruturais<br />
necessárias.<br />
A origem do atual processo de avaliação do ensino superior brasileiro teve início no fim da década<br />
de 1950, tendo sua culminância na década de 1960 com a reforma universitária de 1968. O processo de<br />
avaliação do ensino superior sofreu diversas modificações devido às mudanças conjunturais e estruturais<br />
ocorridas no Brasil, embora suas bases repousem neste período histórico específico (SGUISSARDI,<br />
1997). A partir disso as reformas vividas pelas universidades e outras instituições são iniciadas por um<br />
processo prévio de avaliação. Essas afirmações indicam que as reformas ocorridas nas universidades<br />
brasileiras vinham a reboque das mudanças estruturais que sofria o Brasil na época, pressionadas pela<br />
sociedade frente às novas demandas impostas pela modernização do país.<br />
Porém, todo esse movimento de reformas estruturais sofreu um novo delineamento com o Golpe<br />
Militar de 1964, quando as novas demandas econômicas e sociais impunham a necessidade de acesso mais<br />
amplo ao ensino superior pela classe média, além da busca por uma maior eficiência e produtividade<br />
dessas instituições, face ao almejado desenvolvimento industrial brasileiro (SGUISSARDI, 1997).<br />
Deste novo pensamento surgiu o aumento da participação das instituições privadas de ensino<br />
superior em associação com o Estado, o que possibilitou o aumento da oferta de vagas, facilitando o<br />
acesso à classe média, que almejavam uma real possibilidade de ascensão social por meio da graduação.<br />
Neste momento, segundo Marback Neto (2007), o ensino superior se apresentava em uma nova<br />
configuração, com a implantação do regime militar em 1964, onde o pensamento vigente na educação era<br />
acabar com o atraso com a expansão do ensino superior.<br />
A nova configuração econômica impunha uma crescente demanda de mão-de-obra qualificada<br />
oriunda dos cursos superiores, que logo se mostrou limitada para atender tais demandas. Sguissardi (1997)<br />
ressalta que no período após o chamado Milagre Econômico houve um aumento significativo da inflação e<br />
do desemprego, principalmente da mão-de-obra com formação em nível superior. Essa crise no mercado<br />
de trabalho teve o seu auge entre 1975 e 1976. Segundo Sguissardi (1997, p. 49) ―a exigência de uma<br />
revisão crítica, visando à melhoria da qualidade do ensino e a revalorização dos títulos outorgados passou<br />
à ordem do dia‖. Desta forma os conceitos de racionalização, otimização, excelência, eficiência e<br />
qualidade foram elevados ao ‗status de prioridade um‘, seguindo o exemplo de outros países.<br />
Corroborando com isso Marback Neto (2007) afirma que o grupo de trabalho (GT) criado pelo Decreto-lei<br />
nº 62.937/1968, com o objetivo de criar alternativas para a crise que se instalava sobre as universidades<br />
brasileiras, tendo em foco que a educação superior se tornava um ponto central para o processo de<br />
desenvolvimento econômico e prioridade nos investimentos.<br />
229
A busca para se adequar à ‗filosofia da qualidade total‘, modismo da época, e à necessidade de se<br />
controlar os movimentos intra-universitários de questionamento do Estado, criaram as condições para a<br />
implantação de um sistema de avaliação que contemplava o controle da produtividade e do movimento<br />
político-ideológico, que segundo Sguissardi (1997, p.51) ―rege-se oficialmente com tentativas de<br />
vinculação da universidade ao sistema produtivo através especialmente do Plano Quinquenal de 1975-79‖.<br />
Neste processo de controle da produção e do movimento político-ideológico, o Estado ameaçava<br />
as universidades com a privatização do ensino superior público, com a transformação de todas<br />
universidades autárquicas em fundações e, ainda, com reformas gerenciais. Vinculavam ainda a<br />
distribuição de verbas aos resultados dessas avaliações feitas pelo Estado.<br />
Apesar das ações do Estado, os professores universitários seguem em seus debates sobre o tema.<br />
Ristoff (2000) afirma que o debate sobre a avaliação institucional conduzido pelos docentes universitários<br />
se intensificou a partir de 1982 no seio da Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior<br />
(ANDES). Entretanto, é a partir de 1985 que a questão da avaliação atinge a Universidade, através dos<br />
relatórios e propostas produzidos pelas Comissões de Alto Nível que formaram o Grupo Executivo para a<br />
Reformulação do Ensino Superior (GERES) e a Comissão Nacional pela Reformulação da Educação<br />
Superior. Segundo Cardoso (1989, p.9), esses relatórios destacaram o binômio autonomia-avaliação e a<br />
criação dessas Comissões reflete a tradição centralizadora e ―de legislar pelo alto, sem nenhum tipo de<br />
debate (Leis 5.540/68 e 5.692/71, entre outras)‖. Para Sguissardi (1997) as idéias de eficiência e de<br />
produtividade, que correspondem aos ideais neoliberais de modernização, são os componentes que<br />
fundamentaram o processo de avaliação desenvolvido pelo Estado até aquele momento.<br />
A avaliação, sob essa perspectiva, tende a descaracterizar a Universidade. Cardoso (1991) destaca<br />
a especificidade da Universidade, distinta dos demais setores do Estado, e que desta forma não poderia ser<br />
tratada de forma generalistas, sob pena de perder sua capacidade de produção científica e tecnológica,<br />
características que lhe são fundamentais. Portanto, a avaliação deve ser pensada em termos de se manter a<br />
autonomia da Universidade no que diz respeito as suas atividades acadêmicas como é preconizado pela<br />
Constituição de 1988 (BRASIL, 1988). Segundo Sguissardi (1997) a avaliação passou a ser discutida do<br />
ponto de vista construtivo ao invés do controlador, autoritário e punitivo.<br />
Segundo Morosini e Leite (1997) é no fim da década de 1980, com a avaliação do ensino superior<br />
fundamentada no Estado Avaliativo caracterizado pela tentativa de implantação do GERES, que o Estado<br />
tenta avaliar as instituições de forma geral. Em paralelo modelos alternativos de avaliação tentam se<br />
implantar em algumas IES. Essas iniciativas foram conduzidas pela Universidade de São Paulo (USP),<br />
pela Universidade de Brasília (UnB) e pela Universidade Estadual de <strong>Campinas</strong> (UNICAMP). No entanto,<br />
é no início da década de 1990 que um movimento mais amplo se inicia em contraponto à política<br />
neoliberal vigente.<br />
Segundo Morosini e Leite (1997), em março de 1993 a Associação Nacional dos Dirigentes de<br />
Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES) criou um Grupo de Trabalho para discutir a<br />
avaliação do ensino superior e criar uma comissão interdisciplinar chamada de Comissão Nacional de<br />
Avaliação, que foi assessorada por um comitê de especialistas, que elaborou o Programa de Avaliação<br />
Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB). Este programa recebeu o apoio da Secretaria de<br />
Educação Superior do Ministério da Educação (SESU) e teve ampla divulgação em todo território<br />
nacional. O objetivo geral do PAIUB foi a revisão do projeto acadêmico e sócio-político da instituição<br />
participante, a promoção do aumento da qualidade e a adequação da pertinência das atividades propostas<br />
aos seus projetos.<br />
Para Morosini e Leite (1997), o fluxograma desenvolvido pela Comissão Nacional de Avaliação,<br />
que continha em seu corpo a auto-avaliação e a avaliação externa, foi uma tentativa de se excluir o<br />
pensamento de medo dos processos avaliativos. A concepção era fazer da avaliação uma ferramenta<br />
indispensável para o desenvolvimento do ensino superior. Balzan e Dias Sobrinho (2000) reforçam que os<br />
debates e experiências acerca da avaliação do ensino superior da década de 1990 serviram para a<br />
230
consolidação de consensos sobre os princípios norteadores do processo avaliativo e sua importância para a<br />
melhoria e construção da qualidade acadêmica e científica.<br />
Essas experiências foram precedidas de debates entre a comunidade acadêmica, e de pesquisas<br />
conduzidas no sentido de entender a avaliação do ensino superior como um instrumento de melhoria da<br />
qualidade das condições de oferta de ensino e dos resultados da formação propiciada. Porém, de forma<br />
ampla, sem deixar de considerar nenhuma de suas diversas dimensões.<br />
Para Ristoff (2000) entre 1993 e 1994, o Brasil viveu um momento histórico para a avaliação por<br />
conta da interlocução entre a Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino<br />
Superior (ANDIFES), a Associação Brasileira de Reitores das Universidades Estaduais e Municipais<br />
(ABRUEM), os Fóruns de Pró-Reitores de Graduação e Planejamento, e a equipe ideologicamente<br />
diversificada do Ministério da Educação (MEC). Em seguida foi aprovada a Lei nº 9.394/1996 (LDB) que<br />
estabelecia as diretrizes e bases da educação nacional. No corpo desta Lei a avaliação do ensino superior é<br />
tratada como obrigação da União, objetivando a melhoria da qualidade do ensino, e garantindo a<br />
interlocução com as IES que tem parte da responsabilidade no processo. Cabe ainda a União ―autorizar,<br />
reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educação<br />
superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino‖. Além disso, determina que o processo de<br />
avaliações periódicas dos cursos e instituições de ensino superior é condição básica para autorização e<br />
reconhecimento dos cursos e ainda para o credenciamento e renovação de autorizações.<br />
Pelo exposto na LDB, a avaliação do ensino superior abrange a avaliação do desempenho do<br />
aluno, da qualidade dos cursos e das Instituições de Ensino Superior. Para operacionalizar estas ações, o<br />
Estado designou, através da Medida Provisória nº 1.568/1997, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas<br />
Educacionais Anísio Teixeira (INEP) para que coordenasse o processo de avaliação do ensino superior no<br />
Brasil, contemplando a avaliação institucional, a avaliação de cursos de graduação e a avaliação do<br />
desempenho dos estudantes.<br />
A partir da proposta da Comissão Especial de Avaliação (CEA) de instituição de um novo sistema<br />
de avaliação, foi criado o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) através da Lei<br />
nº 10.861/2004, que foi regulamentada pela Portaria nº 2.051/2004. O SINAES passou então a ser<br />
coordenado e supervisionado pela Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (Conaes). A<br />
avaliação, neste contexto, foi concebida para abranger três dimensões, a saber: (a) avaliação institucional,<br />
(b) avaliação dos cursos e (c) avaliação do desempenho dos estudantes.<br />
CONCEPÇÕES SOBRE DA AVALIAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR E O PNE.<br />
De acordo com Dias Sobrinho (2000), desde o início dos debates acerca da avaliação do ensino<br />
superior até a instituição do SINAES, diversas concepções sobre esta avaliação foram elaboradas. Podemse<br />
citar exemplos como os da USP, da UnB, da UNICAMP, da UFSC e da Puccamp, além das elaboradas<br />
pelo Estado, sejam elas as que se articularam com a sociedade, sejam as que foram impostas de cima para<br />
baixo.<br />
O sentido dinâmico da universidade é identificado por Schwartzman (2005) quando afirma que a<br />
universidade interage com quatro grandes forças que geram tensões no sentido de estabelecer objetivos,<br />
metas e direções. Essas quatro forças são: pressões e regulamentações do Estado, dos mercados, da<br />
política e da própria comunidade acadêmica. Essas forças tornam complexo o processo de avaliação, e<br />
que, portanto, não deve ser levado a cabo sem a participação de todas as dimensões envolvidas neste<br />
mesmo processo.<br />
De acordo com Sguissardi (1997), o que se tem visto em termos de propostas de avaliação do<br />
ensino superior no Brasil, apresentadas pelos organismos oficiais, frequentemente desconsidera que a<br />
qualidade se origina das condições específicas das instituições de ensino, que a avaliação não deve apenas<br />
somar escores individuais de desempenho dos professores, as condições para a efetivação da produção<br />
acadêmica e da não utilização do projeto institucional e da política acadêmica como base para a avaliação.<br />
231
Essas mesmas propostas vêm ainda permeadas de conceitos de competência, excelência e produtividade,<br />
sem realmente tentar compreender esses conceitos e sob qual ótica as instituições devem fazê-lo.<br />
A partir das ricas experiências vividas na avaliação institucional interna realizada pela UnB,<br />
Kipnis (1991 apud SGUISSARDI, 1997, p.61) propõe alguns princípios norteadores do processo<br />
avaliativo que são: ―legitimidade, participação, integração, não-punição/premiação, compromisso,<br />
continuidade e sistematização‖. Na perspectiva do Estado, os princípios da avaliação tomaram um novo<br />
formato com a instituição do PAIUB. Ristoff (2000) descreve, estes princípios como sendo: Globalidade;<br />
Comparabilidade; Respeito à identidade institucional; Não-premiação ou Punição; Adesão voluntária;<br />
Legitimidade; Continuidade e que os mesmos são o cerne da proposta do PAIUB para a avaliação do<br />
ensino superior. Dias Sobrinho (2000), usando como base o objetivo da avaliação institucional, apresenta<br />
alguns verbetes, que para ele são importantes. São eles: totalidade, integração, processo, pedagogia,<br />
orientação formativa, qualidade e ênfase qualitativa, flexibilidade, credibilidade, comparabilidade,<br />
institucionalidade, e permanência.<br />
Belloni et al (2000), quando apresentam o projeto de avaliação institucional realizado na UnB,<br />
descrevem as características gerais que devem nortear a avaliação institucional. Para isso elegem cinco<br />
dimensões que devem ser observadas no processo de avaliação: Ensino de graduação e de pós-graduação,<br />
Pesquisa, Extensão, Infra-estrutura para o ensino da pesquisa e da extensão e Administração. Este modelo<br />
orientou a definição das atuais dimensões do sistema de avaliação das condições de oferta de ensino por<br />
parte das IES.<br />
O que se pode ver no PNE (2001-2010) acerca do processo avaliativo do ensino superior, é que<br />
um dos objetivos dele é ―a melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis‖ (BRASIL, 2001, p.4).<br />
Para isso é necessário que um sistema de avaliação seja estruturado no sentido de monitorar e nortear<br />
ações para atender a essa demanda. Nesse sentido se aproxima do que é indicado por Sguissardi (1997)<br />
quanto ao distanciamento da qualidade e valorização dos índices quantitativos na qual a avaliação vinha<br />
sendo estruturada pelo Estado até a instituição do PAIUB.<br />
O PNE (2001-2010) aponta como uma das questões precípuas o aumento da oferta do ensino<br />
superior, através do aumento crescente de vagas (BRASIL, 2001). Define ainda a necessidade do<br />
desenvolvimento do sistema de avaliação para todos os níveis educacionais, incluindo-se aí o ensino<br />
superior, e para isso se instituiu o SINAES.<br />
O aumento de vagas é para atender a crescente demanda dos egressos do ensino médio e é uma<br />
tônica da PNE. mas esse aumento deve ser norteado pela manutenção da qualidade. Afirma ainda que o<br />
iniciativa privada tem papel de destaque no logro desse objetivo, já que concentra o maior número de<br />
vagas ofertadas no ensino superior.<br />
O PNE (2001-2010) reafirma a função do ensino superior de promover ensino, pesquisa e<br />
extensão. Entretanto, para manter a qualidade dessa função do ensino superior o PNE objetiva<br />
―Institucionalizar um amplo e diversificado sistema de avaliação interna e externa que englobe os setores<br />
público e privado, e promova a melhoria da qualidade do ensino, da pesquisa, da extensão e da gestão<br />
acadêmica‖ (BRASIL, 2001, p.27).<br />
O PNE (2001-2010) exige a melhoria progressiva da infraestrutura das IES, determinando que<br />
esse fator é condição básica para o recredenciamento das IES e para a renovação do reconhecimento de<br />
cursos. Desta forma o sistema de avaliação idealizado contempla questões estruturais físicas como critério<br />
para o processo avaliativo. Para atender ao que é posto pelo PNE (2001-2010) o Sistema Nacional de<br />
Avaliação do Ensino Superior (SINAES) foi instituído com a missão de articular a regulação e avaliação<br />
educativa, na perspectiva de que a Avaliação Institucional seja parte de um conjunto de políticas públicas<br />
que visam a expansão da oferta e a democratização do acesso à Universidade (BRASIL, 2004). O<br />
SINAES, de acordo com o que determina a Lei nº 10.861/2004, desenvolve a avaliação do ensino superior<br />
utilizando três instrumentos: Avaliação das Instituições de Ensino Superior (AVALIES); Avaliação dos<br />
Cursos de Graduação (ACG); Avaliação do Desempenho dos Estudantes (Exame Nacional de Avaliação<br />
232
do Desempenho dos Estudantes – ENADE). Atendendo assim a perspectiva de globalidade que destacam<br />
Belloni et al (2000) e Dias Sobrinho (2000).<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
O aumento de vagas no ensino superior se apresenta como eixo condutor da perspectiva<br />
apresentada pelo PNE (2001-2010) bem como a qualidade desse ensino. A tônica no aumento de<br />
ofertas de vagas considerada pelo PNE (2001-2010) como sendo prioritária requer um sistema de<br />
avaliação complexo que atenda a essa prerrogativa. Entretanto o poder público não é capaz de<br />
ofertar o número de vagas suficiente para atender a demando de egressos do ensino médio que<br />
atualmente se apresenta. Desta forma se apóia na iniciativa privada para que essa oferta seja<br />
realizada. No entanto a lógica do mercado se impões às questões de qualidade visto que a<br />
iniciativa privada objetiva o lucro dentro do contexto capitalista. Isso em certa medida cria<br />
complexidades para o sistema avaliativo governamental que necessita equilibrar os níveis de<br />
qualidade exigidos pelo Poder Público e as demandas de mercado com a concorrência necessária<br />
para a sobrevivência dessas empresas educacionais.<br />
Essa complexidade reafirma a necessidade de um sistema avaliativo que permita<br />
auxiliar no processo de melhoria da qualidade do ensino superior. Esse é o foco principal da<br />
discussão dos autores apresentados no presente estudo e também do PNE (2001-2010) e do PNE<br />
(2011-2020) apresentado recentemente ainda em formato de projeto. A melhoria da qualidade do<br />
ensino superior se torna o ponto de tensão em relação ao aumento da oferta de vagas, pois a<br />
massificação das vagas tem como efeito perverso a queda da qualidade. Esta queda somente pode<br />
ser monitorada e revertida se o sistema avaliativo contemplar toda a complexidade que o ensino<br />
superior da atualidade apresenta.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
ANTUNES, M.M.; POLITO, M.D.; RESENDE, H.G. Aspectos interferentes na qualidade do curso de<br />
educação física na ótica do corpo discente. Avaliação. <strong>Campinas</strong>; Sorocaba, SP. v.15, n.2, p. 131-179, jul.<br />
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BELLONI, I. et al. Avaliação institucional da Universidade de Brasília. In DIAS SOBRINHO, J.;<br />
BALZAN, N.C. (orgs.). Avaliação institucional: teoria e experiências. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2000.<br />
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de 05/10/1988, nº191-A).<br />
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1996).<br />
_______. Congresso Nacional. Lei Nº 10172 de 9 de janeiro de 2001. Plano Nacional de Educação (2001-<br />
2010). (DOU de 10 de janeiro de 2001).<br />
_______. MEC. INEP. Lei Nº 10.861, de 14 de abril de 2004. (Publicado no DOU de 15/04/2004, Seção,<br />
p.3-4).<br />
233
_______. MEC. Portaria nº 2.051 de 9 de julho de 2004. (publicada no DOU em 12/07/2004, Seção 1,<br />
p.12).<br />
CARDOSO, Irene. A avaliação acadêmica e as fundações. In Cadernos ANDES. Juiz de Fora, n.7, p.7-<br />
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DIAS SOBRINHO, J.; BALZAN, N. C. (orgs.). Avaliação institucional: teoria e experiências. 2 ed. São<br />
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MOROSINI, M.C.; LEITE, D.B.C. Avaliação institucional como um organizador qualificado: na prática,<br />
é possível repensar a universidade? In: SGUISSARDI, Valdemar (org.). Avaliação universitária em<br />
questão: reformas do estado e da educação superior. <strong>Campinas</strong>: Autores Associados, 1997.<br />
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SGUISSARDI, V. (org.). Avaliação universitária em questão: reformas do estado e da educação<br />
superior. <strong>Campinas</strong>: Autores Associados, 1997.<br />
MOODLE E GEOGEBRA NO ENSINO FUNDAMENTAL<br />
234<br />
Rodrigo Rosalis da Silva<br />
rosalis@rosalis.com.br<br />
Eixo temático: Qualidade de Ensino<br />
Universidade Estadual de <strong>Campinas</strong> (Unicamp) – <strong>Campinas</strong> – SP<br />
Resumo<br />
Complementar o ensino da matemática de uma maneira diferente que utilize recursos em que o<br />
aluno investigue e construa seu conhecimento ou simplesmente visualize a matéria de maneira<br />
que fortaleça sua compreensão é um papel muito bem executado pelas Novas Tecnologias no<br />
ensino, mas que ainda não possui um espaço e conforto dentro da maioria das metodologias e<br />
currículos escolares em vigência. Neste texto será apresentado o ensino da matemática por meio<br />
de atividades investigativas utilizando-se do computador e o software matemático GeoGebra, esta<br />
proposta foi desenvolvida como um minicurso ministrado para uma classe de alunos do primeiro<br />
ano do Ensino Médio de uma escola pública. Também será apresentada a proposta de um<br />
Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) por meio da plataforma MOODLE para auxílio dos<br />
professores no ensino da matemática utilizando-se do GeoGebra em aulas de laboratório. Será<br />
feito no decorrer do texto observações sobre os avanços das Novas Tecnologias na Educação<br />
realçando sua importância para o Ensino de acordo com o referencial e analise dos resultados
observados durante as atividades desenvolvidas, mostrando como foi a reação, aceitação,<br />
dificuldades e facilidades dos alunos com o uso desta tecnologia.<br />
Pretende-se mostrar os benefícios e contribuições positivas para o Ensino da matemática quando<br />
utilizado o computador e o software GeoGebra, ligando essa discussão com o fato de como é<br />
importante as novas Tecnologias no Ensino. Qual o diferencial no aprendizado que percebemos<br />
neste caso? Como o AVA proposto aqui pode ajudar os professores com as atividades em sala de<br />
aula ou em laboratórios que utilizem as novas tecnologias?<br />
Palavras chave: GeoGebra; Tecnologia; Ensino; Matemática.<br />
Introdução<br />
Este se trata de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do autor deste texto e agora<br />
mestrando do Programa de Pós-Graduação Multiunidades em Ensino de Ciências e Matemática<br />
(PECIM) da Universidade Estadual de <strong>Campinas</strong> (Unicamp), o TCC é uma disciplina de dois<br />
semestres que ocorreu em 2008 ainda graduando na Universidade Federal de São Carlos<br />
(UFSCar) na conclusão do curso de Licenciatura em Matemática.<br />
Este trabalho também reflete no conceito de desenvolvimento de crenças e valores<br />
conforme concepção de Bejarano e Carvalho (2003), neste projeto, procura-se, como educador,<br />
modificar as crenças dos educadores que ―foram cunhadas num contexto de ensino tradicional‖<br />
(BEJARANO & CARVALHO, 2003, p.2), e que vigoram nas metodologias e currículos<br />
vigentes. É apresentada uma proposta de ensino por meio das Novas Tecnologias como<br />
complemento para o ensino da matemática, tendo esta, como uma alternativa eficaz para uma<br />
melhora do aprendizado da matemática que passará a ser apresentada com um diferencial<br />
relevante para a compreensão do aluno.<br />
Em Silva (2008a) encontramos o ―olhar do professor‖, outra perspectiva desse trabalho<br />
descrito aqui nesse texto, que foi publicado como resumo expandido de Relato de Experiência<br />
nos anais do IX Encontro Paulista de Educação Matemática (IX EPEM) que contém a descrição<br />
da vivência nas aulas do minicurso que será citado neste trabalho, e também em Silva (2008b)<br />
encontramos um resumo simples de um minicurso de 6 horas ministrado também no IX EPEM<br />
para 30 inscritos, que foi o desenvolvimento das principais atividades deste minicurso aplicado<br />
na escola.<br />
Gomes (2008) apresenta um estudo de caso em que ele ―analisa qualitativamente o<br />
impacto na aprendizagem que ocorre durante o uso de um software para o ensino da Geometria‖<br />
(GOMES, 2008, p.1), um estudo que se mostrou positivo no uso da tecnologia, como por<br />
exemplo, na facilidade da construção geométrica e a melhor exatidão encontrada e conclui que<br />
―um software educativo serve como elemento mediador à construção de situações significativas<br />
para a aprendizagem de conceitos específicos‖.<br />
Neste projeto, utilizamos o GeoGebra, que também é um software matemático assim<br />
como o Cabri Géomètre do estudo de Gomes (2008). O GeoGebra utiliza geometria e álgebra em<br />
um mesmo ambiente e é de fácil manipulação e entendimento, além de ser um software livre e de<br />
fácil acesso. Este software permite ao aluno manipular a geometria, construir o conhecimento,<br />
investigar problemas propostos e encontrar a solução através de construções<br />
geométricas/algébricas, visualizando e nos casos em que se permite, plotando a solução, além de<br />
explorar as propriedades do conteúdo matemático estudado.<br />
235
Para auxiliar no desenvolvimento do conhecimento do professor sobre o GeoGebra e as<br />
possíveis atividades investigativas, além de tirar as dúvidas e apresentar discussões, foi<br />
desenvolvido um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) utilizando a plataforma MOODLE,<br />
em que o professor pode encontrar atividades descritas passo a passo para a execução em<br />
laboratório de informática com os alunos, esta proposta de ambiente em desenvolvimento<br />
encontra-se hospedado no MOODLE do Departamento de matemática da UFSCar e pode ser<br />
visitado na Internet.<br />
Aguiar, Sette e Sette (1998), afirma-se que ―certamente, a informática será um parceiro<br />
importante no esforço para melhorar o padrão de qualidade do ensino no país‖ (AGUIAR;<br />
SETTE & SETTE, 1998, p.7), realçando o papel das novas tecnologias cada vez mais presentes<br />
na educação.<br />
Durante a aplicação deste projeto encontramos resistência por parte do sistema das<br />
instituições nas quais o projeto foi oferecido e, também, rejeição por parte de alguns professores<br />
de matemática nas escolas visitadas para a implantação do projeto. Alguns professores protegiam<br />
suas aulas tradicionais como detentoras da única eficiência comprovada para o melhor<br />
aprendizado e não queriam interferências externas, outros não tinham conhecimento em<br />
informática e recursos tecnológicos então tinham receio de ―ficarem à mercê‖ do desconhecido,<br />
estes professores de certa forma são citados implicitamente na fala de D‘Ambrósio (1996). As<br />
evoluções tecnológicas não são de hoje, e estas são percebidas na educação como necessárias.<br />
D‘Ambrósio (1996), dizia:<br />
Hoje estamos vivendo o surgimento dos computadores e da informática em<br />
geral. Isso não altera a evolução do uso de calculadoras. São dois conceitos<br />
diferentes. A teleinformática (combinação de rádio, telefone, televisão,<br />
computadores) impõe-se como uma marca do mundo neste final de século,<br />
afetando todos os setores da sociedade. Algo equivalente à invenção da imprensa<br />
por Guttenberg. Pense na possibilidade da vida moderna sem qualquer impresso.<br />
Da mesma maneira que impressos entraram em todos os setores da sociedade, o<br />
mesmo vem se passando com a teleinformática. Como conseqüência, na<br />
educação. Não há como escapar. Ou os educadores adotam a telinformática com<br />
absoluta normalidade, assim como o material impresso e a linguagem, ou serão<br />
atropelados no processo e inúteis na sua profissão. Procure imaginar um<br />
professor que rejeita os meios mais tradicionais: falar, ver, ouvir, ler e escrever.<br />
Lamentavelmente ainda há alguns que só praticam o falar! (D‘AMBRÓSIO,<br />
1996, p. 60).<br />
Inovações tecnológicas no ensino da Matemática como um todo, acompanhando as<br />
novidades do mundo desse aluno, desde a Educação Básica até o Ensino Superior, são<br />
necessárias para um melhor aprendizado da matemática e também para a formação de novos<br />
ideais, perspectivas e conceitos em cada um.<br />
Joly (2002) enfatiza, sobre a tecnologia dos computadores na escola, que<br />
Os computadores são muito mais uma mudança conceitual do que física ou<br />
técnica. A partir de um uso social cada vez mais ampliado, a tecnologia de<br />
informação vai conduzindo a um repensar das atividades e dos fazeres na<br />
sociedade e, assim, acaba chegando à escola. Como mudança conceitual, a TI<br />
conduz a um (re)pensar da educação, numa reforma da escola. Ao mesmo<br />
236
tempo, o computador deverá estar se incorporando nessa reforma, por<br />
possibilitar uma aprendizagem ativa e interativa com um acesso diversificado a<br />
inúmeras fontes de informação (p. 42).<br />
2. Aplicação do GeoGebra e desenvolvimento do AVA.<br />
2.1 Ambiente de desenvolvimento do projeto e metodologia<br />
O projeto de ensino de matemática por meio do GeoGebra, foi oferecido a diversas<br />
escolas do sistema público de ensino, aceito apenas em uma destas escolas, uma escola técnica<br />
que possui o ensino médio regular no período diurno, a escola possuía uma laboratório de<br />
Informática em bom estado, para uma turma de vinte e cinco alunos, a turma foi dividida em dois<br />
alunos por computador. O foco do projeto são atividades desenvolvidas para o ensino<br />
fundamental, mas neste caso essas atividades foram aplicadas para o primeiro ano do ensino<br />
médio desta escola, as atividades não deixaram de ser desafiadoras para os alunos e inovadoras<br />
na visualização da matemática, e mesmo se tratando de um conteúdo de oitava série do ensino<br />
fundamental, os alunos encontraram desafios, pois a maneira como a matemática foi proposta por<br />
meio do GeoGebra era uma novidade que levou os alunos a raciocinar, investigar e aprender de<br />
uma forma instigante.<br />
Sadovsky (2007) questiona a falta de desafios encontrada pelo aluno nos dias de hoje, na<br />
forma de ensino da matemática, tendo em vista que<br />
a Matemática, não só no Brasil, é apresentada sem vínculos com os problemas<br />
que fazem sentido na vida das crianças e dos adolescentes. Os aspectos mais<br />
interessantes da disciplina, como resolver problemas, discutir idéias, checar<br />
informações e ser desafiado, são pouco explorados na escola. O ensino se<br />
resume a regras mecânicas que ninguém sabe, nem o professor, para que servem<br />
(p. 23).<br />
Foi desenvolvido com esses alunos um minicurso de vinte horas, sendo quatro horas<br />
semanais divididas em dois dias na semana, ou seja, aulas de duas horas duas vezes por semana.<br />
Foi elaborado para este minicurso uma divisão em três momentos: 1º) Conhecimento do<br />
software, as ferramentas e sua utilização; 2º) desenvolvimento de atividades que exploravam as<br />
ferramentas e funções do software e a criatividade dos alunos, proporcionando um ganho de<br />
habilidade na manipulação do GeoGebra; 3º) Foram propostas atividades de caráter investigativo,<br />
com o propósito de que o aluno em discussão com seus colegas, construísse o conhecimento<br />
proposto ou investigasse as propriedades da atividade construída em conjunto. O conteúdo foi<br />
trabalhado e sua linguagem adequada para a proposta, de forma a não ser apenas uma ferramenta<br />
que repasse conteúdos e informações aos alunos, como enfatiza Joly (2002) ao citar Valente<br />
(1997):<br />
O computador deverá desempenhar, na escola, o mesmo papel que tem na<br />
sociedade: o de mediador nas relações sociais. Será muito pobre um uso que se<br />
restrinja a repassar conteúdos e informações aos alunos. como diz Valente<br />
(1997: 21) "se o computador pode ser usado para catalisar e auxiliar na<br />
237
transformação nos apresenta, essa solução, a longo prazo, é mais promissora e<br />
mais inteligente do que usar o computador para [apenas] informatizar o processo<br />
de ensino" (JOLY, 2002, p. 42).<br />
2.2 Desenvolvimento do projeto do GeoGebra<br />
No primeiro momento os alunos em sua totalidade não demoraram mais que uma hora de<br />
aula para dominar o software GeoGebra em seus recursos básicos e ferramentas, exploraram o<br />
GeoGebra com a orientação do professor que explicava as ferramentas do software em uma<br />
velocidade de acordo com o entendimento dos alunos.<br />
As atividades propostas procuraram sempre manter o conteúdo em forma de<br />
questionamentos, fazendo com que os alunos buscassem a resposta, muitas vezes iniciavam por<br />
tentativa e erro e posteriormente se rendiam aos conhecimentos matemáticos aprendidos e, dali,<br />
partia para a solução do problema. Caldeira (2009), enfatiza a importância das atividades<br />
investigativas ao dizer que a ―promoção de estratégias investigativas, nos quais os alunos<br />
[desenvolvem] diferentes habilidades, entre elas a observação, o levantamento de hipóteses, a<br />
análise de dados, as generalizações e a organização de ideias‖ (CALDEIRA, 2009, p. 103).<br />
No segundo momento os alunos desenvolveram atividades de construções geométricas e<br />
manipulação das ferramentas, de forma que explorassem todos os recursos básicos de formatação<br />
e construção geométrica oferecido pelo GeoGebra, a atividade era livre e mostrou resultados<br />
surpreendentes em um primeiro contato, como retratado na Figura 1a. Este segundo momento<br />
não levou mais de três horas de aula, restando bastante tempo para o terceiro momento, que eram<br />
as atividades mais pertinentes para o ensino da matemática.<br />
No terceiro momento os alunos foram recebidos com atividades para serem desenvolvidas<br />
no GeoGebra em algumas eles investigavam um problema para encontrar a solução como por<br />
exemplo neste problema clássico do manuscrito do pirata i .<br />
Recentemente foi descoberto um manuscrito do famoso pirata Barba Negra descrevendo a localização de<br />
um rico tesouro enterrado numa certa ilha do Caribe.<br />
O manuscrito dá as seguintes instruções:<br />
Qualquer um que desembarque nesta ilha verá imediatamente duas grandes árvores, que chamarei de<br />
pontos A e B, e uma pequena palmeira que chamarei de ponto C. Eu enterrei o tesouro num ponto da ilha<br />
que pode ser encontrado da seguinte forma:<br />
1) caminhe de C para A contando seus passos; chegando em A vire 90 graus para a esquerda e dê<br />
exatamente o mesmo número de passos, marcando o ponto encontrado.<br />
2) caminhe de C para B contando seus passos; chegando em B vire 90 graus para a direita e dê exatamente<br />
o mesmo número de passos, marcando o ponto encontrado.<br />
3) o tesouro está enterrado exatamente no ponto médio dos pontos marcados.<br />
Quando você chegou na ilha para procurar o Tesouro avistou as duas arvores, as coordenadas das<br />
palmeiras, ou seja os pontos A e B você verificou que são A=(1,4) e B=(9,7). Mas a pequena palmeira<br />
(ponto C) da ilha sumiu após uma tempestade, mas ainda é possível encontrar o tesouro. Em que ponto ele<br />
esta?<br />
Nele é possível explorar desde soluções que abordam semelhanças a relação com números<br />
complexos. Os alunos se debruçaram sobre o problema e buscaram a solução incansavelmente,<br />
por meio de pequenas dicas do professor como em SILVA (2008a), sobre semelhanças e<br />
construções geométricas o raciocínio ia se construindo e a solução era construída com festa<br />
(Figura 1b). Uma dificuldade encontrada é o desprendimento, por parte dos alunos, da<br />
metodologia tradicional, nas atividades os alunos sempre esperavam uma intervenção do<br />
professor que dissesse exatamente como fazer, como aprender, como construir e quais decisões<br />
238
tomar. Após quebrar essa barreira e encontrada a solução, os conceitos matemáticos eram<br />
discutidos entre os próprios alunos que relatavam a teoria em suas discussões dos porquês da<br />
solução, o que deixava o professor satisfeito e realizado com a atividade desenvolvida. Outras<br />
atividades também foram propostas, como construção de uma teoria para visualizar sua dinâmica<br />
como na Figura 1c.<br />
Como fechamento foi feito uma entrevista com os alunos para relatarem sua satisfação<br />
com o minicurso apresentado e o software, confirmando a satisfação dos alunos.<br />
a) b) c)<br />
Figura 1. Atividades desenvolvidas pelos alunos no GeoGebra.<br />
2.3 O Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA)<br />
Foi desenvolvido em paralelo com o minicurso do GeoGebra, um Ambiente Virtual de<br />
Aprendizagem i (AVA) na plataforma MOODLE. Que possui o propósito de discussão de<br />
atividades sobre o GeoGebra para aplicação em laboratório, além de vários exercícios discutidos<br />
passo a passo em sua construção para que o professor aplique em laboratório. Os professores<br />
comentavam a dificuldade em preparar aulas no laboratório de informática da escola, pela falta de<br />
conhecimento principalmente nos softwares e pelo pouco tempo para estar desenvolvendo essas<br />
atividades, portanto a proposta desse AVA de interação entre os professores fez parte do projeto.<br />
O AVA criado continua ativo mas agora finalizado o projeto, o desenvolvimento do AVA foi<br />
interrompido, mas ainda é utilizado por muitos pesquisadores no desenvolvimento de outros<br />
projetos na área.<br />
Considerações finais<br />
A aplicação do software GeoGebra no ensino da matemática foi bastante significativa,<br />
conforme observado no desenvolvimento do raciocínio dos alunos e seu benefício e contribuições<br />
positivas no processo cognitivo do aluno.<br />
Delineando as discussões em laboratório, os alunos encontravam a solução das atividades<br />
e comemoravam suas descobertas e construções no software, como em Fiorentini (2005), em que<br />
diz ser necessário saber ―desempacotar‖ a matemática para gerar uma discussão sadia, e<br />
compartilhar conhecimentos entre professor e aluno, diz<br />
Este ato de ―desempacotar‖ o conhecimento do aluno, para analisar a solução<br />
dada por ele, não deve se basear apenas no conteúdo formal de matemática.<br />
Perguntas sobre o porquê da solução do aluno, o porquê de certa interpretação, o<br />
porquê da estrutura da solução, podem afetar o ―desempacotamento‖ da solução<br />
proposta por ele (FIORENTINI, 2005, p. 92).<br />
239
As atividades propostas foram conclusivas e efetivas em termos de aprendizado e também<br />
proporcionou na matemática, uma identidade mais atrativa e agradável para os alunos.<br />
O Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) construído em paralelo com a aplicação do<br />
projeto resultou em uma proposta promissora para o desenvolvimento profissional dos<br />
professores para a aplicação das atividades em laboratório de informática. Vários pesquisadores e<br />
professores não vinculados a pesquisa encontravam o AVA criado na Internet e solicitavam a<br />
participação no ambiente. Ferramentas para o aprimoramento profissional do professor são sim<br />
de extrema necessidade para a implantação dessas tecnologias.<br />
Referências<br />
AGUIAR, M. A. S.; SETTE, S. S.; SETTE, J. S. A. Licenciatura em Informática: uma questão<br />
em aberto. Revista Brasileira de Informática na Educação. São Paulo, v. 1, 1998.<br />
BEJARANO, N. R. R.; CARVALHO, A. M. P. Tornando-se professor de ciências: crenças e<br />
conflitos. Ciência e Educação, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 1-15, 2003.<br />
CALDEIRA, M. A. C, (Org.). Ensino de ciências e matemática, II: temas sobre a formação de<br />
conceitos. São Paulo: Cultura Acadêmica; Editora da Unesp, 2009, p. 103.<br />
D‘ AMBRÓSIO, U. Educação Matemática: Da teoria à prática. 16. ed. <strong>Campinas</strong>: Papirus, 1996.<br />
(Coleção Perspectivas em Educação Matemática).<br />
FIORENTINI, D.; NACARATO, A. M. (Orgs.). Cultura, formação e desenvolvimento<br />
profissional de professores que ensinam Matemática. <strong>Campinas</strong>: Musa, 2005, p. 22.<br />
GOMES, A. S. Referencial teórico construtivista para Avaliação de Software Educativo. Revista<br />
Brasileira de Informática na Educação. v. 16, p. 9-21, 2008.<br />
JOLY, M. C. R. A. (Org.). A Tecnologia no ensino: Implicações para a Aprendizagem. 1. ed. São<br />
Paulo: Casa do Psicólogo, 2002. p. 42.<br />
SADOVSKY, P. A educação em seu estado atual. Revista Nova Escola, São Paulo, n. 199,<br />
jan./fev. 2007.<br />
SILVA, R. R. Software GeoGebra auxiliando no ensino da Matemática – Relato. In:<br />
ENCONTRO PAULISTA DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, 9., 2008, Bauru. Anais... Bauru:<br />
SBEM/SBEM-SP, 2008a, p. 1-11.<br />
______. Software Geogebra auxiliando no ensino da Matemática – Mini-curso. In: ENCONTRO<br />
PAULISTA DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, 9., 2008, Bauru. Anais... Bauru: SBEM/SBEM-<br />
SP, 2008b, p. 1-4.<br />
240
A CRIANÇA SURDA E A SUA COMUNICAÇÃO DENTRO DA ESCOLA<br />
Resumo<br />
241<br />
Autoras: Juliane Cristina Tozzo<br />
Graduanda da Faculdade de Educação<br />
Profa. Dra. Cássia Geciauskas Sofiato-<br />
Docente da Faculdade de Educação<br />
Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong><br />
Eixo Temático: Qualidade de ensino.<br />
E-mail: juliane.tozzo@gmail.com; cassiasofiato@gmail.com<br />
Este trabalho, que ainda está em andamento, refere-se ao meu Trabalho de Conclusão de Curso,<br />
desenvolvido no curso de Pedagogia, da Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong>. O<br />
objetivo do mesmo é saber de que forma a criança surda é recebida na escola de ensino regular<br />
tendo em vista a questão da comunicação. A motivação para a efetivação deste estudo ocorreu em<br />
função de minha participação em uma Prática de Formação, atividade de formação desenvolvida<br />
na <strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong>, que me proporcionou o contato direto com a Língua Brasileira de Sinais<br />
(Libras). Esta Prática fez com que meu olhar sobre a criança surda mudasse, despertando em mim<br />
a vontade de trabalhar com a Educação Especial. O trabalho apresenta os seguintes<br />
questionamentos: o que as políticas públicas, relacionadas à educação de surdos, apresentam em<br />
relação à questão da comunicação da criança surda no ambiente escolar? Que formação têm os<br />
professores do ensino regular para se comunicarem com o aluno surdo? Se não há ninguém que<br />
se comunique por meio da Libras, há a solicitação de um intérprete por parte das escolas<br />
regulares? Este trabalho tem uma abordagem qualitativa e além do estudo bibliográfico, será<br />
realizada uma pesquisa de campo. A instituição campo será uma escola pública municipal de<br />
<strong>Campinas</strong>, de Educação Básica, em que haja pelo menos um aluno surdo matriculado no ensino<br />
regular. Os sujeitos participantes deste estudo serão o professor da sala de aula observada, o<br />
diretor, o coordenador pedagógico e os funcionários que têm mais contato com a criança surda<br />
dentro da escola. Por meio deste trabalho, espera-se conhecer as condições de trabalho da<br />
educação pública e como as práticas pedagógicas que levam em consideração a especificidade da<br />
comunicação, colaboram para o aprendizado das crianças surdas inclusas no ensino regular.<br />
Palavras-chave: Libras, Educação Especial, surdo, criança.<br />
Introdução<br />
Este trabalho está sendo realizado na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso, do<br />
curso de Pedagogia, tendo como foco principal a inclusão do aluno surdo no ensino regular tendo<br />
em vista a questão da adequação da escola no que se refere a comunicação para com este aluno<br />
específico.<br />
Historicamente a educação dos surdos passou por muitas dificuldades até estabelecer-se,<br />
como nos aponta Kassar (1999). A partir da Idade Média os surdos e os demais deficientes<br />
passaram a ser valorizados como pessoa, dignos de respeito e merecedores de educação,<br />
conforme Honora e Frizanco (2009) destacam.
Na contemporaneidade, mesmo com os avanços observados ao longo da história, a<br />
educação dos surdos ainda possui alguns desafios devido à falta de preparo que as escolas de um<br />
modo geral têm para recebê-los, especialmente em se tratando da comunicação, que é a principal<br />
via de acesso da pessoa à aprendizagem e ao desenvolvimento cognitivo e social.<br />
Reily (2004) pontua que existem alguns mitos que se perpetuam na educação dos surdos.<br />
Alguns destes mitos dizem respeito à questão da comunicação com o surdo e o desenvolvimento<br />
de sua linguagem. Como exemplo, podemos citar os seguintes: ―a língua de sinais é<br />
exclusividade dos surdos; a língua de sinais é um código, uma linguagem incompleta; é fácil<br />
implementar o bilingüismo na escola inclusiva... (p.123-124). A explicitação destes mitos<br />
demonstra o quanto é necessário ainda o aprofundamento acerca da questão da comunicação do<br />
surdo e seu desenvolvimento linguístico, com vistas ao ingresso e a permanência na escola.<br />
Questões<br />
Durante este estudo alguns questionamentos estão presentes: o que as políticas públicas,<br />
relacionadas à educação de surdos, apresentam em relação à questão da comunicação da criança<br />
surda no ambiente escola? Que formação têm os professores do ensino regular para se<br />
comunicarem com o aluno surdo? Se não há ninguém que se comunique por meio da Libras com<br />
o aluno surdo, há a solicitação de um intérprete por parte das escolas regulares?<br />
Objetivos<br />
O objetivo geral da pesquisa é conhecer de que modo a escola pública de ensino regular<br />
está preparada para receber o aluno surdo no que se refere a questão da comunicação. Desta<br />
forma, os objetivos específicos são: conhecer o ambiente escolar, o modo como os profissionais e<br />
funcionários da escola interagem com o aluno surdo, identificar a formação e preparação dos<br />
profissionais envolvidos diretamente com a criança surda; em relação à comunicação, conhecer<br />
as especificidades da LIBRAS e sua importância no processo de desenvolvimento linguístico do<br />
aluno surdo.<br />
Método<br />
A pesquisa desenvolvida possui abordagem qualitativa. Optou-se por um estudo<br />
bibliográfico seguido de uma pesquisa de campo, que está sendo realizado numa escola pública<br />
no município de <strong>Campinas</strong>, que atende alunos surdos.<br />
A fundamentação bibliográfica do estudo trata dos primórdios da educação dos surdos e<br />
como ela foi sendo desenvolvida historicamente, enfatizando as abordagens educacionais da<br />
surdez e suas implicações para o desenvolvimento da pessoa surda. A pesquisa de campo, cuja<br />
coleta de dados ocorreu por meio de observação e entrevistas, pretende conhecer a instituição<br />
campo, saber qual é a formação dos profissionais diretamente envolvidos com os alunos surdos e<br />
como eles se comunicam com estes alunos.<br />
Os sujeitos participantes da pesquisa são o professor da sala de aula, o diretor, o<br />
coordenador pedagógico e os funcionários que estão diretamente em contato com os alunos<br />
surdos matriculados na instituição campo, que de alguma forma necessitam se comunicar com<br />
estes alunos durante sua estadia na escola e também durante o seu processo de aprendizagem.<br />
242
Resultados esperados<br />
Tendo em vista que na atualidade as escolas devem ser inclusivas e por isso necessitam<br />
estar preparadas para receber quaisquer alunos com suas características específicas, espera-se, por<br />
meio deste trabalho, conhecer as condições de trabalho da educação pública ‗inclusiva‘ e saber se<br />
as práticas pedagógicas levam em consideração a especificidade da comunicação do surdo. A<br />
comunicação entre professor e aluno é essencial para que ocorra o aprendizado das crianças<br />
surdas inclusas no ensino regular.<br />
Referências<br />
HONORA, Márcia. FRIZANCO, Mary Lopes Esteves. Livro Ilustrado de Língua Brasileira de<br />
Sinais: desvendando a comunicação usada pelas pessoas com surdez. São Paulo; Ciranda<br />
Cultural, 2009.<br />
KASSAR, Mônica de Carvalho Magalhães. Deficiência múltipla e educação no Brasil: discurso e<br />
silêncio na história de sujeitos. <strong>Campinas</strong>: Ed. Autores Associados, 1999.<br />
REILY, Lucia. Escola inclusiva: linguagem e mediação. <strong>Campinas</strong>, SP: Papirus, 2004.<br />
RELAÇÕES ESCOLA-FAMÍLIA: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO<br />
Resumo<br />
243<br />
Maria Silvia Pinto de Moura Librandi da Rocha<br />
silrocha@uol.com.br<br />
Tatiana Cristina dos Santos<br />
tatics23@hotmail.com<br />
Eixo Temático: Qualidade de ensino<br />
<strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong> (SP)<br />
Agência Financiadora: CNPq<br />
Freqüentemente, as relações escola-família estão imersas em um contexto de queixas, enfrentamentos e<br />
julgamentos de valor, geralmente fundados em estereótipos, principalmente das escolas sobre as famílias.<br />
Marcadas por tensões e críticas, muitas vezes, espelham um cenário de avaliação e classificação entre<br />
estas duas instâncias de socialização. Tais relações vêm sendo apontadas na literatura como fundamentais<br />
para a construção de uma educação de qualidade. A necessidade de um diálogo efetivo entre famílias e<br />
escola é nítida, pois se unem em função dos alunos/filhos. A complexidade desta temática indica a<br />
importância de estudos mais aprofundados. O presente trabalho é um estudo bibliográfico sobre as<br />
relações escola-família inspirado em metodologia do tipo ―estado da arte‖, visando realizar (i)<br />
mapeamento das produções (ii) identificação das abordagens teóricas e/ou autores referência, assim como<br />
os procedimentos metodológicos utilizados; (iii) síntese da tese geral de cada trabalho; e (iv) análise<br />
crítica de estudos publicados em evento de reconhecida importância na área da Educação. Para o<br />
mapeamento das produções, realizamos a construção de planilhas iniciais que continham as principais<br />
informações dos trabalhos que abordavam as relações escola-família de maneira nuclear. Encontramos
nestes trabalhos prevalência de interesse em estudar (i) como se efetivam as participações da família e<br />
como a escola viabiliza-as ou não, (ii) o processo de ensino-aprendizagem e as formas como a família<br />
pode influenciá-lo e (iii) o fator socioeconômico como determinante das relações escola-família. A partir<br />
da leitura intensiva dos trabalhos e de análise de conteúdo identificamos um tema recorrente: ―família e<br />
dificuldades no processo de ensino-aprendizagem e/ou disciplinares‖. Este tema foi, então, priorizado em<br />
novas análises de conteúdo, a partir das quais inferimos a forma como os pesquisadores apresentam a<br />
escola, a família e o aluno. Dentro deste procedimento, construímos expressões e qualificações que<br />
sintetizavam as enunciações apresentadas pelos autores dos textos analisados. Dos resultados, destacamos<br />
uma tendência dos pesquisadores qualificarem positivamente as famílias e negativamente as escolas e seus<br />
profissionais. Este resultado nos conduziu a indagar se as pesquisas tem sido sensíveis à heterogeneidade<br />
de famílias e escolas ou se, pelo contrário, têm contribuído para a construção de novos estereótipos:<br />
famílias sempre colaboradoras e escolas preconceituosas.<br />
Palavras-chave: relações escola-família, pesquisa bibliográfica, estereótipos, qualificações<br />
CONFIGURAÇÕES DAS RELAÇÕES ESCOLA-FAMÍLIA: o campo teórico<br />
Estudos demonstram que as relações escola-família são permeadas por queixas, contendas e<br />
julgamentos de valor, alicerçadas em estereótipos, principalmente das escolas sobre as famílias. Neste<br />
jogo de contestações, que produz a proliferação de expressões e qualificações, o principal atingido acaba<br />
sendo o aluno/filho. O motivo das relações escola-família é o aluno/filho; a educação é centrada nele, a<br />
organização escolar, os esforços e direcionamentos dos pais, e no caso de nosso estudo, o gancho<br />
fundamental de queixas recíprocas e conflitos entre famílias e escola são as conjunturas envolvendo<br />
problemas de comportamento e aprendizagem dos alunos.<br />
Pesquisas sobre o tema relações escola-família como o estudo realizado por Nogueira (2005)<br />
revelam que, atualmente, a maioria dos países desenvolvidos estão formulando políticas públicas<br />
educacionais com o intuito de desenvolver e/ou intensificar a cooperação entre as famílias e as escolas. A<br />
participação da família nas instituições educacionais tem sido considerada importante fator para a<br />
promoção de uma educação de qualidade.<br />
O sucesso escolar do aluno e bom desempenho na aprendizagem estão relacionados ao<br />
envolvimento da família na vida escolar dos filhos/alunos. Segundo Marini e Mello (2000), é comum<br />
ouvir ―dos professores que o apoio da família é essencial para o bom desempenho do aluno; porém, muitas<br />
vezes essa expectativa de ajuda torna-se fator de acusação, atribuindo à família toda a responsabilidade<br />
pelo mau desempenho escolar da criança‖. Este fato é mais grave quando se trata de crianças de meios<br />
populares.<br />
Não podemos esquecer-nos de ressaltar a compreensão de que as relações escola-família são<br />
sensíveis às desigualdades de condições de acompanhamento entre as diversas famílias. Por exemplo,<br />
tempo disponível para dedicar-se a atender as demandas da escola, acesso a informações sobre o sistema e<br />
a cultura escolar e grau de escolaridade (NOGUEIRA, 2005).<br />
Os reflexos desta configuração na formação de alguns alunos merecem ser destacados. Na maioria<br />
dos casos, a família é chamada na escola para resolver problemas; este problema, na verdade, é o/a filho/a.<br />
Deste modo, os alunos, juntamente com suas famílias, acabam ficando expostos a situações delicadas e,<br />
por vezes, angustiantes, o que, dificilmente, ajuda na superação de problemas comportamentais e/ou<br />
dificuldades no processo de ensino-aprendizagem.<br />
O presente trabalho é um estudo bibliográfico sobre como as relações escola-família estão sendo<br />
abordadas em evento científico de reconhecida importância na área da Educação. Trata-se, portanto, de<br />
uma pesquisa inspirada em metodologia do tipo ―Estado da Arte‖. As pesquisas com este cunho<br />
bibliográfico propõem o mapeamento e discussão de certa produção acadêmica, na tentativa de responder<br />
que aspectos e dimensões estão sendo destacados nestes trabalhos (FERREIRA, 2002).<br />
244
Sendo assim, propusemo-nos a (i) mapear as produções que tratavam do tema de modo central;<br />
(ii) identificar as abordagens teóricas dos trabalhos e/ou autores citados como referências e os<br />
procedimentos metodológicos utilizados; (iii) realizar síntese da tese geral de cada trabalho; e, por fim,<br />
(iv) analisar de forma crítica prevalências de abordagens e/ou lacunas identificadas no conjunto dos<br />
trabalhos.<br />
METODOLOGIA: a pesquisa bibliográfica e os caminhos para a análise de conteúdo<br />
A investigação bibliográfica configurou-se nos anais da ANPEd (Associação Nacional de Pós-<br />
Graduação e Pesquisa em Educação), no recorte temporal de 2000 a 2009 em 11 GTs (grupos de trabalho).<br />
Primeiramente, realizamos uma busca preliminar por meio dos seguintes descritores: Reuniões de pais e<br />
mestres; Conselho de Escola; Associação de Pais e Mestres; Projeto Político Pedagógico; Gestão<br />
democrática; Família; Família e escola; Participação; Mães e Pais. Consultamos os resumos, com objetivo<br />
de localizar textos que incluíssem ao menos um destes descritores.<br />
Os textos encontrados foram analisados a partir de uma planilha inicial com as seguintes<br />
informações: autor, título, ano da publicação, natureza do estudo, objetivo(s), palavras-chave, principais<br />
autores referenciados (nacionais e internacionais), procedimentos metodológicos e resultados. Foram<br />
descartados os textos que não completassem satisfatoriamente os dados que nela deveriam ser dispostos e<br />
os trabalhos que não apresentaram as relações escola-família como tema nuclear.<br />
Dentre os 2052 trabalhos consultados (incluindo pôsteres e trabalhos integrais), 138 foram<br />
localizados contendo ao menos um dos descritores da busca preliminar. Destes trabalhos, após leitura<br />
integral (dos textos completos), consideramos que apenas 70 abordaram as relações escola-família de<br />
maneira substancial.<br />
Encontramos nestes trabalhos prevalência de interesse em estudar (i) como se efetivam as<br />
participações da família na escola e como a escola viabiliza-as ou não, (ii) o processo de ensinoaprendizagem<br />
e as formas como a família pode influenciá-lo e (iii) o fator socioeconômico como<br />
determinante das relações escola-família.<br />
Após a fase de revisão bibliográfica, iniciamos nosso método de análise. Este procedimento foi<br />
realizado a partir de análise de conteúdo, segundo os preceitos de Bardin (1979) que significa especificar e<br />
dominar as operações manuais e intelectuais para explicitar as informações que estão nas ―entre linhas do<br />
texto‖; em palavras mais simples, significa realizar o tratamento do texto e inferir elementos fundamentais<br />
de seu conteúdo. A partir da leitura intensiva dos trabalhos identificamos um tema recorrente ―família e<br />
dificuldades no processo de ensino-aprendizagem e/ou disciplinares‖. Nos trabalhos dedicados a esta<br />
temática, identificamos características fundamentais do funcionamento das relações escola-família;<br />
portanto, estes foram priorizados em nossas análises de conteúdo.<br />
Para a Análise de Conteúdo, novas leituras dos textos foram feitas, a fim de realizar recortes sobre<br />
a maneira como os autores dos trabalhos apresentam cada uma das categorias mais evidentemente<br />
implicadas nas relações escola-família: a escola – nomeada de modo geral-, os professores, a família e os<br />
alunos. Fomos, então, recortando os trechos em que cada uma destas categorias era descrita e/ou<br />
qualificada. Assim, sintetizamos estes trechos, transformando-os em frases simples que indicavam as<br />
idéias centrais neles apresentadas sobre cada categoria.<br />
RESULTADOS: expressões e qualificações sobre as categorias escola, professores, famílias e alunos<br />
A análise de conteúdo permitiu-nos destacar que nos textos analisados há uma tendência maciça<br />
de apresentar a escola e os professores como proferidores de julgamentos de valor em relação às famílias,<br />
que, criando ou intensificando estereótipos, marginalizam as famílias e os alunos, sobretudo os que<br />
pertencem aos extratos mais pobres da sociedade. As famílias são apresentadas como interessadas na<br />
escola, e os trabalhos que tratam de um ponto nevrálgico nas articulações entre o ambiente escolar e o<br />
245
doméstico – os deveres de casa -, reafirmam este interesse, na medida em que concluem que pais e mães,<br />
embora por vezes tenham dificuldades de acompanhar a execução desta atividade, valorizam-na<br />
positivamente.<br />
Das expressões e qualificações sintetizadas, temos que as famílias compreendem que manterem<br />
seus filhos na escola é a melhor alternativa para que possam seguir em um futuro melhor. Em favor deste<br />
propósito realizam esforços para garantir a presença de seus filhos na escola e procuram orientá-los em<br />
casa, quanto à dinâmica de seus estudos. Este planejamento irá depender das condições e vivência de cada<br />
família. Infelizmente, nem todas as famílias dotam de aparatos socioeconômicos e acesso a informações e<br />
estabelecimentos para proporcionarem aos seus filhos a escolarização que desejam.<br />
As famílias de classes populares são as que mais sofrem, neste aspecto; tidas como omissas e<br />
despreparadas são os principais alvos das escolas e dos professores para indicarem as causas dos<br />
problemas disciplinares e de aprendizagem dos alunos. Por conta disto, as famílias populares se sentem<br />
inferiorizadas e incapazes de reverter este quadro.<br />
As principais qualificações das famílias em relação à escola fundamentam-se na falta de estrutura,<br />
má qualidade do ensino e o tom preconceituoso, por vezes autoritário que identificam nos discursos dos<br />
profissionais da escola.<br />
Os alunos, por sua vez, representam o vínculo que as famílias possuem com a escola; então, se<br />
ocorrem problemas no relacionamento das famílias com a escola e vice-versa, estes estão centralizados<br />
nos alunos. Os alunos são culpabilizados pelas dificuldades que apresentam, como se estas fossem apenas<br />
resultantes de atributos próprios deles. Desta dinâmica, decorre certa facilidade de atribuir rótulos aos<br />
alunos como, por exemplo: crianças hiperativas, crianças com problemas neurológicos e/ou psicológicos,<br />
crianças com déficit de aprendizagem, entre outros. Os motivos ou causas para tais problemas muitas<br />
vezes não são investigados de modo mais aprofundado a partir do ambiente social da criança, mas tendem<br />
a centrar-se em explicações biológicas. Nesta situação, a criança pode ficar exposta e corre o risco de ser<br />
vítima de um falso diagnóstico. É assim que o comportamento de muitas crianças torna-se naturalizado.<br />
As expressões e qualificações proferidas, como incompetência, indisciplina ou desinteresse, e<br />
qualificações das famílias e familiares atribuindo-lhes ou destacando aspectos como desinteresse, pobreza<br />
ou desestruturação familiar, acabam recaindo sobre o aluno, o que pode prejudicar ainda mais seu<br />
desempenho acadêmico. É sempre importante ressaltar que a avaliação que o professor faz do aluno e de<br />
sua família pode construir ou determinar sua trajetória escolar como positiva ou negativa.<br />
No conjunto dos textos analisados há uma propensão em apresentar as famílias de forma positiva,<br />
no sentido de priorizarem esforços em favor da escolarização de seus filhos. Em contrapartida, a escola é<br />
apontada de forma negativa, pois na maioria dos casos entende-se que ela age de forma a julgar a proferir<br />
julgamentos de valor em relação às famílias. Desta maneira, os trabalhos analisados contribuíram para a<br />
compreensão de novos estereótipos: famílias sempre colaboradoras e escolas preconceituosas.<br />
REFERÊNCIAS<br />
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1979.<br />
FERREIRA, N. S. A. As pesquisas denominadas "estado da arte". Educação & Sociedade, vol.23, no.79,<br />
p.257-272. ISSN 0101-7330, 2002.<br />
MARINI, F.; MELLO, R. R. de. Relação entre a Escola e Famílias de classes populares: Desconhecimento<br />
e Desencontro. XXIII Reunião Anual da Anped, Caxambu/MG, out. 2000. Disponível em:<br />
http://www.anped.org.br/reunioes/23/textos/0606t.PDF<br />
NOGUEIRA, M. A.. Família e escola na contemporaneidade: os meandros de uma relação. XXVIII<br />
Reunião Anual da Anped, Caxambu/MG, out. 2005. Disponível em:<br />
http://www.anped.org.br/28/textos/gt14/gt14214int.rtf<br />
246
Eixo 5: Direito à Educação<br />
O PÚBLICO DA OFICINA DESAFIO, PROGRAMA DO MUSEU EXPLORATÓRIO DE<br />
CIÊNCIAS - UNICAMP<br />
1 ROSSI, Adriana Vitorino; 2 PALHARINI, Luciana; 3 ARAGÃO, Thayse Zambon Barbosa<br />
1. Professora Doutora, Instituto de Química - UNICAMP; 2. Doutoranda, Programa de Pós-<br />
Graduação Multiunidades em Ensino de Ciências e Educação Matemática, PECIM-UNICAMP;<br />
3. Mestranda, PECIM - UNICAMP.<br />
Emails: adriana@iqm.unicamp.br; luapalharini@gmail.com; thaysezambon@gmail.com<br />
Eixo Temático: Direito à Educação<br />
Forma de apresentação: Pôster<br />
Universidade Estadual de <strong>Campinas</strong>/ <strong>Campinas</strong> – SP<br />
Resumo<br />
O Museu Exploratório de Ciências - UNICAMP é um espaço de educação e comunicação pública<br />
de ciência e tecnologia, cuja missão é estimular a curiosidade pelas ciências, disseminando o<br />
conhecimento científico e tecnológico de forma crítica, com valorização da vida social, lazer e<br />
acessibilidade, para contribuir na formação de cidadãos ativos na apropriação deste conhecimento<br />
e no engajamento das questões relacionadas às ciências. Localizado no campus da UNICAMP -<br />
<strong>Campinas</strong>, o Museu conta com diferentes programas relacionados com as ciências:<br />
NanoAventura, Oficina Desafio, Grande Desafio, Olimpíada Nacional em História do Brasil,<br />
247
Praça Tempo Espaço e UNICAMP Itinerante. Nesse trabalho, focamos a Oficina Desafio, que<br />
tem caráter itinerante e pode atingir as comunidades em seus próprios espaços, expandindo as<br />
perspectivas de interação com objetivos sócio-educativos. Detalhes do programa que tem apoio<br />
de FINEP, FAPESP, Instituto Sangari e Alfa Previdência estão em www.mc.unicamp.br. Desde<br />
sua inauguração, em 2006, a Oficina já atendeu mais de 22 mil participantes da região<br />
metropolitana de <strong>Campinas</strong> e outras cidades do Brasil, o que indica o acerto do programa que é<br />
bem avaliado pelos participantes. Apresentamos alguns dados relacionados com o número de<br />
participantes da Oficina Desafio para comentários sobre a inserção de atividades de divulgação<br />
científica para estudantes de escolas públicas, sob a perspectiva da educação não formal.<br />
Considerando o público escolar das visitas de 2006 a 2011, foram atendidas 164 escolas da<br />
educação básica, das quais 126 são escolas da rede pública. Isto indica o cumprimento da missão<br />
do Museu, pela expressiva maioria dos atendimentos a escolas públicas, que em geral tem poucas<br />
opções de atividades de divulgação científica. Esta forte predominância das escolas públicas é<br />
muito positiva e merece reflexão. Podemos argumentar que, além de seus aspectos educativos e<br />
lúdicos típicos, a itinerância da Oficina representa o diferencial que viabiliza a participação das<br />
escolas públicas nesta prática educativa. Além disso, instrumentos de avaliação apontam que a<br />
mediação, realizada por graduandos da UNICAMP, também favorece o acolhimento dos<br />
participantes da Oficina. Assim se delineia um contexto interessante de expansão do espaço não<br />
formal de educação para o público em geral.<br />
Palavras chave: Educação não formal, divulgação científica, escola pública.<br />
Introdução<br />
O Museu Exploratório de Ciências tem como missão promover a disseminação da cultura<br />
científica, desmistificando antigos paradigmas, estimulando a curiosidade e a construção do<br />
pensamento crítico, sendo um espaço que valoriza a convivência, o lazer e a inclusão social.<br />
Localizado no campus da UNICAMP em <strong>Campinas</strong>, o Museu conta com diversas atividades,<br />
entre elas a Oficina Desafio.<br />
A Oficina Desafio tem como objetivo estimular os estudantes a desenvolverem soluções<br />
criativas para problemas reais, utilizando para isso conceitos aprendidos na escola e no cotidiano.<br />
Trata-se de um caminhão completamente equipado com tudo que uma oficina oferece, desde<br />
ferramentas manuais até mecânicas, assim como os mais diversos tipos de materiais. A Oficina<br />
Desafio tem caráter itinerante e pode atingir as comunidades em seus próprios espaços,<br />
expandindo as perspectivas de interação com objetivos sócio-educativos. Detalhes do programa<br />
que tem apoio de FINEP, FAPESP, Instituto Sangari e Alfa Previdência estão em<br />
www.mc.unicamp.br.<br />
É importante destacar que toda mediação científica dos participantes das sessões de<br />
Oficina é realizada por estudantes de graduação de todos os cursos da UNICAMP que fazem um<br />
curso de formação inicial de 40 horas, onde são apresentados às principais atividades e programas<br />
desenvolvidos pelo Museu, além de receberem orientações especiais relacionadas com primeiros<br />
socorros, noções de atendimento a portadores de necessidades especiais e participarem de<br />
discussões específicas sobre a mediação em museus. As atividades de mediação, que incluem<br />
uma programação para formação continuada ao longo do ano, é entendida e elaborada pelo setor<br />
educativo do Museu buscando integrar-se à formação acadêmica desses estudantes, o que é<br />
concretizado e viabilizado no formato de uma disciplina de caráter eletivo cujos créditos podem<br />
248
ser contabilizados para sua integralização curricular. Este formato de mediação expande a<br />
formação dos graduandos e representa uma estratégia que vem sendo bem sucedida para integrar<br />
mais efetivamente os participantes da Oficina (e de todos os demais programas do Museu)<br />
(ROSSI e TOLEDO, 2010).<br />
Problema e questões<br />
Esse trabalho buscou apresentar alguns números referentes ao público atendido pelo<br />
programa Oficina Desafio do Museu Exploratório de Ciências – UNICAMP. A investigação<br />
perpassa sobre a história da Oficina Desafio, desde a sua criação em 2006, até o primeiro<br />
semestre de 2011. Focamos, nessa análise, especialmente o público escolar distinguindo pela<br />
origem em escolas públicas e particulares, como forma de refletir sobre o alcance de repercussão<br />
da atividade na comunidade.<br />
Objetivos<br />
Tendo por foco o público da Oficina Desafio, o principal objetivo desse trabalho visa<br />
apresentar alguns dados a respeito desse público, pensando especialmente sobre a inserção de<br />
atividades de divulgação científica para estudantes de escolas públicas, sob a perspectiva da<br />
educação não formal.<br />
Método<br />
A análise quantitativa do número de visitas e participantes da Oficina Desafio<br />
fundamentou a metodologia do trabalho, com dados de 2006, ano de início da atividade, até o<br />
primeiro semestre de 2011, quando este trabalho foi redigido. Consideramos o público total<br />
atendido que foi classificado em divisão anual, destacando a diferença percentual de origem dos<br />
participantes da Oficina Desafio, ou seja, dentre as escolas atendidas, qual a proporção entre<br />
públicas e privadas.<br />
Resultados obtidos<br />
O programa Oficina Desafio do Museu Exploratório de Ciências – Unicamp já atendeu<br />
mais de 23 mil participantes, desde 2006 até 2011, com resultados muito positivos e a<br />
característica favorável da itinerância, o que expande o número de atendimentos. A tabela 1 traz<br />
os dados categorizados dos participantes por ano.<br />
Tabela 1 – Número de participantes da Oficina Desafio de 2006 a 2011<br />
anos/número Oficinas participantes escolas rede pública rede particular<br />
2006 18 935 10 3 7<br />
2007 81 5603 41 31 10<br />
2008 97 6269 34 29 5<br />
2009 70 4153 32 23 9<br />
2010 106 5398 37 32 5<br />
2011/1ºsem 25 1511 10 8 2<br />
Total 397 23869 164 126 38<br />
249
A Tabela 1 deixa evidente o acerto do programa Oficina Desafio no atendimento à rede<br />
pública de escolas, com dados de ótima receptividade pelos participantes das sessões de acordo<br />
com instrumentos regulares de avaliação dos programas do Museu Exploratório de Ciências –<br />
UNICAMP e que não são discutidos presentemente mas estão disponíveis para os interessados.<br />
Com fluxo regular de visitas anuais, este um dos programas com melhor aceitação e maior<br />
procura no Museu Exploratório de Ciências – UNICAMP. É possível notar também a expressiva<br />
maioria de escolas da rede pública atendida, comparando-se com o número de escolas da rede<br />
particular, como pode ser notado no gráfico apresentado na Figura 1.<br />
Figura 1 – Número de escolas atendidas pela Oficina Desafio de 2006 a 2011<br />
Considerando o público escolar das visitas de 2006 a 2011, foram atendidas 164 escolas<br />
da educação básica, das quais 126 são escolas da rede pública. Isto indica o cumprimento da<br />
missão do Museu, pela expressiva maioria dos atendimentos a escolas públicas, que em geral tem<br />
poucas opções de atividades de divulgação científica. Esta forte predominância das escolas<br />
públicas é muito positiva e merece reflexão. Podemos argumentar que, além de seus aspectos<br />
educativos e lúdicos típicos, a itinerância da Oficina representa o diferencial que viabiliza a<br />
participação das escolas públicas nesta prática educativa. Além disso, instrumentos de avaliação<br />
apontam que a mediação, realizada por graduandos da UNICAMP, também favorece o<br />
acolhimento dos participantes da Oficina. Assim é delineado um contexto interessante de<br />
expansão do espaço não formal de educação para a sociedade em geral, que vem<br />
significativamente ganhando frequência de estudantes da rede pública, o que se configura numa<br />
válida ação afirmativa de direito à educação.<br />
Agradecimentos<br />
O apoio do setor educativo do Museu Exploratório de Ciências – UNICAMP, responsável<br />
pelo agendamento das escolas e escala de mediadores, dentre várias outras tarefas relevantes, é<br />
indispensável para o bom andamento de todos os programas do Museu e, no caso deste trabalho,<br />
foi indispensável para disponibilização dos dados objetos da reflexão apresentada. Neste contexto<br />
de valiosa colaboração, deixamos agradecimento especial ao setor, estendido a todos os<br />
mediadores que participaram das sessões da Oficina Desafio desde 2006 e que contribuem de<br />
forma plena para sua consolidação como programa de divulgação científica de sucesso.<br />
Referências<br />
250
ROSSI, A. V.; TOLEDO, F. S. Undergraduate students’ training to attend the visiting public<br />
of the programs of Exploratory Science Museum - Unicamp: a successful and rewarding<br />
experience, XIV International Organization for Science and Technology Education, Bled,<br />
Eslovênia, 2010.<br />
GRUPOS CONSTRUTORES DOS DIREITOS INFANTO-JUVENIS NO BRASIL (1950-1988) –<br />
RESULTADOS PARCIAIS DE PESQUISA<br />
Resumo<br />
251<br />
Vinícius ParolinWohnrath<br />
Bacharel em direito (FHDSS/UNESP)<br />
Mestrando em educação (FOCUS/UNICAMP)<br />
Agência de fomento: FAPESP<br />
Eixo temático: direito à educação;<br />
categoria: pôster<br />
E-mail: vinicius.wohnrath@gmail.com<br />
Este trabalho apresenta alguns aspectos e resultados da primeira parte da dissertação intitulada<br />
―Laços de famílias: o afeto, fundamento da educação familiar no contexto da responsabilidade<br />
parental‖, desenvolvida no Grupo de Estudos sobre Instituição Escolar e Organizações<br />
Familiares da Faculdade de Educação da Unicamp (FOCUS/FE). Financiada pela FAPESP,<br />
objetiva compreender quais as condições sociais que permitiram que o afeto intergeracional fosse<br />
assimilado aos direitos infantis através dos discursos de grupos religiosos e de filantropia<br />
internacional. Isso porque, atualmente, existem em tramitação pelo Congresso Nacional três<br />
projetos de lei referentes à regulamentação dos afetos parentais – mapear a sociogênese dos<br />
grupos e líderes que produziram e fizeram circular essas intenções legislativas é a proposta<br />
(projetos de lei: n° 700/2007, n° 2285/2007 e n° 4294/2008).Assim, esse espaço é reservado para<br />
o debate do período entre 1950 e 1988. Esses anos representam o intervalo entre a implantação no<br />
Brasil dos programas do UNICEF, da CNBB e da Pastoral da Criança e a promulgação da<br />
Constituição Federal vigente. Quais os líderes envolvidos nessa construção dos direitos infantojuvenis<br />
nesse período e quais os seus discursos predominantes? Como essas organizações<br />
teceram o espaço referente aos cuidados infantis em similitude de habituscom o poder político<br />
dominante? Busco entender como essas organizações e instituições foram criadas e se articularam<br />
na sociedade, ressaltando os discursos fundadores desses grupos e as trajetórias dos líderes,<br />
planejadores e reprodutores das práticas dos cuidados com as crianças e adolescentes.As fontes<br />
utilizadas até o momento são documentais e constituem-se de: a) biografias; b) autobiografias; c)<br />
memórias e entrevistas; d) dicionários biográficos; e e) depoimentos produzidos pelas lideranças<br />
dos grupos, como Zilda Arns e D. Paulo Evaristo Arns. Igualmente, os boletins informativos,<br />
prestações de contas, etc. disponibilizados pelo UNICEF permitem-nos desvendar quais os
agentes envolvidos na implantação das atividades do Fundo no Brasil, tais como Maurice Pate e<br />
Gertrude Lutz.<br />
Palavras-chave: direitos infanto-juvenis; educação familiar; afeto.<br />
Eixo 6: Fundamentos da Educação<br />
OS DESAFIOS PARA A PROMOÇÃO DA AUTONOMIA DO ALUNO<br />
Resumo<br />
Armando Lourenço Filho<br />
professorarmando@hotmail.com<br />
Samuel Mendonça<br />
samuelms@gmail.com<br />
Fundamentos da Educação<br />
Comunicação Oral<br />
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação/<strong>PUC</strong>C/<strong>Campinas</strong>/São Paulo<br />
Bolsista CAPES<br />
A temática desta pesquisa de mestrado, ainda em andamento, é a promoção da autonomia dos<br />
alunos, pensada a partir da possibilidade de sua emancipação intelectual enquanto otimizadora<br />
dos processos educativos. A conquista da efetiva participação dos estudantes na construção do<br />
conhecimento decorre, normalmente, de grande esforço por parte do docente no sentido de<br />
mobilizar sua atenção e empenho, visando engajá-los no processo para promover melhor<br />
aproveitamento da aprendizagem, assim, quando o educando consegue por conta própria se<br />
252
envolver de forma produtiva na sua própria formação, exercendo sua autonomia, os resultados<br />
tendem a ser mais eficientes. Nesse sentido, nosso estudo assume a promoção da autonomia dos<br />
alunos como condição essencial para o desenvolvimento de uma boa educação, elemento<br />
importante tanto para o enriquecimento das atividades educacionais quanto para sua formação<br />
integral, tangente às demais esferas de suas vidas. O objetivo geral da pesquisa é estudar os<br />
processos que permeiam a promoção da autonomia dos alunos a partir de algumas das diferentes<br />
concepções educacionais historicamente estabelecidas desde o período clássico. Para o presente<br />
trabalho, elegemos um recorte da pesquisa que procura resgatar nos fundamentos da Educação,<br />
como cada uma das concepções destacadas discute a questão da autonomia dos alunos. Quanto ao<br />
aspecto formal, partimos do seguinte problema: Como era tratada a questão da autonomia do<br />
aluno nas diversas concepções históricas de educação? Para isso, abordamos as concepções<br />
platônicas de educação, baseadas no conceito clássico de Paidéia, passamos pelas concepções de<br />
ensino tradicional e alcançamos o período moderno, com a concepção iluminista de Kant e<br />
Rousseau e a proposta da nova educação delineada por John Dewey. Considerando que os<br />
objetivos da pesquisa compreendem a conceituação, problematização e argumentação sobre as<br />
diversas concepções de educação, optamos pelo método filosófico, desenvolvido a partir de<br />
revisão bibliográfica e abordagem qualitativa sob o prisma da filosofia da educação. Como<br />
resultado, pudemos perceber, no tocante às concepções históricas, algumas diferenças pontuais<br />
nas concepções de professor e aluno e, consequentemente, no aspecto relativo à autonomia do<br />
estudante. Destacamos também características pedagógicas exclusivas para cada momento<br />
histórico distinto.<br />
Palavras-chave: autonomia, concepções de educação, filosofia da educação<br />
Introdução<br />
O presente trabalho é um pequeno recorte da pesquisa de mestrado, que se encontra em<br />
andamento, no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação, da Pontifícia<br />
Universidade Católica de <strong>Campinas</strong>. A pesquisa original apresenta como tema central a<br />
promoção da autonomia dos alunos, compreendida pela possibilidade de sua emancipação<br />
intelectual enquanto elemento que favorece e potencializa seu aproveitamento nos processos<br />
educacionais, alargando-se também às demais esferas de suas vidas.<br />
A escolha do tema está relacionada a um pensar sobre a prática docente, enquanto<br />
experiência pessoal do cotidiano da sala de aula. Para que o professor consiga alcançar a efetiva<br />
participação e envolvimento dos alunos nos processos educativos, normalmente, precisa investir<br />
grandes esforços a fim de despertar o interesse de seus educandos, tendo como objetivo maior<br />
promover o seu engajamento sério e comprometido nas atividades pedagógicas e na construção<br />
do saber. Sem a atenção e empenho conscientes por parte dos alunos, dificilmente ocorrerá um<br />
aproveitamento satisfatório nas situações de ensino-aprendizagem. Quando, então, o educando se<br />
envolve por conta própria na sua educação, de forma espontânea, séria e produtiva, exercitando<br />
sua autonomia, os resultados desse processo tendem a ser mais eficientes.<br />
Segundo o dicionário Aurélio (2009), a palavra autonomia, de origem grega, significa<br />
autogoverno, liberdade intelectual, condição que o homem tem de escolher a própria conduta.<br />
Traçando um paralelo a este conceito, Kant (s/d) explica a necessidade do esclarecimento<br />
(Aufklärung), compreendida como a ―saída do homem de sua minoridade, pela qual ele próprio é<br />
253
esponsável. A minoridade é a incapacidade de se servir de seu próprio entendimento sem a tutela<br />
de um outro‖ (p. 11).<br />
Esclarecimento seria então a capacidade de utilização do entendimento em favor próprio,<br />
sem a dependência de outras pessoas, ou, como o filósofo explica, sem a necessidade de se<br />
recorrer a terceiros, o que configuraria o pensar por si mesmo, exercitar a liberdade de<br />
pensamentos e atitudes, elementos fundamentais para a construção da autonomia. É exatamente<br />
nesse sentido que compreendemos a autonomia do aluno. Liberdade intelectual, capacidade para<br />
tomar suas próprias decisões com consciência e responsabilidade, enfim, o elemento chave que<br />
faz a ligação entre o mundo da teoria presente na sala de aula e o da vida prática do cotidiano,<br />
independentemente do momento histórico ou condição social em que se insere o sujeito<br />
educando.<br />
Bzuneck e Guimarães (2010), em uma pesquisa da área motivacional sobre a promoção da<br />
autonomia dos alunos, indicam que a percepção de autonomia pelas crianças é o elemento que<br />
mais promove comportamentos de esforço, atenção, persistência e participação ativa frente aos<br />
processos de aprendizagem escolar. Nesse sentido, nosso estudo compreende a promoção da<br />
autonomia dos alunos como condição essencial para o bom desenvolvimento educacional, pois,<br />
se trata de elemento importante tanto para o enriquecimento dos processos educativos formais<br />
quanto para as demais atividades que compõe sua formação integral fora do ambiente escolar,<br />
perpassando todas as demais áreas de suas vidas.<br />
Quanto ao aspecto formal, a pergunta que define nosso objeto de pesquisa é: Quais os<br />
desafios para a promoção da autonomia dos alunos? O objetivo geral da pesquisa é, pois, estudar<br />
os processos que permeiam a promoção da autonomia dos alunos, tendo como ponto de partida<br />
algumas das concepções educacionais historicamente estabelecidas, passando pelo período<br />
clássico, com as concepções platônicas de educação acerca do ideal educacional grego, a Paidéia,<br />
e, pelo período moderno, com a concepção do novo ideal de educação iluminista pensada por<br />
Rousseau e por Kant, além do ideal da escola nova delineado por John Dewey.<br />
Para o presente trabalho, elegemos um recorte da pesquisa original que procura resgatar<br />
nos fundamentos da Educação, como cada uma das concepções educacionais destacadas<br />
compreendia em sua época a questão da autonomia dos alunos. Assim, neste momento, partimos<br />
do seguinte problema: Como era tratada a questão da autonomia do aluno nas diversas<br />
concepções históricas de educação?<br />
Acerca das questões metodológicas, concordamos com Gómez, Flores e Jiménez (1999)<br />
sobre o fato de que a escolha do método de pesquisa depende diretamente da natureza das<br />
questões propostas para conduzir o processo investigativo, assim, os métodos de investigação<br />
surgem de acordo com as concepções e com as necessidades do trabalho. Nesse sentido, como o<br />
foco principal da pesquisa original é a discussão dos desafios para a promoção da autonomia dos<br />
alunos, e, neste caso particular, apresentamos um recorte trazendo as diferentes visões das<br />
abordagens históricas sobre a autonomia discente, consideramos que a elaboração da pesquisa se<br />
dá no contexto da filosofia da educação, assim, nosso método de abordagem será o filosófico.<br />
Folscheid e Wunenburger (2006) esclarecem que as produções acadêmicas no campo da<br />
filosofia ―derivam sua lógica e sua necessidade internas, não de um decreto arbitrário imposto<br />
pela instituição, mas das exigências próprias do pensamento filosófico, quando ele analisa,<br />
raciocina, argumenta, critica‖ (p. VIII). Gómez, Flores e Jiménez (1999) reforçam este<br />
pensamento confirmando que o método de pesquisa se constitui numa forma característica de<br />
254
investigar uma dada temática, e é determinado pela intenção da pesquisa e pelo enfoque que a<br />
orienta.<br />
Percebemos, então, que o ―método obedece a uma necessidade interna e não a um<br />
capricho vindo de alguma outra parte. Seria inútil, portanto, esperar dominar técnicas se não se<br />
compreende a razão de ser que está inscrita no modo de pensar filosófico‖ (FOLSCHEID;<br />
WUNENBURGER, 2006, p. VIII), afinal, pesquisas em filosofia da educação são, sobretudo,<br />
pesquisas filosóficas, assim, tanto o método e a linguagem, como a forma de interpretação<br />
amparam-se na própria filosofia.<br />
Considerando que ―filosofar é, em primeiro lugar, colocar-se em presença de uma<br />
filosofia anterior‖ (FOLSCHEID; WUNENBURGER, 2006, p. X), a pesquisa será constituída<br />
integralmente de revisão bibliográfica, esclarecendo que se trata de aporte comum em pesquisas<br />
na área da filosofia da educação.<br />
Por se tratar de pesquisa bibliográfica, abordamos o tema de forma qualitativa, o que<br />
reforça a necessidade pela busca dos referenciais teóricos clássicos, entendendo assim que ―uma<br />
dissertação se enriquece ao apoiar suas hipóteses e seus raciocínios numa cultura filosófica<br />
histórica, que sirva não de molde, mas de matéria-prima a um pensamento vivo e organizado‖<br />
(FOLSCHEID; WUNENBURGER, 2006, p. XI), a fim de fundamentar, esclarecer, justificar e<br />
até mesmo explicar os fatos e aspectos estudados.<br />
A opção pelo tipo de abordagem qualitativa se deu, pois esta proporciona ao pesquisador<br />
amplas possibilidades de análise do objeto investigado, contribuindo para a construção do<br />
conhecimento novo, já que um mesmo objeto pode ser estudado sob diferentes perspectivas,<br />
mesmo quando embasado por referencial teórico semelhante.<br />
Bogdan e Biklen (1994) afirmam que a pesquisa qualitativa tem sua principal fonte de<br />
informações no cotidiano regular das pessoas, no seu ambiente natural, seja em uma escola ou até<br />
mesmo dentro da própria família. Dessa forma, embora muitos pesquisadores optem pela<br />
pesquisa presencial, ou seja, frequentando o ambiente em questão para a obtenção dos dados, a<br />
pesquisa qualitativa também pode se utilizar de relatos e observações realizadas por outras<br />
pessoas, até mesmo sobre fatos ocorridos em épocas e contextos culturais diferentes, muitas<br />
vezes passíveis de serem encontrados apenas por meio da pesquisa bibliográfica.<br />
Nessa mesma direção, Chizzotti (2006) acusa a ausência de um padrão único de<br />
investigação para a pesquisa qualitativa. Além disso, o autor afirma que a realidade de um objeto<br />
costuma ser constantemente modificada e superada, em algumas vezes parecendo contraditória e,<br />
em outras podendo estar suscetível à posição e à interpretação do pesquisador. Por isso, considera<br />
esse tipo de pesquisa como um ―campo transdisciplinar, envolvendo as ciências humanas e<br />
sociais, assumindo tradições ou multiparadigmas de análises [...] e adotando multimétodos de<br />
investigação‖ (CHIZZOTTI, 2006, p. 28).<br />
Do ponto de vista da sistematização do trabalho, primeiramente procuraremos analisar o<br />
conceito de Paidéia e sua relação com a autonomia do sujeito inserido no processo educativo, em<br />
seguida, iremos abordar a questão da autonomia no período moderno, partindo da concepção<br />
iluminista e alcançando o ideal escolanovista sob a perspectiva de Dewey. Por fim, serão<br />
propostas discussões sobre as diversas concepções pedagógicas avaliadas, traçando um paralelo<br />
entre suas abordagens e as contingências de seu contexto histórico e social.<br />
1. A autonomia do aluno na Antiguidade – a concepção clássica - Paidéia<br />
255
Na Grécia antiga, se elaborou o ideal educacional mais avançado do período Clássico. Os<br />
gregos estabeleceram ―pela primeira vez de modo consciente um ideal de cultura como princípio<br />
formativo‖ (JAEGER, 1994, p.8). O conceito de Paidéia, segundo Gadotti (2002) era de ―uma<br />
educação integral, que consistia na integração entre a cultura da sociedade [...] uma pedagogia da<br />
eficiência individual e, concomitantemente, da liberdade e da convivência social e política‖<br />
(GADOTTI, 2002, p. 30). Esta educação integral cuidava do corpo, da mente e da moral, sendo<br />
composta pela ginástica, pela filosofia e pelas artes consecutivamente (GADOTTI, 2002,<br />
MARROU, 1975).<br />
De acordo com Jaeger (1994), o conceito de Paidéia está relacionado à totalidade da<br />
formação do homem grego, em suas particularidades físicas, sociais e históricas, assim, ―não se<br />
trata de um conjunto de idéias abstratas, mas da própria história da Grécia‖ (JAEGER, 1994, p.<br />
7), fala da criação de um novo ideal, mais elevado, de ser humano. Jaeger (1994) ainda afirma,<br />
quanto aos gregos, que ―a mais alta obra de arte que o seu anelo se propôs foi a criação do<br />
Homem vivo. Os Gregos viram pela primeira vez que a educação tem de ser também um<br />
processo de construção consciente‖ (JAEGER, 1994, p. 13). Por isso esse constante retorno à<br />
Grécia e à sua cultura.<br />
Nesse contexto, duas cidades se destacavam na formulação dos ideais educacionais<br />
gregos, cada qual com suas características específicas, mas ambas influenciando diretamente na<br />
concepção cultural da nação: Esparta e Atenas. Marrou (1975) afirma que Esparta era uma cidade<br />
predominantemente militar, com características aristocráticas, conservadoras e reacionárias,<br />
possuindo uma população de semi-iletrados, pois, ―a educação do jovem espartano era [...] uma<br />
educação precipuamente militar, um aprendizado direto e indireto do ofício das armas‖<br />
(MARROU, 1975, p. 35), inserida num plano político, onde se cultivava o ideal coletivo da polis<br />
caracterizado pela total devoção ao Estado. Este novo ideal formativo ―subordina a pessoa<br />
humana à coletividade política: a educação espartana [...] não terá mais por fim selecionar heróis,<br />
mas formar uma cidade inteira de heróis – soldados prontos a se devotarem à pátria‖ (MARROU,<br />
1975, p. 36).<br />
Em Atenas, as pessoas já não portavam mais as suas couraças e espadas e, a educação<br />
física, por exemplo, embora ainda recebesse um lugar de honra, não configurava mais o culto ao<br />
corpo do modelo espartano e se esforçava para se desvincular das características<br />
predominantemente militares que possuía (MARROU, 1975). A educação se tornara civil.<br />
Gadotti (2002) acrescenta que ―entre os espartanos predominava a ginástica e a educação moral,<br />
esta submetida ao poder do Estado; já os atenienses, embora dessem enorme valor ao esporte,<br />
insistiam mais na preparação teórica para o exercício da política‖ (GADOTTI, 2002, p. 30).<br />
Segundo Marrou (1975), em Atenas, cada vez mais desaparece a ênfase sobre o aspecto militar da<br />
vida dos cidadãos, sendo destacados então outros valores, mais intelectuais, como a construção<br />
das virtudes civis da vida política. Figura presente entre os principais expoentes da educação<br />
ateniense ―Platão deslustra formalmente o ideal guerreiro da antiga educação espartana‖<br />
(MARROU, 1975, p. 109), instruindo seus discípulos a partir de um ideal de sabedoria, baseado<br />
no ―aspecto moral da educação, da formação pessoal, da vida interior‖ (MARROU, 1975, p.<br />
105).<br />
Para Jaeger (1994) ―a importância universal dos Gregos como educadores deriva da sua<br />
nova concepção do lugar do indivíduo na sociedade‖ (JAEGER, 1994, p. 9), compreendido como<br />
um ser politicamente engajado, participante e ativo nas decisões pertinentes à vida coletiva nas<br />
cidades, assim, ―a essência da educação consiste na modelagem dos indivíduos pela norma da<br />
256
comunidade‖ (JAEGER, 1994, p. 15). Nesse sentido vale afirmar que, conforme a visão<br />
platônica, na qual Sócrates está inserido, o objetivo principal da educação grega era a formação<br />
política do homem, a construção do governante. Conforme declara Jaeger (1994) ―A premissa<br />
fundamental da qual Sócrates parte [...] é a de que toda educação deve ser política. Tem<br />
necessariamente de educar o Homem para uma de duas coisas: para governar ou ser governado‖<br />
(JAEGER, 1994, p. 546). Sócrates propõe uma educação baseada em uma formação política, que<br />
prepara o cidadão para o bom governo da sua cidade, da sua casa, enfim, da sua própria vida, em<br />
outros termos, governar-se a si mesmo, exercer a autonomia.<br />
Embora a concepção platônica considere o aspecto político como a mais elevada<br />
aspiração destinada ao homem, tanto que, Marrou (1975) declara que ―Platão versa menos o<br />
problema geral da formação do cidadão que o da formação do técnico, do perito em assuntos<br />
políticos‖ (MARROU, 1975, p. 109), Platão ultrapassa essa vocação estritamente política, e<br />
edifica ―o seu sistema educacional sobre a noção fundamental da verdade, sobre a conquista da<br />
verdade pela ciência racional‖ (MARROU, 1975, p. 110), uma ciência autêntica e verdadeira,<br />
fundamentada na razão, oposta ao senso comum, ciência esta que ―qualificará, também aquele<br />
que, ao invés de uma cidade, tem apenas sua família e sua casa para reger‖ (MARROU, 1975, p.<br />
110). Nesse sentido, a educação não termina quando o aluno sai da escola, mas, é justamente<br />
nesse ponto que ela começa, quando ele passa a exercer seu papel de cidadão vivendo em<br />
comunidade, participando na vida pública, e, ―se vê forçado a conhecer as leis e a viver de acordo<br />
com o seu modelo e exemplo‖ (JAEGER, 1994, p. 361), ele passa a ser governado pela sua<br />
própria razão, pelo conhecimento e pela busca do saber.<br />
O ideal filosófico e educacional grego, paidéia, foi posteriormente absorvido e<br />
desenvolvido pelo império Romano, agora com o nome de humanitas, que se relaciona ao<br />
aspecto humanístico da educação e formação humana. O desenvolvimento de Roma agregou ao<br />
seu ideal pedagógico novas concepções educacionais com a incorporação da Igreja pelo Estado.<br />
Segundo Gadotti (2002), por conta disso, os romanos conseguiram universalizar a sua humanitas<br />
e, ―todas as cidades e regiões conquistadas eram submetidas aos mesmos hábitos e costumes‖<br />
(GADOTTI, 2002, p. 44), é o que se chama de ―romanização‖.<br />
Durante toda a Idade Média, as concepções pedagógicas se relacionavam com aquelas que<br />
eram defendidas e impostas pela ordem religiosa, a escolástica se estruturava a partir da<br />
racionalização da fé, e, ―da educação escolástica medieval à educação humanística do<br />
Renascimento, o eixo central da formação havia se direcionado da teologia para as letras‖<br />
(BRAGA, 2000, p. 50), os textos de caráter religiosos começam a ceder lugar à literatura clássica,<br />
mas, é somente no período do Iluminismo que as grandes mudanças educacionais voltaram a ser<br />
pensadas e discutidas, na direção de se ―recriar uma nova sociedade a partir de um novo ideal de<br />
cultura‖ (BRAGA, 2000, p. 50). Enquanto o ideal grego era centrado na filosofia, o ideal<br />
iluminista se orienta pela ciência: ―o novo racionalismo científico passa a ser pensado como<br />
fundamento para a expansão das idéias da ilustração. Nessa linha, todo o conhecimento humano<br />
deveria ser reordenado a partir de um novo referencial‖ (BRAGA, 2000, p. 51).<br />
2. A autonomia do aluno na Idade Moderna – concepções: iluminista e escolanovista<br />
O Iluminismo marcou por excelência, o século da educação. Movimentos populares que<br />
buscavam mais acesso à educação se espalharam, promovendo reorganizações pedagógicas em<br />
várias partes da Europa, apoiadas em teorias fundamentadas no homem como o objetivo e o<br />
centro dos esforços educativos. O antigo modelo tradicional passa a ser severamente criticado,<br />
257
abrindo espaço, não mais para a transmissão de um conhecimento estático, mas para o exercício<br />
sistemático da razão, onde a construção do conhecimento passa a ser o alvo dos modelos<br />
pedagógicos iluministas.<br />
Dentre as principais figuras do período destacamos Rousseau como um divisor das águas<br />
da velha e da nova escola, quando ―centraliza, pela primeira vez, o tema da infância na educação.<br />
A partir dele, a criança não seria mais considerada um adulto em miniatura: ela vive em um<br />
mundo próprio que é preciso compreender‖ (GADOTTI, 2002, p. 87). A educação precisa ser<br />
centrada na criança, é a partir dela que se deve pensar o ato educacional, deve seguir o seu ritmo<br />
e atender às suas necessidades. ―O que Rousseau propõe com esse princípio é fazer da educação<br />
uma ciência da criança‖ (MORANDI, 2008, p. 39). Seu livro, o Emílio ou Da educação, é por<br />
muitos considerado o primeiro grande tratado da pedagogia moderna, sendo alimento para muitos<br />
outros pensadores, constituindo-se também como base para os principais modelos pedagógicos<br />
atuais. Nesta obra, segundo Morandi (2008), Rousseau aponta novas perspectivas ao papel<br />
docente, desafiando os antigos modelos e propondo uma nova forma para pensar a educação e o<br />
desenvolvimento infantil:<br />
O professor tem de deixar a criança desenvolver sua ―natureza‖, dirigi-la sem autoridade<br />
evidente, instruí-la no contato casual das coisas. Ele deve levá-la a descobrir o que lhe é<br />
útil perseguir, a se exercitar espontaneamente, a aprender a bastar a si mesmo; estimulála<br />
a não depender dos livros, a ter a própria opinião, sem recorrer ao julgamento do<br />
outro; ajudá-la a tornar-se adulta gradualmente, primeiro pelo corpo, depois pelo<br />
espírito. Apesar de Émile e seu mestre serem personagens fictícios, essa orientação da<br />
atividade do mestre voltada para o aprendiz é um momento fundamental para a<br />
pedagogia (MORANDI, 2008, p. 40).<br />
A nova concepção de sociedade, instaurada pelo Iluminismo, requer indivíduos mais<br />
participativos, e, nesse sentido, o objetivo da educação é o de elevar os homens, tornando-os<br />
esclarecidos. Kant (1996) atribuía diretamente a cada pessoa a responsabilidade pela sua<br />
educação, dizendo que ―o homem não pode tornar-se um verdadeiro homem senão pela educação.<br />
Ele é aquilo que a educação dele faz‖ (KANT, 1996, p. 15). Em outro texto, aponta a preguiça e a<br />
covardia como os elementos responsáveis pela permanência do homem no seu estado de<br />
minoridade intelectual, ou seja, pelo não desenvolvimento da sua racionalidade e do seu<br />
esclarecimento, pois, como afirma: é ―cômodo ser menor‖ (KANT, s/d, p. 12). A essência da<br />
autonomia educacional iluminista consiste, dessa forma, no uso consciente da razão. Kant (1996)<br />
afirma que não é suficiente instruir as crianças, é necessário que elas aprendam a pensar. Pensar<br />
é, pois, uma atividade que precisa ser aprendida e exercitada.<br />
Esse novo ideal formativo assume características políticas e alcança setores da sociedade<br />
antes esquecidos, a instrução passa a ser considerada como direito de uma nação. ―A instrução é<br />
ao mesmo tempo uma ordem de saber (as luzes das ciências) e uma ordem política (a cidadania)‖<br />
(MORANDI, 2008, p. 41). É preciso notar que a palavra aqui utilizada é instrução e não<br />
educação. ―Trata-se do princípio da laicidade, como exigência racional e modo de preservação da<br />
educação privada‖ (MORANDI, 2008, p. 41). Nesse contexto, a ação das instituições públicas de<br />
ensino é limitada à instrução, cabendo à família o papel educacional.<br />
No entanto, com um intervalo de pouco mais de um século após a revolução das luzes,<br />
Dewey (2002) percebeu que ―a concentração da indústria e a divisão do trabalho praticamente<br />
eliminaram as ocupações domésticas e comunitárias – pelo menos para fins educativos‖<br />
(DEWEY, 2002, p. 22). O que ocorreu, segundo Dewey, foi ―uma mudança radical nas condições<br />
258
de vida, e só uma mudança igualmente radical no campo da educação produzirá resultados<br />
palpáveis‖ (DEWEY, 2002, p. 22), denotando assim a necessidade de uma nova reformulação<br />
educacional.<br />
Nesse sentido, semelhantemente aos iluministas, Dewey (1991) critica a imposição<br />
vertical e metódica do sistema escolar tradicional, que inibe a participação ativa dos alunos e préestabelece<br />
padrões rígidos de comportamento e conduta, muitas vezes desproporcionais ao<br />
desenvolvimento e maturidade infantil, sem levar em conta as características e experiências<br />
pessoais dos alunos, entendendo, enfim, que o objetivo central dos processos educacionais<br />
escolares deve ser o desenvolvimento de indivíduos autônomos, considerando as pessoas como<br />
seres exclusivos e originais, com características, necessidades e interesses particulares.<br />
Dewey (2002) mostra que o professor precisa exercitar a correlação entre os conteúdos<br />
trabalhados em sala de aula e o ambiente que cerca e acompanha as crianças durante toda sua vida, tanto<br />
na esfera natural quanto na social. Tal exercício decorre do esforço docente na direção de construir uma<br />
contextualização consistente, criando oportunidades para compreensão a partir das experiências<br />
particulares dos alunos, que deve ser o fundamento para a elaboração de suas novas interpretações e<br />
concepções sobre o mundo, aliadas à sua liberdade de criatividade e de imaginação. Morandi (2008)<br />
concorda com Dewey dizendo que ―o ensino [...] deve estar vinculado à lógica do aluno‖ (MORANDI,<br />
2008, p. 55).<br />
Assim, Dewey (2002) justifica a necessidade de uma escola nova, onde ―a vida da criança<br />
transforma-se no objetivo dominante‖ (DEWEY, 2002, p. 41). O ensino baseado na resolução de<br />
problemas e em situações comuns do cotidiano dessas crianças passa a ser um fundamento para este novo<br />
modelo pedagógico. Dewey (2002) afirma que ao se incentivar a criança a pensar e reagir sobre<br />
determinadas situações problema, não se ensina de forma mecânica, mas faze-as compreender os<br />
princípios envolvidos. Dessa forma, explica:<br />
...se a criança analisa o seu próprio impulso, tendo para isso de reconhecer os fatos, os<br />
materiais e as condições implicadas e, em seguida usa esse reconhecimento para regular<br />
o impulso inicial, então sim, estamos na presença de um processo educativo. É esta a<br />
diferença, que desejo sublinhar, entre excitar ou satisfazer um interesse e canalizá-lo<br />
numa dada direção, propiciando sua análise (DEWEY, 2002, p. 44-45).<br />
Morandi (2008) afirma que, para Dewey ―a proposição das pedagogias novas baseia-se no<br />
modelo da atividade da criança, sua ação, seus interesses e sua liberdade‖ (MORANDI, 2008, p.<br />
56). Gadotti (2002) entende que ―de acordo com tal visão, a educação era essencialmente<br />
processo e não produto; um processo de reconstrução e reconstituição da experiência; um<br />
processo de melhoria permanente da eficiência individual‖ (GADOTTI, 2002, p. 144). Assim, a<br />
finalidade maior da educação estaria nela mesma, seria em si mesma o próprio transcorrer do<br />
processo, admitindo como propulsão o interesse pessoal das crianças.<br />
3. Considerações finais<br />
Procuramos neste recorte trazer algumas discussões sobre a abordagem do tema da<br />
autonomia discente nas diferentes épocas e modelos pedagógicos selecionados. Para esta tarefa,<br />
mostrou-se necessário preparar um breve pano de fundo com algumas das principais<br />
características históricas e sociais que perpassam cada estrutura educativa trabalhada. Nossa<br />
intenção não é a de apresentar uma perspectiva reducionista, nem empobrecer os debates acerca<br />
da temática destacada, mas simplesmente fornecer elementos para uma possível análise acerca da<br />
visão de cada modelo sobre a questão da autonomia do aluno.<br />
259
De forma geral, podemos perceber que cada uma das propostas educacionais apresentadas<br />
encontra-se preocupações pertinentes ao resultado prático da atividade educativa: a formação de<br />
um indivíduo autônomo. Tal afirmação fundamenta-se no fato de que as três concepções<br />
abordadas terem em comum o exercício prático da formação educacional desenvolvida, ou seja,<br />
extrapolar o plano das ideias alcançando a vida real.<br />
As concepções grega, iluminista e escolanovista, em destaque neste trabalho, configuramse<br />
por excelência como métodos promotores de autonomia nos alunos, e, em oposição ao método<br />
tradicional, incentivam o uso da razão e do pensamento crítico, apoiados nas ciências e nos<br />
princípios gerais, para trabalhar na construção do conhecimento.<br />
A autonomia é, portanto, o elemento chave que faz a ligação entre o mundo da teoria<br />
presente na sala de aula e o da vida prática do cotidiano, talvez possamos dizer que a autonomia é<br />
o que dá à luz a prática educacional e, isso independentemente do momento histórico ou condição<br />
social em que se insere o sujeito educando.<br />
4. Referências<br />
AURÉLIO. Novo Dicionário, CD-ROM, versão 6.0. Curitiba: Positivo, 2009.<br />
BOGDAN, R. C.; BIKLEN, S. K. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à<br />
teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora, 1994.<br />
BRAGA, M. A nova paidéia: ciência e educação na construção da modernidade. Rio de Janeiro:<br />
E-papers, 2000.<br />
BZUNECK, J. A.; GUIMARÃES, S. E. R. A promoção da autonomia como estratégia<br />
motivacional na escola. In: BORUCHOVITCH, E.; BZUNECK, J. A.; GUIMARÃES, S. E. R.<br />
(Orgs.). Motivação para aprender: aplicações no contexto educativo. Petrópolis: Vozes, 2010.<br />
CHIZZOTTI, A. Pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais. Petrópolis: Vozes, 2006.<br />
DEWEY, J. The later works: 1925 - 1953. Vol. 13. Southern Illinois University Press, 1991.<br />
________. A escola e a sociedade e a criança e o currículo. Lisboa: Relógio D´água, 2002.<br />
FOLSCHEID, D.; WUNENBURGER, J. J. Metodologia filosófica. São Paulo: Martins Fontes,<br />
2006.<br />
GADOTTI, Moacir. História das idéias pedagógicas. 8ª. Ed. São Paulo: Ed. Ática, 2002.<br />
GÓMEZ, G. R.; FLORES, J. G.; JIMÉNEZ, E. G. Metodología de La investigación cualitativa.<br />
Málaga: Ediciones Aljibe, 1999.<br />
JAEGER, W. W. Paidéia: a formação do homem grego. Trad. Artur M. Parreira, adaptação para<br />
a edição brasileira Monica Stahel, revisão do texto grego Gilson Cesar Cardoso de Souza. 3ª.<br />
edição. São Paulo: Martins Fontes, 1994.<br />
260
KANT, I. Resposta à pergunta: o que é o esclarecimento? Brasília: Casa das musas, S/D.<br />
_______. Sobre a pedagogia. Trad. Francisco Cock Fontanella. Piracicaba: Unimep, 1996.<br />
MARROU, Henri Irénée. História da educação na antiguidade. Trad. Mário Leônidas Casanova.<br />
São Paulo: E.P.U., 1975.<br />
MORANDI, Franc. Introdução à pedagogia. São Paulo: Ática, 2008.<br />
PRÁTICAS COTIDIANAS ESCOLARES: ALGUMAS REFLEXÕES<br />
Resumo<br />
261<br />
Ilsa do Carmo Vieira Goulart<br />
Doutoranda em Educação<br />
FE-UNICAMP<br />
Eixo temático – Fundamentos da Educação<br />
ilsa.vieira@uol.com.br<br />
Guiados pela necessidade de entender a complexidade que entremeia a relação entre ensino e<br />
aprendizagem, uma diversidade de estudos direcionam olhares para a realidade da sala de aula. Nesta<br />
perspectiva, esse trabalho objetiva compreender as razões que mobilizam diversas pesquisas científicas a<br />
procurar, no cotidiano escolar, indícios que possibilitem apreender as múltiplas facetas que envolvem e<br />
contribuem para a formação docente. São trabalhos que apresentam as práticas cotidianas, como objeto<br />
investigativo, criando com isso a melhor forma de observá-lo, descrevê-lo para depois analisá-lo. Esta<br />
pesquisa buscará a partir de uma reflexão temática, que toma como base as discussões sobre o trabalho<br />
docente e sobre as práticas escolares, os subsídios teóricos na pretensão de estabelecer um diálogo<br />
possível, considerando os principais argumentos e apontamentos que os delineiam. Para tanto, utilizar-se-á<br />
das observações e análises de professores a partir das narrativas a respeito de atividades desenvolvidas<br />
com os alunos, como forma de reflexão e argumentação. Enveredando-se pelo cotidiano das práticas, na<br />
intenção de tecer uma rede de diálogos, o texto destacará as relações que permeiam a teoria e a prática, na<br />
ação docente, na perspectiva de que a história das ideias pedagógicas e das práticas cotidianas não<br />
evoluem no mesmo ritmo e tempo. O trabalho aponta que a utilização das narrativas de práticas, do dia a<br />
dia escolar, pode contribuir para a formação docente, quando a reflexão volta-se para as formas de<br />
compreensão das dificuldades e das vantagens que cercam a aplicabilidade e a produtividade do ensino,<br />
permitindo um questionamento permanente do modo de fazer.<br />
Palavras-chave: Formação continuada. Práticas cotidianas. Atuação docente.<br />
SOBRE O CONCEITO DE EXPERIÊNCIA EDUCACIONAL EM JOHN DEWEY<br />
Autor: Ivânio Lopes de Azevedo Júnior<br />
Doutorando
Instituição: Universidade Federal do Ceará/Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira/<br />
Professor Assistente I da UFC - Campus Cariri<br />
Eixo temático: Fundamentos da Educação<br />
Comunicação Oral<br />
Email: ivanio@cariri.ufc.br<br />
Resumo<br />
O presente trabalho se insere no campo dos fundamentos da educação na medida em que pretende<br />
desenvolver uma reflexão conceitual, propedêutica, acerca da noção de experiência educacional.<br />
A relevância deste esforço de pesquisa está em não assumir, de modo acrítico, a realidade efetiva<br />
da sala de aula enquanto critério definidor do significado da relação entre educação e experiência.<br />
Justamente pelo reconhecimento do fato de que nem todas as experiências que ocorrem no<br />
interior dos contextos de ensino-aprendizagem são educativas. O conceito de experiência<br />
educacional deve ser construído, tendo em vista todas as implicações teóricas imanentes ao<br />
processo de justificação de um modelo pedagógico. Independente da corrente filosófica escolhida<br />
pelo educador, em sua prática, é fundamental que a referida noção esteja bem estabelecida. Nesta<br />
comunicação, proponho uma discussão, em forma de uma análise bibliográfica, de parte da obra<br />
Experience andEducation, deJohn Dewey. Meu ponto de partida é a condição teórica impostapor<br />
Dewey, a saber: toda nova filosofia da educação pressupõe uma teoria da experiência. Uma vez<br />
justificada tal postura, passo ao exame dos procedimentos teóricos necessários para a elaboração<br />
de uma teoria da experiência no interior de um modelo de educação. O trabalho mostrará que as<br />
mesmas dificuldades argumentativas encontradas na epistemologia moderna, reaparecem no<br />
contexto da reflexão educacional. As conclusões desta comunicação pretendem agregar valor à<br />
discussão sobre os princípios epistemológicos da educação, bem como ao permanente debate em<br />
torno dos procedimentos de validação de um modelo pedagógico. A exigência imposta por<br />
Dewey chama atenção dos profissionais da educação para que nunca percam de vista os<br />
princípios que regem sua prática, pois, caso contrário, torna-se impossível uma pedagogia<br />
engajada e esclarecida. A urgência consiste, então, em elaborar uma posição acerca do que se<br />
pretende conceber enquanto o ideal de experiência educacional. A perspectiva do deversermostra-se,<br />
neste trabalho, como um viés de análise e reflexão conceitual.<br />
Palavras-chave: Experiência, Educação, Filosofia, Dewey, Fundamentos.<br />
BERSTEIN, A PEDAGOGIA INVISÍVEL E A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL<br />
Autor: Luís Antonio Groppo<br />
Doutor em Ciências Sociais<br />
Professor do Programa de Mestrado em Educação do Centro Universitário Salesiano de São Paulo,<br />
Unidade Americana; Professor do Centro Universitário Adventista de São Paulo, Unidade Engenheiro<br />
Coelho; Pesquisador do CNPq.<br />
Eixo Temático: Fundamentos da Educação<br />
Comunicação Oral<br />
E-mail: luis.groppo@am.unisal.br<br />
Resumo<br />
262
Este trabalho, a partir de pesquisa bibliográfica que subsidia a pesquisa ―Sociologia da Educação<br />
Sociocomunitária‖, buscou analisar algumas contribuições de Basil Berstein, sociólogo da educação<br />
britânico, para pensar as modalidades educacionais distintas das estritamente ―escolares‖, as quais tem se<br />
multiplicado no Brasil e no mundo recentemente. Apesar de Berstein ter criado uma teoria sociológica<br />
centrada no caráter social do currículo escolar, sua obra parece trazer conceitos, perspectivas e questões<br />
que contribuem muito para o entendimento das pedagogias usadas na Educação Não Formal, Social,<br />
Comunitária, Sociocomunitária, entre outras. O ponto de partida é a noção de ―pedagogia invisível‖, que,<br />
a princípio, parecia descrever bem as formas de ser das práticas educacionais não formais. A análise desta<br />
noção de Berstein, no cotejo com algumas informações sobre a maneira como se apresentam as educações<br />
para além da escola no Brasil contemporâneo, entretanto, revela uma realidade mais complexa. Nesta<br />
realidade, as Educações Não Formais e Sociais apresentam uma variedade bastante relevante de<br />
pedagogias, o que instiga o pesquisador a se posicionar contra leituras simplistas da educação não escolar,<br />
leituras que desconsideram a complexidade deste campo. A Educação Não Formal, na verdade, longe de<br />
se constituir como um campo coeso, opera de múltiplos modos, sob inúmeros objetivos, mantida por<br />
contraditórios atores. Contém, portanto, diversas pedagogias, as quais ainda será preciso traduzir. Os<br />
conceitos sugeridos por Berstein parecem importantes instrumentos de pesquisa: controle social, agências<br />
difusoras (do controle social), enquadramento, modos de classificação, estrutura, modos de transmissão,<br />
critérios de avaliação etc. O caminho trilhado por Berstein para caracterizar a pedagogia invisível é<br />
instigante: traduz esta pedagogia como uma teologia da escola primária – geralmente particular e oriunda<br />
dos movimentos renovadores da educação – suscitada pelo tipo de solidariedade social e pelo tipo de<br />
controle social representados pela nova classe média. Um exercício de tradução das pedagogias existentes<br />
na Educação Não Formal é uma sugestão de pesquisa deixada por este trabalho, que termina mais com<br />
novas questões do que com respostas.<br />
Palavras chave: Basil Bertein; pedagogia invisível; educação não formal; Sociologia da Educação.<br />
A ARETE COMO FINALIDADE EDUCATIVA DA PAIDEIA<br />
Resumo<br />
263<br />
Mariana da Rosa<br />
Mestranda<br />
Paideia – DEFHE – Faculdade de Educação – UNICAMP<br />
Eixo temático: Fundamentos da Educação<br />
Comunicação<br />
marianadarosa@yahoo.com.br<br />
O presente projeto tem como eixo central a discussão sobre a educação na Grécia clássica, relacionando o<br />
objetivo grego de formação humana, a arete, e sua cultura/ensino consciente, a paideia nas teorias<br />
platônica e sofista. A pesquisa se justifica pela importância e influência dos gregos sobre o pensamento<br />
ocidental e pela amplitude e excelência de seu sistema político e educacional no período clássico<br />
ateniense. Os conceitos a serem estudados principiam um caminho na reconstrução dos ideais de formação<br />
humana e da importância de se retomar a história filosófica da educação, propiciando uma profunda<br />
reflexão sobre os princípios, métodos e finalidades da educação. O ideal educativo grego, a paideia, foi<br />
uma resposta, como diz Jaeger, sobre ―qual o caminho que a educação teria de seguir para alcançar a<br />
arete‖, constituindo, assim como a finalidade da formação plena do concidadão. Considerando a<br />
importância da amplitude desse objetivo de formação, a pesquisa se direciona para demonstrar como ele<br />
colaborou para a elucidação da necessidade de se estabelecer a paideia para preservar vivo este ideal e<br />
como os filósofos do período clássico o teorizaram e o ensinaram no modelo platônico e sofista de
educação. A partir da temática arete como objetivo de formação de ambos, a pesquisa será teórica,<br />
reconstruindo como o conceito se desenvolveu e se solidificou na vida da polis até sua transição de ideal<br />
para ensino, paideia. Pretendemos elucidar e estruturação da relação entre os conceitos arete e paideia,<br />
recuperando a forma distinta como se desenvolveram nas teorias platônica e sofista, construindo uma<br />
interpretação/relação como a educação serviu a determinado ideal sócio-político. Procurar-se-á apontar os<br />
aspectos que compuseram tamanho ideal e cultura a partir de leitura interpretativa dos textos clássicos se<br />
amparando por estudos críticos especializados no tema. Pretende-se com este trabalho tecer a relação<br />
entre o objetivo de formação e a maneira como ele foi concebido e transmitido em dois modelos distintos<br />
de ensino, objetivando a produção de um texto que servirá de subsídio à reflexão e discussão desta lógica,<br />
preenchendo um espaço relevante em filosofia da educação.<br />
Palavras- chave: Educação; Arete; Paideia; Platão; Sofistas;<br />
AS ARTES CÊNICAS NA FORMAÇÃO DOS SUJEITOS<br />
Resumo<br />
264<br />
Amanda Daniela de Oliveira<br />
Orientador: Profº Dr. Samuel Mendonça<br />
Graduanda<br />
Puc <strong>Campinas</strong><br />
Email: amanda.bkp@gmail.com<br />
Eixo temático: Fundamentos da educação.<br />
Pôster.<br />
Notada a importância social do teatro e unindo esse papel aos conhecimentos de Pedagogia,<br />
surgiu o interesse de unir a Arte e a Educação, buscando uma compreensão mais ampla de cada<br />
tema, a relação entre eles e como esses temas podem ser trabalhados, no sentido de valorizar a<br />
Arte e aperfeiçoar as ações pedagógicas. O tema deste Trabalho de Conclusão de Curso propõe a<br />
reflexão do teatro como disciplina nas Instituições de ensino, discutindo suas características e os<br />
benefícios que o fazer teatral podem trazer para a formação dos sujeitos envolvidos na prática<br />
educativa. Diante disso, procuramos problematizar como a prática teatral interfere na formação<br />
dos sujeitos da Educação Básica, e, mais especificamente, pretendemos colocar em relevo a<br />
questão das práticas pedagógicas e sua relação com o teatro. Esse trabalho tem como objetivo<br />
reconhecer o teatro como uma prática importante dentro da Escola, identificar quais os aspectos<br />
da prática teatral que influenciam na formação de sujeitos e caracterizar como deve ser inserido o<br />
teatro na escola. Primeiramente, visamos compreender a estética teatral, a partir das concepções<br />
filosóficas de Aristóteles, Hegel e Nietzsche. Posteriormente, buscamos compreender os<br />
elementos cênicos e como podem ser inseridos no contexto escolar, abordando a relação<br />
professor/aluno, o processo criativo e os benefícios dessa prática para o desenvolvimento<br />
cognitivo e social. Analisamos, também, a prática em sala de aula, a partir dos jogos teatrais de<br />
Viola Spolin. O método utilizado foi a revisão bibliográfica e desenvolvemos o tema em uma<br />
abordagem qualitativa, a partir de referências bibliográficas e artigos de periódicos científicos. Os<br />
resultados esperados visam maior atenção ao ensino das artes, pois seus benefícios envolvem o<br />
enriquecimento cultural, a compreensão da realidade humana a partir de uma visão estética, além
do desenvolvimento social e pessoal dos sujeitos envolvidos. E nessa perspectiva, compreender a<br />
importância do ensino das artes, valorizar o teatro e acentuar sua contribuição para a formação<br />
integral de sujeitos críticos.<br />
Palavras-chave: Teatro-Educação, Estética teatral, Jogos teatrais.<br />
EDITH STEIN: FORMAÇÃO NA PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICA<br />
Resumo<br />
265<br />
Natália Barreiros Genari Goto<br />
Eixo Temático: Fundamentos da Educação<br />
Pôster<br />
Esta pesquisa visa a problematização do conceito de formação a partir de uma busca pelo sentido<br />
humano da educação. Considerando que a educação como projeto humano tem se revelado por<br />
entre as fendas de uma sociedade servida e construída sob a premissa das ciências modernas, cujo<br />
projeto se apresenta problemático dos mais variados pontos de vista, essencialmente e justamente<br />
com relação ao que se tem concebido como progresso e promoção da vida humana, parte-se da<br />
necessidade de se revisitar as concepções que se tem acerca dos processos formativos e de suas<br />
implicações na vida do individuo e de sua comunidade. Para tanto, este trabalho recorre aos<br />
estudos fenomenológicos da filósofa e educadora Edith Stein (1891-1942) que, apesar de ter sua<br />
vida pessoal, intelectual e profissional marcada pela busca da razão de ser dos homens e de sua<br />
formação, além de ter se dedicado à reflexão acerca da Pedagogia e de seus fundamentos<br />
epistemológicos, ainda assim, pouco se tem socializado sobre suas contribuições nos meios<br />
educacionais do Brasil. Os estudos de Edith Stein, bem como os relatos de sua vida, nos<br />
convidam a uma investigação cuja fonte se tem revelado inesgotável, dada a extensão e<br />
quantidade de seus escritos e publicações ainda pouco traduzidas do original, alemão e,<br />
principalmente, pela atualidade e relevância de sua busca intelectual, quase inteiramente voltada<br />
à complexidade do tornar-se humano, em que implicou sua rigorosa reflexão acerca dos<br />
formadores e meios de formação, originando um legado teórico marcado pelo interesse acerca da<br />
pessoa humana e por sua originalidade em conceituá-la. Esta pesquisa configura-se, portanto,<br />
como uma investigação qualitativa que se delimita ao campo da Filosofia da Educação e tem<br />
como principal objetivo evidenciar uma teoria pedagógica a partir dos estudos antropológicos,<br />
filosóficos e pedagógicos de Edith Stein. Como pesquisa bibliográfica transcorre essencialmente<br />
por meio da consulta às fontes primárias.<br />
Palavras-Chave: Pessoa; Formação Humana; Pedagogia; Fenomenologia da Educação.
RELATO DE EXPERIÊNCIA<br />
EIXO TEMÁTICO: FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS<br />
CONHECER PARA APRENDER: UMA PROPOSTA DE APROXIMAÇÃO ENTRE ESCOLA E<br />
FAMÍLIAS<br />
Fernanda de Lourdes de Freitas, Psicóloga e Doutoranda em Educação pela UNICAMP.<br />
Prefeitura Municipal de Hortolândia<br />
266
Resumo<br />
Uma das ações apontadas como primordial para o desenvolvimento de uma educação<br />
democrática e participativa é a interação entre escolas e famílias. Na busca dessa aproximação<br />
surge a proposta do Programa Interação Família Escola Conhecer para Aprender, realizado pela<br />
Secretaria de Educação de Hortolândia. Esse Programa traz como proposta a aproximação da<br />
escola com a família, através de visitas à casa dos alunos, realizadas pelos professores. Como<br />
objetivo o Programa pretende garantir às crianças o direito a uma educação de qualidade e a salvo<br />
de toda forma de negligência e discriminação, também deseja oferecer condições e informações<br />
necessárias para que as famílias participem da gestão da escola, ampliar a rede de proteção social<br />
da criança e oferecer dados para a discussão e implantação de políticas públicas no município.<br />
Em sua metodologia, os professores do ensino fundamental e educação infantil aderem ao<br />
programa espontaneamente, as visitas são realizadas em período oposto ao de trabalho escolar.<br />
Antes do início das visitas é realizada uma reunião com os pais para explicar os objetivos do<br />
programa e pedir autorização para que as mesmas aconteçam. Em dois anos de Programa temos<br />
observado nos resultados uma mudança significativa na relação entre professor-aluno-família, os<br />
professores relatam que após a visita o vínculo entre aluno e professor se fortalece, conhecer a<br />
realidade do aluno permite rever posturas e intervenções pedagógicas. Também há<br />
reconhecimento de que o Programa aumenta a freqüência dos alunos faltosos e melhora o<br />
rendimento escolar dos alunos, que passam a participar mais ativamente das aulas. Diante dos<br />
resultados temos percebido uma mudança de paradigmas na relação entre escola e família, pois a<br />
partir desse Programa é a escola quem vai até a família buscando uma parceria e apresentando<br />
sua proposta pedagógica. Outra mudança tem sido em relação a valorização e imagem do<br />
professor, com as experiências de visita os professores relatam que as famílias valorizam e<br />
respeitam a escola e a profissão docente, quebrando uma representação de que a sociedade atual<br />
não valoriza a escola.<br />
Palavras-Chave: Interação Família-Escola, Formação de Professores, Práticas Pedagógicas,<br />
Políticas Públicas.<br />
Uma das ações apontadas como primordial para o desenvolvimento de uma educação<br />
democrática, participativa e de qualidade é a interação entre escolas e famílias. Inclusive essa<br />
ação é apontada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, segundo a LDB (1996), na<br />
seção que trata do Ensino Fundamental, artigo 32, inciso IV a educação escolar tem como<br />
objetivo ―o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de<br />
tolerância recíproca em que se assenta a vida social‖ (p.27). A lei reforça o lugar do aluno como<br />
membro de uma família e de uma comunidade mais ampla. Estudos têm demonstrado que a<br />
percepção de um professor sobre seus alunos é decisiva para a promoção de uma boa relação<br />
escola-aluno. Estratégias pedagógicas, baseadas em suposições e não em dados concretos sobre a<br />
realidade e preferências do aluno, evidências sobre os possíveis fatores que podem interferir no<br />
processo de aprendizagem podem gerar ações pouco eficazes e com resultados possivelmente<br />
desastrosos.<br />
Na busca dessa aproximação e da promoção de uma boa relação entre a escola- alunofamília,<br />
surge a proposta do Programa Interação Família Escola Conhecer para Aprender,<br />
267
ealizado pela Secretaria de Educação de Hortolândia. Esse Programa traz como proposta a<br />
aproximação da escola com a família, através de visitas à casa dos alunos, realizadas pelos<br />
professores. A expressão interação família-escola se baseia na ideia de reciprocidade e de<br />
influência mútua, considerando as especificidades e as assimetrias existentes nessa relação. Essa<br />
assimetria deve produzir complementaridade e não exclusão ou superposição de papéis.<br />
Como objetivo, o Programa pretende garantir às crianças o direito a uma educação de<br />
qualidade e a salvo de toda forma de negligência e discriminação, também deseja oferecer<br />
condições e informações necessárias para que as famílias participem da gestão da escola,<br />
envolver os familiares nas condições de aprendizagem das crianças, estreitar os laços entre<br />
comunidade e escola, ampliar a rede de proteção social da criança e oferecer dados para a<br />
discussão e implantação de políticas públicas no município. Acredita-se que a aproximação das<br />
escolas com as famílias pode recuperar a singularidade do aluno, pois as visitas promovem o<br />
conhecimento do aluno em seu contexto mais amplo, fora dos muros da escola. Quando a escola<br />
melhora seu conhecimento e compreensão sobre os alunos, sua capacidade de comunicação e<br />
adequação de estratégias didáticas aumenta e, em consequência, aumentam as chances de um<br />
trabalho escolar bem sucedido.<br />
Para atingir esses objetivos utilizamos a seguinte estratégia: os professores do ensino<br />
fundamental e educação infantil aderem ao programa espontaneamente, recebem um incentivo<br />
financeiro para realizar essas visitas, que são feitas em período oposto ao de trabalho escolar.<br />
Antes do início das visitas é realizada uma reunião com os pais para explicar os objetivos do<br />
programa e pedir autorização para que as mesmas aconteçam. Os professores recebem formação<br />
antes de iniciarem a visita para discutirmos qual concepção de família possuem, quais<br />
representações trazem sobre esse tema e que modelos de famílias compõem a sociedade atual.<br />
Discutir as representações sociais é imprescindível, pois a partir dessas discussões é possível<br />
considerar o real, não como ele se expressa para o sujeito, mas como ele é ressignificado por cada<br />
um de nós. Além dessa formação inicial, outras são proporcionadas durante todo o ano,<br />
abordando temas variados para subsidiar o trabalho do professor. É necessário apontar que o<br />
conceito de Representação Social é entendido como:<br />
―um sistema de valores, ideias e práticas, com uma dupla função: primeiro, estabelecer<br />
uma ordem que possibilitará às pessoas orientar-se em seu mundo material e social e controlá-lo;<br />
e, em segundo lugar, possibilitar que a comunicação seja possível entre os membros de uma<br />
comunidade, fornecendo-lhes um código para nomear e classificar, sem ambiguidade, os vários<br />
aspectos de seu mundo e da sua história individual e social.‖ (MOSCOVICI apud DUVEEN,<br />
2003, p.21)<br />
Considerando essa definição propomos um trabalho de reflexão junto aos professores<br />
sobre o que consideramos real, e que esse real é processo de relação, de interação do sujeito com<br />
o mundo. Partilhamos da ideia de que as Representações Sociais são ações e criações de sentido<br />
que se impõem a um grupo ou comunidade. As organizações sociais inda não conseguem lidar,<br />
tranquilamente, com aquilo que consideram estranho, diferente, fora do padrão instituído, por<br />
isso a importância das reflexões e ressignificações.<br />
Reconhecemos que a aproximação no universo social do aluno traz desafios que<br />
extrapolam as atribuições e competências dos profissionais da educação. Preocupados com essa<br />
constatação criamos um banco de dados, no qual os professores alimentam informações sobre as<br />
famílias visitadas, os dados informados referem-se a convivência familiar, hábitos de estudo e<br />
dados sócio econômicos. Quando observam alguma situação de vulnerabilidade encaminham essa<br />
268
família para o gestor e coordenador do Programa. Tendo consciência de que é necessário um<br />
trabalho em rede para atender os casos encaminhados, foi criada uma comissão intersetorial, com<br />
representação de cada Secretaria Municipal, que recebem os encaminhamentos e ficam<br />
responsáveis pelo atendimento da solicitação.<br />
Em dois anos de Programa temos observado nos resultados uma mudança significativa na<br />
relação entre professor-aluno-família, os professores relatam que após a visita o vínculo entre<br />
aluno e professor se fortalece, conhecer a realidade do aluno permite rever posturas e<br />
intervenções pedagógicas. Também há reconhecimento de que o Programa aumenta a frequência<br />
dos alunos faltosos e melhora o rendimento escolar dos alunos, que passam a participar mais<br />
ativamente das aulas. Diante dos resultados temos percebido uma mudança de paradigmas e uma<br />
ressignificação das representações sociais no que se refere à relação entre escola e família, pois a<br />
partir desse Programa é a escola quem vai até a família buscando uma parceria e apresentando<br />
sua proposta pedagógica. Outra mudança tem sido em relação à valorização e imagem do<br />
professor, com as experiências de visita, os professores percebem que as famílias valorizam e<br />
respeitam a escola e a profissão docente, quebrando uma representação de que a sociedade atual<br />
não valoriza a escola.<br />
A partir desses resultados observamos que o Programa Interação Família Escola, em um<br />
primeiro momento oportuniza o conhecimento mútuo, estabelece condições de negociação das<br />
responsabilidades específicas sobre a educação das crianças e constrói espaços de<br />
corresponsabilidades, que conta com a participação de outros segmentos e atores, constituídos<br />
através da comissão intersetorial entre as Secretarias Municipais.<br />
O conhecimento das condições de vida das famílias e dos alunos oportuniza a origem da<br />
revisão dos projetos e práticas educacionais, pensados a partir da diversidade dos alunos e não da<br />
ideia de um aluno ideal. Esse conhecimento também oportuniza o envolvimento de novos atores e<br />
a articulação de políticas educacionais com políticas setoriais capazes de apoiar as famílias dos<br />
alunos para que possam exercer suas funções.<br />
Referências Bibliográficas<br />
BRASIL. Lei LDB : de diretrizes e bases da educação: lei n. 9.394/96. Apresentação Esther Grossi. 3. ed.<br />
Brasília: DP&A, 2000.<br />
DUVEEN, Gerard. Introdução – O poder das idéias. In: MOSCOVICI, Serge. Representações Sociais:<br />
Investigações em psicologia social. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2003.<br />
ENTRE SABERES E FAZERES: DESVENDANDO SENTIDOS DA PRÁTICA DE<br />
ESTÁGIO<br />
269<br />
Marciene Aparecida Santos Reis<br />
marciene@gmail.com<br />
Juliana Alvim Bites Castro Calil<br />
jubitescalil@gmail.com<br />
Luciana Haddad Ferreira<br />
nana_hadd@yahoo.com.br
RESUMO<br />
270<br />
Adriana Stela Pierini<br />
adstpier@globo.com<br />
Marissol Prezotto<br />
marissol.prezotto@gmail.com<br />
Ana Maria Falcão de Aragão<br />
anaragao@terra.com.br<br />
Eixo Temático: Formação de professores e práticas pedagógicas<br />
Relato de Experiência<br />
Unicamp/<strong>Campinas</strong>/SP<br />
Diante de reflexões acerca da formação inicial do professor e das vivências desvendadas e realizadas no<br />
cotidiano da escola através da perspectiva do estágio, busca-se ao som de diversas vozes - as que estão<br />
mergulhadas neste contexto, as que desejam melhor compreendê-lo e outras que falam o que observam -<br />
apreender os sentidos da prática de estágio para os professores em formação que nunca haviam estado na<br />
escola na condição de docente. O disparador do interesse em investigar tal situação surge durante o<br />
desenvolvimento da disciplina curricular de Estágio Supervisionado, nos cursos de graduação: momento<br />
em que as vivências do professor aprendiz são cortejadas com as teorias e descobertas obtidas na<br />
Universidade. Em diálogo com os relatos escritos por alunos e das narrativas solicitadas a partir da<br />
releitura por eles realizada de seus próprios apontamentos, pôde-se compreender o estágio como atividade<br />
formativa e que promove a interlocução no processo de apropriação e elaboração dos referenciais teóricos<br />
acerca da docência, como um momento de confirmação (ou não) da escolha da profissão, de aprendizado<br />
da prática docente e de reconhecimento desse não saber-fazer profissional, de reflexão sobre o papel social<br />
da docência e da importância do docente no processo de ensino e aprendizagem. Em outra perspectiva,<br />
relembrar as vivências de estágio no cotidiano da escola e poder refletir sobre elas mostra o desencadear<br />
de uma reflexividade da docência que, se exercida desde o início das primeiras significações dos alunosestagiários-professores-em-formação<br />
com a escola, pode repercutir na atuação de um profissional<br />
reflexivo que reorienta/pensa/reflete suas ações no exercício de sua própria prática.<br />
Palavras-chave: Estágio. Formação docente. Teoria e prática. Reflexividade.<br />
Desvendando sentidos da prática de estágio<br />
Como qualquer momento iniciático, a primeira experiência com a escola como alunoestagiário-professor-em-formação<br />
é um importante disparador para o decorrer da trajetória<br />
profissional deste indivíduo na escola. Esta experiência marcante e significativa de prática<br />
pedagógica mostra que a inserção em um contexto outro, diverso daquele ao qual estamos<br />
familiarizados, é uma vivência importante para quem dela participa, pois esta etapa inicial de<br />
inserção do estagiário na escola representa a possibilidade de sua experimentação profissional<br />
como futuro docente, em um contexto de interlocução mediado pelos sentidos elaborados com os<br />
aprendizados teóricos obtidos no cotidiano escolar e na Universidade, motivo pelo qual o<br />
sentimento de medo e insegurança permeados pela expectativa de atuações tornam-se identitários<br />
da entrada do estagiário na escola.<br />
Nesse sentido, e considerado por uma perspectiva semiótica, o trabalho vem mostrar que<br />
os sentidos são apropriados e desenvolvidos nas relações sociais, no compartilhamento de saberes<br />
teóricos e práticos que se colocam em cotejamento constante com as teorias sistematizadas e as
atuações exercidas como aluno-estagiário-professor-em-formação na escola. Certeau (2003)<br />
afirma que as experiências narradas mostram a possibilidade do levantamento de indícios do<br />
processo de apropriação e de reinvenção das práticas da docência pelos estagiários e de sua<br />
importância para esses sujeitos.<br />
Buscou-se indícios que respondessem as indagações: Que sentimentos de medo, dúvida,<br />
insegurança e alegria são apontados pelos estagiários em suas experiências? De que significados<br />
da profissão docente os estagiários reconhecem ter se apropriado e elaborado a partir do estágio?<br />
Como os momentos de atuação com as crianças são relatados e avaliados pelos estagiários?<br />
Na figura do estagiário percebe-se a importância que as relações com as crianças, os<br />
professores e demais profissionais da escola que nela estão e dela se constituem, produzem para o<br />
aprendizado da prática e da reflexão docente, uma vez que a atuação estava além da observação,<br />
na procura de compreender e inserir-se nos sentidos produzidos na dinâmica das relações entre os<br />
sujeitos.<br />
A reflexividade sobre as vivências e aprendizados desencadeados na escola pode ser<br />
percebida diante das observações do estagiário durante o percurso de participação como<br />
integrante da escola, dos relatos produzidos nas disciplinas de estágio e da releitura desses<br />
apontamentos - mesmo sabendo do não-lugar pertencente ao estagiário neste ambiente (Auge,<br />
1994) – e que se elencam nas temáticas: a chegada, os sentimentos, o acolhimento, as atuações, o<br />
não-lugar e o lugar em construção.<br />
Buscando depreender os sentidos que estas palavras impõem, a chegada do estagiário na<br />
escola muito tem a desvendar em relação aos sentidos por ele obtido neste primeiro olhar sobre<br />
ela e, por ser um processo relacional, tanto o outro que o percebe como sua própria percepção<br />
revelam o que é significativo para si e para o outro e os primeiros passos para uma possível<br />
intervenção.<br />
Em relação aos sentimentos potencializados pelo estagiário, pode-se dizer que o mesmo<br />
não conhece o ambiente escolar pelos olhos do profissional docente, apenas no papel de aluno, o<br />
que desencadeia um aprendizado em relação ao desconhecido ao perceber e presenciar relações<br />
existentes neste contexto escolar: as falas dos professores, as reuniões, suas práticas.<br />
Na apreensão dos sentidos e significados que o cotidiano releva – este espaço/tempo de<br />
vivências, saberes, indagações, produção de conhecimento e de ideias – o compartilhamento de<br />
saberes no coletivo potencializa as discussões e aprendizados em sala de aula. E, como marca de<br />
identidade do estagiário, o momento de atuação é o fator que mais traz expectativa e ansiedade<br />
para o estagiário quando este adentra a escola para nela permanecer por um tempo determinado e<br />
tentar constituir ali um relacionamento, ainda que não permanente, com as crianças.<br />
Os ensaios de atuação, as ―dicas‖ solicitadas aos outros professores para o planejamento<br />
da aula tornavam-se rituais a serem realizados antes da chegada na escola para o período de<br />
estágio, na esperança de poder ali encontrar momentos em que o estagiário poderia lançar-se de<br />
estratégias e táticas (Certau, 2003) para concretizar as ações elaboradas.<br />
(...) O estar na escola e a construção de atividades diversificadas a cada presença em sala de aula fez com<br />
que surgisse a idéia de não só contar uma história ou de realizar atividades com ela – como já era um costume<br />
praticado por mim – mas de apresentar novos elementos que agregassem outros valores à história.<br />
Esse episódio teve aspecto relevante não só para os alunos, pois essa foi a primeira vez que alguém havia<br />
contado uma história com fantoche para eles, mas para mim também enquanto estagiária-professora-educadora em<br />
constituição, pois havia preparado/ensaiado/praticado muitas vezes o contar da história em casa, na faculdade e com<br />
o escutar de outras pessoas das quais eu sempre questionava a respeito. Depois de muitos encontros, o medo de estar<br />
271
lá na frente com algo do qual eu nunca havia trabalhado, despertou em mim uma sensação inusitada: o desafio de<br />
tornar meu planejamento uma realidade conquistada. (Reis, 2007).<br />
São as ações praticadas pelos estagiários que constitui o grande desafio de construção de<br />
um espaço de reconhecimento na escola. Ensaios que se produzem, tornam-se vivências, dão vida<br />
ao momento de atuação com/para o outro. Deixam-se misturar às dinâmicas da sala de aula para<br />
dela participar e nela se constituir.<br />
No intervalo, eu conversei com a professora e ela disse que eu poderia ler uma história toda semana, fiquei<br />
contente, acredito que a leitura teve bons resultados. Muitos alunos me procuraram para ver os livros e me disseram<br />
que gostaram da leitura e pediram que na próxima semana eu lesse novamente outras histórias (Participante 2 apud<br />
Reis: 2009, p. 75).<br />
Nesse sentido, colocar-se em prática, experimentar-se, dar ao outro aquilo que planejou<br />
sem saber quais resultados poderão surgir ou serem desencadeados através de uma ação constitui<br />
também uma complexidade. Complexidade esta que dá um gosto especial ao apetite de quem ali<br />
está para apreciar os sabores que esta relação (aluno-estagiário-professor ou vice-versa/de traz<br />
para frente) produz, uma vez que “...praticar o espaço é ser outro, passar ao outro e conviver<br />
com o outro, tendo o reconhecimento de si como si mesmo e como outro através dos relatos que<br />
passam pelos lugares e dos lugares que constituem os relatos” (REIS, 2007).<br />
Ao entrelaçar os ―nós‖ que essa experiência nova e única produz, formamos um grande<br />
laço que mostra que experimentar uma estadia na escola e poder ali vislumbrar o cotidiano<br />
dinâmico deste ambiente através dos olhos de quem tudo tenta apreender/aprender/significar nas<br />
ações dos professores, alunos e funcionários da escola, é um momento muito significativo para os<br />
estagiários que buscam constituir ali um lugar. Momento em que podem refletir sobre as teorias<br />
estudadas e as práticas vivenciadas; momento de interação (ou não) com os objetivos sonhados<br />
de atuação profissional; de percepção da prática docente e de elaboração de outras reflexões<br />
acerca do conhecido e vivido.<br />
Referências<br />
AUGÉ, M. Não lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade. <strong>Campinas</strong>:<br />
Papirus, 1994.<br />
CERTEAU, M. A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 2003.<br />
REIS, M. A. S. A prática de estagio para os professores em formação: sentidos dessa<br />
experiência. (Trabalho de Conclusão de Curso) <strong>Campinas</strong>: Unicamp, 2009.<br />
SCHÖN, D. Educando o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a<br />
aprendizagem. Porto Alegre: ArtMed, 2000.<br />
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1999.<br />
272
A GESTÃO ESCOLAR PODE INTERFERIR NO APRENDIZADO E PRODUÇÃO DE<br />
CONHECIMENTO? RELATO DE EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO<br />
Resumo<br />
273<br />
Cecília da Silva Barros<br />
cecilia.barros08@gmail.com<br />
Elvira Cristina Martins Tassoni<br />
cristinatassoni@puc-campinas.edu.br<br />
Eixo Temático: Gestão e Avaliação<br />
Pôster<br />
Pontifícia Universidade Católica de <strong>Campinas</strong> – S.P<br />
Faculdade de Educação<br />
Este relato refere-se ao trabalho desenvolvido no estágio supervisionado vinculado à disciplina<br />
Gestão da Educação Básica, do 8º período do Curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da<br />
<strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong>. O estágio foi realizado em duas escolas públicas estaduais, uma de Ensino<br />
Fundamental e outra de Ensino Fundamental e Médio, problematizando em que medida a Gestão<br />
Escolar pode influenciar no aprendizado dos alunos, como também que influências as estruturas<br />
física, administrativa e didático-pedagógica podem ter na produção de conhecimento. Teve por<br />
objetivo desenvolver uma compreensão pedagógica de Gestão Escolar, nos contextos micro e<br />
macro da escola, contemplando as dimensões do trabalho pedagógico coletivo; compreender os<br />
princípios da gestão democrática e sua influência na organização do trabalho pedagógico. A<br />
coleta das informações ocorreu por entrevistas com membros da equipe gestora e funcionários da<br />
escola, análise documental do Projeto Político Pedagógico, Regimento Escolar e outros<br />
documentos disponibilizados e observação, contemplando a organização da escola; a estrutura<br />
administrativa; os aspectos relacionados com a gestão escolar e os momentos coletivos. A<br />
experiência realizada possibilitou concluir que a Escola de Ensino Fundamental estagiada é<br />
acolhedora com seus alunos, aberta à discussão e participação dos professores e dos pais nas<br />
decisões. Esse ambiente institucional promove um espaço de aprendizado onde existe o diálogo e<br />
a preocupação com a efetividade do processo educativo. A estrutura física deixa a desejar e isso<br />
prejudica a produção do conhecimento. O Projeto Político Pedagógico foi elaborado de forma<br />
coletiva e, apesar das dificuldades que a escola apresenta, caminha em busca de uma Gestão<br />
Democrática. Na Escola de Ensino Fundamental e Médio estagiada percebeu-se que há uma<br />
preocupação real com o aprendizado do aluno, porém não há institucionalmente delimitado um<br />
espaço de troca entre Direção, Coordenação Pedagógica, Professores e alunos. Não se identifica<br />
um clima de coletividade, onde todos participam das decisões e conhecem claramente as regras e<br />
objetivos. A escola tem uma ótima estrutura física, mas pelo que pôde ser observado não possui<br />
uma Gestão Democrática. Desta forma, o estágio possibilitou fazer uma reflexão concreta a<br />
respeito do papel da Gestão Escolar e sua influência no aprendizado do aluno.<br />
Palavras-chave: Gestão Democrática; Educação Básica; Estágio Supervisionado.<br />
Introdução<br />
Este relato refere-se ao trabalho desenvolvido no estágio supervisionado vinculado à<br />
disciplina Gestão da Educação Básica, do 7º período do Curso de Pedagogia da Faculdade de
Educação da <strong>PUC</strong>-<strong>Campinas</strong>. O estágio foi realizado em duas escolas públicas estaduais, uma de<br />
Ensino Fundamental e outra de Ensino Fundamental e Médio. A carga horária foi de 51 horas,<br />
sendo 25 horas em Ensino Fundamental e 26 horas em Ensino Médio. Durante o estágio foi<br />
analisado o projeto político pedagógico das escolas, a estrutura administrativa, as funções da<br />
escola, estrutura didática e qualidade do ensino.<br />
Questão<br />
Em que medida a Gestão Escolar pode influenciar no aprendizado dos alunos, como<br />
também que influências as estruturas física, administrativa e didático-pedagógica podem ter na<br />
produção de conhecimento?<br />
Objetivo<br />
Desenvolver uma compreensão pedagógica de Gestão Escolar, nos contextos micro e macro<br />
da escola, contemplando as dimensões do trabalho pedagógico coletivo e compreender os<br />
princípios da gestão democrática e sua influência na organização do trabalho pedagógico.<br />
Método<br />
Foram coletadas informações em duas escolas públicas estaduais que serão identificadas<br />
por Escola 1 (Escola de Ensino Fundamental) e Escola 2 (Escola de Ensino Fundamental e<br />
Médio).<br />
Para a coleta das informações foram utilizados os seguintes instrumentos: entrevista,<br />
entendida como ―uma técnica alternativa para se coletar dados não documentados sobre um<br />
determinado tema‖ (PÁDUA, 1997, p. 66), envolvendo a equipe gestora e funcionários da escola;<br />
análise documental do Projeto Político Pedagógico, Regimento Escolar e outros documentos<br />
disponibilizados e observação, contemplando a organização da escola; a estrutura administrativa;<br />
os aspectos relacionados com a gestão escolar e os momentos coletivos. ―A análise documental<br />
busca identificar informações factuais nos documentos a partir de questões ou hipóteses de<br />
interesse‖ (CAULLEY, 1981 apud LÜDKE e ANDRÉ, 2005, p. 38). Quanto a observação, para<br />
que<br />
[…] se torne um instrumento válido e fidedigno de investigação científica, a observação precisa ser antes de<br />
tudo controlada e sistemática. Isso implica a existência de um planejamento cuidadoso do trabalho e uma preparação<br />
rigorosa do observador (LÜDKE E ANDRÉ, 2005, P. 25).<br />
Resultados obtidos<br />
Os dados coletados na Escola 1 revelaram que é acolhedora com seus alunos, aberta à<br />
discussão e participação dos professores e dos pais nas decisões. O Projeto Político Pedagógico<br />
foi elaborado de forma coletiva pela equipe escolar, com a participação dos pais e membros da<br />
comunidade, o que sugere que a escola possui uma gestão democrática.<br />
Esse ambiente institucional promove um espaço de aprendizado onde existe o diálogo e a<br />
preocupação com a efetividade do processo educativo.<br />
274
A Associação de Pais e Mestres (APM) é bastante atuante na escola, realizando pequenas<br />
obras de melhorias do prédio, e é responsável pela cantina. Isso mostra que a escola adota uma<br />
concepção democrático-participativa que segundo Libâneo<br />
[...] baseia-se na relação orgânica entre a direção e a participação dos membros da equipe. Acentua a<br />
importância da busca de objetivos comuns assumidos por todos. Defende uma forma coletiva de tomada de decisões.<br />
Entretanto, uma vez tomadas as decisões coletivamente, advoga que cada membro da equipe assuma sua parte no<br />
trabalho, admitindo a coordenação e a avaliação sistemática da operacionalização das deliberações (LIBANEO,<br />
2008, p. 325).<br />
Um aspecto negativo na estrutura da escola é que não possui biblioteca (apenas uma<br />
pequena sala, sem nenhuma organização ou controle) nem laboratório de ciências. O laboratório<br />
de informática é mal aproveitado, sendo mais utilizado para as reuniões do HTPC do que para<br />
aulas. Nesse caso, poderia se constituir num espaço rico de aprendizagem, pois o laboratório<br />
possui data show, equipamento de som e telão. Daria para realizar excelentes aulas nesse<br />
ambiente, já que hoje se espera que os professores se preparem para utilizar os recursos<br />
tecnológicos que fazem parte da rotina dos alunos, seja em casa ou nas lan houses.<br />
A ausência desses espaços impede que os alunos possam realizar pesquisas, interferindo<br />
negativamente no processo de aprendizagem. Paro (2007) adverte que ―é preciso levar em conta<br />
não apenas o que ele aprende e como ele aprende, mas também à medida que o ambiente ou a<br />
instituição em que se dá esse aprendizado está contribuindo para a efetividade dessa educação‖<br />
(p. 83-84).<br />
Foi possível observar um clima de cooperação entre os professores e a equipe gestora, isso<br />
acabada sendo revertido em prol dos alunos, que encontram na escola uma unidade de<br />
pensamento. Todos falam a mesma língua e sabem dos objetivos da escola. Se isso fica claro para<br />
o aluno ele consegue compreender melhor o ambiente que frequenta. ―Se estamos preocupados<br />
em formar cidadãos participativos por meio da escola, é preciso dispor as relações e as atividades<br />
que aí se dão de modo a ―marcar‖ os sujeitos que por ela passam com os sinais da convivência<br />
democrática‖ (PARO, 2007, p. 107).<br />
Apesar das dificuldades que a escola apresenta, caminha em busca de uma Gestão<br />
Democrática.<br />
Na Escola 2 percebeu-se que há uma preocupação real com o aprendizado do aluno, porém<br />
não há institucionalmente delimitado um espaço de troca entre Direção, Coordenação<br />
Pedagógica, Professores e alunos.<br />
Ao mesmo tempo em que a administração é bastante centralizada na Diretora, os aspectos<br />
pedagógicos são discutidos com os professores, o que dá a impressão de uma concepção<br />
democrática-participativa, já que ―a gestão democrática por um lado, é atividade coletiva que<br />
implica a participação e objetivos comuns; por outro, depende também de capacidades e<br />
responsabilidades individuais e de uma ação coordenada e controlada (LIBÂNEO, 2008, p.326).<br />
Não se identifica um clima de coletividade, onde todos participam das decisões e conhecem<br />
claramente as regras, os objetivos e o projeto político pedagógico não foi construído de forma<br />
coletiva.<br />
A escola tem uma excelente biblioteca, os livros estão devidamente catalogados e<br />
registrados num sistema de computador. Possui um acervo de 15.000 livros, 150 mapas<br />
(devidamente guardados), os empréstimos são registrados adequadamente e possui uma<br />
bibliotecária. Possuir uma biblioteca e uma sala de informática bem utilizadas pode possibilitar<br />
275
uma ampliação das práticas escolares, bem como maior produção de conhecimentos, em função<br />
das pesquisas que se pode realizar, diante da diversidade de acesso às informações.<br />
Percebe-se que a Direção da Escola é muito organizada e as tarefas são claramente<br />
definidas, o que é um aspecto positivo no que diz respeito ao funcionamento da escola de maneira<br />
geral.<br />
Os professores criticam muito a postura dos alunos e a falta de disciplina, destacando que<br />
eles só se preocupam com festas e ninguém se preocupa com a aprendizagem.<br />
Talvez essa escola precise criar maneiras de envolver os alunos nos processos de solução de<br />
problemas e de tomadas de decisões que envolvam à sua vida na escola,<br />
vivenciando práticas de reflexão e de atuação, de debate e de confronto de opiniões, com o respeito às<br />
diferenças individuais. Os alunos aprendem democracia vivendo e construindo sua comunidade democrática de<br />
aprendizagem e de vida, aprendendo a pensar e atuar por meio dos conteúdos escolares que lhes permitam<br />
transformar seu próprio pensamento e seus comportamentos (LIBÂNEO, 2008, p.389).<br />
Pelo que pôde ser observado apesar da Escola 2 possuir uma ótima estrutura que possibilita<br />
o enriquecimento da aprendizagem, não possui uma Gestão Democrática, visto que as decisões<br />
não são discutidas de forma coletiva entre professores, funcionários e pais. As funções estão<br />
explicitamente separadas seguindo uma hierarquia bem definida.<br />
Conclusão<br />
Para que uma gestão possa realmente ser considerada democrática, todos os membros da<br />
escola (professores, funcionários e equipe gestora) devem, além de participar ativamente das<br />
discussões, conhecerem profundamente as regras, normas, missão e objetivos da escola e estarem<br />
realmente motivados a se envolverem nesse projeto. Por meio dessa vivência foi possível fazer<br />
uma reflexão concreta a respeito do funcionamento da escola, os tipos de gestão, de que forma a<br />
gestão pode interferir no aprendizado dos alunos, a relação existente entre a escola e os sistemas<br />
educacionais e perceber que as funções da escola estão diretamente ligadas à qualidade do ensino.<br />
Referências<br />
PÁDUA, Elisabete Matallo Marchesini. Metodologia da Pesquisa. Abordagem teórico-prática.<br />
2ª. ed. <strong>Campinas</strong>, SP: Papirus, 1997.<br />
PARO, Vitor Henrique. A estrutura administrativa e a participação na escola. In: Paro, Vitor<br />
Henrique (ed.). Gestão escolar, democracia e qualidade de ensino. São Paulo: Ática, 2007.<br />
LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação Escolar:<br />
políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2008.<br />
LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas. São<br />
Paulo: EPU, 1988.<br />
276
Resumo Expandido<br />
DO NADA A LUGAR NENHUM?<br />
PODEMOS MUDAR ESSE CAMINHAR<br />
277<br />
Silvio César Cristovão<br />
E.E. Profª Olympia Barth de Oliveira<br />
silviobocao1@yahoo.com.br<br />
Este relato de experiência apresenta uma proposta de trabalho interdisciplinar a partir de temas<br />
referentes à área da Educação Física, envolvendo disciplinas como a Geografia, a Física e a Matemática.<br />
Tudo foi desencadeado pelos estudos sobre alimentação, prática de atividade física, gasto energético e<br />
consumo de calorias com as turmas de 1º ano do Ensino Médio de uma escola pública da rede estadual em<br />
Americana (SP), dentro dos assuntos abordados pela disciplina de Educação Física no 4º bimestre de<br />
2009.<br />
Um problema que é recorrente desde que entrei para o quadro do magistério, em 2000, e que<br />
parece não ser tão simples de ser resolvido, pois é, geralmente, jogado para último plano, é a questão dos<br />
projetos interdisciplinares, os quais deveriam envolver a participação de várias áreas explorando um<br />
mesmo tema e, até mesmo, envolvendo várias séries do ensino regular. Tal constatação ajudou a fortalecer<br />
a busca por mudanças desse paradigma, ou seja, nem sempre temos que aceitar as coisas como são ou<br />
como estão, mas sim procurar analisar o que podemos empreender para tornar o dia-a-dia na sala de aula<br />
mais interessante, motivante e producente.<br />
Essa interdisciplinaridade exige uma reflexão profunda e inovadora sobre o conhecimento, que<br />
demonstra a insatisfação com o saber fragmentado. Caminhando paralelamente, temos a<br />
multidisciplinaridade como algo que se caracteriza por uma ação simultânea de uma gama de disciplinas<br />
em torno de uma temática comum. Essa atuação, no entanto, ainda é muito fragmentada, na medida em<br />
que não se explora a relação entre os conhecimentos disciplinares e não há nenhum tipo de cooperação<br />
entre as disciplinas. Neste sentido, a interdisciplinaridade propõe um avanço em relação ao ensino<br />
tradicional, com base na reflexão crítica sobre a própria estrutura do conhecimento, na intenção de superar<br />
o isolacionismo entre as disciplinas e no desejo de revitalizar o próprio papel dos professores na formação<br />
dos estudantes para o mundo (JAPIASSU, 1976).<br />
É possível que encontremos vários motivos que tentam explicar a falta de trabalho interdisciplinar<br />
dentro do espaço escolar, que podem estar relacionados à formação docente, às condições de trabalho e,<br />
até mesmo, ao material que é utilizado para transmissão de conteúdos, os quais serão cobrados em<br />
avaliações anuais i para medir o aproveitamento dos alunos. Embora isso seja uma questão complexa, que<br />
demanda um estudo mais específico, vale lembrar um alerta feito por Freire (1996), ao afirmar que é<br />
preciso saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria<br />
produção ou a sua construção. Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a<br />
indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições, um ser crítico e inquiridor, inquieto<br />
em face da tarefa que tenho - a ele ensinar e não a de transferir conhecimento.<br />
Dessa forma, juntamente com a questão da interdisciplinaridade, também havia o problema do<br />
sedentarismo que era flagrante entre muitos alunos do Ensino Médio. Assim, desenvolver um trabalho que<br />
atendesse a essas duas questões simultaneamente era algo bastante interessante e, até mesmo, essencial<br />
para o aprendizado tanto de alunos quanto de professores.<br />
A princípio, o objetivo era apenas coletar dados que ajudassem os alunos a entenderem o<br />
funcionamento orgânico e fisiológico do corpo humano diante da prática de algumas atividades físicas.<br />
Porém, com a proposta de envolver outras disciplinas no desenvolvimento de um projeto mais abrangente,<br />
agregou-se ao objetivo inicial a questão da importância do trabalho interdisciplinar.
A partir de reuniões ocorridas durante os HTPCs (horário de trabalho pedagógico coletivo), foram<br />
discutidas as possibilidades de estudo em cada disciplina, onde os temas se cruzariam (enfoque<br />
interdisciplinar) e onde caminhariam apenas paralelamente (enfoque multidisciplinar), auxiliando na<br />
valorização da proposta de buscar caminhos menos fragmentados para a tarefa de educar para a cidadania.<br />
Muitos obstáculos foram sendo ultrapassados desde a concepção até a finalização do projeto. Por fim,<br />
após algumas revisões nos assuntos (Geografia: pontos cardeais e uso da bússola; Física: velocidade<br />
média; Matemática: razão e proporção; Educação Física: frequência cardíaca; entre outros) já que, numa<br />
decisão coletiva dos professores, até os 2º e 3º anos do Ensino Médio também participariam do projeto,<br />
tudo culminou numa atividade que fora nomeada de I Caminhada de Orientação, que ocorreu no Jardim<br />
Botânico de Americana, localizado a, aproximadamente, mil metros da escola.<br />
Todo trabalho interdisciplinar e multidisciplinar resultou numa experiência prática bastante<br />
interessante sob o ponto de vista da participação, motivação e apreensão de conhecimentos pelos alunos,<br />
os quais também executaram tarefas práticas e escritas durante a caminhada. Aos professores ficou o<br />
exemplo de uma proposta colaborativa que pode auxiliar no planejamento e execução de tarefas que,<br />
muitas vezes, são conduzidas solitariamente. Ainda quanto aos alunos, numa avaliação posterior a grande<br />
maioria demonstrou ter compreendido o funcionamento orgânico corporal diante da atividade física, os<br />
benefícios de se entender sobre alimentação, entre outros temas trabalhados no projeto, além de<br />
perceberem também os pontos positivos do trabalho envolvendo várias disciplinas, as quais colaboraram<br />
para o sucesso do projeto.<br />
Pensando em quão importante é refletir sobre os caminhos que percorremos em nossa lida, creio<br />
que não podemos esquecer que também se faz necessário que tenhamos subsídios, sejam estes<br />
bibliográficos ou tecnológicos, para elaborar experiências outras que nos remetam a essa busca pelo novo,<br />
pelo (re)construído. Apesar disso, o domínio de conhecimentos permite ao professor tomar consciência de<br />
que não é um livro que o ajudará a enfrentar os problemas da sala de aula, mas sua própria reelaboração<br />
dos conhecimentos e de suas experiências cotidianas (Coletivo de autores, 1992).<br />
Essa experiência também nos sugere que quando estamos voltados para um trabalho mais<br />
colaborativo e interdisciplinar podemos construir pontes bem estruturadas, não aquelas que nos levam do<br />
nada a lugar nenhum, mas que nos auxiliem a chegar mais distante do que fomos acostumados ou<br />
acomodados pelo caminho.<br />
Palavras-chave: Educação Física; Ensino; Projetos; Interdisciplinaridade.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez,<br />
1992.<br />
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 2. ed. Rio de<br />
Janeiro: Paz e Terra, 1997.<br />
JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976.<br />
220 p.<br />
TECNOLOGIA EM PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: O PROJETO MUNDO DO SABER E A<br />
EJA<br />
278
279<br />
Maria Dorothea Chagas Correa<br />
Mestranda em Educação Sociocomunitária – UNISAL<br />
dorothea.chagas@gmail.com;<br />
Andrea Jaconi<br />
Mestranda em Educação Sociocomunitaria – UNISAL<br />
andreajaconi@gmail.com<br />
Priscila Fernanda Bertola dos Santos<br />
Mestranda em Educação Sociocomunitária – UNISAL<br />
pribertola@bol.com.br<br />
Eixo Temático: Formação de professores e práticas pedagógicas<br />
Modalidade: Relato de experiência<br />
Tendo em vista o papel das Tecnologias de Informação e Comunicação na inclusão digital e no suporte<br />
pedagógico à educação formal e não formal, a Escola Aletheia, situada em <strong>Campinas</strong>-SP, estabeleceu uma<br />
parceria entre um grupo de alunos da EJA e o Projeto Mundo do Saber. Nascido e criado no Larcom -<br />
Laboratório de Comunicações - da FEE/Unicamp, constitui-se em ferramenta de suporte pedagógico para<br />
melhorar os recursos didáticos do professor, com o foco da aprendizagem centrada no aluno, através de<br />
módulos educacionais, no formato de aulas digitais. Porém, ainda existem pessoas que não possuem<br />
acesso a essa tecnologia e que sequer, conseguiram partilhar dos códigos escritos (os não alfabetizados e<br />
os analfabetos funcionais). Como oportunizar então, a esses grupos, um processo educativo que os<br />
―alfabetize‖ nas duas linguagens (escrita e digital), diminuindo o abismo que separa esses ―dois mundos‖<br />
existentes na sociedade atual? O grupo da EJA passou a frequentar o laboratório de informática da Escola<br />
Aletheia para utilizar os módulos educacionais e assim, reforçar suas oportunidades de aprendizagem. A<br />
escolha prévia dos módulos utilizados é feita, com cuidado, de forma que há muita similaridade do que se<br />
trabalha em aula com o que é feito no laboratório. São utilizados módulos abordando temas como<br />
alimentos, trânsito, dias da semana, entre outros, com utilização de animações, atividades dinâmicas e<br />
divertidas que colaboram para a aprendizagem. A inclusão digital tem sido um dos pontos relevantes nas<br />
conquistas desses alunos da EJA e percebe-se que as atividades do Mundo do Saber contribuem para um<br />
salto qualitativo na aprendizagem: uma tarefa que antes levava muito tempo para ser realizada, agora é<br />
feita rapidamente. A ida ao laboratório, além de contribuir para a aquisição da leitura e da escrita, é a<br />
descoberta de um outro mundo que contribui para restaurar sonhos.<br />
Palavras-Chave: EJA; Inclusão Digital; Práticas Pedagógicas