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A LITURGIA (OFÍCIO DIVINO): CENTRO DA EXISTÊNCIA ...

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COLÉGIO INTERNACIONAL DE SÃO BERNARDO ORDEM CISTERCIENSE<br />

A <strong>LITURGIA</strong> (<strong>OFÍCIO</strong> <strong>DIVINO</strong>): <strong>CENTRO</strong> <strong>DA</strong><br />

<strong>EXISTÊNCIA</strong> MONÁSTICA<br />

Pe. Alberico Altermatt O. Cist.<br />

Hauterive – Eschenbach<br />

Curso de Formação O.Cist.<br />

Setembro de 2001<br />

(pro manuscripto)<br />

Cúria Geral da Ordem Cisterciense<br />

Roma 2003


A <strong>LITURGIA</strong> (<strong>OFÍCIO</strong> <strong>DIVINO</strong>): <strong>CENTRO</strong> <strong>DA</strong><br />

<strong>EXISTÊNCIA</strong> MONÁSTICA<br />

INTRODUÇÃO: A <strong>LITURGIA</strong> COMO <strong>CENTRO</strong> DO “TRIPLO ACORDO<br />

BENEDITINO”.<br />

Segundo a Regra de nosso pai São Bento (nascido entre<br />

560/575), o dia-a-dia monástico comporta essencialmente três<br />

ocupações: a oração (liturgia/ofício divino): a lectio divina e o trabalho.<br />

Estes três elementos, que constituem o tema de nossa aula, formam o<br />

que se chamou “tríplice acordo beneditino”. São comparáveis a três<br />

círculos concêntricos: o círculo central é a liturgia. Parece-me que esta<br />

imagem, muito sugestiva, ilustra não somente o significado central da<br />

liturgia na vida monástica, como também a interdependência e a<br />

necessária harmonia entre estas três atividades.<br />

A Liturgia tem, na Regra de São Bento, um lugar de preferência,<br />

e não há necessidade desse fato ser experimentado hoje, nesta aula,<br />

porque é algo evidente para quem fez sua profissão monástica na regra<br />

de São Bento.<br />

Entre 73 capítulos da Regra, conta-se 13 (de 8 a 20) que tratam<br />

exclusivamente da celebração da liturgia (ofício divino) – precisamente<br />

sobre a celebração da oração das Horas – e isto se faz nos mínimos<br />

detalhes. Como fundamento se põe este princípio: Portanto nada se<br />

anteponha ao Ofício Divino (nihil operi Dei praeponatur) (RB.- 43,3).<br />

De fato, é a Liturgia que dá ao dia-a-dia monástico sua estrutura e seu<br />

ritmo. Isto explica que se chegou a designar o monge/a monja como<br />

homo liturgicus ,título que, por outro lado, pode ser discutido1 . O<br />

beneditino italiano Dom Giuseppe Anelli, num artigo sobre A vida<br />

monástica como existência teológica, escreve o seguinte: A vida<br />

monástica apareceu como um ato de adoração; o monge é “um ser que<br />

abre o seu coração para Deus”( Martin Buber, “que não se aparta do<br />

2


dever de amar a Deus”(Pascal ) “que não se afasta do difícil trabalho<br />

de ser cristão’ (Kierkegaard). Esta existência teológica do homem que<br />

vive na fé e pela graça, é necessariamente litúrgica e de louvor (serviço<br />

de devoção – RB.-18,24 o serviço a que eles se têm dedicado), é sua<br />

vocação específica. Sois tu, Senhor, que nos leva à alegria louvandote<br />

porque tu nos conduziste a ti, pois nosso coração não descansa<br />

enquanto não encontrar repouso em ti (Sto. Agostinho, Confissões,<br />

1.1,1). O homem é o ser que louva a Deus por seus justos juízos (super<br />

iudica iustitiae tuae – RB.-16,5) 2 .<br />

A primeira questão que se coloca é esta: a liturgia, o que é?<br />

Como se pode definir e que significação tem para a Igreja, para a vida<br />

eclesial e, particularmente, para a vida monástica beneditina? Num<br />

primeiro capítulo, tentaremos responder a estas questões necessárias<br />

para abordar nosso tema. Num segundo capítulo, nós nos<br />

interessaremos por nossa história, por nossa espiritualidade<br />

cisterciense, principalmente pelos primeiros séculos da ordem e<br />

veremos que lugar tem, então, a liturgia no monaquismo cisterciense. E<br />

já que, segundo Martin Heidegger (+ 1976), a origem fica por chegar<br />

( O porvir está por vir ) – Herkunft bleibt Zukunft – a procedência<br />

permanece no futuro, será questão para ser tratada no terceiro e último<br />

capítulo do papel da liturgia em nossa vida cisterciense atual, assim<br />

como o papel que nos toca no terreno litúrgico para hoje e para amanhã,<br />

segundo os ensinamentos do Concílio Vaticano II e o da reforma<br />

litúrgica pós-conciliar. E aí se abre uma possibilidade de “ecumenismo<br />

cisterciense”.<br />

A liturgia como manifestação autêntica da Igreja e da comunidade<br />

monástica.<br />

Seria muito interessante agora pôr, cada um a si mesmo, a questão<br />

seguinte: O que é a liturgia? (isto seria certamente uma das questões<br />

entre as que conviriam ser refletidas nos grupos de trabalho). Temo que<br />

alguns não possam dar prontamente uma definição da liturgia que<br />

3


expresse verdadeiramente o essencial e que corresponda aos critérios<br />

atuais da teologia e da ciência litúrgica (porque a liturgia é, hoje em dia,<br />

uma verdadeira ciência!).<br />

Por quê? Porque todos nós corremos o risco de fazermos talvez<br />

uma idéia demasiadamente limitada do que é a liturgia. Conservamos<br />

dela uma idéia demasiadamente reduzida (estética). Somos tentados<br />

facilmente em confundir a liturgia com o culto, com os ritos, as<br />

cerimônias. Mas isto é apenas um aspecto da liturgia! Começa-se a<br />

perceber o que é liturgia lendo, por exemplo, as obras seguintes<br />

(aleatoriamente cito aqui algumas entre uma série de obras notáveis,<br />

todas recentes, que não se querem apresentar como científicas):<br />

Jean CARBON, Liturgia de base, Paris, Editions du Cerf, 1980.<br />

Michael KUNZLER, La Liturgie de l’Église. AMATECA,<br />

Manuel de théologie catholique, vol. X, Louxembourg, Ed. St Paul /<br />

Paris, Ed. du Cerf 1997 (edição original alemã, Paderborn, 1995).<br />

Joseph RATZINGER, Der Geist der Liturgie. Eine einführung.<br />

Herder Verlag: Freiburg-Basel-Wein 2000 (à espera de uma tradução<br />

francesa!!).<br />

O movimento litúrgico do século XX e o Concílio Vaticano II<br />

(1962-65) compreenderam e definiram de uma maneira nova a<br />

natureza, o espírito e o significado da liturgia. A Constituição<br />

Sacrossantum Concilium (A sagrada Liturgia), promulgada no ano<br />

1963, pode ser considerada como o documento mais belo e a mais<br />

completa doutrina que a Igreja já publicou sobre a liturgia em seus<br />

2000 anos de história.<br />

1.1.Definição da liturgia segundo a Constituição sobre a Liturgia.<br />

O termo “liturgia” designa uma noção bastante rica e completa;<br />

por outro lado, não tinha sido adotado no Ocidente até o fim do século<br />

18. De origem grega, a palavra “leitourgia” é formada pelos vocábulos<br />

4


laos / leiton =povo, e ergon ( em latim = opus) = obra de serviço. Pode<br />

ter outros significados: “obra pública”, obra do povo (genitivo<br />

subjetivo) ou também “obra para o povo” (genitivo objetivo). No<br />

terreno profano, “leitourgia” significava um serviço público, uma<br />

“prestação”; era também utilizado para uma celebração religiosa<br />

concernente a todo o povo. No uso bíblico (judaísmo helenístico,<br />

Setenta), o termo designava o culto e o serviço do tempo. Chegou a ser<br />

muito depressa, na tradição cristã, o termo próprio para a assembléia do<br />

serviço divino ou a celebração do serviço divino (na Igreja do oriente<br />

tem, atualmente, o sentido restrito e preciso de celebração eucarística)<br />

3 .<br />

No n º 7 da Constituição sobre a Liturgia, o Concílio Vaticano<br />

II descreve a liturgia como um diálogo, um intercâmbio vital entre<br />

Deus e o homem, como a uma ação sagrada (actio sacra) e como uma<br />

obra (exercício). Neste diálogo comunicativo, a iniciativa vem sempre<br />

de Deus: é Deus que se dirige ao homem, ou, como se diz em teologia,<br />

o aspecto de catábase, o aspecto soteriológico da liturgia. Em resumo,<br />

trata-se da santificação e da salvação do homem. Só depois vem a linha<br />

ascendente (de anábase, de latria): até o Concílio Vaticano II, esta linha<br />

foi muito acentuada e às vezes talvez ainda o seja. O aspecto de<br />

anábase ou de latria, é a liturgia enquanto louvor, intercessão,<br />

celebração, enfim, como glorificação de Deus. Mas é preciso, para<br />

começar, a “descida” de Deus (catábase), para permitir a “subida” do<br />

homem (“anábase”). Em outros termos: antes de que o homem faça<br />

alguma coisa para Deus, é Deus quem faz algo pelo homem. A liturgia,<br />

nesta perspectiva nova e mais universal, é a Obra de Deus (em latim<br />

Opus Dei) no homem, para o homem (genitivo subjetivo) e a Obra do<br />

homem para Deus (em latim Opus Dei, mas desta vez compreendida<br />

como genitivo objetivo) 4 . Isto pode ser ilustrado por este desenho e ao<br />

mesmo tempo completado pelo aspecto horizontal:<br />

5


DEUS<br />

1 3<br />

2<br />

HOMEM<br />

A primeira iniciativa na obra: o diálogo da salvação vem<br />

sempre de Deus (1). A intervenção salvadora de Deus desperta no<br />

homem um eco. O homem é tocado por este e esta experiência o<br />

vincula novamente a seus irmãos (2). Beneficiados todos os homens<br />

pela salvação de Deus, eles respondem por meio do louvor e da ação<br />

de graças (3). Nós reencontramos esta dinâmica e esta concatenação<br />

nos três tios de textos constitutivos da liturgia:<br />

Leituras: Deus se dirige ao homem em sua palavra (1)<br />

Cantos Reação do povo tocado pela Palavra (2)<br />

Orações Resposta de louvor, ação de graças, adoração (3) 5<br />

Estas duas orientações complementares da liturgia: linha<br />

descendente (santificação do homem) e linha ascendente (glorificação<br />

de Deus) pertencem, depois do último Concílio, à definição<br />

fundamental da Liturgia, que se descreve, no n º . 7 da Sacrossanctum<br />

Concilium (sobre A Sagrada Liturgia), deste modo: A liturgia é o<br />

exercício da função sacerdotal de Jesus Cristo, exercício no qual a<br />

santificação do homem (linha descendente) está significada por alguns<br />

sinais sensíveis e se realiza de uma maneira própria em cada um deles,<br />

na qual o culto público integral (linha ascendente) é exercida pelo<br />

Corpo místico de Jesus Cristo, ou seja, pela Cabeça e pelos membros.<br />

Em conseqüência, toda celebração litúrgica, enquanto obra<br />

(opus) de Cristo sacerdote e de seu Corpo que é a Igreja, é a ação<br />

6


sagrada (actio sacra) por excelência, da qual nenhuma outra ação<br />

(actio) da Igreja pode esperar a eficácia com o mesmo título nem no<br />

mesmo grau (n. º 7).<br />

A obra da salvação realizada por Jesus Cristo, Verbo de Deus<br />

encarnado, é o fundamento e a fonte da liturgia. Esta obra (ergon, opus)<br />

está explicada no n º 5 da Constituição sobre a liturgia como obra da<br />

Redenção dos homens e da perfeita glorificação de Deus, que foi<br />

precedida pelas grandes obras divinas no povo da Antiga Aliança. O<br />

centro desta obra de salvação e, por conseguinte, também da liturgia,<br />

na qual Cristo Salvador está presente e atuante, é constituída pelo<br />

mistério pascal de sua bem-aventurada paixão, de sua ressurreição<br />

dentre os mortos e de sua gloriosa ascensão. É deste mistério pascal<br />

que Cristo quer fazer participar sua Igreja, na força do Espírito Santo<br />

(Constituição n º 6) 6 . Toda a liturgia finalmente não é outra coisa que a<br />

celebração comemorativa do mistério pascal (e isto vale especialmente<br />

para a celebração de nossa Liturgia das Horas). Este conceito, muito<br />

teológico e patrístico da liturgia e da celebração litúrgica, do qual o<br />

beneditino alemão Odo CASEL (+1948) foi um eminente pioneiro 7 , é<br />

o grande descobrimento do Concílio Vaticano II.<br />

O Objeto da celebração litúrgica sendo a Obra da salvação em<br />

Cristo, o mistério pascal, é, em seu conteúdo, vasto e muito<br />

diversificado. Isto deve ser absolutamente tomado em consideração na<br />

concepção da liturgia. No centro das ações sagradas se situa, como um<br />

sol, a Eucaristia. A seu redor resplandecem os outros sacramentos e os<br />

sacramentais (bênçãos e consagrações). À liturgia pertencem, também,<br />

em primeiro lugar, a oração das horas / opus Dei e as celebrações da<br />

Palavra, ao passo que os exercícios de devoção (exercícios piedosos)<br />

não formam parte da liturgia propriamente dita 8 .<br />

Nas regiões de língua alemã difundiu-se, desde já algum tempo,<br />

a palavra “Gottesdienst”, Serviço divino (Ofício divino, no Brasil)<br />

(uma tradução do termo tradicional Opus Dei); de fato, tem o mesmo<br />

7


sentido que “Liturgia”, termo mais freqüentemente empregado nos<br />

documentos oficiais e nos livros 9 .<br />

1.2 - A liturgia, função fundamental da Igreja.<br />

Atualmente se fala, em eclesiologia e em teologia pastoral, de<br />

três funções essenciais ou de três atividades fundamentais da Igreja,<br />

que são designadas pelos termos gregos: Martyria (anúncio da Palavra,<br />

testemunho, missão), Leitourgia ( liturgia, oração) e Diakonia (serviço<br />

ao próximo, obras de caridade, solidariedade). Os três, e muito<br />

particularmente a liturgia, tendem à comunhão dos crentes (communio<br />

/ koinonia), que às vezes está unida aos outros três elementos10 . Como<br />

no “tríplice acordo beneditino” (os três círculos concêntricos): oração,<br />

lectio divina, trabalho, é a liturgia, também aqui, o círculo central das<br />

três atividades da Igreja. Ela é a forma fundamental da vida eclesial.<br />

Numa frase de grande conteúdo, tornada célebre, e citada<br />

freqüentemente, a Constituição sobre a liturgia declara no no 10 o<br />

seguinte: A liturgia é o cume a que tende a ação da Igreja, ao mesmo<br />

tempo a fonte donde procede toda sua força. Todos os trabalhos<br />

apostólicos ( Martyria e Diakonia) tendem a fazer com que todos, feitos<br />

filhos de Deus pela fé e pelo batismo, se congreguem, louvem a Deus<br />

como membros da Igreja, participem no sacrifício e da ceia do Senhor.<br />

(Entretanto, nunca antes se havia percebido uma coisa parecida!)<br />

No n º . 7, já havia sido dito: A eficácia da Liturgia, não é<br />

igualada por nenhuma outra ação da Igreja, na mesma denominação<br />

e no mesmo grau. A celebração da liturgia pressupõe e contém ao<br />

mesmo tempo o anúncio da palavra e o testemunho (Martyria). Ao<br />

mesmo tempo, a celebração litúrgica é o ponto de partida da vida ao<br />

serviço do próximo (Diakonia), ela não cessa de estimulá-la. É o que<br />

nos ensina o Concílio no n º 9 da mesma Constituição: A liturgia não<br />

preenche toda a atividade da Igreja, pois antes que os homens possam<br />

ter acesso à liturgia, é necessário que eles tenham sido chamados à fé<br />

e à conversão ( Martyria)... Ao passo que aos que já crêem, ela deve<br />

8


sempre pregar-lhes a fé e a penitência; deve, além disso, dispô-los aos<br />

sacramentos, ensinar-lhes a observar tudo o que Cristo prescreveu, e<br />

a levá-los a se comprometerem com todas as obras da caridade, de<br />

piedade e de apostolado (Diakonia).<br />

Entretanto, logo em seguida, no n º 10, acrescenta: Sem dúvida,<br />

a liturgia é o cume a que tende a ação da Igreja, e ao mesmo tempo, a<br />

fonte donde procede toda sua força 11 .<br />

1.3 – A liturgia, função essencial da comunidade monástica.<br />

Se a liturgia é uma função essencial da Igreja, e se ela é o cume<br />

e a fonte de toda a ação da Igreja, isto vale com maior força para nossas<br />

comunidades monásticas, quanto mais que a tradição monástica sempre<br />

considerou o mosteiro como uma pequena Igreja (ecclesiola) 12 .<br />

Acaso Cister, nossa mãe, não tem sido chamada Igreja de<br />

Cister, ecclesia cisterciensis 13 ? Encontramos este título nos<br />

documentos primitivos, tanto para Cister como para todas as abadias<br />

cistercienses.<br />

1.4 – A liturgia e seu lugar central na Regra de São Bento.<br />

Consideremos agora o valor e a função que São Bento<br />

reconhecia à liturgia, situando-nos na ótica do Concílio. Podemos estar<br />

mais que surpreendidos pela considerável concordância que<br />

descobrimos entre o ensino da Regra e a doutrina do Vaticano II.<br />

S. Bento utiliza, para a liturgia, deferentes termos e por isso<br />

vemos que, na Regra de São Bento, quase unicamente é a liturgia das<br />

horas (liturgia horarum) que entra em questão, já que a celebração<br />

diária da Eucaristia, porém, não era conhecida. As expressões que se<br />

encontram na Regra são, por exemplo, oficium divinum ( o ofício<br />

divino: RB 43,1), devotionis servitium o serviço ao qual estão<br />

9


dedicados: RB 18,24), pensum (officium) servitutis (os deveres e<br />

encargos de nossa servidão: RB 16,2; 49,5; 50,4), oratio (oração 20,4-<br />

5) e principalmente, evidentemente, opus Dei / opus divinum (ofício<br />

divino: RB 43,3.10; 19,2). Os termos “officium”, “servitium”, e<br />

“opus”, equivalem à palavra grega “ergon”, que nós vimos na deficição<br />

de Leitourgia: o serviço (com relação subentendida a serviço público,<br />

comunitário). O termos opus Dei, que São Bento recebeu da tradição<br />

patrística, tem um duplo conteúdo:<br />

a) a obra ( o serviço) que Deus realiza no homem, para o<br />

homem ( genitivo subjetivo)<br />

b) a obra (o serviço) que o homem dirige para Deus, diante de<br />

Deus (genitivo objetivo).<br />

É deste modo que o termo opus Dei corresponde exatamente à<br />

dupla orientação da liturgia, tal como a definiu o Concílio Vaticano II:<br />

a linha descendente (ação de Deus) e a linha ascendente (resposta e<br />

ação do homem). Na antiga tradição da Igreja, opus Dei designava o<br />

conjunto da liturgia e igualmente toda a existência cristã e monástica<br />

que tem seu centro unificador na oração e no louvor de Deus.<br />

Infelizmente, com o tempo, o sentido do termo se restringiu até não<br />

designar mais que a liturgia das horas; este é já o caso falado na regra<br />

de São Bento. Esta concepção subsiste em nossos dias: quando, pois,<br />

falamos de opus Dei (no terreno da liturgia!) pensamos na liturgia das<br />

horas, no ofício. Pelo contrário, nosso pai São Bento, na célebre<br />

máxima de RB 43,3: “Nada se anteponha ao Ofício Divino” (Nihil<br />

operi Dei praeponatur), compreende, entretanto, um opus Dei num<br />

sentido muito mais extenso e teológico. Podemos constatar isso<br />

comparando esta frase com duas outras passagens da regra, cuja<br />

formulação se assemelha a esta: Nada antepor ao amor de Cristo (RB<br />

4,21) (Ninhil amori Dei praeponere) e Nada absolutamente<br />

anteponham a Cristo (RB 72, 11 Christo omnino ninhil paeponant). O<br />

paralelo Opus Dei / Christus é impressionante, mas teologicamente,<br />

isto não é surpreendente, pois a liturgia, como a celebração do Mistério<br />

de Cristo é um dos laços mais profundos do encontro de Cristo e da<br />

união com Ele 14 .<br />

10


E, se se pode dizer que o Vaticano II redescobriu a importância<br />

fundamental da Páscoa (ver Constituição sobre a Liturgia n os . 102,106-<br />

110), reconhecemos que nisto ele encontra uma realidade vivenciada<br />

no tempo da Regra de São Bento. A Páscoa exerce um papel<br />

importante na Regra. Pensemos apenas neste belo direcionamento de<br />

Bento no capítulo da Quaresma: Que o monge espere a Santa Páscoa<br />

(Sanctum Pascha) na alegria do desejo espiritual (RB 49,7). No<br />

mosteiro, as estações são cantadas de Páscoa a Páscoa (ver RB 8 e 48).<br />

A propósito disto, o Abade Beneditino Sebastião BOVO 4+7 realça: As<br />

estações são privadas de sua função natural e libertadas de seus<br />

sentidos cíclico e obrigatório, para organizar a vida da comunidade<br />

monástica totalmente segundo o ritmo dos Mistérios de Cristo e da<br />

Igreja. Tudo transcorre de páscoa a páscoa 15 . Mesmo o Domingo,<br />

como Páscoa semanal, recebe na Regra um lugar particular, como o<br />

mostra principalmente a distribuição do ofício 16 .<br />

Nosso Pai São Bento deu, ao dia-a-dia monástico, uma estrutura<br />

puramente litúrgica, um ritmo litúrgico, que, certamente, ele recebera<br />

em grande parte da Igreja antiga e do monaquismo antigo, mas que<br />

recebeu dele uma nota muito pessoal. A repartição litúrgica do dia-adia,<br />

ele a fundamenta nos versículos do salmo 119 (118): o versículo<br />

62, aplicado à oração noturna do monge e da monja. Levantava-me no<br />

meio da noite para louvar-vos (RB 16,4), e o versículo 164, para<br />

designar as Horas litúrgicas do dia. Louvei-vos sete vezes por dia (RB-<br />

16,1.3.). Isto deu ao esquema dos momentos diários de oração (que<br />

seria tomado de novo exatamente pelos Cistercienses): uma vez na<br />

noite, sete vezes durante o dia. Para Bento, o número sete tinha, por<br />

outro lado, conservado um significado simbólico: significa a plenitude<br />

do tempo e conduz à oração contínua que Jesus pediu a seus discípulos.<br />

Assim, no evangelho de Lucas: Jesus lhes narrou uma parábola sobre<br />

a necessidade para eles de orar constantemente e não desanimar<br />

(Lucas 18,1). Do mesmo modo, o apóstolo Paulo diz aos<br />

tessalonicenses: Orai sem cessar (1 Tess 5,17) 17 .<br />

11


É verdade que São Bento não faz nenhuma exposição teológica<br />

sobre a oração, mas se encontra ma regra umas indicações sobre o<br />

clima e a orientação da oração, especialmente no capítulo 19: Sobre a<br />

atitude na salmodia (De disciplina psallendi) e no capítulo 20 Sobre a<br />

reverência na oração (De reverentia orationis). A oração é para ele a<br />

suprema expressão da fé na presença de Deus (ver RB 19), ela constitui<br />

o próprio da vida monástica: estar na presença de Deus. A propósito<br />

disto, o Padre Abade beneditino Christian Schütz escreve: Orar é,<br />

conscientemente, e o mais possível, pôr-se, entrar na presença de<br />

Deus. Quanto à imagem que eles fazem de Deus, a Regra e os antigos<br />

monges põem claramente o acento sobre a presença de Deus, e não<br />

sobre o passado ou o futuro... Na oração, a vida chega a ser, na<br />

perspectiva de Deus atualmente presente, celebração, ação de graças,<br />

ação salvadora 18<br />

A harmonia fundamental da liturgia monástica beneditina (opus<br />

Dei) é constituída pelos motivos: louvação, adoração e ação de graças.<br />

São Bento, em RB 16,5, fundamenta as Horas do dia sobre este motivo:<br />

Rendamos, portanto, nessas horas, louvores ao nosso Criador<br />

(referamus laudes Creatoris nostro) sobre os juízos da sua justiça.<br />

Oração e liturgia são finalmente, para ele, doxologia trinitária,<br />

como vemos em RB 9, 7, onde se diz: Quando o cantor entoa o Glória<br />

ao Pai, levantem-se logo todos de seus assentos em honra e reverência<br />

à Santíssima Trindade. Dom Christian Schütz pensa, na mesma linha,<br />

que o sentido do Ofício Divino é de render a Deus, o único Santo, esta<br />

glória que é ele mesmo e que ele tem, esta glória que resplandece na<br />

criação como na história da salvação e muito particularmente em<br />

Jesus Cristo 19 .<br />

Se no mosteiro, uma das finalidades que justificam a atividade<br />

econômica é a de glorificar Deus em todas as coisas (ut in omnibus<br />

glorificatur Deus, RB 57,8), quanto mais esta glorificação deve ser a<br />

finalidade da santa Liturgia (Opus Dei!).<br />

12


2 – O LUGAR E O SIGNIFICADO <strong>DA</strong> <strong>LITURGIA</strong> NO MONAQUISMO<br />

CISTERCIENSE.<br />

Os Cistercienses, de quem sabemos – pelo conjunto dos<br />

documentos primitivos – que aquilo que mais apreciavam era seguir<br />

perfeitamente a Regra de São Bento em toda a sua pureza (puritas<br />

Regulae) e sua integridade (integritas regulae), se sujeitaram fielmente<br />

às prescrições da Regra, particularmente no que concerne à liturgia<br />

monástica. No capítulo XV do Pequeno Exórdio, de fato, lemos:<br />

Tomando a retidão da Regra (rectitudo Regulae) como norma para<br />

dirigir todo o curso de sua vida, se conformarão a ela e seguirão seus<br />

passos tanto para as observâncias eclesiásticas (eclesiaásticas =<br />

litúrgicas) como para a soutras. Havendo, pois, deixado o homem<br />

velho, alegraram-se de haverem-se revestidos do homem novo ( Ef<br />

4,22-24; Col 3,9-10) – Origens cistercienses, pág. 62). É com razão que<br />

o Pe. Joseph M / Canivez 0CSO (+1957[ou 1952] escreveu: O<br />

princípio gerador da fundação de Cister foi também o princípio<br />

gerador da liturgia cisterciense 20 . Via nisto o ideal dos primeiros<br />

cistercienses: viver a Regra de São Bento em seu sentido original e em<br />

sua integridade. Nossos pais, com efeito, assumiram integralmente a<br />

liturgia monástica beneditina, tal como a organizam os capítulos 8-20<br />

(e 45,47,50,52) da Regra, mas eles o fizeram em seu espírito, e é o<br />

espírito de uma REFORMA!<br />

2.1 – Cister como uma reforma litúrgica<br />

O monaquismo cisterciense começa com uma reforma da<br />

liturgia! Sobre esse fato temos uns conhecimentos bastante precisos<br />

(graças aos preciosos manuscritos descobertos no século 20 (após<br />

1930/1950) e aos estudos e buscas que foram e são o objetivo de<br />

especialistas como: Pe. Konrad KOCH OCist (+1955) de Himmerod,<br />

Abade Bernardo KAUL Ocist de Hauterive, Pe. Bruno GRIESSER<br />

Ocist (1965(67?) de W. Wettingen-Mehrerau, Pe. Beda LACKNER<br />

Ocist de Zirc-Dallas e principalmente o Pe. Crisógono WADDELL<br />

OCSO de Gethsemani (USA) 21 . Os mais antigos documentos<br />

13


conhecidos sobre Cister são parte de uma reforma litúrgica muito<br />

radical, introduzida sob o abadado [jurisdição abacial] de Alberico<br />

(+1108), em plena fase de fundação, portanto, e terminada sob o<br />

abadado [jurisdição abacial] de Estêvão.<br />

Foi colocada em prática muito sistematicamente, segundo<br />

alguns princípios claros a tal ponto que um especialista litúrgico, o Pe.<br />

Angel A. HSussling, OSB, de Maria Laach, tentou considerá-la como<br />

a primeira reforma litúrgica “moderna” na história da liturgia ocidental<br />

22 . O programa (de reforma proposta) dos pais fundadores de Cister<br />

encontrou, na reforma litúrgica sua primeira realização concreta.<br />

Apenas este fato já mostra até que ponto eles estimavam a liturgia!<br />

Penso que nós estamos suficientemente conscientes disso, hoje em dia,<br />

principalmente porque não conhecemos bastante esta primeira reforma<br />

litúrgica, que Cister começou.<br />

Por outro lado, os historiadores puseram em relevo, como um<br />

fenômeno interessante, o fato de que as épocas de reformas na história<br />

da Igreja caminham a par com as reformas litúrgicas e são estimuladas<br />

por elas 23 .<br />

A primeira seleção que os fundadores fizeram é a supressão radical<br />

de numerosas inclusões de orações e de ofícios que, no decorrer<br />

dos séculos, e sobretudo após Benito de Aniano (+ 821), reformador e<br />

“fundador” do monaquismo beneditino, haviam ampliado o ofício divino<br />

previsto pela Regra de São Bento. Na verdade, cada dia, esses<br />

acréscimos representavam centenas de salmos que se somavam aos 37<br />

(39) salmos previstos pela Regra. Nesta época, havia nisso uma prática<br />

corrente em quase todas as partes, entre os monges “negros” tradicionais<br />

e não somente em Cluny, como freqüentemente se afirma.<br />

Partindo do princípio da pureza da Regra (puritas Regulae), os<br />

primeiros cistercienses tinham que provocar um conflito. É verdade<br />

que em relação a certos pontos, a tradição estava tão arraigada que eles<br />

fizeram algumas concessões àquilo que era inamovível. Por exemplo,<br />

eles conservaram o ofício diário de defuntos, como também o capítulo<br />

diário e principalmente a missa conventual diária, que não têm seus<br />

fundamentos na Regra de São Bento (e também a missa matinal!). Um<br />

14


pouco mais tarde eles introduziram o Pequeno Ofício da Virgem 24 . No<br />

capítulo XII do Pequeno Exórdio (Exordio Parvo), temos uma alusão<br />

a esta ruptura da tradição, quando se diz: Eles mudaram os usos (consuetudines)<br />

de certos mosteiros, julgando-se muito fracos para levarem<br />

um peso tão grande ( imbecillitatem suam ad tantum pondus sustinendum<br />

imparem judicantes). Por outro lado, até aqui, este fragmento foi<br />

traduzido de maneira totalmente errônea, porque foi lido “judicantium”<br />

no lugar de “judicantes” 25 . Testemunho muito mais tardio, o Grande<br />

Exórdio (Exordium Magnum) expõe mais amplamente, em seu<br />

primeiro livro, no capítulo 20, os abundantes rebaixamentos [as abundantes<br />

exclusões feitas pelos] dos primeiros Cistercienses, com relação<br />

à liturgia monástica tradicional. E o justifica. Este constitui para nós<br />

um texto importante: Em primeiro lugar (primitus), decidiram observar<br />

fielmente o que ordena a Regra (tradições) pela maneira [medida]<br />

(modus) e a disposição do ofício divino e excluir (reicere) absolutamente<br />

todos os salmos, orações e litanias que seus pais haviam acrescentado<br />

(appendicia) de sua própria iniciativa (pro velle suo) e se<br />

decresciam (minus discreti patres): tiveram, de fato, a sabedoria para<br />

compreender que estas adições, por razão da fragilidade humana, são<br />

mais nocivas que saudáveis aos monges, pois sua multiplicidade (multiplicitas)<br />

faz que, não somente os tíbios (fastidiosi), mas também os<br />

fervorosos (studiosi), ou se eximam delas mais por enfado (omnino<br />

tepide) ou por negligência (negligentes). Depois, olhando a Regra com<br />

seus olhos, examinaram minuciosamente todos os seus capítulos (diligenti<br />

examinatione ventilantes) e decretaram excluir inteiramente, de<br />

sua maneira de viver (conversatio), tudo o que estava em oposição com<br />

ela (ex integro alienare 26 ). Exordium Magnum, 1,20,13-14 Ed.<br />

Brepols et Cîteaux 1998, pág 38).<br />

2.1.2 – As etapas da primeira reforma litúrgica de Cister<br />

Não é, evidentemente, possível tratar aqui com detalhes sobre<br />

esta reforma litúrgica de grande amplitude empreendida por nossos<br />

Pais, no começo de Cister. Pode-se buscar nos estudos publicados a<br />

15


este respeito ampla informação 27 . Limitamo-nos, aqui, a recordar o<br />

desenvolvimento cronológico e os atos principais! Um dos primeiros<br />

documentos referentes à liturgia de Cister é uma longa carta dirigida<br />

pelo Abade beneditino Lambert de Pothières ao Abade Alberico de<br />

Cister28. . É um texto de muita força. Alberico o havia dirigido a este<br />

sábio gramático para pedir-lhe como acentuar e compreender<br />

corretamente certas palavras do saltério latino. Pode-se reconhecer nele<br />

a fonte da autenticidade dos textos e de um desenvolvimento preciso<br />

das celebrações litúrgicas que caracteriza os primeiros Cistercienses.<br />

Uma primeira e importante etapa da reforma litúrgica foi a<br />

audaciosa revisão da Bíblia latina, empreendida de modo muito<br />

verossímil no tempo em que Alberico presidia como abade, continuada<br />

e terminada por Estêvão. Para esse trabalho, como é conhecido, foram<br />

consultados alguns rabinos. Este foi um trabalho pesado, que durou<br />

pouco mais de dez anos, desde 1099 a 1109. Tendo em vista a<br />

importância primordial da Bíblia, da Palavra de Deus, para a<br />

celebração da liturgia e, simplesmente, para a vida monástica, é<br />

compreensível que a obra de reforma dos Cistercienses tenha investido<br />

tanto, para obter um texto da Bíblia tão confiável e autêntico quanto<br />

fosse possível. A finalidade desta revisão da Bíblia – que acabou por se<br />

chamar a Bíblia de Santo Estêvão Harding – e seu método quase<br />

moderno e científico, são expostos por Estêvão em seu Prólogo a<br />

Monitum 29 .<br />

Por volta de 1108-113 (115/119), os Cistercienses adotaram o<br />

hinário ambrosiano de Milão. Nele se esforçaram para seguir fielmente<br />

a Regra de São Bento, que em muitas ocasiões utiliza o termo<br />

“ambrosiano” no lugar da palavra “hino”. E, como o autor destes hinos<br />

é Santo Ambrósio (+397), bispo de Milão, é lá que nossos fundadores<br />

foram buscar os hinos para Cister. Sabemos isso de maneira certa pelo<br />

Prólogo a Monitum do Hinário cisterciense escrito por Santo<br />

Estêvão 30 .<br />

16


Na mesma época, quer dizer entre 1108 e 113 (1133), os<br />

primeiros Cistercienses copiaram em Metz seus livros litúrgicos de<br />

canto (gradual e antifonário) e introduziram em Cister a tradição<br />

musical de Metz. Esta cidade tinha, então, a reputação de conservar<br />

uma das tradições mais antigas de canto gregoriano. Isso é o que nela<br />

buscaram nossos Pais 31 .<br />

Segundo o Pe. Crisógono Waddell OCSO, que estudou estas<br />

questões de uma maneira profunda, os monges enviados a Roma para<br />

obterem do Papa Pascoal II (+1118) o “Privilégio romano”, trouxeram<br />

de lá, para Cîteaux, o Sacramentário gregoriano (Missal) 32 .<br />

Assim se constituiu, no curso dos anos que vão de 1099 a 1133,<br />

final do abadado [tempo de jurisdição] de Estêvão, o que se poderia<br />

chamar a liturgia cisterciense. Com o decorrer dos anos, a prática<br />

monástica e litúrgica do primitivo Cister foi fixada por escrito e<br />

regulamentada até nos mínimos detalhes, o que resultou nas<br />

Consuetudines. Chamadas também, em nossa tradição, os<br />

“Ecclesiastica Officia”. Temos delas, após 1989, uma magnífica edição<br />

latino-francesa, dotada de notas substanciais e de índices33 . Ao lado<br />

dos Ecclesiastica Officia, um dos testemunhos mais completos da<br />

primeira reforma litúrgica de Cister é a obra denominada Breviário de<br />

Santo Estêvão Harding (cerca de 1132), descoberta em 1939 em Berlim<br />

pelo Pe. Konrad KOCH Ocist (+1955). Estas são as principais obras<br />

que nos dão uma boa informação sobre a vida litúrgica dos fundadores<br />

de Cister.<br />

Se considerarmos que esta reforma litúrgica deu-se durante a<br />

fase de fundação, nos primeiros anos de Cister, quando a comunidade<br />

era relativamente pouco numerosa, valorizamos mais o gasto<br />

considerável de forças e de tempo que isto exigiu. Se pensamos, por<br />

exemplo, nas grandes viagens (Milão, Roma, Metz), supostas,<br />

ficaremos maravilhados. Mas justamente toda essa reforma da liturgia<br />

nos inícios de Cister, demonstra até que ponto a liturgia era importante<br />

para nossos Pais!<br />

17


2.1.3 – Os quatro princípios da primeira reforma litúrgica de<br />

Cister.<br />

Cister, movimento de reforma beneditina, começou a realizar<br />

seu ideal com uma reforma radical da liturgia monástica beneditina<br />

herdada do passado; Como o Pe. Crisógono Waddell mostrou, esta<br />

liturgia remontava através de Molesmes (casa de origem de Cister), por<br />

Montier-la-Celle ( próximo de Troyes), o mosteiro de profissão de<br />

Roberto de Molesmes, fundador de Cister (+1111), até Marmoutier (em<br />

Tours), a venerável abadia de São Martinho, que, renovada no século<br />

10, havia recebido a implantação [impronta] de Cluny. Na reforma<br />

litúrgica de Cister se encontra, pois, aplicada, de maneira exemplar, o<br />

ideal de reforma específica dos primeiros cistercienses. Os quatro<br />

princípios que se distinguem claramente nesta reforma litúrgica são os<br />

quatro princípios que inspiram toda a reforma cisterciense.<br />

O primeiro princípio, muito determinante, é,- como já dissemos<br />

muitas vezes – o da “integritas regulae”, a determinação de seguir<br />

integralmente a Regra de São Bento.<br />

O segundo princípio, que no meu parecer caracteriza tudo,<br />

principalmente os Cistercienses é o da autenticidade, a preocupação<br />

pela verdade dos textos, de sua confiabilidade, mas também, mais<br />

genericamente, a preocupação pela autenticidade da vida monástica em<br />

tudo o que a constitui. Tudo deve desenvolver-se segundo as regras<br />

(para bem agir)! No Prólogo ao Antifonário cisterciense, São Bernardo<br />

(+1153) dá seu testemunho aos Pais fundadores de Cister: Eles têm<br />

gurdado um zelo religioso para não cantar no louvor divino a não ser<br />

os fragmentos reconhecidos mais autênticos (id quod magis<br />

authenticum inveniretur) 35 .<br />

O terceiro princípio é o da simplicidade, que consideramos até<br />

nossos dias como a tendência talvez mais típica do monaquismo<br />

cisterciense. Principalmente sobre este ponto, os Cistercienses eram<br />

“filhos do seu tempo”, ou seja, estavam sensibilizados pela chamada à<br />

18


simplicidade e à pobreza que entraram na Igreja nos séculos 11 e 12<br />

pelos influentes movimentos de pobreza evangélica (vida evangélica e<br />

apostólica), que queriam seguir pobres ao Cristo pobre 36 . O princípio<br />

da simplicidade não se traduzia apenas por um “estilo de celebração”<br />

litúrgica simples, mas também pelo despojamento da arte sagrada e da<br />

arquitetura das Igrejas, assim como pela simplicidade dos cálices e dos<br />

ornamentos litúrgicos. No capítulo XVII do Exordium Parvum (reúne<br />

um resumo de decisões dos Capítulos gerais), o princiípio da<br />

simplicidade é introduzido com esta frase: Cuidaram depois para que<br />

na casa de Deus, onde eles desejavam servir a Deus com devoção dia<br />

e noite, não tivesse nada que aparentasse ostentação (soberbia) ou<br />

vaidade supérflua (superfluitas), nada que algum dia pusesse em<br />

perigo a pobreza (paupertas), guardiã das virtudes, que eles haviam<br />

escolhido de modo expontâneo (Exordium Parvum cap. XVII, Origens<br />

Cistercienses. Os textos mais antigos, Paris, Cerf 1998. Pág. 66-67).<br />

Não que se trate de coisas exteriores para os primeiros Cistercienses,<br />

mas de interioridade. A vontade para a redução 37 constatada na<br />

arquitetura dos mosteiros cistercienses verifica-se igualmente em todo<br />

o campo litúrgico, principalmente se for comparado com a liturgia<br />

monástica beneditina contemporânea.<br />

O quarto princípio, enfim, é o da unidade. Amor, unidade e paz:<br />

tais foram as colunas sobre as quais se edificou Cister, como<br />

testemunha a Carta da caridade. Numa de suas máximas mais típicas,<br />

diz:...nossa vontade é que tenham vontade de viver uma só caridade,<br />

sob uma só regra e segundo um mesmo costume ( una caritate, una<br />

regula, similibusque vivamus moribus). (Carta queratitis prior, c.III<br />

Origens cistercienses, 1998, pág. 89). A Carta da caridade concretiza<br />

depois isso para aquilo que se relaciona com a liturgia: ...que eles<br />

tenham o modo de vida (mores), o livros canônicos e todos os livros<br />

necessários para as horas diurnas e noturnas, assim como para as<br />

missas, conforme o modo de vida e aos livros do Novo Mosteiro<br />

(Cister) (id). Os livros, que devem ser em todos os lugares os mesmos,<br />

são relacionados num estatuto do Capítulo geral. Estes são: o missal, o<br />

texto dos evangelhos, o epistolário, o coletário, o gradual, o<br />

antifonário, o hinário, o saltério, o lecionário, a regra e o martirológio.<br />

19


(Decisões capitulares, n º Anexo n. , Origens cistercienses n o IX,<br />

Origens cistercienses pág. 126). Esta é também uma mostra da alta<br />

estima dos primeiros Cistercienses pela liturgia. É difícil encontrar uma<br />

ordem religiosa da Idade Média que houvesse dado tanto valor à<br />

unidade, à concórdia (concordia), e também à uniformidade<br />

(uniformitas), como os cistercienses. Esta constatação continua nos<br />

séculos posteriores até uma época recente. Cerca de 1180/1186<br />

(segundo a última constatação do Pe. Crisógono Waddel), os<br />

Cistercienses criaram um manuscrito-modelo, código litúrgico que<br />

obrigava a toda a ordem, conhecido como o Manuscrito 114 da<br />

Biblioteca municipal de Dijon 38 . É de acordo com esse “exemplar”<br />

todos os livros litúrgicos da ordem deviam ser copiados ou corrigidos.<br />

É verdade que o ideal da uniformidade não pôde ser realizado em sua<br />

radicalidade, pela razão da expansão da Ordem, pelo crescimento de<br />

suas casas e também pela expansão geográfica e cultural. Os estudos<br />

empreendidos atualmente demonstram que na prática, os princípios de<br />

reforma tão estritos dos primeiros Cistercienses não puderam ser<br />

aplicados de maneira absoluta muito tempo nem em toda a parte. Logo<br />

foi necessário fazer concessões a costumes locais ou a correntes de<br />

idéias contemporâneas. Ideal e realidade ou também Mito e realidade,<br />

são os títulos dados, voluntariamente escolhidos, nos últimos anos,<br />

para estudos sobre a história cisterciense 39 . Mas, apesar de tudo, o<br />

espírito primitivo [pioneiro] de nossos Pais permaneceram vivos<br />

através dos séculos.<br />

A reforma litúrgica dos inícios de Cister, cujas grandes linhas<br />

nós esboçamos, foi muito radical e representava, em certo ponto de<br />

vista, uma ruptura com a tradição beneditina. Não é também nenhum<br />

pouco surpreendente que os Cistercienses tenham sido logo mal vistos<br />

e intitulados de inovadores e amantes de particularidades. Houve, no<br />

século 12, uma série de escritos polêmicos entre os Cistercienses e os<br />

“monges negros” (não apenas os Cluniasenses!). Um dos que atacaram<br />

com mais ênfase a liturgia dos Cistercienses é o célebre Pedro<br />

ABELARDO (+1142), em sua décima carta 40 .<br />

20


2.1.4 – As outras reformas litúrgicas nos Cistercienses, através dos<br />

séculos.<br />

A primeira reforma da liturgia tinha também seus limites. Estes<br />

apareceram de modo especial no canto, que os primeiros Cistercienses,<br />

em busca da tradição mais autêntica, haviam encontrado em Metz, e<br />

que dava visivelmente lugar a um grande descontentamento. Esta<br />

tradição musical de Metz era muito fora do costume e não satisfazia a<br />

muitos pontos de vista. Depois da morte de Estêvão (+1134) – que,<br />

manifestamente, foi alvo de tentativas de manipulação! – o capítulo<br />

geral decidiu revisar esse canto e encarregou disso o Abade de<br />

Claraval, Bernardo. Ele, por sua parte, confiou esse trabalho a músicos<br />

competentes da ordem, foram encontrados irmãos que foram os mais<br />

hábeis na arte e na prática do canto (qui in arte et usu conendi<br />

instructores atque peritiores inventi sunt!) 41 .<br />

O primeiro passo nesta reforma musical cisterciense foi pôr em<br />

prática uma teoria musical cisterciense: Regulae de arte música. Seu<br />

autor, segundo os descobrimentos mais recentes, é um tal Guido dËU<br />

(Guido Augiensis), que tinha sido abade de Cherlieu 42 . O fruto dessa<br />

reforma, conhecida sob o nome de “reforma bernardina”, terminada em<br />

1147, foi o que se chamou o canto cisterciense. A maior parte dos hinos<br />

“populares”, não ambrosianos, descartados pela primeira reforma,<br />

reencontraram um lugar no repertório. Muitos ofícios têm sido<br />

introduzidos (por exemplo, o de Santa Maria Madalena), e Festas da<br />

Virgem Maria tem sido enriquecidos por textos tomados do Cântico<br />

dos Cânticos, o que revela, evidentemente, a influência de São<br />

Bernardo. O princípio da “ratio” exerceu um papel muito importante<br />

nesta segunda reforma da liturgia (1134-1147), que devia marcar<br />

fortemente a ordem até o Concílio Vaticano II 43 .<br />

Uma terceira reforma litúrgica, de menor importância, teve<br />

lugar em 1180-1182. Tratava-se apenas de uma simplificação e de um<br />

retoque em certos textos e formulários litúrgicos. Aliás, toda uma série<br />

de novas festas tem aparecido, então, no calendário cisterciense 44 .<br />

21


A quarta reforma litúrgica, pelo contrário, foi muito mais<br />

conseqüente. Foi empreendida no século XVII, como uma continuação<br />

do Concílio de Trento (1545-1656). Os livros cistercienses da liturgia<br />

foram, então, fortemente “romanizados” Graças, porém à sabedoria do<br />

abade geral Claude VAUSSIN (+1670), a ordem não abandonou<br />

completamente sua liturgia própria. Depois de uma longa luta, chegouse<br />

a um compromisso, que aparece também no título dos novos livros<br />

litúrgicos: Breviarium cisterciense yuxta Romanum (1656) 45 ou<br />

Missale cisterciense yuxta novissimam Romani recognitum<br />

correctionem (1657). Na metade do século 19, depois de muitas<br />

discussões sobre sua legitimidade, a liturgia cisterciense (romana)<br />

recebeu finalmente uma nova aprovação por parte da Congregação de<br />

Ritos em 1969 e do Papa Pio IX (+1878) em 1871 46 . A ordem dos<br />

Cistercienses da estrita Observância, nascida em 1892, desejou fazer<br />

reviver a antiga liturgia cisterciense; esforçou-se para revisar os livros<br />

do coro que haviam sido “contaminados” ao longo dos séculos e os<br />

editou em sua própria imprensa de Westmalle (Bélgica). Uma mesma<br />

preocupação para retornar à liturgia cisterciense caracteriza certas<br />

comunidades de nossa ordem, particularmente aquela que puderam<br />

fazer reviver suas antigas abadias: Boquen (1936), Hauterive (1939),<br />

Poblet (1940).<br />

Finalmente veio a quinta e última reforma litúrgica, depois do<br />

Concílio Vaticano II, com uma completa reestruturação da liturgia<br />

monástica cisterciense. Trataremos dela no capítulo 3.<br />

Este breve vôo com visão de pássaro mostra o quanto, no<br />

decorrer de sua história, os Cistercienses se preocuparam pela liturgia,<br />

com sua adaptação às prescrições da Igreja e às necessidades de cada<br />

época.<br />

22


2.2 – O horário cotidiano num monastério cisterciense Medieval.<br />

Os “Ecclesiastica Officia”, do século 12, nos dão uma visão<br />

bem detalhada do horário dos primeiros tempos de Cister. As Vigílias<br />

noturnas e as sete Horas do dia dão-lhe uma estrutura estável. O Pe.<br />

Odo DUCOURNEAU OCSO (+1929), baseando-se nos “ Ecclesiastica<br />

Officia”, reconstruiu esse horário diário, onde tudo está determinado<br />

pela luz do sol. Começava ao levantar-se, até o deitar-se; as horas cujo<br />

número permanecia não trocado (12) tinham uma duração variável,<br />

segundo as reuniões e, por esse fato, se deslocavam sem cessar, com<br />

relação à hora média. Tomaremos como exemplo o horário durante o<br />

verão 47 .<br />

HORÁRIO CISTERCIENSE – S. XIII – XIV – (VERÃO)<br />

Solstício<br />

de verão<br />

fnal de<br />

junho<br />

Dois meses<br />

depois<br />

20-25 agosto<br />

OBSERVAÇÕES<br />

Levantar-se 1:45 2:40 Uma hora antes da aurora<br />

Um puco depois de<br />

amanhecer<br />

Vigílias 2:00 aprox. 2:50<br />

Fim das Vigílias 3:00 4:00 Transcorre 1h. Cant. de<br />

Vig.<br />

“brevísimo intervalo”<br />

“incipiente luz”<br />

“inclui as laudes dif. até o<br />

nascer do sol.<br />

23


Intervalo alguns min. alguns min.<br />

Laudes 3:10 aprox. 4:10 aprox. Saída do sol (1ª hora)<br />

Fim de Laudes 3:45 4:50 Seguido de Pr. 15m. aprox.<br />

Seguido de Capítulo.<br />

À 1ª sinal de Tércia<br />

(30min., antes)<br />

Intervalo 4:00 5:00<br />

Prima Meia hora<br />

Capitulo 4:40 aprox. 5:40 aprox. Antes de terminar la 3ª h.<br />

Trabajo<br />

Fim do trabalho<br />

7:15 7:45 (4ª hora) seguido de Tércia<br />

Intervalo 7:45 8:15 “Usque ah horam quasi<br />

sextam”<br />

Tércia 8:00 aprox. 8:30<br />

Missa 8:50 9:15 aprox. Seguido de sexta<br />

Fim da Missa 8:50 9:15 aprox. Pouco antes da metade da<br />

hora oitava<br />

Lectio 10:40 10:50 “Mediante a oitava hora”<br />

Sexta 10:50 11:00 Seguido de Nona<br />

Almoço 11:30 11:40 Seguido de “Biberes”<br />

Fim da comida 13:45 13:30 Até o final da 10ª h.<br />

Descanço 14:00 13:45 Aproximadamente 30 min.<br />

Despertar 14:15 aprox 14:00 aprox Durante a undécima hora<br />

Nona 14:39 14:15<br />

Biberes 17:30 16:30<br />

Tabalho<br />

Fim do trabalho<br />

Intervalo<br />

Compreendido o oficio de<br />

defuntos<br />

24


Vésperas 18:00 17:00<br />

Final de Vésp.<br />

Jantar<br />

18:45 17:45<br />

Fim do jantar 19:15 18:15<br />

Interv. 19:30 18:30 Primeira hora da noite<br />

Lect. antes de<br />

Completas<br />

19:50 18:50<br />

Descanso 20:00 19:00<br />

Sobre essa distribuição da jornada [do dia-a-dia] cisterciense,<br />

gostaria de fazer duas observações importantes. Se a compararmos com<br />

a da regra de São Bento, dois elementos acrescentados sobressaem: a<br />

Missa conventual e o capítulo, que os próprios Cistercienses, abrogando<br />

de seus princípios, colocaram em seu programa cotidiano.<br />

Aceita-se historicamente que o monaquismo primitivo e os mosteiros<br />

do tempo de São Bento não conheciam a celebração diária da Missa. A<br />

Eucaristia só era celebrada no Domingo. Durante a semana, uma curta<br />

cerimônia de Comunhão acontecia logo depois da Sexta: o Abade<br />

distribuía aos monges o Corpo e o Sangue de Cristo 48 . A Missa<br />

conventual diária foi introduzida nos mosteiros na época carolíngia<br />

(clericalização do monaquismo). No ano 1000, essa prática já era<br />

corrente e os primeiros Cistercienses não se atreveram romper esta<br />

tradição. Curiosamente, adotaram o sistema “basilical” das Missas, ou<br />

seja, a Missa conventual diária, duplicada por uma Missa individual<br />

diária, às que se acrescentava, no dia de festa, uma Segunda missa<br />

conventual, chamada Missa matinal. A instauração desse sistema<br />

desequilibrou a “tríplice harmonia” beneditina : Oração – Lectio divina<br />

– Trabalho. Quanto ao capítulo diário que acontecia após a Prima,<br />

tratava-se de uma celebração paralitúrgica, com a leitura do<br />

Martirológio, da Regra e do necrológio, a catequese do Abade<br />

(comentário da Regra ou sermão) e acusação das faltas ( culpas). Esse<br />

“officium capitulo”, ofício de capítulo, estabelecido também na época<br />

carolíngia por Benito de ANIANO (+821), foi também uma carga que<br />

contribuiu para romper o equilíbrio do horário primitivo 49 . Mas,<br />

durante o trabalho da restauração, os Cistercienses também tomaram a<br />

25


liberdade de omitir a Missa conventual, ou mesmo de cantar o ofício<br />

mais rapidamente (!), ou, como a Regra mesma o prevê, celebrar as<br />

horas menores no lugar do trabalho 50 . Se se acrescenta ao ofício coral<br />

a Missa conventual e o capítulo da manhã, isto dá cerca de seis horas<br />

de celebração litúrgica comunitária por dia, durante a semana (no<br />

verão as Vigílias são menos longas) e cerca de sete horas nos domingos<br />

e festas. A isto se acrescenta, evidentemente, todo o tempo de<br />

preparação. No decorrer dos séculos seguintes, os Capítulos gerais se<br />

viram constantemente obrigados a ajustar a distribuição da jornada [do<br />

dia-a-dia] segundo as necessidades do tempo e também segundo as<br />

capacidades das comunidades 51 .<br />

2.3 – A liturgia: uma das principais fontes da espiritualidade e da<br />

literatura cistercienses.<br />

Dado que a celebração litúrgica é verdadeiramente o centro das<br />

três principais atividades do dia-a-dia [da jornada] cisterciensebeneditino,<br />

exercem evudentemente, uma grande influência sobre a<br />

espiritualidade e a cultura dos monges e das monjas. A liturgia é o<br />

clima em que eles vivem. Dom Jean Leclercq OSB (+1993), em seus<br />

numerosos trabalhos sobre a espiritualidade monástica, não cessou de<br />

dizer como a liturgia impregnava o universo espiritual dos monges. Ele<br />

o sublinha mais particularmente em seu livro “O amor das letras e o<br />

desejo de Deus” 52 , que já se tornou um clássico. Chamai também a<br />

atenção sobre o fato de que a liturgia era o lugar privilegiado (o é<br />

sempre) onde os monges e monjas reencontravam e reencontram a<br />

Sagrada Escritura e os escritos dos Pais da Igreja, o que faz dela uma<br />

fonte muito importante de formação monástica. No livro citado, no<br />

capítulo 10, entitulado “O poema da liturgia”, Dom Leclercq escreve:<br />

Em parte é por ela (a liturgia), e nela, que os monges entram em<br />

contato com a Escritura e os Pais, embebendo-se dos grandes<br />

religiosos tradicionais, mas foi nela igualmente que sua cultura<br />

encontrou um de seus terrenos de expressão privilegiada: por ela, e a<br />

propósito dela, compreenderam seus textos mais numerosos 53 . Ele<br />

demonstrou também como tudo, na vida monástica, refere-se à liturgia:<br />

26


arte, arquitetura, poesia, aritmética, astronomia e economia. Além<br />

disso, ele esclareceu o parentesco entre “culto” e “cultura”, e dizia: A<br />

liturgia marcou, com sua implantação [impronta] toda a cultura<br />

monástica. 54 . Em seu pequeno e notável livro sobre São Bernardo,<br />

“São Bernardo e o espírito cisterciense”, podemos encontrar a fórmula<br />

genial que pode ser aplicada a toda a literatura e a espiritualidade<br />

cistercienses dos primeiros séculos (e parcialmente também a dos<br />

séculos seguintes): Os sermões de São Bernardo são um subsolo<br />

bíblico e um pano de fundo litúrgico [trasfondo]. Não se saberia<br />

caracterizar melhor os textos de nossos (antigos) autores (e autoras),<br />

textos que apareciam como verdadeiros mosaicos de citações e<br />

reminiscências da Bíblia, da liturgia e dos Pais.<br />

Os escritos dos antigos autores cistercienses são substituídos<br />

em grande parte de pregações (sermões) e sobretudo de Sermões para<br />

o ano litúrgico. Segundo a tradição da Ordem, nos dias de festa o<br />

Abade era obrigado a pronunciar um “sermão” no capítulo sobre o<br />

mistério festejado 56 . Eis aqui porque possuímos uma série de sermões<br />

litúrgicos, que foram, na verdade, revisados e, em geral, corrigidos.<br />

Pensemos nos 128 Sermões por ano de São Bernardo, nos 53 sermões<br />

conservados do bem-aventurado Guerrico de Igny (+1157), nos<br />

sermões de Elredo (+1167), de Isaac Estrella (cerca de 1169), de<br />

Hermann de Reun (século 12) [erro de digitação. Está assim: 412!<br />

siglo], de Hellinando de Foidmont (+1223), e a lista poderia aumentar.<br />

São Bernardo também compôs o mesmo texto litúrgico, como o ofício<br />

de São Vítor (ainda que este não seja propriamente seu gênero). Outros<br />

autores, como Guilhermo de Saint Thierry (+1148) e Balduíno de Ford<br />

(+1190), publicaram alguns tratados sobre o sacramento do Altar. Um<br />

autor anônimo do século 12 escreveu um comentário sobre o Hinário<br />

cisterciense, como também o fez, mais tarde, Mateo de Ksnigsaal<br />

(+1427) 57 . Sempre houve Cistercienses para escrever sobre a liturgia.<br />

Entre eles é preciso lembrar o Cardeal Juan Bona (+1674, um dos<br />

pioneiros da ciência litúrgica.<br />

A liturgia e os textos litúrgicos estão constantemente presentes<br />

nos escritos de monjas e místicos, especialmente, por exemplo, nas<br />

27


santas de Helfta: Matilde de Hackeborn (+1299) e Gertrude a Grande<br />

(+1302).<br />

Uma boa chave para compreender a concepção cisterciense da<br />

liturgia e seu significado para a vida no mosteiro nos é dada pelo Pe.<br />

Amadeu Hallier, em seus livros sobre são Elredo: “Um educador<br />

monástico” (Pasis, 1959).o Pe. Hallier escreveu: Se queremos saber<br />

com clareza a importância da vida litúrgica para a educação espiritual<br />

do monge, basta analisar certos sermões das grandes fases da história<br />

da salvaçãoa e se faz deles uma aplicação prática, pertinente ao<br />

itinerário da alma individual. E compreenderíamos melhor, então, o<br />

quanto, no mosteiro, a leitura da Sagrada Escritura, as pregações no<br />

capítulo, as celebrações litúrgicas estão em conexão íntima,<br />

incorporadas à unidade vivenciada. Passando da Igreja ao claustro,<br />

estes monges Medievais são alimentados pelo mesmo verbo de Deus; o<br />

que eles contemplam “realizado” nos mistérios litúrgicos, o<br />

reconhecem “anunciado” nos Livros Sagrados... O que é<br />

“proclamado” pela Palavra divina está “representado” por uma ação<br />

sagrada. (Próprio 116ss). A partir daí, pode-se dizer que a liturgia era<br />

para o monge Cisterciense Medieval um lugar teológico “locus<br />

theologicus”, quer dizer, uma fonte fundamental de sua teologia e de<br />

sua espiritualidade 58 .<br />

3 – A liturgia em nossa vida cisterciense de hoje.<br />

Se compararmos nossas condições de vida às das gerações que<br />

nos precederam, constatamos que vivemos em outro mundo, numa<br />

situação muito diferente da deles. Muitas coisas sofreram muitas<br />

mudanças e continuam mudando, alguma vez incluído a um ritmo<br />

acelerado. Estas mudanças acontecem em todos os campos: eclesial,<br />

social, político, econômico, técnico, científico. O Concílio Vaticano II<br />

desencadeou e realizou um aggiornamento” da vida religiosa – e<br />

precisamente no campo litúrgico – de tal modo que nunca jamais se<br />

vira no curso dos dois milênios da história da Igreja. A reforma litúrgica<br />

que se seguiu ao Concílio foi seguramente a mais radical de toda a<br />

28


história. Preparada pelos notáveis trabalhos do Movimento bíblico,<br />

patrístico e litúrgico do século 20, assim como pela renovação da<br />

teologia, o Concílio Vaticano II chegou a uma visão nova, mais<br />

profunda e essencial da liturgia, e a expôs na Constituição sobre a<br />

Liturgia Sacrossantum Concilium. Encontramos nela os dois maiores<br />

critérios para uma renovação da liturgia da Igreja: de uma parte, a<br />

fidelidade às origens, à “tradição sadia” (sana traditio); de outra parte,<br />

a vida concreta de cristãs e cristãos no mundo de hoje59 .<br />

Tal como o Concílio nos pediu, também a nós, a liturgia de<br />

nossos mosteiros foi renovada em seus fundamentos, no curso dos<br />

últimos 35 anos. Em relação a dois pontos o patrimônio litúrgico<br />

secular de nossa ordem foi profundamente modificado: o latim foi<br />

trocado pela língua vernácula e o esquema beneditino do ofício quase<br />

abandonado. Para medir a importância dessa mudança, recordemos que<br />

essas disposições estavam em vigor desde o século VI [49os. ] . Um<br />

dos princípios decisivos de nossas reformas é: Menos quantidade para<br />

maior qualidade. É desse modo que foram instauradas por todas as<br />

partes novos esquemas simplificados da celebração da Liturgia das<br />

Horas, que deveriam ser melhor adaptadas à situação atual dos<br />

mosteiros. Tendo sido levado em conta a internacionalidade das Ordens<br />

cistercienses, o princípio da uniformidade que lhes era tão querido, foi<br />

prejudicado diante do pluralismo, que corresponde efetivamente à<br />

realidade de nosso tempo. Em numerosas regiões, principalmente nas<br />

de língua francesa e nas de língua inglesa (menos, porém, nos países de<br />

língua alemã), essa vasta reforma litúrgica suscitou uma criatividade<br />

nunca vista até agora. É preciso mencionar aqui o magnífico trabalho<br />

realizado pela “Comissão Cisterciense de Língua Francesa (CFC em<br />

espanhol) e em relação a ela, pela interessante revista de Liturgia.<br />

A obra da renovação conduziu igualmente a uma colaboração<br />

entre os mosteiros, a nível regional e inter-regional e entre as ordens<br />

monásticas. Pode-se dizer o mesmo da revisão e da reforma litúrgica de<br />

nossas Ordens (OCSO e OCist). As comissões litúrgicas respectivas<br />

têm, entre elas, bons contatos e certos livros litúrgicos foram realizados<br />

em comum. O mais belo fruto deste ecumenismo cisterciense de<br />

29


liturgia é o Ritual cisterciense, aparecido em 1998, e que foi aprovado<br />

pelo Capítulo geral de cada uma das Ordens e pela Santa Sé. Tudo<br />

permite pensar que continuaremos nesta linha, tanto mais que já alguns<br />

projetos estão à vista (por exemplo a realização de um “Liber usuum”<br />

adaptado a nosso tempo e a nossas sensibilidades atuais, em que se<br />

reuniriam os usos cistercienses) [no Brasil era conhecido como “Liber<br />

Usualis”].<br />

Entre os quatro princípios primordiais que determinaram a<br />

reforma litúrgica dos primeiros Cistercienses, dois somente<br />

continuaram em vigor: a simplicidade e a autenticidade (embora não<br />

tenha sido sempre nem em todos os setores!).<br />

Temos hoje uma liturgia renovada, viva, facilmente<br />

compreensível e realizável. A grande reforma litúrgica pedida pelo<br />

Vaticano II está terminada. Resta-nos aprofundar as celebrações<br />

litúrgicas, os textos e os cantos e principalmente para melhor<br />

penetrarmos o espírito da liturgia tal como está descrito na Constituição<br />

Sacrossanctum Concilium. Para esse fim, é indispensável uma sólida<br />

formação litúrgica e não apenas no começo da vida monástica, mas<br />

também durante toda a vida, como um trabalho permanente. Depois do<br />

Concílio isso nos tem sido pedido por todos os documentos romanos<br />

sobre a liturgia, documentos que não fogem muito das diretrizes<br />

tríplices de nossas ordens. Para essa formação litúrgica, temos à nossa<br />

disposição, hoje – e isso em todas as nossas línguas – uma série de<br />

excelentes manuais, livros que tratam de todos os campos e aspectos da<br />

liturgia, e particularmente também de revistas litúrgicas notáveis. Os<br />

Cistercienses da estrita observância têm, também, duas publicações: o<br />

periódico Liturgia, já citado, e a revista americana Liturgy, redigida<br />

pelo Pe. Crisóstomo Waddell. Certos Institutos nacionais de Liturgia ou<br />

de Teologia oferecem também cursos de liturgia por<br />

correspondência 60 .<br />

A liturgia, enquanto um acontecimento e obra de natureza<br />

teológica e comunicativa-dialogal, reveste-se de numerosos aspectos:<br />

antropológico, sociológico, bíblico, teológico, patrístico, histórico e<br />

30


talvez outros. Todos esses aspectos devem ser levados em<br />

consideração, de modo aprofundado. Para que nós os completemos, há<br />

interessantes estudos. Nestes últimos anos, há principalmente a<br />

dimensão antropológica da liturgia que tem atraído a atenção: liturgia<br />

como ato de comunicação, como ação expressiva e simbólica. Para nós,<br />

monges e monjas, “profissionais”da liturgia, é a visão teológicaespiritual<br />

da liturgia e de sua celebração que nos interessa mais: por<br />

exemplo, a Teologia da Liturgia das Horas, que ocupa um amplo lugar<br />

em nossa vida. Seria também muito útil para nós estudarmos temas<br />

novos tais como “Liturgia, lugar de experiência de vida 61 “ ou<br />

“Louvor de Deus como sentido de vida 62 “, como “orientação de vida”<br />

ou “Liturgia, celebração e festa 63 “.<br />

Encontramo-nos hoje diante de um problema novo, que<br />

Romano GUARDINI (+1968), conhecido pioneiro da reforma litúrgica<br />

chamou a aptidão litúrgica do homem moderno ( e ele era muito<br />

pessimista nesse assunto!) O homem de hoje tem dificuldade em<br />

acessar a liturgia da Igreja, pois já é com dificuldade que se encaminha<br />

para a religião e para a fé da Igreja. Em nossos dias, a frase está<br />

também formulada de modo diferente: Estará a liturgia apta para<br />

chegar ao homem (menschenfähig) 64 ? Há questões muito sérias que<br />

também nós devemos nos colocar.<br />

O “aggiornamento” da vida cisterciense que se seguiu ao último<br />

Concílio, conduziu nossas ordens a redefinir o lugar e a significação da<br />

liturgia para nós, hoje. Tiveram que repensar o equilíbrio entre a<br />

liturgia, a lectio divina e o trabalho. Essa questão foi colocada com<br />

muita sutileza para problemas totalmente novos que surgiram em nosso<br />

tempo, a propósito destes últimos elementos, ou seja: a lectio e o<br />

trabalho, e sobretudo o trabalho. É por isso que nos agradaria, como<br />

conclusão, dar uma olhadela sobre alguns documentos oficiais de<br />

nossas Ordens, que tratam da liturgia em nossa vida. Esse será, ao<br />

mesmo tempo, um bom resumo de tudo o que vimos aqui.<br />

31


3.1 – A liturgia nos documentos oficiais de nossas Ordens.<br />

Depois do Concílio, nossas duas ordens, pela ocasião de seus<br />

Capítulos gerais, recordaram o valor da liturgia para nossa vida e deram<br />

diretrizes para sua renovação.<br />

3.1.1 – A liturgia nas Constituições de OCSO.<br />

As Constituições da OCSO tratam da liturgia nos números 1-<br />

20. A Constituição 17.1 diz: Na celebração litúrgica, o fim espiritual<br />

da comunidade aparece de modo todo especial: o sentido profundo da<br />

vocação monástica e da comunhão dos irmãos (ver as irmãs) se<br />

firmam e acrescentam. A Palavra de Deus cada dia é nela ouvida, o<br />

sacrifício de louvor é oferecido a Deus Pai; nela se participa do<br />

mistério de Cristo e nela se realiza a obra de nossa santificação pelo<br />

Espírito Santo.<br />

O parágrafo 17.3 é consagrado à celebração do Domingo, a<br />

Constituição 18, à celebração da Eucaristia; A frase final sublinha a<br />

dimensão eclesial da celebração da Eucaristia: De fato, pela<br />

participação no mistério pascal do Senhor, os irmãos estão mais<br />

estreitamente unidos entre si mesmos e com toda a Igreja.<br />

A Constituição 19, sobre o Ofício Divino,, é bastante<br />

esclarecedora: Que nada seja anteposto ao Ofício Divino. Porque a<br />

Liturgia das Horas é celebrada pela comunidade que exerce, em união<br />

com a Igreja, a função sacerdotal de Cristo, oferecendo a Deus o<br />

sacrifício de louvor e intercedendo pela salvação do mundo todo.<br />

Esse “serviço de intercessão” dos monges e monjas é um<br />

aspecto importante do Ofício Divino e nós somos hoje mais sensíveis<br />

a ele que nunca.<br />

O parágrafo 2 aparece como uma resposta a uma dupla<br />

questão: Qual é a relação entre oração litúrgica e oração pessoal e qual<br />

32


delas deve Ter prioridade? Essas questões não se colocava da mesma<br />

maneira entre os irmãos e irmãs que nos precederam. Eis aqui o que diz<br />

a Constituição 19.2: A liturgia das Horas é uma escola de oração<br />

contínua e um elemento muito importante da vida monástica. É<br />

trabalho do abade (da abadessa) estimular aos irmãos (e irmãs) o zelo<br />

pelo Ofício Divino (Opus Dei).<br />

A mesma idéia se encontra na Constituição 20: Pela constante<br />

recordação de Deus, os irmãos prolongam o Ofício Divino (Opus Dei)<br />

ao longo do dia todo. Também o Abade (a abadessa) deve zelar para<br />

que cada um (cada uma) tenha amplamente tempo para dedicar-se à<br />

lectio e à oração. Todos têm necessidade de criar uma atmosfera no<br />

mosteiro que seja propícia ao silêncio e ao recolhimento 65 .<br />

A “Ratio institutionis” (Programa de estudos) de 1990 toma<br />

novamente essas diretrizes no no 966 .<br />

3.1.2 – A liturgia na Declaração do Capítulo Geral O.Cist. de 1969<br />

O documento oficial mais importante da O. Cist., que trata da<br />

liturgia e de sua importância na vida cisterciense, é a Declaração do<br />

Capítulo geral da ordem cisterciense sobre os elementos principais da<br />

vida cisterciense atual de 1969.<br />

Esse documento será novamente considerado e adaptado no<br />

próximo Capítulo geral do ano 2000. Os números 59 – 64 tratam da<br />

vida de oração, e portanto também da liturgia, considerada numa<br />

relação de proximidade com a oração particular e a lectio divina. No n º<br />

60, lemos: Mas os monges – como ressalta toda a tradição monástica<br />

e do ensino da Igreja – são chamados de maneira especial a continuar<br />

na Igreja a oração de Cristo. Eles o fazem pela celebração da missa e<br />

do ofício divino, que devem ocupar um primeiro plano em suas vidas:<br />

fazem-no também por meio de todas as outras formas de oração, de<br />

uma maneira que lhes é própria, e assim penetram toda a vida.<br />

33


Aqui temos que pôr em relevo dois pontos importantes:<br />

- a Igreja confiou a celebração da liturgia, de maneira especial,<br />

aos monges e monjas;<br />

- eles continuam, assim, a oração de Cristo.<br />

O no 61 sublinha o valor eminente da celebração eucarística. O<br />

no 62 trata novamente da renovação do ofício divino e recomenda<br />

buscar uma harmonia entre a liturgia e os outros elementos da vida<br />

monástica. É preciso, por conseguinte, que nossa vida cotidiana<br />

favoreça a celebração frutuosa da liturgia e que, por seu lado, a<br />

estrutura da liturgia e seus ritos sejam tais que possam alimentar e<br />

animar nossa vida cotidiana. De fato, o dia-a-dia demasiadamente<br />

carregado afogaria a liturgia, e as cerimônias litúrgicas, mantidas<br />

apesar de sua inadaptação à mentalidade moderna, tornariam estéreis<br />

nossas celebrações67. É um texto bem realista, atento aos mosteiros que exercem<br />

atividades pastorais ou educativas.<br />

Dado que a O.Cist. se compõe de diversas Congregações, o<br />

tema da liturgia se encontra nas Constituições de cada uma delas. A<br />

Constituição de Mehrerau, à que pertencem a maior parte dos<br />

mosteiros da Alemanha e da Suiça, e alguns mosteiros austríacos,<br />

publicou, em 1995, com suas Constituições, alguns Fundamentos<br />

espirituais que contêm um capítulo (o cap. 4) belíssimo e muito bem<br />

feito sobre a Oração, liturgia, lectio divina. Nessas Constituições, lê-se<br />

no artigo 95: O Ofício divino é o centro da vida da Igreja e do mosteiro.<br />

Nada lhe deve ser anteposto... É o lugar privilegiado de expressão de<br />

nosso dom total ao Senhor e a fonte principal que a nutre<br />

constantemente. É a força que edifica a comunidade monástica. 68 .<br />

Gostaria de terminar minha exposição sobre a Liturgia (Opus<br />

Dei): centro da existência monástica, citando a Declaração da O. Cist<br />

que expressa uma idéia de fundo do Concílio Vaticano II. A mesma<br />

34


idéia está também expressa com convicção por um documento<br />

beneditino, o Thesaurus Liturgiae Horarum monasticae (Roma 1977).<br />

Trata-se disto, que me parece muito importante: nossa liturgia<br />

monástica não é nossa liturgia, é a liturgia da Igreja inteira. Por<br />

conseguinte, é necessário que nossos ofícios divinos sejam celebrações<br />

abertas 69 . Eis aqui, pois, para concluir, uma última citação da<br />

Declaração: A unidade de nossa vida resultaria da compenetração de<br />

diversos elementos que acabamos de indicar. A ação litúrgica de<br />

nossos mosteiros será, antes de tudo, a lâmpada que arde, brilha e<br />

resplandece sobre toda a Igreja local. É preciso que nossas<br />

celebrações envolvam os fiéis dos arredores para que participem<br />

ativamente nelas e ofereçam ao povo cristão uma fonte abundante de<br />

vida espiritual.<br />

(Texto traduzido do alemão pelas monjas benardinas de N. D.<br />

de Géronde, na Suiça, e ao espanhol pela Cúria Geral da O.Cist.)<br />

********************************************************<br />

*****************************************************<br />

35


NOTAS E CITAÇÕES COLOCA<strong>DA</strong>S AO LONGO DO TEXTO<br />

1-Cf. A. NOCENT. Il monaco homo liturgicus?, in San Benedtto agli<br />

uomini d’oggi. Miscellanea de estudi per il XV centenario de la nasita<br />

de san Benedetto=Benedictina 28 (1981) 603-616.<br />

2-G.ANELLI. Vita monástica esistenza teologica. in San Benedetto agli<br />

uomini d’oggi (cf note 1), 311-361.ici. 342-343 et 357 (traduction par<br />

Géronde).<br />

3-cf.M.KUNZLER, Die liturgie der Kirche, Paderbom 1995<br />

(=AMATECA, Lehrbücher zur katholischen Theologie vol. Anexo n.<br />

),35-39; en français: M.KUNZLER, La liturgie de l’Église,<br />

Luxembour-Paris 1997 (=AMATECA, Manuel de théologie<br />

catholique, vol.X).<br />

4-Ibid. 36: cf. W.HAHNE, Gottes Volkversammlung. Die Liturgie als<br />

Ort Lebendiger Erfahrung, Freiburg-Bases-Wien 1999, 83-88:<br />

A.ALTERMATT, Les principes théologiques de la liturgie restarée par<br />

le deuxième Concile du Vatican. La réforme liturgique comme tàche<br />

permanente, in: Nìturgie (Bulletin de da C. F. C.) 84 (1993) 2-40,ici: 5-<br />

6.<br />

5-Cfr. Ph. HARNONCOURT. Te Deum Laudamus. Lobpreis Gotteseine<br />

Grundform christlicher Existenz in: A.A. HAUSSLING (ed). Vom<br />

Sinn der Liturgie, Dusseldorf (1991 (=Schriften der Kath Akademie in<br />

Bayern, vol. 140),86-117, esquisse: 89<br />

6-Cf. art. Liturgie, in: R.BERGER, Neues pastoralliturgisches<br />

Handlexikon, Freiburg-Basel-Wein 1999,309-311; W.HAHNE, Gottes<br />

Volksversammlung (cf. note 4),171-174.<br />

7-Cf. W. HAHNE, Gottes Volkversammlung (cf.note 4), 204-208: art.<br />

Pascha. Pascha Mysterium, in R.BERGER. Neues pastoralliturgisches<br />

Handlexikon (Cf. Note 6), 395-396.<br />

36


8-Cf. art. Liturgie (cf. note 6), 310-311: M. KUNZLER, Die Liturgie<br />

der Kirche (Cf. note 3, 36-38.<br />

9-Cf. art Gottesdienst, in: Lexikon für Theologie und Kirche IV, 3<br />

1995, 891: art Liturgie, in: Lexikon fuür Theologie und Kirche Vi, 3,<br />

1997, 969.<br />

10- Cf. D. WEDERKEHR, art. Grundfunktioenen christlicher<br />

Gemeinde, in: Lexikon für Theologie und Kirche IV,3, 1995, 1072;<br />

K.Koch, Kirche: Wohin gehst du? Freiburg Schweiz-Konstanz 1995,<br />

39-48: A. ALTERMATT, Les principes Theologie, vol. 12), 186-210.<br />

11- Cf. W.HAHNE, Gotees Volksversammlung (Cf. note 4),78-82<br />

12- Cf. E. V. SEVERUS, Gemeinde für die Kirche, Gesammelte<br />

Aufssätze zur Gestalt und zum Werk Benedikts von Nursia, Münster<br />

Westfalen 1981, 116-138 (Das Monasterium als Kirche);<br />

G.HOLZHERR, Hoffnungszaichen; ecclesiola ex et in ecclesia, in: R.<br />

LIGGENSTORFER/B. MUTH-OELCHNER ( éd), Anleitungen und<br />

Rezepte für eine Kirche der HOFFNUNG. Festchrift zum 50.<br />

Gebuststag von Bischof Dr. Kurt Koch, Freiburg Schweiz 2000,55-61.<br />

13- Cf. par exemple la “Summa Carta Caritatis”, chap 4; “Exordium<br />

Parvum”, prologue, Origines cisterciennes. Les plus anciens textes,<br />

Paris 1998, 101, 44; H. BREM/A.M. ALTERMATT (ed.). Einmütig in<br />

der Liebe. Die frühesten Quellentexte von Citeaux, Langwaden-<br />

Brepols 1998 (=Quellen und Studien zur Zisterzienserliteratur, vol I )<br />

40,60.<br />

14- Cf. S. BOVO, Salmodia corale e preghiera nella Regola en el libro<br />

dei Dialoghi in: San Benedetto agli uomini d’oggi (cf. note 1), 439-<br />

455, ici: 441-445 (Opus Dei: origini e significato); I. SCICOLONE, La<br />

liturgia nella Regola di S. Benedetto, in ibid. 591-602, ici: 592, Cf.<br />

aussi A.A. HAUSSLING, “Ergo nihil Operi Dei praeponatur (RB<br />

43,3)”. Relecture eines benediktinischen Axioms, in”Itinera domini<br />

37


Gesammelte Aufsätze aus Litrugie und Mönchtum (=Fetschrift zum 80.<br />

Geburtstag von Emmanuel v. Severus 0Revmo. Pe. Subprior),<br />

Munstger Westfalen 1988,157-174.<br />

15- S. BOVO, Salmodia corale e preghiera nella Regola (cf.Note 14),<br />

445-446 (traduction Géronde).<br />

16- Cf. A. ALTERMATT, Le dimanche “Car nous tennons le dimanche<br />

comme memorial de la Réssurrection pascale” [La célebrfation du<br />

dimanche selon la Régle du Maïtre et la Régle de saint Bénoit],<br />

in”Liturgie (Bulletin de la C. F. C.) 88 (1994) 18-37: 89 (1994) 120-<br />

142; 90 (1994) 197-211.<br />

17-Cf. A. DE VOGÜE, “Septies in dei laudem dixi tibi”. Aux origines<br />

de l’interprétation d”un texte psalmique, in: Regula Sancti Benedicti<br />

Studia ¾ (1975), 1-5.<br />

18- Cf. SCHÜTZ/ph.RATH (Hg.) Der Benediktinerorden. Gott suchen<br />

in gebet und Arbeit, Mainz 1994, 78-79.<br />

19- ibi. 79<br />

20- J.M. CANIVEZ, Le rite cistercien, in: Ephemerides Liturgicae 63<br />

(1949) 276-311, ici: 284.<br />

21- Sur la premiére réforme liturgique à Citeaux cf. A. M. ALTER-<br />

MATT, Die erste Liturgiereform in Citeaux (ca. 1099-1133), in:<br />

Rottemburger Jahrbuck für Kirchengeschichte 4 (1985) 119-148, ici:<br />

120-121; id. Die Liturgie des frühen Citeaux und ihre Spuren im<br />

Denken uns Fühlen de resten Zisterzienser, in: Zistercienserakademie<br />

Mehrerau-Lang Wden-Berl in, Berichtscheft des 2. Symposions vom<br />

16-17. Aprii 1999, die Identität der Zisterzienser aus dem Geist ihrer<br />

Liturgie gestem und heute, Lsngwaden, 1999 [2000], 15-28.<br />

22- A.A.HAUSSLING, Liturgiereform. Materialien zu einem neuen<br />

38


Thema der liturgiewssenschaft, in: Archiv für liturfiewssenchaft 31<br />

(1989) 1-32, ici:25.<br />

23-Cf. H. ZIRKER, Ekklesiologie (cf. note 10), 191.<br />

24- Cf. A. SCHMIDT, Zusätze als Problem des monastichen<br />

Stundengebetes im Mittelalter, Munster Westfalen 1986 (=Beiräge zur<br />

Geschichte des alten Mönchtums uns de Benediktinerordens, vol 36),<br />

surtout 67-96 (Citeaux): A. M. ALTERMATT, Deie erste<br />

Liturgiereform in Citeaux (Cf. note 21), 123,145.<br />

25- Cf. Ch. WADDELL, Narrative and Legislative Texts from Early<br />

Citeaux. Latin Text in Dual Edition with English Translation and<br />

Notes, Citeaux-Commentarii cistercienses 1999 (=Studia et<br />

Documenta, vol. IX), 249 (ligne 12); A. M. ALTERMATT, Die erste<br />

Liturgiereform in Citeaux (cf. note 21), 132 (note 81).<br />

26- Exordium magnum cisterciense sive narratio de initio cisterciensis<br />

Ordinis, ediert von B. GRIESSER, Rome 1961 (Series Scriptorum S.O<br />

Cist. Vol. 2), 75; traduction: Le grand Exorde de Citeaux ou récit des<br />

débuts de L’Ordre cistercienm Turnhout- Citeaux 1998, 38.<br />

27- Cf. plus Aut note 21.<br />

28- Edition de cette lettre: JMARILIER, Chartes et documents<br />

concernant l”abbaye de Citeaux (1098-1182). Rom 1961 (= Biblioteca<br />

icsterciensis, vol I), 41-46 ( no..17).<br />

29- Cf. Origenes cisterciennes (cf. note 13), 137-140; H BREM/ A.<br />

ALTGERMATT (ed.) Einmütig in der Liebe (cf. note 13), 210-213.<br />

30- Origenes cisterciennes (Cf. notes 13), 141-143; H BREM/ A<br />

ALTERMATT (ed. Einmütig in der Liebe (cfr. Note 13, 208-209.<br />

31- Cf. A. M. ALTERMATT, Die erxte Litrugiereform in Citeaux (<br />

39


cf.note 21), 132-133,142; CH. WADDELL , The Origin and Early<br />

Evolution of Tghe Cistercian Antiphonary in Memory of Thomas<br />

Merton, ed. Par M.B. Pennington, Spencer 1970 ( =Cistercian Studies<br />

series, Bd 3), 190-223, ici: 193-204; A. ODERMATT, Der Liber ordinaries<br />

der Abbei St.. Armulf vor Metz, Freibourg Schweiz 1987<br />

(=Spicilegium Friburgense, vo. 31), 23s.<br />

32- Cf. Ch. WADDELL, The Early Cistercian Experience of Liturgy,<br />

in: Rule and Life. Na Interdisciplinary symposium, ed. Par M.B.<br />

Pennington, Spencer 1971 (=Cistercian Studies Series, vol 12) 77-116,<br />

surtout 94, id. Two Early Cistercian “Libelli missarum”, Edition of<br />

Texts with Notes and Commentaries. Abbaye de Gethsemani (Trappist,<br />

Kentucky), 1991 (=Cistercian Liturgy Series, vol 19)<br />

33- D. CHOISELET/P Vernet, Les “Ecclesiastica Officia”, cisterciens<br />

du XIIème siécle. Texte latin selon les manuscrits edites de Trente<br />

1711, Ljubjana 31 et Dijon 114. Versión française, Reiningue 1989 (=<br />

La documentation cistercienne, vol 22)<br />

34- Cf. Ch.WADDELL, The Pre- Cistercian Background of Citeaux<br />

and the Cistercian Liturgy, in: Goad and Mail. Studies in Medieval<br />

Cistercian History, vol. 10, ed. Par E.R. LDER, Kalamazoo 1985<br />

(Cistercian Studies Series, vol. 84),109-132.<br />

35- Origenes cisterciennes (Cf. note 13),145-147.<br />

36- Cf. “Exordium Parvum”, chap 15.9: ibid 64; H. BREM/ A. M.<br />

ALTERMATT (ed) Einmütig in der Liebe (Cf. note 13), 88/89. Cf. E.<br />

Wener, Pauperes Christi. Studien zu sozialreligiösen Bewegungen im<br />

Zeitalter des Reform-papstuums, Darmstadt, 3 1970.<br />

37- Cf. H. HAHN, Die Frühse Kirchenbaukunst der Zisterzienser,<br />

Berlin 1957, 97, 127s.<br />

38-Cf. WADDELL, Narrative and Legislative Texts from early Citeaux<br />

(cf. note 25), 37-39..<br />

39- Cf. JL Lekal, The Cistercians, Ideals and Reality. The Kent State<br />

40


University Press 1977: K. ELM/P. JOERISSEN/HJ. ROTH (ed.) Die<br />

Zisterzienser. Ordensleben zwischen Ideal und Wirklinchkeit, Bonn<br />

1980 (= Schriften des Rheinischen Museumsamtes, vol 10);<br />

JB.AUBERGER, L’unanimité cistercienne primitive” Mythe ou réalité?Achei<br />

1986 (=Studia et Documenta, vol 3).<br />

40- Vgl CH. WADDELLL, Peter Abelard”são Letter 10 and Cistercian<br />

Liturgical Reform, in: Studeis in medieval Cistercian History, vol. 2,<br />

ed. Par JR SOMMERFELDT, kalamazoo 1976 (= Cistercian Studies<br />

Series, vol. 24), 75-86.<br />

41-Cf. BERNARD VON CLAIRVAUX, Prologue à l’antiphonaire cistercien<br />

(cf.note 3).<br />

42-Cf. C.MAÎTRE, La réforme cistercienne du plain-chant. Étude d’un<br />

traité théorique, Brecht 1995 (=Studia et Documenta, vol. 6).<br />

43-Cf. Ch. WADDELL, Chant cistercien et liturgie, in: Bernard de<br />

Clairvaux, Histoire, mentalités, spiritualité. Paris 1992 (=Sources<br />

Chrétiennes, vol 380), 99ss.<br />

44- Cf.Ch. WADDELL, The Early Experience of Liturgy (cf. note<br />

32),99ss.<br />

45- Cf. A.A. KING, Liturgies of the Religious Orders, London 1955<br />

[62-156: Cistercian Rite], 78-89.<br />

46- Cf. ibid.,90; C. BOCK, Les codifications du droit cistercien,<br />

Westmalle 1956, 167-170. Pour la période de 1892 jusqu’au Concile<br />

vatican II cf. A.A.KING, Liturgies of the Religious Orders (cf. note 45),<br />

90-93; C.BOCK, Les codifications du droit cistercien, 172-189:<br />

B.WIDMANN, Die neuen Choralbücher des Cistercienseordens, in :<br />

Cistercinser Chron ik 16 (1904) 120-123. 184-188. 213-217. 280-284;<br />

17 (1905) 24-28. 53-58. 83-92. 147-149. 299-304. 335-346.<br />

47-O.DUCOURNEAU, Essai de reconstitution des variations de l’horaire<br />

des premiers cisterciens en été et en hiver, in: R. THOMAS, La<br />

41


journée monastique, Paris 1982 (=Pain de Cîteaux), em appendice. Cf.<br />

A. M. ALTERMATT, “Siebenmal am Tage singe ich dein Lob”. Die<br />

liturgische Tagesordnung in einer Zisterzienserabtei einst und heute, in:<br />

P. RUCKERT/D. PLANCK (ed.) Anfänge der Zisterzienser in<br />

Sudwetdeutschland Politik, Kunst und Liturgie im Umfeld des Klosters<br />

Maulbronn, Stuttgart 1999 (=Oberheinische Studien, vol. 16), 247-263,<br />

surtout 255-259; A. ALTERMATT, Liturgia e vita quotidiana cistercense,<br />

in: Un”abbazia Lombarda: Morimondo. La sua storia e il suo messaggio,<br />

ed. par la “Fondazione Abbatia Sancte Maries de Morimundo”.<br />

Abbiategrasso 1998.39-60. La source pour la reconstitution de l”horaire<br />

cistercien au moyen âge est le cha.p. 83 des “Ecclesiastica Officia”<br />

(cf. note 33), 236-241.<br />

48-Quanto à celebração eucarística dos monges cf. A. DE VOGÜE,<br />

Les premiers moines et l’Eucharistie, in: L’Eucharistie (=Connaissance<br />

des Péres de L’Église, no. 77), Montrouge 2000, 43-54; A.M. ALTER-<br />

MATT, Le dimanche (cf. note 16), 26-27, 197são; A. A. HAUSSLING,<br />

Mönchskonvent und Eucharistiefeier. Eine Studei über die Messe inder<br />

abendländischen Klosteriliturgie des frühen Mittelalters und zur<br />

Geschichte der Messhäufigkeit, Münster Westfalen 1973 (=<br />

Liturgiewissenschaftliche Quellen und Forschungen, vol. 58).<br />

49- Cf. le chap. 70 des “Ecclesiastica Officia”(cf. note 33), 202-209,<br />

439-440 (note 130); cf.P. SCHEPENS, Löffice du Chapitre à Prime, in:<br />

Recherches de scienced religieuse 11 (1921) 222-227.<br />

50- Cf. les Chap. 75 und 84 des “Ecclesiastica Officia” (cf. note 33),<br />

218-225, 242-245, 452 (note 184).<br />

51-Cf. J LEKAI, The Cistercians (cf.note 39), 364-377, surtout 365.<br />

52-J LECLERCQ, L’amour des lettres et le désir de Dieu. Initiation aux<br />

auteurs monastique du moyen âge, Paris 1990.<br />

53-Ibid. 219.<br />

42


54-Ibid. 233; cf. ibid. 233ss; 236ss.<br />

55-J LECLERCQ, Saint Bernard et l’esprit cistercien, Paris 1980<br />

(=Maîtres spirituels, vol 36), 29.<br />

56- Cf. Le chap. 67 des “Ecclesiastica Officia”(cf. note 33), 190-191,<br />

467 (note 467). Vgl. A. FRACHEBOUD, Les premiers spirituels cisterciens,<br />

Paris 1982 (=Pain de Cîteaux), 53ss.<br />

57-J.M.BEERS (ed.), A Commentary on the Cistercian Hymnal<br />

(Explanation super hymnos quibus utitur Ordo cisterciensis),<br />

Gainsborough 1982 (=Henru bradshaw Society, vol. 102);<br />

K.LAUTERER, Der Hymnenkommentar Matthäus von Königssaal, in:<br />

Cistercienser-Chronik 73 (1966) 33-43, 71-75.<br />

58-Cf. G. WAINWRIGHT, Der Gottesdienst als “Locus theologicus”,<br />

oder: Der Gottesdienst als Quelle und Thema der Liturgie, in: Kerygma<br />

und Dogma 28 (1982) 248-258; G.LUKKEN, La liturgie comme lieu<br />

théologique irremplaçable, in: Questions liturgiques 56 (1975) 95-112.<br />

59-Cf. A.ALTERMATT, Les principes théologiques de la liturgie<br />

restaurée (cf note 4).<br />

60- Cf. ibid. 37-40.<br />

61-Cf. W.HAHNE, Gottes Volksversammlung (cf.note 4)<br />

62-Cf.P.HUGGER, Meine Seele, preise den Herrn. Gotteslob als<br />

lebenssinn, Münsterschwarzach 1979 (=Münsterchwarzacher<br />

Kleinschriften, vol. 4); Ph HARNONCOURT, Te Deum Laudamus<br />

(cf.note 5).<br />

63- Cf. W.HAHNE, “De arte celebrandi” oder Von der Kunst<br />

Gottesdienst zu feiern Entwurf einer Fundamentalliturgik, Freiburg-<br />

Basel-Wien 1990.<br />

43


64- Cf. R. GUARDINI, Per Kultakt und die gegenwäch 14 (1964) 101-<br />

106 und in: R. GUARDINI, Liturgie und liturgische Bildung. Romano<br />

Guardini, Werke, Würzburg 1966,Mainz-Panderborn 2 1992,9-17. Vgl.<br />

Artl Liturgie-fähigkeit, in: R.BERGER, Neues pastoralliturgisches<br />

Handlexikon (cf. note 6), 312. – Quant à la “capacité humaine” de la<br />

liturgie cf. W.HAHNE, Gottes Volksversammlung (cf. note 4), 88. B.<br />

KRANEMANN/E. NAGEL/E. NUBOLD (ed.) Heute Gott feiern.<br />

Liturgiefähigkeit des Menschen und Menschenfähigkeit der Liturgie,<br />

Freiburg-Basel-Wien 1999.<br />

65- Constitutions OCSO, in: Cîteaux, Documents contemporains<br />

émanant des Chapitres Généraux de l’Ordre Cistercien de la Stricte<br />

Observance, Cîteaux 1991 (= Textes et Documents, vol 4), 34-39.<br />

66-ibid. 285<br />

67-Texte allemand de la “Déclaration du Chapitre général de l’Ordre<br />

cistercien sur les éléments principaux de la vie cistercienne d’aujourd’hui,<br />

in: D.João Crisóstomo NIMMERVOLL (ed.), Die Zisterzienser<br />

in Österreich. Dokumentation, Zisterzienserabtei Wilhering 1990, 40-<br />

41 (traduction francaise par Hauterive).<br />

68- Die Zieseterzienserkongregation von Mehrerau. Geistliche<br />

Grundlagen-Konsti-tutionen-Geschichte-Klöster, hg. Im Auftrag des<br />

Kongregationskapitels, Zisterzienserabtei Mehrerau 1995, 93 cf. ibid.<br />

42-49 (4 Gebet, Liturgie und heilige Lesung).<br />

69-Thesaurus Liturgie Horarum Monasticae, ed. par le Secrétariat de<br />

L’Abbé Primat OSB, Rome 1977, Traduction allemande de la présentation<br />

générale de la “Liturgie Monastique des Heures” : Die Feier des<br />

Stundengebetes, Monastisches Stundenbuch für die Benediktiner des<br />

deutschen Sprachgebietes, vol I: Advent und Weihnachten. St. Ottilien<br />

1981, 109-141, surtout 134-135.<br />

(22. Die Offenheit der Feier), En français?<br />

44


INDICE<br />

A <strong>LITURGIA</strong> (<strong>OFÍCIO</strong> <strong>DIVINO</strong>): <strong>CENTRO</strong> <strong>DA</strong> <strong>EXISTÊNCIA</strong><br />

MONÁSTICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1<br />

A <strong>LITURGIA</strong> (<strong>OFÍCIO</strong> <strong>DIVINO</strong>): <strong>CENTRO</strong> <strong>DA</strong> <strong>EXISTÊNCIA</strong><br />

MONÁSTICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .2<br />

INTRODUÇÃO: A <strong>LITURGIA</strong> COMO <strong>CENTRO</strong> DO “TRIPLO<br />

ACORDO BENEDITINO”. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .2<br />

A liturgia como manifestação autêntica da Igreja e da comunidade<br />

monástica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3<br />

1.1.Definição da liturgia segundo a Constituição sobre a Liturgia. . .4<br />

1.2 - A liturgia, função fundamental da Igreja. . . . . . . . . . . . . . . . . .8<br />

1.3 – A liturgia, função essencial da comunidade monástica. . . . . . .9<br />

1.4 – A liturgia e seu lugar central na Regra de São Bento. . . . . . . .9<br />

2 – O LUGAR E O SIGNIFICADO <strong>DA</strong> <strong>LITURGIA</strong> NO<br />

MONAQUISMO CISTERCIENSE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13<br />

2.1 – Cister como uma reforma litúrgica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13<br />

2.1.2 – As etapas da primeira reforma litúrgica de Cister . . . . . . . .15<br />

2.1.3 – Os quatro princípios da primeira reforma litúrgica de<br />

Cister. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18<br />

2.1.4 – As outras reformas litúrgicas nos Cistercienses, através dos<br />

séculos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21<br />

2.2 – O horário cotidiano num monastério cisterciense Medieval. .23<br />

2.3 – A liturgia: uma das principais fontes da espiritualidade<br />

e da literatura cistercienses. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .26<br />

3 – A liturgia em nossa vida cisterciense de hoje. . . . . . . . . . . . . . .28<br />

3.1 – A liturgia nos documentos oficiais de nossas Ordens. . . . . . .32<br />

3.1.1 – A liturgia nas Constituições de OCSO. . . . . . . . . . . . . . . . .32<br />

45


3.1.2 – A liturgia na Declaração do Capítulo Geral O.Cist.<br />

de 1969 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33<br />

NOTAS E CITAÇÕES COLOCA<strong>DA</strong>S AO LONGO DO<br />

TEXTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .36<br />

46

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