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e v i s t a<br />
Artigo Sumário<br />
imes<br />
Artigos<br />
Cultura organizacional e meio ambiente na perspectiva publicitária<br />
Gino Giacomini Filho<br />
René Henrique Götz Licht ............................................................................................................. 5<br />
Um estudo sobre a utilização do marketing olfativo no Brasil<br />
Fausto Barbosa Júnior<br />
José Adeodato de Souza Neto ....................................................................................................... 13<br />
Transformação no modelo de gestão de um grupo<br />
nacional de auto-peças após sua aquisição por uma<br />
congênere multinacional francesa<br />
Eduardo de Camargo Oliva<br />
Luiz Carlos Gianello<br />
Evandro Cleber Alves .................................................................................................................... 20<br />
Crescimento ou queda dos lucros nas empresas: uma questão<br />
de foco na utilização de metodologias de custeio e<br />
programas de qualidade<br />
Rubens Janny Teixeira<br />
José Antonio Meire ......................................................................................................................... 34<br />
E-brand – um estudo sobre a marca no comércio eletrônico<br />
Sandra Pires de Almeida<br />
Denis Donaire ................................................................................................................................. 41<br />
A percepção de alunos universitários em relação<br />
a seu curso. Estudo de caso: <strong>Adm</strong>inistração da UFMG<br />
José A. Bonilla ................................................................................................................................ 47<br />
julho/dezembro-2003<br />
3
A dministração Artigo<br />
4<br />
A dministração Expediente<br />
Revista IMES <strong>Adm</strong>inistração – Uma publicação do Centro Universitário Municipal de São Caetano do Sul<br />
Ano XX – no <strong>58</strong><br />
julho/dezembro – 2003<br />
(Fechamento desta edição: Maio/2004)<br />
Diretor da Mantenedora<br />
Marco Antonio Santos Silva<br />
Vice-Diretor da Mantenedora<br />
Marcos Sidnei Bassi<br />
Reitor<br />
Laércio Baptista da Silva<br />
Pró-Reitor de Graduação<br />
Carlos Alberto Macedo<br />
Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa<br />
René Henrique Licht<br />
Pró-Reitor Comunitário e de Extensão<br />
Joaquim Celso Freire Silva<br />
Produção<br />
Pró-Reitoria Comunitária e de Extensão<br />
Coordenadoria de Comunicação<br />
Coordenador Editorial<br />
Rubens Janny Teixeira<br />
Jornalista Responsável<br />
Roberto Elísio dos Santos – MTb 15637<br />
Conselho Editorial<br />
Membros nacionais<br />
Dinizar Sermiano Deckor<br />
Universidade de Santa Cruz do Sul – RS;<br />
José Francisco Salm<br />
UDESC – CCA/ESAG, FlorianópoliS, SC;<br />
Marinho Jorge Scarpi<br />
UNIFESP, São Paulo, SP.<br />
Membros internacionais<br />
Erika de Castro<br />
Centre for Human Settlements,<br />
The University of British Columbia,<br />
Vancouver, Canada;<br />
Kevin Allison<br />
Westminster Business School,<br />
University of Westminster, London, UK;<br />
Sima Motame-Sarmadian<br />
Centre for the Studies of Emerging Markets,<br />
Westminster business School,<br />
University of Westminster, London, UK;<br />
Burkard Sievers,<br />
Universidade de Wuppertal, Alemanha.<br />
Conselho Técnico<br />
Professores do Curso de<br />
<strong>Adm</strong>inistração<br />
Coordenador do Curso de<br />
<strong>Adm</strong>inistração<br />
Denis Donaire<br />
Revisão<br />
Simone Zaccarias<br />
Editoração e Impressão<br />
HM Indústria Gráfica e Editora Ltda.<br />
Tiragem: 500 exemplares<br />
Revista IMES <strong>Adm</strong>inistração<br />
Av. Goiás, 3.400<br />
São Caetano do Sul – SP – Brasil<br />
Tel.: (11) 4239-3259<br />
Fax: (11) 4239-3216<br />
E-mail: revimes@imes.edu.br<br />
O IMES, em suas revistas, respeita<br />
a liberdade intelectual dos autores,<br />
publica integralmente os originais<br />
que lhe são entregues, sem com<br />
isso concordar necessariamente<br />
com as opiniões expressas.<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
julho/dezembro-2003<br />
CULTURA ORGANIZACIONAL E<br />
MEIO AMBIENTE NA<br />
PERSPECTIVA PUBLICITÁRIA<br />
Gino Giacomini Filho<br />
Doutor e Livre-docente em Comunicação Social pela ECA/USP.<br />
Professor do Programa de Mestrado em <strong>Adm</strong>inistração do<br />
IMES – Centro Universitário Municipal de São Caetano do Sul.<br />
Professor do Programa de Mestrado e Doutorado da UNIVALI em Turismo e Hotelaria.<br />
René Henrique Götz Licht<br />
Doutor em <strong>Adm</strong>inistração pela FEA/USP e em Psicologia pelo IPUSP.<br />
Pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa do IMES – Centro Universitário Municipal de<br />
São Caetano do Sul.<br />
R E S U M O ABSTRACT<br />
A publicidade é uma forma de comunicação que<br />
interage com a cultura organizacional. Nesse<br />
trabalho, objetivou-se mostrar essa interação no<br />
contexto da política de responsabilidade social,<br />
notadamente em procedimentos de gestão<br />
ambiental. Um dos desdobramentos do estudo<br />
revelou tipologias da organização face ao seu<br />
comportamento nas questões ambientais e da<br />
publicidade inserida no papel de difundir e<br />
realimentar a cultura organizacional perante os<br />
públicos internos e externos.<br />
Palavras-chave: publicidade, cultura organizacional,<br />
gestão ambiental.<br />
Advertising is a communication system that<br />
interacts with the organizational culture. In this<br />
work, it was objectified to show this interaction in<br />
the context of the politics of social responsibility,<br />
through environmental management.<br />
Keywords: advertising, organizational culture,<br />
environmental management.<br />
5
A dministração Artigo<br />
Cultura organizacional é uma expressão muito<br />
utilizada para designar uma série de posturas<br />
arraigadas na organização, tais como valores,<br />
conhecimentos, hierarquização de informações e<br />
entendimentos que, essencialmente, moldam as<br />
manifestações comportamentais de seu público<br />
interno, direcionando as decisões.<br />
Dentre as decisões empreendidas está a publicidade:<br />
forma de comunicação persuasiva, paga,<br />
identificada, veiculada nos meios de comunicação<br />
de massa, que pretende auxiliar a oferta e<br />
posicionamento de bens, idéias, serviços e marcas<br />
por meio de anúncios e peças nos meios de<br />
comunicação.<br />
Dias elenca o que seriam os principais elementos<br />
da cultura organizacional, mencionando dentre eles<br />
os slogans como “expressão sucinta, versão<br />
resumida de uma cultura organizacional” (2003, p.<br />
101). O autor se refere a slogans de instituições<br />
bancárias para ilustrar o caso, mostrando expressões<br />
e frases que foram veiculadas intensamente<br />
em anúncios publicitários.<br />
Mas não é somente por meio dos slogans que a<br />
ação publicitária 1 manifesta elementos da cultura<br />
organizacional: os anúncios veiculados podem<br />
explicitar muitos valores culturais, até porque<br />
possibilitam o uso mais intenso de textos, expressões<br />
e ilustrações, os quais, de alguma forma,<br />
denotam a ação e o discurso do anunciante<br />
(organização).<br />
O desempenho das organizações com as<br />
questões ambientais pode ser analisado sob o<br />
prisma de sua cultura que, por sua vez, pode<br />
interagir com o trabalho publicitário. Por meio da<br />
análise da ação publicitária, pode-se colher<br />
indicadores sobre a inserção do fator ambiental<br />
na instituição e contrapor com uma possível<br />
atuação sustentável, em que o discurso do<br />
anunciante seja coerente com práticas sociais e<br />
de marketing, agregando credibilidade aos seus<br />
propósitos no mercado.<br />
Como a cultura organizacional – ou comportamento<br />
organizacional 2 – convive, por vezes,<br />
com relações internas conflitantes, pode mostrar<br />
uma dualidade entre o que pratica no campo<br />
ecológico e o que contempla em sua comunicação<br />
publicitária.<br />
6<br />
Assim, o objetivo deste artigo é analisar<br />
correlações entre a publicidade e a cultura<br />
organizacional no plano ambiental brasileiro.<br />
Houve a utilização de metodologia baseada em<br />
pesquisa bibliográfica e documental, estando esta<br />
última afeita a anúncios publicitários e demais<br />
peças de comunicação para aferir esforços<br />
promocionais de organizações na área do meio<br />
ambiente.<br />
CULTURA ORGANIZACIONAL,<br />
COMUNICAÇÃO E PUBLICIDADE<br />
Há muitos conceitos sobre cultura organizacional,<br />
dentre eles o de que consiste em um<br />
“sistema de significados compartilhados mantidos<br />
pelo membros que distinguem uma organização<br />
de outras organizações. O sistema de significados<br />
compartilhados é um conjunto de característicaschave<br />
que a organização valoriza” (Dias, 2003,<br />
p. 55).<br />
Segundo Smircich: “Na cultura corporativa a<br />
cultura é vista como uma variável interna” (apud<br />
Freitas, 1991, p. 5). Mas isso não significa que os<br />
valores internos sejam compartilhados em pé de<br />
igualdade pelos membros; ou seja, cada organização<br />
apresenta sua cultura, que carrega afinidades e<br />
anacronismos, caso do funcionário que não está<br />
convicto de que a fusão da empresa com outra seja<br />
algo bom para ele, mesmo com a insistência de seu<br />
superior; ou caso de dois diretores que se posicionam<br />
de forma diferente quanto à implementação de um<br />
programa ambiental. Tais ajustes (ou desajustes)<br />
na cultura organizacional podem se refletir em<br />
várias frentes, como no trabalho de marketing e<br />
comunicação.<br />
Mas os valores culturais se expressam de<br />
diferentes formas, caso de “... sinais que podem<br />
ser desde o fluxo de informações, moda, linguagem,<br />
emoções, ordem, disciplina, até o ambiente<br />
físico nos locais de trabalho” (Dias, 2003, p. 56).<br />
A publicidade, como forma de comunicação<br />
persuasiva, faz parte dos significados compartilhados<br />
da organização, pois contém informações,<br />
modismos, linguagens e emoções denotadas por<br />
um anunciante identificado, que representa a<br />
1 A ação publicitária pode se manifestar por meio de diversas formas: discurso (conteúdos lingüísticos), mídia (seleção e número de inserções nos veículos),<br />
investimento (volume de gastos com planejamento, elaboração de peças, produção de material e pesquisas).<br />
2 O comportamento organizacional é denotado por vários fatores, dentre eles as pessoas da organização e, portanto, a cultura organizacional (Nadler; Hackman;<br />
Lawler; 1983, p. 30-31).<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
organização. “A comunicação e a cultura de uma<br />
organização estão umbilicalmente associadas.<br />
Na verdade, a comunicação é o espelho da cultura<br />
organizacional, refletindo o processo de gestão”<br />
(Bueno, 2003, p. 47).<br />
“Portanto, analise bem o que sua empresa está<br />
dizendo de si mesma para o mundo. Não apenas<br />
por meio da propaganda, mas também de sua<br />
postura no mercado e seu comportamento na<br />
sociedade.<br />
O anúncio é, apenas, uma parte desse<br />
contexto. É a fala, o discurso. Ele deve corresponder<br />
ao que sua empresa diz de si mesma<br />
como entidade no mundo turbulento da<br />
comunicação.” (Cabral, 2001, p. 19-20)<br />
Adler e Firestone consideram a publicidade o<br />
aspecto mais visível do marketing (2002, p. 28-<br />
29) e que pode ser vista “como uma instituição<br />
que é parte integrante da cultura mais ampla em<br />
que ela atua”.<br />
Um único anúncio pode não representar valores<br />
típicos organizacionais, pois o anunciante pode ter<br />
ficado alheio à sua concepção. Porém, mesmo que<br />
seja concebido por uma agência, o anúncio traz,<br />
marcadamente, valores do anunciante, pois é ele<br />
ou seu representante quem o aprova, da mesma<br />
forma que é ele quem contrata os serviços da<br />
agência, merecendo por parte de qualquer<br />
pesquisador essa reflexão quando da correlação<br />
“publicidade” com “cultura organizacional”.<br />
Ao impactar públicos internos e externos, a<br />
publicidade interage com a cultura organizacional,<br />
ajudando-a a se difundir e se realimentar. Mas, ao<br />
reconhecer-se que a cultura organizacional é um<br />
sistema eminentemente interno da instituição, e<br />
que a publicidade reflete valores desse ambiente<br />
interno, faz-se necessário também admitir que tais<br />
fatores alcançam a opinião pública, impactando-a.<br />
“O sistema de comunicação é bom quando não<br />
se nota que ele existe... Todavia, embora muitas<br />
organizações possam estar fazendo um bom<br />
trabalho de comunicação, suas ações às vezes<br />
contradizem suas palavras. A empresa que faz<br />
downsizing e, ao mesmo tempo, aumenta a<br />
remuneração do executivo-chefe (CEO), não está<br />
fazendo o que diz ... A empresa que proclama seus<br />
recordes ambientais e depois é citada por poluição<br />
incorre no mesmo erro. O caminho para a comunicação<br />
bem-sucedida é a credibilidade. Quando<br />
as ações não correspondem às palavras, surgem<br />
julho/dezembro-2003<br />
mecanismos auto-corretores, por meio dos boatos,<br />
do governo ou da mídia.” (Corrado, 1994, p. 5)<br />
Tavares admite que “o discurso oficial a respeito<br />
da organização sobre sua estrutura interna é pobre”<br />
e que há discrepâncias entre o discurso oficial e a<br />
realidade, exemplificando com estatísticas que<br />
mostram menor empregabilidade para mulheres e<br />
negros, enquanto o discurso não admite essa<br />
prática (1993, p. 63).<br />
Ottman considera que a sequência de experiências<br />
negativas que o cidadão observa em relação<br />
àquilo que o empresário diz e faz pelo meio ambiente<br />
afeta proporcionalmente sua credibilidade e o<br />
discurso empresarial como um todo. Aponta uma<br />
pesquisa de 1991, em que apenas 37% das pessoas<br />
acreditavam no que executivos de negócios e<br />
associações industriais falavam sobre questões<br />
ambientais, o mais baixo índice de todas as<br />
instituições e lideranças (1994, p. 52).<br />
Maimon (1996, p. 23-24), citando o que Duclos<br />
chama a dualidade do “ser” e do “parecer”, classifica<br />
três tipos de comportamentos organizacionais:<br />
– Responsável, em que o discurso corresponde à<br />
ação efetiva e aos patamares éticos ambientais,<br />
executando uma gestão de longo prazo e<br />
compromisso com os interesses da sociedade,<br />
além de atitude pró-ativa.<br />
– Seguidoras, pois não possuem um discurso,<br />
caracterizando a questão da sobrevivência mais<br />
do que a responsabilidade ambiental. Estão<br />
isoladas das discussões ecológicas, obedecendo,<br />
quando podem, aos órgãos de controle ou<br />
pressões ambientalistas.<br />
– Mentirosas, pois usam subterfúgios diversos<br />
para argumentar danos ambientais, como a<br />
defesa do emprego e da empresa nacional.<br />
Adotam estratégias de curto prazo, retratando<br />
os bens e serviços ambientais como meras<br />
mercadorias. Caracterizam-se por práticas de<br />
bloqueio às ações contrárias a esta postura,<br />
inclusive bancando pesquisas e minimizando os<br />
efeitos ecológicos decorrentes de suas<br />
atividades.<br />
A postura contraditória do anunciante pode se<br />
expressar de duas formas básicas: incoerência do<br />
discurso na própria peça publicitária ou entre o<br />
anúncio e outras manifestações da organização.<br />
No primeiro caso, o próprio texto ou a mensagem<br />
contém informações e significados que são<br />
7
A dministração Artigo<br />
dissonantes, comprometendo a credibilidade da<br />
comunicação. No segundo, o anúncio defende<br />
idéias ou contém dados que não são corroborados<br />
por outras ações, levando o receptor a questionar<br />
qual a real postura do anunciante.<br />
8<br />
O MEIO AMBIENTE NA CULTURA<br />
ORGANIZACIONAL<br />
A necessidade de as instituições compatibilizarem<br />
suas funções comerciais e lucrativas com as<br />
demandas sociais levou à prática da responsabilidade<br />
social corporativa, em que os processos<br />
produtivos devem estar atrelados à qualidade de<br />
vida e bem-estar de todos, caso do equilíbrio nas<br />
relações de consumo (consumerismo), nas relações<br />
de trabalho, ética comercial e meio ambiente<br />
(Ashley, 2002).<br />
Por sua vez, o ambientalismo constitui um novo<br />
paradigma na cultura organizacional, visando<br />
estabelecer um desenvolvimento sustentável das<br />
ações produtivas diante da racionalização do uso<br />
do meio ambiente e a preservação dos habitats;<br />
representa uma nova forma de atuação organizacional,<br />
levando a maior compreensão do potencial<br />
e dos limites da própria natureza e da natureza<br />
humana; envolve uma nova concepção de<br />
economia, propondo um sentido que seja ecoeficiente.<br />
O fator ecológico estará plenamente na cultura<br />
organizacional quando diretrizes e ações em todas<br />
as áreas (produção, vendas, marketing, recursos<br />
humanos, finanças etc) contiverem tal fator. Estará<br />
também marcadamente na cultura da empresa<br />
quando as pessoas exteriorizarem, espontaneamente,<br />
os valores ambientais.<br />
A existência de uma cultura organizacional<br />
identificada com o meio ambiente ocorre quando<br />
esta se expressa na relação com o consumidor,<br />
clientes internos e externos, governo, sindicatos,<br />
familiares, imprensa e demais públicos de interesse.<br />
Antes de mais nada, deve estar presente nas<br />
atitudes pessoais dos dirigentes, no seu dia-a-dia,<br />
e servir de paradigma para todo o corpo funcional.<br />
Essa estruturação possibilita transformar os<br />
gastos ambientais em investimentos rentáveis. Ou<br />
seja, quando a ação ambiental é isolada, provisória,<br />
eventual, torna-se um custo indesejável, como<br />
aqueles que advêm de imposição legal.<br />
Joseph Romm (1996, p. 15-19) relata o caso dos<br />
separadores de correspondências na principal<br />
agência de correios no Estado de Nevada (Reno,<br />
1986) que obtiveram os melhores resultados de<br />
produtividade (menor índice de erros) de todos os<br />
separadores do oeste dos Estados Unidos. Tal<br />
resultado foi obtido com uma reestruturação<br />
interna para reduzir o consumo de energia, obra<br />
que se pagou em menos de um ano.<br />
“A economia anual com uso de energia e<br />
manutenção e a redução da poluição do ar eram<br />
um bônus. Os funcionários dos correios faziam<br />
seu trabalho melhor e mais rápido em um<br />
ambiente mais tranqüilo e melhor iluminado ...<br />
A agência dos correios de Reno tornou-se não<br />
só a mais eficiente em energia e inofensiva ao<br />
meio ambiente da região Oeste – como era a<br />
intenção – mas também a mais produtiva ...<br />
Tornou-se limpa e enxuta.”<br />
O autor completa: “Toda empresa pode<br />
aumentar seus lucros e produtividade de modo<br />
drástico com a redução da poluição. Toda empresa,<br />
sem exceção”.<br />
É sugestiva a postura de alguns hotéis brasileiros<br />
que romperam uma cultura interna e externa de<br />
que toalhas de banho devam ser substituídas<br />
diariamente. São estabelecimentos que solicitam ao<br />
hóspede para reutilizar as toalhas sempre que<br />
possível, diminuindo a utilização de água e energia<br />
para lavá-las desnecessariamente. Essa comunicação<br />
é feita por meio de avisos padronizados fixados no<br />
banheiro disponibilizados a toda a rede hoteleira.<br />
Tal postura, além do ganho material e ecológico,<br />
também repercute positivamente junto ao público<br />
interno e externo, mostrando atitude de responsabilidade<br />
social do hotel.<br />
Mas para que o esforço ecológico seja eficaz, é<br />
necessário que esteja incorporado na cultura<br />
organizacional desses hotéis e que todos os<br />
públicos de interesse estejam engajados, ou seja,<br />
tanto o público interno (direção, gerentes, funcionários)<br />
como externo (hóspedes, fornecedores,<br />
comunidade).<br />
Especificamente no plano ambiental, verifica-se<br />
que, no caso brasileiro, há avanços e estagnações:<br />
“Predomina no setor industrial brasileiro,<br />
entretanto, uma cultura técnica nessa matéria que<br />
oscila entre a total irresponsabilidade ou improvisação<br />
e uma postura “receptiva” emergente em<br />
matéria de controle de poluição. As condutas<br />
improvisadas, em geral, são tipicamente “reati-<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
vas”: surgem como resposta da direção empresarial<br />
às pressões de autoridades ambientais e<br />
desaparecem ao serem (quando o são) executadas<br />
medidas emergenciais corretivas destinadas a<br />
apagar incêndios.” (Neder, 1992, p. 7)<br />
Na prática, percebe-se que nenhuma organização<br />
consegue ser 100% ambiental ou ecológica;<br />
por mais que cuide do meio ambiente, trabalhe com<br />
produtos ambientalmente corretos, sempre<br />
praticará atividades ou utilizará recursos que, de<br />
certa forma, trazem impacto e prejuízo ecológico.<br />
Dessa forma, a presença do fator ambiental não<br />
pode ser colocada de forma purista ou total,<br />
aceitando-se nessa categoria empresas que<br />
melhorem sua performance e a do seu setor com<br />
práticas ambientalmente melhores ou sustentáveis.<br />
Corrado (1994. p. 112-119) menciona pesquisa<br />
em que muitas empresas americanas ainda não<br />
empregavam uma política ambiental escrita: somente<br />
7% dos executivos, em 1991, declararam estar<br />
tranquilos quanto ao entendimento das questões<br />
ambientais relativas à empresa e que também havia<br />
programas adequados para fazer face a riscos desse<br />
tipo. No que diz respeito aos empregados, a pesquisa<br />
sugeriu que as preocupações ambientais precisam<br />
ser integradas à cultura e aos valores centrais da<br />
organização. No entanto, o mesmo autor argumenta<br />
que a empresa que tenta mostrar ao mercado uma<br />
posição de compromisso com o ambiente também<br />
tende a ser mais “vigiada” pela mídia.<br />
Aferir a cultura organizacional diante do fator<br />
ambiental é algo complexo. Para indicar uma das<br />
possibilidades desse tipo de análise, propomos um<br />
quadro (Quadro 1) em que se destacam as ações<br />
de gerenciamento ambiental e o perfil da organização<br />
quanto ao nível de risco ecológico3 que<br />
envolve suas atividades.<br />
julho/dezembro-2003<br />
Quadro 1<br />
Pró-ativa: mesmo que seus negócios envolvam<br />
pouco risco ambiental, coloca em prática atividades<br />
de gerenciamento ecológico como uma atribuição.<br />
Ajustada: desenvolve atividades de maior risco<br />
ambiental, mas possui diversas ações de gestão a<br />
fim de minimizar os problemas ou até evitar<br />
ocorrências.<br />
Pragmática: devido ao fato de estar em ramo<br />
que proporciona baixo impacto ambiental, pouco<br />
faz em gestão ecológica, não possuindo uma visão<br />
maior do que seja a postura verde e suas vantagens<br />
competitivas.<br />
Acomodada: embora inserida em atividades de<br />
maior risco ambiental, pouco faz, não acreditando<br />
em acidentes ou crises e, em acontecendo<br />
problemas, toma decisões no sentido de manipular<br />
informações, minimizar a ocorrência ou desqualificar<br />
os denunciantes.<br />
A PUBLICIDADE INTERAGINDO COM A<br />
CULTURA ORGANIZACIONAL E O<br />
FATOR AMBIENTAL<br />
A interação positiva da publicidade com o fator<br />
ambiental ocorre na medida em que a instituição<br />
ostenta uma cultura socialmente responsável.<br />
Mostrar implícita ou explicitamente, por meio da<br />
publicidade, ações ambientais que se revelam<br />
incoerentes, além de provocar erro estratégico no<br />
posicionamento institucional ou mercadológico,<br />
pode gerar descrédito junto aos públicos de<br />
interesse.<br />
No Quadro 2, argüimos os principais<br />
anunciantes em publicidade no Brasil em 2001 4 ,<br />
contrapondo-lhes três ações institucionalizadas de<br />
responsabilidade social: uma em gestão ambiental/<br />
meio ambiente (2003) 5 , outra na defesa do<br />
consumidor (número de reclamações 6 no banco de<br />
dados do Procon-SP em 2002) e outra quanto ao<br />
número de anúncios que contrariaram dispositivos<br />
do Código Nacional de Auto-regulamentação<br />
Publicitária/Conar (2000/2003) 7 .<br />
3 É possível enquadrar diferentes setores em níveis de risco ambiental, caso dos que proporcionam riscos mais altos – indústrias metalúrgicas e minerais – até<br />
mais baixos – mobiliário e vestuário (Torres, 1996, p. 47-49).<br />
4 Fonte: Meio e Mensagem/Anuário da Propaganda 2003.<br />
5 Ações ambientais quanto a gerenciamento ecológico, divulgação de suas atividades sustentáveis e programas ambientais institucionalizados em 2003.<br />
6 Consideramos 25 o número máximo tolerável de reclamações não atendidas.<br />
7 Foram contabilizados anúncios (2000 a 2003) em que o Conar exigiu sustação ou alteração por contrariarem dispositivos do Código em vigor. Consideramos<br />
3 o número máximo tolerável de anúncios modificados por ação do Conar no período 2000/2003. Fonte: Site do Conar, acessado em novembro de 2003.<br />
9
A dministração Artigo<br />
Dos 10 anunciantes, 7 não mostraram ter fatores<br />
de responsabilidade social plenamente instalados<br />
na cultura organizacional: Embratel e Fiat apresentaram<br />
problemas na área do consumerismo e<br />
ética publicitária. Casas Bahia não tem mostrado<br />
ações sustentáveis no plano ambiental e publicitário<br />
(ético). Liderança Capitalização não tem<br />
praticado institucionalmente ações ambientais. Itaú<br />
e Pão de Açúcar mostraram problemas consumeristas.<br />
A Unilever apresentou problemas na esfera<br />
da ética publicitária.<br />
Dependendo dos critérios, esta lista pode ser<br />
reduzida, caso de se atribuir um “delta de tolerância”<br />
por serem corporações que lidam com milhares ou<br />
milhões de consumidores, ou pode ser ampliada,<br />
caso de se ter uma tolerância menor para o número<br />
de anúncios modificados pelo Conar ou reclamações<br />
no Procon não atendidas.<br />
10<br />
Quadro 2<br />
Anunciantes Ambiente Procon Conar<br />
1. Unilever Sim 2 4<br />
2. Volkswagen/<br />
Seat<br />
Sim 24* 0<br />
3. Embratel Sim 1.255 11<br />
4. Fiat Sim 46* 6<br />
5. General Motors Sim 22 2<br />
6. Casas Bahia Não 19 4<br />
7. Liderança<br />
Capitalização<br />
Não 0 0<br />
8. Itaú Sim 199** 1<br />
9. Pão de Açúcar Sim 92 0<br />
10. Ford Sim 9* 1<br />
(*) Somente reclamações sobre veículos.<br />
(**) Somente reclamações sobre serviços bancários.<br />
Sugerimos, a seguir, um outro modelo (Quadro 3)<br />
que pode apontar correlações da publicidade<br />
focada no meio ambiente junto a ações ambientais.<br />
Assim, uma organização (Anunciante) pode<br />
posicionar-se de acordo com a intensidade com<br />
que usa o fator ecológico (Fator-E) na publicidade<br />
e o grau de “esverdeamento” (envolvimento com<br />
os fatores ambientais):<br />
Quadro 3<br />
Verde pra valer: quando tem o fator ambiental<br />
presente e instalado na cultura organizacional,<br />
manifestando-o também em peças publicitárias.<br />
Discretamente, Verde: caracteriza-se por não ser<br />
anunciante, o que impede o mercado de conhecer,<br />
por meio da publicidade, suas ações ambientais,<br />
que seriam coerentes no âmbito da responsabilidade<br />
social.<br />
Eu, Verde?: é a organização que não pratica<br />
ações na área ambiental, portanto sem motivação<br />
para inserir atributos ecológicos em sua comunicação<br />
publicitária.<br />
Vejam-me Verde: caracteriza o anunciante que<br />
desenvolve ações ambientais de forma errática e<br />
incoerente, mas eventualmente passa para a sua<br />
publicidade “preocupações” ambientais.<br />
É uma tarefa bastante complexa analisar, de<br />
forma completa, a relação do trabalho publicitário<br />
com a cultura organizacional e o meio ambiente.<br />
Depende de uma série de correlação de variáveis,<br />
além de ser necessário empreender um trabalho<br />
de profundidade para verificar a procedência e<br />
coerência dos valores envolvidos. Portanto, nossa<br />
pretensão é apenas apontar (Quadro 4) possíveis<br />
situações indicativas dessa situação tendo em vista<br />
os referenciais teóricos e os Quadros até aqui<br />
apresentados.<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
8 Optamos por inserir apenas um exemplo de organização.<br />
9 Exemplos não faltam para registrar essa tipologia, como a Indústria de Papel e Celulose Cataguazes (Minas Gerais) que, em função de descuido na estocagem<br />
de tanques com produtos químicos, em 2003, provocou grande impacto ambiental no Rio Paraíba do Sul e cercanias. Seu discurso perante a mídia após o<br />
acidente foi de afrontamento às autoridades públicas e minimizadores da ocorrência (Fonte: Site da empresa, 2003).<br />
julho/dezembro-2003<br />
Quadro 4<br />
Tipologias Anunciantes<br />
(Quadro 2)<br />
Detalhamento (2003)<br />
8<br />
Pró-ativa Pão de Açúcar Empresa do setor alimentício. Destacam-se<br />
programas como os de incentivo à coleta de<br />
lixo reciclável e parcerias para projetos sociais<br />
na área ecológica.<br />
Quadro 1 Ajustada Volkswagen Empresa da indústria automobilística. Possui<br />
gerenciamento ambiental em suas fábricas.<br />
Pragmática Liderança/ Empresa do setor financeiro sem programa<br />
Capitalização institucionalizado para o meio ambiente.<br />
Acomodada Nenhum Não ocorreu na amostra 9<br />
Verde pra valer. Ford Anúncios recentes com o modelo EcoSport (Slogan<br />
“Bem-vindo à vida” e Prêmio de melhor anúncio –<br />
Revista Cláudia/2003) e presença constante do<br />
Selo do IBAMA/Proconve nos anúncios.<br />
Discretamente, Nenhum Nesta categoria, a organização não poderia ser<br />
Verde. anunciante ou sê-lo discretamente.<br />
Quadro 3 Vejam-me Verde. Embratel Possui algumas ações e parcerias em projetos<br />
ambientais, mas não usa elementos ecológicos em<br />
anúncios e até tem apresentado peças contrárias<br />
ao ambientalismo, caso do comercial em que a<br />
consumidora prefere conversar bastante ao<br />
telefone e não se importar com o desperdício de<br />
água transbordando da banheira.<br />
Eu, Verde? Casas Bahia Nos anúncios recentes não tem utilizado<br />
elementos ecológicos.<br />
11
A dministração Artigo<br />
Uma ressalva que deve possuir qualquer<br />
intenção classificatória para as organizações referese<br />
às mudanças nos valores organizacionais,<br />
possibilitando que essas mesmas instituições<br />
mudem de categoria tipológica face a opções na<br />
gestão estratégica. Assim, mesmo as organizações<br />
que se posicionaram favoravelmente na questão<br />
ambiental (“Pró-ativa”, “Ajustada”, “Verde pra valer”<br />
e “Discretamente, Verde”) podem desenvolver tais<br />
atividades de forma incompleta ou sazonal,<br />
fazendo com que sejam relativizadas.<br />
O Quadro 4 não permite uma análise conclusiva,<br />
mas oferece indicadores que apontam duas<br />
situações críticas: a) “Conflitante”, em que se<br />
observa incoerências na divulgação das ações<br />
ambientais registradas principalmente nas<br />
tipologias “Acomodada” e “Vejam-me Verde”;<br />
ADLER, R. P.; FIRESTONE, C. M. A conquista da atenção:<br />
a publicidade e as novas formas de comunicação. São<br />
Paulo: Nobel, 2002.<br />
ASHLEY, P. A. (Coord.) Ética e responsabilidade social<br />
nos Negócios. São Paulo: Saraiva, 2002.<br />
BUENO, W. C. Comunicação empresarial: teoria e<br />
pesquisa. Barueri: Manole, 2003.<br />
CABRAL, P. Propaganda para quem paga a conta: do<br />
outro lado do muro, o anunciante. 2. ed. São Paulo:<br />
Summus, 2001.<br />
CORRADO, F. A força da comunicação. São Paulo:<br />
Makron, 1994.<br />
DIAS, R. Cultura organizacional. Campinas: Alínea,<br />
2003.<br />
FREITAS, M. É. Cultura organizacional: formação,<br />
tipologias e impactos. São Paulo: Makron, 1991.<br />
MAIMON, D. Passaporte verde: gestão ambiental e<br />
competitividade. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1996.<br />
12<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
b) “Omissa”, em que se verifica ausência do fator<br />
ambiental na comunicação, algo tipificado nas<br />
tipologias “Pragmática” e “Eu, verde?”.<br />
Não é intenção discutir qual dessas duas posturas<br />
causaria maior prejuízo à organização em<br />
termos de credibilidade, posicionamento mercadológico<br />
e respaldo às práticas de cidadania; talvez<br />
essa questão só possa ser respondida quando a<br />
instituição depender de certo nível de endosso<br />
social para suas práticas de mercado.<br />
A publicidade é um dos instrumentos de<br />
marketing que pode ajudar a organização tanto<br />
em seu posicionamento como reposicionamento<br />
socialmente responsável, fator esse que deve ser<br />
levado em conta na gestão ambiental e que pode<br />
se converter em grande diferencial competitivo.<br />
NADLER, D. A.; HACKMAN, J. R.; LAWLER, E. E.<br />
Comportamento organizacional. Rio de Janeiro:<br />
Campus, 1983.<br />
NEDER, R. T. Há política ambiental para a indústria<br />
brasileira? Revista de <strong>Adm</strong>inistração de Empresas,<br />
São Paulo: FGV, ano 32, n. 2, p. 7, abr./jun. 1992.<br />
OTTMAN, J. A. Marketing verde: desafios e<br />
oportunidades para a nova era do marketing. São Paulo:<br />
Makron, 1994.<br />
ROMM, J. J. Um passo além da qualidade. São Paulo:<br />
Futura, 1996.<br />
TAVARES, M. G. P. Cultura organizacional: uma<br />
abordagem antropológica da mudança. Rio de Janeiro:<br />
Qualitymark, 1993.<br />
TORRES, H. G. Indústrias sujas e intensivas em recursos<br />
naturais: importância crescente no cenário industrial<br />
brasileiro. In MARTINE, G. (Org.). População, meio<br />
ambiente e desenvolvimento: verdades e contradições.<br />
2. ed. Campinas: Unicamp, 1996, p. 44-53.<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
UM ESTUDO SOBRE A UTILIZAÇÃO DO<br />
MARKETING OLFATIVO NO BRASIL<br />
Este artigo analisa a utilização do sentido da<br />
olfação como a mais nova arma do processo da<br />
comunicação mercadológica. Em sua primeira<br />
parte são vistos os aspectos de influência do aroma<br />
como elemento motivador dos indivíduos<br />
expostos, desde a sua utilização através dos<br />
tempos e por meio de pesquisas científicas que<br />
dão sustentação ao sentido da olfação como<br />
elemento de marketing. As principais constatações<br />
que a pesquisa de campo apurou foram: 1. Não<br />
foram verificados pontos inéditos, relevantes e<br />
tampouco divergentes das formas e alternativas<br />
praticadas em outros países. 2. O aroma é sempre<br />
utilizado como um recurso adicional a outros<br />
recursos de marketing, de uma maneira complementar.<br />
3. As empresas pesquisadas têm fortes<br />
expectativas de conhecer mais sobre os efeitos<br />
dos aromas sobre a mente, corpo e emoções das<br />
julho/dezembro-2003<br />
Fausto Barbosa Júnior<br />
<strong>Adm</strong>inistrador de Empresas pela Universidade Mackenzie.<br />
Professor das Faculdades Carlos Drummond de Andrade e Interlagos.<br />
Gerente de Vendas na área de Multimídia e Micro-empresário do ramo de Papelaria.<br />
E-mail: fbarbosajunior@yahoo.com.br<br />
José Adeodato de Souza Neto<br />
Químico pela Escola Superior de Química da Universidade Federal de Pernambuco,<br />
pH.D. em Engenharia Química pela Universidade da Flórida (Estados Unidos),<br />
Professor da UNICID – Universidade Cidade de São Paulo.<br />
Consultor na área de Gestão Tecnológica, com trabalhos desenvolvidos em<br />
Gestão Tecnológica e Promoção de Negócios, Investimentos Internacionais e<br />
Transferência de Tecnologia e <strong>Adm</strong>inistração de Pesquisa.<br />
E-maiI: jose.adeodato@superig.com.br<br />
R E S U M O<br />
pessoas. Resultados específicos que merecem<br />
destaque. Uma empresa entrevistada declarou ter<br />
conseguido aumentar as vendas de um produto<br />
após a associação de um aroma específico, comunicando<br />
a este uma imagem mais forte de melhor<br />
qualidade. Outra empresa relatou aumentos de<br />
vendas de 20% no mercado internacional e 40%<br />
no mercado doméstico pela associação de aroma<br />
ao anúncio. Foram também testemunhados lances<br />
de genialidade em novos produtos como a adição<br />
de um aroma de chocolate a um creme de pele.<br />
Apesar de já estar presente em muitos segmentos<br />
do mercado brasileiro, o uso do marketing olfativo<br />
ainda é pouco expressivo e a publicidade a respeito<br />
somente agora começa a despontar.<br />
Palavras-chave: aroma, perfume, marketing,<br />
olfação, motivação, elemento exposto.<br />
13
A dministração Artigo<br />
This article analyzes the use of the olfaction’s sense<br />
as the newest weapon for the marketing process<br />
communication. In its first part, it discusses the<br />
aspects of the smell influence in the individual<br />
motivation, viewed from the standpoint of the<br />
history of fragrances, and through scientific<br />
researches, which provides support to the olfaction<br />
as a marketing element. The research results may<br />
be summarized as follows: 1. Unpublished, relevant<br />
or divergent points weren’t found if field findings<br />
are compared with what happens in other<br />
countries. 2. Fragrance is always used as a<br />
complementary tool to others marketing practices.<br />
3. The interviewed companies showed strong<br />
expectations of knowing more about the effects<br />
fragrances on human mind, body and emotions.<br />
The following are specific results that deserve<br />
Neste artigo aborda-se a utilização do sentido<br />
da olfação como a mais nova arma do processo da<br />
comunicação mercadológica, bem como as suas<br />
alternativas de uso no contexto dos diversos<br />
segmentos de atividade.<br />
As conclusões obtidas por este estudo resultaram<br />
de um processo de pesquisa por acessibilidade,<br />
tendo sido utilizado o método de entrevistas para<br />
o levantamento das informações requeridas.<br />
A principal expectativa em relação à utilização<br />
desse recurso olfativo na esfera da comunicação<br />
mercadológica é o conhecimento da forma pela qual<br />
ele influencia as avaliações de um indivíduo exposto,<br />
diante da sua opção de escolha, entre os diversos<br />
produtos ou serviços postos à sua disposição.<br />
A partir da constatação da influência exercida<br />
pelo aroma, buscou-se conhecer as formas pelas<br />
quais as empresas incorporam este recurso no mix<br />
de sua estrutura de marketing, bem como as<br />
possíveis dificuldades enfrentadas com a sua<br />
utilização, os resultados conseguidos em termos<br />
de desenvolvimento de negócios e se esta nova<br />
ferramenta pode ser utilizada indistintamente, nos<br />
diversos segmentos de mercado.<br />
14<br />
PREMISSAS<br />
As pesquisas bibliográficas realizadas na primeira<br />
etapa deste estudo remeteram os pesquisadores<br />
ABSTRACT<br />
comments. One interviewed company declared to<br />
have increased product sales, after a specific sent<br />
association, which they claim improved product<br />
quality image. Another company claimed to have<br />
enhanced international sales up to 20% and<br />
domestic sales up to 40% after the use of fragrance<br />
on marketing material. AIso some experiences were<br />
reported as brilliant and original ideas, as it was<br />
the case of the addition of chocolate sent to a skin<br />
cream. Finally, it should be noticed that, in spite of<br />
the presence of fragrances in many Brazilian’s<br />
market segments, such marketing practice is not<br />
well known and the publicity about it only<br />
beginning.<br />
Keywords: fragrance, smell, perfum, marketing,<br />
olfaction, motivation, exposed element.<br />
ao conhecimento e à compreensão das interferências<br />
que o aroma exerce no comportamento das<br />
pessoas expostas, a partir de uma nova ciência, a<br />
aromacologia.<br />
Segundo Annette Green do Olfactory Research<br />
Found – New York apud Rodrigues (2001), esta<br />
ciência explora as inter-relações existentes entre<br />
a psicologia e as últimas evoluções da tecnologia<br />
em matéria de fragrância.<br />
Essa inter-relação permite a transmissão de<br />
vários sentimentos positivos como o relaxamento,<br />
a sensualidade, o bom humor, a alegria, a<br />
realização, dentre outros, por meio dos odores.<br />
Rodrigues esclarece, ainda, que este é o foco<br />
através do qual a aromacologia vem conquistando<br />
o mundo, amparando amplamente o mercado<br />
europeu e americano a partir dos anos 1990.<br />
No entanto, o marketing olfativo é muito mais<br />
abrangente; atualmente já se encontra presente<br />
na aromatização dos pontos de venda e de<br />
prestação de serviços, em ambientes esportivos,<br />
culturais, educacionais, de trabalho, o que nos<br />
permite considerar outras referências inerentes ao<br />
perfume, com o objetivo de reforçar a sua utilização<br />
através do sentido da olfação, como instrumento<br />
de marketing.<br />
A sua própria história endossa esta tese; Shreve<br />
(1999) lembra que a origem científica do termo<br />
“Per fuma-re”, encher de fumo, remonta de antigas<br />
civilizações orientais que, originalmente, “queima-<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
vam” o incenso em sua forma primitiva consistindo<br />
em simples misturas de substâncias odoríferas<br />
finalmente cominuidas e aglutinadas por mirra ou<br />
por estoraque.<br />
Fabíola Vieira (1999) relata a utilização da resina<br />
de olíbano extraída de árvores que cresciam ao<br />
sudoeste da Arábia e que, durante toda Antigüidade,<br />
foi comercializada de forma bastante intensa,<br />
por ser considerada uma substância suprema,<br />
capaz de alterar o humor.<br />
A “Enciclopédia Barsa” define o perfume como<br />
sendo um líquido volátil, de composição complexa,<br />
valioso em função de sua fragrância.<br />
Ao pesquisar o estado da arte em 1996, a Dra.<br />
Susan Knasko apud Lehu (1999 p. 153) observou<br />
que o aroma pode condicionar o individuo exposto<br />
ainda que ele permaneça inconsciente à sua<br />
presença.<br />
Outros estudos a partir deste sugerem que os<br />
indivíduos podem, psicologicamente, responder<br />
aos odores dos quais sequer têm consciência.<br />
Em seu livro, Lehu comenta, ainda, um caso<br />
bastante original de uma companhia britânica de<br />
recuperação de crédito que, com o apoio técnico<br />
de pesquisadores da Bodywise, desenvolveu um<br />
aroma à base de “androsterona”, extraído do suor<br />
masculino que, impregnado nas suas faturas,<br />
estimulava os indivíduos a pagá-las.<br />
Testes conduzidos pela Bodywise constataram<br />
que 17% dos indivíduos mais propensos a pagar<br />
estavam entre aqueles que receberam a fatura,<br />
através de uma carta odorisada, do que outros<br />
indivíduos que não as receberam.<br />
julho/dezembro-2003<br />
MOTIVAÇÕES<br />
Não obstante a gama de informações científicas<br />
e de artigos obtidos através de pesquisas de fontes<br />
secundárias, constatou-se que são poucos os<br />
registros referentes à aplicação dos recursos do olfato<br />
no campo do marketing.<br />
No Brasil, esta tecnologia começa a despontar<br />
por meio de suas aplicações no campo comercial e<br />
institucional.<br />
Assim, procurando trazer novas luzes à questão<br />
do marketing olfativo, foram realizadas pesquisas<br />
a respeito dos recursos do aroma como instrumento<br />
mercadológico que, no composto do seu mix, estão<br />
sendo desenvolvidos e utilizados para sensibilizar<br />
um público-alvo.<br />
Com este foco buscou-se um entendimento no<br />
que diz respeito a:<br />
a) Como estão sendo implementadas essas<br />
estratégias olfativas.<br />
b) Quais os principais problemas enfrentados<br />
nessa implementação.<br />
c) Que resultados foram alcançados com esse<br />
instrumento de marketing.<br />
d) Quais principais segmentos de negócio estão<br />
recorrendo a essas estratégias.<br />
O pesquisador procurou, ainda, trazer uma<br />
contribuição para o universo acadêmico em<br />
pesquisas subseqüentes a respeito deste tema ou<br />
outros correlatos, ou mesmo sinalizar às empresas<br />
que adotam estratégias olfativas em seu processo<br />
mercadológico informações que poderão ser, de<br />
alguma forma, úteis aos seus objetivos.<br />
METODOLOGIA<br />
Considerando o entendimento pretendido por<br />
este estudo, e ainda por se tratar de um tema<br />
relativamente recente, apresentando-se em estágio<br />
embrionário nas organizações nacionais, optou-se<br />
pela realização de um estudo exploratório.<br />
Ao se pesquisar as fontes de informações<br />
secundárias, também ficou evidenciada a escassez<br />
de publicações pertinentes à matéria, tanto em<br />
relação aos livros quanto a publicações de artigos,<br />
quer de ordem científica ou mesmo comercial.<br />
Foram identificados pouquíssimos conteúdos<br />
sobre o marketing olfativo, mesmo em pesquisas<br />
realizadas por meio da Internet, em base de dados<br />
acadêmicos como o Pro-quest e em sites como o<br />
Google, Global, Cadê, entre outros.<br />
Por essa razão, o pesquisador aprofundou suas<br />
investigações nos materiais bibliográficos e artigos<br />
disponíveis, focando o trabalho desenvolvido por<br />
Jean Mark Lehu (1999) em livro publicado na<br />
França, como forma de dar maior sustentação ao<br />
estudo e consubstanciado no argumento de que a<br />
pesquisa bibliográfica fornece instrumental<br />
analítico para qualquer tipo de pesquisa, ainda que<br />
possa esgotar-se em si mesma conforme posiciona<br />
Vergara (2000, p. 52).<br />
15
A dministração Artigo<br />
Quanto à investigação de indivíduos que possam<br />
dispor de informações pertinentes à matéria,<br />
buscou-se, inicialmente, a indicação das principiais<br />
entidades ligadas ao segmento, como a Abiquim –<br />
Associação Brasileira das Indústrias Químicas, a<br />
Abifarma – Associação Brasileira das Indústrias<br />
Farmacêuticas, a Abifina – Associação BrasiIeira das<br />
Indústrias de Química Fina e a Adipec – Associação<br />
dos Distribuidores e Importadores de Perfumes,<br />
Cosméticos e Similares; contudo, não foi possível a<br />
obtenção de registros consistentes que pudessem<br />
amparar o processo de pesquisa.<br />
Em face das dificuldades enfrentadas e diante<br />
da existência de outros tipos de amostras possíveis<br />
de serem utilizadas, optou-se, então, pelo modelo<br />
de acessibilidade, amparado pela metodologia da<br />
entrevista.<br />
Como elemento de apoio o pesquisador desenvolveu<br />
um roteiro, medianamente estruturado e<br />
não disfarçado, abordando os temas inerentes aos<br />
objetivos pretendidos, a saber:<br />
1 - Principais argumentos motivacionais.<br />
2 -Grau de importância dessa ferramenta na<br />
propaganda / publicidade da empresa.<br />
3 - Utilização desses recursos pela concorrência.<br />
4 -Problemas enfrentados na implementação<br />
desses recursos.<br />
5 - Resultados alcançados<br />
6 -Expectativas com relação ao uso do recurso<br />
olfativo como ferramenta de marketing.<br />
A transcrição das entrevistas realizadas, foi<br />
submetida aos entrevistados, para as retificações<br />
julgadas cabíveis.<br />
Estas entrevistas foram realizadas com os<br />
principais executivos de empresas que adotam o<br />
marketing olfativo em seu “portfolio” de ações<br />
mercadológicas e com outros especialistas no<br />
assunto que atuam em segmentos afins e que,<br />
presumivelmente, puderam agregar informações<br />
valiosas para um melhor entendimento da questão<br />
do aroma no esforço comercial das organizações.<br />
16<br />
ANÁLISES REALIZADAS<br />
No que se refere aos principais argumentos<br />
motivacionais que ensejaram a adoção do<br />
marketing olfativo pelos entrevistados, as<br />
considerações exaradas, ainda que em abordagens<br />
específicas, ressaltam como proposta principal a<br />
melhoria da percepção do consumidor para o<br />
produto oferecido, por meio de apelos à sua<br />
satisfação pessoal e/ou ambiental.<br />
Constatou-se uma certa unanimidade quanto ao<br />
fato de o marketing olfativo ser um ferramental a<br />
ser utilizado de maneira conjugada; as ações de<br />
marketing relativamente à propaganda e a<br />
publicidade requerem uma aplicação conjunta de<br />
seus recursos, onde o olfativo seja parte integrante.<br />
Houve grande destaque à atuação do aroma<br />
sobre as reações emocionais da pessoa exposta,<br />
independentemente do segmento de mercado<br />
(alimentício, cosméticos, etc...), com ênfase ao<br />
segmento de cosméticos, onde estas reações<br />
podem ser ainda mais emocionais, por se tratar<br />
de um campo de aplicação em que a fragrância é o<br />
ponto principal da atenção do consumidor.<br />
Houve divergências quanto ao uso do aroma de<br />
forma isolada como ferramenta de marketing; há<br />
opiniões de que sua percepção, em ambientes ou<br />
em pessoas, poderá transportar à memória do<br />
indivíduo exposto a lembrança de já tê-Io sentido<br />
antes e, assim, associar essa percepção à anterior,<br />
boa ou má, dependendo do tipo de reação<br />
provocada pelo cheiro.<br />
A fragrância em si mesma é considerada como<br />
o próprio marketing. Ela pode ser aplicada como<br />
elemento de reconhecimento pessoal ou mesmo<br />
ambiental; atrai pela sua percepção e identifica o<br />
seu portador (lojas, marcas, produtos, por<br />
exemplo). A conclusão é unânime: trata-se de uma<br />
assinatura olfativa.<br />
Esta característica do aroma foi constatada tanto<br />
nas pesquisas bibliográficas mencionadas, em<br />
situações de uso por magazines, organizações<br />
financeiras e mesmo no campo pessoal, pelo seu<br />
emprego por atores que buscam uma identificação<br />
própria, quanto nas entrevistas de campo.<br />
No que se refere ao aroma como elemento de<br />
propaganda, os entrevistados destacaram a grande<br />
importância de sua aplicação, desde a utilização<br />
como instrumento de promoção pessoal, até o uso<br />
que dele se faz como “logolf” ou logotipo, ao ser<br />
considerado equivalente aos “jingles”.<br />
Na utilização desse recurso em planos<br />
promocionais e publicitários, os entrevistados<br />
buscam transformá-lo num sinal de identificação –<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
de uma etiqueta, de uma marca, de uma qualidade<br />
ou até mesmo do espírito de um produto,<br />
amparando ou complementando as características<br />
e as funções exercidas pelos demais recursos<br />
utilizados (audiovisuais).<br />
Também recorrem a materiais de apoio inovadores,<br />
como “cards”, materiais termocrômicos,<br />
microencapsulados que são encartados em revistas<br />
(forma clássica), “outdoor”, catálogos, páginas<br />
publicitárias, e no marketing direto.<br />
Em níveis subliminares o apelo olfativo visa ao<br />
estímulo do indivíduo exposto, tanto sob o aspecto<br />
de desempenho, ao excitá-lo ou acalmá-lo a<br />
determinadas atividades, quanto de ordem motivacional,<br />
incitando-o ao consumo de determinados<br />
produtos ou serviços, sensibilizado pelo palato ou<br />
por efeitos ambientais.<br />
No entanto, foi constatado que a comunicação<br />
publicitária tradicional recorre ao olfato em<br />
proporções bem menores do que aos demais<br />
recursos.<br />
Quanto ao comportamento concorrencial,<br />
evidenciou-se a preocupação que as marcas têm<br />
em diferenciar-se ou distinguir os seus produtos<br />
dos da concorrência; o foco é sempre promover<br />
uma vantagem competitiva, algo que torne o<br />
produto diferente, se não melhor, em relação aos<br />
demais, disponíveis no mercado.<br />
Por não se tratar de um mercado inovador, as<br />
empresas brasileiras seguem tendências ditadas<br />
pelo internacional, notadamente o americano e o<br />
europeu, que realizam intensas pesquisas de mercado<br />
e sensoriais, para identificar as preferências<br />
de consumo e suas alterações, fenômeno que se<br />
modifica de tempos em tempos.<br />
No entanto, ainda não existem concorrentes<br />
diretos no mercado brasileiro. Uma das empresas<br />
entrevistadas, por exemplo, ressaltou a existência<br />
de organizações que oferecem produtos sucedâneos<br />
ou artigos com sistemas operacionais semelhantes,<br />
mas que se destinam a segmentos de produtos ou<br />
de mercados distintos.<br />
Relativamente aos problemas resultantes da<br />
implantação do marketing olfativo, as empresas<br />
pesquisadas não identificaram a ocorrência de<br />
grandes problemas, exceto alguns de ordem<br />
operacional, pouco representativos.<br />
Existe, ainda, alguma dificuldade no desenvolvimento<br />
de aromas personalizados quando desti-<br />
julho/dezembro-2003<br />
nados a “logos olfativos”, circunstância em que a<br />
solução recomenda o desenvolvimento de<br />
“briefings” da fragrância requerida pelo cliente.<br />
As indústrias dispõem de estatísticas de notas e<br />
ingredientes que não são utilizados por provocarem<br />
rejeições quando introduzidos na formulação de<br />
produtos, como os de beleza com fragrâncias<br />
“gourmet”.<br />
Certos aromas poderão comprometer a saúde<br />
das pessoas a eles expostas, se alérgicas. Assim,<br />
na sua escolha, optam-se pelos que sejam menos<br />
suscetíveis de provocar alergia; aromas menos<br />
insinuantes, mais leves e sem registros de exageros<br />
na sua dosagem.<br />
Consoante com a literatura observada é oportuno<br />
observar que existem, ainda, obstáculos de ordem<br />
técnica, como a perenidade requerida num aroma;<br />
o seu usuário perde a sensação de percepção alguns<br />
segundos após tê-lo sentido.<br />
Aumentar a intensidade odorante num ambiente<br />
para solucionar este problema ensejaria outro<br />
ainda maior, o de tornar o ambiente irrespirável.<br />
Desempenho e segurança também foram<br />
objetos de atenção; a toxidade e/ou a flamabilidade<br />
podem, mais uma vez, ser objeto de problemas de<br />
saúde.<br />
Constatou-se, ainda, a possibilidade de<br />
ocorrência de problemas de ordem ética, diante da<br />
impossibilidade de os aromas serem “aprisionados”<br />
em sua utilização estratégia de marketing. Em sua<br />
obra, Lehu (1999) comenta que, a exemplo dos<br />
mitos publicitários subliminares, os aromas podem<br />
ter influência no subconsciente do comprador e,<br />
por conseqüência, em seu comportamento, sem que<br />
ele se aperceba e controle esse fenômeno.<br />
CONCLUSÕES<br />
Apesar das diferenças de focos existentes entre<br />
as empresas entrevistadas, seus respectivos objetivos<br />
visam, sempre, ao consumidor, quer no que tange<br />
à promoção de seu bem-estar social, emocional ou<br />
físico, quer em sua satisfação relativamente ao<br />
ambiente onde se encontra, agregando qualidade<br />
ao produto ou serviço ofertados.<br />
O desempenho alcançado por uma das<br />
empresas entrevistadas refletiu esta constatação,<br />
ao declarar a conquista de brasileiros por meio de<br />
17
A dministração Artigo<br />
um novo conceito de marketing (o olfativo) contido<br />
em produtos reputados de qualidade, modernos e<br />
sofisticados, existentes no mercado internacional.<br />
Agregar qualidade foi o principal objetivo; cada<br />
segmento tem um referencial diferente, de credibilidade,<br />
de confiança, de bem estar, de sofisticação<br />
e de tranqüilidade. Busca-se um diferencial em<br />
relação ao que seu concorrente mais próximo<br />
oferece. O objetivo: aumentar as vendas.<br />
Outra empresa componente da pesquisa atestou<br />
os bons resultados alcançados ao perfumar um<br />
anúncio, recurso fortemente utilizado no lançamento<br />
de um perfume. Estimou ser possível um retorno<br />
sobre vendas da ordem de 20%, no mercado<br />
internacional e em até 40% no mercado brasileiro,<br />
fato atribuído ao ineditismo do sistema e ao perfil<br />
do consumidor brasileiro.<br />
Ressaltou, ainda, a possibilidade de uma significativa<br />
economia de custos, se comparada a<br />
promoções de ponto de venda com recursos do<br />
tipo sachê para experimentação, amostra para<br />
degustação, entre outras, além de se tratar de uma<br />
ferramenta importante para segmentos de higiene,<br />
limpeza, alimentício, farmacêutico e editorial, não<br />
se limitando às indústrias de perfumes e de<br />
cosméticos.<br />
“Lances de genialidade” também foram destacados;<br />
um dos executivos entrevistados comentou<br />
o recente lançamento de um creme para a pele<br />
com aroma de chocolate. “Trata-se de um aroma<br />
18<br />
de risco, por reportar lembranças de tempos idos<br />
onde o produto, ainda que delicioso, ensejava um<br />
lambuzar próximo à sujeira”.<br />
As expectativas desse ferramental olfativo, para<br />
as empresas pesquisadas, são de agregar maiores<br />
conhecimentos a respeito da atividade molecular<br />
das fragrâncias que determinam suas celeridades<br />
sobre a mente, o corpo e as emoções.<br />
Depreende-se, a partir destes objetivos, que<br />
estes conhecimentos devam ser aplicados no<br />
desenvolvimento de novos produtos de aplicações<br />
terapêuticas.<br />
Em suma, o que se constatou foi o objetivo de<br />
atrair o consumidor por meio de um aroma, em<br />
suas diversas formas de apresentação e exposição<br />
agregada ou não a outros elementos complementares<br />
do conjunto da comunicação promocional e<br />
publicitária, dependendo do momento e/ou do<br />
objeto da proposta, mas sempre com a finalidade<br />
de incitá-lo a um produto ou serviço.<br />
No Brasil, pode ser constatado, junto às organizações<br />
abordadas no âmbito da grande São Paulo,<br />
que a utilização do marketing olfativo não apresentou<br />
pontos inéditos, relevantes e tampouco<br />
divergentes das formas e alternativas praticadas<br />
em países da comunidade internacional.<br />
Apesar de já estar presente em muitos segmentos<br />
do mercado brasileiro, o uso do marketing olfativo<br />
ainda é pouco expressivo e a publicidade a respeito<br />
somente agora começa a despontar.<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
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19
A dministração Artigo<br />
20<br />
TRANSFORMAÇÃO NO MODELO DE<br />
GESTÃO DE UM GRUPO NACIONAL DE<br />
AUTO-PEÇAS APÓS SUA AQUISIÇÃO<br />
POR UMA CONGÊNERE<br />
MULTINACIONAL FRANCESA<br />
Eduardo de Camargo Oliva<br />
IMES – Centro Universitário Municipal de São Caetano do Sul, e-mail edoliva@imes.edu.br<br />
Luiz Carlos Gianello<br />
IMES – Centro Universitário Municipal de São Caetano do Sul, e-mail gta.gianello@bol.com.br<br />
Valeo Sistemas de Segurança – evandro.alves@valeo.com<br />
R E S U M O ABSTRACT<br />
As transformações ocorridas no modelo de<br />
gestão de uma organização adquirida por um<br />
grupo francês constituem o tema central deste<br />
artigo. A fim de descobrir as características do<br />
processo de mudança, aplicou-se o método do<br />
estudo de caso, análise documental e entrevistas.<br />
A análise dos dados foi suportada por<br />
categorias estabelecidas em função dos modelos<br />
teóricos utilizados no estudo.<br />
O resultado apurado indica que as duas<br />
organizações possuíam modelos de gestão que<br />
respeitavam a cultura organizacional vigente e o<br />
ambiente de negócios em que operavam; no<br />
entanto, um era mais empírico e o outro, mais<br />
científico. O modelo mais científico, denominado<br />
de cinco eixos, originado do TPS – Toyota<br />
Productive System, apoiou-se em um sistema de<br />
comunicação total e no envolvimento das pessoas,<br />
mas ainda não se pode dizer que ele proporcionou<br />
autonomia plena e satisfação às pessoas.<br />
Palavras-chave: modelo de gestão, pessoas,<br />
participação, sistema de comunicação.<br />
Evandro Cleber Alves<br />
The changing of the administration model of an<br />
enterprise acquired by a multinational French<br />
group is the central object of this study. In order<br />
to discover the characteristics of the changing<br />
process, the case study method and the<br />
documental analyses and interviews were applied.<br />
The analysis of the data was supported by<br />
established categories extracted of the theoretical<br />
model used in this study. The result shows that<br />
both organizations had administration models<br />
that respected the organizational culture that<br />
existed at that moment. One model was more<br />
empirical and the other one was more scientific.<br />
The last model, named five axes based on the<br />
TPS – Toyota Productive System, used a total<br />
communication system that contributed to a<br />
greater involvement of the people, but did not<br />
offer total autonomy and satisfaction for them.<br />
Keywords: administration model, people,<br />
involvement, communication system.<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
julho/dezembro-2003<br />
INTRODUÇÃO<br />
O interesse em estudar as transformações que<br />
os modelos de gestão acarretam no comportamento<br />
de organizações e das pessoas vincula-se à linha<br />
de trabalho do pesquisador, que nos últimos anos<br />
tem se dedicado a este tema e as conseqüências<br />
que os processos de mudança desta ordem têm<br />
representado à sociedade, às organizações e às<br />
pessoas. Em termos operacionais adota-se neste<br />
trabalho a definição de modelo de gestão de Santos<br />
e Pereira (2001, p. 60) como sendo “uma<br />
simplificação da realidade, usada para transmitir<br />
relações complexas em termos fáceis de serem<br />
entendidos”. Segundo os autores, as práticas de<br />
gestão que procuram ser representadas pelo<br />
modelo podem referir-se a organização como um<br />
todo dentro de um enfoque específico ou a suas<br />
partes.<br />
Ao iniciar o desenvolvimento desta pesquisa,<br />
observou-se que os modelos de gestão, mesmo<br />
que imperfeitos, tiveram sua gênese a partir da<br />
revolução industrial, ocorrida entre os séculos XVIII<br />
e XIX, e do movimento da administração científica<br />
vigente no início do século XX, quando Taylor,<br />
segundo Zaccarelli (1990), ficou conhecido como<br />
pioneiro no estudo dos métodos e técnicas que<br />
possibilitavam o aumento da produtividade nas<br />
indústrias. Outro expoente desta escola foi Ford,<br />
que introduziu o conceito da linha de montagem<br />
para produção em larga escala. No entanto, o<br />
planejamento e a concepção das ações, bem como<br />
os níveis esperados de produção, eram feitos por<br />
especialistas que determinavam de forma<br />
autocrática o que e como deveria ser produzido.<br />
Na época eles propunham que esses ganhos em<br />
produtividade fossem revertidos para a sociedade<br />
em termos de diminuição dos preços e na elevação<br />
do valor médio dos salários, mas os fatos demonstraram<br />
que esses objetivos foram atingidos<br />
parcialmente. De acordo com Moreira (1991),<br />
embora o interesse por maior produtividade tenha<br />
ocorrido após a segunda grande guerra, e particularmente<br />
após a década de 1960, os estudos da<br />
fase moderna já tinham sido iniciados a partir da<br />
década de 1930.<br />
Portanto, essas idéias, conhecidas como modelo<br />
Taylorista/Fordista, desencadearam, segundo<br />
Dutra (2002), um modo de organização dos postos<br />
de trabalho e de sustentação do desenvolvimento<br />
econômico do pós-guerra, que de certa forma<br />
transformou-se em algo inquestionável, haja vista<br />
sua disseminação em todas as organizações,<br />
independentemente da ideologia predominante ou<br />
de sua finalidade. Ainda segundo esse mesmo<br />
autor, tal modo de organização não possibilitou<br />
um processo de desenvolvimento das pessoas por<br />
si mesmas e a sua ruptura se iniciou na década de<br />
1960, demonstrando que as décadas de 1970 e<br />
1980 foram de transição, e que a consolidação se<br />
efetivou a partir da segunda metade da década de<br />
1990 quando novos modelos de gestão de pessoas<br />
surgiram para cumprir sua finalidade por meio de<br />
novos conceitos e instrumentos.<br />
Interessado em conhecer essas transformações<br />
nos modos de gestão para os postos de trabalho<br />
em indústrias brasileiras, italianas e francesas de<br />
ponta, Salerno (1999) estudou aspectos dos<br />
sistemas de produção e da maneira de se gerir<br />
pessoas. Ele constatou que as empresas que<br />
necessitaram ser competitivas em produtos e<br />
processos tinham alterado o modo clássico de<br />
organizar os postos de trabalho, transformandoos<br />
em sistemas integrados e flexíveis automatizados.<br />
Essa forma de reestruturação produtiva,<br />
internacionalmente adotada, introduziu a gestão<br />
em equipes e por processos, ampliando e assegurando<br />
a propagação dos princípios da qualidade<br />
total, por meio de maior intercomunicação entre<br />
as pessoas e os grupos, o que proporcionaria<br />
maiores condições para se lidar com eventos<br />
inesperados. Embora as organizações possuam<br />
normas e indicadores estabelecidos em sentido<br />
top-down, para que os resultados obtidos possam<br />
ser comparados e avaliados, de acordo com esse<br />
autor, seria coerente que ao menos as metas<br />
fossem construídas ou negociadas com as pessoas.<br />
O modelo de gestão que privilegia indicadores<br />
e metas que posteriormente favorecerão o<br />
controle, segundo Muscat & Fleury (1993), é uma<br />
forma de a empresa se posicionar frente à<br />
competição, contribuindo para a criação de mecanismos<br />
e a utilização plena das competências<br />
internas. Sobretudo o modelo escolhido deverá ser<br />
capaz de avaliar se a empresa está realmente sendo<br />
competitiva e se está aperfeiçoando sua forma de<br />
atuação, relativamente às necessidades de seus<br />
clientes e à operação dos competidores mais<br />
diretos. Em síntese, a estratégia competitiva, no<br />
que diz respeito à manufatura, recomenda que se<br />
acompanhem cinco diferentes enfoques: custo,<br />
qualidade, tempo, flexibilidade, inovação. Cada um<br />
desses enfoques estratégicos possui fatores<br />
21
A dministração Artigo<br />
críticos de sucesso associados a indicadores de<br />
gestão. Esses autores, em pesquisa desenvolvida<br />
junto a algumas empresas brasileiras, identificaram<br />
os seguintes indicadores de gestão: pontualidade<br />
de entrega, custo unitário, porcentagem de sucata<br />
por processo, clima organizacional, produtividade<br />
dos insumos, índice de reclamações/devoluções e<br />
valor do estoque improdutivo.<br />
Constatou-se que não existem indicadores<br />
homogêneos para as empresas pesquisadas e que<br />
sua utilização se presta à monitoração da situação<br />
vigente e ao delineamento de cenários futuros e<br />
estratégias competitivas que serão concretizados à<br />
medida que se criem condições necessárias. Porém<br />
os indicadores afetam as relações entre as pessoas,<br />
principalmente no que diz respeito a negociação,<br />
comunicação e aprendizagem. Uma das observações<br />
de Castellano (2001) é que, se os indicadores forem<br />
usados para comparar as pessoas em função dos<br />
objetivos traçados, com certeza o medo se instalará<br />
e não haverá contribuição positiva em relação ao<br />
comprometimento com as necessidades dos clientes.<br />
Segundo o mesmo autor, Deming enfatizava que o<br />
gestor deveria manter o processo estável — dentro<br />
dos limites de tolerância —, promover a cooperação<br />
em vez da competição e criar uma cultura que<br />
inspirasse o orgulho de pertencer à organização.<br />
De acordo com Cardia (2002), os indicadores<br />
se materializam para as pessoas por meio do<br />
conceito de administração visual, utilizando-se<br />
quadros afixados nas paredes da área de produção.<br />
Segundo esta autora, tal metodologia está<br />
alicerçada em:<br />
22<br />
“uma adaptação do ciclo Deming ( SDCA –<br />
Padronização, Execução, Verificação e Ação),<br />
entendendo como: 1) Fabricar; 2) Inspecionar;<br />
3) Liberar/Bloquear; 4) Analisar e 5) Implementar<br />
ações corretivas. É um ciclo de ajuste da<br />
qualidade, que visa à retroalimentação de<br />
informações o mais próximo do posto de<br />
trabalho, para tomada de ações corretivas no<br />
local, evitando-se que ocorra uma epidemia dos<br />
problemas identificados.” (Cardia, 2002, p. 115)<br />
Alguns exemplos que evidenciam que essa<br />
prática já está sendo utilizada por algumas<br />
organizações e que justificam o interesse por essa<br />
pesquisa:<br />
1º) Na Volkswagen de Resende, o conceito de<br />
cliente interno é a base para a qualidade; as áreas<br />
se comunicam trocando informações sobre os<br />
problemas gerados e estabelecem as respectivas<br />
ações corretivas. Os principais indicadores da<br />
produção automotiva subordinam-se aos<br />
indicadores do sistema Audit (metodologia<br />
internacional de qualidade assegurada) e aos erros<br />
apontados pelo cliente final. Havendo distorções,<br />
as causas são analisadas, o plano de ação é<br />
ajustado e tudo fica exposto em quadros visuais<br />
de gestão.<br />
2ª) Na Petroflex, de acordo com o jornal Gazeta<br />
Mercantil de 02/10/2002, o conceito de quadros<br />
visuais de gestão já vem sendo praticado desde<br />
1998 e já reduziu em R$ 5 milhões os custos anuais<br />
de produção. No programa os funcionários têm<br />
acesso aos principais indicadores de gestão da<br />
empresa, planos de produção, metas e resultados.<br />
Além disso, podem apresentar projetos para<br />
melhoria de desempenho, redução de gastos,<br />
competitividade e melhoria da qualidade de vida<br />
no ambiente de trabalho, independentemente do<br />
nível hierárquico. Esse programa, que vinha sendo<br />
praticado na unidade de Cabo de Santo Agostinho<br />
– PE, já está sendo levado para outras duas<br />
unidades, uma em Triunfo – RS e outra em Duque<br />
de Caxias – RJ.<br />
Como pode ser notado nos exemplos acima, e<br />
segundo as pesquisas de Garcez (1998), o processo<br />
de Gestão pela Qualidade Total pressupõe que os<br />
indicadores e os planos de ação setoriais sejam fruto<br />
do desdobramento das diretrizes do presidente da<br />
empresa, por meio de negociação bilateral e diálogo<br />
intenso entre as lideranças e as pessoas, e portanto<br />
são passíveis de cobrança. Esse modelo de gestão<br />
se consubstancia na transparência por meio da<br />
comunicação visual e na exposição dos resultados<br />
atingidos.<br />
O problema de pesquisa que este estudo<br />
procurou responder foi: Quais as modificações<br />
introduzidas no modelo de gestão de uma indústria<br />
de auto-peças nacional, após sua aquisição por uma<br />
empresa multinacional francesa?<br />
Os objetivos específicos foram:<br />
1. Identificar como era o modelo de gestão antes<br />
da aquisição pela multinacional francesa.<br />
2. Apresentar o modelo escolhido e sua origem.<br />
3. Descrever o processo de mudança requerido<br />
com a implantação do modelo.<br />
4. Analisar se o modelo implantado pode ser<br />
caracterizado como participativo.<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
A empresa objeto de estudo é a Valeo Sistemas<br />
de Segurança. Essa empresa está presente em 25<br />
países, possui 70.000 colaboradores, 139 fábricas<br />
e 53 centros de tecnologia e inovação. Na Grande<br />
São Paulo está presente com duas unidades, uma<br />
no bairro da Cantareira na cidade de São Paulo, com<br />
500 funcionários, e outra no município de Diadema,<br />
com 236 funcionários. Suas atividades de fabricação<br />
de equipamentos automotivos iniciaram-se na<br />
França em 1921. No Brasil, a empresa chegou em<br />
1975 para fabricar Sistemas Térmicos e de<br />
Climatização, na cidade de Itatiba no Estado de São<br />
Paulo. O nome Valeo deriva do latim e significa<br />
“Sentir-se Bem”. Em Abril de 1997 foi iniciada a<br />
fabricação de Sistemas de Segurança, por meio da<br />
aquisição de duas fábricas pertencentes ao Grupo<br />
Univel, uma Metalúrgica e uma Indústria de<br />
Plásticos. O foco do estudo foi a unidade de Plásticos<br />
de Diadema.<br />
A indústria automotiva está presente na maioria<br />
das nações industrializadas. Este setor integra suas<br />
atividades com um complexo canal de fornecimento<br />
de matérias-primas. De acordo com<br />
Gunasekaran (2000), as montadoras européias têm<br />
competido com novos rivais, principalmente<br />
japoneses, cuja produtividade por empregado tem<br />
sido bem superior ao longo dos anos 1990, de modo<br />
a conduzir a gestão das empresas neste continente<br />
a adotar modelos e técnicas de gestão alicerçados<br />
no Gerenciamento da Qualidade Total e no Just in<br />
Time, em sua maioria originados do modelo TPS –<br />
Toyota Productive System. Esses modelos e técnicas<br />
não se circunscreveram às montadoras e foram<br />
estendidas para os fornecedores.<br />
A indústria de auto-peças escolhida opera no<br />
Brasil, a partir de um modelo de gestão denominado<br />
por cinco eixos e que segue a linha teórica<br />
japonesa. A área internacional responsável pela<br />
aplicação do modelo chama-se Quality Assurance<br />
e situa-se na matriz na França. Periodicamente<br />
auditores são encaminhados para os países onde<br />
a empresa mantém negócios, com o objetivo de<br />
checar se o modelo e os indicadores estabelecidos<br />
para todas as plantas do mundo foram convertidos<br />
em planos de ação e se os resultados esperados<br />
estão sendo atingidos.<br />
MUDANÇA E AQUISIÇÃO DE EMPRESAS<br />
De acordo com Zimmerman (1995), as mudanças<br />
estão ocorrendo nos últimos tempos a taxas sem<br />
julho/dezembro-2003<br />
precedentes. O autor destaca que negar a mudança<br />
não evitará que ela ocorra, portanto o maior desafio<br />
será compreendê-la e agir de forma positiva,<br />
aproveitando as oportunidades.<br />
No Brasil, até o final dos anos 1980, as aquisições<br />
no setor de auto-peças eram quase nulas, pois as<br />
empresas ainda trabalhavam em mercados<br />
protegidos, os controles e os padrões de exigência<br />
eram complacentes e os clientes e os consumidores<br />
tinham que se conformar com a baixa qualidade do<br />
produto e do serviço oferecido. A política industrial<br />
brasileira, fruto do desenvolvimento orientado para<br />
a substituição de importações, por muitos anos ficou<br />
isolada do resto do mundo:<br />
“O processo de abertura, resposta à necessidade<br />
da globalização em competitividade,<br />
revelou disfunções oriundas da forte intervenção<br />
governamental no sentido de promover a industrialização<br />
no país.” (Coutinho, 1994 p. 18)<br />
A análise que se faz do período anterior à<br />
abertura econômica iniciada na década de 1990<br />
indica que as indústrias cresceram, mas sem visão<br />
estratégica e integração com todos os elementos<br />
que contribuem para a construção da vantagem<br />
competitiva da indústria.<br />
A partir da globalização, observou-se contínua<br />
alteração dos cenários empresariais. Uma das mais<br />
importantes funções gerenciais é identificar<br />
mudanças ou, se possível, antecipar-se a elas,<br />
demonstrando que os gestores, para fazer frente<br />
às alterações do mercado, necessitariam apresentar<br />
o comportamento de:<br />
“...monitorar alterações nas condições da<br />
economia, ficar atentos às movimentações de<br />
seu mercado de atuação e agir para elevar ou<br />
manter o desempenho da empresa.” (Whipp et<br />
al., s.d., p. 15).<br />
Se, por exemplo, a empresa está sendo incapaz<br />
de competir em seu mercado com eficácia, esperase<br />
que se reposicione aos padrões/parâmetros<br />
internacionais de desempenho de seu mercado de<br />
atuação ou então poderá sucumbir.<br />
A mudança organizacional que uma aquisição<br />
desencadeia pode ser caracterizada como de larga<br />
escala, conforme a denominação de Lawler (1989,<br />
p. 3):<br />
“é um processo de mudança que altera um<br />
número significativo de sistemas para tornar a<br />
organização mais efetiva. As alterações não são<br />
23
A dministração Artigo<br />
24<br />
temporárias, ou melhor, a organização torna-se<br />
diferente, e assim deve permanecer.”<br />
O desempenho organizacional será o produto<br />
da eficácia desses sistemas e sua inter-relação com<br />
o meio ambiente, transformando insumos em<br />
resultados. Os exemplos a seguir poderiam<br />
desencadear mudanças de larga escala, porque<br />
modificam o desempenho da empresa como um<br />
todo:<br />
a) Passar da posição de competidor regional para<br />
a de competidor global.<br />
b) Tornar-se um produtor de sistemas integrados,<br />
em vez de produzir apenas produtos padrões<br />
independentes.<br />
c) Estabelecer com seus clientes um relacionamento<br />
de longo prazo.<br />
d) Alterar processos, estruturas e sistemas<br />
O importante num processo de mudança<br />
estratégica desse tipo, segundo Pettigrew (1987),<br />
é considerar o contexto em que ele se insere, o<br />
conteúdo e o processo, definindo um estado final<br />
que servirá como guia e agenda da mudança, na<br />
interligação dos elementos da organização com os<br />
elementos do ambiente.<br />
As dificuldades ou oportunidades geradas no<br />
ambiente afetam a organização em múltiplos<br />
aspectos e provocam a mudança de larga escala.<br />
Nessas condições, ela deve ser analisada, segundo<br />
Ledford (1989), levando-se em conta as seguintes<br />
dimensões:<br />
1. Profundidade da mudança<br />
Esta dimensão afeta os membros da organização<br />
em seus paradigmas e valores, modificando a<br />
referência vigente até então.<br />
2. Proporção da mudança<br />
Significa a extensão da mudança em termos dos<br />
elementos que deverão ser modificados,<br />
podendo abranger: divisões, funções ou fábricas<br />
e seus respectivos subsistemas de premiação,<br />
admissão, informação e/ou tecnologia.<br />
3. O tamanho da organização<br />
Quanto maior o tamanho da organização, mais<br />
complexas serão as alterações necessárias em<br />
suas características ou em seu desempenho.<br />
O novo modelo de gestão se evidencia como<br />
uma mudança que não possui caráter temporário,<br />
exigindo da organização a máxima cautela, porque,<br />
em primeiro lugar, está se alterando a própria<br />
natureza da organização, as informações são<br />
compartilhadas no sentido de promover o<br />
autocontrole e se está lidando com componentes<br />
do comportamento humano, o que afeta<br />
significativamente o desempenho da organização.<br />
As pesquisas que Pettigrew (1985) desenvolveu<br />
– embora os resultados apresentados não sejam<br />
conclusivos – indicaram que a análise e o<br />
gerenciamento da estratégia de mudança<br />
contemplaram principalmente os aspectos da<br />
formulação e muito pouco os aspectos de<br />
implementação. Outro dado obtido indicou que<br />
menos de 10% dos estudos empíricos analisados<br />
utilizaram séries temporais como metodologia, o<br />
que significa que as empresas escolheram<br />
estratégias de mudança sem examinar as<br />
tendências ou padrões a partir de seus dados<br />
históricos compilados.<br />
Essas informações servem de alerta por duas<br />
razões: primeiro, porque demonstram a importância<br />
de se conhecer o período anterior (concepção da<br />
mudança) e o período posterior (implementação da<br />
mudança), assim como a contribuição do novo<br />
modelo de gestão; segundo, porque permitirão que<br />
se questione quais foram as projeções elaboradas<br />
para a empresa com esta prática de gestão em<br />
comparação com seu desempenho da fase anterior<br />
e se houve qualquer avaliação de tendência quanto<br />
às necessidades para atender os novos cenários.<br />
O processo de mudança refere-se a ações, reações<br />
e interações das várias partes que movem a empresa<br />
de um estado atual para um estado futuro desejado.<br />
A adoção de modelos de gestão integrados por<br />
indústrias a partir da década de 1990 enfatiza a<br />
necessidade de tornar a empresa competitiva<br />
internacionalmente e de assegurar os programas de<br />
qualidade total com desdobramentos externos e<br />
internos e que ilustram as razões e o grau da<br />
intensidade da mudança, remetendo-nos ao interesse<br />
de conhecer qual foi o comportamento das pessoas<br />
no processo.<br />
A COMPETITIVIDADE ORGANIZACIONAL<br />
E A PARTICIPAÇÃO DAS PESSOAS<br />
A palavra competitividade, de acordo com<br />
Rodrigues et al. (1999), está associada a um<br />
excepcional esforço por parte da organização e das<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
pessoas no sentido de se obter a melhor performance<br />
no livre-mercado. Esse discurso, segundo os mesmos<br />
autores, está presente no quotidiano de corporações<br />
multinacionais capitaneadas por gerentes que<br />
possuem as habilidades exigidas pelos padrões<br />
internacionais para dar sustentação aos modelos<br />
globais de competição. Assim, aqueles que atuam<br />
em subsidiárias espalhadas pelo mundo são<br />
submetidos a diferentes símbolos importados das<br />
economias estáveis e de culturas diferentes, que ao<br />
serem reinterpretados em nível nacional-local podem<br />
não refletir exatamente as idéias originais e suas<br />
intenções, porque pode acontecer de as pessoas<br />
entenderem as idéias parcialmente.<br />
Os autores enfatizam a necessidade de um estilo<br />
de liderança mais participativo para superar os<br />
eventuais conflitos, investindo mais tempo na troca<br />
de idéias quando da implantação de novos modelos<br />
e técnicas do que lendo relatórios ou lidando com<br />
papéis. As qualidades de um líder estão ligadas à<br />
personalidade e à história de desenvolvimento<br />
individual.<br />
A gestão de forma mais participativa, de acordo<br />
com Lerner (1996), requer o binômio cooperação<br />
e resultados alicerçado na seleção das melhores<br />
estratégias, estruturas e tecnologias para que o<br />
desenvolvimento da organização ocorra.<br />
O desenvolvimento da organização “refere-se à<br />
mudança para ajuste de missão e objetivos e<br />
implica considerar as diferentes interfaces<br />
representadas pelas interações entre: indivíduo e<br />
indivíduo, indivíduo e grupo, grupo e grupo, grupo<br />
e organização, organização e organização,<br />
organização e meio ambiente” (Kanaane, 1995,<br />
p. 51). Em cada uma destas interfaces, as pessoas<br />
manifestam um maior ou menor grau de<br />
comprometimento com a mudança, contribuindo<br />
com o aprendizado e a evolução da organização.<br />
Essas interações evidenciam o Comportamento<br />
da Organização subdividido, segundo Wagner III e<br />
Hollenbeck (1999), em três níveis: a primeira área<br />
de análise, o comportamento microorganizacional,<br />
tem contribuições teóricas oriundas da<br />
Psicologia e focaliza os aspectos psicossociais do<br />
indivíduo e as dimensões de sua atuação no<br />
contexto organizacional. A segunda área de análise<br />
é o comportamento mesoorganizacional e que trata<br />
das questões relativas aos processos dos grupos<br />
julho/dezembro-2003<br />
e equipes de trabalho, cuja compreensão teórica é<br />
oferecida pelos estudos da Antropologia, Sociologia<br />
e Psicologia Social. A terceira área de análise é o<br />
comportamento macroorganizacional, com<br />
marcantes contribuições da Antropologia, Ciência<br />
Política e Sociologia, e enfatiza o entendimento da<br />
organização como um todo, com temas ligados a<br />
cultura, uso do poder, clima e políticas e práticas<br />
de RH.<br />
De acordo com Siqueira (1999), medir o<br />
Comportamento Organizacional – CO pode englobar<br />
desde atributos quantitativos sobre desempenho<br />
organizacional, a exemplo dos indicadores de gestão<br />
de: volumes, especificações técnicas ou resultados<br />
econômicos-financeiros, até atributos qualitativos,<br />
a exemplo dos efeitos psicossociais sobre os indivíduos<br />
ou grupos/equipes de trabalho, representados<br />
por constructos complexos como comprometimento<br />
organizacional, satisfação no trabalho e coesão<br />
grupal. Um contraponto teórico se instala neste<br />
instante entre os princípios da ética protestante<br />
apresentados por Weber (1999) e os princípios da<br />
modernidade reflexiva apresentados por Giddens<br />
(1997). Segundo o primeiro autor, a ética protestante<br />
como objetivo orientador valoriza a produção do<br />
dinheiro e sua acumulação, tornando-se para as<br />
pessoas a finalidade máxima da vida. Em uma<br />
sociedade capitalista, os indivíduos são selecionados<br />
em função do critério do mais forte. Em oposição, a<br />
visão do segundo autor destaca a busca da ação<br />
consciente das pessoas, de sua individualidade, sua<br />
capacidade de posicionar-se de forma ativa, autônoma,<br />
o que implica compreender a complexidade à<br />
sua volta. Esse comportamento, que de certa forma<br />
também espera-se das práticas de gestão das<br />
organizações, valoriza a interdependência para a<br />
realização de objetivos, bem como para as questões<br />
ligadas à responsabilidade na gestão das pessoas e<br />
das questões sociais. Esses autores elucidam as<br />
prováveis intenções das organizações em relação ao<br />
modelo de gestão vigente, ao tipo de gestão de<br />
pessoas que é praticado, bem como sobre a liberdade<br />
que as pessoas terão em relação às decisões a serem<br />
tomadas.<br />
Nesse sentido, Dutra (2002) desenvolveu um<br />
modelo para gestão de pessoas que procura<br />
apresentar como o equilíbrio pode ser obtido:<br />
25
A dministração Artigo<br />
Esse modelo, de acordo com Dutra (2002),<br />
enfatiza os objetivos e a delimitação dos processos<br />
que podem ser assim descritos:<br />
a) Movimentação: compreende as práticas de<br />
captação, internalização, transferências, promoções,<br />
expatriação, recolocação.<br />
b) Desenvolvimento: compreende as práticas de<br />
capacitação, carreira e desempenho.<br />
c) Valorização: compreende as práticas de remuneração,<br />
premiação, serviços e facilidades.<br />
Esses processos são interdependentes e<br />
interagem para que o conjuntos das ações, tanto<br />
das organizações quanto das pessoas, fluam<br />
harmoniosamente.<br />
26<br />
Figura 1 – Processos de gestão de pessoas<br />
Fonte: DUTRA (2002, p. 49-50).<br />
METODOLOGIA DE PESQUISA<br />
Para o atendimento dos objetivos deste trabalho,<br />
de acordo com Richardson et al., apud Souza Neto<br />
(1997), a escolha do método da pesquisa foi<br />
realizada em consonância com a natureza do<br />
problema que se pretendia investigar e ao tipo de<br />
estudo conduzido.<br />
Para o cumprimento dos objetivos deste trabalho,<br />
a pesquisa sobre modelo de gestão foi classificada<br />
Fonte: elaborado pelos autores.<br />
Quadro 1 – Categorias de análise<br />
como descritiva, porque apresenta as características<br />
das transformações ocorridas no comportamento<br />
organizacional, permitindo-nos, segundo Oliveira,<br />
S.L. (1997), a obtenção de melhor compreensão do<br />
comportamento de diversos fatores e elementos que<br />
influenciaram o fenômeno. Para se elaborar o estudo<br />
descritivo, utilizamos o método do estudo de caso.<br />
De acordo com Bonoma (1985), estudo de caso<br />
significa insights exploratórios que poderão ser<br />
tratados posteriormente com maior rigor em<br />
experimentos e/ou pesquisas quantitativas. Esta<br />
metodologia requer distinguir o que se observa de<br />
seu significado, isto é, ao interpretarmos as informações<br />
coletadas, devemos tentar capturar os dados<br />
por inteiro.<br />
Dessa forma, ao utilizarmos o estudo de caso<br />
como método de pesquisa de dados empíricos<br />
frente a outras estratégias de pesquisa disponíveis<br />
(levantamentos probabilísticos ou experimentos),<br />
é necessário que conheçamos com precisão o<br />
problema da pesquisa e que estejamos interessados<br />
em responder “o porquê” e o “como”.<br />
Por sua vez, cada organização investigada<br />
possui uma realidade única e não pode ser<br />
compreendida senão a partir de um contexto que<br />
localize o momento da organização dentro de uma<br />
série de acontecimentos, integrando as suas<br />
peculiaridades e especificidades ao seu ambiente<br />
interno e externo.<br />
A coleta de dados foi conduzida por entrevista<br />
pessoal e análise documental. Os sujeitos-alvo da<br />
pesquisa foram: o diretor da planta, o gerente da<br />
área da qualidade, o especialista em RH, o líder da<br />
área de produção, o tecnólogo que presta suporte<br />
à produção e um operador de uma das células de<br />
manufatura. Visando assegurar a relevância na<br />
indicação dos entrevistados, solicitou-se à empresa<br />
que eles estivessem na empresa desde a fase<br />
anterior à adoção do novo modelo de gestão.<br />
A análise dos dados esteve apoiada fundamentalmente<br />
nos seguintes autores e categorias:<br />
Autores Categorias de análise<br />
Pettigrew (1987) e Ledford (1989) Contexto, conteúdo e processo da mudança.<br />
Profundidade da mudança, proporção e tamanho<br />
da organização.<br />
Muscat e Fleury (1993) e Salerno (1999) Avaliação do modelo e dos indicadores de gestão.<br />
Rodrigues et al. (1999), Liderança, participação, movimentação,<br />
Lerner (1996) e Dutra (2002) desenvolvimento e valorização das pessoas.<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS<br />
DA PESQUISA<br />
A indústria de plásticos Univel, fundada em<br />
1987, permaneceu como propriedade de um<br />
empresário brasileiro até 1997. O modelo de gestão<br />
praticado nesta empresa alinhava-se às crenças de<br />
seu antigo dono, que esteve à frente da <strong>Adm</strong>inistração<br />
mais intensamente até 1993, ocasião em que<br />
passou a militar no Sindipeças, sindicato patronal<br />
do segmento. Existiam evidências de boas e más<br />
práticas no modelo de gestão vigente à época. Por<br />
um lado se tinha por objetivo reter as pessoas<br />
investindo em treinamento e educação formal; por<br />
outro lado, a organização da empresa era carente<br />
em termos de um orçamento melhor estruturado e<br />
de um apoio técnico eficaz aos clientes, apesar de<br />
pessoalmente o dono possuir boa penetração no<br />
segmento automotivo. A estrutura organizacional<br />
era estritamente funcional e favorecia a separação<br />
entre os processos existentes, permitindo o controle<br />
das decisões e ações sobre os gestores em sentido<br />
top-down.<br />
Devido à tendência do setor automotivo de fechar<br />
contratos com sistemistas e na maioria das vezes<br />
junto às matrizes de multinacionais no exterior, o<br />
empresário foi procurado por uma multinacional<br />
francesa, que demonstrou interesse em adquirir a<br />
empresa. Como não tinha como competir nesta nova<br />
realidade global, decidiu vender a Univel.<br />
A Valeo Sistemas de Segurança introduziu<br />
estratégias para a satisfação do cliente e que tiveram<br />
por objetivo sustentar o crescimento da organização.<br />
Concluiu assim a empresa adquirente que<br />
as principais prioridades seriam: o investimento em<br />
tecnologia avançada, a existência de qualidade total,<br />
a manutenção de custos competitivos e o oferecimento<br />
de presença global.<br />
O modelo de gestão que o adquirente introduziu<br />
denominou-se de cinco eixos. Este modelo objetiva<br />
a busca da satisfação do cliente através da Qualidade<br />
Total. A conquista da Qualidade Total, segundo<br />
relatos obtidos, se deu com base na aplicação desta<br />
metodologia. A base são as pessoas, por meio das<br />
quais a organização consegue se tornar competitiva<br />
com o aumento da produtividade, redução de<br />
desperdícios em todos os processos da organização,<br />
sendo portanto o único modelo que foi aplicado,<br />
tanto para as áreas operacionais quanto para as<br />
áreas administrativas.<br />
julho/dezembro-2003<br />
Logo após a aquisição, a Valeo trouxe<br />
temporariamente para a unidade de Diadema pessoas<br />
que já integravam a empresa, entre elas o Diretor<br />
Geral, o Diretor Financeiro, o Diretor e o Gerente de<br />
Recursos Humanos, além do Diretor de Qualidade,<br />
que tiveram por objetivo iniciar o desenvolvimento<br />
da metodologia. A segunda etapa foi iniciar a<br />
formação das chefias por meio de um treinamento<br />
de 5 dias ministrado por uma equipe européia<br />
especializada na metodologia, havendo para cada<br />
dia um instrutor diferente. Os responsáveis sentiram<br />
uma grande dificuldade na formação de pessoas de<br />
nível operacional. Após esta constatação, foram<br />
formados instrutores brasileiros, pessoas que já<br />
exerciam alguma função dentro de alguma unidade<br />
nacional. A formação desses multiplicadores exigiu<br />
mais três dias de treinamento específico para o eixo<br />
que a mesma estaria sendo formada e mais um dia<br />
para a acreditação dos novos instrutores. Esses novos<br />
instrutores foram validados por um especialista no<br />
momento da aplicação do treinamento a um grupo<br />
reduzido de pessoas. Era uma preocupação da<br />
empresa durante o treinamento: ligar a teoria<br />
apresentada com a prática.<br />
A figura a seguir apresenta o modelo dos cinco<br />
eixos que foi introduzido na empresa.<br />
Fonte: dados da pesquisa.<br />
27
A dministração Artigo<br />
O primeiro eixo trabalhado pela empresa foi o<br />
Envolvimento do Pessoal. Nesse eixo o objetivo foi<br />
envolver o pessoal e reconhecer suas competências,<br />
melhorando-as por meio de treinamento. Também<br />
se pretendia oferecer às pessoas meios para que<br />
pudessem assumir responsabilidades e elaborar<br />
propostas de melhoria e, a partir dessas premissas<br />
atendidas, participar ativamente do funcionamento<br />
de uma equipe de trabalho autônoma, onde haveria<br />
um facilitador, não necessariamente um supervisor<br />
que cuidaria das necessidades e da representatividade<br />
do grupo junto à <strong>Adm</strong>inistração. As técnicas<br />
contidas nesse eixo introduziram o hábito de se<br />
realizar reuniões diárias de cinco minutos; o estudo<br />
em equipe da causa de problemas; o desenvolvimento<br />
da polivalência, ampliando o conhecimento<br />
de uma pessoa para a fabricação de mais produtos<br />
e da policompetência favorecendo que uma pessoa<br />
pudesse intervir na manutenção, qualidade e organização<br />
do posto de trabalho. Com essas medidas o<br />
autocontrole se estabeleceria e novas propostas de<br />
melhoria poderiam ser apresentadas.<br />
O segundo eixo foca o Sistema de Produção e se<br />
destina a melhorar a produtividade e a qualidade<br />
dos produtos e sistemas. As técnicas introduzidas<br />
permitem que o fluxo de produção seja puxado e<br />
que haja flexibilidade dos meios de produção.<br />
Adotou-se o hábito da observação da operação para<br />
a introdução de melhorias quanto ao estoque,<br />
movimentação de produtos e materiais em<br />
processo, manutenção preventiva, limpeza, ordem<br />
e arrumação do posto de trabalho. Apesar de todas<br />
essas ferramentas introduzidas, observou-se que o<br />
erro humano continuava sendo uma das<br />
importantes causas de reclamações por parte dos<br />
clientes e que determinados lotes retornariam. A<br />
empresa decidiu introduzir um sistema denominado<br />
Poka Yoke (a prova de falhas), por meio de sensores<br />
óticos e eletrônicos. Na atualidade está sendo<br />
desenvolvido um sistema de prevenção do erro pela<br />
avaliação do perfil do produto, com sensores que<br />
avaliam superfície e cor.<br />
O terceiro eixo, denominado de Inovação<br />
Constante, propõe-se a conceber produtos<br />
inovadores, fáceis de fabricar, de qualidade e ao<br />
menor custo enquanto se reduzem os prazos de<br />
desenvolvimento. Estimula-se que grupos de<br />
engenharia desenvolvam projetos de produtos e<br />
de processos competitivos. Ao ser contatada por<br />
um cliente potencial, a Valeo envia um check list<br />
para ser preenchido e com base nestas informações<br />
28<br />
apresenta uma proposta comercial. É uma<br />
preocupação da empresa enviar amostras e testar<br />
em parceria o novo produto, para que no futuro a<br />
linha de produção da montadora cliente não seja<br />
paralisada por qualquer erro de projeto. Esses<br />
desenvolvimentos exigiram investimentos em<br />
novos softwares e equipamentos.<br />
O quarto eixo é a Integração com os Fornecedores.<br />
Espera-se criar um clima de parceria a longo<br />
prazo com um pequeno número de fornecedores<br />
com relações estreitas e benéficas para ambas as<br />
partes. Para tanto a empresa verifica a garantia de<br />
qualidade do fornecedor e do produto, a capacidade<br />
de cumprir prazos de entrega, o preço formulado e<br />
se o mesmo possui sistema de qualidade ISO 9000<br />
e/ou QS 9000 e/ou ISO TS – Technical Specification<br />
exigido para fornecimento às montadoras. Se algum<br />
fornecedor escolhido não possuir um desses<br />
sistemas, a Valeo realiza uma auditoria com base<br />
em norma própria denominada Valeo 1000,<br />
considerando a ISO 9000 e as normas das indústrias<br />
automobilísticas como base, o que inclui alguns<br />
quesitos ambientais. Ainda no primeiro semestre<br />
deste ano a Valeo será indicada para a Certificação<br />
Sistema ISO 14001 referente à garantia de respeito<br />
ao meio-ambiente.<br />
O quinto eixo refere-se à Qualidade Total, que<br />
tem sua razão de existir em função da satisfação<br />
do cliente. Para atender às expectativas de qualidade<br />
dos produtos e dos serviços oferecidos pela Valeo,<br />
é necessária a aplicação completa e contínua dos<br />
cinco eixos. A evolução do nível de aplicação das<br />
ferramentas previstas na metodologia cinco eixos<br />
é avaliada periodicamente por meio de auditorias<br />
internas (self audit) e auditorias realizadas pela<br />
França. Tais auditorias são realizadas conforme<br />
outra norma própria denominada Valeo 5000, cujo<br />
objetivo é avaliar o nível de implementação da<br />
metodologia. As técnicas utilizadas objetivam fazer<br />
com que a organização aplique a melhoria contínua<br />
(Kaizen) em todas as áreas da empresa, tornando o<br />
sistema cada vez mais robusto e confiável. Este<br />
procedimento é realizado em todas as unidades da<br />
Valeo no mundo.<br />
Como conseqüência da introdução desse<br />
modelo de gestão, após os treinamentos e as<br />
intervenções da linha de comando, os indicadores<br />
sociais evidenciaram que uma parte dos funcionários<br />
foi demitida em função da não adaptação<br />
aos critérios exigidos pelo novo modelo. Para as<br />
pessoas remanescentes, as políticas e práticas de<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
gestão de pessoas foram modificadas. Como<br />
exemplo das mais significativas, pode-se citar<br />
aquelas referentes às contratações que passaram a<br />
privilegiar o jovem com 2º grau completo, com<br />
potencial de desenvolvimento e perfil generalista.<br />
Para cargos mais especializados e de nível superior,<br />
passaram a valorizar escolas de 1ª linha, o domínio<br />
do idioma inglês, além dos requisitos específicos<br />
do cargo. A política de remuneração contempla um<br />
plano de evolução salarial e de cargos conforme as<br />
pessoas avançam na polivalência – conseguir<br />
produzir mais de um produto – e na policompetência<br />
– que inclui, além da operação do equipamento,<br />
agregar valor realizando funções de qualidade,<br />
manutenção e organização do posto de trabalho.<br />
A empresa possui um plano de participação nos<br />
resultados, que até três anos atrás considerava os<br />
indicadores de produção para remunerar as pessoas.<br />
Atualmente os critérios são negociados com o<br />
sindicato. A linha de comando valoriza a avaliação<br />
de desempenho e o feedback às pessoas, bem como<br />
a comunicação dos novos objetivos para o período<br />
seguinte.<br />
Do ponto de vista dos indicadores econômicos,<br />
o faturamento da empresa em 2003 é aproximadamente<br />
45% superior em relação à época da<br />
compra e o número clientes atendidos mais que<br />
dobrou. A devolução de produtos por parte dos<br />
clientes medida em partes por milhão decresceu<br />
de 781 em 1999 para 168 em 2002. O refugo<br />
interno de produto acabado foi reduzido de 2962<br />
partes por milhão em 1999 para 382 em 2002.<br />
Estes indicadores evoluíram positivamente e têm<br />
garantido à empresa sua competitividade no<br />
mercado de auto-peças.<br />
ANÁLISE DOS RESULTADOS<br />
DA PESQUISA<br />
O contexto, segundo Pettigrew (1987), requer<br />
que a empresa entenda por que necessita mudar.<br />
O que os dados apresentados evidenciam<br />
notadamente para o contexto externo é que o<br />
proprietário da Univel, para manter a continuidade<br />
de seu negócio, precisaria realizar alianças com<br />
empresas internacionais para o licenciamento de<br />
marca e/ou de tecnologia. Essa atitude possibilitaria<br />
manter o nível de competitividade da empresa, e<br />
talvez não o estimularia a aceitar a oferta de compra<br />
formulada pelo grupo Valeo. Por outro lado, a Valeo,<br />
julho/dezembro-2003<br />
com presença mundial, sabia que a estratégia das<br />
montadoras era fechar negócio com aquelas<br />
fornecedoras de auto-peças dispostas a acompanhálas<br />
seja aonde for, e o Brasil na década de 1990<br />
estava recebendo a cada ano novas montadoras.<br />
O conteúdo da mudança privilegiou a filosofia<br />
da Qualidade Total aplicada indistintamente nas<br />
áreas operacionais e administrativas. Esta estratégia,<br />
de acordo com os dados descritos, teve nas pessoas<br />
seu principal alicerce para a transformação da<br />
organização.<br />
O processo de mudança se deu por meio de<br />
treinamento sobre o novo modelo de gestão,<br />
inicialmente ministrado por instrutores franceses.<br />
Observou-se que para os menores níveis<br />
hierárquicos houve necessidade que instrutores<br />
brasileiros assumissem a transmissão dos<br />
conhecimentos, em parte por causa do idioma, mas<br />
a principal causa foi a resistência observada nas<br />
pessoas em abandonar a estrutura funcional antiga<br />
e incorporar o novo modelo de trabalho em células.<br />
Outra maneira de reforçar a identificação com o<br />
novo modelo foi demonstrar à linha de comando<br />
qual era seu papel para facilitar a incorporação do<br />
comportamento esperado e que haveria<br />
monitoramento constante por parte da matriz<br />
francesa, que determinaria os indicadores a serem<br />
atingidos e periodicamente realizaria auditorias de<br />
verificação.<br />
A profundidade dessa mudança, segundo<br />
Ledford (1989), altera de forma permanente a forma<br />
de a empresa operar. Internamente alteram-se<br />
costumes e valores e externamente a forma como<br />
os clientes avaliam o atendimento às suas<br />
necessidades. Como este modelo de gestão<br />
funciona há seis anos, constata-se que a Valeo não<br />
tinha à época, e não tem no presente, intenção de<br />
descontinuá-lo, afastando o caráter de modelo<br />
temporário. A extensão da mudança introduzida na<br />
Valeo é alta, pois todas as áreas da empresa foram<br />
afetadas. A complexidade de uma mudança desta<br />
ordem também é alta, pois o tamanho da organização<br />
requer que se estabeleçam relacionamentos e<br />
vínculos contratuais dentro e fora da empresa.<br />
A abordagem que fazem Muscat & Fleury (1993)<br />
enfatiza a necessidade de a empresa eleger um<br />
rol de indicadores para acompanhar e medir seu<br />
desempenho frente aos competidores diretos. O<br />
modelo de gestão denominado de cinco eixos<br />
estabeleceu os fatores críticos que contribuiriam<br />
29
A dministração Artigo<br />
para o melhor posicionamento da Valeo no<br />
mercado de auto-peças. Quando a matriz na França<br />
define os indicadores de gestão, há um sentimento<br />
nas pessoas aqui no Brasil de que se está exigindo<br />
demais. No entanto, quando se argumenta que uma<br />
outra unidade no mundo está sendo capaz de<br />
atingir e manter o que se está pedindo, este<br />
sentimento negativo transforma-se em desafio. É<br />
comum o gestor da planta Diadema negociar metas<br />
intermediárias até que se consiga atingir o objetivo<br />
maior determinado pela matriz francesa.<br />
Pode-se constatar pelas evidências da pesquisa<br />
que se alterou na empresa a forma como os objetivos<br />
são negociados e a comunicação é praticada. Os<br />
quadros visuais de gestão introduziram o conceito<br />
da transparência e aumentaram a responsabilidade<br />
das pessoas sobre os processos que executam, além<br />
de proporcionar a ampliação da aprendizagem<br />
individual e coletiva. Este modelo de gestão pode<br />
causar nas pessoas excessiva pressão e medo e<br />
prejudicar o comprometimento com os interesses<br />
do cliente.<br />
Do que se pode observar, a primeira condição<br />
existe, principalmente quanto à cobrança intensa por<br />
ausência de falhas e discussão constante dos<br />
problemas que aparecem. No entanto, quanto ao<br />
segundo fator, não se pode na atualidade dimensionar<br />
e avaliar se as pessoas o encaram desta forma.<br />
O que os dados indicam é que na época da compra<br />
da empresa Univel, apesar de a Valeo declarar que<br />
aproveitaria todos os funcionários, o medo prevaleceu<br />
em função do receio de não se adaptarem as<br />
novas regras. Como pode-se constatar, os novos<br />
equipamentos e softwares de automatização de<br />
processos introduzidos pela empresa, aliados à não<br />
adaptação de algumas pessoas ao novo modelo de<br />
gestão, acabou provocando a redução do quadro de<br />
funcionários. A retroalimentação quanto à estabilidade<br />
e a garantia de bom funcionamento do modelo<br />
de gestão se fez por meio das auditorias periódicas<br />
de qualidade realizadas por especialistas da França.<br />
Além de assegurarem o perfeito funcionamento do<br />
modelo, esses especialistas transferem conhecimento<br />
e experiências de outras unidades da Valeo<br />
no mundo quando visitam as unidades brasileiras.<br />
A introdução deste modelo de gestão alicerçouse,<br />
segundo Rodrigues et al. (1999), em gestores<br />
que aprenderam os padrões de trabalho existentes<br />
em economias estáveis, incorporando símbolos e<br />
padrões globais, típicos de uma empresa de classe<br />
30<br />
mundial que compete em diferentes continentes.<br />
No entanto, para que as idéias originais fossem<br />
incorporadas pelas pessoas e os conflitos minimizados,<br />
o estilo da liderança revestiu-se de um<br />
caráter menos mandatório e mais participativo.<br />
Despersonalizou-se a autoridade e o formalismo no<br />
relacionamento e criaram-se alguns mecanismos<br />
simbólicos para a facilitação e a aceitação da<br />
hierarquia e das idéias, tais como: todos os executivos<br />
utilizariam capas brancas como um sobretudo,<br />
tornando igualitária a vestimenta entre eles;<br />
também foi eliminado o título dos cargos nos<br />
crachás e um intenso programa de reuniões e<br />
feedback foi introduzido para que a nova filosofia<br />
obtivesse a adesão das pessoas.<br />
Outro trabalho da linha de comando e que se<br />
observou na Valeo, segundo Lerner (1996), foi obter<br />
os resultados por meio da cooperação entre as<br />
pessoas, selecionando a melhor configuração de<br />
estrutura organizacional, estratégias e tecnologia.<br />
Um exemplo que evidencia esta situação é a<br />
devolução de um produto por parte do cliente. O<br />
produto fica exposto em quadros visuais de gestão<br />
e todos sabem quantas reuniões já ocorreram para<br />
tratar desse assunto, quais as pessoas envolvidas, a<br />
técnica de análise de problemas aplicada e o que<br />
será necessário para prevenir futuras ocorrências.<br />
Portanto, é requisitado comportamento humano e<br />
das equipes para ajudar a organização a evitar<br />
turbulências em seu processo de produção e na<br />
assistência ao cliente, considerando que se possui a<br />
melhor tecnologia, matéria-prima e configuração<br />
organizacional. Uma outra evidência de que a<br />
estrutura organizacional está voltada para proporcionar<br />
estabilidade no sistema e obter melhores<br />
resultados com baixo conflito interno e externo é<br />
observado no trabalho desenvolvido pela área de<br />
logística, que atua junto aos fornecedores, áreas<br />
internas e clientes, permitindo o fluxo contínuo das<br />
informações e o menor desperdício na movimentação<br />
de materiais, produtos em processo e acabados.<br />
O processo de movimentação de pessoas<br />
presente no modelo de Dutra (2002) evidencia-se<br />
por dois fatos observados na Valeo. O primeiro deles<br />
indica as exigências que a empresa faz para captar<br />
pessoas no mercado de trabalho. Esse procedimento<br />
se alinha com a necessidade de se ter pessoas com<br />
características de proatividade e de um perfil<br />
generalista. O critério de se privilegiar a escolaridade<br />
e o potencial das pessoas na contratação, aumenta<br />
a flexibilidade na prática da rotatividade entre os<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
postos de trabalho. O segundo fato observado<br />
refere-se à atuação das áreas de Recursos Humanos<br />
e Qualidade, proporcionando a internalização do<br />
modelo de gestão dos cinco eixos e a integração<br />
do novo funcionário tanto nos aspectos técnicos<br />
como nos sociais.<br />
No processo de desenvolvimento de pessoas a<br />
capacitação ocorre principalmente em atividades<br />
junto aos postos de trabalho. São reuniões de<br />
solução de problemas, aconselhamentos da linha<br />
de comando e palestras de qualidade que sustentam<br />
o modelo cinco eixos. O desempenho é discutido<br />
formalmente por meio de um instrumento de<br />
avaliação anual. Pelos relatos obtidos junto à direção<br />
da fábrica, as lideranças são preparadas para<br />
conduzir a reunião de discussão do desempenho e<br />
negociar os objetivos futuros. No entanto, tais<br />
encontros acabam não se limitando ao campo<br />
racional/formal e pequenos conflitos existentes<br />
anteriormente vêm à tona. A empresa estimula para<br />
que eventuais desentendimentos pessoais sejam<br />
discutidos e eliminados.<br />
As pessoas são valorizadas quanto a sua remuneração<br />
exclusivamente quando avançam no<br />
domínio de novas competências e habilidades. Não<br />
se observou a premiação de pessoas que apresentam<br />
desempenhos excepcionais, e mesmo o plano<br />
de participação nos resultados existente desvinculou-se<br />
das metas operacionais, transformandose<br />
em um plano de participação nos lucros<br />
mediante negociação com o sindicato.<br />
julho/dezembro-2003<br />
CONCLUSÃO<br />
Ao iniciarmos este artigo, tínhamos como proposta<br />
central da pesquisa estudar as modificações<br />
introduzidas no modelo de gestão de uma indústria<br />
de auto-peças nacional que, há seis anos, teve o<br />
controle de seu capital transferido para uma<br />
multinacional francesa. Integrou ainda a proposta<br />
do pesquisador, apresentar o processo de mudança<br />
ocorrido para a implantação do novo modelo e<br />
se ele poderia ser caracterizado como participativo.<br />
Quando se apresentaram as características do<br />
modelo de gestão da Plásticos Univel – empresa<br />
adquirida pela Valeo Sistemas de Segurança –<br />
constatou-se que o referido modelo estava<br />
alicerçado nas crenças pessoais do proprietário,<br />
no paternalismo e em sua facilidade de acesso às<br />
montadoras. A priori poderia se imaginar que<br />
inexistia qualquer modelo de gestão, mas se<br />
observarmos com mais cautela, constata-se ser um<br />
modelo com características empíricas e pragmáticas<br />
sem qualquer fundamento científico e/ou<br />
preocupação sistêmica com a competitividade;<br />
mesmo assim era um modelo, pois conseguia<br />
mesmo que precariamente simplificar a realidade<br />
complexa onde a empresa inseria-se e tornava o<br />
entendimento facilitado em relação ao ambiente<br />
para as pessoas que ali trabalhavam. Já o modelo<br />
de gestão implantado no Brasil pela Valeo estava<br />
alicerçado nos conceitos da TPS – Toyota Productive<br />
System, e que já havia sido comprovadamente<br />
testado em outras unidades da empresa no mundo,<br />
garantindo plena confiança no mesmo por parte da<br />
alta <strong>Adm</strong>inistração.<br />
A segunda conclusão que a análise nos permite<br />
efetuar é que se trata de uma mudança que<br />
transformou a personalidade da organização,<br />
alterando profundamente os padrões de como os<br />
processos eram executados e de como as pessoas<br />
seriam gerenciadas a partir daquele momento. Para<br />
as pessoas que permaneceram na organização, o<br />
nível de profissionalização e de capacitação técnica<br />
e interpessoal aumentou significativamente. Uma<br />
característica que possibilitou a sobrevivência das<br />
pessoas na organização e a conseqüente adaptação<br />
ao novo modelo foi suportar a pressão em sentido<br />
top-down no que se refere à busca do zero defeito<br />
e à prestação de um serviço interno/externo com<br />
qualidade total.<br />
Para a empresa, os indicadores econômicos<br />
inequivocamente apontam para o benefício direto<br />
que o modelo proporcionou. Para os clientes, o<br />
modelo transmitiu confiabilidade e a certeza de que<br />
a maioria dos processos poderia ser rastreada e as<br />
não conformidades poderiam ser evitadas ou<br />
minimizadas. Para as pessoas, embora o caráter<br />
participativo seja apregoado, evidencia-se que esta<br />
participação é relativa, pois os indicadores de<br />
gestão, ao serem estabelecidos pela matriz francesa<br />
em sua maioria, carregam consigo uma preocupação<br />
em assegurar ao Conselho de <strong>Adm</strong>inistração da<br />
empresa que a estratégia esteja sendo bem<br />
executada, tal como se prevê em um bom manual<br />
de governança corporativa. A liberdade que as<br />
pessoas possuem para alterá-los é mínima, ficando<br />
a negociação restrita aos níveis hierárquicos<br />
superiores e que habitualmente fornecem<br />
explicações à França por eventuais impossibilidades<br />
31
A dministração Artigo<br />
de cumprimento de metas. Os níveis intermediários<br />
negociam questões táticas e operacionais,<br />
relacionadas à maneira como as equipes se<br />
organizarão para atender aos indicadores<br />
estabelecidos a priori.<br />
Uma outra conclusão do estudo evidencia que<br />
neste modelo de gestão a comunicação é utilizada<br />
em larga escala, seja em forma verbal ou visual;<br />
por conta dessa ação comunicativa intensa podese<br />
dizer que o modelo de gestão tem traços<br />
participativos com características consultivas,<br />
porém não se pode afirmar que o mesmo seja<br />
democrático em formato stricto sensu, porque na<br />
sua aplicação apresenta alguns paradoxos. Dois<br />
exemplos evidenciam o que se está afirmando: ao<br />
mesmo tempo que um operador ou um gerente<br />
tem autonomia para interromper o funcionamento<br />
de um equipamento se perceber que poderá<br />
provocar não conformidades no processo produtivo,<br />
por outro lado, os funcionários são conclamados<br />
a terem duas sugestões implantadas por ano<br />
e os seus nomes ficam expostos em quadros visuais<br />
de gestão, demonstrando para todos na organização<br />
se estão perto ou longe de atingir este objetivo,<br />
querendo eles ou não.<br />
Pelo que os dados coletados demonstraram, a<br />
vantagem para as pessoas que atuam dentro de<br />
um modelo de gestão com estas características é<br />
32<br />
manterem-se atualizadas com relação aos sistemas<br />
e técnicas que a maioria das organizações de classe<br />
mundial deste e de outros setores vêm utilizando<br />
para manterem-se competitivas; isto confere às<br />
mesmas um alto índice conhecimentos e de empregabilidade.<br />
Por outro lado não foram observadas<br />
neste modelo, práticas e políticas de gestão de<br />
pessoas mais agressivas que sustentem principalmente<br />
sua valorização. O que se verifica são<br />
políticas agressivas de captação e desenvolvimento<br />
de pessoas para que as organizações<br />
mantenham-se competitivas, e que se alicerçam<br />
única e exclusivamente na sustentação de um perfil<br />
de colaborador generalista, cooperativo e flexível.<br />
Estas características pessoais possibilitarão às<br />
pessoas ampliar a capacidade de provimento de<br />
resultados às organizações em que prestam<br />
serviços, mantendo-as competitivas.<br />
Para finalizar, conclui-se que, qual for o modelo<br />
de gestão em vigor, recomenda-se que a organização<br />
tenha por objetivos com a sua utilização: 1) proporcionar<br />
confiabilidade e satisfação para os investidores,<br />
gestores e clientes; 2) valorizar a reciprocidade<br />
na gestão das pessoas, pois como vimos é<br />
cada vez maior a importância do desempenho<br />
humano e das equipes com qualidade total; 3)<br />
manter o modelo de gestão escolhido como<br />
prioritário, evitando modificá-lo, sempre que<br />
modismos passageiros o ameaçarem.<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
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33
A dministração Artigo<br />
CRESCIMENTO OU QUEDA DOS LUCROS<br />
NAS EMPRESAS: UMA QUESTÃO DE FOCO<br />
NA UTILIZAÇÃO DE METODOLOGIAS DE<br />
CUSTEIO E PROGRAMAS DE QUALIDADE<br />
34<br />
Rubens Janny Teixeira<br />
Mestre e Doutor em <strong>Adm</strong>inistração de Empresas pela USP e<br />
professor do IMES – Centro Universitário Municipal de São Caetano do Sul<br />
José Antonio Meire<br />
Aluno do Programa de Mestrado em <strong>Adm</strong>inistração do IMES – Centro<br />
Universitário Municipal de São Caetano do Sul<br />
R E S U M O ABSTRACT<br />
Este artigo apresenta os principais aspectos<br />
técnicos de gerenciamento de custos e<br />
qualidade, baseados em conceitos teóricos e na<br />
vivência dos autores sobre o tema. Procura focar<br />
as maneiras com que as empresas tratam o<br />
assunto e que ações empreendem para ensejar<br />
o crescimento dos lucros.<br />
Palavras-chave: empresas, custos, lucros.<br />
This article shows the main technical aspects<br />
involving costs, either from a theoretical or<br />
practical standpoint, drawing from the authors’<br />
own professional experience. The focus is<br />
directed to the way companies deal with the<br />
subject and the steps to take to boost profits.<br />
Keywords: companies, costs, profits.<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
julho/dezembro-2003<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
Este trabalho tem por objetivo analisar e<br />
compreender como as empresas do setor automobilístico<br />
vêm gerenciando seus custos, de que<br />
forma aplicam tais análises e o que fazem para<br />
manter-se competitivas.<br />
O estudo nos parece oportuno pela fase de alta<br />
competitividade por que passam as empresas do<br />
setor no momento, quando as fronteiras geográficas<br />
desapareceram do contexto global. No âmbito<br />
brasileiro, é quase ininterrupta a chegada de novas<br />
empresas estrangeiras de todos os ramos,<br />
contribuindo para acirrar a concorrência no<br />
mercado.<br />
A competitividade, por ser implacável, torna<br />
imperioso minimizar custos e desperdícios. Há que<br />
adotar ações contínuas para monitorá-los e reduzilos.<br />
É nítida a tendência por produtos de custos<br />
menores em função das exigências dos clientes, que<br />
desejam maior valor agregado para seus produtos<br />
e serviços e um prazo de entrega adequado.<br />
Contrariamente a essa necessidade, os custos<br />
do setor apontam evolução ascendente, conforme<br />
relata Salerno et al. (2001) em sua pesquisa USP/<br />
BNDES. Vários fatores explicam essa evolução,<br />
dentre os quais o aumento do CIF (custos indiretos<br />
de fabricação) e o preço cobrado pelos fornecedores<br />
de matérias-primas e peças. O aumento dos preços<br />
de materiais e peças deve-se à desvalorização<br />
cambial e à oligopolização de boa parte do setor<br />
que supre materiais intermediários; o aumento do<br />
CIF refere-se ao incremento de atividades exigidas<br />
pelas próprias montadoras e mercado, caso da<br />
implantação de programas de qualidade (ISO 9000,<br />
VDA, TS 16.949, etc.), bem como dos custos<br />
logísticos por conta do aumento da periodicidade<br />
das entregas – lotes menores – exigência das<br />
montadoras.<br />
Melhorar é mudar;<br />
ser perfeito é<br />
mudar com freqüência.<br />
Sir Winston Churchill<br />
2 AVALIAÇÃO DE CUSTOS: TEORIAS<br />
SOBRE O TEMA<br />
Uma avaliação pouco criteriosa poderia fazer<br />
crer que reduzir custos consiste em suprimir<br />
atividades indiscriminadamente, afetando por<br />
conseqüência o valor do produto ou serviço, o que<br />
redunda, por via de regra, na fuga do cliente.<br />
Deve-se, portanto, realizar uma avaliação das<br />
atividades que não agregam valor ao produto ou<br />
serviço, custeando-as para, se possível, minimizálas<br />
ou até eliminá-las.<br />
Uma das metodologias de custos que<br />
preconizam essa relação entre as atividades é o<br />
custeio ABC (Activity-Based Costing) ou custeio<br />
baseado em atividades.<br />
Conforme Martins (2000), o custeio baseado em<br />
atividades é uma metodologia que procura reduzir<br />
sensivelmente as distorções provocadas pelo rateio<br />
arbitrário dos custos indiretos, baseando-se na<br />
alocação das despesas ou CIF e utilizando<br />
indicadores de custos (cost-drivers) que traduzem<br />
a alocação das despesas nas atividades.<br />
O elemento-chave para o sucesso da implantação<br />
dessa metodologia em uma empresa é contar<br />
com uma estrutura de pessoal que possa analisar<br />
as atividades (cost-drivers) e os custos gerados.<br />
Dependendo do porte da empresa, torna-se<br />
necessária a criação de uma estrutura à parte para<br />
tal fim.<br />
Outras metodologias podem ser utilizadas, de<br />
acordo com as necessidades das empresas. Segundo<br />
Martins (2000), entre as principais contam-se:<br />
a) RKW (Reichkuratorium für Wirtschaftlichtkeit):<br />
Metodologia criada na Alemanha, consiste em<br />
ratear os custos de produção, bem como todas<br />
as despesas – inclusive as financeiras – entre<br />
os produtos;<br />
35
A dministração Artigo<br />
b) Absorção: Consiste na apropriação de todos os<br />
custos de produção aos bens elaborados, bem<br />
como os gastos relativos ao esforço de<br />
fabricação distribuídos aos produtos;<br />
c) Custo direto ou variável: Consiste na apropriação<br />
de todos os custos variáveis, sejam diretos ou<br />
indiretos, ficando os custos fixos separados e<br />
considerados como despesas do período;<br />
d) Custo-padrão: Metodologia que preconiza o uso<br />
das melhores matérias-primas possíveis, com a<br />
utilização da mão-de-obra mais eficiente e dos<br />
100% de capacidade da empresa, sem parada<br />
alguma por qualquer que seja o motivo, exceto<br />
os programados por causa de manutenção;<br />
e) Unidade de esforço de produção (UEP): Surgido<br />
na França na época da Segunda Guerra Mundial,<br />
leva em consideração os custos de matéria-prima<br />
e as atividades administrativas, comerciais e<br />
financeiras e não exclusivamente os custos de<br />
transformação em produto (Bornia, 2002).<br />
36<br />
3 COMO AS EMPRESAS<br />
ANALISAM OS CUSTOS<br />
Grandes montadoras como Volkswagen,<br />
DaimlerChrysler e Ford (todas de São Bernardo do<br />
Campo – SP), de acordo com a experiência dos<br />
autores, mantêm um departamento de auditoria<br />
de custos para auxiliar a área de suprimentos,<br />
calculando os custos de peças e serviços<br />
comprados. Tais cálculos servem de referência para<br />
os compradores quanto à adequação dos preços<br />
solicitados pelos fornecedores.<br />
Nessa área devem atuar profissionais experientes,<br />
treinados criteriosamente para analisar<br />
custos e processos.<br />
No que tange ao custo dos itens fornecidos,<br />
detalham-se os seguintes aspectos:<br />
a) Matéria-prima: o peso líquido da peça, computadas<br />
as perdas peculiares do processo e o<br />
coeficiente de refugo;<br />
b) Mão-de-obra: o número de homens necessário<br />
para a confeccão da peça ou serviço,<br />
considerados os salários vigentes na região de<br />
instalação da empresa mais os encargos sociais;<br />
c) Custos indiretos de fabricação (CIF): despesas<br />
relativas ao desempenho dos centros de custos,<br />
entre as quais: alocação de despesas de outros<br />
centros de custos (segurança, refeitório,<br />
ambulatório e outros) e alocação de despesas<br />
do próprio centro de custo (óleo de corte,<br />
materiais de uso diário, energia elétrica, água,<br />
xerox, outros), conforme Martins (2000). No CIF,<br />
está computada a depreciação de equipamentos,<br />
ou seja, a recuperação do capital investido na<br />
compra de ativos, utilizados na confecção do<br />
produto. Outros insumos (de área, manutenção),<br />
despesas rateadas concernentes ao uso dos<br />
equipamentos para a confecção dos produtos;<br />
d) Despesas de armazenagem e movimentação:<br />
desembolsos alocados referentes ao custo de<br />
armazenagem e de movimentação na empresa<br />
(uso de empilhadeiras, veículos de transporte,<br />
etc.).<br />
Ao comparar custos, não raro surgem divergências,<br />
em especial no que tange à alocação dos<br />
custos indiretos de fabricação (CIF). Cada empresa<br />
pode adotar metodologia própria de custeio, seja<br />
o RKW, Absorção, Custeio-Padrão, ABC ou UEP<br />
(pouco freqüente entre as fornecedoras de<br />
autopeças) e alocá-los de maneira subjetiva,<br />
utilizando critérios tais como número de pessoas,<br />
valor dos salários, quantidade de equipamentos,<br />
valor dos equipamentos, dentre outros.<br />
Outra divergência comum envolve o lote<br />
econômico, origem dos custos de armazenagem.<br />
Algumas empresas realizam seus cálculos de<br />
custos utilizando critério empírico, tomando, por<br />
exemplo, o custo da matéria-prima acrescido de<br />
certo fator – geralmente a multiplicação por 3 –<br />
para fixar o preço do produto ou até do serviço.<br />
A lucratividade dessas empresas pode estar<br />
sendo excelente em certos produtos, aceitável para<br />
outros e, para alguns, pode estar baixa, desaconselhável.<br />
Não convém persistir em nenhuma das<br />
situações, uma vez que, no primeiro benchmarking<br />
realizado, seu cliente escolherá fazer negócios com<br />
a concorrência, que poderá operar com menores<br />
margens no primeiro caso. No último, a nãoremuneração<br />
do capital investido e dos insumos<br />
básicos gerará prejuízo.<br />
Outras empresas realizam o chamado dumping,<br />
prática de comercializar o produto em um valor<br />
que não remunera os custos, buscando vantagens<br />
e hegemonia no mercado a longo prazo. Alcançado<br />
o objetivo de tornar-se únicos no mercado, iniciam<br />
o processo de resgate dos lucros, aumentando os<br />
preços com altas margens de lucros, manobra<br />
evitada e prevenida pelo mercado nos tempos<br />
atuais.<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
O custo objetivo (Target Costing)<br />
Segundo Scarpin (2000), o Target Costing,<br />
método criado em 1965 pela Toyota do Japão, é<br />
um sistema de formação de lucros e custos.<br />
O fundamento do Target Costing é a integração<br />
entre os setores da empresa, a fim de tornar o custo<br />
do produto compatível com o preço do mercado.<br />
Esse sistema encoraja a utilização da engenharia<br />
simultânea de produtos e processos, bem como o<br />
da engenharia de valor, em detrimento da<br />
engenharia seqüencial. Isso proporciona uma<br />
redução no tempo de desenvolvimento, de<br />
fabricação e, conseqüentemente, dos custos.<br />
O Target Costing envolve todos os membros da<br />
cadeia de valor, como fornecedores e distribuidores<br />
de serviços, e difunde um esforço de redução de<br />
custos por meio da cadeia como um todo.<br />
A nova visão de mercado em que se apóia o<br />
Target Costing postula valores de venda<br />
preestabelecidos. Sendo assim, deve mudar o<br />
enfoque da equação de preço de venda, deixando<br />
de valer a fórmula:<br />
PREÇO = CUSTO + LUCRO<br />
Para sobreviver<br />
PREÇO – LUCRO = CUSTO<br />
Com o preço de venda preestabelecido e a<br />
margem de lucro desejada, é possível definir o<br />
custo máximo que o produto pode alcançar.<br />
Esquematicamente<br />
M<br />
C<br />
C<br />
U<br />
S<br />
T<br />
O<br />
julho/dezembro-2003<br />
P<br />
R<br />
E<br />
Ç<br />
O<br />
PREÇO = CUSTO + MC<br />
CUSTO = PREÇO – MC<br />
Por exemplo, se o preço de mercado = R$ 100 e<br />
Margem de Contribuição (MC) desejada = 40%, como<br />
definir o custo ?<br />
CUSTO = PREÇO – 0,40 x PREÇO<br />
CUSTO = 0,60 x PREÇO = 0,60 x R$ 100<br />
CUSTO = R$ 60<br />
Ou seja, para atender ao preço do mercado de<br />
R$ 100 com a margem de contribuição (MC)<br />
desejada de 40%, o custo objetivo que a empresa<br />
deve praticar para não sofrer prejuízo é de R$ 60.<br />
Para certificar-se da viabilidade dos objetivos a<br />
alcançar, adotam-se medidas de redução baseadas<br />
em instrumentos de gestão que reduzem custos,<br />
tais como EAV, CCQ, Balanced Scorecard, 6 Sigma,<br />
Break even Point (análise custo-volume-lucro ou<br />
ponto de equilíbrio), Lean Production, TPM, TQC,<br />
Kaizen, que detalharemos mais adiante.<br />
4 COMO CRIAR MAIS VALOR PARA O<br />
CLIENTE E REDUZIR OS CUSTOS<br />
Atender às necessidades dos clientes, criar<br />
valor, fornecer produtos com a qualidade desejada,<br />
ser competitivo em preços não é tarefa das mais<br />
simples. É necessário contar com o empenho de<br />
todos da empresa e, sobretudo, servir do melhor<br />
modo possível o responsável pela existência dessa<br />
mesma empresa: o cliente.<br />
Nesse sentido, relatam-se alguns instrumentos<br />
de gestão que visam, dentre outros objetivos,<br />
otimizar custos.<br />
A Engenharia e Análise do Valor (EAV), segundo<br />
Csillag (1998), é um esforço organizado cujo<br />
objetivo é analisar as funções necessárias e<br />
essenciais de maneira que representem o menor<br />
custo possível. Seu surgimento está ligado à<br />
pesquisa de novos materiais, de custo mais baixo<br />
e obtenção mais acessível, que substituíssem os<br />
materiais escassos na época devido à II Guerra<br />
Mundial. Essa ferramenta originou-se na GE dos<br />
EUA através do Eng. Lawrence D. Miles, em 1947.<br />
Os Círculos de Controle da Qualidade (CCQ),<br />
conforme Campos (1996), são grupos de pessoas<br />
que, de forma voluntária, formam-se e reúnem-se<br />
para discutir problemas relativos a diversas áreas,<br />
inclusive à de atuação de um ou mais integrantes<br />
do grupo. O maior objetivo do CCQ é desenvolver<br />
a saúde mental (motivação das pessoas).<br />
37
A dministração Artigo<br />
O CCQ vale-se de instrumentos de pesquisa e<br />
registro, tratamento e análise de dados, bem como<br />
de outros meios em busca de soluções para o<br />
problema objeto de seu estudo. Vinculados a<br />
atividades de organização, métodos, estatísticas,<br />
racionalização de atividades, otimização do uso de<br />
recursos, criatividade, etc., contam-se os<br />
Histogramas, o Diagrama de Pareto, o Diagrama de<br />
Ishikawa Seqüencial e o Diagrama de Causa e Efeito.<br />
O Balanced Scorecard é, de acordo com Kaplan<br />
(1991), uma técnica gerencial com a qual uma<br />
empresa avalia a performance a partir de quatro<br />
perspectivas: a financeira, a do cliente, a das<br />
operações internas e a das atividades para inovação<br />
e aprimoramento. O quadro equilibrado de<br />
indicadores é um sistema que ajuda a empresa a<br />
selecionar e a focar as estratégias que permitem<br />
criar valor futuro.<br />
Para pôr em prática o Balanced Scorecard, é<br />
necessário explicitar metas de prazo, qualidade e<br />
desempenho e atendimento, traduzindo-as em<br />
medidas específicas. Aplicando as medidas<br />
específicas, originar-se-á nos processos maior<br />
impacto sobre a satisfação dos clientes e nos<br />
fatores que afetam o tempo de ciclo, a qualidade,<br />
a capacitação dos colaboradores e a produtividade.<br />
O 6-Sigma, segundo Pyzdek (2003), não se<br />
ocupa da qualidade no sentido tradicional, ou seja,<br />
conformidade com as normas e requisitos técnicos.<br />
O programa redefine a qualidade como valor<br />
agregado por um esforço produtivo e procura fazer<br />
a empresa alcançar seus objetivos estratégicos.<br />
Segundo ele, o 6-Sigma consiste na utilização<br />
de um conjunto de técnicas comprovadas e na<br />
capacitação de um quadro de líderes técnicos da<br />
empresa, os black-belts, responsáveis por sua<br />
aplicação eficiente. As empresas que utilizam esse<br />
programa bem estruturado conseguem melhorar<br />
produtos e serviços e trazer vantagens de maior<br />
eficiência operacional, redução de custos, melhoria<br />
de qualidade, aumento da satisfação dos clientes<br />
e aumento da produtividade.<br />
O Break-even Point (análise custo-volume-lucro<br />
ou ponto de equilíbrio), segundo Gitman (2002),<br />
determina o nível de operações necessárias para<br />
cobrir todos os custos operacionais e avaliar a<br />
lucratividade associada a valores de níveis de<br />
vendas. O ponto de equilíbrio operacional (PE) ou<br />
Break-even Point de uma empresa é o nível de<br />
vendas necessário para cobrir todos os custos<br />
operacionais (fixos e variáveis).<br />
38<br />
PE =<br />
CF<br />
MC UNITÁRIA<br />
R = Receita CT = Custo Total<br />
CV= Custo Variável CF = Custo Fixo<br />
MC = P – CV CT = CF + CV<br />
MC = Margem de Constribuição<br />
P = Preço de Venda<br />
Lean Production<br />
As exigências do mercado obrigam à diversificação<br />
dos produtos, com qualidade assegurada,<br />
mas vida útil curta, acompanhando sempre a<br />
demanda de custos menores. Em atendimento a<br />
essas solicitações, a produção enxuta Lean, estabelecida<br />
pela Toyota, considera:<br />
a) produção em fluxo;<br />
b) tecnologias de processos e desenvolvimento<br />
altamente capazes e flexíveis;<br />
c) processos à prova de erro;<br />
d) organização por famílias de produtos de clientes<br />
e fornecedores.<br />
Womack e Jones (1998) citam como exemplo a<br />
Porsche, que utilizou esse instrumento com o<br />
objetivo de reverter uma situação de perdas de<br />
vendas e lucros. O problema da empresa estava nos<br />
custos: caros demais para o comprador da década<br />
de 1990. O Presidente da empresa estabeleceu um<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
modelo de competitividade real, causada pela busca<br />
da eficácia das operações, ao identificar o que é<br />
desperdício pela ótica do cliente.<br />
O objetivo fundamental consiste na entrega de<br />
valor ao consumidor por meio de processos que<br />
eliminem desperdícios desde o projeto até a chegada<br />
ao cliente. Consideram-se os insumos que não<br />
agregam valor, associados ao movimento, transporte,<br />
estoque, espera, por excesso de produção e em<br />
atividades desnecessárias – retrabalho, procura de<br />
defeitos, contagem de peças, acompanhamento do<br />
funcionamento das máquinas, contagem de estoque,<br />
longos transportes, superprodução.<br />
Os autores enfatizam cinco passos fundamentais<br />
que traduzem o pensamento enxuto:<br />
a) definição de valor pelo cliente, avaliando o que<br />
o cliente valoriza com referência a preço,<br />
qualidade, confiabilidade;<br />
b) identificação da cadeia de valor: ações específicas<br />
necessárias para avaliar os passos e processos<br />
pelos quais o produto ou serviço é submetido;<br />
c) criação de um fluxo de valor, identificando-o com<br />
precisão, mapeando toda a cadeia, reconhecendo<br />
as etapas que geram desperdício, eliminando-as<br />
e, contrariamente àqueles que agregam valor,<br />
que fluam;<br />
d) realização de uma produção puxada, atendendo<br />
aos desejos do consumidor. O Takt-time é usado<br />
nessa fase, sincronizando o ritmo de produção<br />
com o de vendas;<br />
tempo de operação<br />
Takt-time: quantidade exigida pelo cliente<br />
e) após a identificação da cadeia de valor como um<br />
todo, propiciar a criação de valor e sua fluência,<br />
permitindo aos clientes puxar o valor da<br />
empresa, gerando um processo adequado.<br />
TPM (Total Productive Maintenance)<br />
Conforme Mirshawka e Olmedo (1994), a Total<br />
Productive Maintenance ou Manutenção Produtiva<br />
Total busca melhor desempenho do equipamento<br />
e, em conseqüência, o aumento substancial da<br />
produtividade industrial, com redução de custos.<br />
julho/dezembro-2003<br />
A TPM surgiu no Japão há décadas, nos EUA em<br />
1987 e, logo em seguida, foi introduzida no Brasil<br />
a partir de diversas visitas do mentor da técnica, o<br />
Dr. Seiichi Nakajima.<br />
Essa técnica é um programa de manutenção que<br />
envolve todos os funcionários da empresa, desde<br />
a alta administração até a linha de produção.<br />
Dentre os objetivos da TPM, destacam-se:<br />
1) garantir a eficiência global das instalações, devendo<br />
operar em sincronia com os custos planejados e<br />
obter resultados de qualidade;<br />
2) instalar um programa que funcione de acordo com<br />
as mudanças no desempenho do equipamento,<br />
decorrentes de uso e tempo de vida;<br />
3) obter o apoio de todos os setores envolvidos no<br />
plano de elevação da capacidade instalada, garantindo<br />
cooperação dos departamentos, reduzindo<br />
os níveis de estoque, exigências de treinamento<br />
e tempos de fabricação;<br />
4) utilizar as potencialidades dos funcionários de<br />
todos os níveis, a fim de contribuir para a melhoria<br />
do processo de fabricação;<br />
5) desenvolver equipes consolidadas para a melhoria<br />
contínua, constituídas por operadores, pessoal da<br />
manutenção e, inclusive, gerentes.<br />
TQC (Total Quality Control)<br />
De acordo com Werkema (1995), o Controle de<br />
Qualidade Total, ou TQC (Total Quality Control), é<br />
um sistema gerencial baseado na participação de<br />
todos os setores e funcionários da empresa, no<br />
estudo e na condução do controle da Qualidade.<br />
Segundo Werkema, apud Campos (1992), um<br />
produto ou serviço de qualidade é o que atende<br />
aos requisitos de confiabilidade, acessibilidade e<br />
segurança, bem como às necessidades do cliente.<br />
Os componentes da qualidade total são:<br />
a) qualidade – envolve a ausência de defeitos e a<br />
presença de características que satisfaçam o<br />
consumidor: qualidade do pessoal, da informação,<br />
do treinamento, entre outros;<br />
b) custo – diz respeito ao custo operacional para a<br />
fabricação do bem ou serviço e envolve diversos<br />
outros itens, tais como custos de compras, de<br />
vendas, de produção, de treinamento;<br />
c) entrega – deve acontecer na quantidade, data e<br />
local planejados pelo cliente;<br />
39
A dministração Artigo<br />
d) moral – componente medido pelo nível de<br />
satisfação dos funcionários que trabalham na<br />
empresa;<br />
e) segurança – refere-se às condições de segurança<br />
dos funcionários e dos usuários do produto. Os<br />
produtos não podem provocar acidentes de<br />
trabalho na empresa nem, muito menos, nos<br />
usuários;<br />
f) processo – combinação de elementos tais como<br />
equipamentos, insumos, métodos ou procedimentos,<br />
condições ambientais, pessoas,<br />
informações do processo ou medidas, visando à<br />
fabricação de bem ou fornecimento de um serviço.<br />
40<br />
Kaizen<br />
Conforme Michelazzo (2003), o Kaizen é uma<br />
técnica de melhoria contínua de processos,<br />
desenvolvida pela Toyota, com vista a obter um<br />
produto ou serviço com custo mais baixo possível.<br />
A técnica basicamente constitui-se das seguintes<br />
etapas:<br />
1) observar e vistoriar o processo atual;<br />
2) mapear o processo atual, listando cada passo,<br />
definindo valor agregado versus nenhum valor<br />
agregado. Se necessário, utilizar o Diagrama de<br />
Ishikawa ou o Diagrama de Causa e Efeito;<br />
3) esquematizar o processo atual e o conteúdo do<br />
trabalho;<br />
BORNIA, A. C. Análise gerencial de custos. Aplicação<br />
em empresas modernas. Porto Alegre: Bookman, 2002.<br />
CAMPOS, V. F. Gerenciamento pelas diretrizes. Belo<br />
Horizonte: QFCO, 1996.<br />
CSILLAG, J. M. Análise de valor e metodologia do<br />
valor. São Paulo: Atlas, 1998.<br />
GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira.<br />
São Paulo: Harbra, 2002.<br />
KAPLAN, R. S. Organização orientada para a<br />
estratégia. São Paulo: Campus, 1991.<br />
MARTINS, E. Contabilidade de custos. 7. ed. São Paulo:<br />
Atlas, 2000.<br />
MICHELAZZO, L. A. Kaizen na Delphi. Simples idéias.<br />
Milhões de dólares. Revista AutoData. out. 2003.<br />
ano 12. n.170.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
4) estabelecer os objetivos a atingir;<br />
5) realizar o processo de levantamento de idéias<br />
brainstorming;<br />
6) implementar o novo processo rapidamente,<br />
mapeando, fiscalizando e utilizando o fluxograma.<br />
Cumpre observar o takt-time, identificando pontos<br />
fracos e implementando melhorias.<br />
5 CONCLUSÕES<br />
Tão-somente reduzir custos, utilizando este ou<br />
aquele instrumento ou metodologia, ou então<br />
reduzir tempos operacionais com mudanças de<br />
processos não é suficiente. É necessário avaliar em<br />
um contexto mais amplo, buscando não apenas<br />
reduzir os custos, mas avaliar o que o cliente está<br />
valorizando e, sobretudo, analisar se a empresa<br />
atinge resultados favoráveis com os custos e<br />
margens praticados.<br />
Ao implementar mudanças na empresa, cumpre<br />
observar alguns pontos que favorecem a redução<br />
de custos:<br />
a) qualificação dos funcionários e gestores para<br />
atender às mudanças;<br />
b) conscientização de todos quanto à necessidade<br />
de mudanças;<br />
c) mensuração dos resultados antes e depois das<br />
mudanças;<br />
d) motivação dos envolvidos para alcançar<br />
resultados melhores, partilhando os benefícios.<br />
MIRSHAWKA, V. e OLMEDO, N. L. TPM à moda<br />
brasileira. São Paulo: Sugestões Literárias, 1994.<br />
PYZDEK, T. 6 Sigma a um passo da perfeição. Revista HSM<br />
Management, n. 38, ano 7 maio/jun. 2003. p. 63–70.<br />
SALERNO, M. S. et al. Pesquisa desenvolvida junto ao<br />
BNDES. O mapeamento da nova configuração da<br />
cadeia automotiva brasileira. Disponível em http//<br />
www.poli.usp/br/pro/cadeiaautoma. São Paulo: 2001.<br />
SCARPIN, J. E. Target-Costing e sua utilização como<br />
mecanismo de formação de preços para novos<br />
produtos. Dissertação de Mestrado, Londrina, 2000.<br />
WERKEMA, M. C. C. As ferramentas da qualidade no<br />
gerenciamento de processos. Belo Horizonte: DGE, 1995.<br />
WOMACK, J. P. e JONES, D. A mentalidade enxuta nas<br />
empresas. Elimine o desperdício e crie riqueza.<br />
Apêndice especial por Ferro, José Roberto. Rio de Janeiro:<br />
Campus, 1998.<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
E-BRAND – UM ESTUDO SOBRE A MARCA<br />
NO COMÉRCIO ELETRÔNICO<br />
julho/dezembro-2003<br />
Sandra Pires de Almeida<br />
Mestre em <strong>Adm</strong>inistração de Empresas,<br />
Pós-Graduada em <strong>Adm</strong>inistração de Marketing com extensões universitárias no RlT/EUA,<br />
publicitária e professora universitária da ESAMC/ESPM E UNIP.<br />
Denis Donaire<br />
Doutor e Livre Docente em <strong>Adm</strong>inistração no IMES, UNICID, UNIP.<br />
O comércio eletrônico é uma realidade no mundo<br />
globalizado e mobiliza a empresa a observar o<br />
modo como usa a atribuição da sua marca na<br />
internet. Surge o conceito de e-brand – marca eletrônica<br />
– gestão da marca no comércio eletrônico<br />
e as ações estratégicas para padronizar, regularizar<br />
e gerenciar o uso da marca na internet e<br />
no site da empresa.<br />
R E S U M O<br />
Palavras-chave: comércio eletrônico, e-brand,<br />
marca, valor, marketing on-line.<br />
41
A dministração Artigo<br />
A tecnologia está provocando mudanças<br />
significativas na natureza da concorrência,<br />
causando mudanças significativas no modo de<br />
vender produtos e serviços, além das mudanças<br />
possíveis no modo de criar comunicação e relacionamento<br />
de uma empresa com seus consumidores.<br />
Neste cenário de mudanças entra em questão o<br />
valor e a gestão da marca aplicados ao comércio<br />
eletrônico.<br />
O comércio eletrônico é um tópico de estudo<br />
multidisciplinar, obrigatório na moderna gestão<br />
estratégica de negócios, de grande importância<br />
para gestores e executivos de qualquer área funcional<br />
do mundo empresarial. Quando bem usado e<br />
gerenciado, torna-se o maior aliado da empresa<br />
na competição global; quando mal usado, no<br />
contexto estratégico, torna-se o maior inimigo dos<br />
executivos de marketing.<br />
As empresas que se defrontam com as mudanças<br />
tecnológicas encontram-se na transição para<br />
considerar os reais benefícios estratégicos que a<br />
dinâmica do comércio eletrônico oferece. Segundo<br />
Albertin (2000), a tecnologia da informação, base<br />
operacional do comércio eletrônico, apresenta<br />
contribuições classificadas por categorias, dentre<br />
elas o relacionamento, novos canais de venda, novas<br />
oportunidades de negócios e economia direta.<br />
As empresas se comunicam com seus clientes<br />
por meio de várias mídias. Por muitos anos, as<br />
tecnologias vêm alterando profundamente a visão<br />
tradicional de mídia de marketing, compra e venda.<br />
Os ambientes intermediados por computadores<br />
permitem uma outra maneira de atingir os<br />
consumidores, e incentivam compradores e<br />
vendedores a incrementar sua utilização, por<br />
possibilitar:<br />
• melhora na comunicação com seus clientes;<br />
• mais eficiência nas relações de vendas com<br />
clientes;<br />
• mais atratividade em seus mercados.<br />
Para Kotler (2000) a grande vantagem de<br />
divulgar produtos ou serviços na internet provém<br />
de variáveis como conveniência, informação e<br />
maior comodidade para o usuário. Para as<br />
empresas, a internet como meio de divulgação<br />
proporciona rapidez no ajuste às condições do<br />
mercado, custos mais baixos e construção de<br />
relacionamento com a marca, este último<br />
praticamente impossível de ser feito em outros<br />
meios de divulgação.<br />
42<br />
As aplicações do comércio eletrônico são várias:<br />
marketing direto, bancos on-line, e-government,<br />
e-marketplaces, trocas B2B, leilões, viagens,<br />
publicações on-line, serviços diversos, pesquisa de<br />
mercado, propaganda e promoções, ações institucionais,<br />
publicidade, atendimento on-line. Para as<br />
empresas multinacionais, o comércio eletrônico<br />
permite a administração dos negócios globais, a<br />
comunicação policêntrica entre a matriz e suas<br />
filiais e também a troca de cultura e conhecimento<br />
entre os funcionários de outros países.<br />
De acordo com Turban & King (2004), a<br />
abrangência do comércio eletrônico depende da<br />
relação de cinco áreas estratégicas: pessoas<br />
(vendedores, compradores, intermediários,<br />
colaboradores, parceiros, funcionários e outros);<br />
política pública (leis e regulamentações específicas<br />
determinadas pelo governo); protocolos e padrões<br />
técnicos (comunicação, pagamentos e cobranças,<br />
trâmite de dinheiro on-line, segurança de dados,<br />
privacidade); parceiros de negócios (parcerias<br />
comerciais de diversos tipos); serviços de apoio<br />
(pesquisa de mercado, propaganda, relacionamento,<br />
feed back, conteúdo, suporte on-line, banco de<br />
dados, sistema de informações em marketing).<br />
Todas estas áreas gerenciadas e integradas<br />
produzem expansão comercial para a empresa,<br />
fidelidade de parceiros e clientes, e aumentam a<br />
abrangência global da marca na internet.<br />
Os autores apresentam as vantagens do<br />
comércio eletrônico, dentre elas a redução nos<br />
custos de transações. Um banco gasta 1,08 dólar<br />
para efetuar uma simples transação numa agência,<br />
ao passo que na web a mesma transação custa entre<br />
0,02 e 0,10 dólar. Comentam ainda os benefícios<br />
do comércio eletrônico para a sociedade em que<br />
existe melhoria no padrão de vida e na oferta de<br />
serviços públicos.<br />
O comércio eletrônico permite a personalização<br />
de produtos e serviços. As empresas recémchegadas<br />
podem estabelecer imagens corporativas<br />
rapidamente; as empresas mais tradicionais usam<br />
a atuação na web para afirmar ainda mais sua<br />
identidade corporativa e sua imagem de marca.<br />
A marca sempre foi considerada uma chave para<br />
o sucesso do varejo. De acordo com Turban & King<br />
(2004), diz-se que os consumidores estão mais<br />
dispostos a adquirir produtos com forte reconhecimento<br />
de marca. A lição que se aprende com as<br />
histórias de sucesso é que a maioria dos clientes,<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
especialmente os fiéis e duradouros, chega ao site<br />
a partir de links afiliados, dispositivos de busca ou<br />
recomendações pessoais gerados pela lembrança<br />
da marca.<br />
Gerenciar o negócio a partir de uma plataforma<br />
eletrônica é o maior dos desafios da administração<br />
e do marketing. Simultaneamente, o site de uma<br />
empresa é acessado por milhões de pessoas no<br />
mundo que são consumidores, usuários ou<br />
simplesmente formadores de opinião na própria<br />
rede. Ao entrar no site de uma empresa, o usuário<br />
procura bens, serviços ou apenas informação. E<br />
embora muito negligenciada pelos gestores de<br />
negócios, a informação disponibilizada no site<br />
reflete a cultura da empresa, seus objetivos, sua<br />
conduta em relação ao consumidor e o modo como<br />
disponibiliza as informações para o público que<br />
deseja atingir.<br />
No mundo global e competitivo, o site é uma<br />
poderosa ferramenta de relacionamento com os<br />
clientes, principalmente se for considerado que a<br />
decisão de navegação é exclusiva do usuário.<br />
Quando um site de uma empresa tem a preferência<br />
do usuário significa que esta encontra-se em<br />
vantagem competitiva frente à concorrência.<br />
De acordo com Zaccarelli (2000), a vantagem<br />
competitiva por ter a preferência dos clientes referese<br />
ao fato de o produto ter a primazia dos clientes<br />
sobre os produtos das empresas concorrentes nas<br />
condições de mercado. É possível analisar esta<br />
definição no contexto do comércio eletrônico uma<br />
vez que a busca por informações sobre produtos<br />
farmacêuticos e medicamentos na internet tornouse<br />
uma pesquisa comum em populações de área<br />
urbana e classe média.<br />
A grande maioria dos sites das empresas é<br />
gerenciada exclusivamente pelo tópico tecnológico,<br />
cujo responsável é um profissional de<br />
informática. É possível observar esta característica<br />
analisando-se a formatação do texto e das várias<br />
clicadas necessárias para se chegar ao que<br />
realmente importa, provocando longas esperas<br />
para acessar conteúdos desnecessários. De acordo<br />
com o estudo da London Business School<br />
(Hammond, 2002) dentre as maiores barreiras<br />
capazes de atrapalhar a adoção do comércio<br />
eletrônico ou a navegação estão: “O consumidor<br />
acha difícil utilizar a interface” – 45%; e “A interface<br />
do site para o consumidor não está desenvolvida<br />
o suficiente” – 76%.<br />
julho/dezembro-2003<br />
No passado, é de conhecimento do mundo<br />
acadêmico e também do mundo empresarial que o<br />
site era visitado por qualquer tipo de usuário, pois<br />
a internet ainda estava em um processo exploratório.<br />
Em função das várias mudanças ocorridas, principalmente<br />
na forma de construir sites e também no<br />
modo como as pessoas tornaram-se mais seletivas<br />
no ato da navegação, os sites atraem públicos-alvo<br />
específicos, e que no mundo empresarial tornamse<br />
um valor importante para a persuasão e as ações<br />
de marketing em relação à marca de uma empresa,<br />
produto ou serviço.<br />
Uma marca bem posicionada e bem divulgada<br />
é uma vantagem competitiva sustentável a ponto<br />
de gerar tanto valor ao consumidor que outras<br />
empresas não conseguem imitar. A marca é o maior<br />
patrimônio de uma empresa e está diretamente<br />
relacionada à sua imagem corporativa. Seu uso<br />
como componente do marketing é um fenômeno<br />
recente do final do século XX. Uma marca protege<br />
o fabricante de fraudes e imitações e é mais<br />
lembrada pelo consumidor quando oferece um<br />
valor perceptível. A somatória dos sentimentos e<br />
percepções que tornam uma marca única é o que<br />
se denomina brand equity – união da marca aos<br />
seus consumidores.<br />
Uma marca é um nome diferenciado destinado<br />
a identificar os bens ou serviços de um vendedor<br />
e a diferenciar esses bens e serviços dos concorrentes.<br />
Aaker (1998) define que uma marca sinaliza<br />
ao consumidor a origem do produto e protege<br />
tanto o consumidor quanto o fabricante dos<br />
concorrentes que oferecem produtos que pareçam<br />
idênticos. Associações únicas de marcas estabeleceram-se<br />
por meio de atributos de produtos,<br />
nomes, embalagens, estratégias de distribuição e<br />
propaganda. Para muitos negócios, o nome da marca<br />
e o que ela representa são o seu mais importante<br />
ativo. A marca torna-se a base de sua vantagem<br />
competitiva, de ganhos futuros e participação em<br />
mercado.<br />
A estratégia de marca na visão de Aaker (2000)<br />
deve ser influenciada pela estratégia de negócio e<br />
refletir a mesma visão estratégica e a mesma<br />
cultura corporativa. Além disso, a identidade da<br />
marca não deve prometer o que a estratégia não<br />
pode ou não deseja oferecer. O desafio de manter<br />
uma marca presente no mercado diante da pressão<br />
da concorrência é permitir flexibilidade suficiente<br />
para ter sucesso em mercados diversos e<br />
administrar as extensões de marcas.<br />
43
A dministração Artigo<br />
De acordo com o autor, o novo modelo de gestão<br />
de marca se expande de uma única marca para<br />
uma categoria de produtos. A meta é fazer com<br />
que as marcas de uma determinada categoria ou<br />
unidade de negócios trabalhem em conjunto para<br />
oferecer o impacto mais coletivo e maximizar a<br />
eficácia de marketing.<br />
Cada marca ativamente gerenciada necessita de<br />
uma identidade visual, uma visão de como a marca<br />
deve ser percebida pelo seu público-alvo. O seu<br />
correto posicionamento pode auxiliar a identidade<br />
da marca por meio dos objetivos de comunicação.<br />
Se sua identidade for confusa, maiores são as<br />
chances de insucessos na construção eficaz dessa<br />
marca e no relacionamento com o consumidor.<br />
Aaker (2000) define que a comunicação é<br />
necessária para realizar a identidade da marca. A<br />
chave da maioria das marcas fortes é a execução<br />
brilhante que rompe o lugar-comum, oferece<br />
impulso à marca e cria um impacto cumulativo ao<br />
longo do tempo. O desafio é ser notado, lembrado<br />
e mudar percepções.<br />
No que compete à gestão da marca no comércio<br />
eletrônico, surge o conceito de e-brand – marca<br />
eletrônica – e as ações estratégicas para<br />
padronizar, regularizar e gerenciar o uso da marca<br />
na internet.<br />
A marca na internet é como um sinalizador: diz<br />
ao usuário que durante a navegação ele não estará<br />
sozinho e quando posicionada estrategicamente no<br />
site, mais propriamente na célula de abertura ou nas<br />
telas de núcleo, funciona como um imponente cartão<br />
de entrada para uma excepcional experiência<br />
de navegação. Entretanto, quando a gestão de<br />
criação do site é limitada à tecnologia, a marca é um<br />
pequeno elemento posicionado nos primeiros frames<br />
de abertura e se perde ao longo de toda a navegação.<br />
Na estratégia de e-brand, a marca é um componente<br />
de criação do comércio eletrônico. E um ícone<br />
tão importante quanto qualquer outro tópico de<br />
navegação ou isca (isca é o nome dado aos<br />
elementos de criação para web criados para atrair a<br />
navegação do usuário por todo o site evitando a<br />
desconexão).<br />
As maiores perdas são registradas em sites<br />
nacionais em cuja criação predomina a tecnologia.<br />
Nos sites de empresas multinacionais, nota-se<br />
grande diferença da atribuição da marca da<br />
empresa ao comparar o site da matriz no país<br />
doméstico e nas filiais dos países anfitriões. Há<br />
diferenças marcantes na direção de arte, na<br />
estrutura de navegação e na estética web em<br />
relação ao conteúdo, figuras e serviços. Ou seja,<br />
não existe um padrão.<br />
44<br />
Ao optar por uma ação estratégica na web<br />
oferecendo informação, conhecimento, serviços ou<br />
presença corporativa, a empresa deve contar com<br />
a ação do gestor de marketing para supervisionar<br />
o atributo da marca no site e em toda a navegação<br />
e sua padronização em relação ao aspecto global<br />
da empresa.<br />
Montar um site com o objetivo de comércio<br />
eletrônico visa reproduzir as etapas pelas quais um<br />
usuário passa no processo de reunir informações<br />
para a decisão de compra, de modo confiável e<br />
flexível. O site deve reagir à mudança do mundo<br />
global e acompanhar a comunicação externa da<br />
marca nas diversas formas de divulgação como, por<br />
exemplo, a propaganda.<br />
Atualmente as empresas concorrem com<br />
dezenas de milhares de sites e precisam de mais<br />
do que uma simples divulgação da marca para<br />
marcar presença no mundo virtual. Griffth (2000)<br />
apresenta o caso da Clinique, marca de cosméticos<br />
da Estèe Lauder que ficou surpresa ao descobrir<br />
em uma pesquisa feita pela internet que 80%<br />
das pessoas que entravam em seu site corporativo<br />
prefeririam comprar os produtos on-line.<br />
Imediatamente a Clinique abriu sua loja virtual.<br />
Para o comércio eletrônico, fatores intangíveis<br />
como reconhecimento e lealdade à marca são<br />
importantes.<br />
Esta lealdade à marca, tão importante para o<br />
sucesso de uma empresa, direciona ao estudo do<br />
valor. No marketing voltado para o valor, existe a<br />
orientação para se alcançar objetivos desenvolvendo<br />
valor superior para os consumidores (Churchill&<br />
Peter, 2001). O valor para o consumidor está na<br />
diferença entre as percepções quanto aos benefícios<br />
e quanto aos custos da compra e uso de produtos e<br />
serviços. Ao atribuir o valor ao comércio eletrônico<br />
e a gestão da marca na web, o consumidor espera<br />
ter benefícios superiores aos encontrados na<br />
concorrência.<br />
Existem vários instrumentos de análise utilizados<br />
pelos profissionais de web, que foram desenvolvidos<br />
ao longo de experiências profissionais de mercado<br />
juntamente com a observação aleatória das respostas<br />
de navegação de usuários, e que podem ser<br />
usados por executivos e fornecedores de criação. A<br />
função é analisar o site de comércio eletrônico de<br />
modo que melhore seu desempenho como instrumento<br />
de comunicação e negócios, e principalmente<br />
analisar a atribuição da marca no comércio eletrônico.<br />
Alguns aspectos que podem ser considerados<br />
são:<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
Tópico Nº SIM NÃO<br />
Padrão mínimo de aparições da marca em toda a navegação 15 a 20<br />
Presença da Marca na célula de abertura do site X<br />
Identidade Visual do site adequada com a Marca e a<br />
Comunicação Institucional<br />
X<br />
Presença da Marca no rodapé do site ou em ações de slogan X<br />
Presença da Marca na estrutura de diagramação com barra<br />
de rolagem<br />
X<br />
Identidade visual unificada de sites de empresas globais<br />
(matriz e filiais em outros países)<br />
X<br />
Links para opção de línguas em sites multinacionais X<br />
Navegação permite comércio eletrônico X<br />
Navegação institucional usa iscas X<br />
Dados de endereço e telefones facilmente localizáveis X<br />
Padrão máximo de telas abertas por tópico de navegação/ícone 2 a 3<br />
Opção visível da volta à célula de abertura do site presente<br />
em toda a navegação<br />
X<br />
Esses parâmetros descritos numa tabela simples<br />
em breves tópicos para entendimento disponibilizam<br />
um instrumento que pode vir a ser usado<br />
para análise de sites e as respectivas marcas de<br />
suas empresas.<br />
Com base nesta proposta e utilizando-se esses<br />
parâmetros, foi realizado um estudo referente à<br />
indústria farmacêutica, mais especificamente nos<br />
sites dos laboratórios, com o objetivo de analisar a<br />
atribuição da marcs no site e a funcionalidade dos<br />
mesmos. Levou-se em consideração que a indústria<br />
farmacêutica é um segmento produtivo que<br />
propõe mais a comunicação institucional com o<br />
consumidor final por meio do site, e que mantém<br />
a relação de divulgação de produtos juntamente<br />
com seu público intermediário, os médicos. Embora<br />
a indústria farmacêutica seja um segmento com<br />
vários stakeholders, o laboratório farmacêutico<br />
é a principal empresa da cadeia produtiva de<br />
medicamentos.<br />
O estudo teve como fundamentação metodológica<br />
a análise de 100 sites de laboratórios farmacêuticos<br />
selecionados por método de sorteio não<br />
probabilístico e análise exclusiva on-line por visita<br />
múltipla ao endereço eletrônico (URL) no período<br />
julho/dezembro-2003<br />
de setembro/03 a janeiro/04. No Brasil existem<br />
305 laboratórios farmacêuticos entre nacionais e<br />
multinacionais (Abifarma, 2004). Nos últimos cinco<br />
anos registraram-se várias fusões e incorporações<br />
de empresas internacionais do setor<br />
gerando a junção de marcas existentes ou criando<br />
outras novas no Brasil.<br />
Na análise dos 100 sites, aplicando-se os<br />
parâmetros do instrumento, 65 sites são de<br />
empresas multinacionais e que sofreram, direta ou<br />
indiretamente, as transformações de ações globais<br />
dos negócios por meio de fusões, acarretando a<br />
incorporação das respectivas marcas ou gerando<br />
outra nova. O restante da amostra selecionada, 35<br />
sites, pertencem a laboratórios nacionais.<br />
O estudo permitiu analisar que a gestão da<br />
marca na internet de empresas multinacionais no<br />
setor é um parâmetro pouco explorado, porque<br />
ela aparece poucas vezes ao longo da navegação<br />
no site. O resultado demonstrou que em 62% dos<br />
casos o site brasileiro da filial não mantém aspectos<br />
básicos de identidade visual da marca em relação<br />
ao site da empresa matriz no país doméstico. A<br />
marca é gerenciada na navegação com ferramentas<br />
de rolagem em 38% dos sites da amostra e o<br />
45
A dministração Artigo<br />
parâmetro de aparições da marca é inferior a 10<br />
vezes em 82% dos sites dos laboratórios da amostra<br />
total.<br />
Os dados de endereço e telefone do laboratório<br />
são facilmente identificáveis em 43% da amostra.<br />
Voltar à célula de núcleo ou à tela de abertura do<br />
site ainda é um problema na maioria dos sites da<br />
amostra: somente em 42% foi possível identificar<br />
facilmente os dados em poucas clicadas.<br />
Existem construções de navegação em que,<br />
dependendo do modo como o site foi concebido, a<br />
abertura da tela inicial demora a carregar e isso<br />
dificulta muito a navegação por parte do usuário.<br />
Outro dado importante é que as estatísticas de<br />
navegação dos sites da amostra revelaram a<br />
constante busca por informações de medicamentos,<br />
tratamentos e dados de doenças como itens mais<br />
visitados (mais clicados), porém são os tópicos que<br />
encontram-se em células de difícil navegação ou<br />
de mais de 4 parâmetros de quebra (exemplo:<br />
http://serviços/especialidademedica/doença/<br />
tratamento/prevenções).<br />
Em 39% dos sites da amostra foi possível<br />
identificar a linha de produtos produzidos ou pelo<br />
menos o segmento médico a que o laboratório se<br />
dedica. Em 57% dos sites a comunicação com o<br />
usuário não é estabelecida claramente: nos ícones<br />
de “contato” a maioria pede ao usuário que preencha<br />
um formulário sem identificar para qual departamento<br />
ou área a informação solicitada será encami-<br />
AAKER, D. A. Marcas, Brand Equity. 5. ed. São Paulo:<br />
Negócio, 1998.<br />
________. Como Construir Marcas. São Paulo: Futura, 2000.<br />
ABIFARMA. Associação Brasileira da Indústria<br />
Farmacêutica. São Paulo: 2004.<br />
ALBERTIN, A. Comércio eletrônico São Paulo: Atlas, 2000.<br />
CHURCHILL & PETER. Marketing criando valor para os<br />
clientes. São Paulo: Saraiva, 2001.<br />
GRIFFTH, V. Sua marca na internet. Revista HSM jul./<br />
ago. 2000, p. 100-106.<br />
46<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
nhada. No caso dos laboratórios multinacionais, no<br />
site da matriz do país doméstico o contato é feito<br />
via outlook (topo e e-mail de recepção identificáveis,<br />
tudo pronto bastando o usuário escrever a<br />
informação solicitada).<br />
Existem sites em que a marca aparece na<br />
estrutura de navegação com a presença de barra<br />
de rolagem em 18% da amostra e cujo instrumento<br />
de análise descreve como uma ação NÃO aplicável,<br />
assim como também NÃO é recomendável que a<br />
marca esteja no rodapé do site ou em ações de<br />
slogan.<br />
Estes parâmetros, se ajustados, podem ajudar a<br />
empresa a otimizar os resultados de comunicação,<br />
navegação e funcionalidade do site e assim<br />
aproximar a marca do consumidor. Na gestão da<br />
marca na internet é necessário unir esforços de<br />
tecnologia, marketing, administração e comunicação<br />
para fazer da presença on-line algo marcante<br />
e de valor ao usuário em qualquer local do mundo.<br />
O estudo permitiu observar de modo genérico<br />
que a gestão da marca na internet – e-brand – ainda<br />
é um tópico de estudo pouco desenvolvido por<br />
parte dos laboratórios em relação aos parâmetros<br />
relacionados no instrumento utilizado para a<br />
análise. Acredita-se que, com o resultado, estas<br />
empresas possam observar pequenos detalhes de<br />
comunicação e gestão da marca principalmente na<br />
ação global e assim melhorar o desempenho de<br />
seus respectivos sites na Internet.<br />
HAMMOND, K. O comércio eletrônico até 2010. HSM<br />
Management. n. 32, maio/jun. 2002, p. 38-46.<br />
KOTLER, P. <strong>Adm</strong>inistração de Marketing. São Paulo:<br />
Prentice Hall, 2000.<br />
TURBAN, E. & KING, D. Comércio eletrônico. São Paulo:<br />
Prentice Hall, 2004.<br />
ZACCARELLI, S. B. Estratégia e sucesso nas empresas.<br />
São Paulo: Saraiva, 2000.<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
A PERCEPÇÃO DE ALUNOS<br />
UNIVERSITÁRIOS EM RELAÇÃO<br />
A SEU CURSO. ESTUDO DE CASO:<br />
ADMINISTRAÇÃO DA UFMG<br />
julho/dezembro-2003<br />
R E S U M O ABSTRACT<br />
Neste artigo avalia-se o Curso de <strong>Adm</strong>inistração<br />
da UFMG, comparando um levantamento feito<br />
em 2003 com outro realizado em 2002,<br />
envolvendo, cada um deles, 245 alunos. O<br />
respectivo questionário contém nove perguntas<br />
(cinco qualitativas e quatro quantitativas). No<br />
caso das perguntas qualitativas, tabelas-resumo<br />
são apresentadas, contendo informações muito<br />
significativas. As quantitativas podem ser assim<br />
resumidas: Curso medíocre (69,8 pontos em<br />
2003, e 67,7 em 2002) e professores ruins (63,2<br />
e 60,8). Já a auto-avaliação dos alunos foi mais<br />
generosa: colegas (73,0 e 71,1 pontos) e pessoal<br />
(73,6 e 74,7).<br />
Comprova-se que os alunos são muito críticos<br />
em relação ao Curso e aos professores, mas não<br />
tanto com eles próprios. É necessário que se<br />
conscientizem de que são parte do co-governo<br />
universitário, que é o único meio para melhorar<br />
as instituições de ensino superior. Recomendase<br />
elaborar um Plano de Melhoria do Curso,<br />
alicerçado nos princípios e nas técnicas da Gestão<br />
da Qualidade Total dos processos educativos.<br />
Palavras-chave: avaliação discente, engajamento,<br />
co-governo.<br />
José A. Bonilla<br />
Departamento de Ciências <strong>Adm</strong>inistrativas (FACE/UFMG)<br />
In this article the Course of <strong>Adm</strong>inistration of the<br />
Federal University of Minas Gerais (UFMG) is<br />
evaluated, comparing a survey performed in 2002<br />
with another one accomplished in 2002 – each one<br />
of them envolving 245 students. The survey<br />
questionnaire contains nine questions (five<br />
qualitative and four quantitative). In the case of the<br />
qualitative questions, summary-tables, comprising<br />
very significant information, are presented in the<br />
study. The answers to the quantitative questions<br />
can be condensed in the following form: Mediocre<br />
course (69,8 points em 2003, and 67,7 em 2002);<br />
Bad teachers (63,2 e 60,8 respectively). The students<br />
self-evaluation was more generous: Classmates<br />
evaluation (73,0 e 71,1 points) and Personal<br />
evaluation (73,6 and 74,7).<br />
Based on those resuls one can verify that students<br />
are very critical in relation to the course and to<br />
the teachers, but not so much in regard their own<br />
evaluations. It is necessary that the students<br />
become aware that they take part of the academic<br />
co-government, which is the only way to improve<br />
the higher education institutions. Therefore, the<br />
formulation of a Course Improvements Plan –<br />
designated to consolidate the tenets and<br />
techniques Total Quality Management into the<br />
educational processe – is highly recommended.<br />
Keywords: students self-evaluation, engagement,<br />
co-government.<br />
47
A dministração Artigo<br />
48<br />
1 INTRODUÇÃO / JUSTIFICATIVA<br />
Durante uma década, o responsável pelo Projeto<br />
(Bonilla, 1993; Bonilla e Brandão, 1994; Bonilla e<br />
Lopes, 1995, 1998; Bonilla e Teixeira, 2002) tem<br />
estudado a percepção que os alunos de Graduação<br />
de <strong>Adm</strong>inistração da UFMG têm do Curso e do<br />
futuro da sociedade humana. Anteriormente<br />
(Bonilla, 1987), foi estudada a qualidade científica<br />
holística das Dissertações de Mestrado e,<br />
posteriormente (Bonilla, 2002), foi discutida a<br />
percepção dos alunos acerca da dimensão<br />
espiritual nos Cursos de Mestrado e Doutorado de<br />
<strong>Adm</strong>inistração da UFMG. Também foram feitas<br />
propostas sobre o Balanço Social da Universidade<br />
(Bonilla, 1991) e sobre a criação do Laboratório<br />
das Novas Idéias (Bonilla, 1995).<br />
Portanto, fica documentada uma linha de<br />
pesquisa relacionada com as percepções e os<br />
resultados obtidos pelos alunos de <strong>Adm</strong>inistração<br />
em vários níveis acadêmicos (Mestrado, Doutorado,<br />
e especialmente Graduação).<br />
Vive-se um período de transformação, onde, num<br />
futuro imediato, a palavra-chave será transparência,<br />
inserida em nosso linguajar pelo Prêmio Nobel<br />
Gorbatchev, por meio de sua proposta de glasnost.<br />
Para enfrentarmos as mudanças que esses novos<br />
tempos trazem em seu bojo, de modo transparente,<br />
é necessária uma evolução mais acelerada da<br />
consciência humana.<br />
Nesse marco referencial, a Educação tem que<br />
se adaptar às novas exigências, nas quais se inclui<br />
a mencionada transparência. Isso implica que o<br />
professor deve abandonar definitivamente os<br />
métodos autoritários, mas, ao mesmo tempo, é<br />
preciso que os alunos adotem comportamentos<br />
congruentes com sua condição de cidadãos e,<br />
especialmente, de beneficiários diretos da corrente<br />
de conhecimentos acumulados durante longos<br />
séculos, e às vezes durante milênios. No caso particular<br />
dos alunos das universidades públicas,<br />
acrescenta-se o vital fato de que toda a sociedade<br />
está financiando seus estudos, e portanto, este privilégio<br />
precisa ser manifesto na forma da responsabilidade<br />
pessoal e social e da autodisciplina.<br />
Trata-se, pois, de desenvolver uma convergência<br />
de natureza holística: para que o ensino, em<br />
particular o ministrado pelas universidades públicas,<br />
melhore com a rapidez necessária, é mister que as<br />
duas forças fundamentais envolvidas no processo<br />
educativo (professores e alunos) conscientizem-se<br />
de que cada um deve colocar seu “grão de areia” na<br />
construção de uma sociedade melhor, cuja<br />
argamassa fundamental é a própria educação.<br />
Com relação a esta abordagem, o estudo será<br />
centrado na procura de descobrir o que pensam os<br />
estudantes de Graduação acerca do Curso que estão<br />
fazendo, já que eles terão, dentro de pouco tempo,<br />
uma dupla responsabilidade: agir como cidadãos<br />
conscientes e como profissionais formados graças<br />
aos esforços da comunidade. Ou seja, espera-se<br />
deles que sejam agentes de transformação da nova<br />
sociedade que se avizinha, por meio de sua<br />
formação cívica e técnico-científica e não apenas<br />
clones manipulados pelo poder econômico.<br />
2 OBJETIVOS<br />
• Detectar como uma amostra representativa do<br />
universo de alunos do Curso de <strong>Adm</strong>inistração<br />
da UFMG se posiciona em relação a diferentes<br />
aspectos que o desenvolvimento de seu próprio<br />
Curso implica.<br />
• Elaborar uma análise global dos resultados<br />
obtidos nesta pesquisa (2003) e uma anterior<br />
(Bonilla e Teixeira, 2002), procurando determinar<br />
as concordâncias entre ambas, assim como<br />
possíveis alterações.<br />
3 REVISÃO DE LITERATURA<br />
No mundo atual, onde o conhecimento passou<br />
a ser um fator social, econômico e político de valor<br />
fundamental, estudos que avaliem o que acontece<br />
com o ensino nas Instituições de Ensino Superior<br />
– IES, especialmente levando em conta a opinião<br />
dos alunos, passam a ter uma importância decisiva.<br />
Bonilla (1993), Bonilla e Brandão (1994), Bonilla<br />
e Lopes (1995) levantaram opiniões de alunos de<br />
Graduação em <strong>Adm</strong>inistração da UFMG, acerca de<br />
sua visão sobre a relação deles com a sociedade<br />
humana em geral, e organizacional em particular.<br />
Alguns resultados que valem a pena registrar são<br />
os seguintes:<br />
• O fator mais importante da crise que nos assola<br />
(âmbito nacional e mundial) seria o social, mas<br />
também é reconhecida a importância dos fatores<br />
conceituais; já os tecnológicos são classificados<br />
como de pouca importância;<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
• Aproximadamente um terço dos alunos têm uma<br />
visão cartesiana do mundo;<br />
• Por volta de 60% dos alunos foram críticos em<br />
relação ao julgamento de sua própria geração,<br />
referindo-se à priorização explícita dos valores<br />
materiais;<br />
• A idéia principal para contribuir à melhoria da<br />
realidade organizacional, para 80% dos<br />
entrevistados, é a consideração dos aspectos<br />
humanos dentro das empresas. Os aspectos<br />
ambientais e operacionais mostraram ser<br />
completamente secundários.<br />
Bonilla e Lopes (1998) realizaram um trabalho<br />
nos moldes do atual projeto de pesquisa. Os<br />
principais resultados obtidos foram:<br />
• Os motivos mais importantes para estarem<br />
fazendo um Curso Superior são: desenvolvimento,<br />
realização e/ou crescimento pessoal e<br />
profissional (57%);<br />
• Em relação aos motivos para estarem fazendo<br />
<strong>Adm</strong>inistração, não sobressai nenhum motivo<br />
especial, tendo todos uma freqüência menor de<br />
20%;<br />
• Dentro dos aspectos favoráveis do Curso<br />
sobressai: “dar uma visão de outras áreas de<br />
conhecimento” (24%). Os restantes motivos estão<br />
muito dispersos com freqüências inferiores a<br />
10%;<br />
• Dentro dos aspectos desfavoráveis, o principal<br />
deve-se aos professores (mais de 60%),<br />
especialmente nos itens “falta de compromisso”,<br />
“despreparo” e “excesso de teoria”;<br />
• Pertinente às idéias para melhorar o Curso, as<br />
três mais freqüentes foram: “melhorar a didática<br />
dos professores”, “aumentar intercâmbio com<br />
as empresas” e “melhorar os recursos didáticos”;<br />
Em relação às perguntas objetivas, os resultados<br />
foram:<br />
Classificação do Curso ........................ 68,7 pontos<br />
Classificação dos Professores ............ 60,6 pontos<br />
Classificação dos Alunos .................... 62,4 pontos<br />
Classificação de si mesmo .................. 69,5 pontos<br />
A variabilidade das respostas é relativamente<br />
alta (Coeficiente de variação: 17 a 25%).<br />
julho/dezembro-2003<br />
O responsável pelo Projeto tem feito algumas<br />
propostas, de alguma forma relacionadas com a<br />
presente pesquisa, especialmente:<br />
• Bonilla (1991) sugere que a Universidade adote<br />
o Balanço Social como mecanismo de autoavaliação,<br />
considerando esta e seus parceiros<br />
sociais como o tecido de um ecossistema.<br />
Também é apresentado um modelo básico de<br />
Balanço Social para Universidades;<br />
• Bonilla (1995) propõe a criação de Laboratórios<br />
de Novas Idéias, onde a interação universidadeempresa-sociedade<br />
seja trabalhada, visando à<br />
mudança de paradigma, de modo que os futuros<br />
egressos possam ser verdadeiros agentes de<br />
transformação social.<br />
Outros trabalhos interessantes sobre o tema são<br />
os seguintes:<br />
• Pena (1995) compara opiniões dos alunos da<br />
PUC e da UFMG em relação a seus professores.<br />
Os resultados são altamente positivos e<br />
similares: conhecimento da disciplina (95-96%),<br />
interesse pela disciplina: (95%), relação entre<br />
formação e atividade (85-86%).<br />
• Motta (1996) também estuda a imagem institucional<br />
do Curso de <strong>Adm</strong>inistração da UFMG,<br />
concluindo que:<br />
• 40% discordam que a UFMG contribua efetivamente<br />
para a melhoria da qualidade de vida<br />
dos cidadãos;<br />
• 41% discordam que a UFMG possua excelência<br />
em termos de ensino;<br />
• 47% discordam da idéia de que a UFMG<br />
cumpre, de forma satisfatória, seu papel de<br />
passar a universalidade do conhecimento.<br />
O fato é que estamos numa época de mudanças:<br />
• Se não viver no futuro hoje, viverá no passado<br />
amanhã (Peter Ellyard);<br />
• Nenhum exército pode resistir à força de uma<br />
idéia cujo tempo chegou (Vitor Hugo).<br />
• Dryden e Vos (1996) afirmam: os maiores avanços<br />
do ser humano vieram de respostas inteiramente<br />
novas, vieram do desafio do status-quo, não de<br />
sua aceitação.<br />
Finalmente, deve-se dizer que é fundamental<br />
lembrar uma recomendação da Conferência<br />
Mundial da Unesco (1998) que afirma:<br />
49
A dministração Artigo<br />
“A Educação Superior deve empreender a<br />
transformação e a renovação mais radicais que<br />
jamais tenham enfrentado, de forma que a<br />
sociedade contemporânea, que vive atualmente uma<br />
crise profunda de valores, possa transcender suas<br />
considerações meramente econômicas e assuma<br />
dimensões éticas e espirituais mais arraigadas.”<br />
Para isso, precisamos começar levantando as<br />
correspondentes informações. Esse é propósito<br />
fundamental desta pesquisa.<br />
4.1 Amostragem<br />
50<br />
4 METODOLOGIA<br />
Foi utilizada uma amostra aleatória, representativa<br />
dos alunos de <strong>Adm</strong>inistração da UFMG<br />
(totalizando 245 discentes no ano 2002 e número<br />
igual em 2003), incluindo tanto o turno diurno<br />
como o noturno.<br />
4.2 Abordagem metodológica<br />
A pesquisa foi realizada por meio de um<br />
questionário envolvendo nove perguntas, cinco<br />
qualitativas e quatro quantitativas, a saber:<br />
TABELA 1<br />
Qualitativas:<br />
1. Quais são os motivos para você estar fazendo<br />
um Superior?<br />
2. Quais são os motivos que o levaram a estudar<br />
<strong>Adm</strong>inistração?<br />
3. Quais são os aspectos favoráveis do Curso?<br />
4. Quais são os aspectos desfavoráveis do Curso?<br />
5. Contribua com três idéias para melhorar o Curso.<br />
Quantitativas:<br />
6. Com que nota você classificaria o Curso?<br />
7. Com que nota você classificaria os professores?<br />
8. Com que nota você classificaria os alunos?<br />
9. Com que nota você classificaria a si próprio?<br />
5 RESULTADOS<br />
A seguir, serão apresentadas tabelas, uma para<br />
cada pergunta, contendo as respectivas freqüências<br />
absolutas e relativas. Esses resultados são<br />
comparados aos obtidos em Bonilla e Teixeira<br />
(2003). O número de alunos amostrados foi de 245<br />
em 2002 e igual número em 2003.<br />
5.1 Perguntas qualitativas<br />
QUAIS SÃO OS MOTIVOS QUE O LEVARIAM A FAZER O CURSO SUPERIOR?<br />
PRINCIPAIS MOTIVOS IDENTIFICADOS<br />
Freqüências<br />
Absolutas (%)<br />
2002 2003<br />
Freqüências<br />
Relativas (%)<br />
2002 2003<br />
1. Desenvolvimento e/ou realização profissional 154 151 29,6 24,1<br />
2. Possibilidade de ganhos financeiros 113 129 21,7 20,6<br />
3. Desenvolvimento e/ou realização intelectual 92 117 17,7 18,7<br />
4. Crescimento pessoal 71 82 13,6 13,1<br />
5. Influência familiar 00 38 — 6,0<br />
6. Status 29 23 5,6 3,7<br />
7. Outros 61 86 11,8 13,7<br />
TOTAL 520 626 100,0 100,0<br />
Média de resposta por aluno 2,12 2,55 — —<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
Em função dos resultados obtidos, houve ampla<br />
concordância entre ambas as amostras, pelo que<br />
o número de alunos entrevistados (490 num total<br />
de aproximadamente 1000) dá uma forte chancela<br />
àqueles.<br />
Destacam-se nitidamente, representando quase<br />
45% das freqüências relativas, os motivos “Desenvolvimento<br />
e/ou realização profissional” e “possibilidade<br />
de ganhos financeiros”. Em terceiro lugar,<br />
julho/dezembro-2003<br />
TABELA 2<br />
QUAIS OS MOTIVOS PARA ESTAR FAZENDO O CURSO DE ADMINISTRAÇÃO?<br />
PRINCIPAIS MOTIVOS IDENTIFICADOS<br />
Freqüências<br />
Absolutas (%)<br />
2002 2003<br />
Freqüências<br />
Relativas (%)<br />
2002 2003<br />
1. Gosta ou se identifica com a área 136 142 27,0 22,5<br />
2. Há bom mercado de trabalho 81 99 16,1 15,7<br />
3. Ter conhecimento sobre diversas áreas 53 102 10,5 16,2<br />
4. Interesse em áreas específicas da administração 40 18 7,9 2,2<br />
5. Desenvolvimento e crescimento pessoal 39 29 7,7 4,6<br />
6. Visão empreendedora 34 31 6,7 4,9<br />
7. Não gosta de outras áreas / indecisão 31 42 6,2 6,7<br />
8. Motivação familiar 28 34 5,5 5,4<br />
9. Facilidade do Curso 00 47 00 7,4<br />
10. Outros 62 86 12,4 13,8<br />
TOTAL 504 630 100,0 100,0<br />
Média de resposta por aluno 2,06 2,47 — —<br />
Na Tabela 2 se mostram os três motivos<br />
principais: “gosta ou se identifica com a área”, “há<br />
um bom mercado de trabalho” e “ter conhecimento<br />
sobre diversas áreas” (que cresceu muito em 2003).<br />
Esses motivos representam 53-54% das freqüências.<br />
apresentou-se o “desenvolvimento e/ou realização<br />
intelectual”, com quase 20% das freqüências. Por<br />
sua vez o peso do “status” caiu um pouco, aparecendo<br />
um novo motivo em 2003 com certa<br />
importância; trata-se da “influência familiar” (6,0%).<br />
A média de respostas para a pergunta aumentou<br />
consideravelmente, passando de 2,12 para<br />
2,55 respostas por aluno (eram pedidas três).<br />
Os outros motivos se mantiveram em patamares<br />
próximos em ambos os anos; entretanto, em 2003<br />
surgiu um novo motivo com a razoável freqüência<br />
de 7,4%. Trata-se da “facilidade do Curso”. É um<br />
motivo que não deixa de ser preocupante.<br />
51
A dministração Artigo<br />
52<br />
TABELA 3<br />
QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS ASPECTOS FAVORÁVEIS DO CURSO?<br />
PRINCIPAIS MOTIVOS IDENTIFICADOS<br />
Na Tabela 3, dois motivos sobressaem. Eles são:<br />
“o Curso fornece visão abrangente” e “bom nível<br />
dos professores” (*), representando ambos mais<br />
ou menos 30% das freqüências.<br />
Neste item algumas diferenças importantes<br />
ocorreram de ano para ano, principalmente as<br />
seguintes:<br />
• Bom programa curricular caiu de 7,1% para 2,8%.<br />
Freqüências<br />
Absolutas (%)<br />
2002 2003<br />
Freqüências<br />
Relativas (%)<br />
2002 2003<br />
1. Fornece visão abrangente 107 129 19,0 21,5<br />
2. Bom nível dos professores (alguns) 55 67 9,8 11,2<br />
3. Bom programa curricular 40 18 7,1 3,0<br />
4. Amplas opções de emprego 39 41 6,9 6,8<br />
5. Imagem da UFMG 35 70 6,2 11,7<br />
6. Dá uma visão crítica da realidade 32 15 5,7 2,5<br />
7. Conhecer outros alunos, criativos e capazes 26 36 4,6 6,0<br />
8. Desenvolvimento pessoal 24 15 4,3 2,5<br />
9. Excelência do curso 14 37 2,5 6,2<br />
10. É gratuito / É fácil 10 56 1,8 9,3<br />
11. Prepara para trabalhar nas empresas 00 — — —<br />
12. Outros 169 116 20,0 19,3<br />
TOTAL 564 600 100,0 100,0<br />
Média de respostas por aluno 2,30 2,45 — —<br />
• A imagem da UFMG foi muito mais reconhecida<br />
em 2003 (11,0%), em relação a 2002 (6,2%).<br />
• Por outro lado, o motivo ser “gratuito, fácil” teve<br />
um significativo crescimento (de 1,8% a 8,8%).<br />
• O número de respostas por aluno aumentou<br />
levemente em 2003 (2,45 contra 2,30 em 2002).<br />
(*) Mas é feita a ressalva de que só se trata de<br />
alguns.<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
julho/dezembro-2003<br />
TABELA 4<br />
QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS ASPECTOS DESFAVORÁVEIS DO CURSO?<br />
PRINCIPAIS MOTIVOS IDENTIFICADOS<br />
Freqüências<br />
Absolutas (%)<br />
2002 2003<br />
Freqüências<br />
Relativas (%)<br />
2002 2003<br />
1. Despreparo de alguns professores 104 114 17,4 19,2<br />
2. Falta de atualização do currículo 75 93 12,5 15,6<br />
3. Falta de compromisso dos professores 65 52 10,8 8,7<br />
4. Excesso de teoria/pouca prática 57 83 9,5 13,9<br />
5. Amplo demais / Não permite aprofundar conteúdo 37 26 6,2 4,4<br />
6. Falta de maior intercâmbio escola/empresa 28 20 4,7 3,4<br />
7. Metodologia de ensino ultrapassada 26 15 4,3 2,5<br />
8. Infra-estrutura inadequada 18 37 3,0 6,2<br />
9. Localização inadequada 12 20 2,0 3,4<br />
10. Os Professores Doutores não lecionam 00 24 2,0 4,0<br />
11. Falta de compromisso/motivação dos alunos 10 16 1,7 2,7<br />
12. Outros 155 95 25,9 16<br />
TOTAL 599 595 100,0 100,0<br />
Média de respostas por aluno 2,45 2,44 — —<br />
O “despreparo de alguns professores”, a “falta<br />
de atualização do currículo”, a “falta de compromisso<br />
dos professores” e o “excesso de teoria e<br />
pouca prática”, lideraram em ambos os anos os<br />
aspectos desfavoráveis do Curso, representando<br />
50,2 em 2002 e aumentando para <strong>58</strong>,1% em 2003.<br />
Os outros motivos ficaram bem distantes dos<br />
anteriores, especialmente o relativo a “falta de<br />
compromisso e de motivação dos alunos”, com<br />
freqüências bem baixas, da ordem de 2%.<br />
A média de respostas por aluno foi praticamente<br />
igual em ambos os anos (2,45 e 2,44).<br />
53
A dministração Artigo<br />
54<br />
TABELA 5<br />
“CONTRIBUA COM 03 IDÉIAS PARA MELHORAR O CURSO”<br />
PRINCIPAIS IDÉIAS IDENTIFICADAS<br />
Freqüências<br />
Absolutas (%)<br />
2002 2003<br />
Freqüências<br />
Relativas (%)<br />
2002 2003<br />
1. Dar mais atenção às reclamações dos alunos 83 07 16,6 1,1<br />
2. Melhorar a didática dos professores 79 29 15,8 4,4<br />
3. Maior interação entre teoria e prática 45 74 9,0 11,3<br />
4. Aumentar intercâmbio com empresas 38 52 7,6 8,0<br />
5. Melhorar capacitação dos professores (não efetivos) 34 139 6,8 21,3<br />
6. Melhorar infra-estrutura física 30 33 6,0 5,0<br />
7. Melhorar metodologia 30 15 6,0 2,3<br />
8. Maior compromisso dos professores 17 16 3,4 2,5<br />
9. Criação disciplinar empreendedorismo 12 16 2,4 2,5<br />
10. Reestruturar currículo 00 140 0,0 21,4<br />
11. Outros 133 133 26,4 20,3<br />
TOTAL 501 654 100,0 100,0<br />
Média de respostas por aluno 2,04 2,67 — —<br />
À diferença das anteriores, na Tabela 5 aparecem<br />
importantes oscilações de ano para ano.<br />
Com efeito, as propostas de “dar mais atenção<br />
às reclamações dos alunos” e mesmo “melhorar a<br />
didática dos professores” teve queda importante em<br />
2003 (5,6%) contra 32,4 em 2002, onde foram as<br />
duas idéias principais apresentadas pelos alunos.<br />
Surgiram com muita força em 2003 duas novas<br />
propostas: “reestruturar currículo” (21,6%) e “melhorar<br />
capacitação dos professores (não efetivos)” (21,5%).<br />
O resto das idéias propostas não mostrou muita<br />
variação.<br />
O número de contribuições por aluno aumentou<br />
muito em 2003 (2,67) contra 2,04 em 2002.<br />
Os resultados obtidos nas respostas qualitativas<br />
podem ser assim resumidos:<br />
• Pergunta 1. Em relação aos motivos que levam<br />
os alunos a fazer um Curso Superior, há ampla<br />
concordância entre as respostas de 2002 e<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
2003, confirmando a consolidação dos motivos<br />
“realização profissional” e “ganhos financeiros”.<br />
Na pesquisa feita por Bonilla e Lopes (1998), o<br />
motivo principal foi “desenvolvimento e/ou<br />
realização intelectual”. Esse resultado poderia<br />
ser explicado por uma crescente pressão do<br />
mercado, onde o crescimento pessoal e a<br />
realização intelectual perdem um terreno<br />
significativo para as preocupações meramente<br />
econômicas.<br />
• Pergunta 2. No tocante aos motivos para<br />
estudar <strong>Adm</strong>inistração, há ampla concordância,<br />
sendo os três principais: “identificação com a<br />
área”, “mercado de trabalho” e “conhecimento<br />
sobre diversas áreas” totalizando mais de 50%<br />
das respostas. Entretanto, o motivo “desenvolvimento<br />
e crescimento pessoal” está em baixa.<br />
Por outro lado, surgiu um novo motivo em 2003:<br />
“facilidade do Curso” em 2003; esse motivo é<br />
altamente preocupante.<br />
• Pergunta 3. O principal aspecto favorável do<br />
Curso é “fornecer visão abrangente”, atingindo<br />
por volta de 20% das respostas em ambos anos.<br />
O resto dos motivos apresenta freqüências<br />
baixas, nunca superiores a 11%. Destacam-se pela<br />
sua mudança freqüencial – dois motivos:<br />
“imagem da UFMG” aumentou de 6 a 11%; e a<br />
“facilidade (e gratuidade)” do Curso pulou de<br />
menos de 2% para quase 9%. Se compararmos<br />
com a pesquisa de Bonilla e Lopes (1998),<br />
percebe-se que estão em amplo declínio aspectos<br />
tais como “excelência do Curso” e “Curso em<br />
constante atualização”.<br />
• Pergunta 4. Há bastante concordância entre os<br />
anos 2002 e 2003 no tocante aos aspectos<br />
desfavoráveis do Curso. Eles são: “despreparo de<br />
julho/dezembro-2003<br />
TABELA 6<br />
alguns professores”, “falta de atualização do curriculum”,<br />
“falta de compromisso dos professores”,<br />
“excesso de teoria e pouca prática” que representam<br />
mais de 50% da insatisfação dos alunos. É<br />
interessante salientar que quase 98% desses<br />
aspectos desfavoráveis são atribuídos aos professores<br />
(com crítica especial para professores não<br />
efetivos, ou seja, substitutos, mestrandos e doutorandos),<br />
e só uns 2% à “falta de compromisso e<br />
motivação” dos alunos. É esse um assunto que<br />
precisará de um maior aprofundamento (Ver item<br />
6. Discussão).<br />
• Pergunta 5. À diferença das perguntas anteriores,<br />
no relativo às propostas para melhorar o Curso<br />
houve algumas mudanças significativas de ano<br />
para ano, caindo significativamente em 2003 “dar<br />
mais atenção às reclamações dos alunos” e<br />
“melhorar didática dos professores” (que eram<br />
as principais propostas de 2002, totalizando mais<br />
de 30% das freqüências).<br />
Em 2003 apareceram como propostas principais:<br />
“reestruturar currículo” e “melhorar a capacitação de<br />
professores não efetivos”, com 43% das freqüências.<br />
“Maior interação entre teoria e prática” e “aumentar<br />
intercâmbio entre empresas” se mantiveram em<br />
patamar próximo a 20%.<br />
O número de respostas aumentou consideravelmente,<br />
passando de 501 a 647, mas como já<br />
aconteceu em Bonilla e Lopes (1998), não houve<br />
nenhuma proposta em relação a “maior compromisso<br />
e participação dos alunos”. Essa informação<br />
é muito significativa e será retomada na Discussão<br />
(item 6).<br />
5.2 Perguntas quantitativas<br />
CORRESPONDENTE À MÉDIA E DISPERSÃO DAS PERGUNTAS 6, 7, 8 E 9<br />
Pergunta 6: Como classificaria o Curso?<br />
MÉDIA D.P. CV (%) MÉDIA<br />
2002 2003 2002 2003 2002 2003 2002-2003<br />
67,7 69,8 14,5 13,4 21,3 19,2 68,7<br />
Pergunta 7: Como classificaria os professores?<br />
MÉDIA D.P. CV (%) MÉDIA<br />
2002 2003 2002 2003 2002 2003 2002-2003<br />
60,8 63,2 14,1 15,4 23,2 24,2 62,0<br />
55
A dministração Artigo<br />
Pergunta 8: Como classificaria os alunos?<br />
56<br />
MÉDIA D.P. CV (%) MÉDIA<br />
2002 2003 2002 2003 2002 2003 2002-2003<br />
71,1 73,0 15,9 15,8 22,3 21,6 72,0<br />
Pergunta 9: Como se classificaria como aluno?<br />
MÉDIA D.P. CV (%) MÉDIA<br />
2002 2003 2002 2003 2002 2003 2002-2003<br />
74,7 73,6 6,3 12,1 8,4 16,4 74,2<br />
Os resultados das perguntas quantitativas<br />
podem ser assim resumidos:<br />
• O Curso, na média dos anos 2002-03, foi<br />
avaliado como medíocre (68,7 pontos).<br />
• Os professores, na média dos anos 2002-03,<br />
foram classificados como ruins (62,0 pontos).<br />
• Os alunos, na média dos anos 2002-03, foram<br />
avaliados com nota razoável (72,0 pontos).<br />
• Os alunos, na média dos anos 2002-03, se autoavaliaram<br />
pessoalmente com nota razoável<br />
(74,2).<br />
Comentários sobre esses resultados serão feitos<br />
no item 6 (Discussão), especialmente no tocante à<br />
classificação de professores e alunos.<br />
6 DISCUSSÃO<br />
Paralelamente a esta pesquisa, foi realizada<br />
outra, que envolve um levantamento preliminar<br />
sobre identificação de problemas prioritários no<br />
Curso de Graduação em <strong>Adm</strong>inistração da UFMG<br />
(Bonilla, 2003).<br />
Um cruzamento das informações obtidas na<br />
pesquisa mencionada com as correspondentes a<br />
este artigo permite enriquecer substancialmente<br />
a interpretação da problemática exposta.<br />
Os doze problemas principais identificados<br />
pelos alunos correspondem a duas turmas: diurna<br />
e noturna, tomadas como conjunto, podendo ser<br />
classificados em três categorias. São eles:<br />
• Relativos a administração acadêmica (falta de<br />
feedback de avaliação dos professores; falta de<br />
integração escola / empresa / comunidade;<br />
conservadorismo/comodismo; grade curricular<br />
rígida; falta de professores; excesso de burocracia<br />
no Setor de Ensino). As freqüências relativas<br />
oscilaram entre 53 e 90%;<br />
• Relativo aos professores (falta de comprometimento/desinteresse<br />
pela Graduação; falta de<br />
didática/problemas pedagógicos individuais;<br />
falta de integração entre eles (criação de<br />
feudos). As freqüências relativas variaram entre<br />
67 e 100%;<br />
• Relativo aos estudantes (falta de compromisso<br />
e envolvimento; individualismo/falta de espírito<br />
de reivindicação; comportamento de aluno de<br />
nível secundário). As freqüências relativas<br />
diversificaram entre 57 e 83%.<br />
De acordo com a informação levantada, os<br />
alunos avaliam o Curso como medíocre e os<br />
professores, ruins.<br />
Esses resultados são altamente preocupantes,<br />
sendo os aspectos desfavoráveis do Curso (ver Tabela<br />
4), atribuídos principalmente aos professores e<br />
depois às autoridades acadêmicas. Surpreendentemente,<br />
a turma de 2002 fornece 501 respostas e a<br />
de 2003, 647, na forma de contribuições para a<br />
melhoria do Curso, mas nenhuma envolve ação<br />
direta dos alunos nesse processo, sendo que a<br />
mesma tendência foi registrada em 1998 (Bonilla e<br />
Lopes, 1998).<br />
Como interpretar isso? É claro que os alunos estão<br />
muito insatisfeitos com o Curso. Isso é indiscutível.<br />
Mas percebem-se algumas incongruências referentes<br />
à responsabilidade dos alunos no processo educativo,<br />
registrando-se uma contradição (aparente) entre esta<br />
pesquisa e Bonilla (2003).<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
Com efeito, nesta pesquisa, os alunos avaliam com<br />
generosidade os colegas (72 pontos), e mais ainda a<br />
si mesmos (74 pontos), contra 62 para os professores.<br />
Por outro lado, num total de 1148 respostas nas duas<br />
amostras desta pesquisa, totalizando 490 alunos,<br />
nenhuma atribui responsabilidade a si próprios no<br />
suposto baixo nível do Curso.<br />
Entretanto, quando comparamos esses resultados<br />
com Bonilla (2003), surge agora o reconhecimento<br />
por parte do setor discente, de que eles têm “falta<br />
de compromisso, envolvimento e de espírito de<br />
reivindicação”, combinada com “comportamento de<br />
aluno secundário”.<br />
A interpretação desta situação, aparentemente<br />
contraditória, pode ser encontrada na metodologia<br />
utilizada. Neste artigo, a informação levantada<br />
corresponde ao preenchimento de um questionário<br />
que os alunos entregaram a seus pares; portanto,<br />
os estudantes amostrados tiveram ampla liberdade<br />
para redigir suas respostas, nas quais acabaram<br />
“esquecendo” sua responsabilidade no processo<br />
educativo. Já na outra pesquisa (Bonilla, 2003), a<br />
identificação dos problemas foi feita na sala de aula<br />
através de um brainstorming em que a categoria<br />
“alunos” foi introduzida como uma provável<br />
responsável pelos problemas existentes no Curso.<br />
Ou seja, os estudantes foram enfrentados com a<br />
sua própria consciência, o que os obrigou a<br />
perceber suas próprias carências.<br />
Em Bonilla (2003), os alunos assinalaram 25 causas<br />
possíveis relativas aos problemas identificados na<br />
categoria “alunos”, das quais aproximadamente a<br />
metade é atribuída à alta administração e<br />
preferencialmente aos professores; a outra metade<br />
seria oriunda deles (imaturidade, excesso de<br />
atividades assumidas, outras prioridades, pouca<br />
atenção dos órgãos de representação estudantil no<br />
seu próprio desenvolvimento, alienação, falta de<br />
tempo ou interesse, falta de conscientização acerca<br />
de seus direitos, falta de organização, desinteresse<br />
pelo Curso, interesse só em notas, alunos<br />
acostumados a estudar e ler pouco desde o segundo<br />
grau).<br />
Sem deixar de reconhecer a necessidade de avaliar<br />
com os professores e as autoridades acadêmicas<br />
as suas responsabilidades específicas, a respeito do<br />
grau de insatisfação dos alunos, desenvolvendo<br />
levantamentos semelhantes aos feitos nesta<br />
pesquisa, os comentários finais são reservados aos<br />
alunos.<br />
julho/dezembro-2003<br />
O papel do aluno hoje está muito empobrecido,<br />
concentrando-se em muitos casos apenas na<br />
obtenção do diploma por meio de procedimentos<br />
não recomendáveis para pessoas que terão responsabilidades<br />
de comando no seio da sociedade (chegar<br />
atrasado à aula, conversas paralelas, assinar<br />
trabalhos de grupo sem ter contribuído, fazer os<br />
famosos “trabalhos” simplesmente imprimindo<br />
material da internet etc.).<br />
Outros alunos, talvez uma minoria, estão preocupados<br />
com a sua formação e tentam aproveitar a<br />
oportunidade de estudar gratuitamente na<br />
Universidade Federal para se preparar o melhor<br />
possível, dentro das limitações que hoje afetam<br />
a Educação em geral, e a Educação Superior em<br />
particular.<br />
Entretanto, a orientação desse último grupo,<br />
embora correta, é insuficiente. Da própria pesquisa<br />
mencionada (Bonilla, 2003) surge a existência de<br />
imaturidade, alienação e falta de organização,<br />
como falhas genéricas do setor discente.<br />
É fundamental que os alunos se conscientizem<br />
de que uma melhoria autêntica do Curso em questão<br />
(como de qualquer outro), não poderá ser realizada<br />
sem o engajamento e a participação ativa deles,<br />
que são seus principais beneficiários. É vital, pois,<br />
que assumam sua condição de co-governantes da<br />
Universidade, por meio de sua presença constante<br />
nos órgãos universitários (Congregação, Câmara<br />
Departamental, Colegiados etc.). É obvio que essa<br />
presença não se deverá reduzir aos representantes,<br />
agindo como máscaras soltas, sem nenhum apoio<br />
das bases, como geralmente acontece na realidade.<br />
Os estudantes, como corpo, precisam hastear<br />
essa bandeira, hoje baixa pelo desinteresse,<br />
alienação e coisas desse tipo, como eles próprios<br />
reconhecem.<br />
Atualmente, uma larga maioria de pessoas,<br />
incluindo estudantes, imagina que age com<br />
“modernidade”, mas é fato que nossa cultura<br />
ocidental, impressionante por seu desenvolvimento<br />
tecnológico, está – em outros setores – brutalmente<br />
atrasada, se comparada com as de séculos (ou<br />
milênios) passados, por exemplo, em relação à ética,<br />
à solidariedade e à espiritualidade. Particularmente,<br />
nossa vida universitária está atrasada 85 anos,<br />
quando na Universidade de Córdoba (Argentina),<br />
os estudantes fizeram uma greve prolongada, até<br />
perdendo o ano letivo, lutando por uma Reforma<br />
Universitária. Graças a esse esforço, as idéias de<br />
57
A dministração Artigo<br />
autonomia universitária, professores concursados<br />
e co-governo estudantil, entre outras, acabaram<br />
sendo incorporadas aos estatutos das IES. Ou seja,<br />
têm sido esbanjadas algumas das conquistas<br />
obtidas em 1918. Isso é “modernidade” ou<br />
empobrecimento? Talvez seja mais um “resultado”<br />
que junto com a banalização generalizada, o<br />
consumismo doentio e a globalização canibal<br />
predominante contribua para a alienação social<br />
hoje prevalente. Essa alienação envolve todos os<br />
segmentos da sociedade, incluindo estudantes<br />
universitários.<br />
Finalmente, voltando para a dúvida levantada<br />
na análise da Tabela 6, relativa a se realmente<br />
houve algum motivo que justificasse um aumento<br />
de 10 pontos na nota dos colegas, em relação aos<br />
professores, e 12 pontos para si próprio, pode-se<br />
concluir que não foi encontrado nenhum elemento<br />
pertinente que apoiasse essa hipótese.<br />
A própria experiência do autor principal como<br />
Professor no período em estudo (1998-2003), não<br />
permite descobrir o mínimo indício naquela direção.<br />
Com efeito, a preocupação fundamental concentrada<br />
nas notas continua sendo a motivação principal da<br />
maioria dos alunos, passando a assiduidade, a<br />
pontualidade, o estudo, e a participação nas aulas a<br />
serem assuntos secundários, sendo priorizados só<br />
por uma minoria de alunos, que felizmente, ainda<br />
existem.<br />
Como conseqüência, só é consistente a hipótese<br />
da auto-indulgência.<br />
<strong>58</strong><br />
7 CONCLUSÕES<br />
1– Os alunos estão insatisfeitos com o Curso,<br />
considerado medíocre, e a avaliação dos profes-<br />
sores é francamente ruim. Já a dos colegas e a<br />
própria, por parte dos alunos, é mais generosa.<br />
2– Os alunos não reconhecem, segundo os dados<br />
desta pesquisa, sua responsabilidade no<br />
suposto mau andamento do Curso.<br />
3– Cruzamentos com dados de outra pesquisa<br />
(Bonilla, 2003) mostram que os alunos,<br />
confrontados a identificar a natureza de sua<br />
participação nos problemas do Curso,<br />
reconhecem sua própria falta de responsabilidade.<br />
4– Alienação, imaturidade, excesso de outras atividades,<br />
outras prioridades, interesse do aluno<br />
apenas em notas, carência de hábito de estudo<br />
etc. são causas apresentadas pelos alunos<br />
relativas a essa falta de responsabilidade.<br />
8 RECOMENDAÇÕES<br />
1– Reconhecer que o Curso de <strong>Adm</strong>inistração da<br />
FACE, apesar das avaliações favoráveis feitas<br />
pelos respectivos órgãos superiores, se mostra<br />
insatisfatório, segundo a percepção dos alunos.<br />
2– Conscientizar os alunos, em particular, para se<br />
engajar num processo de desalienação e comprometimento,<br />
desenvolvendo fóruns internos de<br />
discussão.<br />
3– Elaborar um Projeto de Melhoria do Curso, com<br />
participação da alta administração, professores,<br />
alunos e funcionários, alicerçados nos princípios<br />
e nas técnicas da Gestão de Qualidade dos<br />
processos educativos.<br />
julho/dezembro-2003
e v i s t a<br />
Artigo imes<br />
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