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e v i s t a<br />

Artigo Sumário<br />

imes<br />

Artigos<br />

Cultura organizacional e meio ambiente na perspectiva publicitária<br />

Gino Giacomini Filho<br />

René Henrique Götz Licht ............................................................................................................. 5<br />

Um estudo sobre a utilização do marketing olfativo no Brasil<br />

Fausto Barbosa Júnior<br />

José Adeodato de Souza Neto ....................................................................................................... 13<br />

Transformação no modelo de gestão de um grupo<br />

nacional de auto-peças após sua aquisição por uma<br />

congênere multinacional francesa<br />

Eduardo de Camargo Oliva<br />

Luiz Carlos Gianello<br />

Evandro Cleber Alves .................................................................................................................... 20<br />

Crescimento ou queda dos lucros nas empresas: uma questão<br />

de foco na utilização de metodologias de custeio e<br />

programas de qualidade<br />

Rubens Janny Teixeira<br />

José Antonio Meire ......................................................................................................................... 34<br />

E-brand – um estudo sobre a marca no comércio eletrônico<br />

Sandra Pires de Almeida<br />

Denis Donaire ................................................................................................................................. 41<br />

A percepção de alunos universitários em relação<br />

a seu curso. Estudo de caso: <strong>Adm</strong>inistração da UFMG<br />

José A. Bonilla ................................................................................................................................ 47<br />

julho/dezembro-2003<br />

3


A dministração Artigo<br />

4<br />

A dministração Expediente<br />

Revista IMES <strong>Adm</strong>inistração – Uma publicação do Centro Universitário Municipal de São Caetano do Sul<br />

Ano XX – no <strong>58</strong><br />

julho/dezembro – 2003<br />

(Fechamento desta edição: Maio/2004)<br />

Diretor da Mantenedora<br />

Marco Antonio Santos Silva<br />

Vice-Diretor da Mantenedora<br />

Marcos Sidnei Bassi<br />

Reitor<br />

Laércio Baptista da Silva<br />

Pró-Reitor de Graduação<br />

Carlos Alberto Macedo<br />

Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa<br />

René Henrique Licht<br />

Pró-Reitor Comunitário e de Extensão<br />

Joaquim Celso Freire Silva<br />

Produção<br />

Pró-Reitoria Comunitária e de Extensão<br />

Coordenadoria de Comunicação<br />

Coordenador Editorial<br />

Rubens Janny Teixeira<br />

Jornalista Responsável<br />

Roberto Elísio dos Santos – MTb 15637<br />

Conselho Editorial<br />

Membros nacionais<br />

Dinizar Sermiano Deckor<br />

Universidade de Santa Cruz do Sul – RS;<br />

José Francisco Salm<br />

UDESC – CCA/ESAG, FlorianópoliS, SC;<br />

Marinho Jorge Scarpi<br />

UNIFESP, São Paulo, SP.<br />

Membros internacionais<br />

Erika de Castro<br />

Centre for Human Settlements,<br />

The University of British Columbia,<br />

Vancouver, Canada;<br />

Kevin Allison<br />

Westminster Business School,<br />

University of Westminster, London, UK;<br />

Sima Motame-Sarmadian<br />

Centre for the Studies of Emerging Markets,<br />

Westminster business School,<br />

University of Westminster, London, UK;<br />

Burkard Sievers,<br />

Universidade de Wuppertal, Alemanha.<br />

Conselho Técnico<br />

Professores do Curso de<br />

<strong>Adm</strong>inistração<br />

Coordenador do Curso de<br />

<strong>Adm</strong>inistração<br />

Denis Donaire<br />

Revisão<br />

Simone Zaccarias<br />

Editoração e Impressão<br />

HM Indústria Gráfica e Editora Ltda.<br />

Tiragem: 500 exemplares<br />

Revista IMES <strong>Adm</strong>inistração<br />

Av. Goiás, 3.400<br />

São Caetano do Sul – SP – Brasil<br />

Tel.: (11) 4239-3259<br />

Fax: (11) 4239-3216<br />

E-mail: revimes@imes.edu.br<br />

O IMES, em suas revistas, respeita<br />

a liberdade intelectual dos autores,<br />

publica integralmente os originais<br />

que lhe são entregues, sem com<br />

isso concordar necessariamente<br />

com as opiniões expressas.<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

julho/dezembro-2003<br />

CULTURA ORGANIZACIONAL E<br />

MEIO AMBIENTE NA<br />

PERSPECTIVA PUBLICITÁRIA<br />

Gino Giacomini Filho<br />

Doutor e Livre-docente em Comunicação Social pela ECA/USP.<br />

Professor do Programa de Mestrado em <strong>Adm</strong>inistração do<br />

IMES – Centro Universitário Municipal de São Caetano do Sul.<br />

Professor do Programa de Mestrado e Doutorado da UNIVALI em Turismo e Hotelaria.<br />

René Henrique Götz Licht<br />

Doutor em <strong>Adm</strong>inistração pela FEA/USP e em Psicologia pelo IPUSP.<br />

Pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa do IMES – Centro Universitário Municipal de<br />

São Caetano do Sul.<br />

R E S U M O ABSTRACT<br />

A publicidade é uma forma de comunicação que<br />

interage com a cultura organizacional. Nesse<br />

trabalho, objetivou-se mostrar essa interação no<br />

contexto da política de responsabilidade social,<br />

notadamente em procedimentos de gestão<br />

ambiental. Um dos desdobramentos do estudo<br />

revelou tipologias da organização face ao seu<br />

comportamento nas questões ambientais e da<br />

publicidade inserida no papel de difundir e<br />

realimentar a cultura organizacional perante os<br />

públicos internos e externos.<br />

Palavras-chave: publicidade, cultura organizacional,<br />

gestão ambiental.<br />

Advertising is a communication system that<br />

interacts with the organizational culture. In this<br />

work, it was objectified to show this interaction in<br />

the context of the politics of social responsibility,<br />

through environmental management.<br />

Keywords: advertising, organizational culture,<br />

environmental management.<br />

5


A dministração Artigo<br />

Cultura organizacional é uma expressão muito<br />

utilizada para designar uma série de posturas<br />

arraigadas na organização, tais como valores,<br />

conhecimentos, hierarquização de informações e<br />

entendimentos que, essencialmente, moldam as<br />

manifestações comportamentais de seu público<br />

interno, direcionando as decisões.<br />

Dentre as decisões empreendidas está a publicidade:<br />

forma de comunicação persuasiva, paga,<br />

identificada, veiculada nos meios de comunicação<br />

de massa, que pretende auxiliar a oferta e<br />

posicionamento de bens, idéias, serviços e marcas<br />

por meio de anúncios e peças nos meios de<br />

comunicação.<br />

Dias elenca o que seriam os principais elementos<br />

da cultura organizacional, mencionando dentre eles<br />

os slogans como “expressão sucinta, versão<br />

resumida de uma cultura organizacional” (2003, p.<br />

101). O autor se refere a slogans de instituições<br />

bancárias para ilustrar o caso, mostrando expressões<br />

e frases que foram veiculadas intensamente<br />

em anúncios publicitários.<br />

Mas não é somente por meio dos slogans que a<br />

ação publicitária 1 manifesta elementos da cultura<br />

organizacional: os anúncios veiculados podem<br />

explicitar muitos valores culturais, até porque<br />

possibilitam o uso mais intenso de textos, expressões<br />

e ilustrações, os quais, de alguma forma,<br />

denotam a ação e o discurso do anunciante<br />

(organização).<br />

O desempenho das organizações com as<br />

questões ambientais pode ser analisado sob o<br />

prisma de sua cultura que, por sua vez, pode<br />

interagir com o trabalho publicitário. Por meio da<br />

análise da ação publicitária, pode-se colher<br />

indicadores sobre a inserção do fator ambiental<br />

na instituição e contrapor com uma possível<br />

atuação sustentável, em que o discurso do<br />

anunciante seja coerente com práticas sociais e<br />

de marketing, agregando credibilidade aos seus<br />

propósitos no mercado.<br />

Como a cultura organizacional – ou comportamento<br />

organizacional 2 – convive, por vezes,<br />

com relações internas conflitantes, pode mostrar<br />

uma dualidade entre o que pratica no campo<br />

ecológico e o que contempla em sua comunicação<br />

publicitária.<br />

6<br />

Assim, o objetivo deste artigo é analisar<br />

correlações entre a publicidade e a cultura<br />

organizacional no plano ambiental brasileiro.<br />

Houve a utilização de metodologia baseada em<br />

pesquisa bibliográfica e documental, estando esta<br />

última afeita a anúncios publicitários e demais<br />

peças de comunicação para aferir esforços<br />

promocionais de organizações na área do meio<br />

ambiente.<br />

CULTURA ORGANIZACIONAL,<br />

COMUNICAÇÃO E PUBLICIDADE<br />

Há muitos conceitos sobre cultura organizacional,<br />

dentre eles o de que consiste em um<br />

“sistema de significados compartilhados mantidos<br />

pelo membros que distinguem uma organização<br />

de outras organizações. O sistema de significados<br />

compartilhados é um conjunto de característicaschave<br />

que a organização valoriza” (Dias, 2003,<br />

p. 55).<br />

Segundo Smircich: “Na cultura corporativa a<br />

cultura é vista como uma variável interna” (apud<br />

Freitas, 1991, p. 5). Mas isso não significa que os<br />

valores internos sejam compartilhados em pé de<br />

igualdade pelos membros; ou seja, cada organização<br />

apresenta sua cultura, que carrega afinidades e<br />

anacronismos, caso do funcionário que não está<br />

convicto de que a fusão da empresa com outra seja<br />

algo bom para ele, mesmo com a insistência de seu<br />

superior; ou caso de dois diretores que se posicionam<br />

de forma diferente quanto à implementação de um<br />

programa ambiental. Tais ajustes (ou desajustes)<br />

na cultura organizacional podem se refletir em<br />

várias frentes, como no trabalho de marketing e<br />

comunicação.<br />

Mas os valores culturais se expressam de<br />

diferentes formas, caso de “... sinais que podem<br />

ser desde o fluxo de informações, moda, linguagem,<br />

emoções, ordem, disciplina, até o ambiente<br />

físico nos locais de trabalho” (Dias, 2003, p. 56).<br />

A publicidade, como forma de comunicação<br />

persuasiva, faz parte dos significados compartilhados<br />

da organização, pois contém informações,<br />

modismos, linguagens e emoções denotadas por<br />

um anunciante identificado, que representa a<br />

1 A ação publicitária pode se manifestar por meio de diversas formas: discurso (conteúdos lingüísticos), mídia (seleção e número de inserções nos veículos),<br />

investimento (volume de gastos com planejamento, elaboração de peças, produção de material e pesquisas).<br />

2 O comportamento organizacional é denotado por vários fatores, dentre eles as pessoas da organização e, portanto, a cultura organizacional (Nadler; Hackman;<br />

Lawler; 1983, p. 30-31).<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

organização. “A comunicação e a cultura de uma<br />

organização estão umbilicalmente associadas.<br />

Na verdade, a comunicação é o espelho da cultura<br />

organizacional, refletindo o processo de gestão”<br />

(Bueno, 2003, p. 47).<br />

“Portanto, analise bem o que sua empresa está<br />

dizendo de si mesma para o mundo. Não apenas<br />

por meio da propaganda, mas também de sua<br />

postura no mercado e seu comportamento na<br />

sociedade.<br />

O anúncio é, apenas, uma parte desse<br />

contexto. É a fala, o discurso. Ele deve corresponder<br />

ao que sua empresa diz de si mesma<br />

como entidade no mundo turbulento da<br />

comunicação.” (Cabral, 2001, p. 19-20)<br />

Adler e Firestone consideram a publicidade o<br />

aspecto mais visível do marketing (2002, p. 28-<br />

29) e que pode ser vista “como uma instituição<br />

que é parte integrante da cultura mais ampla em<br />

que ela atua”.<br />

Um único anúncio pode não representar valores<br />

típicos organizacionais, pois o anunciante pode ter<br />

ficado alheio à sua concepção. Porém, mesmo que<br />

seja concebido por uma agência, o anúncio traz,<br />

marcadamente, valores do anunciante, pois é ele<br />

ou seu representante quem o aprova, da mesma<br />

forma que é ele quem contrata os serviços da<br />

agência, merecendo por parte de qualquer<br />

pesquisador essa reflexão quando da correlação<br />

“publicidade” com “cultura organizacional”.<br />

Ao impactar públicos internos e externos, a<br />

publicidade interage com a cultura organizacional,<br />

ajudando-a a se difundir e se realimentar. Mas, ao<br />

reconhecer-se que a cultura organizacional é um<br />

sistema eminentemente interno da instituição, e<br />

que a publicidade reflete valores desse ambiente<br />

interno, faz-se necessário também admitir que tais<br />

fatores alcançam a opinião pública, impactando-a.<br />

“O sistema de comunicação é bom quando não<br />

se nota que ele existe... Todavia, embora muitas<br />

organizações possam estar fazendo um bom<br />

trabalho de comunicação, suas ações às vezes<br />

contradizem suas palavras. A empresa que faz<br />

downsizing e, ao mesmo tempo, aumenta a<br />

remuneração do executivo-chefe (CEO), não está<br />

fazendo o que diz ... A empresa que proclama seus<br />

recordes ambientais e depois é citada por poluição<br />

incorre no mesmo erro. O caminho para a comunicação<br />

bem-sucedida é a credibilidade. Quando<br />

as ações não correspondem às palavras, surgem<br />

julho/dezembro-2003<br />

mecanismos auto-corretores, por meio dos boatos,<br />

do governo ou da mídia.” (Corrado, 1994, p. 5)<br />

Tavares admite que “o discurso oficial a respeito<br />

da organização sobre sua estrutura interna é pobre”<br />

e que há discrepâncias entre o discurso oficial e a<br />

realidade, exemplificando com estatísticas que<br />

mostram menor empregabilidade para mulheres e<br />

negros, enquanto o discurso não admite essa<br />

prática (1993, p. 63).<br />

Ottman considera que a sequência de experiências<br />

negativas que o cidadão observa em relação<br />

àquilo que o empresário diz e faz pelo meio ambiente<br />

afeta proporcionalmente sua credibilidade e o<br />

discurso empresarial como um todo. Aponta uma<br />

pesquisa de 1991, em que apenas 37% das pessoas<br />

acreditavam no que executivos de negócios e<br />

associações industriais falavam sobre questões<br />

ambientais, o mais baixo índice de todas as<br />

instituições e lideranças (1994, p. 52).<br />

Maimon (1996, p. 23-24), citando o que Duclos<br />

chama a dualidade do “ser” e do “parecer”, classifica<br />

três tipos de comportamentos organizacionais:<br />

– Responsável, em que o discurso corresponde à<br />

ação efetiva e aos patamares éticos ambientais,<br />

executando uma gestão de longo prazo e<br />

compromisso com os interesses da sociedade,<br />

além de atitude pró-ativa.<br />

– Seguidoras, pois não possuem um discurso,<br />

caracterizando a questão da sobrevivência mais<br />

do que a responsabilidade ambiental. Estão<br />

isoladas das discussões ecológicas, obedecendo,<br />

quando podem, aos órgãos de controle ou<br />

pressões ambientalistas.<br />

– Mentirosas, pois usam subterfúgios diversos<br />

para argumentar danos ambientais, como a<br />

defesa do emprego e da empresa nacional.<br />

Adotam estratégias de curto prazo, retratando<br />

os bens e serviços ambientais como meras<br />

mercadorias. Caracterizam-se por práticas de<br />

bloqueio às ações contrárias a esta postura,<br />

inclusive bancando pesquisas e minimizando os<br />

efeitos ecológicos decorrentes de suas<br />

atividades.<br />

A postura contraditória do anunciante pode se<br />

expressar de duas formas básicas: incoerência do<br />

discurso na própria peça publicitária ou entre o<br />

anúncio e outras manifestações da organização.<br />

No primeiro caso, o próprio texto ou a mensagem<br />

contém informações e significados que são<br />

7


A dministração Artigo<br />

dissonantes, comprometendo a credibilidade da<br />

comunicação. No segundo, o anúncio defende<br />

idéias ou contém dados que não são corroborados<br />

por outras ações, levando o receptor a questionar<br />

qual a real postura do anunciante.<br />

8<br />

O MEIO AMBIENTE NA CULTURA<br />

ORGANIZACIONAL<br />

A necessidade de as instituições compatibilizarem<br />

suas funções comerciais e lucrativas com as<br />

demandas sociais levou à prática da responsabilidade<br />

social corporativa, em que os processos<br />

produtivos devem estar atrelados à qualidade de<br />

vida e bem-estar de todos, caso do equilíbrio nas<br />

relações de consumo (consumerismo), nas relações<br />

de trabalho, ética comercial e meio ambiente<br />

(Ashley, 2002).<br />

Por sua vez, o ambientalismo constitui um novo<br />

paradigma na cultura organizacional, visando<br />

estabelecer um desenvolvimento sustentável das<br />

ações produtivas diante da racionalização do uso<br />

do meio ambiente e a preservação dos habitats;<br />

representa uma nova forma de atuação organizacional,<br />

levando a maior compreensão do potencial<br />

e dos limites da própria natureza e da natureza<br />

humana; envolve uma nova concepção de<br />

economia, propondo um sentido que seja ecoeficiente.<br />

O fator ecológico estará plenamente na cultura<br />

organizacional quando diretrizes e ações em todas<br />

as áreas (produção, vendas, marketing, recursos<br />

humanos, finanças etc) contiverem tal fator. Estará<br />

também marcadamente na cultura da empresa<br />

quando as pessoas exteriorizarem, espontaneamente,<br />

os valores ambientais.<br />

A existência de uma cultura organizacional<br />

identificada com o meio ambiente ocorre quando<br />

esta se expressa na relação com o consumidor,<br />

clientes internos e externos, governo, sindicatos,<br />

familiares, imprensa e demais públicos de interesse.<br />

Antes de mais nada, deve estar presente nas<br />

atitudes pessoais dos dirigentes, no seu dia-a-dia,<br />

e servir de paradigma para todo o corpo funcional.<br />

Essa estruturação possibilita transformar os<br />

gastos ambientais em investimentos rentáveis. Ou<br />

seja, quando a ação ambiental é isolada, provisória,<br />

eventual, torna-se um custo indesejável, como<br />

aqueles que advêm de imposição legal.<br />

Joseph Romm (1996, p. 15-19) relata o caso dos<br />

separadores de correspondências na principal<br />

agência de correios no Estado de Nevada (Reno,<br />

1986) que obtiveram os melhores resultados de<br />

produtividade (menor índice de erros) de todos os<br />

separadores do oeste dos Estados Unidos. Tal<br />

resultado foi obtido com uma reestruturação<br />

interna para reduzir o consumo de energia, obra<br />

que se pagou em menos de um ano.<br />

“A economia anual com uso de energia e<br />

manutenção e a redução da poluição do ar eram<br />

um bônus. Os funcionários dos correios faziam<br />

seu trabalho melhor e mais rápido em um<br />

ambiente mais tranqüilo e melhor iluminado ...<br />

A agência dos correios de Reno tornou-se não<br />

só a mais eficiente em energia e inofensiva ao<br />

meio ambiente da região Oeste – como era a<br />

intenção – mas também a mais produtiva ...<br />

Tornou-se limpa e enxuta.”<br />

O autor completa: “Toda empresa pode<br />

aumentar seus lucros e produtividade de modo<br />

drástico com a redução da poluição. Toda empresa,<br />

sem exceção”.<br />

É sugestiva a postura de alguns hotéis brasileiros<br />

que romperam uma cultura interna e externa de<br />

que toalhas de banho devam ser substituídas<br />

diariamente. São estabelecimentos que solicitam ao<br />

hóspede para reutilizar as toalhas sempre que<br />

possível, diminuindo a utilização de água e energia<br />

para lavá-las desnecessariamente. Essa comunicação<br />

é feita por meio de avisos padronizados fixados no<br />

banheiro disponibilizados a toda a rede hoteleira.<br />

Tal postura, além do ganho material e ecológico,<br />

também repercute positivamente junto ao público<br />

interno e externo, mostrando atitude de responsabilidade<br />

social do hotel.<br />

Mas para que o esforço ecológico seja eficaz, é<br />

necessário que esteja incorporado na cultura<br />

organizacional desses hotéis e que todos os<br />

públicos de interesse estejam engajados, ou seja,<br />

tanto o público interno (direção, gerentes, funcionários)<br />

como externo (hóspedes, fornecedores,<br />

comunidade).<br />

Especificamente no plano ambiental, verifica-se<br />

que, no caso brasileiro, há avanços e estagnações:<br />

“Predomina no setor industrial brasileiro,<br />

entretanto, uma cultura técnica nessa matéria que<br />

oscila entre a total irresponsabilidade ou improvisação<br />

e uma postura “receptiva” emergente em<br />

matéria de controle de poluição. As condutas<br />

improvisadas, em geral, são tipicamente “reati-<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

vas”: surgem como resposta da direção empresarial<br />

às pressões de autoridades ambientais e<br />

desaparecem ao serem (quando o são) executadas<br />

medidas emergenciais corretivas destinadas a<br />

apagar incêndios.” (Neder, 1992, p. 7)<br />

Na prática, percebe-se que nenhuma organização<br />

consegue ser 100% ambiental ou ecológica;<br />

por mais que cuide do meio ambiente, trabalhe com<br />

produtos ambientalmente corretos, sempre<br />

praticará atividades ou utilizará recursos que, de<br />

certa forma, trazem impacto e prejuízo ecológico.<br />

Dessa forma, a presença do fator ambiental não<br />

pode ser colocada de forma purista ou total,<br />

aceitando-se nessa categoria empresas que<br />

melhorem sua performance e a do seu setor com<br />

práticas ambientalmente melhores ou sustentáveis.<br />

Corrado (1994. p. 112-119) menciona pesquisa<br />

em que muitas empresas americanas ainda não<br />

empregavam uma política ambiental escrita: somente<br />

7% dos executivos, em 1991, declararam estar<br />

tranquilos quanto ao entendimento das questões<br />

ambientais relativas à empresa e que também havia<br />

programas adequados para fazer face a riscos desse<br />

tipo. No que diz respeito aos empregados, a pesquisa<br />

sugeriu que as preocupações ambientais precisam<br />

ser integradas à cultura e aos valores centrais da<br />

organização. No entanto, o mesmo autor argumenta<br />

que a empresa que tenta mostrar ao mercado uma<br />

posição de compromisso com o ambiente também<br />

tende a ser mais “vigiada” pela mídia.<br />

Aferir a cultura organizacional diante do fator<br />

ambiental é algo complexo. Para indicar uma das<br />

possibilidades desse tipo de análise, propomos um<br />

quadro (Quadro 1) em que se destacam as ações<br />

de gerenciamento ambiental e o perfil da organização<br />

quanto ao nível de risco ecológico3 que<br />

envolve suas atividades.<br />

julho/dezembro-2003<br />

Quadro 1<br />

Pró-ativa: mesmo que seus negócios envolvam<br />

pouco risco ambiental, coloca em prática atividades<br />

de gerenciamento ecológico como uma atribuição.<br />

Ajustada: desenvolve atividades de maior risco<br />

ambiental, mas possui diversas ações de gestão a<br />

fim de minimizar os problemas ou até evitar<br />

ocorrências.<br />

Pragmática: devido ao fato de estar em ramo<br />

que proporciona baixo impacto ambiental, pouco<br />

faz em gestão ecológica, não possuindo uma visão<br />

maior do que seja a postura verde e suas vantagens<br />

competitivas.<br />

Acomodada: embora inserida em atividades de<br />

maior risco ambiental, pouco faz, não acreditando<br />

em acidentes ou crises e, em acontecendo<br />

problemas, toma decisões no sentido de manipular<br />

informações, minimizar a ocorrência ou desqualificar<br />

os denunciantes.<br />

A PUBLICIDADE INTERAGINDO COM A<br />

CULTURA ORGANIZACIONAL E O<br />

FATOR AMBIENTAL<br />

A interação positiva da publicidade com o fator<br />

ambiental ocorre na medida em que a instituição<br />

ostenta uma cultura socialmente responsável.<br />

Mostrar implícita ou explicitamente, por meio da<br />

publicidade, ações ambientais que se revelam<br />

incoerentes, além de provocar erro estratégico no<br />

posicionamento institucional ou mercadológico,<br />

pode gerar descrédito junto aos públicos de<br />

interesse.<br />

No Quadro 2, argüimos os principais<br />

anunciantes em publicidade no Brasil em 2001 4 ,<br />

contrapondo-lhes três ações institucionalizadas de<br />

responsabilidade social: uma em gestão ambiental/<br />

meio ambiente (2003) 5 , outra na defesa do<br />

consumidor (número de reclamações 6 no banco de<br />

dados do Procon-SP em 2002) e outra quanto ao<br />

número de anúncios que contrariaram dispositivos<br />

do Código Nacional de Auto-regulamentação<br />

Publicitária/Conar (2000/2003) 7 .<br />

3 É possível enquadrar diferentes setores em níveis de risco ambiental, caso dos que proporcionam riscos mais altos – indústrias metalúrgicas e minerais – até<br />

mais baixos – mobiliário e vestuário (Torres, 1996, p. 47-49).<br />

4 Fonte: Meio e Mensagem/Anuário da Propaganda 2003.<br />

5 Ações ambientais quanto a gerenciamento ecológico, divulgação de suas atividades sustentáveis e programas ambientais institucionalizados em 2003.<br />

6 Consideramos 25 o número máximo tolerável de reclamações não atendidas.<br />

7 Foram contabilizados anúncios (2000 a 2003) em que o Conar exigiu sustação ou alteração por contrariarem dispositivos do Código em vigor. Consideramos<br />

3 o número máximo tolerável de anúncios modificados por ação do Conar no período 2000/2003. Fonte: Site do Conar, acessado em novembro de 2003.<br />

9


A dministração Artigo<br />

Dos 10 anunciantes, 7 não mostraram ter fatores<br />

de responsabilidade social plenamente instalados<br />

na cultura organizacional: Embratel e Fiat apresentaram<br />

problemas na área do consumerismo e<br />

ética publicitária. Casas Bahia não tem mostrado<br />

ações sustentáveis no plano ambiental e publicitário<br />

(ético). Liderança Capitalização não tem<br />

praticado institucionalmente ações ambientais. Itaú<br />

e Pão de Açúcar mostraram problemas consumeristas.<br />

A Unilever apresentou problemas na esfera<br />

da ética publicitária.<br />

Dependendo dos critérios, esta lista pode ser<br />

reduzida, caso de se atribuir um “delta de tolerância”<br />

por serem corporações que lidam com milhares ou<br />

milhões de consumidores, ou pode ser ampliada,<br />

caso de se ter uma tolerância menor para o número<br />

de anúncios modificados pelo Conar ou reclamações<br />

no Procon não atendidas.<br />

10<br />

Quadro 2<br />

Anunciantes Ambiente Procon Conar<br />

1. Unilever Sim 2 4<br />

2. Volkswagen/<br />

Seat<br />

Sim 24* 0<br />

3. Embratel Sim 1.255 11<br />

4. Fiat Sim 46* 6<br />

5. General Motors Sim 22 2<br />

6. Casas Bahia Não 19 4<br />

7. Liderança<br />

Capitalização<br />

Não 0 0<br />

8. Itaú Sim 199** 1<br />

9. Pão de Açúcar Sim 92 0<br />

10. Ford Sim 9* 1<br />

(*) Somente reclamações sobre veículos.<br />

(**) Somente reclamações sobre serviços bancários.<br />

Sugerimos, a seguir, um outro modelo (Quadro 3)<br />

que pode apontar correlações da publicidade<br />

focada no meio ambiente junto a ações ambientais.<br />

Assim, uma organização (Anunciante) pode<br />

posicionar-se de acordo com a intensidade com<br />

que usa o fator ecológico (Fator-E) na publicidade<br />

e o grau de “esverdeamento” (envolvimento com<br />

os fatores ambientais):<br />

Quadro 3<br />

Verde pra valer: quando tem o fator ambiental<br />

presente e instalado na cultura organizacional,<br />

manifestando-o também em peças publicitárias.<br />

Discretamente, Verde: caracteriza-se por não ser<br />

anunciante, o que impede o mercado de conhecer,<br />

por meio da publicidade, suas ações ambientais,<br />

que seriam coerentes no âmbito da responsabilidade<br />

social.<br />

Eu, Verde?: é a organização que não pratica<br />

ações na área ambiental, portanto sem motivação<br />

para inserir atributos ecológicos em sua comunicação<br />

publicitária.<br />

Vejam-me Verde: caracteriza o anunciante que<br />

desenvolve ações ambientais de forma errática e<br />

incoerente, mas eventualmente passa para a sua<br />

publicidade “preocupações” ambientais.<br />

É uma tarefa bastante complexa analisar, de<br />

forma completa, a relação do trabalho publicitário<br />

com a cultura organizacional e o meio ambiente.<br />

Depende de uma série de correlação de variáveis,<br />

além de ser necessário empreender um trabalho<br />

de profundidade para verificar a procedência e<br />

coerência dos valores envolvidos. Portanto, nossa<br />

pretensão é apenas apontar (Quadro 4) possíveis<br />

situações indicativas dessa situação tendo em vista<br />

os referenciais teóricos e os Quadros até aqui<br />

apresentados.<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

8 Optamos por inserir apenas um exemplo de organização.<br />

9 Exemplos não faltam para registrar essa tipologia, como a Indústria de Papel e Celulose Cataguazes (Minas Gerais) que, em função de descuido na estocagem<br />

de tanques com produtos químicos, em 2003, provocou grande impacto ambiental no Rio Paraíba do Sul e cercanias. Seu discurso perante a mídia após o<br />

acidente foi de afrontamento às autoridades públicas e minimizadores da ocorrência (Fonte: Site da empresa, 2003).<br />

julho/dezembro-2003<br />

Quadro 4<br />

Tipologias Anunciantes<br />

(Quadro 2)<br />

Detalhamento (2003)<br />

8<br />

Pró-ativa Pão de Açúcar Empresa do setor alimentício. Destacam-se<br />

programas como os de incentivo à coleta de<br />

lixo reciclável e parcerias para projetos sociais<br />

na área ecológica.<br />

Quadro 1 Ajustada Volkswagen Empresa da indústria automobilística. Possui<br />

gerenciamento ambiental em suas fábricas.<br />

Pragmática Liderança/ Empresa do setor financeiro sem programa<br />

Capitalização institucionalizado para o meio ambiente.<br />

Acomodada Nenhum Não ocorreu na amostra 9<br />

Verde pra valer. Ford Anúncios recentes com o modelo EcoSport (Slogan<br />

“Bem-vindo à vida” e Prêmio de melhor anúncio –<br />

Revista Cláudia/2003) e presença constante do<br />

Selo do IBAMA/Proconve nos anúncios.<br />

Discretamente, Nenhum Nesta categoria, a organização não poderia ser<br />

Verde. anunciante ou sê-lo discretamente.<br />

Quadro 3 Vejam-me Verde. Embratel Possui algumas ações e parcerias em projetos<br />

ambientais, mas não usa elementos ecológicos em<br />

anúncios e até tem apresentado peças contrárias<br />

ao ambientalismo, caso do comercial em que a<br />

consumidora prefere conversar bastante ao<br />

telefone e não se importar com o desperdício de<br />

água transbordando da banheira.<br />

Eu, Verde? Casas Bahia Nos anúncios recentes não tem utilizado<br />

elementos ecológicos.<br />

11


A dministração Artigo<br />

Uma ressalva que deve possuir qualquer<br />

intenção classificatória para as organizações referese<br />

às mudanças nos valores organizacionais,<br />

possibilitando que essas mesmas instituições<br />

mudem de categoria tipológica face a opções na<br />

gestão estratégica. Assim, mesmo as organizações<br />

que se posicionaram favoravelmente na questão<br />

ambiental (“Pró-ativa”, “Ajustada”, “Verde pra valer”<br />

e “Discretamente, Verde”) podem desenvolver tais<br />

atividades de forma incompleta ou sazonal,<br />

fazendo com que sejam relativizadas.<br />

O Quadro 4 não permite uma análise conclusiva,<br />

mas oferece indicadores que apontam duas<br />

situações críticas: a) “Conflitante”, em que se<br />

observa incoerências na divulgação das ações<br />

ambientais registradas principalmente nas<br />

tipologias “Acomodada” e “Vejam-me Verde”;<br />

ADLER, R. P.; FIRESTONE, C. M. A conquista da atenção:<br />

a publicidade e as novas formas de comunicação. São<br />

Paulo: Nobel, 2002.<br />

ASHLEY, P. A. (Coord.) Ética e responsabilidade social<br />

nos Negócios. São Paulo: Saraiva, 2002.<br />

BUENO, W. C. Comunicação empresarial: teoria e<br />

pesquisa. Barueri: Manole, 2003.<br />

CABRAL, P. Propaganda para quem paga a conta: do<br />

outro lado do muro, o anunciante. 2. ed. São Paulo:<br />

Summus, 2001.<br />

CORRADO, F. A força da comunicação. São Paulo:<br />

Makron, 1994.<br />

DIAS, R. Cultura organizacional. Campinas: Alínea,<br />

2003.<br />

FREITAS, M. É. Cultura organizacional: formação,<br />

tipologias e impactos. São Paulo: Makron, 1991.<br />

MAIMON, D. Passaporte verde: gestão ambiental e<br />

competitividade. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1996.<br />

12<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

b) “Omissa”, em que se verifica ausência do fator<br />

ambiental na comunicação, algo tipificado nas<br />

tipologias “Pragmática” e “Eu, verde?”.<br />

Não é intenção discutir qual dessas duas posturas<br />

causaria maior prejuízo à organização em<br />

termos de credibilidade, posicionamento mercadológico<br />

e respaldo às práticas de cidadania; talvez<br />

essa questão só possa ser respondida quando a<br />

instituição depender de certo nível de endosso<br />

social para suas práticas de mercado.<br />

A publicidade é um dos instrumentos de<br />

marketing que pode ajudar a organização tanto<br />

em seu posicionamento como reposicionamento<br />

socialmente responsável, fator esse que deve ser<br />

levado em conta na gestão ambiental e que pode<br />

se converter em grande diferencial competitivo.<br />

NADLER, D. A.; HACKMAN, J. R.; LAWLER, E. E.<br />

Comportamento organizacional. Rio de Janeiro:<br />

Campus, 1983.<br />

NEDER, R. T. Há política ambiental para a indústria<br />

brasileira? Revista de <strong>Adm</strong>inistração de Empresas,<br />

São Paulo: FGV, ano 32, n. 2, p. 7, abr./jun. 1992.<br />

OTTMAN, J. A. Marketing verde: desafios e<br />

oportunidades para a nova era do marketing. São Paulo:<br />

Makron, 1994.<br />

ROMM, J. J. Um passo além da qualidade. São Paulo:<br />

Futura, 1996.<br />

TAVARES, M. G. P. Cultura organizacional: uma<br />

abordagem antropológica da mudança. Rio de Janeiro:<br />

Qualitymark, 1993.<br />

TORRES, H. G. Indústrias sujas e intensivas em recursos<br />

naturais: importância crescente no cenário industrial<br />

brasileiro. In MARTINE, G. (Org.). População, meio<br />

ambiente e desenvolvimento: verdades e contradições.<br />

2. ed. Campinas: Unicamp, 1996, p. 44-53.<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

UM ESTUDO SOBRE A UTILIZAÇÃO DO<br />

MARKETING OLFATIVO NO BRASIL<br />

Este artigo analisa a utilização do sentido da<br />

olfação como a mais nova arma do processo da<br />

comunicação mercadológica. Em sua primeira<br />

parte são vistos os aspectos de influência do aroma<br />

como elemento motivador dos indivíduos<br />

expostos, desde a sua utilização através dos<br />

tempos e por meio de pesquisas científicas que<br />

dão sustentação ao sentido da olfação como<br />

elemento de marketing. As principais constatações<br />

que a pesquisa de campo apurou foram: 1. Não<br />

foram verificados pontos inéditos, relevantes e<br />

tampouco divergentes das formas e alternativas<br />

praticadas em outros países. 2. O aroma é sempre<br />

utilizado como um recurso adicional a outros<br />

recursos de marketing, de uma maneira complementar.<br />

3. As empresas pesquisadas têm fortes<br />

expectativas de conhecer mais sobre os efeitos<br />

dos aromas sobre a mente, corpo e emoções das<br />

julho/dezembro-2003<br />

Fausto Barbosa Júnior<br />

<strong>Adm</strong>inistrador de Empresas pela Universidade Mackenzie.<br />

Professor das Faculdades Carlos Drummond de Andrade e Interlagos.<br />

Gerente de Vendas na área de Multimídia e Micro-empresário do ramo de Papelaria.<br />

E-mail: fbarbosajunior@yahoo.com.br<br />

José Adeodato de Souza Neto<br />

Químico pela Escola Superior de Química da Universidade Federal de Pernambuco,<br />

pH.D. em Engenharia Química pela Universidade da Flórida (Estados Unidos),<br />

Professor da UNICID – Universidade Cidade de São Paulo.<br />

Consultor na área de Gestão Tecnológica, com trabalhos desenvolvidos em<br />

Gestão Tecnológica e Promoção de Negócios, Investimentos Internacionais e<br />

Transferência de Tecnologia e <strong>Adm</strong>inistração de Pesquisa.<br />

E-maiI: jose.adeodato@superig.com.br<br />

R E S U M O<br />

pessoas. Resultados específicos que merecem<br />

destaque. Uma empresa entrevistada declarou ter<br />

conseguido aumentar as vendas de um produto<br />

após a associação de um aroma específico, comunicando<br />

a este uma imagem mais forte de melhor<br />

qualidade. Outra empresa relatou aumentos de<br />

vendas de 20% no mercado internacional e 40%<br />

no mercado doméstico pela associação de aroma<br />

ao anúncio. Foram também testemunhados lances<br />

de genialidade em novos produtos como a adição<br />

de um aroma de chocolate a um creme de pele.<br />

Apesar de já estar presente em muitos segmentos<br />

do mercado brasileiro, o uso do marketing olfativo<br />

ainda é pouco expressivo e a publicidade a respeito<br />

somente agora começa a despontar.<br />

Palavras-chave: aroma, perfume, marketing,<br />

olfação, motivação, elemento exposto.<br />

13


A dministração Artigo<br />

This article analyzes the use of the olfaction’s sense<br />

as the newest weapon for the marketing process<br />

communication. In its first part, it discusses the<br />

aspects of the smell influence in the individual<br />

motivation, viewed from the standpoint of the<br />

history of fragrances, and through scientific<br />

researches, which provides support to the olfaction<br />

as a marketing element. The research results may<br />

be summarized as follows: 1. Unpublished, relevant<br />

or divergent points weren’t found if field findings<br />

are compared with what happens in other<br />

countries. 2. Fragrance is always used as a<br />

complementary tool to others marketing practices.<br />

3. The interviewed companies showed strong<br />

expectations of knowing more about the effects<br />

fragrances on human mind, body and emotions.<br />

The following are specific results that deserve<br />

Neste artigo aborda-se a utilização do sentido<br />

da olfação como a mais nova arma do processo da<br />

comunicação mercadológica, bem como as suas<br />

alternativas de uso no contexto dos diversos<br />

segmentos de atividade.<br />

As conclusões obtidas por este estudo resultaram<br />

de um processo de pesquisa por acessibilidade,<br />

tendo sido utilizado o método de entrevistas para<br />

o levantamento das informações requeridas.<br />

A principal expectativa em relação à utilização<br />

desse recurso olfativo na esfera da comunicação<br />

mercadológica é o conhecimento da forma pela qual<br />

ele influencia as avaliações de um indivíduo exposto,<br />

diante da sua opção de escolha, entre os diversos<br />

produtos ou serviços postos à sua disposição.<br />

A partir da constatação da influência exercida<br />

pelo aroma, buscou-se conhecer as formas pelas<br />

quais as empresas incorporam este recurso no mix<br />

de sua estrutura de marketing, bem como as<br />

possíveis dificuldades enfrentadas com a sua<br />

utilização, os resultados conseguidos em termos<br />

de desenvolvimento de negócios e se esta nova<br />

ferramenta pode ser utilizada indistintamente, nos<br />

diversos segmentos de mercado.<br />

14<br />

PREMISSAS<br />

As pesquisas bibliográficas realizadas na primeira<br />

etapa deste estudo remeteram os pesquisadores<br />

ABSTRACT<br />

comments. One interviewed company declared to<br />

have increased product sales, after a specific sent<br />

association, which they claim improved product<br />

quality image. Another company claimed to have<br />

enhanced international sales up to 20% and<br />

domestic sales up to 40% after the use of fragrance<br />

on marketing material. AIso some experiences were<br />

reported as brilliant and original ideas, as it was<br />

the case of the addition of chocolate sent to a skin<br />

cream. Finally, it should be noticed that, in spite of<br />

the presence of fragrances in many Brazilian’s<br />

market segments, such marketing practice is not<br />

well known and the publicity about it only<br />

beginning.<br />

Keywords: fragrance, smell, perfum, marketing,<br />

olfaction, motivation, exposed element.<br />

ao conhecimento e à compreensão das interferências<br />

que o aroma exerce no comportamento das<br />

pessoas expostas, a partir de uma nova ciência, a<br />

aromacologia.<br />

Segundo Annette Green do Olfactory Research<br />

Found – New York apud Rodrigues (2001), esta<br />

ciência explora as inter-relações existentes entre<br />

a psicologia e as últimas evoluções da tecnologia<br />

em matéria de fragrância.<br />

Essa inter-relação permite a transmissão de<br />

vários sentimentos positivos como o relaxamento,<br />

a sensualidade, o bom humor, a alegria, a<br />

realização, dentre outros, por meio dos odores.<br />

Rodrigues esclarece, ainda, que este é o foco<br />

através do qual a aromacologia vem conquistando<br />

o mundo, amparando amplamente o mercado<br />

europeu e americano a partir dos anos 1990.<br />

No entanto, o marketing olfativo é muito mais<br />

abrangente; atualmente já se encontra presente<br />

na aromatização dos pontos de venda e de<br />

prestação de serviços, em ambientes esportivos,<br />

culturais, educacionais, de trabalho, o que nos<br />

permite considerar outras referências inerentes ao<br />

perfume, com o objetivo de reforçar a sua utilização<br />

através do sentido da olfação, como instrumento<br />

de marketing.<br />

A sua própria história endossa esta tese; Shreve<br />

(1999) lembra que a origem científica do termo<br />

“Per fuma-re”, encher de fumo, remonta de antigas<br />

civilizações orientais que, originalmente, “queima-<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

vam” o incenso em sua forma primitiva consistindo<br />

em simples misturas de substâncias odoríferas<br />

finalmente cominuidas e aglutinadas por mirra ou<br />

por estoraque.<br />

Fabíola Vieira (1999) relata a utilização da resina<br />

de olíbano extraída de árvores que cresciam ao<br />

sudoeste da Arábia e que, durante toda Antigüidade,<br />

foi comercializada de forma bastante intensa,<br />

por ser considerada uma substância suprema,<br />

capaz de alterar o humor.<br />

A “Enciclopédia Barsa” define o perfume como<br />

sendo um líquido volátil, de composição complexa,<br />

valioso em função de sua fragrância.<br />

Ao pesquisar o estado da arte em 1996, a Dra.<br />

Susan Knasko apud Lehu (1999 p. 153) observou<br />

que o aroma pode condicionar o individuo exposto<br />

ainda que ele permaneça inconsciente à sua<br />

presença.<br />

Outros estudos a partir deste sugerem que os<br />

indivíduos podem, psicologicamente, responder<br />

aos odores dos quais sequer têm consciência.<br />

Em seu livro, Lehu comenta, ainda, um caso<br />

bastante original de uma companhia britânica de<br />

recuperação de crédito que, com o apoio técnico<br />

de pesquisadores da Bodywise, desenvolveu um<br />

aroma à base de “androsterona”, extraído do suor<br />

masculino que, impregnado nas suas faturas,<br />

estimulava os indivíduos a pagá-las.<br />

Testes conduzidos pela Bodywise constataram<br />

que 17% dos indivíduos mais propensos a pagar<br />

estavam entre aqueles que receberam a fatura,<br />

através de uma carta odorisada, do que outros<br />

indivíduos que não as receberam.<br />

julho/dezembro-2003<br />

MOTIVAÇÕES<br />

Não obstante a gama de informações científicas<br />

e de artigos obtidos através de pesquisas de fontes<br />

secundárias, constatou-se que são poucos os<br />

registros referentes à aplicação dos recursos do olfato<br />

no campo do marketing.<br />

No Brasil, esta tecnologia começa a despontar<br />

por meio de suas aplicações no campo comercial e<br />

institucional.<br />

Assim, procurando trazer novas luzes à questão<br />

do marketing olfativo, foram realizadas pesquisas<br />

a respeito dos recursos do aroma como instrumento<br />

mercadológico que, no composto do seu mix, estão<br />

sendo desenvolvidos e utilizados para sensibilizar<br />

um público-alvo.<br />

Com este foco buscou-se um entendimento no<br />

que diz respeito a:<br />

a) Como estão sendo implementadas essas<br />

estratégias olfativas.<br />

b) Quais os principais problemas enfrentados<br />

nessa implementação.<br />

c) Que resultados foram alcançados com esse<br />

instrumento de marketing.<br />

d) Quais principais segmentos de negócio estão<br />

recorrendo a essas estratégias.<br />

O pesquisador procurou, ainda, trazer uma<br />

contribuição para o universo acadêmico em<br />

pesquisas subseqüentes a respeito deste tema ou<br />

outros correlatos, ou mesmo sinalizar às empresas<br />

que adotam estratégias olfativas em seu processo<br />

mercadológico informações que poderão ser, de<br />

alguma forma, úteis aos seus objetivos.<br />

METODOLOGIA<br />

Considerando o entendimento pretendido por<br />

este estudo, e ainda por se tratar de um tema<br />

relativamente recente, apresentando-se em estágio<br />

embrionário nas organizações nacionais, optou-se<br />

pela realização de um estudo exploratório.<br />

Ao se pesquisar as fontes de informações<br />

secundárias, também ficou evidenciada a escassez<br />

de publicações pertinentes à matéria, tanto em<br />

relação aos livros quanto a publicações de artigos,<br />

quer de ordem científica ou mesmo comercial.<br />

Foram identificados pouquíssimos conteúdos<br />

sobre o marketing olfativo, mesmo em pesquisas<br />

realizadas por meio da Internet, em base de dados<br />

acadêmicos como o Pro-quest e em sites como o<br />

Google, Global, Cadê, entre outros.<br />

Por essa razão, o pesquisador aprofundou suas<br />

investigações nos materiais bibliográficos e artigos<br />

disponíveis, focando o trabalho desenvolvido por<br />

Jean Mark Lehu (1999) em livro publicado na<br />

França, como forma de dar maior sustentação ao<br />

estudo e consubstanciado no argumento de que a<br />

pesquisa bibliográfica fornece instrumental<br />

analítico para qualquer tipo de pesquisa, ainda que<br />

possa esgotar-se em si mesma conforme posiciona<br />

Vergara (2000, p. 52).<br />

15


A dministração Artigo<br />

Quanto à investigação de indivíduos que possam<br />

dispor de informações pertinentes à matéria,<br />

buscou-se, inicialmente, a indicação das principiais<br />

entidades ligadas ao segmento, como a Abiquim –<br />

Associação Brasileira das Indústrias Químicas, a<br />

Abifarma – Associação Brasileira das Indústrias<br />

Farmacêuticas, a Abifina – Associação BrasiIeira das<br />

Indústrias de Química Fina e a Adipec – Associação<br />

dos Distribuidores e Importadores de Perfumes,<br />

Cosméticos e Similares; contudo, não foi possível a<br />

obtenção de registros consistentes que pudessem<br />

amparar o processo de pesquisa.<br />

Em face das dificuldades enfrentadas e diante<br />

da existência de outros tipos de amostras possíveis<br />

de serem utilizadas, optou-se, então, pelo modelo<br />

de acessibilidade, amparado pela metodologia da<br />

entrevista.<br />

Como elemento de apoio o pesquisador desenvolveu<br />

um roteiro, medianamente estruturado e<br />

não disfarçado, abordando os temas inerentes aos<br />

objetivos pretendidos, a saber:<br />

1 - Principais argumentos motivacionais.<br />

2 -Grau de importância dessa ferramenta na<br />

propaganda / publicidade da empresa.<br />

3 - Utilização desses recursos pela concorrência.<br />

4 -Problemas enfrentados na implementação<br />

desses recursos.<br />

5 - Resultados alcançados<br />

6 -Expectativas com relação ao uso do recurso<br />

olfativo como ferramenta de marketing.<br />

A transcrição das entrevistas realizadas, foi<br />

submetida aos entrevistados, para as retificações<br />

julgadas cabíveis.<br />

Estas entrevistas foram realizadas com os<br />

principais executivos de empresas que adotam o<br />

marketing olfativo em seu “portfolio” de ações<br />

mercadológicas e com outros especialistas no<br />

assunto que atuam em segmentos afins e que,<br />

presumivelmente, puderam agregar informações<br />

valiosas para um melhor entendimento da questão<br />

do aroma no esforço comercial das organizações.<br />

16<br />

ANÁLISES REALIZADAS<br />

No que se refere aos principais argumentos<br />

motivacionais que ensejaram a adoção do<br />

marketing olfativo pelos entrevistados, as<br />

considerações exaradas, ainda que em abordagens<br />

específicas, ressaltam como proposta principal a<br />

melhoria da percepção do consumidor para o<br />

produto oferecido, por meio de apelos à sua<br />

satisfação pessoal e/ou ambiental.<br />

Constatou-se uma certa unanimidade quanto ao<br />

fato de o marketing olfativo ser um ferramental a<br />

ser utilizado de maneira conjugada; as ações de<br />

marketing relativamente à propaganda e a<br />

publicidade requerem uma aplicação conjunta de<br />

seus recursos, onde o olfativo seja parte integrante.<br />

Houve grande destaque à atuação do aroma<br />

sobre as reações emocionais da pessoa exposta,<br />

independentemente do segmento de mercado<br />

(alimentício, cosméticos, etc...), com ênfase ao<br />

segmento de cosméticos, onde estas reações<br />

podem ser ainda mais emocionais, por se tratar<br />

de um campo de aplicação em que a fragrância é o<br />

ponto principal da atenção do consumidor.<br />

Houve divergências quanto ao uso do aroma de<br />

forma isolada como ferramenta de marketing; há<br />

opiniões de que sua percepção, em ambientes ou<br />

em pessoas, poderá transportar à memória do<br />

indivíduo exposto a lembrança de já tê-Io sentido<br />

antes e, assim, associar essa percepção à anterior,<br />

boa ou má, dependendo do tipo de reação<br />

provocada pelo cheiro.<br />

A fragrância em si mesma é considerada como<br />

o próprio marketing. Ela pode ser aplicada como<br />

elemento de reconhecimento pessoal ou mesmo<br />

ambiental; atrai pela sua percepção e identifica o<br />

seu portador (lojas, marcas, produtos, por<br />

exemplo). A conclusão é unânime: trata-se de uma<br />

assinatura olfativa.<br />

Esta característica do aroma foi constatada tanto<br />

nas pesquisas bibliográficas mencionadas, em<br />

situações de uso por magazines, organizações<br />

financeiras e mesmo no campo pessoal, pelo seu<br />

emprego por atores que buscam uma identificação<br />

própria, quanto nas entrevistas de campo.<br />

No que se refere ao aroma como elemento de<br />

propaganda, os entrevistados destacaram a grande<br />

importância de sua aplicação, desde a utilização<br />

como instrumento de promoção pessoal, até o uso<br />

que dele se faz como “logolf” ou logotipo, ao ser<br />

considerado equivalente aos “jingles”.<br />

Na utilização desse recurso em planos<br />

promocionais e publicitários, os entrevistados<br />

buscam transformá-lo num sinal de identificação –<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

de uma etiqueta, de uma marca, de uma qualidade<br />

ou até mesmo do espírito de um produto,<br />

amparando ou complementando as características<br />

e as funções exercidas pelos demais recursos<br />

utilizados (audiovisuais).<br />

Também recorrem a materiais de apoio inovadores,<br />

como “cards”, materiais termocrômicos,<br />

microencapsulados que são encartados em revistas<br />

(forma clássica), “outdoor”, catálogos, páginas<br />

publicitárias, e no marketing direto.<br />

Em níveis subliminares o apelo olfativo visa ao<br />

estímulo do indivíduo exposto, tanto sob o aspecto<br />

de desempenho, ao excitá-lo ou acalmá-lo a<br />

determinadas atividades, quanto de ordem motivacional,<br />

incitando-o ao consumo de determinados<br />

produtos ou serviços, sensibilizado pelo palato ou<br />

por efeitos ambientais.<br />

No entanto, foi constatado que a comunicação<br />

publicitária tradicional recorre ao olfato em<br />

proporções bem menores do que aos demais<br />

recursos.<br />

Quanto ao comportamento concorrencial,<br />

evidenciou-se a preocupação que as marcas têm<br />

em diferenciar-se ou distinguir os seus produtos<br />

dos da concorrência; o foco é sempre promover<br />

uma vantagem competitiva, algo que torne o<br />

produto diferente, se não melhor, em relação aos<br />

demais, disponíveis no mercado.<br />

Por não se tratar de um mercado inovador, as<br />

empresas brasileiras seguem tendências ditadas<br />

pelo internacional, notadamente o americano e o<br />

europeu, que realizam intensas pesquisas de mercado<br />

e sensoriais, para identificar as preferências<br />

de consumo e suas alterações, fenômeno que se<br />

modifica de tempos em tempos.<br />

No entanto, ainda não existem concorrentes<br />

diretos no mercado brasileiro. Uma das empresas<br />

entrevistadas, por exemplo, ressaltou a existência<br />

de organizações que oferecem produtos sucedâneos<br />

ou artigos com sistemas operacionais semelhantes,<br />

mas que se destinam a segmentos de produtos ou<br />

de mercados distintos.<br />

Relativamente aos problemas resultantes da<br />

implantação do marketing olfativo, as empresas<br />

pesquisadas não identificaram a ocorrência de<br />

grandes problemas, exceto alguns de ordem<br />

operacional, pouco representativos.<br />

Existe, ainda, alguma dificuldade no desenvolvimento<br />

de aromas personalizados quando desti-<br />

julho/dezembro-2003<br />

nados a “logos olfativos”, circunstância em que a<br />

solução recomenda o desenvolvimento de<br />

“briefings” da fragrância requerida pelo cliente.<br />

As indústrias dispõem de estatísticas de notas e<br />

ingredientes que não são utilizados por provocarem<br />

rejeições quando introduzidos na formulação de<br />

produtos, como os de beleza com fragrâncias<br />

“gourmet”.<br />

Certos aromas poderão comprometer a saúde<br />

das pessoas a eles expostas, se alérgicas. Assim,<br />

na sua escolha, optam-se pelos que sejam menos<br />

suscetíveis de provocar alergia; aromas menos<br />

insinuantes, mais leves e sem registros de exageros<br />

na sua dosagem.<br />

Consoante com a literatura observada é oportuno<br />

observar que existem, ainda, obstáculos de ordem<br />

técnica, como a perenidade requerida num aroma;<br />

o seu usuário perde a sensação de percepção alguns<br />

segundos após tê-lo sentido.<br />

Aumentar a intensidade odorante num ambiente<br />

para solucionar este problema ensejaria outro<br />

ainda maior, o de tornar o ambiente irrespirável.<br />

Desempenho e segurança também foram<br />

objetos de atenção; a toxidade e/ou a flamabilidade<br />

podem, mais uma vez, ser objeto de problemas de<br />

saúde.<br />

Constatou-se, ainda, a possibilidade de<br />

ocorrência de problemas de ordem ética, diante da<br />

impossibilidade de os aromas serem “aprisionados”<br />

em sua utilização estratégia de marketing. Em sua<br />

obra, Lehu (1999) comenta que, a exemplo dos<br />

mitos publicitários subliminares, os aromas podem<br />

ter influência no subconsciente do comprador e,<br />

por conseqüência, em seu comportamento, sem que<br />

ele se aperceba e controle esse fenômeno.<br />

CONCLUSÕES<br />

Apesar das diferenças de focos existentes entre<br />

as empresas entrevistadas, seus respectivos objetivos<br />

visam, sempre, ao consumidor, quer no que tange<br />

à promoção de seu bem-estar social, emocional ou<br />

físico, quer em sua satisfação relativamente ao<br />

ambiente onde se encontra, agregando qualidade<br />

ao produto ou serviço ofertados.<br />

O desempenho alcançado por uma das<br />

empresas entrevistadas refletiu esta constatação,<br />

ao declarar a conquista de brasileiros por meio de<br />

17


A dministração Artigo<br />

um novo conceito de marketing (o olfativo) contido<br />

em produtos reputados de qualidade, modernos e<br />

sofisticados, existentes no mercado internacional.<br />

Agregar qualidade foi o principal objetivo; cada<br />

segmento tem um referencial diferente, de credibilidade,<br />

de confiança, de bem estar, de sofisticação<br />

e de tranqüilidade. Busca-se um diferencial em<br />

relação ao que seu concorrente mais próximo<br />

oferece. O objetivo: aumentar as vendas.<br />

Outra empresa componente da pesquisa atestou<br />

os bons resultados alcançados ao perfumar um<br />

anúncio, recurso fortemente utilizado no lançamento<br />

de um perfume. Estimou ser possível um retorno<br />

sobre vendas da ordem de 20%, no mercado<br />

internacional e em até 40% no mercado brasileiro,<br />

fato atribuído ao ineditismo do sistema e ao perfil<br />

do consumidor brasileiro.<br />

Ressaltou, ainda, a possibilidade de uma significativa<br />

economia de custos, se comparada a<br />

promoções de ponto de venda com recursos do<br />

tipo sachê para experimentação, amostra para<br />

degustação, entre outras, além de se tratar de uma<br />

ferramenta importante para segmentos de higiene,<br />

limpeza, alimentício, farmacêutico e editorial, não<br />

se limitando às indústrias de perfumes e de<br />

cosméticos.<br />

“Lances de genialidade” também foram destacados;<br />

um dos executivos entrevistados comentou<br />

o recente lançamento de um creme para a pele<br />

com aroma de chocolate. “Trata-se de um aroma<br />

18<br />

de risco, por reportar lembranças de tempos idos<br />

onde o produto, ainda que delicioso, ensejava um<br />

lambuzar próximo à sujeira”.<br />

As expectativas desse ferramental olfativo, para<br />

as empresas pesquisadas, são de agregar maiores<br />

conhecimentos a respeito da atividade molecular<br />

das fragrâncias que determinam suas celeridades<br />

sobre a mente, o corpo e as emoções.<br />

Depreende-se, a partir destes objetivos, que<br />

estes conhecimentos devam ser aplicados no<br />

desenvolvimento de novos produtos de aplicações<br />

terapêuticas.<br />

Em suma, o que se constatou foi o objetivo de<br />

atrair o consumidor por meio de um aroma, em<br />

suas diversas formas de apresentação e exposição<br />

agregada ou não a outros elementos complementares<br />

do conjunto da comunicação promocional e<br />

publicitária, dependendo do momento e/ou do<br />

objeto da proposta, mas sempre com a finalidade<br />

de incitá-lo a um produto ou serviço.<br />

No Brasil, pode ser constatado, junto às organizações<br />

abordadas no âmbito da grande São Paulo,<br />

que a utilização do marketing olfativo não apresentou<br />

pontos inéditos, relevantes e tampouco<br />

divergentes das formas e alternativas praticadas<br />

em países da comunidade internacional.<br />

Apesar de já estar presente em muitos segmentos<br />

do mercado brasileiro, o uso do marketing olfativo<br />

ainda é pouco expressivo e a publicidade a respeito<br />

somente agora começa a despontar.<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

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Acesso em: 16/07/2002.<br />

19


A dministração Artigo<br />

20<br />

TRANSFORMAÇÃO NO MODELO DE<br />

GESTÃO DE UM GRUPO NACIONAL DE<br />

AUTO-PEÇAS APÓS SUA AQUISIÇÃO<br />

POR UMA CONGÊNERE<br />

MULTINACIONAL FRANCESA<br />

Eduardo de Camargo Oliva<br />

IMES – Centro Universitário Municipal de São Caetano do Sul, e-mail edoliva@imes.edu.br<br />

Luiz Carlos Gianello<br />

IMES – Centro Universitário Municipal de São Caetano do Sul, e-mail gta.gianello@bol.com.br<br />

Valeo Sistemas de Segurança – evandro.alves@valeo.com<br />

R E S U M O ABSTRACT<br />

As transformações ocorridas no modelo de<br />

gestão de uma organização adquirida por um<br />

grupo francês constituem o tema central deste<br />

artigo. A fim de descobrir as características do<br />

processo de mudança, aplicou-se o método do<br />

estudo de caso, análise documental e entrevistas.<br />

A análise dos dados foi suportada por<br />

categorias estabelecidas em função dos modelos<br />

teóricos utilizados no estudo.<br />

O resultado apurado indica que as duas<br />

organizações possuíam modelos de gestão que<br />

respeitavam a cultura organizacional vigente e o<br />

ambiente de negócios em que operavam; no<br />

entanto, um era mais empírico e o outro, mais<br />

científico. O modelo mais científico, denominado<br />

de cinco eixos, originado do TPS – Toyota<br />

Productive System, apoiou-se em um sistema de<br />

comunicação total e no envolvimento das pessoas,<br />

mas ainda não se pode dizer que ele proporcionou<br />

autonomia plena e satisfação às pessoas.<br />

Palavras-chave: modelo de gestão, pessoas,<br />

participação, sistema de comunicação.<br />

Evandro Cleber Alves<br />

The changing of the administration model of an<br />

enterprise acquired by a multinational French<br />

group is the central object of this study. In order<br />

to discover the characteristics of the changing<br />

process, the case study method and the<br />

documental analyses and interviews were applied.<br />

The analysis of the data was supported by<br />

established categories extracted of the theoretical<br />

model used in this study. The result shows that<br />

both organizations had administration models<br />

that respected the organizational culture that<br />

existed at that moment. One model was more<br />

empirical and the other one was more scientific.<br />

The last model, named five axes based on the<br />

TPS – Toyota Productive System, used a total<br />

communication system that contributed to a<br />

greater involvement of the people, but did not<br />

offer total autonomy and satisfaction for them.<br />

Keywords: administration model, people,<br />

involvement, communication system.<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

julho/dezembro-2003<br />

INTRODUÇÃO<br />

O interesse em estudar as transformações que<br />

os modelos de gestão acarretam no comportamento<br />

de organizações e das pessoas vincula-se à linha<br />

de trabalho do pesquisador, que nos últimos anos<br />

tem se dedicado a este tema e as conseqüências<br />

que os processos de mudança desta ordem têm<br />

representado à sociedade, às organizações e às<br />

pessoas. Em termos operacionais adota-se neste<br />

trabalho a definição de modelo de gestão de Santos<br />

e Pereira (2001, p. 60) como sendo “uma<br />

simplificação da realidade, usada para transmitir<br />

relações complexas em termos fáceis de serem<br />

entendidos”. Segundo os autores, as práticas de<br />

gestão que procuram ser representadas pelo<br />

modelo podem referir-se a organização como um<br />

todo dentro de um enfoque específico ou a suas<br />

partes.<br />

Ao iniciar o desenvolvimento desta pesquisa,<br />

observou-se que os modelos de gestão, mesmo<br />

que imperfeitos, tiveram sua gênese a partir da<br />

revolução industrial, ocorrida entre os séculos XVIII<br />

e XIX, e do movimento da administração científica<br />

vigente no início do século XX, quando Taylor,<br />

segundo Zaccarelli (1990), ficou conhecido como<br />

pioneiro no estudo dos métodos e técnicas que<br />

possibilitavam o aumento da produtividade nas<br />

indústrias. Outro expoente desta escola foi Ford,<br />

que introduziu o conceito da linha de montagem<br />

para produção em larga escala. No entanto, o<br />

planejamento e a concepção das ações, bem como<br />

os níveis esperados de produção, eram feitos por<br />

especialistas que determinavam de forma<br />

autocrática o que e como deveria ser produzido.<br />

Na época eles propunham que esses ganhos em<br />

produtividade fossem revertidos para a sociedade<br />

em termos de diminuição dos preços e na elevação<br />

do valor médio dos salários, mas os fatos demonstraram<br />

que esses objetivos foram atingidos<br />

parcialmente. De acordo com Moreira (1991),<br />

embora o interesse por maior produtividade tenha<br />

ocorrido após a segunda grande guerra, e particularmente<br />

após a década de 1960, os estudos da<br />

fase moderna já tinham sido iniciados a partir da<br />

década de 1930.<br />

Portanto, essas idéias, conhecidas como modelo<br />

Taylorista/Fordista, desencadearam, segundo<br />

Dutra (2002), um modo de organização dos postos<br />

de trabalho e de sustentação do desenvolvimento<br />

econômico do pós-guerra, que de certa forma<br />

transformou-se em algo inquestionável, haja vista<br />

sua disseminação em todas as organizações,<br />

independentemente da ideologia predominante ou<br />

de sua finalidade. Ainda segundo esse mesmo<br />

autor, tal modo de organização não possibilitou<br />

um processo de desenvolvimento das pessoas por<br />

si mesmas e a sua ruptura se iniciou na década de<br />

1960, demonstrando que as décadas de 1970 e<br />

1980 foram de transição, e que a consolidação se<br />

efetivou a partir da segunda metade da década de<br />

1990 quando novos modelos de gestão de pessoas<br />

surgiram para cumprir sua finalidade por meio de<br />

novos conceitos e instrumentos.<br />

Interessado em conhecer essas transformações<br />

nos modos de gestão para os postos de trabalho<br />

em indústrias brasileiras, italianas e francesas de<br />

ponta, Salerno (1999) estudou aspectos dos<br />

sistemas de produção e da maneira de se gerir<br />

pessoas. Ele constatou que as empresas que<br />

necessitaram ser competitivas em produtos e<br />

processos tinham alterado o modo clássico de<br />

organizar os postos de trabalho, transformandoos<br />

em sistemas integrados e flexíveis automatizados.<br />

Essa forma de reestruturação produtiva,<br />

internacionalmente adotada, introduziu a gestão<br />

em equipes e por processos, ampliando e assegurando<br />

a propagação dos princípios da qualidade<br />

total, por meio de maior intercomunicação entre<br />

as pessoas e os grupos, o que proporcionaria<br />

maiores condições para se lidar com eventos<br />

inesperados. Embora as organizações possuam<br />

normas e indicadores estabelecidos em sentido<br />

top-down, para que os resultados obtidos possam<br />

ser comparados e avaliados, de acordo com esse<br />

autor, seria coerente que ao menos as metas<br />

fossem construídas ou negociadas com as pessoas.<br />

O modelo de gestão que privilegia indicadores<br />

e metas que posteriormente favorecerão o<br />

controle, segundo Muscat & Fleury (1993), é uma<br />

forma de a empresa se posicionar frente à<br />

competição, contribuindo para a criação de mecanismos<br />

e a utilização plena das competências<br />

internas. Sobretudo o modelo escolhido deverá ser<br />

capaz de avaliar se a empresa está realmente sendo<br />

competitiva e se está aperfeiçoando sua forma de<br />

atuação, relativamente às necessidades de seus<br />

clientes e à operação dos competidores mais<br />

diretos. Em síntese, a estratégia competitiva, no<br />

que diz respeito à manufatura, recomenda que se<br />

acompanhem cinco diferentes enfoques: custo,<br />

qualidade, tempo, flexibilidade, inovação. Cada um<br />

desses enfoques estratégicos possui fatores<br />

21


A dministração Artigo<br />

críticos de sucesso associados a indicadores de<br />

gestão. Esses autores, em pesquisa desenvolvida<br />

junto a algumas empresas brasileiras, identificaram<br />

os seguintes indicadores de gestão: pontualidade<br />

de entrega, custo unitário, porcentagem de sucata<br />

por processo, clima organizacional, produtividade<br />

dos insumos, índice de reclamações/devoluções e<br />

valor do estoque improdutivo.<br />

Constatou-se que não existem indicadores<br />

homogêneos para as empresas pesquisadas e que<br />

sua utilização se presta à monitoração da situação<br />

vigente e ao delineamento de cenários futuros e<br />

estratégias competitivas que serão concretizados à<br />

medida que se criem condições necessárias. Porém<br />

os indicadores afetam as relações entre as pessoas,<br />

principalmente no que diz respeito a negociação,<br />

comunicação e aprendizagem. Uma das observações<br />

de Castellano (2001) é que, se os indicadores forem<br />

usados para comparar as pessoas em função dos<br />

objetivos traçados, com certeza o medo se instalará<br />

e não haverá contribuição positiva em relação ao<br />

comprometimento com as necessidades dos clientes.<br />

Segundo o mesmo autor, Deming enfatizava que o<br />

gestor deveria manter o processo estável — dentro<br />

dos limites de tolerância —, promover a cooperação<br />

em vez da competição e criar uma cultura que<br />

inspirasse o orgulho de pertencer à organização.<br />

De acordo com Cardia (2002), os indicadores<br />

se materializam para as pessoas por meio do<br />

conceito de administração visual, utilizando-se<br />

quadros afixados nas paredes da área de produção.<br />

Segundo esta autora, tal metodologia está<br />

alicerçada em:<br />

22<br />

“uma adaptação do ciclo Deming ( SDCA –<br />

Padronização, Execução, Verificação e Ação),<br />

entendendo como: 1) Fabricar; 2) Inspecionar;<br />

3) Liberar/Bloquear; 4) Analisar e 5) Implementar<br />

ações corretivas. É um ciclo de ajuste da<br />

qualidade, que visa à retroalimentação de<br />

informações o mais próximo do posto de<br />

trabalho, para tomada de ações corretivas no<br />

local, evitando-se que ocorra uma epidemia dos<br />

problemas identificados.” (Cardia, 2002, p. 115)<br />

Alguns exemplos que evidenciam que essa<br />

prática já está sendo utilizada por algumas<br />

organizações e que justificam o interesse por essa<br />

pesquisa:<br />

1º) Na Volkswagen de Resende, o conceito de<br />

cliente interno é a base para a qualidade; as áreas<br />

se comunicam trocando informações sobre os<br />

problemas gerados e estabelecem as respectivas<br />

ações corretivas. Os principais indicadores da<br />

produção automotiva subordinam-se aos<br />

indicadores do sistema Audit (metodologia<br />

internacional de qualidade assegurada) e aos erros<br />

apontados pelo cliente final. Havendo distorções,<br />

as causas são analisadas, o plano de ação é<br />

ajustado e tudo fica exposto em quadros visuais<br />

de gestão.<br />

2ª) Na Petroflex, de acordo com o jornal Gazeta<br />

Mercantil de 02/10/2002, o conceito de quadros<br />

visuais de gestão já vem sendo praticado desde<br />

1998 e já reduziu em R$ 5 milhões os custos anuais<br />

de produção. No programa os funcionários têm<br />

acesso aos principais indicadores de gestão da<br />

empresa, planos de produção, metas e resultados.<br />

Além disso, podem apresentar projetos para<br />

melhoria de desempenho, redução de gastos,<br />

competitividade e melhoria da qualidade de vida<br />

no ambiente de trabalho, independentemente do<br />

nível hierárquico. Esse programa, que vinha sendo<br />

praticado na unidade de Cabo de Santo Agostinho<br />

– PE, já está sendo levado para outras duas<br />

unidades, uma em Triunfo – RS e outra em Duque<br />

de Caxias – RJ.<br />

Como pode ser notado nos exemplos acima, e<br />

segundo as pesquisas de Garcez (1998), o processo<br />

de Gestão pela Qualidade Total pressupõe que os<br />

indicadores e os planos de ação setoriais sejam fruto<br />

do desdobramento das diretrizes do presidente da<br />

empresa, por meio de negociação bilateral e diálogo<br />

intenso entre as lideranças e as pessoas, e portanto<br />

são passíveis de cobrança. Esse modelo de gestão<br />

se consubstancia na transparência por meio da<br />

comunicação visual e na exposição dos resultados<br />

atingidos.<br />

O problema de pesquisa que este estudo<br />

procurou responder foi: Quais as modificações<br />

introduzidas no modelo de gestão de uma indústria<br />

de auto-peças nacional, após sua aquisição por uma<br />

empresa multinacional francesa?<br />

Os objetivos específicos foram:<br />

1. Identificar como era o modelo de gestão antes<br />

da aquisição pela multinacional francesa.<br />

2. Apresentar o modelo escolhido e sua origem.<br />

3. Descrever o processo de mudança requerido<br />

com a implantação do modelo.<br />

4. Analisar se o modelo implantado pode ser<br />

caracterizado como participativo.<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

A empresa objeto de estudo é a Valeo Sistemas<br />

de Segurança. Essa empresa está presente em 25<br />

países, possui 70.000 colaboradores, 139 fábricas<br />

e 53 centros de tecnologia e inovação. Na Grande<br />

São Paulo está presente com duas unidades, uma<br />

no bairro da Cantareira na cidade de São Paulo, com<br />

500 funcionários, e outra no município de Diadema,<br />

com 236 funcionários. Suas atividades de fabricação<br />

de equipamentos automotivos iniciaram-se na<br />

França em 1921. No Brasil, a empresa chegou em<br />

1975 para fabricar Sistemas Térmicos e de<br />

Climatização, na cidade de Itatiba no Estado de São<br />

Paulo. O nome Valeo deriva do latim e significa<br />

“Sentir-se Bem”. Em Abril de 1997 foi iniciada a<br />

fabricação de Sistemas de Segurança, por meio da<br />

aquisição de duas fábricas pertencentes ao Grupo<br />

Univel, uma Metalúrgica e uma Indústria de<br />

Plásticos. O foco do estudo foi a unidade de Plásticos<br />

de Diadema.<br />

A indústria automotiva está presente na maioria<br />

das nações industrializadas. Este setor integra suas<br />

atividades com um complexo canal de fornecimento<br />

de matérias-primas. De acordo com<br />

Gunasekaran (2000), as montadoras européias têm<br />

competido com novos rivais, principalmente<br />

japoneses, cuja produtividade por empregado tem<br />

sido bem superior ao longo dos anos 1990, de modo<br />

a conduzir a gestão das empresas neste continente<br />

a adotar modelos e técnicas de gestão alicerçados<br />

no Gerenciamento da Qualidade Total e no Just in<br />

Time, em sua maioria originados do modelo TPS –<br />

Toyota Productive System. Esses modelos e técnicas<br />

não se circunscreveram às montadoras e foram<br />

estendidas para os fornecedores.<br />

A indústria de auto-peças escolhida opera no<br />

Brasil, a partir de um modelo de gestão denominado<br />

por cinco eixos e que segue a linha teórica<br />

japonesa. A área internacional responsável pela<br />

aplicação do modelo chama-se Quality Assurance<br />

e situa-se na matriz na França. Periodicamente<br />

auditores são encaminhados para os países onde<br />

a empresa mantém negócios, com o objetivo de<br />

checar se o modelo e os indicadores estabelecidos<br />

para todas as plantas do mundo foram convertidos<br />

em planos de ação e se os resultados esperados<br />

estão sendo atingidos.<br />

MUDANÇA E AQUISIÇÃO DE EMPRESAS<br />

De acordo com Zimmerman (1995), as mudanças<br />

estão ocorrendo nos últimos tempos a taxas sem<br />

julho/dezembro-2003<br />

precedentes. O autor destaca que negar a mudança<br />

não evitará que ela ocorra, portanto o maior desafio<br />

será compreendê-la e agir de forma positiva,<br />

aproveitando as oportunidades.<br />

No Brasil, até o final dos anos 1980, as aquisições<br />

no setor de auto-peças eram quase nulas, pois as<br />

empresas ainda trabalhavam em mercados<br />

protegidos, os controles e os padrões de exigência<br />

eram complacentes e os clientes e os consumidores<br />

tinham que se conformar com a baixa qualidade do<br />

produto e do serviço oferecido. A política industrial<br />

brasileira, fruto do desenvolvimento orientado para<br />

a substituição de importações, por muitos anos ficou<br />

isolada do resto do mundo:<br />

“O processo de abertura, resposta à necessidade<br />

da globalização em competitividade,<br />

revelou disfunções oriundas da forte intervenção<br />

governamental no sentido de promover a industrialização<br />

no país.” (Coutinho, 1994 p. 18)<br />

A análise que se faz do período anterior à<br />

abertura econômica iniciada na década de 1990<br />

indica que as indústrias cresceram, mas sem visão<br />

estratégica e integração com todos os elementos<br />

que contribuem para a construção da vantagem<br />

competitiva da indústria.<br />

A partir da globalização, observou-se contínua<br />

alteração dos cenários empresariais. Uma das mais<br />

importantes funções gerenciais é identificar<br />

mudanças ou, se possível, antecipar-se a elas,<br />

demonstrando que os gestores, para fazer frente<br />

às alterações do mercado, necessitariam apresentar<br />

o comportamento de:<br />

“...monitorar alterações nas condições da<br />

economia, ficar atentos às movimentações de<br />

seu mercado de atuação e agir para elevar ou<br />

manter o desempenho da empresa.” (Whipp et<br />

al., s.d., p. 15).<br />

Se, por exemplo, a empresa está sendo incapaz<br />

de competir em seu mercado com eficácia, esperase<br />

que se reposicione aos padrões/parâmetros<br />

internacionais de desempenho de seu mercado de<br />

atuação ou então poderá sucumbir.<br />

A mudança organizacional que uma aquisição<br />

desencadeia pode ser caracterizada como de larga<br />

escala, conforme a denominação de Lawler (1989,<br />

p. 3):<br />

“é um processo de mudança que altera um<br />

número significativo de sistemas para tornar a<br />

organização mais efetiva. As alterações não são<br />

23


A dministração Artigo<br />

24<br />

temporárias, ou melhor, a organização torna-se<br />

diferente, e assim deve permanecer.”<br />

O desempenho organizacional será o produto<br />

da eficácia desses sistemas e sua inter-relação com<br />

o meio ambiente, transformando insumos em<br />

resultados. Os exemplos a seguir poderiam<br />

desencadear mudanças de larga escala, porque<br />

modificam o desempenho da empresa como um<br />

todo:<br />

a) Passar da posição de competidor regional para<br />

a de competidor global.<br />

b) Tornar-se um produtor de sistemas integrados,<br />

em vez de produzir apenas produtos padrões<br />

independentes.<br />

c) Estabelecer com seus clientes um relacionamento<br />

de longo prazo.<br />

d) Alterar processos, estruturas e sistemas<br />

O importante num processo de mudança<br />

estratégica desse tipo, segundo Pettigrew (1987),<br />

é considerar o contexto em que ele se insere, o<br />

conteúdo e o processo, definindo um estado final<br />

que servirá como guia e agenda da mudança, na<br />

interligação dos elementos da organização com os<br />

elementos do ambiente.<br />

As dificuldades ou oportunidades geradas no<br />

ambiente afetam a organização em múltiplos<br />

aspectos e provocam a mudança de larga escala.<br />

Nessas condições, ela deve ser analisada, segundo<br />

Ledford (1989), levando-se em conta as seguintes<br />

dimensões:<br />

1. Profundidade da mudança<br />

Esta dimensão afeta os membros da organização<br />

em seus paradigmas e valores, modificando a<br />

referência vigente até então.<br />

2. Proporção da mudança<br />

Significa a extensão da mudança em termos dos<br />

elementos que deverão ser modificados,<br />

podendo abranger: divisões, funções ou fábricas<br />

e seus respectivos subsistemas de premiação,<br />

admissão, informação e/ou tecnologia.<br />

3. O tamanho da organização<br />

Quanto maior o tamanho da organização, mais<br />

complexas serão as alterações necessárias em<br />

suas características ou em seu desempenho.<br />

O novo modelo de gestão se evidencia como<br />

uma mudança que não possui caráter temporário,<br />

exigindo da organização a máxima cautela, porque,<br />

em primeiro lugar, está se alterando a própria<br />

natureza da organização, as informações são<br />

compartilhadas no sentido de promover o<br />

autocontrole e se está lidando com componentes<br />

do comportamento humano, o que afeta<br />

significativamente o desempenho da organização.<br />

As pesquisas que Pettigrew (1985) desenvolveu<br />

– embora os resultados apresentados não sejam<br />

conclusivos – indicaram que a análise e o<br />

gerenciamento da estratégia de mudança<br />

contemplaram principalmente os aspectos da<br />

formulação e muito pouco os aspectos de<br />

implementação. Outro dado obtido indicou que<br />

menos de 10% dos estudos empíricos analisados<br />

utilizaram séries temporais como metodologia, o<br />

que significa que as empresas escolheram<br />

estratégias de mudança sem examinar as<br />

tendências ou padrões a partir de seus dados<br />

históricos compilados.<br />

Essas informações servem de alerta por duas<br />

razões: primeiro, porque demonstram a importância<br />

de se conhecer o período anterior (concepção da<br />

mudança) e o período posterior (implementação da<br />

mudança), assim como a contribuição do novo<br />

modelo de gestão; segundo, porque permitirão que<br />

se questione quais foram as projeções elaboradas<br />

para a empresa com esta prática de gestão em<br />

comparação com seu desempenho da fase anterior<br />

e se houve qualquer avaliação de tendência quanto<br />

às necessidades para atender os novos cenários.<br />

O processo de mudança refere-se a ações, reações<br />

e interações das várias partes que movem a empresa<br />

de um estado atual para um estado futuro desejado.<br />

A adoção de modelos de gestão integrados por<br />

indústrias a partir da década de 1990 enfatiza a<br />

necessidade de tornar a empresa competitiva<br />

internacionalmente e de assegurar os programas de<br />

qualidade total com desdobramentos externos e<br />

internos e que ilustram as razões e o grau da<br />

intensidade da mudança, remetendo-nos ao interesse<br />

de conhecer qual foi o comportamento das pessoas<br />

no processo.<br />

A COMPETITIVIDADE ORGANIZACIONAL<br />

E A PARTICIPAÇÃO DAS PESSOAS<br />

A palavra competitividade, de acordo com<br />

Rodrigues et al. (1999), está associada a um<br />

excepcional esforço por parte da organização e das<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

pessoas no sentido de se obter a melhor performance<br />

no livre-mercado. Esse discurso, segundo os mesmos<br />

autores, está presente no quotidiano de corporações<br />

multinacionais capitaneadas por gerentes que<br />

possuem as habilidades exigidas pelos padrões<br />

internacionais para dar sustentação aos modelos<br />

globais de competição. Assim, aqueles que atuam<br />

em subsidiárias espalhadas pelo mundo são<br />

submetidos a diferentes símbolos importados das<br />

economias estáveis e de culturas diferentes, que ao<br />

serem reinterpretados em nível nacional-local podem<br />

não refletir exatamente as idéias originais e suas<br />

intenções, porque pode acontecer de as pessoas<br />

entenderem as idéias parcialmente.<br />

Os autores enfatizam a necessidade de um estilo<br />

de liderança mais participativo para superar os<br />

eventuais conflitos, investindo mais tempo na troca<br />

de idéias quando da implantação de novos modelos<br />

e técnicas do que lendo relatórios ou lidando com<br />

papéis. As qualidades de um líder estão ligadas à<br />

personalidade e à história de desenvolvimento<br />

individual.<br />

A gestão de forma mais participativa, de acordo<br />

com Lerner (1996), requer o binômio cooperação<br />

e resultados alicerçado na seleção das melhores<br />

estratégias, estruturas e tecnologias para que o<br />

desenvolvimento da organização ocorra.<br />

O desenvolvimento da organização “refere-se à<br />

mudança para ajuste de missão e objetivos e<br />

implica considerar as diferentes interfaces<br />

representadas pelas interações entre: indivíduo e<br />

indivíduo, indivíduo e grupo, grupo e grupo, grupo<br />

e organização, organização e organização,<br />

organização e meio ambiente” (Kanaane, 1995,<br />

p. 51). Em cada uma destas interfaces, as pessoas<br />

manifestam um maior ou menor grau de<br />

comprometimento com a mudança, contribuindo<br />

com o aprendizado e a evolução da organização.<br />

Essas interações evidenciam o Comportamento<br />

da Organização subdividido, segundo Wagner III e<br />

Hollenbeck (1999), em três níveis: a primeira área<br />

de análise, o comportamento microorganizacional,<br />

tem contribuições teóricas oriundas da<br />

Psicologia e focaliza os aspectos psicossociais do<br />

indivíduo e as dimensões de sua atuação no<br />

contexto organizacional. A segunda área de análise<br />

é o comportamento mesoorganizacional e que trata<br />

das questões relativas aos processos dos grupos<br />

julho/dezembro-2003<br />

e equipes de trabalho, cuja compreensão teórica é<br />

oferecida pelos estudos da Antropologia, Sociologia<br />

e Psicologia Social. A terceira área de análise é o<br />

comportamento macroorganizacional, com<br />

marcantes contribuições da Antropologia, Ciência<br />

Política e Sociologia, e enfatiza o entendimento da<br />

organização como um todo, com temas ligados a<br />

cultura, uso do poder, clima e políticas e práticas<br />

de RH.<br />

De acordo com Siqueira (1999), medir o<br />

Comportamento Organizacional – CO pode englobar<br />

desde atributos quantitativos sobre desempenho<br />

organizacional, a exemplo dos indicadores de gestão<br />

de: volumes, especificações técnicas ou resultados<br />

econômicos-financeiros, até atributos qualitativos,<br />

a exemplo dos efeitos psicossociais sobre os indivíduos<br />

ou grupos/equipes de trabalho, representados<br />

por constructos complexos como comprometimento<br />

organizacional, satisfação no trabalho e coesão<br />

grupal. Um contraponto teórico se instala neste<br />

instante entre os princípios da ética protestante<br />

apresentados por Weber (1999) e os princípios da<br />

modernidade reflexiva apresentados por Giddens<br />

(1997). Segundo o primeiro autor, a ética protestante<br />

como objetivo orientador valoriza a produção do<br />

dinheiro e sua acumulação, tornando-se para as<br />

pessoas a finalidade máxima da vida. Em uma<br />

sociedade capitalista, os indivíduos são selecionados<br />

em função do critério do mais forte. Em oposição, a<br />

visão do segundo autor destaca a busca da ação<br />

consciente das pessoas, de sua individualidade, sua<br />

capacidade de posicionar-se de forma ativa, autônoma,<br />

o que implica compreender a complexidade à<br />

sua volta. Esse comportamento, que de certa forma<br />

também espera-se das práticas de gestão das<br />

organizações, valoriza a interdependência para a<br />

realização de objetivos, bem como para as questões<br />

ligadas à responsabilidade na gestão das pessoas e<br />

das questões sociais. Esses autores elucidam as<br />

prováveis intenções das organizações em relação ao<br />

modelo de gestão vigente, ao tipo de gestão de<br />

pessoas que é praticado, bem como sobre a liberdade<br />

que as pessoas terão em relação às decisões a serem<br />

tomadas.<br />

Nesse sentido, Dutra (2002) desenvolveu um<br />

modelo para gestão de pessoas que procura<br />

apresentar como o equilíbrio pode ser obtido:<br />

25


A dministração Artigo<br />

Esse modelo, de acordo com Dutra (2002),<br />

enfatiza os objetivos e a delimitação dos processos<br />

que podem ser assim descritos:<br />

a) Movimentação: compreende as práticas de<br />

captação, internalização, transferências, promoções,<br />

expatriação, recolocação.<br />

b) Desenvolvimento: compreende as práticas de<br />

capacitação, carreira e desempenho.<br />

c) Valorização: compreende as práticas de remuneração,<br />

premiação, serviços e facilidades.<br />

Esses processos são interdependentes e<br />

interagem para que o conjuntos das ações, tanto<br />

das organizações quanto das pessoas, fluam<br />

harmoniosamente.<br />

26<br />

Figura 1 – Processos de gestão de pessoas<br />

Fonte: DUTRA (2002, p. 49-50).<br />

METODOLOGIA DE PESQUISA<br />

Para o atendimento dos objetivos deste trabalho,<br />

de acordo com Richardson et al., apud Souza Neto<br />

(1997), a escolha do método da pesquisa foi<br />

realizada em consonância com a natureza do<br />

problema que se pretendia investigar e ao tipo de<br />

estudo conduzido.<br />

Para o cumprimento dos objetivos deste trabalho,<br />

a pesquisa sobre modelo de gestão foi classificada<br />

Fonte: elaborado pelos autores.<br />

Quadro 1 – Categorias de análise<br />

como descritiva, porque apresenta as características<br />

das transformações ocorridas no comportamento<br />

organizacional, permitindo-nos, segundo Oliveira,<br />

S.L. (1997), a obtenção de melhor compreensão do<br />

comportamento de diversos fatores e elementos que<br />

influenciaram o fenômeno. Para se elaborar o estudo<br />

descritivo, utilizamos o método do estudo de caso.<br />

De acordo com Bonoma (1985), estudo de caso<br />

significa insights exploratórios que poderão ser<br />

tratados posteriormente com maior rigor em<br />

experimentos e/ou pesquisas quantitativas. Esta<br />

metodologia requer distinguir o que se observa de<br />

seu significado, isto é, ao interpretarmos as informações<br />

coletadas, devemos tentar capturar os dados<br />

por inteiro.<br />

Dessa forma, ao utilizarmos o estudo de caso<br />

como método de pesquisa de dados empíricos<br />

frente a outras estratégias de pesquisa disponíveis<br />

(levantamentos probabilísticos ou experimentos),<br />

é necessário que conheçamos com precisão o<br />

problema da pesquisa e que estejamos interessados<br />

em responder “o porquê” e o “como”.<br />

Por sua vez, cada organização investigada<br />

possui uma realidade única e não pode ser<br />

compreendida senão a partir de um contexto que<br />

localize o momento da organização dentro de uma<br />

série de acontecimentos, integrando as suas<br />

peculiaridades e especificidades ao seu ambiente<br />

interno e externo.<br />

A coleta de dados foi conduzida por entrevista<br />

pessoal e análise documental. Os sujeitos-alvo da<br />

pesquisa foram: o diretor da planta, o gerente da<br />

área da qualidade, o especialista em RH, o líder da<br />

área de produção, o tecnólogo que presta suporte<br />

à produção e um operador de uma das células de<br />

manufatura. Visando assegurar a relevância na<br />

indicação dos entrevistados, solicitou-se à empresa<br />

que eles estivessem na empresa desde a fase<br />

anterior à adoção do novo modelo de gestão.<br />

A análise dos dados esteve apoiada fundamentalmente<br />

nos seguintes autores e categorias:<br />

Autores Categorias de análise<br />

Pettigrew (1987) e Ledford (1989) Contexto, conteúdo e processo da mudança.<br />

Profundidade da mudança, proporção e tamanho<br />

da organização.<br />

Muscat e Fleury (1993) e Salerno (1999) Avaliação do modelo e dos indicadores de gestão.<br />

Rodrigues et al. (1999), Liderança, participação, movimentação,<br />

Lerner (1996) e Dutra (2002) desenvolvimento e valorização das pessoas.<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS<br />

DA PESQUISA<br />

A indústria de plásticos Univel, fundada em<br />

1987, permaneceu como propriedade de um<br />

empresário brasileiro até 1997. O modelo de gestão<br />

praticado nesta empresa alinhava-se às crenças de<br />

seu antigo dono, que esteve à frente da <strong>Adm</strong>inistração<br />

mais intensamente até 1993, ocasião em que<br />

passou a militar no Sindipeças, sindicato patronal<br />

do segmento. Existiam evidências de boas e más<br />

práticas no modelo de gestão vigente à época. Por<br />

um lado se tinha por objetivo reter as pessoas<br />

investindo em treinamento e educação formal; por<br />

outro lado, a organização da empresa era carente<br />

em termos de um orçamento melhor estruturado e<br />

de um apoio técnico eficaz aos clientes, apesar de<br />

pessoalmente o dono possuir boa penetração no<br />

segmento automotivo. A estrutura organizacional<br />

era estritamente funcional e favorecia a separação<br />

entre os processos existentes, permitindo o controle<br />

das decisões e ações sobre os gestores em sentido<br />

top-down.<br />

Devido à tendência do setor automotivo de fechar<br />

contratos com sistemistas e na maioria das vezes<br />

junto às matrizes de multinacionais no exterior, o<br />

empresário foi procurado por uma multinacional<br />

francesa, que demonstrou interesse em adquirir a<br />

empresa. Como não tinha como competir nesta nova<br />

realidade global, decidiu vender a Univel.<br />

A Valeo Sistemas de Segurança introduziu<br />

estratégias para a satisfação do cliente e que tiveram<br />

por objetivo sustentar o crescimento da organização.<br />

Concluiu assim a empresa adquirente que<br />

as principais prioridades seriam: o investimento em<br />

tecnologia avançada, a existência de qualidade total,<br />

a manutenção de custos competitivos e o oferecimento<br />

de presença global.<br />

O modelo de gestão que o adquirente introduziu<br />

denominou-se de cinco eixos. Este modelo objetiva<br />

a busca da satisfação do cliente através da Qualidade<br />

Total. A conquista da Qualidade Total, segundo<br />

relatos obtidos, se deu com base na aplicação desta<br />

metodologia. A base são as pessoas, por meio das<br />

quais a organização consegue se tornar competitiva<br />

com o aumento da produtividade, redução de<br />

desperdícios em todos os processos da organização,<br />

sendo portanto o único modelo que foi aplicado,<br />

tanto para as áreas operacionais quanto para as<br />

áreas administrativas.<br />

julho/dezembro-2003<br />

Logo após a aquisição, a Valeo trouxe<br />

temporariamente para a unidade de Diadema pessoas<br />

que já integravam a empresa, entre elas o Diretor<br />

Geral, o Diretor Financeiro, o Diretor e o Gerente de<br />

Recursos Humanos, além do Diretor de Qualidade,<br />

que tiveram por objetivo iniciar o desenvolvimento<br />

da metodologia. A segunda etapa foi iniciar a<br />

formação das chefias por meio de um treinamento<br />

de 5 dias ministrado por uma equipe européia<br />

especializada na metodologia, havendo para cada<br />

dia um instrutor diferente. Os responsáveis sentiram<br />

uma grande dificuldade na formação de pessoas de<br />

nível operacional. Após esta constatação, foram<br />

formados instrutores brasileiros, pessoas que já<br />

exerciam alguma função dentro de alguma unidade<br />

nacional. A formação desses multiplicadores exigiu<br />

mais três dias de treinamento específico para o eixo<br />

que a mesma estaria sendo formada e mais um dia<br />

para a acreditação dos novos instrutores. Esses novos<br />

instrutores foram validados por um especialista no<br />

momento da aplicação do treinamento a um grupo<br />

reduzido de pessoas. Era uma preocupação da<br />

empresa durante o treinamento: ligar a teoria<br />

apresentada com a prática.<br />

A figura a seguir apresenta o modelo dos cinco<br />

eixos que foi introduzido na empresa.<br />

Fonte: dados da pesquisa.<br />

27


A dministração Artigo<br />

O primeiro eixo trabalhado pela empresa foi o<br />

Envolvimento do Pessoal. Nesse eixo o objetivo foi<br />

envolver o pessoal e reconhecer suas competências,<br />

melhorando-as por meio de treinamento. Também<br />

se pretendia oferecer às pessoas meios para que<br />

pudessem assumir responsabilidades e elaborar<br />

propostas de melhoria e, a partir dessas premissas<br />

atendidas, participar ativamente do funcionamento<br />

de uma equipe de trabalho autônoma, onde haveria<br />

um facilitador, não necessariamente um supervisor<br />

que cuidaria das necessidades e da representatividade<br />

do grupo junto à <strong>Adm</strong>inistração. As técnicas<br />

contidas nesse eixo introduziram o hábito de se<br />

realizar reuniões diárias de cinco minutos; o estudo<br />

em equipe da causa de problemas; o desenvolvimento<br />

da polivalência, ampliando o conhecimento<br />

de uma pessoa para a fabricação de mais produtos<br />

e da policompetência favorecendo que uma pessoa<br />

pudesse intervir na manutenção, qualidade e organização<br />

do posto de trabalho. Com essas medidas o<br />

autocontrole se estabeleceria e novas propostas de<br />

melhoria poderiam ser apresentadas.<br />

O segundo eixo foca o Sistema de Produção e se<br />

destina a melhorar a produtividade e a qualidade<br />

dos produtos e sistemas. As técnicas introduzidas<br />

permitem que o fluxo de produção seja puxado e<br />

que haja flexibilidade dos meios de produção.<br />

Adotou-se o hábito da observação da operação para<br />

a introdução de melhorias quanto ao estoque,<br />

movimentação de produtos e materiais em<br />

processo, manutenção preventiva, limpeza, ordem<br />

e arrumação do posto de trabalho. Apesar de todas<br />

essas ferramentas introduzidas, observou-se que o<br />

erro humano continuava sendo uma das<br />

importantes causas de reclamações por parte dos<br />

clientes e que determinados lotes retornariam. A<br />

empresa decidiu introduzir um sistema denominado<br />

Poka Yoke (a prova de falhas), por meio de sensores<br />

óticos e eletrônicos. Na atualidade está sendo<br />

desenvolvido um sistema de prevenção do erro pela<br />

avaliação do perfil do produto, com sensores que<br />

avaliam superfície e cor.<br />

O terceiro eixo, denominado de Inovação<br />

Constante, propõe-se a conceber produtos<br />

inovadores, fáceis de fabricar, de qualidade e ao<br />

menor custo enquanto se reduzem os prazos de<br />

desenvolvimento. Estimula-se que grupos de<br />

engenharia desenvolvam projetos de produtos e<br />

de processos competitivos. Ao ser contatada por<br />

um cliente potencial, a Valeo envia um check list<br />

para ser preenchido e com base nestas informações<br />

28<br />

apresenta uma proposta comercial. É uma<br />

preocupação da empresa enviar amostras e testar<br />

em parceria o novo produto, para que no futuro a<br />

linha de produção da montadora cliente não seja<br />

paralisada por qualquer erro de projeto. Esses<br />

desenvolvimentos exigiram investimentos em<br />

novos softwares e equipamentos.<br />

O quarto eixo é a Integração com os Fornecedores.<br />

Espera-se criar um clima de parceria a longo<br />

prazo com um pequeno número de fornecedores<br />

com relações estreitas e benéficas para ambas as<br />

partes. Para tanto a empresa verifica a garantia de<br />

qualidade do fornecedor e do produto, a capacidade<br />

de cumprir prazos de entrega, o preço formulado e<br />

se o mesmo possui sistema de qualidade ISO 9000<br />

e/ou QS 9000 e/ou ISO TS – Technical Specification<br />

exigido para fornecimento às montadoras. Se algum<br />

fornecedor escolhido não possuir um desses<br />

sistemas, a Valeo realiza uma auditoria com base<br />

em norma própria denominada Valeo 1000,<br />

considerando a ISO 9000 e as normas das indústrias<br />

automobilísticas como base, o que inclui alguns<br />

quesitos ambientais. Ainda no primeiro semestre<br />

deste ano a Valeo será indicada para a Certificação<br />

Sistema ISO 14001 referente à garantia de respeito<br />

ao meio-ambiente.<br />

O quinto eixo refere-se à Qualidade Total, que<br />

tem sua razão de existir em função da satisfação<br />

do cliente. Para atender às expectativas de qualidade<br />

dos produtos e dos serviços oferecidos pela Valeo,<br />

é necessária a aplicação completa e contínua dos<br />

cinco eixos. A evolução do nível de aplicação das<br />

ferramentas previstas na metodologia cinco eixos<br />

é avaliada periodicamente por meio de auditorias<br />

internas (self audit) e auditorias realizadas pela<br />

França. Tais auditorias são realizadas conforme<br />

outra norma própria denominada Valeo 5000, cujo<br />

objetivo é avaliar o nível de implementação da<br />

metodologia. As técnicas utilizadas objetivam fazer<br />

com que a organização aplique a melhoria contínua<br />

(Kaizen) em todas as áreas da empresa, tornando o<br />

sistema cada vez mais robusto e confiável. Este<br />

procedimento é realizado em todas as unidades da<br />

Valeo no mundo.<br />

Como conseqüência da introdução desse<br />

modelo de gestão, após os treinamentos e as<br />

intervenções da linha de comando, os indicadores<br />

sociais evidenciaram que uma parte dos funcionários<br />

foi demitida em função da não adaptação<br />

aos critérios exigidos pelo novo modelo. Para as<br />

pessoas remanescentes, as políticas e práticas de<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

gestão de pessoas foram modificadas. Como<br />

exemplo das mais significativas, pode-se citar<br />

aquelas referentes às contratações que passaram a<br />

privilegiar o jovem com 2º grau completo, com<br />

potencial de desenvolvimento e perfil generalista.<br />

Para cargos mais especializados e de nível superior,<br />

passaram a valorizar escolas de 1ª linha, o domínio<br />

do idioma inglês, além dos requisitos específicos<br />

do cargo. A política de remuneração contempla um<br />

plano de evolução salarial e de cargos conforme as<br />

pessoas avançam na polivalência – conseguir<br />

produzir mais de um produto – e na policompetência<br />

– que inclui, além da operação do equipamento,<br />

agregar valor realizando funções de qualidade,<br />

manutenção e organização do posto de trabalho.<br />

A empresa possui um plano de participação nos<br />

resultados, que até três anos atrás considerava os<br />

indicadores de produção para remunerar as pessoas.<br />

Atualmente os critérios são negociados com o<br />

sindicato. A linha de comando valoriza a avaliação<br />

de desempenho e o feedback às pessoas, bem como<br />

a comunicação dos novos objetivos para o período<br />

seguinte.<br />

Do ponto de vista dos indicadores econômicos,<br />

o faturamento da empresa em 2003 é aproximadamente<br />

45% superior em relação à época da<br />

compra e o número clientes atendidos mais que<br />

dobrou. A devolução de produtos por parte dos<br />

clientes medida em partes por milhão decresceu<br />

de 781 em 1999 para 168 em 2002. O refugo<br />

interno de produto acabado foi reduzido de 2962<br />

partes por milhão em 1999 para 382 em 2002.<br />

Estes indicadores evoluíram positivamente e têm<br />

garantido à empresa sua competitividade no<br />

mercado de auto-peças.<br />

ANÁLISE DOS RESULTADOS<br />

DA PESQUISA<br />

O contexto, segundo Pettigrew (1987), requer<br />

que a empresa entenda por que necessita mudar.<br />

O que os dados apresentados evidenciam<br />

notadamente para o contexto externo é que o<br />

proprietário da Univel, para manter a continuidade<br />

de seu negócio, precisaria realizar alianças com<br />

empresas internacionais para o licenciamento de<br />

marca e/ou de tecnologia. Essa atitude possibilitaria<br />

manter o nível de competitividade da empresa, e<br />

talvez não o estimularia a aceitar a oferta de compra<br />

formulada pelo grupo Valeo. Por outro lado, a Valeo,<br />

julho/dezembro-2003<br />

com presença mundial, sabia que a estratégia das<br />

montadoras era fechar negócio com aquelas<br />

fornecedoras de auto-peças dispostas a acompanhálas<br />

seja aonde for, e o Brasil na década de 1990<br />

estava recebendo a cada ano novas montadoras.<br />

O conteúdo da mudança privilegiou a filosofia<br />

da Qualidade Total aplicada indistintamente nas<br />

áreas operacionais e administrativas. Esta estratégia,<br />

de acordo com os dados descritos, teve nas pessoas<br />

seu principal alicerce para a transformação da<br />

organização.<br />

O processo de mudança se deu por meio de<br />

treinamento sobre o novo modelo de gestão,<br />

inicialmente ministrado por instrutores franceses.<br />

Observou-se que para os menores níveis<br />

hierárquicos houve necessidade que instrutores<br />

brasileiros assumissem a transmissão dos<br />

conhecimentos, em parte por causa do idioma, mas<br />

a principal causa foi a resistência observada nas<br />

pessoas em abandonar a estrutura funcional antiga<br />

e incorporar o novo modelo de trabalho em células.<br />

Outra maneira de reforçar a identificação com o<br />

novo modelo foi demonstrar à linha de comando<br />

qual era seu papel para facilitar a incorporação do<br />

comportamento esperado e que haveria<br />

monitoramento constante por parte da matriz<br />

francesa, que determinaria os indicadores a serem<br />

atingidos e periodicamente realizaria auditorias de<br />

verificação.<br />

A profundidade dessa mudança, segundo<br />

Ledford (1989), altera de forma permanente a forma<br />

de a empresa operar. Internamente alteram-se<br />

costumes e valores e externamente a forma como<br />

os clientes avaliam o atendimento às suas<br />

necessidades. Como este modelo de gestão<br />

funciona há seis anos, constata-se que a Valeo não<br />

tinha à época, e não tem no presente, intenção de<br />

descontinuá-lo, afastando o caráter de modelo<br />

temporário. A extensão da mudança introduzida na<br />

Valeo é alta, pois todas as áreas da empresa foram<br />

afetadas. A complexidade de uma mudança desta<br />

ordem também é alta, pois o tamanho da organização<br />

requer que se estabeleçam relacionamentos e<br />

vínculos contratuais dentro e fora da empresa.<br />

A abordagem que fazem Muscat & Fleury (1993)<br />

enfatiza a necessidade de a empresa eleger um<br />

rol de indicadores para acompanhar e medir seu<br />

desempenho frente aos competidores diretos. O<br />

modelo de gestão denominado de cinco eixos<br />

estabeleceu os fatores críticos que contribuiriam<br />

29


A dministração Artigo<br />

para o melhor posicionamento da Valeo no<br />

mercado de auto-peças. Quando a matriz na França<br />

define os indicadores de gestão, há um sentimento<br />

nas pessoas aqui no Brasil de que se está exigindo<br />

demais. No entanto, quando se argumenta que uma<br />

outra unidade no mundo está sendo capaz de<br />

atingir e manter o que se está pedindo, este<br />

sentimento negativo transforma-se em desafio. É<br />

comum o gestor da planta Diadema negociar metas<br />

intermediárias até que se consiga atingir o objetivo<br />

maior determinado pela matriz francesa.<br />

Pode-se constatar pelas evidências da pesquisa<br />

que se alterou na empresa a forma como os objetivos<br />

são negociados e a comunicação é praticada. Os<br />

quadros visuais de gestão introduziram o conceito<br />

da transparência e aumentaram a responsabilidade<br />

das pessoas sobre os processos que executam, além<br />

de proporcionar a ampliação da aprendizagem<br />

individual e coletiva. Este modelo de gestão pode<br />

causar nas pessoas excessiva pressão e medo e<br />

prejudicar o comprometimento com os interesses<br />

do cliente.<br />

Do que se pode observar, a primeira condição<br />

existe, principalmente quanto à cobrança intensa por<br />

ausência de falhas e discussão constante dos<br />

problemas que aparecem. No entanto, quanto ao<br />

segundo fator, não se pode na atualidade dimensionar<br />

e avaliar se as pessoas o encaram desta forma.<br />

O que os dados indicam é que na época da compra<br />

da empresa Univel, apesar de a Valeo declarar que<br />

aproveitaria todos os funcionários, o medo prevaleceu<br />

em função do receio de não se adaptarem as<br />

novas regras. Como pode-se constatar, os novos<br />

equipamentos e softwares de automatização de<br />

processos introduzidos pela empresa, aliados à não<br />

adaptação de algumas pessoas ao novo modelo de<br />

gestão, acabou provocando a redução do quadro de<br />

funcionários. A retroalimentação quanto à estabilidade<br />

e a garantia de bom funcionamento do modelo<br />

de gestão se fez por meio das auditorias periódicas<br />

de qualidade realizadas por especialistas da França.<br />

Além de assegurarem o perfeito funcionamento do<br />

modelo, esses especialistas transferem conhecimento<br />

e experiências de outras unidades da Valeo<br />

no mundo quando visitam as unidades brasileiras.<br />

A introdução deste modelo de gestão alicerçouse,<br />

segundo Rodrigues et al. (1999), em gestores<br />

que aprenderam os padrões de trabalho existentes<br />

em economias estáveis, incorporando símbolos e<br />

padrões globais, típicos de uma empresa de classe<br />

30<br />

mundial que compete em diferentes continentes.<br />

No entanto, para que as idéias originais fossem<br />

incorporadas pelas pessoas e os conflitos minimizados,<br />

o estilo da liderança revestiu-se de um<br />

caráter menos mandatório e mais participativo.<br />

Despersonalizou-se a autoridade e o formalismo no<br />

relacionamento e criaram-se alguns mecanismos<br />

simbólicos para a facilitação e a aceitação da<br />

hierarquia e das idéias, tais como: todos os executivos<br />

utilizariam capas brancas como um sobretudo,<br />

tornando igualitária a vestimenta entre eles;<br />

também foi eliminado o título dos cargos nos<br />

crachás e um intenso programa de reuniões e<br />

feedback foi introduzido para que a nova filosofia<br />

obtivesse a adesão das pessoas.<br />

Outro trabalho da linha de comando e que se<br />

observou na Valeo, segundo Lerner (1996), foi obter<br />

os resultados por meio da cooperação entre as<br />

pessoas, selecionando a melhor configuração de<br />

estrutura organizacional, estratégias e tecnologia.<br />

Um exemplo que evidencia esta situação é a<br />

devolução de um produto por parte do cliente. O<br />

produto fica exposto em quadros visuais de gestão<br />

e todos sabem quantas reuniões já ocorreram para<br />

tratar desse assunto, quais as pessoas envolvidas, a<br />

técnica de análise de problemas aplicada e o que<br />

será necessário para prevenir futuras ocorrências.<br />

Portanto, é requisitado comportamento humano e<br />

das equipes para ajudar a organização a evitar<br />

turbulências em seu processo de produção e na<br />

assistência ao cliente, considerando que se possui a<br />

melhor tecnologia, matéria-prima e configuração<br />

organizacional. Uma outra evidência de que a<br />

estrutura organizacional está voltada para proporcionar<br />

estabilidade no sistema e obter melhores<br />

resultados com baixo conflito interno e externo é<br />

observado no trabalho desenvolvido pela área de<br />

logística, que atua junto aos fornecedores, áreas<br />

internas e clientes, permitindo o fluxo contínuo das<br />

informações e o menor desperdício na movimentação<br />

de materiais, produtos em processo e acabados.<br />

O processo de movimentação de pessoas<br />

presente no modelo de Dutra (2002) evidencia-se<br />

por dois fatos observados na Valeo. O primeiro deles<br />

indica as exigências que a empresa faz para captar<br />

pessoas no mercado de trabalho. Esse procedimento<br />

se alinha com a necessidade de se ter pessoas com<br />

características de proatividade e de um perfil<br />

generalista. O critério de se privilegiar a escolaridade<br />

e o potencial das pessoas na contratação, aumenta<br />

a flexibilidade na prática da rotatividade entre os<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

postos de trabalho. O segundo fato observado<br />

refere-se à atuação das áreas de Recursos Humanos<br />

e Qualidade, proporcionando a internalização do<br />

modelo de gestão dos cinco eixos e a integração<br />

do novo funcionário tanto nos aspectos técnicos<br />

como nos sociais.<br />

No processo de desenvolvimento de pessoas a<br />

capacitação ocorre principalmente em atividades<br />

junto aos postos de trabalho. São reuniões de<br />

solução de problemas, aconselhamentos da linha<br />

de comando e palestras de qualidade que sustentam<br />

o modelo cinco eixos. O desempenho é discutido<br />

formalmente por meio de um instrumento de<br />

avaliação anual. Pelos relatos obtidos junto à direção<br />

da fábrica, as lideranças são preparadas para<br />

conduzir a reunião de discussão do desempenho e<br />

negociar os objetivos futuros. No entanto, tais<br />

encontros acabam não se limitando ao campo<br />

racional/formal e pequenos conflitos existentes<br />

anteriormente vêm à tona. A empresa estimula para<br />

que eventuais desentendimentos pessoais sejam<br />

discutidos e eliminados.<br />

As pessoas são valorizadas quanto a sua remuneração<br />

exclusivamente quando avançam no<br />

domínio de novas competências e habilidades. Não<br />

se observou a premiação de pessoas que apresentam<br />

desempenhos excepcionais, e mesmo o plano<br />

de participação nos resultados existente desvinculou-se<br />

das metas operacionais, transformandose<br />

em um plano de participação nos lucros<br />

mediante negociação com o sindicato.<br />

julho/dezembro-2003<br />

CONCLUSÃO<br />

Ao iniciarmos este artigo, tínhamos como proposta<br />

central da pesquisa estudar as modificações<br />

introduzidas no modelo de gestão de uma indústria<br />

de auto-peças nacional que, há seis anos, teve o<br />

controle de seu capital transferido para uma<br />

multinacional francesa. Integrou ainda a proposta<br />

do pesquisador, apresentar o processo de mudança<br />

ocorrido para a implantação do novo modelo e<br />

se ele poderia ser caracterizado como participativo.<br />

Quando se apresentaram as características do<br />

modelo de gestão da Plásticos Univel – empresa<br />

adquirida pela Valeo Sistemas de Segurança –<br />

constatou-se que o referido modelo estava<br />

alicerçado nas crenças pessoais do proprietário,<br />

no paternalismo e em sua facilidade de acesso às<br />

montadoras. A priori poderia se imaginar que<br />

inexistia qualquer modelo de gestão, mas se<br />

observarmos com mais cautela, constata-se ser um<br />

modelo com características empíricas e pragmáticas<br />

sem qualquer fundamento científico e/ou<br />

preocupação sistêmica com a competitividade;<br />

mesmo assim era um modelo, pois conseguia<br />

mesmo que precariamente simplificar a realidade<br />

complexa onde a empresa inseria-se e tornava o<br />

entendimento facilitado em relação ao ambiente<br />

para as pessoas que ali trabalhavam. Já o modelo<br />

de gestão implantado no Brasil pela Valeo estava<br />

alicerçado nos conceitos da TPS – Toyota Productive<br />

System, e que já havia sido comprovadamente<br />

testado em outras unidades da empresa no mundo,<br />

garantindo plena confiança no mesmo por parte da<br />

alta <strong>Adm</strong>inistração.<br />

A segunda conclusão que a análise nos permite<br />

efetuar é que se trata de uma mudança que<br />

transformou a personalidade da organização,<br />

alterando profundamente os padrões de como os<br />

processos eram executados e de como as pessoas<br />

seriam gerenciadas a partir daquele momento. Para<br />

as pessoas que permaneceram na organização, o<br />

nível de profissionalização e de capacitação técnica<br />

e interpessoal aumentou significativamente. Uma<br />

característica que possibilitou a sobrevivência das<br />

pessoas na organização e a conseqüente adaptação<br />

ao novo modelo foi suportar a pressão em sentido<br />

top-down no que se refere à busca do zero defeito<br />

e à prestação de um serviço interno/externo com<br />

qualidade total.<br />

Para a empresa, os indicadores econômicos<br />

inequivocamente apontam para o benefício direto<br />

que o modelo proporcionou. Para os clientes, o<br />

modelo transmitiu confiabilidade e a certeza de que<br />

a maioria dos processos poderia ser rastreada e as<br />

não conformidades poderiam ser evitadas ou<br />

minimizadas. Para as pessoas, embora o caráter<br />

participativo seja apregoado, evidencia-se que esta<br />

participação é relativa, pois os indicadores de<br />

gestão, ao serem estabelecidos pela matriz francesa<br />

em sua maioria, carregam consigo uma preocupação<br />

em assegurar ao Conselho de <strong>Adm</strong>inistração da<br />

empresa que a estratégia esteja sendo bem<br />

executada, tal como se prevê em um bom manual<br />

de governança corporativa. A liberdade que as<br />

pessoas possuem para alterá-los é mínima, ficando<br />

a negociação restrita aos níveis hierárquicos<br />

superiores e que habitualmente fornecem<br />

explicações à França por eventuais impossibilidades<br />

31


A dministração Artigo<br />

de cumprimento de metas. Os níveis intermediários<br />

negociam questões táticas e operacionais,<br />

relacionadas à maneira como as equipes se<br />

organizarão para atender aos indicadores<br />

estabelecidos a priori.<br />

Uma outra conclusão do estudo evidencia que<br />

neste modelo de gestão a comunicação é utilizada<br />

em larga escala, seja em forma verbal ou visual;<br />

por conta dessa ação comunicativa intensa podese<br />

dizer que o modelo de gestão tem traços<br />

participativos com características consultivas,<br />

porém não se pode afirmar que o mesmo seja<br />

democrático em formato stricto sensu, porque na<br />

sua aplicação apresenta alguns paradoxos. Dois<br />

exemplos evidenciam o que se está afirmando: ao<br />

mesmo tempo que um operador ou um gerente<br />

tem autonomia para interromper o funcionamento<br />

de um equipamento se perceber que poderá<br />

provocar não conformidades no processo produtivo,<br />

por outro lado, os funcionários são conclamados<br />

a terem duas sugestões implantadas por ano<br />

e os seus nomes ficam expostos em quadros visuais<br />

de gestão, demonstrando para todos na organização<br />

se estão perto ou longe de atingir este objetivo,<br />

querendo eles ou não.<br />

Pelo que os dados coletados demonstraram, a<br />

vantagem para as pessoas que atuam dentro de<br />

um modelo de gestão com estas características é<br />

32<br />

manterem-se atualizadas com relação aos sistemas<br />

e técnicas que a maioria das organizações de classe<br />

mundial deste e de outros setores vêm utilizando<br />

para manterem-se competitivas; isto confere às<br />

mesmas um alto índice conhecimentos e de empregabilidade.<br />

Por outro lado não foram observadas<br />

neste modelo, práticas e políticas de gestão de<br />

pessoas mais agressivas que sustentem principalmente<br />

sua valorização. O que se verifica são<br />

políticas agressivas de captação e desenvolvimento<br />

de pessoas para que as organizações<br />

mantenham-se competitivas, e que se alicerçam<br />

única e exclusivamente na sustentação de um perfil<br />

de colaborador generalista, cooperativo e flexível.<br />

Estas características pessoais possibilitarão às<br />

pessoas ampliar a capacidade de provimento de<br />

resultados às organizações em que prestam<br />

serviços, mantendo-as competitivas.<br />

Para finalizar, conclui-se que, qual for o modelo<br />

de gestão em vigor, recomenda-se que a organização<br />

tenha por objetivos com a sua utilização: 1) proporcionar<br />

confiabilidade e satisfação para os investidores,<br />

gestores e clientes; 2) valorizar a reciprocidade<br />

na gestão das pessoas, pois como vimos é<br />

cada vez maior a importância do desempenho<br />

humano e das equipes com qualidade total; 3)<br />

manter o modelo de gestão escolhido como<br />

prioritário, evitando modificá-lo, sempre que<br />

modismos passageiros o ameaçarem.<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

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33


A dministração Artigo<br />

CRESCIMENTO OU QUEDA DOS LUCROS<br />

NAS EMPRESAS: UMA QUESTÃO DE FOCO<br />

NA UTILIZAÇÃO DE METODOLOGIAS DE<br />

CUSTEIO E PROGRAMAS DE QUALIDADE<br />

34<br />

Rubens Janny Teixeira<br />

Mestre e Doutor em <strong>Adm</strong>inistração de Empresas pela USP e<br />

professor do IMES – Centro Universitário Municipal de São Caetano do Sul<br />

José Antonio Meire<br />

Aluno do Programa de Mestrado em <strong>Adm</strong>inistração do IMES – Centro<br />

Universitário Municipal de São Caetano do Sul<br />

R E S U M O ABSTRACT<br />

Este artigo apresenta os principais aspectos<br />

técnicos de gerenciamento de custos e<br />

qualidade, baseados em conceitos teóricos e na<br />

vivência dos autores sobre o tema. Procura focar<br />

as maneiras com que as empresas tratam o<br />

assunto e que ações empreendem para ensejar<br />

o crescimento dos lucros.<br />

Palavras-chave: empresas, custos, lucros.<br />

This article shows the main technical aspects<br />

involving costs, either from a theoretical or<br />

practical standpoint, drawing from the authors’<br />

own professional experience. The focus is<br />

directed to the way companies deal with the<br />

subject and the steps to take to boost profits.<br />

Keywords: companies, costs, profits.<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

julho/dezembro-2003<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Este trabalho tem por objetivo analisar e<br />

compreender como as empresas do setor automobilístico<br />

vêm gerenciando seus custos, de que<br />

forma aplicam tais análises e o que fazem para<br />

manter-se competitivas.<br />

O estudo nos parece oportuno pela fase de alta<br />

competitividade por que passam as empresas do<br />

setor no momento, quando as fronteiras geográficas<br />

desapareceram do contexto global. No âmbito<br />

brasileiro, é quase ininterrupta a chegada de novas<br />

empresas estrangeiras de todos os ramos,<br />

contribuindo para acirrar a concorrência no<br />

mercado.<br />

A competitividade, por ser implacável, torna<br />

imperioso minimizar custos e desperdícios. Há que<br />

adotar ações contínuas para monitorá-los e reduzilos.<br />

É nítida a tendência por produtos de custos<br />

menores em função das exigências dos clientes, que<br />

desejam maior valor agregado para seus produtos<br />

e serviços e um prazo de entrega adequado.<br />

Contrariamente a essa necessidade, os custos<br />

do setor apontam evolução ascendente, conforme<br />

relata Salerno et al. (2001) em sua pesquisa USP/<br />

BNDES. Vários fatores explicam essa evolução,<br />

dentre os quais o aumento do CIF (custos indiretos<br />

de fabricação) e o preço cobrado pelos fornecedores<br />

de matérias-primas e peças. O aumento dos preços<br />

de materiais e peças deve-se à desvalorização<br />

cambial e à oligopolização de boa parte do setor<br />

que supre materiais intermediários; o aumento do<br />

CIF refere-se ao incremento de atividades exigidas<br />

pelas próprias montadoras e mercado, caso da<br />

implantação de programas de qualidade (ISO 9000,<br />

VDA, TS 16.949, etc.), bem como dos custos<br />

logísticos por conta do aumento da periodicidade<br />

das entregas – lotes menores – exigência das<br />

montadoras.<br />

Melhorar é mudar;<br />

ser perfeito é<br />

mudar com freqüência.<br />

Sir Winston Churchill<br />

2 AVALIAÇÃO DE CUSTOS: TEORIAS<br />

SOBRE O TEMA<br />

Uma avaliação pouco criteriosa poderia fazer<br />

crer que reduzir custos consiste em suprimir<br />

atividades indiscriminadamente, afetando por<br />

conseqüência o valor do produto ou serviço, o que<br />

redunda, por via de regra, na fuga do cliente.<br />

Deve-se, portanto, realizar uma avaliação das<br />

atividades que não agregam valor ao produto ou<br />

serviço, custeando-as para, se possível, minimizálas<br />

ou até eliminá-las.<br />

Uma das metodologias de custos que<br />

preconizam essa relação entre as atividades é o<br />

custeio ABC (Activity-Based Costing) ou custeio<br />

baseado em atividades.<br />

Conforme Martins (2000), o custeio baseado em<br />

atividades é uma metodologia que procura reduzir<br />

sensivelmente as distorções provocadas pelo rateio<br />

arbitrário dos custos indiretos, baseando-se na<br />

alocação das despesas ou CIF e utilizando<br />

indicadores de custos (cost-drivers) que traduzem<br />

a alocação das despesas nas atividades.<br />

O elemento-chave para o sucesso da implantação<br />

dessa metodologia em uma empresa é contar<br />

com uma estrutura de pessoal que possa analisar<br />

as atividades (cost-drivers) e os custos gerados.<br />

Dependendo do porte da empresa, torna-se<br />

necessária a criação de uma estrutura à parte para<br />

tal fim.<br />

Outras metodologias podem ser utilizadas, de<br />

acordo com as necessidades das empresas. Segundo<br />

Martins (2000), entre as principais contam-se:<br />

a) RKW (Reichkuratorium für Wirtschaftlichtkeit):<br />

Metodologia criada na Alemanha, consiste em<br />

ratear os custos de produção, bem como todas<br />

as despesas – inclusive as financeiras – entre<br />

os produtos;<br />

35


A dministração Artigo<br />

b) Absorção: Consiste na apropriação de todos os<br />

custos de produção aos bens elaborados, bem<br />

como os gastos relativos ao esforço de<br />

fabricação distribuídos aos produtos;<br />

c) Custo direto ou variável: Consiste na apropriação<br />

de todos os custos variáveis, sejam diretos ou<br />

indiretos, ficando os custos fixos separados e<br />

considerados como despesas do período;<br />

d) Custo-padrão: Metodologia que preconiza o uso<br />

das melhores matérias-primas possíveis, com a<br />

utilização da mão-de-obra mais eficiente e dos<br />

100% de capacidade da empresa, sem parada<br />

alguma por qualquer que seja o motivo, exceto<br />

os programados por causa de manutenção;<br />

e) Unidade de esforço de produção (UEP): Surgido<br />

na França na época da Segunda Guerra Mundial,<br />

leva em consideração os custos de matéria-prima<br />

e as atividades administrativas, comerciais e<br />

financeiras e não exclusivamente os custos de<br />

transformação em produto (Bornia, 2002).<br />

36<br />

3 COMO AS EMPRESAS<br />

ANALISAM OS CUSTOS<br />

Grandes montadoras como Volkswagen,<br />

DaimlerChrysler e Ford (todas de São Bernardo do<br />

Campo – SP), de acordo com a experiência dos<br />

autores, mantêm um departamento de auditoria<br />

de custos para auxiliar a área de suprimentos,<br />

calculando os custos de peças e serviços<br />

comprados. Tais cálculos servem de referência para<br />

os compradores quanto à adequação dos preços<br />

solicitados pelos fornecedores.<br />

Nessa área devem atuar profissionais experientes,<br />

treinados criteriosamente para analisar<br />

custos e processos.<br />

No que tange ao custo dos itens fornecidos,<br />

detalham-se os seguintes aspectos:<br />

a) Matéria-prima: o peso líquido da peça, computadas<br />

as perdas peculiares do processo e o<br />

coeficiente de refugo;<br />

b) Mão-de-obra: o número de homens necessário<br />

para a confeccão da peça ou serviço,<br />

considerados os salários vigentes na região de<br />

instalação da empresa mais os encargos sociais;<br />

c) Custos indiretos de fabricação (CIF): despesas<br />

relativas ao desempenho dos centros de custos,<br />

entre as quais: alocação de despesas de outros<br />

centros de custos (segurança, refeitório,<br />

ambulatório e outros) e alocação de despesas<br />

do próprio centro de custo (óleo de corte,<br />

materiais de uso diário, energia elétrica, água,<br />

xerox, outros), conforme Martins (2000). No CIF,<br />

está computada a depreciação de equipamentos,<br />

ou seja, a recuperação do capital investido na<br />

compra de ativos, utilizados na confecção do<br />

produto. Outros insumos (de área, manutenção),<br />

despesas rateadas concernentes ao uso dos<br />

equipamentos para a confecção dos produtos;<br />

d) Despesas de armazenagem e movimentação:<br />

desembolsos alocados referentes ao custo de<br />

armazenagem e de movimentação na empresa<br />

(uso de empilhadeiras, veículos de transporte,<br />

etc.).<br />

Ao comparar custos, não raro surgem divergências,<br />

em especial no que tange à alocação dos<br />

custos indiretos de fabricação (CIF). Cada empresa<br />

pode adotar metodologia própria de custeio, seja<br />

o RKW, Absorção, Custeio-Padrão, ABC ou UEP<br />

(pouco freqüente entre as fornecedoras de<br />

autopeças) e alocá-los de maneira subjetiva,<br />

utilizando critérios tais como número de pessoas,<br />

valor dos salários, quantidade de equipamentos,<br />

valor dos equipamentos, dentre outros.<br />

Outra divergência comum envolve o lote<br />

econômico, origem dos custos de armazenagem.<br />

Algumas empresas realizam seus cálculos de<br />

custos utilizando critério empírico, tomando, por<br />

exemplo, o custo da matéria-prima acrescido de<br />

certo fator – geralmente a multiplicação por 3 –<br />

para fixar o preço do produto ou até do serviço.<br />

A lucratividade dessas empresas pode estar<br />

sendo excelente em certos produtos, aceitável para<br />

outros e, para alguns, pode estar baixa, desaconselhável.<br />

Não convém persistir em nenhuma das<br />

situações, uma vez que, no primeiro benchmarking<br />

realizado, seu cliente escolherá fazer negócios com<br />

a concorrência, que poderá operar com menores<br />

margens no primeiro caso. No último, a nãoremuneração<br />

do capital investido e dos insumos<br />

básicos gerará prejuízo.<br />

Outras empresas realizam o chamado dumping,<br />

prática de comercializar o produto em um valor<br />

que não remunera os custos, buscando vantagens<br />

e hegemonia no mercado a longo prazo. Alcançado<br />

o objetivo de tornar-se únicos no mercado, iniciam<br />

o processo de resgate dos lucros, aumentando os<br />

preços com altas margens de lucros, manobra<br />

evitada e prevenida pelo mercado nos tempos<br />

atuais.<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

O custo objetivo (Target Costing)<br />

Segundo Scarpin (2000), o Target Costing,<br />

método criado em 1965 pela Toyota do Japão, é<br />

um sistema de formação de lucros e custos.<br />

O fundamento do Target Costing é a integração<br />

entre os setores da empresa, a fim de tornar o custo<br />

do produto compatível com o preço do mercado.<br />

Esse sistema encoraja a utilização da engenharia<br />

simultânea de produtos e processos, bem como o<br />

da engenharia de valor, em detrimento da<br />

engenharia seqüencial. Isso proporciona uma<br />

redução no tempo de desenvolvimento, de<br />

fabricação e, conseqüentemente, dos custos.<br />

O Target Costing envolve todos os membros da<br />

cadeia de valor, como fornecedores e distribuidores<br />

de serviços, e difunde um esforço de redução de<br />

custos por meio da cadeia como um todo.<br />

A nova visão de mercado em que se apóia o<br />

Target Costing postula valores de venda<br />

preestabelecidos. Sendo assim, deve mudar o<br />

enfoque da equação de preço de venda, deixando<br />

de valer a fórmula:<br />

PREÇO = CUSTO + LUCRO<br />

Para sobreviver<br />

PREÇO – LUCRO = CUSTO<br />

Com o preço de venda preestabelecido e a<br />

margem de lucro desejada, é possível definir o<br />

custo máximo que o produto pode alcançar.<br />

Esquematicamente<br />

M<br />

C<br />

C<br />

U<br />

S<br />

T<br />

O<br />

julho/dezembro-2003<br />

P<br />

R<br />

E<br />

Ç<br />

O<br />

PREÇO = CUSTO + MC<br />

CUSTO = PREÇO – MC<br />

Por exemplo, se o preço de mercado = R$ 100 e<br />

Margem de Contribuição (MC) desejada = 40%, como<br />

definir o custo ?<br />

CUSTO = PREÇO – 0,40 x PREÇO<br />

CUSTO = 0,60 x PREÇO = 0,60 x R$ 100<br />

CUSTO = R$ 60<br />

Ou seja, para atender ao preço do mercado de<br />

R$ 100 com a margem de contribuição (MC)<br />

desejada de 40%, o custo objetivo que a empresa<br />

deve praticar para não sofrer prejuízo é de R$ 60.<br />

Para certificar-se da viabilidade dos objetivos a<br />

alcançar, adotam-se medidas de redução baseadas<br />

em instrumentos de gestão que reduzem custos,<br />

tais como EAV, CCQ, Balanced Scorecard, 6 Sigma,<br />

Break even Point (análise custo-volume-lucro ou<br />

ponto de equilíbrio), Lean Production, TPM, TQC,<br />

Kaizen, que detalharemos mais adiante.<br />

4 COMO CRIAR MAIS VALOR PARA O<br />

CLIENTE E REDUZIR OS CUSTOS<br />

Atender às necessidades dos clientes, criar<br />

valor, fornecer produtos com a qualidade desejada,<br />

ser competitivo em preços não é tarefa das mais<br />

simples. É necessário contar com o empenho de<br />

todos da empresa e, sobretudo, servir do melhor<br />

modo possível o responsável pela existência dessa<br />

mesma empresa: o cliente.<br />

Nesse sentido, relatam-se alguns instrumentos<br />

de gestão que visam, dentre outros objetivos,<br />

otimizar custos.<br />

A Engenharia e Análise do Valor (EAV), segundo<br />

Csillag (1998), é um esforço organizado cujo<br />

objetivo é analisar as funções necessárias e<br />

essenciais de maneira que representem o menor<br />

custo possível. Seu surgimento está ligado à<br />

pesquisa de novos materiais, de custo mais baixo<br />

e obtenção mais acessível, que substituíssem os<br />

materiais escassos na época devido à II Guerra<br />

Mundial. Essa ferramenta originou-se na GE dos<br />

EUA através do Eng. Lawrence D. Miles, em 1947.<br />

Os Círculos de Controle da Qualidade (CCQ),<br />

conforme Campos (1996), são grupos de pessoas<br />

que, de forma voluntária, formam-se e reúnem-se<br />

para discutir problemas relativos a diversas áreas,<br />

inclusive à de atuação de um ou mais integrantes<br />

do grupo. O maior objetivo do CCQ é desenvolver<br />

a saúde mental (motivação das pessoas).<br />

37


A dministração Artigo<br />

O CCQ vale-se de instrumentos de pesquisa e<br />

registro, tratamento e análise de dados, bem como<br />

de outros meios em busca de soluções para o<br />

problema objeto de seu estudo. Vinculados a<br />

atividades de organização, métodos, estatísticas,<br />

racionalização de atividades, otimização do uso de<br />

recursos, criatividade, etc., contam-se os<br />

Histogramas, o Diagrama de Pareto, o Diagrama de<br />

Ishikawa Seqüencial e o Diagrama de Causa e Efeito.<br />

O Balanced Scorecard é, de acordo com Kaplan<br />

(1991), uma técnica gerencial com a qual uma<br />

empresa avalia a performance a partir de quatro<br />

perspectivas: a financeira, a do cliente, a das<br />

operações internas e a das atividades para inovação<br />

e aprimoramento. O quadro equilibrado de<br />

indicadores é um sistema que ajuda a empresa a<br />

selecionar e a focar as estratégias que permitem<br />

criar valor futuro.<br />

Para pôr em prática o Balanced Scorecard, é<br />

necessário explicitar metas de prazo, qualidade e<br />

desempenho e atendimento, traduzindo-as em<br />

medidas específicas. Aplicando as medidas<br />

específicas, originar-se-á nos processos maior<br />

impacto sobre a satisfação dos clientes e nos<br />

fatores que afetam o tempo de ciclo, a qualidade,<br />

a capacitação dos colaboradores e a produtividade.<br />

O 6-Sigma, segundo Pyzdek (2003), não se<br />

ocupa da qualidade no sentido tradicional, ou seja,<br />

conformidade com as normas e requisitos técnicos.<br />

O programa redefine a qualidade como valor<br />

agregado por um esforço produtivo e procura fazer<br />

a empresa alcançar seus objetivos estratégicos.<br />

Segundo ele, o 6-Sigma consiste na utilização<br />

de um conjunto de técnicas comprovadas e na<br />

capacitação de um quadro de líderes técnicos da<br />

empresa, os black-belts, responsáveis por sua<br />

aplicação eficiente. As empresas que utilizam esse<br />

programa bem estruturado conseguem melhorar<br />

produtos e serviços e trazer vantagens de maior<br />

eficiência operacional, redução de custos, melhoria<br />

de qualidade, aumento da satisfação dos clientes<br />

e aumento da produtividade.<br />

O Break-even Point (análise custo-volume-lucro<br />

ou ponto de equilíbrio), segundo Gitman (2002),<br />

determina o nível de operações necessárias para<br />

cobrir todos os custos operacionais e avaliar a<br />

lucratividade associada a valores de níveis de<br />

vendas. O ponto de equilíbrio operacional (PE) ou<br />

Break-even Point de uma empresa é o nível de<br />

vendas necessário para cobrir todos os custos<br />

operacionais (fixos e variáveis).<br />

38<br />

PE =<br />

CF<br />

MC UNITÁRIA<br />

R = Receita CT = Custo Total<br />

CV= Custo Variável CF = Custo Fixo<br />

MC = P – CV CT = CF + CV<br />

MC = Margem de Constribuição<br />

P = Preço de Venda<br />

Lean Production<br />

As exigências do mercado obrigam à diversificação<br />

dos produtos, com qualidade assegurada,<br />

mas vida útil curta, acompanhando sempre a<br />

demanda de custos menores. Em atendimento a<br />

essas solicitações, a produção enxuta Lean, estabelecida<br />

pela Toyota, considera:<br />

a) produção em fluxo;<br />

b) tecnologias de processos e desenvolvimento<br />

altamente capazes e flexíveis;<br />

c) processos à prova de erro;<br />

d) organização por famílias de produtos de clientes<br />

e fornecedores.<br />

Womack e Jones (1998) citam como exemplo a<br />

Porsche, que utilizou esse instrumento com o<br />

objetivo de reverter uma situação de perdas de<br />

vendas e lucros. O problema da empresa estava nos<br />

custos: caros demais para o comprador da década<br />

de 1990. O Presidente da empresa estabeleceu um<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

modelo de competitividade real, causada pela busca<br />

da eficácia das operações, ao identificar o que é<br />

desperdício pela ótica do cliente.<br />

O objetivo fundamental consiste na entrega de<br />

valor ao consumidor por meio de processos que<br />

eliminem desperdícios desde o projeto até a chegada<br />

ao cliente. Consideram-se os insumos que não<br />

agregam valor, associados ao movimento, transporte,<br />

estoque, espera, por excesso de produção e em<br />

atividades desnecessárias – retrabalho, procura de<br />

defeitos, contagem de peças, acompanhamento do<br />

funcionamento das máquinas, contagem de estoque,<br />

longos transportes, superprodução.<br />

Os autores enfatizam cinco passos fundamentais<br />

que traduzem o pensamento enxuto:<br />

a) definição de valor pelo cliente, avaliando o que<br />

o cliente valoriza com referência a preço,<br />

qualidade, confiabilidade;<br />

b) identificação da cadeia de valor: ações específicas<br />

necessárias para avaliar os passos e processos<br />

pelos quais o produto ou serviço é submetido;<br />

c) criação de um fluxo de valor, identificando-o com<br />

precisão, mapeando toda a cadeia, reconhecendo<br />

as etapas que geram desperdício, eliminando-as<br />

e, contrariamente àqueles que agregam valor,<br />

que fluam;<br />

d) realização de uma produção puxada, atendendo<br />

aos desejos do consumidor. O Takt-time é usado<br />

nessa fase, sincronizando o ritmo de produção<br />

com o de vendas;<br />

tempo de operação<br />

Takt-time: quantidade exigida pelo cliente<br />

e) após a identificação da cadeia de valor como um<br />

todo, propiciar a criação de valor e sua fluência,<br />

permitindo aos clientes puxar o valor da<br />

empresa, gerando um processo adequado.<br />

TPM (Total Productive Maintenance)<br />

Conforme Mirshawka e Olmedo (1994), a Total<br />

Productive Maintenance ou Manutenção Produtiva<br />

Total busca melhor desempenho do equipamento<br />

e, em conseqüência, o aumento substancial da<br />

produtividade industrial, com redução de custos.<br />

julho/dezembro-2003<br />

A TPM surgiu no Japão há décadas, nos EUA em<br />

1987 e, logo em seguida, foi introduzida no Brasil<br />

a partir de diversas visitas do mentor da técnica, o<br />

Dr. Seiichi Nakajima.<br />

Essa técnica é um programa de manutenção que<br />

envolve todos os funcionários da empresa, desde<br />

a alta administração até a linha de produção.<br />

Dentre os objetivos da TPM, destacam-se:<br />

1) garantir a eficiência global das instalações, devendo<br />

operar em sincronia com os custos planejados e<br />

obter resultados de qualidade;<br />

2) instalar um programa que funcione de acordo com<br />

as mudanças no desempenho do equipamento,<br />

decorrentes de uso e tempo de vida;<br />

3) obter o apoio de todos os setores envolvidos no<br />

plano de elevação da capacidade instalada, garantindo<br />

cooperação dos departamentos, reduzindo<br />

os níveis de estoque, exigências de treinamento<br />

e tempos de fabricação;<br />

4) utilizar as potencialidades dos funcionários de<br />

todos os níveis, a fim de contribuir para a melhoria<br />

do processo de fabricação;<br />

5) desenvolver equipes consolidadas para a melhoria<br />

contínua, constituídas por operadores, pessoal da<br />

manutenção e, inclusive, gerentes.<br />

TQC (Total Quality Control)<br />

De acordo com Werkema (1995), o Controle de<br />

Qualidade Total, ou TQC (Total Quality Control), é<br />

um sistema gerencial baseado na participação de<br />

todos os setores e funcionários da empresa, no<br />

estudo e na condução do controle da Qualidade.<br />

Segundo Werkema, apud Campos (1992), um<br />

produto ou serviço de qualidade é o que atende<br />

aos requisitos de confiabilidade, acessibilidade e<br />

segurança, bem como às necessidades do cliente.<br />

Os componentes da qualidade total são:<br />

a) qualidade – envolve a ausência de defeitos e a<br />

presença de características que satisfaçam o<br />

consumidor: qualidade do pessoal, da informação,<br />

do treinamento, entre outros;<br />

b) custo – diz respeito ao custo operacional para a<br />

fabricação do bem ou serviço e envolve diversos<br />

outros itens, tais como custos de compras, de<br />

vendas, de produção, de treinamento;<br />

c) entrega – deve acontecer na quantidade, data e<br />

local planejados pelo cliente;<br />

39


A dministração Artigo<br />

d) moral – componente medido pelo nível de<br />

satisfação dos funcionários que trabalham na<br />

empresa;<br />

e) segurança – refere-se às condições de segurança<br />

dos funcionários e dos usuários do produto. Os<br />

produtos não podem provocar acidentes de<br />

trabalho na empresa nem, muito menos, nos<br />

usuários;<br />

f) processo – combinação de elementos tais como<br />

equipamentos, insumos, métodos ou procedimentos,<br />

condições ambientais, pessoas,<br />

informações do processo ou medidas, visando à<br />

fabricação de bem ou fornecimento de um serviço.<br />

40<br />

Kaizen<br />

Conforme Michelazzo (2003), o Kaizen é uma<br />

técnica de melhoria contínua de processos,<br />

desenvolvida pela Toyota, com vista a obter um<br />

produto ou serviço com custo mais baixo possível.<br />

A técnica basicamente constitui-se das seguintes<br />

etapas:<br />

1) observar e vistoriar o processo atual;<br />

2) mapear o processo atual, listando cada passo,<br />

definindo valor agregado versus nenhum valor<br />

agregado. Se necessário, utilizar o Diagrama de<br />

Ishikawa ou o Diagrama de Causa e Efeito;<br />

3) esquematizar o processo atual e o conteúdo do<br />

trabalho;<br />

BORNIA, A. C. Análise gerencial de custos. Aplicação<br />

em empresas modernas. Porto Alegre: Bookman, 2002.<br />

CAMPOS, V. F. Gerenciamento pelas diretrizes. Belo<br />

Horizonte: QFCO, 1996.<br />

CSILLAG, J. M. Análise de valor e metodologia do<br />

valor. São Paulo: Atlas, 1998.<br />

GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira.<br />

São Paulo: Harbra, 2002.<br />

KAPLAN, R. S. Organização orientada para a<br />

estratégia. São Paulo: Campus, 1991.<br />

MARTINS, E. Contabilidade de custos. 7. ed. São Paulo:<br />

Atlas, 2000.<br />

MICHELAZZO, L. A. Kaizen na Delphi. Simples idéias.<br />

Milhões de dólares. Revista AutoData. out. 2003.<br />

ano 12. n.170.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

4) estabelecer os objetivos a atingir;<br />

5) realizar o processo de levantamento de idéias<br />

brainstorming;<br />

6) implementar o novo processo rapidamente,<br />

mapeando, fiscalizando e utilizando o fluxograma.<br />

Cumpre observar o takt-time, identificando pontos<br />

fracos e implementando melhorias.<br />

5 CONCLUSÕES<br />

Tão-somente reduzir custos, utilizando este ou<br />

aquele instrumento ou metodologia, ou então<br />

reduzir tempos operacionais com mudanças de<br />

processos não é suficiente. É necessário avaliar em<br />

um contexto mais amplo, buscando não apenas<br />

reduzir os custos, mas avaliar o que o cliente está<br />

valorizando e, sobretudo, analisar se a empresa<br />

atinge resultados favoráveis com os custos e<br />

margens praticados.<br />

Ao implementar mudanças na empresa, cumpre<br />

observar alguns pontos que favorecem a redução<br />

de custos:<br />

a) qualificação dos funcionários e gestores para<br />

atender às mudanças;<br />

b) conscientização de todos quanto à necessidade<br />

de mudanças;<br />

c) mensuração dos resultados antes e depois das<br />

mudanças;<br />

d) motivação dos envolvidos para alcançar<br />

resultados melhores, partilhando os benefícios.<br />

MIRSHAWKA, V. e OLMEDO, N. L. TPM à moda<br />

brasileira. São Paulo: Sugestões Literárias, 1994.<br />

PYZDEK, T. 6 Sigma a um passo da perfeição. Revista HSM<br />

Management, n. 38, ano 7 maio/jun. 2003. p. 63–70.<br />

SALERNO, M. S. et al. Pesquisa desenvolvida junto ao<br />

BNDES. O mapeamento da nova configuração da<br />

cadeia automotiva brasileira. Disponível em http//<br />

www.poli.usp/br/pro/cadeiaautoma. São Paulo: 2001.<br />

SCARPIN, J. E. Target-Costing e sua utilização como<br />

mecanismo de formação de preços para novos<br />

produtos. Dissertação de Mestrado, Londrina, 2000.<br />

WERKEMA, M. C. C. As ferramentas da qualidade no<br />

gerenciamento de processos. Belo Horizonte: DGE, 1995.<br />

WOMACK, J. P. e JONES, D. A mentalidade enxuta nas<br />

empresas. Elimine o desperdício e crie riqueza.<br />

Apêndice especial por Ferro, José Roberto. Rio de Janeiro:<br />

Campus, 1998.<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

E-BRAND – UM ESTUDO SOBRE A MARCA<br />

NO COMÉRCIO ELETRÔNICO<br />

julho/dezembro-2003<br />

Sandra Pires de Almeida<br />

Mestre em <strong>Adm</strong>inistração de Empresas,<br />

Pós-Graduada em <strong>Adm</strong>inistração de Marketing com extensões universitárias no RlT/EUA,<br />

publicitária e professora universitária da ESAMC/ESPM E UNIP.<br />

Denis Donaire<br />

Doutor e Livre Docente em <strong>Adm</strong>inistração no IMES, UNICID, UNIP.<br />

O comércio eletrônico é uma realidade no mundo<br />

globalizado e mobiliza a empresa a observar o<br />

modo como usa a atribuição da sua marca na<br />

internet. Surge o conceito de e-brand – marca eletrônica<br />

– gestão da marca no comércio eletrônico<br />

e as ações estratégicas para padronizar, regularizar<br />

e gerenciar o uso da marca na internet e<br />

no site da empresa.<br />

R E S U M O<br />

Palavras-chave: comércio eletrônico, e-brand,<br />

marca, valor, marketing on-line.<br />

41


A dministração Artigo<br />

A tecnologia está provocando mudanças<br />

significativas na natureza da concorrência,<br />

causando mudanças significativas no modo de<br />

vender produtos e serviços, além das mudanças<br />

possíveis no modo de criar comunicação e relacionamento<br />

de uma empresa com seus consumidores.<br />

Neste cenário de mudanças entra em questão o<br />

valor e a gestão da marca aplicados ao comércio<br />

eletrônico.<br />

O comércio eletrônico é um tópico de estudo<br />

multidisciplinar, obrigatório na moderna gestão<br />

estratégica de negócios, de grande importância<br />

para gestores e executivos de qualquer área funcional<br />

do mundo empresarial. Quando bem usado e<br />

gerenciado, torna-se o maior aliado da empresa<br />

na competição global; quando mal usado, no<br />

contexto estratégico, torna-se o maior inimigo dos<br />

executivos de marketing.<br />

As empresas que se defrontam com as mudanças<br />

tecnológicas encontram-se na transição para<br />

considerar os reais benefícios estratégicos que a<br />

dinâmica do comércio eletrônico oferece. Segundo<br />

Albertin (2000), a tecnologia da informação, base<br />

operacional do comércio eletrônico, apresenta<br />

contribuições classificadas por categorias, dentre<br />

elas o relacionamento, novos canais de venda, novas<br />

oportunidades de negócios e economia direta.<br />

As empresas se comunicam com seus clientes<br />

por meio de várias mídias. Por muitos anos, as<br />

tecnologias vêm alterando profundamente a visão<br />

tradicional de mídia de marketing, compra e venda.<br />

Os ambientes intermediados por computadores<br />

permitem uma outra maneira de atingir os<br />

consumidores, e incentivam compradores e<br />

vendedores a incrementar sua utilização, por<br />

possibilitar:<br />

• melhora na comunicação com seus clientes;<br />

• mais eficiência nas relações de vendas com<br />

clientes;<br />

• mais atratividade em seus mercados.<br />

Para Kotler (2000) a grande vantagem de<br />

divulgar produtos ou serviços na internet provém<br />

de variáveis como conveniência, informação e<br />

maior comodidade para o usuário. Para as<br />

empresas, a internet como meio de divulgação<br />

proporciona rapidez no ajuste às condições do<br />

mercado, custos mais baixos e construção de<br />

relacionamento com a marca, este último<br />

praticamente impossível de ser feito em outros<br />

meios de divulgação.<br />

42<br />

As aplicações do comércio eletrônico são várias:<br />

marketing direto, bancos on-line, e-government,<br />

e-marketplaces, trocas B2B, leilões, viagens,<br />

publicações on-line, serviços diversos, pesquisa de<br />

mercado, propaganda e promoções, ações institucionais,<br />

publicidade, atendimento on-line. Para as<br />

empresas multinacionais, o comércio eletrônico<br />

permite a administração dos negócios globais, a<br />

comunicação policêntrica entre a matriz e suas<br />

filiais e também a troca de cultura e conhecimento<br />

entre os funcionários de outros países.<br />

De acordo com Turban & King (2004), a<br />

abrangência do comércio eletrônico depende da<br />

relação de cinco áreas estratégicas: pessoas<br />

(vendedores, compradores, intermediários,<br />

colaboradores, parceiros, funcionários e outros);<br />

política pública (leis e regulamentações específicas<br />

determinadas pelo governo); protocolos e padrões<br />

técnicos (comunicação, pagamentos e cobranças,<br />

trâmite de dinheiro on-line, segurança de dados,<br />

privacidade); parceiros de negócios (parcerias<br />

comerciais de diversos tipos); serviços de apoio<br />

(pesquisa de mercado, propaganda, relacionamento,<br />

feed back, conteúdo, suporte on-line, banco de<br />

dados, sistema de informações em marketing).<br />

Todas estas áreas gerenciadas e integradas<br />

produzem expansão comercial para a empresa,<br />

fidelidade de parceiros e clientes, e aumentam a<br />

abrangência global da marca na internet.<br />

Os autores apresentam as vantagens do<br />

comércio eletrônico, dentre elas a redução nos<br />

custos de transações. Um banco gasta 1,08 dólar<br />

para efetuar uma simples transação numa agência,<br />

ao passo que na web a mesma transação custa entre<br />

0,02 e 0,10 dólar. Comentam ainda os benefícios<br />

do comércio eletrônico para a sociedade em que<br />

existe melhoria no padrão de vida e na oferta de<br />

serviços públicos.<br />

O comércio eletrônico permite a personalização<br />

de produtos e serviços. As empresas recémchegadas<br />

podem estabelecer imagens corporativas<br />

rapidamente; as empresas mais tradicionais usam<br />

a atuação na web para afirmar ainda mais sua<br />

identidade corporativa e sua imagem de marca.<br />

A marca sempre foi considerada uma chave para<br />

o sucesso do varejo. De acordo com Turban & King<br />

(2004), diz-se que os consumidores estão mais<br />

dispostos a adquirir produtos com forte reconhecimento<br />

de marca. A lição que se aprende com as<br />

histórias de sucesso é que a maioria dos clientes,<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

especialmente os fiéis e duradouros, chega ao site<br />

a partir de links afiliados, dispositivos de busca ou<br />

recomendações pessoais gerados pela lembrança<br />

da marca.<br />

Gerenciar o negócio a partir de uma plataforma<br />

eletrônica é o maior dos desafios da administração<br />

e do marketing. Simultaneamente, o site de uma<br />

empresa é acessado por milhões de pessoas no<br />

mundo que são consumidores, usuários ou<br />

simplesmente formadores de opinião na própria<br />

rede. Ao entrar no site de uma empresa, o usuário<br />

procura bens, serviços ou apenas informação. E<br />

embora muito negligenciada pelos gestores de<br />

negócios, a informação disponibilizada no site<br />

reflete a cultura da empresa, seus objetivos, sua<br />

conduta em relação ao consumidor e o modo como<br />

disponibiliza as informações para o público que<br />

deseja atingir.<br />

No mundo global e competitivo, o site é uma<br />

poderosa ferramenta de relacionamento com os<br />

clientes, principalmente se for considerado que a<br />

decisão de navegação é exclusiva do usuário.<br />

Quando um site de uma empresa tem a preferência<br />

do usuário significa que esta encontra-se em<br />

vantagem competitiva frente à concorrência.<br />

De acordo com Zaccarelli (2000), a vantagem<br />

competitiva por ter a preferência dos clientes referese<br />

ao fato de o produto ter a primazia dos clientes<br />

sobre os produtos das empresas concorrentes nas<br />

condições de mercado. É possível analisar esta<br />

definição no contexto do comércio eletrônico uma<br />

vez que a busca por informações sobre produtos<br />

farmacêuticos e medicamentos na internet tornouse<br />

uma pesquisa comum em populações de área<br />

urbana e classe média.<br />

A grande maioria dos sites das empresas é<br />

gerenciada exclusivamente pelo tópico tecnológico,<br />

cujo responsável é um profissional de<br />

informática. É possível observar esta característica<br />

analisando-se a formatação do texto e das várias<br />

clicadas necessárias para se chegar ao que<br />

realmente importa, provocando longas esperas<br />

para acessar conteúdos desnecessários. De acordo<br />

com o estudo da London Business School<br />

(Hammond, 2002) dentre as maiores barreiras<br />

capazes de atrapalhar a adoção do comércio<br />

eletrônico ou a navegação estão: “O consumidor<br />

acha difícil utilizar a interface” – 45%; e “A interface<br />

do site para o consumidor não está desenvolvida<br />

o suficiente” – 76%.<br />

julho/dezembro-2003<br />

No passado, é de conhecimento do mundo<br />

acadêmico e também do mundo empresarial que o<br />

site era visitado por qualquer tipo de usuário, pois<br />

a internet ainda estava em um processo exploratório.<br />

Em função das várias mudanças ocorridas, principalmente<br />

na forma de construir sites e também no<br />

modo como as pessoas tornaram-se mais seletivas<br />

no ato da navegação, os sites atraem públicos-alvo<br />

específicos, e que no mundo empresarial tornamse<br />

um valor importante para a persuasão e as ações<br />

de marketing em relação à marca de uma empresa,<br />

produto ou serviço.<br />

Uma marca bem posicionada e bem divulgada<br />

é uma vantagem competitiva sustentável a ponto<br />

de gerar tanto valor ao consumidor que outras<br />

empresas não conseguem imitar. A marca é o maior<br />

patrimônio de uma empresa e está diretamente<br />

relacionada à sua imagem corporativa. Seu uso<br />

como componente do marketing é um fenômeno<br />

recente do final do século XX. Uma marca protege<br />

o fabricante de fraudes e imitações e é mais<br />

lembrada pelo consumidor quando oferece um<br />

valor perceptível. A somatória dos sentimentos e<br />

percepções que tornam uma marca única é o que<br />

se denomina brand equity – união da marca aos<br />

seus consumidores.<br />

Uma marca é um nome diferenciado destinado<br />

a identificar os bens ou serviços de um vendedor<br />

e a diferenciar esses bens e serviços dos concorrentes.<br />

Aaker (1998) define que uma marca sinaliza<br />

ao consumidor a origem do produto e protege<br />

tanto o consumidor quanto o fabricante dos<br />

concorrentes que oferecem produtos que pareçam<br />

idênticos. Associações únicas de marcas estabeleceram-se<br />

por meio de atributos de produtos,<br />

nomes, embalagens, estratégias de distribuição e<br />

propaganda. Para muitos negócios, o nome da marca<br />

e o que ela representa são o seu mais importante<br />

ativo. A marca torna-se a base de sua vantagem<br />

competitiva, de ganhos futuros e participação em<br />

mercado.<br />

A estratégia de marca na visão de Aaker (2000)<br />

deve ser influenciada pela estratégia de negócio e<br />

refletir a mesma visão estratégica e a mesma<br />

cultura corporativa. Além disso, a identidade da<br />

marca não deve prometer o que a estratégia não<br />

pode ou não deseja oferecer. O desafio de manter<br />

uma marca presente no mercado diante da pressão<br />

da concorrência é permitir flexibilidade suficiente<br />

para ter sucesso em mercados diversos e<br />

administrar as extensões de marcas.<br />

43


A dministração Artigo<br />

De acordo com o autor, o novo modelo de gestão<br />

de marca se expande de uma única marca para<br />

uma categoria de produtos. A meta é fazer com<br />

que as marcas de uma determinada categoria ou<br />

unidade de negócios trabalhem em conjunto para<br />

oferecer o impacto mais coletivo e maximizar a<br />

eficácia de marketing.<br />

Cada marca ativamente gerenciada necessita de<br />

uma identidade visual, uma visão de como a marca<br />

deve ser percebida pelo seu público-alvo. O seu<br />

correto posicionamento pode auxiliar a identidade<br />

da marca por meio dos objetivos de comunicação.<br />

Se sua identidade for confusa, maiores são as<br />

chances de insucessos na construção eficaz dessa<br />

marca e no relacionamento com o consumidor.<br />

Aaker (2000) define que a comunicação é<br />

necessária para realizar a identidade da marca. A<br />

chave da maioria das marcas fortes é a execução<br />

brilhante que rompe o lugar-comum, oferece<br />

impulso à marca e cria um impacto cumulativo ao<br />

longo do tempo. O desafio é ser notado, lembrado<br />

e mudar percepções.<br />

No que compete à gestão da marca no comércio<br />

eletrônico, surge o conceito de e-brand – marca<br />

eletrônica – e as ações estratégicas para<br />

padronizar, regularizar e gerenciar o uso da marca<br />

na internet.<br />

A marca na internet é como um sinalizador: diz<br />

ao usuário que durante a navegação ele não estará<br />

sozinho e quando posicionada estrategicamente no<br />

site, mais propriamente na célula de abertura ou nas<br />

telas de núcleo, funciona como um imponente cartão<br />

de entrada para uma excepcional experiência<br />

de navegação. Entretanto, quando a gestão de<br />

criação do site é limitada à tecnologia, a marca é um<br />

pequeno elemento posicionado nos primeiros frames<br />

de abertura e se perde ao longo de toda a navegação.<br />

Na estratégia de e-brand, a marca é um componente<br />

de criação do comércio eletrônico. E um ícone<br />

tão importante quanto qualquer outro tópico de<br />

navegação ou isca (isca é o nome dado aos<br />

elementos de criação para web criados para atrair a<br />

navegação do usuário por todo o site evitando a<br />

desconexão).<br />

As maiores perdas são registradas em sites<br />

nacionais em cuja criação predomina a tecnologia.<br />

Nos sites de empresas multinacionais, nota-se<br />

grande diferença da atribuição da marca da<br />

empresa ao comparar o site da matriz no país<br />

doméstico e nas filiais dos países anfitriões. Há<br />

diferenças marcantes na direção de arte, na<br />

estrutura de navegação e na estética web em<br />

relação ao conteúdo, figuras e serviços. Ou seja,<br />

não existe um padrão.<br />

44<br />

Ao optar por uma ação estratégica na web<br />

oferecendo informação, conhecimento, serviços ou<br />

presença corporativa, a empresa deve contar com<br />

a ação do gestor de marketing para supervisionar<br />

o atributo da marca no site e em toda a navegação<br />

e sua padronização em relação ao aspecto global<br />

da empresa.<br />

Montar um site com o objetivo de comércio<br />

eletrônico visa reproduzir as etapas pelas quais um<br />

usuário passa no processo de reunir informações<br />

para a decisão de compra, de modo confiável e<br />

flexível. O site deve reagir à mudança do mundo<br />

global e acompanhar a comunicação externa da<br />

marca nas diversas formas de divulgação como, por<br />

exemplo, a propaganda.<br />

Atualmente as empresas concorrem com<br />

dezenas de milhares de sites e precisam de mais<br />

do que uma simples divulgação da marca para<br />

marcar presença no mundo virtual. Griffth (2000)<br />

apresenta o caso da Clinique, marca de cosméticos<br />

da Estèe Lauder que ficou surpresa ao descobrir<br />

em uma pesquisa feita pela internet que 80%<br />

das pessoas que entravam em seu site corporativo<br />

prefeririam comprar os produtos on-line.<br />

Imediatamente a Clinique abriu sua loja virtual.<br />

Para o comércio eletrônico, fatores intangíveis<br />

como reconhecimento e lealdade à marca são<br />

importantes.<br />

Esta lealdade à marca, tão importante para o<br />

sucesso de uma empresa, direciona ao estudo do<br />

valor. No marketing voltado para o valor, existe a<br />

orientação para se alcançar objetivos desenvolvendo<br />

valor superior para os consumidores (Churchill&<br />

Peter, 2001). O valor para o consumidor está na<br />

diferença entre as percepções quanto aos benefícios<br />

e quanto aos custos da compra e uso de produtos e<br />

serviços. Ao atribuir o valor ao comércio eletrônico<br />

e a gestão da marca na web, o consumidor espera<br />

ter benefícios superiores aos encontrados na<br />

concorrência.<br />

Existem vários instrumentos de análise utilizados<br />

pelos profissionais de web, que foram desenvolvidos<br />

ao longo de experiências profissionais de mercado<br />

juntamente com a observação aleatória das respostas<br />

de navegação de usuários, e que podem ser<br />

usados por executivos e fornecedores de criação. A<br />

função é analisar o site de comércio eletrônico de<br />

modo que melhore seu desempenho como instrumento<br />

de comunicação e negócios, e principalmente<br />

analisar a atribuição da marca no comércio eletrônico.<br />

Alguns aspectos que podem ser considerados<br />

são:<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

Tópico Nº SIM NÃO<br />

Padrão mínimo de aparições da marca em toda a navegação 15 a 20<br />

Presença da Marca na célula de abertura do site X<br />

Identidade Visual do site adequada com a Marca e a<br />

Comunicação Institucional<br />

X<br />

Presença da Marca no rodapé do site ou em ações de slogan X<br />

Presença da Marca na estrutura de diagramação com barra<br />

de rolagem<br />

X<br />

Identidade visual unificada de sites de empresas globais<br />

(matriz e filiais em outros países)<br />

X<br />

Links para opção de línguas em sites multinacionais X<br />

Navegação permite comércio eletrônico X<br />

Navegação institucional usa iscas X<br />

Dados de endereço e telefones facilmente localizáveis X<br />

Padrão máximo de telas abertas por tópico de navegação/ícone 2 a 3<br />

Opção visível da volta à célula de abertura do site presente<br />

em toda a navegação<br />

X<br />

Esses parâmetros descritos numa tabela simples<br />

em breves tópicos para entendimento disponibilizam<br />

um instrumento que pode vir a ser usado<br />

para análise de sites e as respectivas marcas de<br />

suas empresas.<br />

Com base nesta proposta e utilizando-se esses<br />

parâmetros, foi realizado um estudo referente à<br />

indústria farmacêutica, mais especificamente nos<br />

sites dos laboratórios, com o objetivo de analisar a<br />

atribuição da marcs no site e a funcionalidade dos<br />

mesmos. Levou-se em consideração que a indústria<br />

farmacêutica é um segmento produtivo que<br />

propõe mais a comunicação institucional com o<br />

consumidor final por meio do site, e que mantém<br />

a relação de divulgação de produtos juntamente<br />

com seu público intermediário, os médicos. Embora<br />

a indústria farmacêutica seja um segmento com<br />

vários stakeholders, o laboratório farmacêutico<br />

é a principal empresa da cadeia produtiva de<br />

medicamentos.<br />

O estudo teve como fundamentação metodológica<br />

a análise de 100 sites de laboratórios farmacêuticos<br />

selecionados por método de sorteio não<br />

probabilístico e análise exclusiva on-line por visita<br />

múltipla ao endereço eletrônico (URL) no período<br />

julho/dezembro-2003<br />

de setembro/03 a janeiro/04. No Brasil existem<br />

305 laboratórios farmacêuticos entre nacionais e<br />

multinacionais (Abifarma, 2004). Nos últimos cinco<br />

anos registraram-se várias fusões e incorporações<br />

de empresas internacionais do setor<br />

gerando a junção de marcas existentes ou criando<br />

outras novas no Brasil.<br />

Na análise dos 100 sites, aplicando-se os<br />

parâmetros do instrumento, 65 sites são de<br />

empresas multinacionais e que sofreram, direta ou<br />

indiretamente, as transformações de ações globais<br />

dos negócios por meio de fusões, acarretando a<br />

incorporação das respectivas marcas ou gerando<br />

outra nova. O restante da amostra selecionada, 35<br />

sites, pertencem a laboratórios nacionais.<br />

O estudo permitiu analisar que a gestão da<br />

marca na internet de empresas multinacionais no<br />

setor é um parâmetro pouco explorado, porque<br />

ela aparece poucas vezes ao longo da navegação<br />

no site. O resultado demonstrou que em 62% dos<br />

casos o site brasileiro da filial não mantém aspectos<br />

básicos de identidade visual da marca em relação<br />

ao site da empresa matriz no país doméstico. A<br />

marca é gerenciada na navegação com ferramentas<br />

de rolagem em 38% dos sites da amostra e o<br />

45


A dministração Artigo<br />

parâmetro de aparições da marca é inferior a 10<br />

vezes em 82% dos sites dos laboratórios da amostra<br />

total.<br />

Os dados de endereço e telefone do laboratório<br />

são facilmente identificáveis em 43% da amostra.<br />

Voltar à célula de núcleo ou à tela de abertura do<br />

site ainda é um problema na maioria dos sites da<br />

amostra: somente em 42% foi possível identificar<br />

facilmente os dados em poucas clicadas.<br />

Existem construções de navegação em que,<br />

dependendo do modo como o site foi concebido, a<br />

abertura da tela inicial demora a carregar e isso<br />

dificulta muito a navegação por parte do usuário.<br />

Outro dado importante é que as estatísticas de<br />

navegação dos sites da amostra revelaram a<br />

constante busca por informações de medicamentos,<br />

tratamentos e dados de doenças como itens mais<br />

visitados (mais clicados), porém são os tópicos que<br />

encontram-se em células de difícil navegação ou<br />

de mais de 4 parâmetros de quebra (exemplo:<br />

http://serviços/especialidademedica/doença/<br />

tratamento/prevenções).<br />

Em 39% dos sites da amostra foi possível<br />

identificar a linha de produtos produzidos ou pelo<br />

menos o segmento médico a que o laboratório se<br />

dedica. Em 57% dos sites a comunicação com o<br />

usuário não é estabelecida claramente: nos ícones<br />

de “contato” a maioria pede ao usuário que preencha<br />

um formulário sem identificar para qual departamento<br />

ou área a informação solicitada será encami-<br />

AAKER, D. A. Marcas, Brand Equity. 5. ed. São Paulo:<br />

Negócio, 1998.<br />

________. Como Construir Marcas. São Paulo: Futura, 2000.<br />

ABIFARMA. Associação Brasileira da Indústria<br />

Farmacêutica. São Paulo: 2004.<br />

ALBERTIN, A. Comércio eletrônico São Paulo: Atlas, 2000.<br />

CHURCHILL & PETER. Marketing criando valor para os<br />

clientes. São Paulo: Saraiva, 2001.<br />

GRIFFTH, V. Sua marca na internet. Revista HSM jul./<br />

ago. 2000, p. 100-106.<br />

46<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

nhada. No caso dos laboratórios multinacionais, no<br />

site da matriz do país doméstico o contato é feito<br />

via outlook (topo e e-mail de recepção identificáveis,<br />

tudo pronto bastando o usuário escrever a<br />

informação solicitada).<br />

Existem sites em que a marca aparece na<br />

estrutura de navegação com a presença de barra<br />

de rolagem em 18% da amostra e cujo instrumento<br />

de análise descreve como uma ação NÃO aplicável,<br />

assim como também NÃO é recomendável que a<br />

marca esteja no rodapé do site ou em ações de<br />

slogan.<br />

Estes parâmetros, se ajustados, podem ajudar a<br />

empresa a otimizar os resultados de comunicação,<br />

navegação e funcionalidade do site e assim<br />

aproximar a marca do consumidor. Na gestão da<br />

marca na internet é necessário unir esforços de<br />

tecnologia, marketing, administração e comunicação<br />

para fazer da presença on-line algo marcante<br />

e de valor ao usuário em qualquer local do mundo.<br />

O estudo permitiu observar de modo genérico<br />

que a gestão da marca na internet – e-brand – ainda<br />

é um tópico de estudo pouco desenvolvido por<br />

parte dos laboratórios em relação aos parâmetros<br />

relacionados no instrumento utilizado para a<br />

análise. Acredita-se que, com o resultado, estas<br />

empresas possam observar pequenos detalhes de<br />

comunicação e gestão da marca principalmente na<br />

ação global e assim melhorar o desempenho de<br />

seus respectivos sites na Internet.<br />

HAMMOND, K. O comércio eletrônico até 2010. HSM<br />

Management. n. 32, maio/jun. 2002, p. 38-46.<br />

KOTLER, P. <strong>Adm</strong>inistração de Marketing. São Paulo:<br />

Prentice Hall, 2000.<br />

TURBAN, E. & KING, D. Comércio eletrônico. São Paulo:<br />

Prentice Hall, 2004.<br />

ZACCARELLI, S. B. Estratégia e sucesso nas empresas.<br />

São Paulo: Saraiva, 2000.<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

A PERCEPÇÃO DE ALUNOS<br />

UNIVERSITÁRIOS EM RELAÇÃO<br />

A SEU CURSO. ESTUDO DE CASO:<br />

ADMINISTRAÇÃO DA UFMG<br />

julho/dezembro-2003<br />

R E S U M O ABSTRACT<br />

Neste artigo avalia-se o Curso de <strong>Adm</strong>inistração<br />

da UFMG, comparando um levantamento feito<br />

em 2003 com outro realizado em 2002,<br />

envolvendo, cada um deles, 245 alunos. O<br />

respectivo questionário contém nove perguntas<br />

(cinco qualitativas e quatro quantitativas). No<br />

caso das perguntas qualitativas, tabelas-resumo<br />

são apresentadas, contendo informações muito<br />

significativas. As quantitativas podem ser assim<br />

resumidas: Curso medíocre (69,8 pontos em<br />

2003, e 67,7 em 2002) e professores ruins (63,2<br />

e 60,8). Já a auto-avaliação dos alunos foi mais<br />

generosa: colegas (73,0 e 71,1 pontos) e pessoal<br />

(73,6 e 74,7).<br />

Comprova-se que os alunos são muito críticos<br />

em relação ao Curso e aos professores, mas não<br />

tanto com eles próprios. É necessário que se<br />

conscientizem de que são parte do co-governo<br />

universitário, que é o único meio para melhorar<br />

as instituições de ensino superior. Recomendase<br />

elaborar um Plano de Melhoria do Curso,<br />

alicerçado nos princípios e nas técnicas da Gestão<br />

da Qualidade Total dos processos educativos.<br />

Palavras-chave: avaliação discente, engajamento,<br />

co-governo.<br />

José A. Bonilla<br />

Departamento de Ciências <strong>Adm</strong>inistrativas (FACE/UFMG)<br />

In this article the Course of <strong>Adm</strong>inistration of the<br />

Federal University of Minas Gerais (UFMG) is<br />

evaluated, comparing a survey performed in 2002<br />

with another one accomplished in 2002 – each one<br />

of them envolving 245 students. The survey<br />

questionnaire contains nine questions (five<br />

qualitative and four quantitative). In the case of the<br />

qualitative questions, summary-tables, comprising<br />

very significant information, are presented in the<br />

study. The answers to the quantitative questions<br />

can be condensed in the following form: Mediocre<br />

course (69,8 points em 2003, and 67,7 em 2002);<br />

Bad teachers (63,2 e 60,8 respectively). The students<br />

self-evaluation was more generous: Classmates<br />

evaluation (73,0 e 71,1 points) and Personal<br />

evaluation (73,6 and 74,7).<br />

Based on those resuls one can verify that students<br />

are very critical in relation to the course and to<br />

the teachers, but not so much in regard their own<br />

evaluations. It is necessary that the students<br />

become aware that they take part of the academic<br />

co-government, which is the only way to improve<br />

the higher education institutions. Therefore, the<br />

formulation of a Course Improvements Plan –<br />

designated to consolidate the tenets and<br />

techniques Total Quality Management into the<br />

educational processe – is highly recommended.<br />

Keywords: students self-evaluation, engagement,<br />

co-government.<br />

47


A dministração Artigo<br />

48<br />

1 INTRODUÇÃO / JUSTIFICATIVA<br />

Durante uma década, o responsável pelo Projeto<br />

(Bonilla, 1993; Bonilla e Brandão, 1994; Bonilla e<br />

Lopes, 1995, 1998; Bonilla e Teixeira, 2002) tem<br />

estudado a percepção que os alunos de Graduação<br />

de <strong>Adm</strong>inistração da UFMG têm do Curso e do<br />

futuro da sociedade humana. Anteriormente<br />

(Bonilla, 1987), foi estudada a qualidade científica<br />

holística das Dissertações de Mestrado e,<br />

posteriormente (Bonilla, 2002), foi discutida a<br />

percepção dos alunos acerca da dimensão<br />

espiritual nos Cursos de Mestrado e Doutorado de<br />

<strong>Adm</strong>inistração da UFMG. Também foram feitas<br />

propostas sobre o Balanço Social da Universidade<br />

(Bonilla, 1991) e sobre a criação do Laboratório<br />

das Novas Idéias (Bonilla, 1995).<br />

Portanto, fica documentada uma linha de<br />

pesquisa relacionada com as percepções e os<br />

resultados obtidos pelos alunos de <strong>Adm</strong>inistração<br />

em vários níveis acadêmicos (Mestrado, Doutorado,<br />

e especialmente Graduação).<br />

Vive-se um período de transformação, onde, num<br />

futuro imediato, a palavra-chave será transparência,<br />

inserida em nosso linguajar pelo Prêmio Nobel<br />

Gorbatchev, por meio de sua proposta de glasnost.<br />

Para enfrentarmos as mudanças que esses novos<br />

tempos trazem em seu bojo, de modo transparente,<br />

é necessária uma evolução mais acelerada da<br />

consciência humana.<br />

Nesse marco referencial, a Educação tem que<br />

se adaptar às novas exigências, nas quais se inclui<br />

a mencionada transparência. Isso implica que o<br />

professor deve abandonar definitivamente os<br />

métodos autoritários, mas, ao mesmo tempo, é<br />

preciso que os alunos adotem comportamentos<br />

congruentes com sua condição de cidadãos e,<br />

especialmente, de beneficiários diretos da corrente<br />

de conhecimentos acumulados durante longos<br />

séculos, e às vezes durante milênios. No caso particular<br />

dos alunos das universidades públicas,<br />

acrescenta-se o vital fato de que toda a sociedade<br />

está financiando seus estudos, e portanto, este privilégio<br />

precisa ser manifesto na forma da responsabilidade<br />

pessoal e social e da autodisciplina.<br />

Trata-se, pois, de desenvolver uma convergência<br />

de natureza holística: para que o ensino, em<br />

particular o ministrado pelas universidades públicas,<br />

melhore com a rapidez necessária, é mister que as<br />

duas forças fundamentais envolvidas no processo<br />

educativo (professores e alunos) conscientizem-se<br />

de que cada um deve colocar seu “grão de areia” na<br />

construção de uma sociedade melhor, cuja<br />

argamassa fundamental é a própria educação.<br />

Com relação a esta abordagem, o estudo será<br />

centrado na procura de descobrir o que pensam os<br />

estudantes de Graduação acerca do Curso que estão<br />

fazendo, já que eles terão, dentro de pouco tempo,<br />

uma dupla responsabilidade: agir como cidadãos<br />

conscientes e como profissionais formados graças<br />

aos esforços da comunidade. Ou seja, espera-se<br />

deles que sejam agentes de transformação da nova<br />

sociedade que se avizinha, por meio de sua<br />

formação cívica e técnico-científica e não apenas<br />

clones manipulados pelo poder econômico.<br />

2 OBJETIVOS<br />

• Detectar como uma amostra representativa do<br />

universo de alunos do Curso de <strong>Adm</strong>inistração<br />

da UFMG se posiciona em relação a diferentes<br />

aspectos que o desenvolvimento de seu próprio<br />

Curso implica.<br />

• Elaborar uma análise global dos resultados<br />

obtidos nesta pesquisa (2003) e uma anterior<br />

(Bonilla e Teixeira, 2002), procurando determinar<br />

as concordâncias entre ambas, assim como<br />

possíveis alterações.<br />

3 REVISÃO DE LITERATURA<br />

No mundo atual, onde o conhecimento passou<br />

a ser um fator social, econômico e político de valor<br />

fundamental, estudos que avaliem o que acontece<br />

com o ensino nas Instituições de Ensino Superior<br />

– IES, especialmente levando em conta a opinião<br />

dos alunos, passam a ter uma importância decisiva.<br />

Bonilla (1993), Bonilla e Brandão (1994), Bonilla<br />

e Lopes (1995) levantaram opiniões de alunos de<br />

Graduação em <strong>Adm</strong>inistração da UFMG, acerca de<br />

sua visão sobre a relação deles com a sociedade<br />

humana em geral, e organizacional em particular.<br />

Alguns resultados que valem a pena registrar são<br />

os seguintes:<br />

• O fator mais importante da crise que nos assola<br />

(âmbito nacional e mundial) seria o social, mas<br />

também é reconhecida a importância dos fatores<br />

conceituais; já os tecnológicos são classificados<br />

como de pouca importância;<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

• Aproximadamente um terço dos alunos têm uma<br />

visão cartesiana do mundo;<br />

• Por volta de 60% dos alunos foram críticos em<br />

relação ao julgamento de sua própria geração,<br />

referindo-se à priorização explícita dos valores<br />

materiais;<br />

• A idéia principal para contribuir à melhoria da<br />

realidade organizacional, para 80% dos<br />

entrevistados, é a consideração dos aspectos<br />

humanos dentro das empresas. Os aspectos<br />

ambientais e operacionais mostraram ser<br />

completamente secundários.<br />

Bonilla e Lopes (1998) realizaram um trabalho<br />

nos moldes do atual projeto de pesquisa. Os<br />

principais resultados obtidos foram:<br />

• Os motivos mais importantes para estarem<br />

fazendo um Curso Superior são: desenvolvimento,<br />

realização e/ou crescimento pessoal e<br />

profissional (57%);<br />

• Em relação aos motivos para estarem fazendo<br />

<strong>Adm</strong>inistração, não sobressai nenhum motivo<br />

especial, tendo todos uma freqüência menor de<br />

20%;<br />

• Dentro dos aspectos favoráveis do Curso<br />

sobressai: “dar uma visão de outras áreas de<br />

conhecimento” (24%). Os restantes motivos estão<br />

muito dispersos com freqüências inferiores a<br />

10%;<br />

• Dentro dos aspectos desfavoráveis, o principal<br />

deve-se aos professores (mais de 60%),<br />

especialmente nos itens “falta de compromisso”,<br />

“despreparo” e “excesso de teoria”;<br />

• Pertinente às idéias para melhorar o Curso, as<br />

três mais freqüentes foram: “melhorar a didática<br />

dos professores”, “aumentar intercâmbio com<br />

as empresas” e “melhorar os recursos didáticos”;<br />

Em relação às perguntas objetivas, os resultados<br />

foram:<br />

Classificação do Curso ........................ 68,7 pontos<br />

Classificação dos Professores ............ 60,6 pontos<br />

Classificação dos Alunos .................... 62,4 pontos<br />

Classificação de si mesmo .................. 69,5 pontos<br />

A variabilidade das respostas é relativamente<br />

alta (Coeficiente de variação: 17 a 25%).<br />

julho/dezembro-2003<br />

O responsável pelo Projeto tem feito algumas<br />

propostas, de alguma forma relacionadas com a<br />

presente pesquisa, especialmente:<br />

• Bonilla (1991) sugere que a Universidade adote<br />

o Balanço Social como mecanismo de autoavaliação,<br />

considerando esta e seus parceiros<br />

sociais como o tecido de um ecossistema.<br />

Também é apresentado um modelo básico de<br />

Balanço Social para Universidades;<br />

• Bonilla (1995) propõe a criação de Laboratórios<br />

de Novas Idéias, onde a interação universidadeempresa-sociedade<br />

seja trabalhada, visando à<br />

mudança de paradigma, de modo que os futuros<br />

egressos possam ser verdadeiros agentes de<br />

transformação social.<br />

Outros trabalhos interessantes sobre o tema são<br />

os seguintes:<br />

• Pena (1995) compara opiniões dos alunos da<br />

PUC e da UFMG em relação a seus professores.<br />

Os resultados são altamente positivos e<br />

similares: conhecimento da disciplina (95-96%),<br />

interesse pela disciplina: (95%), relação entre<br />

formação e atividade (85-86%).<br />

• Motta (1996) também estuda a imagem institucional<br />

do Curso de <strong>Adm</strong>inistração da UFMG,<br />

concluindo que:<br />

• 40% discordam que a UFMG contribua efetivamente<br />

para a melhoria da qualidade de vida<br />

dos cidadãos;<br />

• 41% discordam que a UFMG possua excelência<br />

em termos de ensino;<br />

• 47% discordam da idéia de que a UFMG<br />

cumpre, de forma satisfatória, seu papel de<br />

passar a universalidade do conhecimento.<br />

O fato é que estamos numa época de mudanças:<br />

• Se não viver no futuro hoje, viverá no passado<br />

amanhã (Peter Ellyard);<br />

• Nenhum exército pode resistir à força de uma<br />

idéia cujo tempo chegou (Vitor Hugo).<br />

• Dryden e Vos (1996) afirmam: os maiores avanços<br />

do ser humano vieram de respostas inteiramente<br />

novas, vieram do desafio do status-quo, não de<br />

sua aceitação.<br />

Finalmente, deve-se dizer que é fundamental<br />

lembrar uma recomendação da Conferência<br />

Mundial da Unesco (1998) que afirma:<br />

49


A dministração Artigo<br />

“A Educação Superior deve empreender a<br />

transformação e a renovação mais radicais que<br />

jamais tenham enfrentado, de forma que a<br />

sociedade contemporânea, que vive atualmente uma<br />

crise profunda de valores, possa transcender suas<br />

considerações meramente econômicas e assuma<br />

dimensões éticas e espirituais mais arraigadas.”<br />

Para isso, precisamos começar levantando as<br />

correspondentes informações. Esse é propósito<br />

fundamental desta pesquisa.<br />

4.1 Amostragem<br />

50<br />

4 METODOLOGIA<br />

Foi utilizada uma amostra aleatória, representativa<br />

dos alunos de <strong>Adm</strong>inistração da UFMG<br />

(totalizando 245 discentes no ano 2002 e número<br />

igual em 2003), incluindo tanto o turno diurno<br />

como o noturno.<br />

4.2 Abordagem metodológica<br />

A pesquisa foi realizada por meio de um<br />

questionário envolvendo nove perguntas, cinco<br />

qualitativas e quatro quantitativas, a saber:<br />

TABELA 1<br />

Qualitativas:<br />

1. Quais são os motivos para você estar fazendo<br />

um Superior?<br />

2. Quais são os motivos que o levaram a estudar<br />

<strong>Adm</strong>inistração?<br />

3. Quais são os aspectos favoráveis do Curso?<br />

4. Quais são os aspectos desfavoráveis do Curso?<br />

5. Contribua com três idéias para melhorar o Curso.<br />

Quantitativas:<br />

6. Com que nota você classificaria o Curso?<br />

7. Com que nota você classificaria os professores?<br />

8. Com que nota você classificaria os alunos?<br />

9. Com que nota você classificaria a si próprio?<br />

5 RESULTADOS<br />

A seguir, serão apresentadas tabelas, uma para<br />

cada pergunta, contendo as respectivas freqüências<br />

absolutas e relativas. Esses resultados são<br />

comparados aos obtidos em Bonilla e Teixeira<br />

(2003). O número de alunos amostrados foi de 245<br />

em 2002 e igual número em 2003.<br />

5.1 Perguntas qualitativas<br />

QUAIS SÃO OS MOTIVOS QUE O LEVARIAM A FAZER O CURSO SUPERIOR?<br />

PRINCIPAIS MOTIVOS IDENTIFICADOS<br />

Freqüências<br />

Absolutas (%)<br />

2002 2003<br />

Freqüências<br />

Relativas (%)<br />

2002 2003<br />

1. Desenvolvimento e/ou realização profissional 154 151 29,6 24,1<br />

2. Possibilidade de ganhos financeiros 113 129 21,7 20,6<br />

3. Desenvolvimento e/ou realização intelectual 92 117 17,7 18,7<br />

4. Crescimento pessoal 71 82 13,6 13,1<br />

5. Influência familiar 00 38 — 6,0<br />

6. Status 29 23 5,6 3,7<br />

7. Outros 61 86 11,8 13,7<br />

TOTAL 520 626 100,0 100,0<br />

Média de resposta por aluno 2,12 2,55 — —<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

Em função dos resultados obtidos, houve ampla<br />

concordância entre ambas as amostras, pelo que<br />

o número de alunos entrevistados (490 num total<br />

de aproximadamente 1000) dá uma forte chancela<br />

àqueles.<br />

Destacam-se nitidamente, representando quase<br />

45% das freqüências relativas, os motivos “Desenvolvimento<br />

e/ou realização profissional” e “possibilidade<br />

de ganhos financeiros”. Em terceiro lugar,<br />

julho/dezembro-2003<br />

TABELA 2<br />

QUAIS OS MOTIVOS PARA ESTAR FAZENDO O CURSO DE ADMINISTRAÇÃO?<br />

PRINCIPAIS MOTIVOS IDENTIFICADOS<br />

Freqüências<br />

Absolutas (%)<br />

2002 2003<br />

Freqüências<br />

Relativas (%)<br />

2002 2003<br />

1. Gosta ou se identifica com a área 136 142 27,0 22,5<br />

2. Há bom mercado de trabalho 81 99 16,1 15,7<br />

3. Ter conhecimento sobre diversas áreas 53 102 10,5 16,2<br />

4. Interesse em áreas específicas da administração 40 18 7,9 2,2<br />

5. Desenvolvimento e crescimento pessoal 39 29 7,7 4,6<br />

6. Visão empreendedora 34 31 6,7 4,9<br />

7. Não gosta de outras áreas / indecisão 31 42 6,2 6,7<br />

8. Motivação familiar 28 34 5,5 5,4<br />

9. Facilidade do Curso 00 47 00 7,4<br />

10. Outros 62 86 12,4 13,8<br />

TOTAL 504 630 100,0 100,0<br />

Média de resposta por aluno 2,06 2,47 — —<br />

Na Tabela 2 se mostram os três motivos<br />

principais: “gosta ou se identifica com a área”, “há<br />

um bom mercado de trabalho” e “ter conhecimento<br />

sobre diversas áreas” (que cresceu muito em 2003).<br />

Esses motivos representam 53-54% das freqüências.<br />

apresentou-se o “desenvolvimento e/ou realização<br />

intelectual”, com quase 20% das freqüências. Por<br />

sua vez o peso do “status” caiu um pouco, aparecendo<br />

um novo motivo em 2003 com certa<br />

importância; trata-se da “influência familiar” (6,0%).<br />

A média de respostas para a pergunta aumentou<br />

consideravelmente, passando de 2,12 para<br />

2,55 respostas por aluno (eram pedidas três).<br />

Os outros motivos se mantiveram em patamares<br />

próximos em ambos os anos; entretanto, em 2003<br />

surgiu um novo motivo com a razoável freqüência<br />

de 7,4%. Trata-se da “facilidade do Curso”. É um<br />

motivo que não deixa de ser preocupante.<br />

51


A dministração Artigo<br />

52<br />

TABELA 3<br />

QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS ASPECTOS FAVORÁVEIS DO CURSO?<br />

PRINCIPAIS MOTIVOS IDENTIFICADOS<br />

Na Tabela 3, dois motivos sobressaem. Eles são:<br />

“o Curso fornece visão abrangente” e “bom nível<br />

dos professores” (*), representando ambos mais<br />

ou menos 30% das freqüências.<br />

Neste item algumas diferenças importantes<br />

ocorreram de ano para ano, principalmente as<br />

seguintes:<br />

• Bom programa curricular caiu de 7,1% para 2,8%.<br />

Freqüências<br />

Absolutas (%)<br />

2002 2003<br />

Freqüências<br />

Relativas (%)<br />

2002 2003<br />

1. Fornece visão abrangente 107 129 19,0 21,5<br />

2. Bom nível dos professores (alguns) 55 67 9,8 11,2<br />

3. Bom programa curricular 40 18 7,1 3,0<br />

4. Amplas opções de emprego 39 41 6,9 6,8<br />

5. Imagem da UFMG 35 70 6,2 11,7<br />

6. Dá uma visão crítica da realidade 32 15 5,7 2,5<br />

7. Conhecer outros alunos, criativos e capazes 26 36 4,6 6,0<br />

8. Desenvolvimento pessoal 24 15 4,3 2,5<br />

9. Excelência do curso 14 37 2,5 6,2<br />

10. É gratuito / É fácil 10 56 1,8 9,3<br />

11. Prepara para trabalhar nas empresas 00 — — —<br />

12. Outros 169 116 20,0 19,3<br />

TOTAL 564 600 100,0 100,0<br />

Média de respostas por aluno 2,30 2,45 — —<br />

• A imagem da UFMG foi muito mais reconhecida<br />

em 2003 (11,0%), em relação a 2002 (6,2%).<br />

• Por outro lado, o motivo ser “gratuito, fácil” teve<br />

um significativo crescimento (de 1,8% a 8,8%).<br />

• O número de respostas por aluno aumentou<br />

levemente em 2003 (2,45 contra 2,30 em 2002).<br />

(*) Mas é feita a ressalva de que só se trata de<br />

alguns.<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

julho/dezembro-2003<br />

TABELA 4<br />

QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS ASPECTOS DESFAVORÁVEIS DO CURSO?<br />

PRINCIPAIS MOTIVOS IDENTIFICADOS<br />

Freqüências<br />

Absolutas (%)<br />

2002 2003<br />

Freqüências<br />

Relativas (%)<br />

2002 2003<br />

1. Despreparo de alguns professores 104 114 17,4 19,2<br />

2. Falta de atualização do currículo 75 93 12,5 15,6<br />

3. Falta de compromisso dos professores 65 52 10,8 8,7<br />

4. Excesso de teoria/pouca prática 57 83 9,5 13,9<br />

5. Amplo demais / Não permite aprofundar conteúdo 37 26 6,2 4,4<br />

6. Falta de maior intercâmbio escola/empresa 28 20 4,7 3,4<br />

7. Metodologia de ensino ultrapassada 26 15 4,3 2,5<br />

8. Infra-estrutura inadequada 18 37 3,0 6,2<br />

9. Localização inadequada 12 20 2,0 3,4<br />

10. Os Professores Doutores não lecionam 00 24 2,0 4,0<br />

11. Falta de compromisso/motivação dos alunos 10 16 1,7 2,7<br />

12. Outros 155 95 25,9 16<br />

TOTAL 599 595 100,0 100,0<br />

Média de respostas por aluno 2,45 2,44 — —<br />

O “despreparo de alguns professores”, a “falta<br />

de atualização do currículo”, a “falta de compromisso<br />

dos professores” e o “excesso de teoria e<br />

pouca prática”, lideraram em ambos os anos os<br />

aspectos desfavoráveis do Curso, representando<br />

50,2 em 2002 e aumentando para <strong>58</strong>,1% em 2003.<br />

Os outros motivos ficaram bem distantes dos<br />

anteriores, especialmente o relativo a “falta de<br />

compromisso e de motivação dos alunos”, com<br />

freqüências bem baixas, da ordem de 2%.<br />

A média de respostas por aluno foi praticamente<br />

igual em ambos os anos (2,45 e 2,44).<br />

53


A dministração Artigo<br />

54<br />

TABELA 5<br />

“CONTRIBUA COM 03 IDÉIAS PARA MELHORAR O CURSO”<br />

PRINCIPAIS IDÉIAS IDENTIFICADAS<br />

Freqüências<br />

Absolutas (%)<br />

2002 2003<br />

Freqüências<br />

Relativas (%)<br />

2002 2003<br />

1. Dar mais atenção às reclamações dos alunos 83 07 16,6 1,1<br />

2. Melhorar a didática dos professores 79 29 15,8 4,4<br />

3. Maior interação entre teoria e prática 45 74 9,0 11,3<br />

4. Aumentar intercâmbio com empresas 38 52 7,6 8,0<br />

5. Melhorar capacitação dos professores (não efetivos) 34 139 6,8 21,3<br />

6. Melhorar infra-estrutura física 30 33 6,0 5,0<br />

7. Melhorar metodologia 30 15 6,0 2,3<br />

8. Maior compromisso dos professores 17 16 3,4 2,5<br />

9. Criação disciplinar empreendedorismo 12 16 2,4 2,5<br />

10. Reestruturar currículo 00 140 0,0 21,4<br />

11. Outros 133 133 26,4 20,3<br />

TOTAL 501 654 100,0 100,0<br />

Média de respostas por aluno 2,04 2,67 — —<br />

À diferença das anteriores, na Tabela 5 aparecem<br />

importantes oscilações de ano para ano.<br />

Com efeito, as propostas de “dar mais atenção<br />

às reclamações dos alunos” e mesmo “melhorar a<br />

didática dos professores” teve queda importante em<br />

2003 (5,6%) contra 32,4 em 2002, onde foram as<br />

duas idéias principais apresentadas pelos alunos.<br />

Surgiram com muita força em 2003 duas novas<br />

propostas: “reestruturar currículo” (21,6%) e “melhorar<br />

capacitação dos professores (não efetivos)” (21,5%).<br />

O resto das idéias propostas não mostrou muita<br />

variação.<br />

O número de contribuições por aluno aumentou<br />

muito em 2003 (2,67) contra 2,04 em 2002.<br />

Os resultados obtidos nas respostas qualitativas<br />

podem ser assim resumidos:<br />

• Pergunta 1. Em relação aos motivos que levam<br />

os alunos a fazer um Curso Superior, há ampla<br />

concordância entre as respostas de 2002 e<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

2003, confirmando a consolidação dos motivos<br />

“realização profissional” e “ganhos financeiros”.<br />

Na pesquisa feita por Bonilla e Lopes (1998), o<br />

motivo principal foi “desenvolvimento e/ou<br />

realização intelectual”. Esse resultado poderia<br />

ser explicado por uma crescente pressão do<br />

mercado, onde o crescimento pessoal e a<br />

realização intelectual perdem um terreno<br />

significativo para as preocupações meramente<br />

econômicas.<br />

• Pergunta 2. No tocante aos motivos para<br />

estudar <strong>Adm</strong>inistração, há ampla concordância,<br />

sendo os três principais: “identificação com a<br />

área”, “mercado de trabalho” e “conhecimento<br />

sobre diversas áreas” totalizando mais de 50%<br />

das respostas. Entretanto, o motivo “desenvolvimento<br />

e crescimento pessoal” está em baixa.<br />

Por outro lado, surgiu um novo motivo em 2003:<br />

“facilidade do Curso” em 2003; esse motivo é<br />

altamente preocupante.<br />

• Pergunta 3. O principal aspecto favorável do<br />

Curso é “fornecer visão abrangente”, atingindo<br />

por volta de 20% das respostas em ambos anos.<br />

O resto dos motivos apresenta freqüências<br />

baixas, nunca superiores a 11%. Destacam-se pela<br />

sua mudança freqüencial – dois motivos:<br />

“imagem da UFMG” aumentou de 6 a 11%; e a<br />

“facilidade (e gratuidade)” do Curso pulou de<br />

menos de 2% para quase 9%. Se compararmos<br />

com a pesquisa de Bonilla e Lopes (1998),<br />

percebe-se que estão em amplo declínio aspectos<br />

tais como “excelência do Curso” e “Curso em<br />

constante atualização”.<br />

• Pergunta 4. Há bastante concordância entre os<br />

anos 2002 e 2003 no tocante aos aspectos<br />

desfavoráveis do Curso. Eles são: “despreparo de<br />

julho/dezembro-2003<br />

TABELA 6<br />

alguns professores”, “falta de atualização do curriculum”,<br />

“falta de compromisso dos professores”,<br />

“excesso de teoria e pouca prática” que representam<br />

mais de 50% da insatisfação dos alunos. É<br />

interessante salientar que quase 98% desses<br />

aspectos desfavoráveis são atribuídos aos professores<br />

(com crítica especial para professores não<br />

efetivos, ou seja, substitutos, mestrandos e doutorandos),<br />

e só uns 2% à “falta de compromisso e<br />

motivação” dos alunos. É esse um assunto que<br />

precisará de um maior aprofundamento (Ver item<br />

6. Discussão).<br />

• Pergunta 5. À diferença das perguntas anteriores,<br />

no relativo às propostas para melhorar o Curso<br />

houve algumas mudanças significativas de ano<br />

para ano, caindo significativamente em 2003 “dar<br />

mais atenção às reclamações dos alunos” e<br />

“melhorar didática dos professores” (que eram<br />

as principais propostas de 2002, totalizando mais<br />

de 30% das freqüências).<br />

Em 2003 apareceram como propostas principais:<br />

“reestruturar currículo” e “melhorar a capacitação de<br />

professores não efetivos”, com 43% das freqüências.<br />

“Maior interação entre teoria e prática” e “aumentar<br />

intercâmbio entre empresas” se mantiveram em<br />

patamar próximo a 20%.<br />

O número de respostas aumentou consideravelmente,<br />

passando de 501 a 647, mas como já<br />

aconteceu em Bonilla e Lopes (1998), não houve<br />

nenhuma proposta em relação a “maior compromisso<br />

e participação dos alunos”. Essa informação<br />

é muito significativa e será retomada na Discussão<br />

(item 6).<br />

5.2 Perguntas quantitativas<br />

CORRESPONDENTE À MÉDIA E DISPERSÃO DAS PERGUNTAS 6, 7, 8 E 9<br />

Pergunta 6: Como classificaria o Curso?<br />

MÉDIA D.P. CV (%) MÉDIA<br />

2002 2003 2002 2003 2002 2003 2002-2003<br />

67,7 69,8 14,5 13,4 21,3 19,2 68,7<br />

Pergunta 7: Como classificaria os professores?<br />

MÉDIA D.P. CV (%) MÉDIA<br />

2002 2003 2002 2003 2002 2003 2002-2003<br />

60,8 63,2 14,1 15,4 23,2 24,2 62,0<br />

55


A dministração Artigo<br />

Pergunta 8: Como classificaria os alunos?<br />

56<br />

MÉDIA D.P. CV (%) MÉDIA<br />

2002 2003 2002 2003 2002 2003 2002-2003<br />

71,1 73,0 15,9 15,8 22,3 21,6 72,0<br />

Pergunta 9: Como se classificaria como aluno?<br />

MÉDIA D.P. CV (%) MÉDIA<br />

2002 2003 2002 2003 2002 2003 2002-2003<br />

74,7 73,6 6,3 12,1 8,4 16,4 74,2<br />

Os resultados das perguntas quantitativas<br />

podem ser assim resumidos:<br />

• O Curso, na média dos anos 2002-03, foi<br />

avaliado como medíocre (68,7 pontos).<br />

• Os professores, na média dos anos 2002-03,<br />

foram classificados como ruins (62,0 pontos).<br />

• Os alunos, na média dos anos 2002-03, foram<br />

avaliados com nota razoável (72,0 pontos).<br />

• Os alunos, na média dos anos 2002-03, se autoavaliaram<br />

pessoalmente com nota razoável<br />

(74,2).<br />

Comentários sobre esses resultados serão feitos<br />

no item 6 (Discussão), especialmente no tocante à<br />

classificação de professores e alunos.<br />

6 DISCUSSÃO<br />

Paralelamente a esta pesquisa, foi realizada<br />

outra, que envolve um levantamento preliminar<br />

sobre identificação de problemas prioritários no<br />

Curso de Graduação em <strong>Adm</strong>inistração da UFMG<br />

(Bonilla, 2003).<br />

Um cruzamento das informações obtidas na<br />

pesquisa mencionada com as correspondentes a<br />

este artigo permite enriquecer substancialmente<br />

a interpretação da problemática exposta.<br />

Os doze problemas principais identificados<br />

pelos alunos correspondem a duas turmas: diurna<br />

e noturna, tomadas como conjunto, podendo ser<br />

classificados em três categorias. São eles:<br />

• Relativos a administração acadêmica (falta de<br />

feedback de avaliação dos professores; falta de<br />

integração escola / empresa / comunidade;<br />

conservadorismo/comodismo; grade curricular<br />

rígida; falta de professores; excesso de burocracia<br />

no Setor de Ensino). As freqüências relativas<br />

oscilaram entre 53 e 90%;<br />

• Relativo aos professores (falta de comprometimento/desinteresse<br />

pela Graduação; falta de<br />

didática/problemas pedagógicos individuais;<br />

falta de integração entre eles (criação de<br />

feudos). As freqüências relativas variaram entre<br />

67 e 100%;<br />

• Relativo aos estudantes (falta de compromisso<br />

e envolvimento; individualismo/falta de espírito<br />

de reivindicação; comportamento de aluno de<br />

nível secundário). As freqüências relativas<br />

diversificaram entre 57 e 83%.<br />

De acordo com a informação levantada, os<br />

alunos avaliam o Curso como medíocre e os<br />

professores, ruins.<br />

Esses resultados são altamente preocupantes,<br />

sendo os aspectos desfavoráveis do Curso (ver Tabela<br />

4), atribuídos principalmente aos professores e<br />

depois às autoridades acadêmicas. Surpreendentemente,<br />

a turma de 2002 fornece 501 respostas e a<br />

de 2003, 647, na forma de contribuições para a<br />

melhoria do Curso, mas nenhuma envolve ação<br />

direta dos alunos nesse processo, sendo que a<br />

mesma tendência foi registrada em 1998 (Bonilla e<br />

Lopes, 1998).<br />

Como interpretar isso? É claro que os alunos estão<br />

muito insatisfeitos com o Curso. Isso é indiscutível.<br />

Mas percebem-se algumas incongruências referentes<br />

à responsabilidade dos alunos no processo educativo,<br />

registrando-se uma contradição (aparente) entre esta<br />

pesquisa e Bonilla (2003).<br />

julho/dezembro-2003


e v i s t a<br />

Artigo imes<br />

Com efeito, nesta pesquisa, os alunos avaliam com<br />

generosidade os colegas (72 pontos), e mais ainda a<br />

si mesmos (74 pontos), contra 62 para os professores.<br />

Por outro lado, num total de 1148 respostas nas duas<br />

amostras desta pesquisa, totalizando 490 alunos,<br />

nenhuma atribui responsabilidade a si próprios no<br />

suposto baixo nível do Curso.<br />

Entretanto, quando comparamos esses resultados<br />

com Bonilla (2003), surge agora o reconhecimento<br />

por parte do setor discente, de que eles têm “falta<br />

de compromisso, envolvimento e de espírito de<br />

reivindicação”, combinada com “comportamento de<br />

aluno secundário”.<br />

A interpretação desta situação, aparentemente<br />

contraditória, pode ser encontrada na metodologia<br />

utilizada. Neste artigo, a informação levantada<br />

corresponde ao preenchimento de um questionário<br />

que os alunos entregaram a seus pares; portanto,<br />

os estudantes amostrados tiveram ampla liberdade<br />

para redigir suas respostas, nas quais acabaram<br />

“esquecendo” sua responsabilidade no processo<br />

educativo. Já na outra pesquisa (Bonilla, 2003), a<br />

identificação dos problemas foi feita na sala de aula<br />

através de um brainstorming em que a categoria<br />

“alunos” foi introduzida como uma provável<br />

responsável pelos problemas existentes no Curso.<br />

Ou seja, os estudantes foram enfrentados com a<br />

sua própria consciência, o que os obrigou a<br />

perceber suas próprias carências.<br />

Em Bonilla (2003), os alunos assinalaram 25 causas<br />

possíveis relativas aos problemas identificados na<br />

categoria “alunos”, das quais aproximadamente a<br />

metade é atribuída à alta administração e<br />

preferencialmente aos professores; a outra metade<br />

seria oriunda deles (imaturidade, excesso de<br />

atividades assumidas, outras prioridades, pouca<br />

atenção dos órgãos de representação estudantil no<br />

seu próprio desenvolvimento, alienação, falta de<br />

tempo ou interesse, falta de conscientização acerca<br />

de seus direitos, falta de organização, desinteresse<br />

pelo Curso, interesse só em notas, alunos<br />

acostumados a estudar e ler pouco desde o segundo<br />

grau).<br />

Sem deixar de reconhecer a necessidade de avaliar<br />

com os professores e as autoridades acadêmicas<br />

as suas responsabilidades específicas, a respeito do<br />

grau de insatisfação dos alunos, desenvolvendo<br />

levantamentos semelhantes aos feitos nesta<br />

pesquisa, os comentários finais são reservados aos<br />

alunos.<br />

julho/dezembro-2003<br />

O papel do aluno hoje está muito empobrecido,<br />

concentrando-se em muitos casos apenas na<br />

obtenção do diploma por meio de procedimentos<br />

não recomendáveis para pessoas que terão responsabilidades<br />

de comando no seio da sociedade (chegar<br />

atrasado à aula, conversas paralelas, assinar<br />

trabalhos de grupo sem ter contribuído, fazer os<br />

famosos “trabalhos” simplesmente imprimindo<br />

material da internet etc.).<br />

Outros alunos, talvez uma minoria, estão preocupados<br />

com a sua formação e tentam aproveitar a<br />

oportunidade de estudar gratuitamente na<br />

Universidade Federal para se preparar o melhor<br />

possível, dentro das limitações que hoje afetam<br />

a Educação em geral, e a Educação Superior em<br />

particular.<br />

Entretanto, a orientação desse último grupo,<br />

embora correta, é insuficiente. Da própria pesquisa<br />

mencionada (Bonilla, 2003) surge a existência de<br />

imaturidade, alienação e falta de organização,<br />

como falhas genéricas do setor discente.<br />

É fundamental que os alunos se conscientizem<br />

de que uma melhoria autêntica do Curso em questão<br />

(como de qualquer outro), não poderá ser realizada<br />

sem o engajamento e a participação ativa deles,<br />

que são seus principais beneficiários. É vital, pois,<br />

que assumam sua condição de co-governantes da<br />

Universidade, por meio de sua presença constante<br />

nos órgãos universitários (Congregação, Câmara<br />

Departamental, Colegiados etc.). É obvio que essa<br />

presença não se deverá reduzir aos representantes,<br />

agindo como máscaras soltas, sem nenhum apoio<br />

das bases, como geralmente acontece na realidade.<br />

Os estudantes, como corpo, precisam hastear<br />

essa bandeira, hoje baixa pelo desinteresse,<br />

alienação e coisas desse tipo, como eles próprios<br />

reconhecem.<br />

Atualmente, uma larga maioria de pessoas,<br />

incluindo estudantes, imagina que age com<br />

“modernidade”, mas é fato que nossa cultura<br />

ocidental, impressionante por seu desenvolvimento<br />

tecnológico, está – em outros setores – brutalmente<br />

atrasada, se comparada com as de séculos (ou<br />

milênios) passados, por exemplo, em relação à ética,<br />

à solidariedade e à espiritualidade. Particularmente,<br />

nossa vida universitária está atrasada 85 anos,<br />

quando na Universidade de Córdoba (Argentina),<br />

os estudantes fizeram uma greve prolongada, até<br />

perdendo o ano letivo, lutando por uma Reforma<br />

Universitária. Graças a esse esforço, as idéias de<br />

57


A dministração Artigo<br />

autonomia universitária, professores concursados<br />

e co-governo estudantil, entre outras, acabaram<br />

sendo incorporadas aos estatutos das IES. Ou seja,<br />

têm sido esbanjadas algumas das conquistas<br />

obtidas em 1918. Isso é “modernidade” ou<br />

empobrecimento? Talvez seja mais um “resultado”<br />

que junto com a banalização generalizada, o<br />

consumismo doentio e a globalização canibal<br />

predominante contribua para a alienação social<br />

hoje prevalente. Essa alienação envolve todos os<br />

segmentos da sociedade, incluindo estudantes<br />

universitários.<br />

Finalmente, voltando para a dúvida levantada<br />

na análise da Tabela 6, relativa a se realmente<br />

houve algum motivo que justificasse um aumento<br />

de 10 pontos na nota dos colegas, em relação aos<br />

professores, e 12 pontos para si próprio, pode-se<br />

concluir que não foi encontrado nenhum elemento<br />

pertinente que apoiasse essa hipótese.<br />

A própria experiência do autor principal como<br />

Professor no período em estudo (1998-2003), não<br />

permite descobrir o mínimo indício naquela direção.<br />

Com efeito, a preocupação fundamental concentrada<br />

nas notas continua sendo a motivação principal da<br />

maioria dos alunos, passando a assiduidade, a<br />

pontualidade, o estudo, e a participação nas aulas a<br />

serem assuntos secundários, sendo priorizados só<br />

por uma minoria de alunos, que felizmente, ainda<br />

existem.<br />

Como conseqüência, só é consistente a hipótese<br />

da auto-indulgência.<br />

<strong>58</strong><br />

7 CONCLUSÕES<br />

1– Os alunos estão insatisfeitos com o Curso,<br />

considerado medíocre, e a avaliação dos profes-<br />

sores é francamente ruim. Já a dos colegas e a<br />

própria, por parte dos alunos, é mais generosa.<br />

2– Os alunos não reconhecem, segundo os dados<br />

desta pesquisa, sua responsabilidade no<br />

suposto mau andamento do Curso.<br />

3– Cruzamentos com dados de outra pesquisa<br />

(Bonilla, 2003) mostram que os alunos,<br />

confrontados a identificar a natureza de sua<br />

participação nos problemas do Curso,<br />

reconhecem sua própria falta de responsabilidade.<br />

4– Alienação, imaturidade, excesso de outras atividades,<br />

outras prioridades, interesse do aluno<br />

apenas em notas, carência de hábito de estudo<br />

etc. são causas apresentadas pelos alunos<br />

relativas a essa falta de responsabilidade.<br />

8 RECOMENDAÇÕES<br />

1– Reconhecer que o Curso de <strong>Adm</strong>inistração da<br />

FACE, apesar das avaliações favoráveis feitas<br />

pelos respectivos órgãos superiores, se mostra<br />

insatisfatório, segundo a percepção dos alunos.<br />

2– Conscientizar os alunos, em particular, para se<br />

engajar num processo de desalienação e comprometimento,<br />

desenvolvendo fóruns internos de<br />

discussão.<br />

3– Elaborar um Projeto de Melhoria do Curso, com<br />

participação da alta administração, professores,<br />

alunos e funcionários, alicerçados nos princípios<br />

e nas técnicas da Gestão de Qualidade dos<br />

processos educativos.<br />

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