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watchman nee - Igreja em Feira de Santana

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A VERDADEIRA<br />

VIDA CRISTÃ<br />

"Não mais eu... mas Cristo"<br />

Watchman Nee


2<br />

Tradução do italiano: Daniela Raffo<br />

Baixado da Internet <strong>de</strong> esnips<br />

Em quarta-feira, 29 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2007, 15:05:14<br />

Terminado <strong>de</strong> traduzir <strong>em</strong> terça-feira, 11 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2007,12:57:29<br />

Disponível <strong>em</strong> http://digilan<strong>de</strong>r.iol.it/camminocristiano/


CAPÍTULO 1 – O SANGUE DE CRISTO<br />

Em que consiste a verda<strong>de</strong>ira vida cristã? Far<strong>em</strong>os b<strong>em</strong> <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>rar esta questão<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início. O objetivo <strong>de</strong>stes estudos é d<strong>em</strong>onstrar quanto ela é diferente da vida da<br />

maior partes dos cristãos. De fato, uma meditação da Palavra escrita <strong>de</strong> Deus —por<br />

ex<strong>em</strong>plo, o Sermão da Montanha— <strong>de</strong>veria impulsionar-nos a nos perguntar se uma<br />

s<strong>em</strong>elhante vida tenha sido jamais vivida sobre a terra, aparte do Filho <strong>de</strong> Deus mesmo.<br />

A resposta encontra-se justamente nesta última afirmação.<br />

O apóstolo Paulo nos dá a sua <strong>de</strong>finição da vida cristã na carta aos Gálatas, no<br />

capítulo 2, versículo 20: "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo<br />

vive <strong>em</strong> mim". O apóstolo, aqui, não expõe uma maneira <strong>de</strong> viver particular, um<br />

cristianismo <strong>de</strong> alto nível, mas apresenta simplesmente aquilo que Deus pe<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada<br />

cristão.<br />

Deus nos revela <strong>em</strong> sua Palavra que Ele t<strong>em</strong> somente uma resposta para cada<br />

necessida<strong>de</strong> humana: seu Filho Jesus Cristo. Em cada relação dEle conosco Ele opera<br />

colocando-nos aparte e pondo Cristo <strong>em</strong> nosso lugar.<br />

O Filho <strong>de</strong> Deus morreu <strong>em</strong> nosso lugar para o nosso perdão, e vive, <strong>em</strong> nosso lugar,<br />

para a nossa liberação. Pod<strong>em</strong>os assim falar <strong>de</strong> duas substituições: um Substituto sobre<br />

a Cruz que nos procura o perdão, e um Substituto <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós, que nos assegura a<br />

vitória. Nos ajudará enorm<strong>em</strong>ente e ficar<strong>em</strong>os protegidos <strong>de</strong> muitas confusões, se nos<br />

l<strong>em</strong>brarmos s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong>ste fato: Deus resolverá todos os nossos probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> uma única<br />

forma, ou seja, com a revelação s<strong>em</strong>pre mais profunda do seu Filho.<br />

O NOSSO DUPLO PROBLEMA: OS PECADOS E O PECADO<br />

Tomar<strong>em</strong>os como ponto <strong>de</strong> partida pelo nosso estudo sobre a verda<strong>de</strong>ira vida cristã o<br />

gran<strong>de</strong> ensino que nos é apresentado nos primeiros oito capítulos da epístola aos<br />

Romanos, e enfrentar<strong>em</strong>os nosso projeto <strong>de</strong>s<strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista prático. Será útil, <strong>de</strong><br />

qualquer forma, ressaltar a divisão natural <strong>de</strong>sta seção bíblica <strong>em</strong> duas partes, e<br />

consi<strong>de</strong>rarmos aquelas que <strong>em</strong>erjam nos t<strong>em</strong>as tratados <strong>em</strong> cada uma <strong>de</strong>las.<br />

Os primeiros oito capítulos da carta aos Romanos constitu<strong>em</strong> um todo <strong>em</strong> si mesmo.<br />

Os primeiros quatro, junto com os versículos 1-11 do quinto, formam a primeira parte, e<br />

os outros três capítulos e meio (5:12 – 8:39) formam a segunda parte <strong>de</strong>ste conjunto.<br />

Uma leitura atenta nos mostrará que o argumento tratado na primeira meta<strong>de</strong> é<br />

diferente daquele tratado na segunda. Por ex<strong>em</strong>plo, na primeira meta<strong>de</strong> pod<strong>em</strong>os relevar<br />

o uso prepon<strong>de</strong>rante da palavra "pecados", <strong>em</strong> plural. Na segunda meta<strong>de</strong>, ao contrário,<br />

já não é mais assim, porque enquanto a palavra "pecados" aparece somente uma vez, a<br />

palavra "pecado", <strong>em</strong> singular, repete-se muitas vezes e si constitui no principal t<strong>em</strong>a<br />

tratado. Por que acontece isto?<br />

Porque na primeira parte trata-se dos pecados que eu tenho cometido diante <strong>de</strong> Deus,<br />

pecados numerosos e que pod<strong>em</strong> ser contados; enquanto na segunda, o pecado é<br />

examinado como o princípio que opera <strong>em</strong> mim. Qualquer seja o número <strong>de</strong> pecado que<br />

eu tenha cometido, aquilo que age <strong>em</strong> mim é s<strong>em</strong>pre o mesmo princípio <strong>de</strong> pecado. Eu<br />

preciso <strong>de</strong> perdão pelos meus pecados, mas necessito também ser liberado do po<strong>de</strong>r do<br />

pecado. O perdão diz respeito a minha consciência, a liberação concerne a minha vida.<br />

Posso receber o perdão <strong>de</strong> todos os meus pecados, mas, a causa do "meu" pecado, não<br />

encontro paz duradoura no meu espírito.<br />

Quando a luz <strong>de</strong> Deus penetrou pela primeira vez <strong>em</strong> meu coração, meu primeiro<br />

<strong>de</strong>sejo foi o <strong>de</strong> ser perdoado, porque compreendi que tinha pecado diante dEle; mas<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter recebido o perdão dos pecados fiz um novo <strong>de</strong>scobrimento, aquele do<br />

pecado, e percebi que não somente havia pecado diante <strong>de</strong> Deus, mas que <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

mim existe alguma coisa injusta.<br />

Descobri a minha natureza <strong>de</strong> pecador. Existe <strong>em</strong> mim uma tendência natural para o<br />

pecado, um po<strong>de</strong>r superior que me arrasta ao pecado. Quando esta força maléfica se<br />

manifesta, eu peco. Posso procurar <strong>de</strong> receber o perdão, mas ainda assim continuarei<br />

pecando. A minha vida continua então num círculo viçoso: peco, sou perdoado, porém<br />

volto pecar. Alegro-me consi<strong>de</strong>rando a bênção do perdão <strong>de</strong> Deus, mas preciso <strong>de</strong><br />

alguma coisa a mais: eu preciso da liberação. Necessito do perdão por aquilo que eu fiz,<br />

mas preciso também <strong>de</strong> ser liberado daquilo que eu sou.<br />

3


O DUPLO REMÉDIO DE DEUS: O SANGUE E A CRUZ<br />

Portanto, os oito primeiros capítulos da Epístola aos Romanos nos apresentam dois<br />

aspectos da salvação: primeiro o perdão dos nossos pecados, e <strong>de</strong>pois a liberação do<br />

pecado. Porém agora, levando <strong>em</strong> conta este fato, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os consi<strong>de</strong>rar mais uma<br />

diferença.<br />

Na primeira parte <strong>de</strong> Romanos 1-8 (versículos <strong>de</strong> 1:1 até 5:11) menciona-se duas<br />

vezes o sangue <strong>de</strong> Jesus, no versículo 3:25 e no versículo 5:9. Na segunda parte<br />

(versículos <strong>de</strong> 5:12 até 8:38) é introduzida, no versículo 6:6, uma nova idéia, quando<br />

nos é dito que nós fomos "crucificados" com Cristo. O t<strong>em</strong>a tratado na primeira seção<br />

concentra-se sobre aquele aspecto da obra do Senhor Jesus, que é representado pelo<br />

"sangue" vertido pela nossa justificação através da "r<strong>em</strong>issão dos pecados". Esta<br />

terminologia já não é utilizada na segunda seção, on<strong>de</strong> o t<strong>em</strong>a se concentra sobre o<br />

aspecto <strong>de</strong> sua obra, representado pela "Cruz", ou seja, pela nossa união com Cristo <strong>em</strong><br />

sua morte, <strong>em</strong> sua sepultura e <strong>em</strong> sua ressurreição. Esta distinção t<strong>em</strong> um gran<strong>de</strong> valor.<br />

Ver<strong>em</strong>os assim que o sangue t<strong>em</strong> a ver com o que t<strong>em</strong>os feito, enquanto que a Cruz<br />

refere-se ao que somos. O sangue cancela nossos pecados, ao passo que a Cruz se<br />

ocupa da orig<strong>em</strong> <strong>de</strong> nossa natureza pecaminosa. Este último aspecto será a substância<br />

<strong>de</strong> nossa meditação, nos capítulos que se segu<strong>em</strong>.<br />

O PROBLEMA DOS NOSSOS PECADOS<br />

Comec<strong>em</strong>os, então, a consi<strong>de</strong>rar o sangue precioso do Senhor Jesus Cristo e o seu<br />

valor para nós, <strong>em</strong> quanto cancela os nossos pecados e nos justifica diante dos olhos <strong>de</strong><br />

Deus. Este aspecto é apresentado nos seguintes passos: "todos pecaram" (Rm 3:23).<br />

"Mas Deus prova o seu amor para conosco, <strong>em</strong> que Cristo morreu por nós, sendo nós<br />

ainda pecadores. Logo muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue,<br />

ser<strong>em</strong>os por ele salvos da ira" (Rm 5:8-9).<br />

"Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela re<strong>de</strong>nção que há <strong>em</strong> Cristo<br />

Jesus. Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para d<strong>em</strong>onstrar a<br />

sua justiça pela r<strong>em</strong>issão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência <strong>de</strong> Deus; para<br />

d<strong>em</strong>onstração da sua justiça neste t<strong>em</strong>po presente, para que ele seja justo e justificador<br />

daquele que t<strong>em</strong> fé <strong>em</strong> Jesus." (Rm 3:24-26).<br />

Mais adiante no curso do nosso estudo mostrar<strong>em</strong>os a verda<strong>de</strong>ira natureza da queda e<br />

sobre como sermos salvos. Aqui l<strong>em</strong>brar<strong>em</strong>os, simplesmente, que o pecado se revelou<br />

como um ato <strong>de</strong> <strong>de</strong>sobediência a Deus (Rm 5:19). Dev<strong>em</strong>os l<strong>em</strong>brar agora que a<br />

<strong>de</strong>sobediência é imediatamente seguida da culpa.<br />

O pecado manifesta-se, então, como uma <strong>de</strong>sobediência, e cria uma separação entre<br />

Deus e o hom<strong>em</strong>, a continuação do qual o hom<strong>em</strong> é expulso longe <strong>de</strong> Deus. Deus não<br />

po<strong>de</strong> ter mais comunhão com ele, porque t<strong>em</strong> penetrado um obstáculo ao qual a<br />

Escritura dá o nome <strong>de</strong> "pecado". Assim Deus estabelece, antes que nada, que "todos<br />

estão <strong>de</strong>baixo do pecado" (Rm 3:9), sendo então que o pecado, que <strong>de</strong> agora <strong>em</strong> diante<br />

constitui um obstáculo à comunhão do hom<strong>em</strong> com Deus, dá orig<strong>em</strong> no hom<strong>em</strong> a um<br />

sentido <strong>de</strong> culpa pelo distanciamento <strong>de</strong> Deus. Então o hom<strong>em</strong>, seguindo a sua<br />

consciência re<strong>de</strong>scoberta, diz: "Pequei" (Lc 15:18). Porém isto não é tudo, porque o<br />

pecado fornece também uma razão para o adversário acusar o hom<strong>em</strong> diante <strong>de</strong> Deus,<br />

enquanto o nosso sentido <strong>de</strong> culpa lhe dá a razão para acusar-nos <strong>em</strong> nosso coração,<br />

convertendo-o assim, finalmente, no "acusador dos irmãos" (Ap 12:10), que lhes diz:<br />

"Vocês pecaram".<br />

Era necessário, então, que o Senhor Jesus, para introduzir-nos novamente no plano<br />

<strong>de</strong> Deus, cumprisse a sua obra no que respeita a estes três aspectos: o pecado, a culpa e<br />

a acusação <strong>de</strong> Satanás contra nós. Precisava-se, antes que nada, que os nossos pecados<br />

foss<strong>em</strong> cancelados, e isto foi cumprido pelo precioso sangue <strong>de</strong> Cristo. Necessitava-se,<br />

<strong>de</strong>pois, que a nossa culpa fosse perdoada, e que a nossa consciência fosse tranqüilizada<br />

mediante a revelação do valor daquele sangue. Finalmente, era necessário enfrentar os<br />

ataques no inimigo e respon<strong>de</strong>r as suas acusações. Nos é mostrado, nas Escrituras, que<br />

o sangue <strong>de</strong> Cristo age eficazmente nestas três direções: para Deus, para o hom<strong>em</strong> e<br />

para Satanás.<br />

Se quisermos avançar, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os absolutamente apropriar-nos das virtu<strong>de</strong>s daquele<br />

sangue. Esta é a primeira condição essencial. Dev<strong>em</strong>os ter uma consciência fundamental<br />

do fato que o Senhor Jesus morreu na Cruz <strong>em</strong> nosso lugar, e uma clara compreensão da<br />

eficácia do seu sangue <strong>em</strong> cancelar nossos pecados.<br />

4


Se não t<strong>em</strong>os esta consciência, não pod<strong>em</strong>os dizer que estejamos encaminhados <strong>em</strong><br />

nossa via. Examinar<strong>em</strong>os estes três t<strong>em</strong>as mais <strong>de</strong> perto.<br />

PRIMEIRAMENTE O SANGUE TEM VALOR DIANTE DE DEUS<br />

O sangue foi vertido pela expiação e é ligado à nossa posição diante <strong>de</strong> Deus. Para<br />

não cair sob juízo, precisamos do perdão pelos pecados que t<strong>em</strong>os cometido, e os nossos<br />

pecados nos são perdoados não porque Deus feche seus olhos ao mal que t<strong>em</strong>os<br />

cometido, mas porque Ele vê o sangue do seu Filho. O sangue não é, então,<br />

primariamente "para nós" mas "para Deus". Se eu <strong>de</strong>sejo conhecer o valor do sangue<br />

para mim, <strong>de</strong>vo aceitar tudo aquilo que ele significa para Deus; se eu não conheço o<br />

valor que o sangue t<strong>em</strong> para Deus, não conhecerei nunca o valor que ele t<strong>em</strong> para mim.<br />

Somente quando o Espírito Santo tenha me revelado o preço que Deus atribui ao sangue<br />

<strong>de</strong> Cristo, penetrará <strong>em</strong> mim o benefício <strong>de</strong> sua virtu<strong>de</strong> e compreen<strong>de</strong>rei o seu precioso<br />

valor para mim. Mas o primeiro aspecto do sangue é para Deus. Na Antiga e na Nova<br />

Aliança, a palavra "sangue", usada <strong>em</strong> conexão com a idéia <strong>de</strong> expiação, é adotada mas<br />

<strong>de</strong> c<strong>em</strong> vezes, e é s<strong>em</strong>pre apresentada como <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor diante <strong>de</strong> Deus.<br />

Existe no calendário do Antigo Testamento um dia que se encontra <strong>em</strong> estreita relação<br />

com o argumento dos nossos pecados: é o Dia da Expiação. Nada explica este probl<strong>em</strong>a<br />

dos pecados tão b<strong>em</strong> quanto a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>ste dia. No capítulo 16 <strong>de</strong> Levítico l<strong>em</strong>os que,<br />

no Dia da Expiação, o sangue era tomado das ofertas pelos pecados e levado no Lugar<br />

Santíssimo para ser aspergido sete vezes diante do Eterno. É necessário compreen<strong>de</strong>r<br />

isto muito claramente. Naquele dia, o sacrifício pelos pecados era oferecido publicamente<br />

no átrio do Tabernáculo. Tudo era feito abertamente e podia ser visto por todos. mas o<br />

Senhor tinha or<strong>de</strong>nado severamente que ninguém entrasse no Tabernáculo, a exceção do<br />

Sumo Sacerdote. Ele só tomava o sangue <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter entrado no Lugar Santíssimo e<br />

realizava a aspersão diante do Senhor. Por quê? Porque ele era figura do Senhor Jesus<br />

<strong>em</strong> sua obra re<strong>de</strong>ntora: "Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um<br />

maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não <strong>de</strong>sta criação, N<strong>em</strong> por<br />

sangue <strong>de</strong> bo<strong>de</strong>s e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário,<br />

havendo efetuado uma eterna re<strong>de</strong>nção" (Hb 9:11-12). Assim sendo, ninguém senão o<br />

Sumo Sacerdote podia se aproximar e penetrar no Santuário. Al<strong>em</strong> disso, ele entrava<br />

para cumprir um único gesto: apresentar a Deus o sangue como uma oferta aceitável, na<br />

qual Deus podia ter satisfação. Era uma transação entre o Sumo Sacerdote e Deus no<br />

segredo do Lugar Santíssimo, longe dos olhares dos homens que <strong>de</strong>viam resultar<br />

beneficiados. O Senhor o requeria assim. O sangue é, então, o primeiro lugar não "para<br />

nós", mas "para Ele". Já antes achamos <strong>de</strong>scrita a efusão do sangue do cor<strong>de</strong>iro pascual<br />

no Egito para o resgate <strong>de</strong> Israel. "E aquele sangue vos será por sinal nas casas <strong>em</strong> que<br />

estiver<strong>de</strong>s; vendo eu sangue, passarei por cima <strong>de</strong> vós, e não haverá entre vós praga <strong>de</strong><br />

mortanda<strong>de</strong>, quando eu ferir a terra do Egito" (Êx 12:13). Aquela é ainda, penso, uma<br />

das figuras mais claras da nossa re<strong>de</strong>nção que possamos achar no Antigo Testamento. O<br />

sangue era colocado sobre as ombreiras e na verga das portas, enquanto o carne dos<br />

cor<strong>de</strong>iros era comido no interior das casas. E Deus disse: "vendo eu sangue, passarei por<br />

cima <strong>de</strong> vós".<br />

T<strong>em</strong>os aqui uma outra ilustração do fato que o sangue não <strong>de</strong>ve ser apresentado ao<br />

hom<strong>em</strong>, mas a Deus, porque o sangue era colocado no exterior da casa e aqueles que<br />

celebravam a festa no interior não podiam vê-lo.<br />

DEUS É SATISFEITO<br />

A santida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus e a justiça <strong>de</strong> Deus requer<strong>em</strong> que uma vida s<strong>em</strong> pecado seja<br />

entregue pelo hom<strong>em</strong>. A vida está no sangue e aquele sangue <strong>de</strong>ve ser vertido por mim<br />

a causa dos meus pecados. É Deus qu<strong>em</strong> o reclama, Deus é Aquele que pe<strong>de</strong> que o<br />

sangue seja oferecido, para satisfazer a sua justiça; é Ele mesmo que <strong>de</strong>clara: "vendo eu<br />

sangue, passarei por cima <strong>de</strong> vós". O sangue <strong>de</strong> Cristo satisfaz plenamente a Deus.<br />

Gostaria aqui <strong>de</strong> dar uma palavra aos meus mais jovens irmãos no Senhor, porque é<br />

neste ponto que achamos, com freqüência, dificulda<strong>de</strong>s. Antes <strong>de</strong> acreditar <strong>em</strong> Cristo,<br />

talvez nunca tenhamos sido turbados pelas nossas consciências, até que a Palavra <strong>de</strong><br />

Deus não começou <strong>de</strong>spertá-la. A nossa consciência estava morta e Deus não po<strong>de</strong> fazer<br />

nada com aqueles cuja consciência está morta. Porém mais tar<strong>de</strong>, quando cr<strong>em</strong>os, a<br />

nossa consciência acordada tornou-se extr<strong>em</strong>amente sensível e isto po<strong>de</strong> constituir-se<br />

num verda<strong>de</strong>iro probl<strong>em</strong>a para nós. O sentimento do pecado e da culpa po<strong>de</strong> tornar-se<br />

tão gran<strong>de</strong> e tão terrível, que po<strong>de</strong> até chegar a paralisar-nos, fazendo-nos per<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

vista a verda<strong>de</strong>ira eficácia do sangue. Nos parece, então, que os nossos pecados sejam<br />

5


muito reais, e qualquer pecado <strong>em</strong> particular po<strong>de</strong> atormentar-nos tão freqüent<strong>em</strong>ente<br />

que po<strong>de</strong> fazer-nos acreditar que os nossos pecados sejam maiores que o sangue <strong>de</strong><br />

Cristo. Ora, todas as nossas dificulda<strong>de</strong>s provêm disto: provar a sentir o valor do sangue<br />

e estimar subjetivamente o que ele significa para nós. Mas não pod<strong>em</strong>os fazer isto,<br />

porque não é assim que se faz<strong>em</strong> as coisas. É Deus qu<strong>em</strong>, antes que nada, <strong>de</strong>ve ver o<br />

sangue. Depois, nós <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os aceitar <strong>em</strong> seguida o valor que Deus lhe dá. somente<br />

então compreen<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os o valor que t<strong>em</strong> para nós. Se, ao contrário, tratamos <strong>de</strong> avaliálo<br />

segundo o nosso modo <strong>de</strong> pensar, não obter<strong>em</strong>os nada, ficar<strong>em</strong>os no escuro. É uma<br />

questão <strong>de</strong> fé na Palavra <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os acreditar que o sangue <strong>de</strong> Cristo é precioso<br />

diante <strong>de</strong> Deus, porque Ele disse que assim era. "Sabendo que não foi com coisas<br />

corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da sua vã maneira <strong>de</strong> viver que<br />

por tradição recebestes dos seus pais, mas com o precioso sangue <strong>de</strong> Cristo, como <strong>de</strong><br />

um cor<strong>de</strong>iro imaculado e incontaminado, o qual, na verda<strong>de</strong>, <strong>em</strong> outro t<strong>em</strong>po foi<br />

conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos t<strong>em</strong>pos<br />

por amor <strong>de</strong> vós" (1 Pe 1:18-20). Se Deus po<strong>de</strong> aceitar o sangue <strong>de</strong> Cristo como uma<br />

expiação dos nossos pecados e como preço da nossa re<strong>de</strong>nção, pod<strong>em</strong>os estar seguros<br />

que a dívida ficou paga. Se Deus está satisfeito com o sangue, quer dizer que o sangue é<br />

aceitável. O valor que nós atribuímos ao sangue <strong>de</strong>ve se correspon<strong>de</strong>r com o que Deus<br />

lhe atribui, n<strong>em</strong> mais n<strong>em</strong> menos. Não po<strong>de</strong> certamente ser mais alto, mas também não<br />

<strong>de</strong>ve ser mas baixo. L<strong>em</strong>br<strong>em</strong>os que Deus é Santo e justo, e que um Deus justo e santo<br />

t<strong>em</strong> o direito <strong>de</strong> <strong>de</strong>clarar que o sangue <strong>de</strong> Cristo O t<strong>em</strong> agradado o satisfeito<br />

plenamente.<br />

A VIA PELA QUAL O CRENTE VAI A DEUS<br />

O sangue <strong>de</strong> Jesus satisfez Deus, mas <strong>de</strong>ve satisfazer também a nós. Existe, então,<br />

um segundo valor, que é para o hom<strong>em</strong>, <strong>em</strong> quanto que purifica a nossa consciência.<br />

Meditando sobre a Epístola aos Hebreus achamos aquilo que o sangue fez. Ele conseguiu<br />

para nós "corações purificados da má consciência" (Hb 10:22).<br />

Isto é muito importante. Consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os atentamente o que está escrito. O autor não<br />

nos diz somente que o sangue do Senhor Jesus purifica o nosso coração; não pára nesta<br />

<strong>de</strong>claração.<br />

É um erro relacionar o coração com o sangue <strong>de</strong>sta maneira. Assim d<strong>em</strong>onstramos<br />

não compreen<strong>de</strong>r a esfera na qual opera o sangue, quando apregoamos: "Senhor,<br />

purifica o meu coração do pecado com o Teu sangue"; o coração, Deus diz, é "enganoso"<br />

e "perverso" (Jr 17:9).<br />

Deus <strong>de</strong>ve então fazer alguma coisa mais eficaz que purificá-lo: Ele <strong>de</strong>ve nos dar um<br />

coração novo.<br />

Nós nunca pensar<strong>em</strong>os <strong>em</strong> lavar e passar o ferro numa roupa que seja para jogar<br />

fora. Como ver<strong>em</strong>os mais adiante, a "carne" é d<strong>em</strong>asiadamente corrupta para ser<br />

purificada: ela <strong>de</strong>ve ser crucificada.<br />

A obra <strong>de</strong> Deus <strong>em</strong> nós <strong>de</strong>ve ser uma coisa completamente nova: "E dar-vos-ei um<br />

coração novo, e porei <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> vós um espírito novo" (Ez 36:26).<br />

Não, eu não acho nenhum versículo no qual seja <strong>de</strong>clarado que o sangue <strong>de</strong> Cristo<br />

purifica o coração. A sua obra não é subjetiva neste sentido, mas inteiramente objetiva,<br />

diante <strong>de</strong> Deus. É verda<strong>de</strong> que a obra da purificação do sangue, segundo Hebreus 10,<br />

toca nosso coração, mas é <strong>em</strong> relação com a nossa consciência. "...tendo os corações<br />

purificados da má consciência" (Hb 10:22): o que significa isto? Significa que um<br />

obstáculo foi introduzido entre eu e Deus, criando <strong>em</strong> mim uma má consciência que<br />

advirto a cada vez que tento me aproximar dEle. Ela me l<strong>em</strong>bra constant<strong>em</strong>ente a<br />

barreira que foi criada entre Ele e eu. Porém agora, a obra do sangue precioso eliminou<br />

aquela barreira, e Deus me fez conhecer este fato mediante a sua Palavra.<br />

Devido a que eu cri e aceitei Jesus, a minha consciência foi purificada e o meu sentido<br />

<strong>de</strong> culpa <strong>de</strong>sapareceu; já não tenho uma má consciência diante <strong>de</strong> Deus.<br />

Cada um <strong>de</strong> nós sabe quanto é precioso ter, <strong>em</strong> nossa relação com Deus, uma<br />

consciência pura <strong>de</strong> cada mácula <strong>de</strong> pecado. Sim, um coração cheio <strong>de</strong> fé e uma<br />

consciência limpa <strong>de</strong> todas as acusações são duas coisas essenciais para nós, e uma<br />

acompanha a outra. Quando perd<strong>em</strong>os a paz da consciência, a nossa fé naufraga, e<br />

sentimos <strong>em</strong> seguida que não pod<strong>em</strong>os nos aproximar <strong>de</strong> Deus. mas para po<strong>de</strong>r<br />

continuar a caminhar com Deus <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os conhecer s<strong>em</strong>pre o valor atual do sangue. Deus<br />

t<strong>em</strong> uma contabilida<strong>de</strong> muito precisa, e é pelo sangue <strong>de</strong> Cristo que nós pod<strong>em</strong>os, a<br />

cada dia, cada hora e cada minuto, nos aproximar dEle. O sangue não per<strong>de</strong> nunca a sua<br />

eficácia como nossa base <strong>de</strong> acesso ao trono da graça, e nós confiamos inteiramente<br />

6


nisso. Então, quando entramos no Lugar Santíssimo, sobre qual fundamento além do<br />

sangue ousar<strong>em</strong>os nos apoiar?<br />

Eu preciso me fazer esta pergunta: procuro verda<strong>de</strong>iramente ir a Deus através do<br />

sangue, ou me confio <strong>em</strong> qualquer outra coisa? O que entendo quando digo: "através do<br />

sangue"? Quero dizer, simplesmente, que eu reconheço os meus pecados, que necessito<br />

purificação e expiação, e que me aproximo <strong>de</strong> Deus apoiando-me só <strong>em</strong> seus méritos, e<br />

nunca confiando nas minhas próprias forças. Nunca, por ex<strong>em</strong>plo, fundando-me no fato<br />

<strong>de</strong> ter sido particularmente amável ou paciente durante o dia, ou <strong>de</strong> ter feito qualquer<br />

coisa pelo Senhor nesta manhã. Devo me aproximar <strong>de</strong> Deus s<strong>em</strong>pre pela via do sangue<br />

<strong>de</strong> seu Filho. A tentação, para muitos <strong>de</strong> nós, quando quer<strong>em</strong>os nos achegar a Deus, é a<br />

<strong>de</strong> pensar que, já que Deus t<strong>em</strong> agido <strong>em</strong> nós, nos fez conhecer alguma coisa <strong>de</strong> mais<br />

sobre Ele e nos abriu os olhos acerca <strong>de</strong> lições mais profundas a respeito da Cruz, t<strong>em</strong><br />

colocado assim diante <strong>de</strong> nós novas normas <strong>de</strong> vida, e que somente nos submetendo a<br />

elas po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os ter uma consciência pura diante dEle.<br />

Não! Uma consciência pura não está nunca baseada sobre uma vitória que tenhamos<br />

conseguido; ela só po<strong>de</strong> ser estabelecida sobre a obra que o Senhor Jesus cumpriu<br />

vertendo o seu sangue.<br />

Posso errar, mas tenho a impressão muito forte que alguns <strong>de</strong> nós t<strong>em</strong>os, às vezes,<br />

sentimentos como estes: "Hoje eu fui mais amável; hoje eu agi melhor; esta manhã li a<br />

Palavra <strong>de</strong> Deus <strong>de</strong> forma mais recolhida, então posso orar melhor!", ou, ainda: "Hoje eu<br />

tive algumas dificulda<strong>de</strong>s com a minha família, comecei o dia <strong>de</strong> péssimo humor, s<strong>em</strong><br />

jeito, e agora não me sinto tão cômodo assim; parece que alguma coisa não está indo<br />

b<strong>em</strong>; não posso, porém, me aproximar <strong>de</strong> Deus".<br />

Qual é, afinal, a base sobre a qual vocês se aproximam <strong>de</strong> Deus? Vão a Ele sobre o<br />

fundamento incerto dos seus sentimentos, pensando que hoje conseguiram fazer alguma<br />

coisa para Ele? Ou vocês se apóiam sobre um fundamento muito mais seguro, ou seja,<br />

sobre o fato que o sangue foi vertido e que, vendo esse sangue, Deus está satisfeito?<br />

Naturalmente, se tivesse sido possível conceber que a virtu<strong>de</strong> do sangue pu<strong>de</strong>sse ser<br />

mudada, a base sobre a qual nos aproximamos <strong>de</strong> Deus seria menos digna <strong>de</strong> confiança.<br />

Porém, a virtu<strong>de</strong> do sangue nunca mudou e nunca mudará. Pod<strong>em</strong>os, então, nos achegar<br />

s<strong>em</strong>pre a Deus com certeza, e esta segurança a obt<strong>em</strong>os através do sangue, e nunca<br />

pelos nossos méritos pessoais. Qualquer seja a medida dos nossos méritos <strong>de</strong> hoje, <strong>de</strong><br />

ont<strong>em</strong> ou <strong>de</strong> anteont<strong>em</strong>, apenas nos chegamos com plena consciência ao lugar três<br />

vezes santo, é preciso imediatamente que nos apoi<strong>em</strong>os sobre o terreno seguro e único<br />

do sangue vertido. Se o nosso dia foi bom ou ruim, se pecamos a sabendas ou não, o<br />

fundamento sobre o qual nos aproximamos a Deus é o mesmo: o sangue <strong>de</strong> Cristo. O<br />

fato <strong>de</strong> este sangue ser agradável a Deus permanece a única base sobre a qual pod<strong>em</strong>os<br />

entrar <strong>em</strong> sua presença; não exist<strong>em</strong> outras.<br />

Como <strong>em</strong> muitas outras etapas da nossa experiência cristã, este fato do acesso a<br />

Deus se compõe <strong>de</strong> duas fases, uma inicial e uma sucessiva. A primeira está<br />

representada <strong>em</strong> Efésios 2, e a segunda <strong>em</strong> Hebreus 10. No início, a nossa posição<br />

diante <strong>de</strong> Deus é assegurada pelo sangue, porque nós fomos "aproximados pelo sangue<br />

<strong>de</strong> Cristo" (Ef 2:13). E imediatamente a base do nosso contínuo acesso a Deus subsiste<br />

ainda no sangue; portanto o apóstolo nos exorta assim: "Tendo, pois, irmãos, ousadia<br />

para entrar no santuário, pelo sangue <strong>de</strong> Jesus, (...) Chegu<strong>em</strong>o-nos" (Hb 10:19,22).<br />

Para começar fui re-aproximado pelo sangue, e a continuação, nesta nova relação com<br />

Deus <strong>de</strong>vo s<strong>em</strong>pre recorrer ao sangue. Não que eu tenha sido salvado sobre uma certa<br />

base e que <strong>de</strong>pois mantenha a minha comunhão com Deus sobre uma outra base. Vocês<br />

dirão: "Isto é muito simples; é o ABC do Evangelho". Sim, porém é um fato que muitos<br />

<strong>de</strong> nós nos t<strong>em</strong>os distanciado <strong>de</strong>ste ABC. T<strong>em</strong>os pensado <strong>de</strong> ter feito progressos e <strong>de</strong> têlo<br />

assim superado, mas nunca po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os fazer isto. Não, eu me aproximei <strong>de</strong> Deus a<br />

primeira vez através do sangue, e a cada vez que me apresento a Ele é pelo mesmo<br />

meio. Até o fim será assim, s<strong>em</strong>pre e unicamente sobre a base do sangue <strong>de</strong> Cristo.<br />

Isto não significa <strong>de</strong> maneira alguma que <strong>de</strong>vamos viver uma vida <strong>de</strong>spreocupada; <strong>de</strong><br />

fato, estudar<strong>em</strong>os mais tar<strong>de</strong> um outro aspecto da morte <strong>de</strong> Cristo, que mostrará a<br />

vocês uma coisa completamente diferente. Porém <strong>de</strong> momento, content<strong>em</strong>o-nos com o<br />

sangue que está conosco e nos é suficiente. Pod<strong>em</strong>os ser fracos, mas consi<strong>de</strong>rando a<br />

nossa <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> não ficar<strong>em</strong>os mais fortes. N<strong>em</strong> também não tentando <strong>de</strong> sentir a nossa<br />

miséria e fazendo penitência nos tornar<strong>em</strong>os mais santos. Não encontrar<strong>em</strong>os nenhuma<br />

ajuda neste sentido. Tenhamos então a corag<strong>em</strong> <strong>de</strong> encostar-nos <strong>em</strong> Deus confiando no<br />

sangue, e digamos: "Senhor, eu não conheço b<strong>em</strong> o valor do sangue, mas sei que o<br />

sangue t<strong>em</strong> Te satisfeito, portanto, o sangue me basta, e é o meu único refúgio. Vejo<br />

7


agora que, tenha eu realizados progressos ou não, tenha eu melhorado ou não, não<br />

posso nunca me apresentar diante <strong>de</strong> Ti senão sobre o fundamento do precioso sangue".<br />

Então a nossa consciência ficará verda<strong>de</strong>iramente livre diante <strong>de</strong> Deus. nenhuma<br />

consciência po<strong>de</strong>rá nunca ser purificada fora do sangue. É o sangue que nos dá<br />

segurança diante <strong>de</strong> Deus; "De outra maneira, teriam <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> se oferecer, porque,<br />

purificados uma vez os ministrantes, nunca mais teriam consciência <strong>de</strong> pecado", esta é a<br />

po<strong>de</strong>rosa expressão <strong>de</strong> Hebreus 10:2. Somos purificados <strong>de</strong> cada pecado; pod<strong>em</strong>os fazer<br />

eco com Paulo às palavras <strong>de</strong> Davi: "B<strong>em</strong>-aventurado o hom<strong>em</strong> a qu<strong>em</strong> o Senhor não<br />

imputa o pecado" (Romanos 4:8).<br />

A VITÓRIA SOBRE O ACUSADOR<br />

Depois <strong>de</strong> tudo que já t<strong>em</strong>os consi<strong>de</strong>rado, pod<strong>em</strong>os agora enfrentar o inimigo, porque<br />

existe ainda um outro aspecto da virtu<strong>de</strong> do sangue, aquele que nos resguarda <strong>de</strong><br />

Satanás.<br />

A ativida<strong>de</strong> mais viva <strong>de</strong> Satanás neste t<strong>em</strong>po consiste <strong>em</strong> ser o acusador dos<br />

crentes: "...porque já o acusador <strong>de</strong> nossos irmãos é <strong>de</strong>rrubado, o qual diante do nosso<br />

Deus os acusava <strong>de</strong> dia e <strong>de</strong> noite" (Apocalipse 12:10).<br />

É nesta ação sua que o nosso Senhor o enfrenta com o seu particular ministério <strong>de</strong><br />

Sumo Sacerdote, "por meio do seu próprio sangue" (Hb 9:12).<br />

Qual é, então, a obra do sangue contra Satanás? Ela consiste <strong>em</strong> colocar a Deus <strong>de</strong><br />

parte do hom<strong>em</strong>, contra Satanás. A queda produziu no hom<strong>em</strong> uma condição que t<strong>em</strong><br />

permitido o adversário entrar <strong>em</strong> contato com ele, com o resultado <strong>de</strong> forçar Deus a se<br />

retirar. O hom<strong>em</strong> está agora fora do Jardim do É<strong>de</strong>n, já não po<strong>de</strong> ver mais a glória <strong>de</strong><br />

Deus: "...todos pecaram e <strong>de</strong>stituídos estão da glória <strong>de</strong> Deus" (Rm 3:23), porque,<br />

inteiramente, o hom<strong>em</strong> transformou-se num estranho para Deus. Como conseqüência do<br />

que o hom<strong>em</strong> t<strong>em</strong> feito, existe agora alguma coisa nele que impe<strong>de</strong> Deus <strong>de</strong> <strong>de</strong>fendê-lo,<br />

até que o obstáculo seja r<strong>em</strong>ovido. Mas o sangue <strong>de</strong> Cristo tirou esta barreira; restituiu o<br />

hom<strong>em</strong> a Deus e Deus ao hom<strong>em</strong>. O hom<strong>em</strong> está agora sob a proteção divina, e <strong>de</strong>vido<br />

a que Deus o acompanha, Ele po<strong>de</strong> s<strong>em</strong> t<strong>em</strong>or enfrentar Satanás.<br />

Vocês se l<strong>em</strong>brarão daquele versículo da primeira epístola <strong>de</strong> João, e esta é a<br />

tradução que eu prefiro: "O sangue <strong>de</strong> Jesus, seu Filho, nos purifica <strong>de</strong> cada pecado" (1<br />

Jo 1:7). Não é exatamente "todos os pecados", no sentido geral, mas <strong>de</strong> cada pecado,<br />

cada um <strong>de</strong>talhadamente.<br />

O que significa isto? É uma coisa maravilhosa!<br />

Deus está na luz, e se caminhamos com Ele na luz, tudo fica exposto e <strong>de</strong>scoberto<br />

diante <strong>de</strong>sta luz, e assim Deus po<strong>de</strong> ver tudo perfeitamente, enquanto o sangue <strong>de</strong><br />

Cristo po<strong>de</strong> purificar-nos <strong>de</strong> cada pecado. Que purificação! Isto não significa que eu não<br />

conheça profundamente a mim mesmo, ou que Deus não me reconheça perfeitamente.<br />

Não é que eu procure escondê-Lhe alguma coisa, n<strong>em</strong> que tente <strong>de</strong> não vê-Lo. Não,<br />

acontece que Ele é a luz, que também eu estou na luz e que ali o sangue precioso me<br />

purifica <strong>de</strong> cada pecado. O sangue t<strong>em</strong> condições <strong>de</strong> fazer isto!<br />

Alguém, oprimido pela sua <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>ria ser tentado a pensar que exist<strong>em</strong><br />

pecados imperdoáveis. L<strong>em</strong>br<strong>em</strong>o-nos então <strong>de</strong>stas palavras: "O sangue <strong>de</strong> Jesus Cristo,<br />

seu Filho, nos purifica <strong>de</strong> cada pecado". Gran<strong>de</strong>s pecados, pequenos pecados, pecados<br />

que pod<strong>em</strong> parecer tão pretos e pecados que não nos parec<strong>em</strong> tão graves, pecados que<br />

eu acredito possam ser perdoados e pecados que achamos imperdoáveis, sim, todos os<br />

pecados, conscientes ou inconscientes, tanto aqueles <strong>de</strong> que eu me l<strong>em</strong>bro como aqueles<br />

que já esqueci, estão contidos nestas palavras: "cada pecado". "O sangue <strong>de</strong> Jesus<br />

Cristo, seu Filho, nos purifica <strong>de</strong> cada pecado". E po<strong>de</strong> fazê-lo porque <strong>em</strong> primeiro lugar<br />

satisfaz o Pai.<br />

E se Deus, que vê todos os nossos pecados à luz, po<strong>de</strong> perdoá-los graças ao sangue,<br />

qual fundamento <strong>de</strong> acusação resta a Satanás? Ele po<strong>de</strong> nos acusar diante <strong>de</strong> Deus,<br />

porém, "se Deus é por nós, qu<strong>em</strong> será contra nós?" (Rm 8:31).<br />

Deus lhe mostra o sangue <strong>de</strong> seu Filho dileto e esta é a resposta suficiente à qual<br />

Satanás não po<strong>de</strong> replicar <strong>de</strong> maneira alguma. "Qu<strong>em</strong> intentará acusação contra os<br />

escolhidos <strong>de</strong> Deus? É Deus qu<strong>em</strong> os justifica. Qu<strong>em</strong> é que con<strong>de</strong>na? Pois é Cristo qu<strong>em</strong><br />

morreu, ou antes qu<strong>em</strong> ressuscitou <strong>de</strong>ntre os mortos, o qual está à direita <strong>de</strong> Deus, e<br />

também interce<strong>de</strong> por nós." (Rm 8:33-34). T<strong>em</strong>os ainda, no obstante, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

reconhecer a eficácia absoluta do sangue precioso. "Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote<br />

dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é,<br />

não <strong>de</strong>sta criação, n<strong>em</strong> por sangue <strong>de</strong> bo<strong>de</strong>s e bezerros, mas por seu próprio sangue,<br />

entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna re<strong>de</strong>nção." (Hb 9:11-12).<br />

8


Ele foi Re<strong>de</strong>ntor uma vez, e agora, quase dois mil anos <strong>de</strong>pois, é Sumo Sacerdote e<br />

Advogado. Ele está na presença <strong>de</strong> Deus e é a "propiciação pelos nossos pecados" (1 Jo<br />

2:1). Not<strong>em</strong>os b<strong>em</strong> as palavras <strong>de</strong> Hebreus 9:14: "Quanto mais o sangue <strong>de</strong> Cristo (...)<br />

purificará as suas consciências...". Estas palavras sublinham a eficácia perfeita do seu<br />

ministério, que é suficiente perante Deus. Qual <strong>de</strong>verá ser a nossa postura a respeito <strong>de</strong><br />

Satanás? Esta pergunta é importante porque o inimigo nos acusa não somente diante <strong>de</strong><br />

Deus, mas também <strong>em</strong> nossas próprias consciências: "Você pecou e continua a pecar.<br />

Você é fraco, e Deus não po<strong>de</strong> fazer nada por você". Estas são as armas das quais se<br />

serve Satanás.<br />

Então somos tentados <strong>de</strong> olhar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós, para tratar <strong>de</strong> achar <strong>em</strong> nós mesmos,<br />

<strong>em</strong> nossos sentimentos ou <strong>em</strong> nossa conduta, uma razão para acreditar que Satanás<br />

está errado; ou então somos tentados a reconhecer a nossa <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> e, indo até o<br />

outro extr<strong>em</strong>o, <strong>de</strong> abandonar-nos ao <strong>de</strong>sencorajamento e à <strong>de</strong>sesperação. A acusação<br />

converte-se assim <strong>em</strong> uma arma <strong>de</strong> Satanás, a mais forte e eficaz. Ele nos mostra<br />

nossos pecados e procura acusar-nos diante <strong>de</strong> Deus, e se não reconhec<strong>em</strong>os a fraqueza<br />

das suas acusações, caímos <strong>em</strong> seguida <strong>em</strong> <strong>de</strong>sespero. Ora, a razão pela qual aceitamos<br />

tão facilmente as acusações <strong>de</strong> Satanás é que esperamos ainda achar alguma justiça <strong>em</strong><br />

nós. Mas o fundamento <strong>de</strong> nossa esperança é falso e assim o adversário alcançou seu<br />

objetivo, que consiste <strong>em</strong> fazer-nos olhar para a direção errada, dando-lhe assim o modo<br />

<strong>de</strong> nos <strong>de</strong>ixar s<strong>em</strong> forças para resistir. Porém, se t<strong>em</strong>os aprendido a não confiar na<br />

carne, não ficar<strong>em</strong>os surpresos quando cairmos <strong>em</strong> algum pecado, porque a natureza<br />

própria da carne é o pecado. Compreend<strong>em</strong> o que quero dizer? Porque não conseguimos<br />

ainda conhecer a nossa verda<strong>de</strong>ira natureza, n<strong>em</strong> ver o impotente que somos, t<strong>em</strong>os<br />

ainda alguma confiança <strong>em</strong> nós mesmos, e somos ainda esmagados pelas acusações <strong>de</strong><br />

Satanás. Deus t<strong>em</strong> o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> regularizar a questão dos nossos pecados, mas nada po<strong>de</strong><br />

fazer por um hom<strong>em</strong> que está sob acusação, até que este hom<strong>em</strong> não coloca<br />

completamente a sua confiança no sangue <strong>de</strong> Cristo. O sangue fala <strong>em</strong> seu favor, porém<br />

o hom<strong>em</strong> dá ouvidos a Satanás. Cristo é o nosso advogado, mas nós, os acusados, nos<br />

sentamos ao lado do nosso acusador. Não compreend<strong>em</strong>os que somos dignos somente<br />

<strong>de</strong> morte; que, como ver<strong>em</strong>os <strong>em</strong> seguida, só pod<strong>em</strong>os ser crucificados <strong>de</strong> todas as<br />

maneiras. Não t<strong>em</strong>os ainda compreendido que somente Deus po<strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r ao<br />

acusador e que já o fez com o sangue precioso <strong>de</strong> seu Filho. A nossa salvação consiste<br />

<strong>em</strong> voltar o nosso olhar ao Senhor Jesus, e <strong>em</strong> ver que o sangue do Cor<strong>de</strong>iro t<strong>em</strong><br />

enfrentado toda a situação gerada pelo nosso pecado, e a t<strong>em</strong> resolvido.<br />

Este é o fundamento seguro com o qual pod<strong>em</strong>os contar. Não <strong>de</strong>ver<strong>em</strong>os nunca<br />

procurar respon<strong>de</strong>r a Satanás com a nossa boa conduta, mas s<strong>em</strong>pre com o sangue <strong>de</strong><br />

Jesus. Sim, somos pecadores, mas —louvado seja Deus!—, o sangue nos purifica <strong>de</strong> cada<br />

pecado. Deus olha para o sangue pelo qual seu Filho respon<strong>de</strong>u a acusação, e Satanás<br />

não t<strong>em</strong> mais base para nos atacar. A nossa fé no precioso sangue e a nossa recusa <strong>de</strong><br />

abandonar esta segura posição pod<strong>em</strong>, sozinhas, reduzir ao silencio as acusações <strong>de</strong><br />

Satanás e pô-lo <strong>em</strong> fuga.<br />

"Qu<strong>em</strong> intentará acusação contra os escolhidos <strong>de</strong> Deus? É Deus qu<strong>em</strong> os justifica.<br />

Qu<strong>em</strong> é que con<strong>de</strong>na? Pois é Cristo qu<strong>em</strong> morreu, ou antes qu<strong>em</strong> ressuscitou <strong>de</strong>ntre os<br />

mortos, o qual está à direita <strong>de</strong> Deus, e também interce<strong>de</strong> por nós." (Rm 8:33-34).<br />

E assim será até o fim: "E eles o venceram pelo sangue do Cor<strong>de</strong>iro e pela palavra do<br />

seu test<strong>em</strong>unho; e não amaram as suas vidas até à morte" (Ap 12:11). Que liberação<br />

para nós discernirmos melhor o valor que t<strong>em</strong>, aos olhos <strong>de</strong> Deus, o sangue precioso <strong>de</strong><br />

seu Filho dileto!<br />

CAPÍTULO 2 – A CRUZ DE CRISTO<br />

T<strong>em</strong>os visto que os oito primeiros capítulos da epístola aos Romanos pod<strong>em</strong> ser<br />

divididos <strong>em</strong> duas partes.<br />

Foi-nos mostrado, na primeira parte, que o sangue age segundo o que t<strong>em</strong>os feito;<br />

enquanto, na segunda parte, ver<strong>em</strong>os que a Cruz 1 age segundo o que nós somos.<br />

1 O autor aqui, e através <strong>de</strong>ste estudo, usa o termo "a Cruz" num sentido particular. Muitos<br />

leitores conhecerão b<strong>em</strong> o uso da expressão "a Cruz" para significar, <strong>em</strong> primeiro lugar, a inteira<br />

obra re<strong>de</strong>ntora cumprida historicamente na morte, sepultura, ressurreição e ascensão do Senhor<br />

Jesus (Fp 2:8-9); e, <strong>em</strong> segundo lugar, num sentido mais amplo, a união dos crentes com Ele<br />

através da graça (Romanos 6:4; Efésios 2:5-6). Des<strong>de</strong> o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> Deus, neste uso do<br />

9


Precisamos do sangue <strong>de</strong> Jesus para o perdão; e precisamos da Cruz para ser liberados.<br />

Tratamos brev<strong>em</strong>ente nas páginas prece<strong>de</strong>ntes o primeiro aspecto e nos <strong>de</strong>ter<strong>em</strong>os<br />

agora no segundo; porém, antes <strong>de</strong> fazê-lo, consi<strong>de</strong>rar<strong>em</strong>os ainda algum outro passo<br />

importante, referente <strong>em</strong> toda esta seção que sublinha a diferença entre o t<strong>em</strong>a tratado<br />

e os pensamentos seguidos nestas duas partes.<br />

OUTRA DISTINÇÃO<br />

Dois aspectos da ressurreição são mencionados nas duas partes, com referências aos<br />

capítulos 4 e 6. na epístola aos Romanos, 4:25, a ressurreição do Senhor Jesus está<br />

ligada à nossa justificação: "O qual (Jesus) por nossos pecados foi entregue, e<br />

ressuscitou para nossa justificação." O t<strong>em</strong>a <strong>em</strong> vista neste fragmento é a nossa posição<br />

diante <strong>de</strong> Deus. mas <strong>em</strong> Romanos 6:4 a nossa ressurreição nos é mostrada como o dom<br />

<strong>de</strong> uma nova vida, com vistas a um caminho santificado: "...para que, como Cristo foi<br />

ressuscitado (...) assim and<strong>em</strong>os nós também <strong>em</strong> novida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida". A palavra que está<br />

aqui diante <strong>de</strong> nós t<strong>em</strong> a ver com o nosso caminho diante <strong>de</strong> Deus. Por outra parte, se<br />

fala da paz nos capítulos 5 e 8. Romanos 5 fala da paz com Deus que é o fruto da<br />

justificação mediante a fé <strong>em</strong> seu sangue: "Tendo sido, pois, justificados pela fé, t<strong>em</strong>os<br />

paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo" (Rm 5:1). Isto significa que havendo eu<br />

recebido o perdão pelos meus pecados, Deus já não mais será para mim causa <strong>de</strong> terror<br />

e <strong>de</strong> angústia. Eu, que era inimigo <strong>de</strong> Deus, fui "reconciliado com Ele pela morte <strong>de</strong> seu<br />

Filho" (Rm 5:10). Porém, <strong>em</strong> seguida, me l<strong>em</strong>bro que estou por mim mesmo sujeito a<br />

gran<strong>de</strong> tormento. Existe ainda incerteza <strong>em</strong> mim, porque há no fundo do meu "eu"<br />

alguma coisa que me <strong>em</strong>purra a pecar. Tenho a paz com Deus, mas não tenho a paz<br />

comigo mesmo. Existe, <strong>de</strong> fato, a guerra no meu coração. Há uma <strong>de</strong>scrição muito clara<br />

<strong>em</strong> Romanos 7, on<strong>de</strong> a carne e o espírito <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>aram um conflito mortal <strong>em</strong> mim.<br />

Mas partindo daqui, a Palavra nos conduz ao capítulo 8, à paz interior pelo caminho<br />

segundo o Espírito. "Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é<br />

vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimiza<strong>de</strong> contra Deus, pois não é sujeita à<br />

lei <strong>de</strong> Deus, n<strong>em</strong>, <strong>em</strong> verda<strong>de</strong>, o po<strong>de</strong> ser" (Rm 8:6-7).<br />

Prosseguindo ainda no nosso estudo, v<strong>em</strong>os que a primeira meta<strong>de</strong> da segunda seção<br />

trata <strong>em</strong> geral da questão da justificação. Veja por ex<strong>em</strong>plo: "Sendo justificados<br />

gratuitamente pela sua graça, pela re<strong>de</strong>nção que há <strong>em</strong> Cristo Jesus. Ao qual Deus<br />

propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para d<strong>em</strong>onstrar a sua justiça pela<br />

r<strong>em</strong>issão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência <strong>de</strong> Deus; para d<strong>em</strong>onstração da<br />

sua justiça neste t<strong>em</strong>po presente, para que ele seja justo e justificador daquele que t<strong>em</strong><br />

fé <strong>em</strong> Jesus." (Romanos 3:24-26).<br />

E ainda: "Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé<br />

lhe é imputada como justiça (...) Mas também por nós, a qu<strong>em</strong> será tomado <strong>em</strong> conta,<br />

os que cr<strong>em</strong>os naquele que <strong>de</strong>ntre os mortos ressuscitou a Jesus nosso Senhor; o qual<br />

por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação." (Romanos<br />

4:5,24-25).<br />

A segunda meta<strong>de</strong> da seção tratada, pelo contrário, t<strong>em</strong> como sujeito principal o<br />

interrogativo correspon<strong>de</strong>nte à santificação. De fato, <strong>em</strong> Romanos 6:19 e 22 diz: "...pois<br />

que, assim como apresentastes os seus m<strong>em</strong>bros para servir<strong>em</strong> à imundícia, e à<br />

malda<strong>de</strong> para malda<strong>de</strong>, assim apresentai agora os seus m<strong>em</strong>bros para servir<strong>em</strong> à justiça<br />

para santificação (...) Mas agora, libertados do pecado, e feitos servos <strong>de</strong> Deus, ten<strong>de</strong>s o<br />

seu fruto para santificação, e por fim a vida eterna". Então, quando conhec<strong>em</strong>os a<br />

preciosa verda<strong>de</strong> da justificação pela fé, conhec<strong>em</strong>os somente a meta<strong>de</strong>. T<strong>em</strong>os<br />

resolvido somente o probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> nossa posição diante <strong>de</strong> Deus mas, à medida que<br />

avançamos no conhecimento, Deus t<strong>em</strong> alguma coisa a mais para nos oferecer; ou seja,<br />

a solução do probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> nossa conduta. O <strong>de</strong>senvolvimento do pensamento, nestes<br />

capítulos da epístola aos Romanos, sublinha a importância <strong>de</strong>ste ponto. O segundo passo<br />

termo, a função <strong>de</strong> "o sangue" <strong>em</strong> relação ao perdão dos pecados (como tratado no capítulo<br />

prece<strong>de</strong>nte), é claramente incluída (com tudo que se segue neste estudo) como uma parte da obra<br />

da Cruz.<br />

Neste e nos seguintes capítulos, contudo, o autor foi constrangido, por falta <strong>de</strong> um termo<br />

alternativo, a utilizar "a Cruz" num sentido doutrinário muito mais particular e limitado, a fim <strong>de</strong><br />

traçar uma útil distinção entre a substituição e a i<strong>de</strong>ntificação, como sendo, <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista<br />

humano, dois aspectos separados da doutrina da re<strong>de</strong>nção.<br />

Portanto, o nome do inteiro e usado por uma das partes. O leitor <strong>de</strong>verá ter presente isto nos<br />

textos que se segue (N. do E.).<br />

10


é o resultado do primeiro e se nós ficamos no primeiro ter<strong>em</strong>os uma vida cristã ainda<br />

imperfeita, ou por <strong>de</strong>baixo do normal.<br />

Como pod<strong>em</strong>os, então, viver uma vida cristã normal? Como po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os fazer? É<br />

preciso, naturalmente, começar por resolver o perdão dos pecados; é necessária a<br />

justificação e a paz com Deus: isto constitui um fundamento indispensável. Porém, uma<br />

vez estabelecida esta base como o nosso primeiro ato <strong>de</strong> fé <strong>em</strong> Cristo, fica claro, do que<br />

prece<strong>de</strong>, que <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os avançar para alguma coisa a mais. Assim v<strong>em</strong>os que o sangue<br />

t<strong>em</strong> efeito sobre os nossos pecados. O Senhor Jesus os levou <strong>em</strong> nosso lugar sobre a<br />

Cruz, como nosso substituto, e assim obteve o perdão para nós, a justificação e a<br />

reconciliação. Mas <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os, agora, dar um passo adiante no conhecimento do plano <strong>de</strong><br />

Deus para compreen<strong>de</strong>r como age sobre o princípio do pecado que há <strong>em</strong> nós. O sangue<br />

po<strong>de</strong> cancelar os meus pecados, mas não po<strong>de</strong> suprimir meu "velho hom<strong>em</strong>". É preciso<br />

que a Cruz o faça morrer. O sangue <strong>de</strong>ixa os pecados <strong>de</strong> lado, mas é necessária a Cruz<br />

para pôr <strong>de</strong> lado o pecador.<br />

Achar<strong>em</strong>os raramente a palavra "pecador" nos primeiros quatro capítulos da epístola<br />

aos Romanos, porque não são os pecadores o alvo principal, mas o pecado que têm<br />

cometido. A palavra "pecador" aparece pela primeira vez no capítulo 5, e é importante<br />

observar como é introduzida a idéia do pecador. Diz-se neste capítulo que o pecador é<br />

assim porque nasceu pecador, e não porque cometeu pecados. A diferença é importante.<br />

É verda<strong>de</strong> que amiú<strong>de</strong>, para convencer o hom<strong>em</strong> da rua <strong>de</strong> que é um pecador, o servo<br />

do Senhor utiliza a instância b<strong>em</strong> conhecida <strong>de</strong> Romanos 3:23, on<strong>de</strong> diz que "todos<br />

pecaram"; mas o uso <strong>de</strong>ste texto não está estritamente <strong>de</strong> acordo com as Escrituras. Os<br />

versículos que são utilizados assim comumente pod<strong>em</strong>, às vezes, pôr <strong>em</strong> perigo a<br />

integração e conduzir a uma conclusão errada. De fato, a epístola aos Romanos não<br />

ensina que sejamos pecadores porque comet<strong>em</strong>os pecados, senão que comet<strong>em</strong>os<br />

pecado porque somos pecadores. Somos pecadores por natureza, antes que pelo nosso<br />

comportamento. Como <strong>de</strong>clara Romanos 5:19: "pela <strong>de</strong>sobediência <strong>de</strong> um só hom<strong>em</strong>,<br />

muitos foram feitos pecadores". Como nos convert<strong>em</strong>os <strong>em</strong> pecadores? Pela<br />

<strong>de</strong>sobediência <strong>de</strong> Adão. Nós não nos convert<strong>em</strong>os <strong>em</strong> pecadores por aquilo que fiz<strong>em</strong>os,<br />

mas a causa daquilo que Adão fez e daquilo <strong>em</strong> que se converteu. Eu falo inglês, mas<br />

isso não me converte num inglês. Eu sou <strong>em</strong> verda<strong>de</strong> chinês. Assim, o capítulo 3 chama<br />

a nossa atenção para o que t<strong>em</strong>os feito. "Todos pecaram", mas não é porque pecamos<br />

que nos convert<strong>em</strong>os <strong>em</strong> pecadores. Um dia fiz esta pergunta a uma aula <strong>de</strong> escolares:<br />

"Qu<strong>em</strong> é um pecador?" A resposta imediata <strong>de</strong>les foi: "Aquele que peca". Sim, aquele<br />

que peca é um pecador, mas o fato <strong>de</strong> que peca é simplesmente a prova <strong>de</strong> que ele já é<br />

um pecador, não é a causa. Aquele que peca é um pecador, porém também é verda<strong>de</strong><br />

que aquele que não peca, mas pertence à raça <strong>de</strong> Adão, é igualmente um pecador e<br />

precisa <strong>de</strong> re<strong>de</strong>nção. Vocês me segu<strong>em</strong>? Exist<strong>em</strong> maus pecadores e também bons;<br />

exist<strong>em</strong> pecadores "morais" e pecadores "corruptos"; porém todos são igualmente<br />

pecadores. Nós pensamos, às vezes, que se não tivéss<strong>em</strong>os feito certas coisas, tudo iria<br />

melhor; mas o mal está escondido muito mais profundamente que naquilo que nós t<strong>em</strong>os<br />

cometido: está <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós. Um chinês po<strong>de</strong> ter nascido <strong>em</strong> América e ser incapaz <strong>de</strong><br />

falar uma palavra <strong>em</strong> chinês, mas isto não evita que fique chinês pelo fato <strong>de</strong> que ele é<br />

chinês. É o nascimento, a orig<strong>em</strong> o que conta. Assim, eu sou um pecador porque nasci<br />

<strong>em</strong> Adão. Não é pela minha conduta, mas pela minha herança, pela minha ascendência.<br />

Não sou um pecador porque peco, mas peco porque <strong>de</strong>sço <strong>de</strong> uma cepa malvada. Eu<br />

peco porque sou um pecador. Nós nos inclinamos a pensar que aquilo que t<strong>em</strong>os<br />

cometido é muito mau, porém que nós mesmos não somos tão maus. No entanto, o<br />

Senhor quer nos fazer compreen<strong>de</strong>r que a nossa natureza é malvada, fundamentalmente<br />

malvada. A raiz do mal é o pecado; é necessário agir sobre ele. Os nossos pecados são<br />

lavados pelo sangue, porém quanto a nós mesmos, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os morrer sobre a Cruz. O<br />

sangue nos assegura o perdão para tudo o que t<strong>em</strong>os feito; a Cruz nos assegura a<br />

liberação daquilo que somos.<br />

A CONDIÇÃO NATURAL DO HOMEM<br />

T<strong>em</strong>os assim chegado a Romanos 5:12: "Portanto, como por um hom<strong>em</strong> entrou o<br />

pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os<br />

homens por isso que todos pecaram."<br />

Nesta gran<strong>de</strong> passag<strong>em</strong>, a graça é colocada <strong>em</strong> contraste com o pecado, e a<br />

obediência <strong>de</strong> Cristo é oposta à <strong>de</strong>sobediência <strong>de</strong> Adão. Este fragmento fica no início da<br />

segunda parte da carta aos Romanos (<strong>de</strong> 5:12 até 8:3) <strong>de</strong> que, agora, nos ocupar<strong>em</strong>os<br />

mais particularmente, e o t<strong>em</strong>a que aqui é tratado conduz <strong>de</strong> uma conclusão que será a<br />

11


ase <strong>de</strong> todas as meditações que seguirão. Qual é esta conclusão? A achamos no<br />

versículo 19, citado acima: "Porque, como pela <strong>de</strong>sobediência <strong>de</strong> um só hom<strong>em</strong>, muitos<br />

foram feitos pecadores, assim pela obediência <strong>de</strong> um, muitos serão feitos justos". O<br />

Espírito <strong>de</strong> Deus busca aqui mostrar-nos como éramos antes e no que nos convert<strong>em</strong>os<br />

<strong>de</strong>pois.<br />

No inicio <strong>de</strong> nossa vida cristã estamos preocupados com as nossas ações e não com a<br />

nossa natureza; estamos entristecidos mais com aquilo que t<strong>em</strong>os feito que com aquilo<br />

que somos. Imaginamos que se pudéss<strong>em</strong>os só reparar certas ações, po<strong>de</strong>ríamos ser<br />

bons cristãos e nos esforçamos, então, para mudar nossa maneira <strong>de</strong> agir. Mas o<br />

resultado não é o que esperamos. Reparamos, <strong>de</strong>salentados, que o mal não provém<br />

somente das dificulda<strong>de</strong>s exteriores, mas que há, <strong>em</strong> efeito, uma causa mais grave <strong>em</strong><br />

nosso interior. Desejamos que o Senhor goste <strong>de</strong> nós, mas achamos <strong>em</strong> nós alguma<br />

coisa que não <strong>de</strong>seja gostar dEle. Buscamos <strong>de</strong> sermos humil<strong>de</strong>s, mas há alguma coisa<br />

<strong>em</strong> nossa natureza que rejeita a humilda<strong>de</strong>. Desejamos amar, mas não há amor <strong>em</strong> nós.<br />

Sorrimos e procuramos aparecer muito amáveis, mas intimamente nos sentimos muito<br />

longe da verda<strong>de</strong>ira bonda<strong>de</strong>. Porém tentamos corrigir o nosso exterior, mais reparamos<br />

quão profundas são as raízes do mal. Então, vamos ao Senhor e lhe diz<strong>em</strong>os: "Senhor,<br />

agora vejo! Não é só que faço o mal; eu mesmo sou malvado".<br />

A conclusão <strong>de</strong> Romanos 5:19 começa a iluminar o nosso coração. Somos pecadores.<br />

Somos m<strong>em</strong>bros <strong>de</strong> uma raça <strong>de</strong> criaturas que, pela sua constituição, são muito<br />

diferentes daquilo que Deus tinha planejado. A causa da queda, uma mudança<br />

fundamental si produziu no caráter <strong>de</strong> Adão, que o converteu num pecador, num hom<strong>em</strong><br />

incapaz, por natureza, <strong>de</strong> gostar a Deus; o parecido que nós t<strong>em</strong>os com a família não é<br />

simplesmente superficial, senão que abrange inteiramente a nossa natureza interior.<br />

Fomos "constituídos pecadores". Como chegamos a isto? "Pela <strong>de</strong>sobediência <strong>de</strong> um só",<br />

diz o apóstolo.<br />

Permitam-me ilustrar este fato com uma analogia. O meu nome é Nee. É um nome<br />

chinês muito comum. Como eu o recebi? Não fui eu que o escolhi. Não examinei a lista<br />

<strong>de</strong> nomes chineses para eleger este. O fato que o meu nome seja Nee não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>em</strong><br />

nada <strong>de</strong> mim, e meu pai era Nee porque meu avô era Nee, etc... Se eu atuo como um<br />

Nee sou um Nee, e se não atuo como um Nee, igualmente sou um Nee. Se eu virasse<br />

Presi<strong>de</strong>nte da República China serei Nee, e se me tornasse mendigo ainda seria Nee.<br />

Nada do que eu faça ou <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> fazer po<strong>de</strong>rá me converter numa outra coisa que não<br />

seja Nee. Nós somos pecadores não a causa <strong>de</strong> nós mesmos, mas por causa <strong>de</strong> Adão. Eu<br />

sou pecador não porque peco individualmente, mas porque eu estava <strong>em</strong> Adão quando<br />

ele pecou. Porque <strong>de</strong>sço <strong>de</strong> Adão, sou uma parte <strong>de</strong>le. E, ainda mais, não posso fazer<br />

nada para mudar isso. N<strong>em</strong> sequer melhorando a minha conduta posso fazer <strong>de</strong> mim<br />

mesmo outra coisa que não seja uma parte <strong>de</strong> Adão, ou seja, um pecador.<br />

Um dia na China, eu falava sobre isto e fiz esta afirmação: "Nós todos pecamos <strong>em</strong><br />

Adão". Um hom<strong>em</strong> disse: "Não entendo". Eu tentarei então <strong>de</strong> me explicar <strong>de</strong>ste modo:<br />

"Todos os chineses têm a sua orig<strong>em</strong> <strong>em</strong> Huang-Ti. Quatro mil anos atrás, entrou <strong>em</strong><br />

guerra com Si-Iu. Seu inimigo era fortíssimo, porém, Huang-Ti venceu Si-Iu e o matou.<br />

Depois disso, Huang-Ti fundou a nação chinesa. Ora, on<strong>de</strong> nós estaríamos se Huang-Ti<br />

não tivesse vencido e matado seu inimigo, mas tivesse sido morto ele mesmo? On<strong>de</strong><br />

estariam vocês?" "Eu não existiria", disse o meu interlocutor. "Ah, não! Huang-Ti podia<br />

morrer sua morte, porém vocês podiam <strong>de</strong> qualquer jeito viver as suas vidas".<br />

"Impossível!", gritou aquele hom<strong>em</strong>. "Se ele tivesse morrido, eu nunca po<strong>de</strong>ria ter<br />

vivido, porque é <strong>de</strong>le que eu recebi a vida, <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>scendência".<br />

V<strong>em</strong>os nós a unida<strong>de</strong> da vida humana? A nossa vida v<strong>em</strong> <strong>de</strong> Adão. Se seu avô fosse<br />

morto na ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> três anos, on<strong>de</strong> estariam vocês? Teriam morrido nele! A sua existência<br />

está ligada à <strong>de</strong>le. Ora, exatamente da mesma maneira a existência <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong><br />

vocês está ligada à <strong>de</strong> Adão. Ninguém po<strong>de</strong> dizer: "Eu nunca estive no É<strong>de</strong>n", porque<br />

virtualmente nós estávamos lá quando Adão ce<strong>de</strong>u às palavras da serpente. Estamos,<br />

então, todos implicados no pecado <strong>de</strong> Adão, e a causa do nosso nascimento <strong>em</strong> Adão<br />

herdamos <strong>de</strong>le todo aquilo <strong>em</strong> que ele se converteu como conseqüência do seu pecado,<br />

ou seja, a natureza <strong>de</strong> Adão, que é a natureza do pecador. T<strong>em</strong>os recebido <strong>de</strong>le a nossa<br />

existência física e, como sua vida se converteu numa vida <strong>de</strong> pecado, numa natureza<br />

pecaminosa, a natureza que nós t<strong>em</strong>os <strong>de</strong>le é também pecaminosa. Assim, como já<br />

diss<strong>em</strong>os, o mal é a nossa herança, não somente no nosso agir. A menos que possamos<br />

mudar o nosso nascimento, não há liberação para nós. Mas é precisamente nesta direção<br />

que achar<strong>em</strong>os a solução do nosso probl<strong>em</strong>a, porque é exatamente assim que Deus o<br />

fez.<br />

12


COMO EM ADÃO, ASSIM EM CRISTO<br />

Em Romanos 5:12-21 não si fala somente <strong>de</strong> Adão; também se fala do Senhor Jesus.<br />

"Portanto, como por um hom<strong>em</strong> entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte,<br />

assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram". Em Adão<br />

receb<strong>em</strong>os tudo o que é <strong>de</strong> Adão; <strong>em</strong> Cristo receb<strong>em</strong>os tudo o que é <strong>de</strong> Cristo.<br />

As expressões "<strong>em</strong> Adão" e "<strong>em</strong> Cristo" são suficient<strong>em</strong>ente entendidas pelos cristãos<br />

e, a risco <strong>de</strong> me repetir, gostaria <strong>de</strong> sublinhar ainda com uma d<strong>em</strong>onstração o significado<br />

hereditário e racial da expressão "<strong>em</strong> Cristo". Esta d<strong>em</strong>onstração encontra-se na carta<br />

aos Hebreus. Vocês se l<strong>em</strong>bram que, na 1° parte <strong>de</strong>sta carta, o autor trata <strong>de</strong><br />

d<strong>em</strong>onstrar que Melquise<strong>de</strong>que é maior que Levi? Recordarão que o argumento para<br />

d<strong>em</strong>onstrar é que o sacerdócio <strong>de</strong> Cristo é maior que aquele <strong>de</strong> Arão, que pertencia à<br />

tribo <strong>de</strong> Levi. Ora, para d<strong>em</strong>onstrar isto, o autor <strong>de</strong>ve provar que o sacerdócio <strong>de</strong><br />

Melquise<strong>de</strong>que é maior do que aquele <strong>de</strong> Levi, pela simples razão que o sacerdócio <strong>de</strong><br />

Cristo é "segundo a ord<strong>em</strong> <strong>de</strong> Melquise<strong>de</strong>que". É b<strong>em</strong> notório que o nosso Senhor surgiu<br />

da tribo da Judá, acerca da qual Moisés nada disse que concernisse ao sacerdócio. E a<br />

coisa é ainda mais evi<strong>de</strong>nte se surge, a s<strong>em</strong>elhança <strong>de</strong> Melquise<strong>de</strong>que, um outro<br />

Sacerdote que foi feito tal não <strong>em</strong> teor <strong>de</strong> uma lei <strong>de</strong> prescrições humanas, mas <strong>em</strong><br />

virtu<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> uma vida indissolúvel; porque lhe é rendido este test<strong>em</strong>unho: "Tu és<br />

sacerdote eternamente, segundo a ord<strong>em</strong> <strong>de</strong> Melquise<strong>de</strong>que" (Hb 7:17). Ao contrário, o<br />

sacerdócio <strong>de</strong> Arão foi, naturalmente, segundo a ord<strong>em</strong> <strong>de</strong> Levi. Se o autor po<strong>de</strong> nos<br />

d<strong>em</strong>onstrar que Melquise<strong>de</strong>que, aos olhos <strong>de</strong> Deus, é maior que Levi, ele conseguiu o<br />

seu objetivo e o prova <strong>de</strong> maneira notável.<br />

No capítulo 7 dos Hebreus se diz que Abraão, um dia, voltando da batalha dos Reis<br />

(Gênesis 14), ofereceu a décima parte do seu botim a Melquise<strong>de</strong>que e foi por ele<br />

abençoado. Se Abraão ofereceu a décima parte a Melquise<strong>de</strong>que, significa que Levi era<br />

menos importante que Melquise<strong>de</strong>que. Por quê? O fato <strong>de</strong> que Abraão fez a oferta<br />

significa também que Isaque, "<strong>em</strong> Abraão", ofereceu a Melquise<strong>de</strong>que. Mas se isso era<br />

verda<strong>de</strong>, então também Jacó "<strong>em</strong> Abraão", o que, pela sua vez, significa que também<br />

Levi "<strong>em</strong> Abraão" fez a sua oferta a Melquise<strong>de</strong>que. Ora, s<strong>em</strong> contradição, o inferior é<br />

abençoado pelo superior (Hebreus 7:7). Levi está numa posição inferior à <strong>de</strong><br />

Melquise<strong>de</strong>que, e portanto o sacerdócio <strong>de</strong> Arão é inferior àquele do Senhor Jesus. Levi,<br />

na época da batalha dos Reis, não tinha sido ainda n<strong>em</strong> sequer concebido, porém já<br />

estava "nos lombos <strong>de</strong> seu pai (Abraão)" e, por assim dizer, através <strong>de</strong> Abraão ele<br />

"pagou dízimos" (Hebreus 7:9-10).<br />

Este é <strong>de</strong> fato o exato significado do termo "<strong>em</strong> Cristo".<br />

Abraão, como cabeça da família da fé, inclui <strong>em</strong> si mesmo a inteira família. Quando<br />

ele fez a sua oferta a Melquise<strong>de</strong>que, a inteira família fez aquela oferta nele. Eles não<br />

ofereceram separadamente como indivíduos, mas estavam nele, portanto ao fazer a sua<br />

oferta ele incluiu <strong>em</strong> si a sua <strong>de</strong>scendência. Assim, nos é apresentada uma nova<br />

possibilida<strong>de</strong>. Em Adão todos estamos perdidos. Através da <strong>de</strong>sobediência <strong>de</strong> um hom<strong>em</strong><br />

nós fomos todos constituídos pecadores. Por meio <strong>de</strong>le entrou o pecado e, através do<br />

pecado, a morte; e através <strong>de</strong> toda a raça o pecado reinou, daquele dia <strong>em</strong> diante, para<br />

a morte. Mas agora um raio <strong>de</strong> luz foi jogado sobre a cena. Através da obediência <strong>de</strong> um<br />

Outro nós pod<strong>em</strong>os ser constituídos justos. On<strong>de</strong> o pecado abundou, a graça<br />

superabundou, e como o pecado reinou dando a morte, assim po<strong>de</strong> a graça reinar<br />

através da justiça, dando a vida eterna por meio <strong>de</strong> Jesus Cristo nosso Senhor (Rm 5:19-<br />

21). A nossa <strong>de</strong>sesperança está <strong>em</strong> Adão; a nossa esperança, <strong>em</strong> Cristo.<br />

O MEIO DIVINO DA LIBERAÇÃO<br />

Deus <strong>de</strong>seja certamente que esta consi<strong>de</strong>ração nos conduza à liberação prática do<br />

pecado. Paulo o mostra muito claramente quando inicia o capítulo 6 <strong>de</strong> sua carta aos<br />

Romanos com esta pergunta: "Que dir<strong>em</strong>os pois? Permanecer<strong>em</strong>os no pecado?" todo seu<br />

ser se rebela diante do pensamento <strong>de</strong> uma tal possibilida<strong>de</strong>. "De modo nenhum!",<br />

exclama. Como po<strong>de</strong>ria um Deus Santo estar satisfeito <strong>de</strong> ter filhos impuros e<br />

enca<strong>de</strong>ados ao pecado? Assim, "como viver<strong>em</strong>os ainda nele (no pecado)?" (Rm 6:1-2).<br />

Deus t<strong>em</strong>, então, provi<strong>de</strong>nciado um meio po<strong>de</strong>roso e eficaz para liberar-nos do domínio<br />

do pecado. Mas é esse o nosso probl<strong>em</strong>a; nasc<strong>em</strong>os pecadores, como pod<strong>em</strong>os eliminar<br />

a nossa herança <strong>de</strong> pecado? Se somos nascidos <strong>em</strong> Adão, como po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os sair <strong>de</strong><br />

Adão? Deix<strong>em</strong>-me dizê-lo <strong>em</strong> seguida, o sangue <strong>de</strong> Cristo não po<strong>de</strong> nos fazer sair <strong>de</strong><br />

Adão. Solo nos resta um único meio. Já que entramos na raça <strong>de</strong> Adão através do<br />

nascimento, só po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os sair através da morte. Para pôr fim a nossa natureza<br />

13


pecaminosa é necessário pôr fim a nossa vida. A escravidão do pecado veio pelo<br />

nascimento; a liberação do pecado v<strong>em</strong> com a morte —e é esse precisamente o meio <strong>de</strong><br />

liberação que Deus dispus. A morte é o segredo da liberação. "Nós, que estamos mortos<br />

para o pecado..." (Rm 6:1).<br />

Mas como pod<strong>em</strong>os morrer? Muitos <strong>de</strong> nós, talvez, t<strong>em</strong>os realizado enormes esforços<br />

para livrar-nos <strong>de</strong>ste estado <strong>de</strong> pecado, só para achá-lo ainda mas tenaz. Qual será,<br />

então, a saída? Não certamente tratando <strong>de</strong> matar-se, senão somente com o<br />

reconhecimento <strong>de</strong> que Deus t<strong>em</strong> resolvido o nosso probl<strong>em</strong>a "<strong>em</strong> Cristo". Isto é<br />

retomado na <strong>de</strong>claração sucessiva do apóstolo Paulo: "...todos quantos fomos batizados<br />

<strong>em</strong> Jesus Cristo fomos batizados na sua morte" (Rm 6:3). Todavia se Deus t<strong>em</strong><br />

provi<strong>de</strong>nciado a nossa morte "<strong>em</strong> Jesus Cristo", é necessário que nós sejamos "nEle"<br />

para que isto seja verda<strong>de</strong>; e isto parece um probl<strong>em</strong>a tão difícil. Como pod<strong>em</strong>os ser<br />

colocados "<strong>em</strong> Cristo"? Também aqui Deus v<strong>em</strong> <strong>em</strong> nosso auxílio. De fato, nós não<br />

possuímos meio algum <strong>de</strong> assumir a nossa posição <strong>em</strong> Cristo, porém, e o que é mais<br />

importante, não t<strong>em</strong>os a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> procurar fazê-lo, porque já estamos "<strong>em</strong><br />

Cristo". Isso que nós não podíamos fazer por nós mesmos, Deus t<strong>em</strong> realizado por nós.<br />

Ele nos colocou <strong>em</strong> Cristo. L<strong>em</strong>br<strong>em</strong> <strong>de</strong> 1 Coríntios 1:30. Acredito que este seja um dos<br />

mais preciosos versículos <strong>de</strong> todo o Novo Testamento: "Vós sois <strong>de</strong>le, <strong>em</strong> Jesus Cristo".<br />

Como? Por meio dEle: "...o qual para nós foi feito por Deus"<br />

Louvado seja Deus! Não nos <strong>de</strong>u a preocupação <strong>de</strong> procurarmos um meio para sermos<br />

"<strong>em</strong> Cristo". Não precisamos predispor a nossa nova posição. Deus o t<strong>em</strong> feito por nós; e<br />

não somente t<strong>em</strong> predisposto a nossa posição <strong>em</strong> Cristo, mas também a cumpriu.<br />

Estamos já <strong>em</strong> Cristo; não t<strong>em</strong>os, então, necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> esforçar-nos para estar nEle.<br />

Este é um fato divino, e foi cumprido. Ora, se isto é verda<strong>de</strong>, então se segu<strong>em</strong> algumas<br />

coisas. Na d<strong>em</strong>onstração <strong>de</strong> Hebreus 7, que t<strong>em</strong>os já consi<strong>de</strong>rado, vimos que "<strong>em</strong><br />

Abraão" todo Israel —e portanto Levi, que ainda não tinha nascido— ofereceu o dizimo a<br />

Melquise<strong>de</strong>que. Não ofereceram separada ou individualmente, mas estavam <strong>em</strong> Abraão<br />

quando ele ofereceu, e a sua oferta abrangeu toda a sua progênie. Esta, então, é a<br />

verda<strong>de</strong>ira figura <strong>de</strong> nós mesmos "<strong>em</strong> Cristo". Quando o Senhor Jesus esteve na Cruz,<br />

todos nós morr<strong>em</strong>os —não separadamente, porque não tínhamos ainda nascido—, mas<br />

morr<strong>em</strong>os nEle porque já éramos nEle. "Um morreu por todos, logo todos morreram" (2<br />

Coríntios 5:14). Quando Ele foi crucificado, todos nós fomos crucificados, lá, com Ele.<br />

Freqüent<strong>em</strong>ente, quando se predica nas cida<strong>de</strong>s chinesas, é necessário usar ex<strong>em</strong>plos<br />

muito simples para verda<strong>de</strong>s divinas muito profundas. L<strong>em</strong>bro-me que um dia peguei um<br />

livro, coloquei nele um pedacinho <strong>de</strong> papel, e disse àquelas pessoas tão símplices:<br />

"Agora prest<strong>em</strong> muita atenção. Pego um pedacinho <strong>de</strong> papel. Ele t<strong>em</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

completamente diferente da do livro. Neste momento não o necessito, e o guardo <strong>de</strong>ntro<br />

do livro. Agora faço alguma coisa com este livro. O envio para Xangai. Não envio o<br />

pedacinho <strong>de</strong> papel, porém o pedacinho <strong>de</strong> papel foi colocado <strong>de</strong>ntro do livro. O que<br />

acontece com o pedacinho <strong>de</strong> papel? Po<strong>de</strong>rá o livro ir para Xangai e o pedacinho <strong>de</strong> papel<br />

que está <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>le ficar aqui? Po<strong>de</strong> o pedacinho <strong>de</strong> papel levar uma sorte diferente à<br />

do livro, se está <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>le? Não! Aon<strong>de</strong> vá o livro, lá irá igualmente o pedacinho <strong>de</strong><br />

papel. Se <strong>de</strong>ixar cair o livro no rio, também o pedacinho <strong>de</strong> papel cairá nele, e se eu<br />

volto pegá-lo rapidamente, salvarei também o pedacinho <strong>de</strong> papel, porque ele está<br />

<strong>de</strong>ntro do livro. Assim, "vós sois <strong>de</strong>le (<strong>de</strong> Deus), <strong>em</strong> Jesus Cristo".<br />

O Senhor Deus mesmo nos colocou <strong>em</strong> Cristo, e o que Ele fez a Jesus Cristo, Ele o fez<br />

à humanida<strong>de</strong> toda. O nosso <strong>de</strong>stino está ligado ao <strong>de</strong>le. Aquilo que Ele atravessou, nós<br />

o atravessamos também, porque "estar <strong>em</strong> Cristo" quer dizer estar i<strong>de</strong>ntificados com Ele<br />

<strong>em</strong> sua morte e ressurreição. Ele foi crucificado; então, o que será <strong>de</strong> nós? Pedir<strong>em</strong>os a<br />

Deus para que nos crucifique a nós também? Nunca! Já que Cristo foi crucificado, todos<br />

nós fomos já crucificados nEle; e como a sua crucifixão já aconteceu, a nossa não po<strong>de</strong><br />

ainda estar no futuro. Duvido que vocês possam achar no Novo Testamento um único<br />

texto no qual se diga que a nossa crucifixão ainda <strong>de</strong>ve acontecer.<br />

Todas as referências a ela estão na forma "aoristo", do verbo grego que indica aquilo<br />

que aconteceu "uma vez para s<strong>em</strong>pre", aquilo que aconteceu "eternamente no passado"<br />

(veja Rm 6:6; Gl 2:20; 5:24; 6:14). E como ninguém po<strong>de</strong> matar-se por meio da Cruz,<br />

porque é materialmente impossível, assim também sob o ponto <strong>de</strong> vista espiritual, Deus<br />

não nos pe<strong>de</strong> para nos crucificar a nós mesmos. Já fomos crucificados quando Cristo foi<br />

crucificado, porque Deus nos colocou nEle. O fato <strong>de</strong> que estejamos mortos <strong>em</strong> Cristo<br />

não é simplesmente uma posição doutrinária, mas uma realida<strong>de</strong> eterna e inegável.<br />

O QUE A SUA MORTE E RESSURREIÇÃO REPRESENTAM E ABRANGEM<br />

14


O Senhor Jesus, quando morreu na Cruz, verteu seu sangue; doava assim a sua vida<br />

s<strong>em</strong> pecado para expiar os nossos pecados e satisfazer a justiça e santida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus.<br />

somente o Filho <strong>de</strong> Deus podia cumprir esta obra. Nenhum hom<strong>em</strong> po<strong>de</strong> ter parte nela.<br />

As Escrituras nunca t<strong>em</strong> falado que nós tenhamos vertido o nosso sangue com Cristo. Em<br />

sua obra expiatória diante <strong>de</strong> Deus, foi sozinho; mais ninguém po<strong>de</strong>ria participar. Mas o<br />

Senhor não morreu somente para verter o seu sangue; Ele morreu para que nós<br />

pudéss<strong>em</strong>os morrer. Ele morreu como o nosso representante. Em sua morte, Ele abraça<br />

todos nós, vocês e eu.<br />

Adotamos amiú<strong>de</strong> os termos "justificação" e "i<strong>de</strong>ntificação" para <strong>de</strong>screver estes dois<br />

aspectos da morte <strong>de</strong> Cristo.<br />

Na maior parte dos casos, a palavra "i<strong>de</strong>ntificação" é exata. Mas "i<strong>de</strong>ntificação"<br />

po<strong>de</strong>ria fazer pensar que a iniciativa seja nossa: que seja eu que me esforço <strong>em</strong><br />

i<strong>de</strong>ntificar-me com o Senhor. Reconheço que o termo é apropriado, mas <strong>de</strong>veria ser<br />

adotado mais além. É melhor começar pelo fato que o Senhor me incluiu <strong>em</strong> sua morte.<br />

É a morte inclusiva do Senhor o que me dá o modo <strong>de</strong> me i<strong>de</strong>ntificar; não sou eu que me<br />

i<strong>de</strong>ntifico por ser incluído <strong>em</strong> sua morte. O que importa é que Deus t<strong>em</strong> me incluído <strong>em</strong><br />

Cristo. Isto é uma coisa que Deus realizou. Por esta razão, aquelas duas palavras do<br />

Novo Testamento, "<strong>em</strong> Cristo", são s<strong>em</strong>pre tão preciosas ao meu coração. A morte do<br />

Senhor Jesus nos abraça, nos liga. A ressurreição do Senhor Jesus é igualmente<br />

inclusiva. Nós paramos no primeiro capítulo da primeira epístola aos Coríntios, para<br />

estabelecer o fato <strong>de</strong> que estamos "<strong>em</strong> Jesus Cristo". Agora ir<strong>em</strong>os até o fim <strong>de</strong>ssa<br />

mesma epístola, para ver mais profundamente o que significa isto. Em 1 Coríntios 15:45-<br />

47, dois nomes ou títulos são adotados para indicar o Senhor Jesus. Ele é chamado "o<br />

último Adão" e ainda "o segundo hom<strong>em</strong>". As Escrituras não falam dEle como do<br />

segundo Adão, mas como "o último Adão"; elas não falam nunca dEle como do último<br />

hom<strong>em</strong>, mas como "o segundo hom<strong>em</strong>". É preciso sublinhar esta distinção, porque ela<br />

confirma uma cada <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valore. Como último Adão, Cristo abrange <strong>em</strong> si toda a<br />

humanida<strong>de</strong>; como segundo hom<strong>em</strong> se converte na cabeça <strong>de</strong> uma nova raça. Achamos<br />

aqui, então, uma dupla união, uma relativa à sua morte e a outra à sua ressurreição. Em<br />

primeiro lugar, a sua união com a raça como "o último Adão" iniciou-se historicamente<br />

<strong>em</strong> Belém para terminar na Cruz e no túmulo. Por ela Ele recolheu <strong>em</strong> si mesmo tudo o<br />

que havia <strong>em</strong> Adão para levá-lo a juízo e à morte. Em segundo lugar, a nossa união com<br />

Ele como "segundo hom<strong>em</strong>" inicia da ressurreição para terminar na eternida<strong>de</strong> —ou seja,<br />

para não acabar nunca—, porque tendo <strong>em</strong> sua morte <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> lado o primeiro<br />

hom<strong>em</strong>, no qual o <strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong> Deus não se cumpriu, Ele ressurgiu como Cabeça <strong>de</strong> uma<br />

nova raça <strong>de</strong> homens, na qual aquele <strong>de</strong>sígnio será finalmente plenamente realizado.<br />

Assim, quando o Senhor Jesus foi crucificado na Cruz, o foi como o último Adão. Tudo o<br />

que estava no primeiro Adão foi recolhido e <strong>de</strong>struído com Ele. Também nós. Como<br />

último Adão, Ele cancelou a velha raça; e como segundo hom<strong>em</strong>, introduziu a nova raça.<br />

Em sua ressurreição Ele avança como o segundo hom<strong>em</strong>, e também aqui nós estamos<br />

compreendidos. "Porque, se fomos plantados juntamente com ele na s<strong>em</strong>elhança da sua<br />

morte, também o ser<strong>em</strong>os na da sua ressurreição" (Rm 6:5).<br />

Nós morr<strong>em</strong>os nEle quando era o último Adão; viv<strong>em</strong>os nEle agora que é o segundo<br />

hom<strong>em</strong>. A Cruz é assim o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Deus que nos faz passar <strong>de</strong> Adão a Cristo.<br />

CAPÍTULO 3 – O CAMINHO PARA IR ALÉM: SABER<br />

A nossa velha vida terminou sobre a Cruz;a nossa nova vida começa na Ressurreição.<br />

"Assim que, se alguém está <strong>em</strong> Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis<br />

que tudo se fez novo" (2 Coríntios 5:17). A Cruz dá um fim à primeira criação, e da<br />

morte surge uma nova criação <strong>em</strong> Cristo, o segundo hom<strong>em</strong>. Se formos "<strong>em</strong> Adão", tudo<br />

aquilo que há <strong>em</strong> Adão nos é forçosamente transmitido; tudo se faz nosso<br />

involuntariamente, porque não <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os fazer nada para nos apropriarmos disso. Não<br />

t<strong>em</strong>os necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tomar uma <strong>de</strong>cisão para irar-nos, ou para cometer qualquer outro<br />

pecado, porque tudo nos chega espontaneamente, queiramos ou não. Do mesmo jeito,<br />

se formos "<strong>em</strong> Cristo", tudo aquilo que é "<strong>em</strong> Cristo" é nosso pela graça, s<strong>em</strong> esforço<br />

algum <strong>de</strong> nossa parte, mas sobre a base da simples fé.<br />

Porém dizer que tudo o que precisamos é nosso "<strong>em</strong> Cristo" por pura graça, ainda que<br />

seja verda<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> parecer impossível <strong>de</strong> se atuar na prática. Como acontece isso na<br />

vida? Como po<strong>de</strong> converter-se <strong>em</strong> real <strong>em</strong> nossa própria experiência?<br />

15


Estudando os capítulos 6, 7 e 8 da epístola aos Romanos, ver<strong>em</strong>os que exist<strong>em</strong> quatro<br />

condições necessárias para uma vida cristã normal. Elas são: 1) Saber; 2) Consi<strong>de</strong>rar; 3)<br />

Confiar <strong>em</strong> Deus; 4) Caminhar segundo o Espírito; na ord<strong>em</strong> <strong>em</strong> que são apresentadas.<br />

Se nós <strong>de</strong>sejamos viver aquela vida, <strong>de</strong>ver<strong>em</strong>os aceitar e submeter-nos a estas quatro<br />

condições, não cumprir somente uma ou duas, ou três, senão todas, as quatro. Ao passo<br />

que estud<strong>em</strong>os cada uma <strong>de</strong>las, confi<strong>em</strong>o-nos no Senhor para que Ele ilumine a nossa<br />

inteligência com o seu Santo Espírito e peçamos agora o Seu auxílio para realizar o<br />

primeiro gran<strong>de</strong> passo, examinando a primeira condição: Saber.<br />

A NOSSA MORTE COM CRISTO É UM FATO HISTÓRICO<br />

O passo que está agora diante <strong>de</strong> nós está <strong>em</strong> Romanos 6:1-11: "Que dir<strong>em</strong>os pois?<br />

Permanecer<strong>em</strong>os no pecado, para que a graça abun<strong>de</strong>? De modo nenhum. Nós, que<br />

estamos mortos para o pecado, como viver<strong>em</strong>os ainda nele? Ou não sabeis que todos<br />

quantos fomos batizados <strong>em</strong> Jesus Cristo fomos batizados na sua morte?..." Nestes<br />

versículos fica claramente d<strong>em</strong>onstrado que <strong>em</strong> sua morte o Senhor Jesus foi o nosso<br />

representante e que incluiu todos nós. Em sua morte todos nós morr<strong>em</strong>os. Ninguém<br />

po<strong>de</strong> progredir espiritualmente se não compreen<strong>de</strong> isto. Como não po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os ser<br />

justificados se não v<strong>em</strong>os que Ele carregou os nossos pecados na Cruz, assim também<br />

não po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os realizar a santificação se não t<strong>em</strong>os assumido que nós morr<strong>em</strong>os na Cruz<br />

com Ele. Não somente os nossos pecados foram colocados sobre Ele, mas nós mesmos<br />

fomos colocados <strong>de</strong>ntro dEle.<br />

Como vocês receberam o perdão? Porque vocês compreen<strong>de</strong>ram que o Senhor Jesus<br />

morreu como seu substituto, e que levou sobre Ele os seus pecados e que o Seu sangue<br />

foi vertido para lavar as suas iniqüida<strong>de</strong>s. Quando viram que os seus pecados foram<br />

cancelados sobre a Cruz, o que fizeram? Dizeram: "Senhor Jesus, te suplico, v<strong>em</strong> morrer<br />

pelos meus pecados?" Não, não Lhe pediram nada; vocês simplesmente agra<strong>de</strong>ceram.<br />

Não Lhe pediram <strong>de</strong> morrer por vocês, porque enten<strong>de</strong>ram que Ele já o tinha feito.<br />

Ora, se é verda<strong>de</strong> que vocês já receberam o perdão, é também verda<strong>de</strong> que foram<br />

liberados. A obra foi cumprida. Não é necessário mais pedir, mas somente louvar. Deus<br />

nos colocou a todos <strong>em</strong> Cristo para que, mediante sua crucifixão, nós foss<strong>em</strong>os<br />

crucificados com Ele.<br />

Não t<strong>em</strong>os, então, mais necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pedir: "Eu sou uma criatura tão malvada,<br />

Senhor, te rogo, crucifica-me". Isto não seria justo. Vocês não pediram, antes, pelos<br />

seus pecados; por que pedir, agora, por vocês mesmos? Os seus pecados foram<br />

cancelados pelo sangue <strong>de</strong> Cristo, e a sua natureza foi renovada com a sua Cruz. É um<br />

fato cumprido. Tudo quanto resta é louvar ao Senhor, porque quando Cristo morreu<br />

vocês também morreram; morreram nEle. Louv<strong>em</strong>-No por isso tudo, e vivam <strong>em</strong> sua luz!<br />

"Então creram nas suas palavras, e cantaram os seus louvores" (Salmo 106:12).<br />

Acreditam na morte <strong>de</strong> Cristo? Naturalmente que vocês acreditam. Mas a mesma<br />

Santa Escritura que nos diz que Ele morreu por nós, diz também que nós morr<strong>em</strong>os com<br />

Ele. Volt<strong>em</strong>os ler: "Cristo morreu por nós" (Rm 5:8). Esta primeira asserção é<br />

suficient<strong>em</strong>ente clara; as seguintes o serão menos? "O nosso hom<strong>em</strong> velho foi com ele<br />

crucificado" (Rm 6:6). "Já morr<strong>em</strong>os com Cristo" (Rm 6:8).<br />

Quando fomos crucificados com Ele? Qual é a data da crucifixão do nosso velho<br />

hom<strong>em</strong>? Será amanhã? Foi ont<strong>em</strong>? Ou talvez hoje? Para respon<strong>de</strong>r estas perguntas<br />

talvez seja útil ler a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> Paulo sob uma outra forma: "Cristo foi crucificado com<br />

(ou seja, ao mesmo t<strong>em</strong>po) o nosso velho hom<strong>em</strong>". Alguns <strong>de</strong> vocês chegaram aqui<br />

junto com alguém. Vocês fizeram o caminho juntos até aqui. Pod<strong>em</strong> dizer: "O meu amigo<br />

veio aqui comigo", mas também po<strong>de</strong>riam dizer: "Eu vim aqui com o meu amigo", o<br />

significado é o mesmo. Se um <strong>de</strong> vocês tivesse chegado aqui três dias atrás e o outro<br />

tivesse chegado somente hoje, vocês já não po<strong>de</strong>riam falar assim; porém, como vocês<br />

chegaram juntos, pod<strong>em</strong> expressar o fato <strong>de</strong> um modo ou <strong>de</strong> outro, sendo os dois<br />

igualmente verda<strong>de</strong>iros, porque as duas afirmações expressam a mesma realida<strong>de</strong>.<br />

Assim também no fato histórico pod<strong>em</strong>os dizer, com o máximo respeito, porém com a<br />

mesma exatidão: "Eu fui crucificado quando Cristo foi crucificado", ou então "Cristo foi<br />

crucificado quando eu fui crucificado", porque não são dois acontecimentos separados na<br />

história, mas um só 2 . Cristo foi crucificado! Po<strong>de</strong> ser então <strong>de</strong> outra forma para mim? E<br />

se Ele foi crucificado quase dois mil anos atrás, e eu com Ele, posso dizer que a minha<br />

crucifixão acontecerá amanhã? A sua po<strong>de</strong> ser no passado e a minha no presente ou no<br />

2 A expressão "com Ele" <strong>de</strong> Rm 6:6 inclui, naturalmente, um sentido doutrinário e um sentido<br />

histórico (ou t<strong>em</strong>poral). Só no sentido histórico a afirmação é reversível (W.N.).<br />

16


futuro? Que o Senhor seja louvado! Quando Ele morria sobre a Cruz, eu morri com Ele.<br />

Não somente Ele morria no meu lugar, mas me levou com Ele sobre a Cruz, a fim que,<br />

enquanto Ele morria, eu mesmo morresse com Ele. E se eu acredito na morte do Senhor<br />

Jesus, posso crer na minha própria morte com a mesma certeza com a que acredito na<br />

dEle.<br />

Porque vocês acreditam que o Senhor morreu? Sobre que coisa baseiam a sua fé? E<br />

porque sent<strong>em</strong> que morreu? Não! Vocês nunca sentiram isso. Vocês acreditam porque a<br />

Palavra <strong>de</strong> Deus diz isso. Quando o Senhor Jesus foi crucificado, dois malfeitores foram<br />

crucificados ao mesmo t<strong>em</strong>po. Vocês não têm a mínima dúvida que eles tenham sido<br />

crucificados com Ele, porque as Escrituras o afirmam claramente. Acreditam na morte do<br />

Senhor Jesus e acreditam na morte dos dois ladrões com Ele. Ora, o que pensam da sua<br />

própria morte? A sua crucifixão é mais do que a <strong>de</strong>les. Eles foram crucificados junto com<br />

o Senhor, mas sobre cruzes diferentes, enquanto vocês estavam nEle que Ele morreu.<br />

Como pod<strong>em</strong> sabê-lo? Pod<strong>em</strong> saber porque Deus o disse, e esta é uma razão suficiente.<br />

Isso não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> dos seus sentimentos. Se sent<strong>em</strong> que Cristo morreu, Ele morreu; e se<br />

não sent<strong>em</strong> que Ele tenha morrido, ainda assim Ele morreu; e se não sent<strong>em</strong> <strong>de</strong> estar<br />

mortos com Ele, ainda assim vocês estão igualmente mortos com Ele. Estes são fatos <strong>de</strong><br />

ord<strong>em</strong> divina: que Cristo morreu é um fato; que os dois malfeitores morreram, é um<br />

fato; e que vocês morreram e também um fato. Permitam-me dizer: Vocês estão mortos!<br />

Acabou para vocês. Estão fora. O "eu" que o<strong>de</strong>iam está sobre a Cruz com Cristo. E<br />

"aquele que está morto está justificado do pecado" (Rm 6:7). Este é o Evangelho para os<br />

crentes. Não chegar<strong>em</strong>os nunca a realizar a nossa crucifixão com a nossa vonta<strong>de</strong>, n<strong>em</strong><br />

pelos nossos esforços, mas somente aceitando aquilo que o Senhor Jesus cumpriu sobre<br />

a Cruz. É necessário que os nossos olhos sejam abertos sobre a obra cumprida sobre o<br />

Calvário. Talvez, algum <strong>de</strong> vocês, antes da conversão, tenha tentado obter a salvação<br />

por si mesmo. Liam a Bíblia, pregavam, iam à <strong>Igreja</strong>, davam esmolas. Depois, um dia, os<br />

seus olhos foram abertos e viram que a salvação perfeita já tinha sido conquistada para<br />

vocês sobre a Cruz. A aceitaram simplesmente e agra<strong>de</strong>ceram a Deus, e a paz e o gozo<br />

inundaram seus corações. E agora a boa notícia é que a sua santificação foi feita possível<br />

exatamente sobre as mesmas bases. É-vos oferecida a liberação do pecado com o<br />

mesmo dom <strong>de</strong> graça com o qual receberam o perdão dos seus pecados. Porque a via<br />

que Deus segue para liberar-nos do pecado é completamente diferente da via do hom<strong>em</strong>.<br />

A via do hom<strong>em</strong> consiste <strong>em</strong> suprimir o pecado, tentando vencê-lo; a via <strong>de</strong> Deus<br />

consiste <strong>em</strong> pôr aparte o pecador. Muitos cristãos se lamentam <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>s,<br />

pensando que se foss<strong>em</strong> mais fortes tudo daria certo. A idéia que não pod<strong>em</strong>os viver<br />

uma vida santa a causa <strong>de</strong> nossas <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>s, e que mais alguma coisa nos é exigida,<br />

conduz todo mundo naturalmente ao falso conceito <strong>de</strong> um meio <strong>de</strong> liberação. Se<br />

estivermos preocupados pela força do pecado que nos domina e pela nossa incapacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> combatê-lo, concluir<strong>em</strong>os logicamente que para vencê-lo <strong>de</strong>ver<strong>em</strong>os ter mais força.<br />

"Se somente eu fosse mais forte...", diss<strong>em</strong>os, "po<strong>de</strong>ria dominar os meus acessos <strong>de</strong><br />

cólera", e pedimos ao Senhor para fortificar-nos, a fim que possamos controlar a nossa<br />

natureza.<br />

Mas este é um erro grave; isto não é cristianismo. Os meios pelos quais Deus nos<br />

libera do pecado não consist<strong>em</strong> no fazer-nos mais fortes, senão no fazer-nos mais fracos.<br />

É certamente um modo bastante singular para nos conduzir à vitória, vocês dirão, porém<br />

é este o meio <strong>de</strong> que Deus se serve.<br />

O Senhor nos arrancou do po<strong>de</strong>r do pecado não fortificando o nosso velho hom<strong>em</strong>,<br />

mas crucificando-o; não o ajudando a conseguir qualquer coisa, mas colocando-o fora <strong>de</strong><br />

combate. Talvez vocês tenham tentado durante anos, <strong>em</strong> vão, exercer um controle sobre<br />

vocês mesmos, e talvez esta seja ainda hoje a sua experiência, mas quando vejam a<br />

verda<strong>de</strong> reconhecerão que são completamente incapazes <strong>de</strong> fazer qualquer coisa e que,<br />

afastando vocês, Deus cumpriu tudo, Ele mesmo no seu Filho. Esta revelação põe fim às<br />

lutas e a todos os esforços humanos.<br />

O PRIMEIRO PASSO: "SABENDO QUE..."<br />

A verda<strong>de</strong>ira vida cristã <strong>de</strong>ve começar com o "saber" <strong>de</strong> forma clara e <strong>de</strong>finitiva, o que<br />

não consiste <strong>em</strong> ter simplesmente uma certa vaga consciência da verda<strong>de</strong>, n<strong>em</strong> na<br />

compreensão <strong>de</strong> qualquer doutrina importante. Não si trata <strong>de</strong> um conhecimento<br />

intelectual, mas é preciso que os olhos <strong>de</strong> nosso coração se abram para ver o que t<strong>em</strong>os<br />

<strong>em</strong> Cristo.<br />

Como sab<strong>em</strong> que os seus pecados foram perdoados? É porque o seu pastor vos disse?<br />

Não, vocês sab<strong>em</strong>. S<strong>em</strong>elhante conhecimento nos v<strong>em</strong> somente por revelação divina.<br />

17


S<strong>em</strong> dúvida, o fato do perdão dos pecados encontra-se na Bíblia, mas para que a<br />

Escritura se convertesse para vocês na palavra viva <strong>de</strong> Deus, Ele vos t<strong>em</strong> dado "<strong>em</strong> seu<br />

conhecimento o espírito <strong>de</strong> sabedoria e <strong>de</strong> revelação" (Efésios 1:17). O que vocês<br />

precisavam era conhecer Cristo daquele modo, e s<strong>em</strong>pre é assim. Chega um momento, a<br />

respeito <strong>de</strong> qualquer novo conhecimento <strong>de</strong> Cristo, que quando o "conhec<strong>em</strong>" <strong>em</strong> seus<br />

corações, o "vê<strong>em</strong>" <strong>em</strong> seu espírito. Uma luz brilhou <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> vocês e estão plenamente<br />

persuadidos <strong>de</strong>sse fato. Aquilo que é verda<strong>de</strong> no que respeita ao perdão dos pecados,<br />

não é menos verda<strong>de</strong>iro quanto à liberação do pecado. Uma vez que a luz <strong>de</strong> Deus<br />

esclareceu seu coração, vocês se vê<strong>em</strong> "<strong>em</strong> Cristo". Não é porque qualquer um tenha<br />

falado para vocês, n<strong>em</strong> simplesmente porque Romanos 6 o diz. Há alguma coisa mais<br />

profunda. Vocês sab<strong>em</strong> porque o Espírito Santo o revelou a vocês. Pod<strong>em</strong> até não sentilo<br />

ou não compreendê-lo, porém o sab<strong>em</strong>, porque o têm visto. Uma vez que vocês<br />

tenham se visto <strong>em</strong> Cristo, nada po<strong>de</strong>rá abalar a sua certeza <strong>de</strong> s<strong>em</strong>elhante realida<strong>de</strong><br />

abençoada.<br />

Se pedir<strong>em</strong> a diversos crentes que tenham começado a viver a verda<strong>de</strong>ira vida cristã,<br />

que lhes fal<strong>em</strong> das experiências que os têm guiado, alguns falarão <strong>de</strong> uma experiência<br />

especial, e os outros, <strong>de</strong> uma outra. Cada um falará o caminho particular que terá<br />

recorrido e citará um passo das Escrituras para apoiar as suas afirmações; a pesar disso,<br />

muitos crentes apóiam-se <strong>em</strong> suas experiências pessoais e <strong>em</strong> seus fragmentos favoritos<br />

para combater outros crentes. O fato é que, se os crentes pod<strong>em</strong> alcançar uma vida<br />

cristã mais profunda por caminhos diferentes, nós não <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os consi<strong>de</strong>rar as<br />

experiências ou as doutrinas que eles sublinham como reciprocamente exclusivas senão,<br />

antes b<strong>em</strong>, como compl<strong>em</strong>entárias. Uma coisa é verda<strong>de</strong>: todas as experiências<br />

verda<strong>de</strong>iras e preciosas aos olhos <strong>de</strong> Deus <strong>de</strong>v<strong>em</strong> nascer <strong>de</strong> uma nova <strong>de</strong>scoberta do<br />

significado da pessoa e da obra do Senhor Jesus. Esta é a base <strong>de</strong>cisiva e segura.<br />

Aqui neste passo, o apóstolo faz <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r todas as coisas <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>scobrimento.<br />

"Sabendo isto, que o nosso hom<strong>em</strong> velho foi com ele crucificado, para que o corpo do<br />

pecado seja <strong>de</strong>sfeito, para que não sirvamos mais ao pecado" (Rm 6:6).<br />

A REVELAÇÃO DIVINA É A BASE ESSENCIAL DA CONSCIÊNCIA<br />

O primeiro passo que, então, <strong>de</strong>ver<strong>em</strong>os dar, será pedir ao Senhor um conhecimento<br />

através da revelação —não uma revelação <strong>de</strong> nós mesmos, mas da obra perfeita do<br />

Senhor Jesus na Cruz-. Hudson Taylor, o fundador da missão na China (China Inland<br />

Mission) conheceu a verda<strong>de</strong>ira vida cristã, e chegou a ela na seguinte maneira. Vocês<br />

l<strong>em</strong>brarão como ele fala do probl<strong>em</strong>a que o atormentou por longo t<strong>em</strong>po, <strong>de</strong> como "viver<br />

<strong>em</strong> Cristo", como transferir a si mesmo o suco da vi<strong>de</strong>ira que há nEle. Porque sabia que<br />

a vida <strong>de</strong> Cristo <strong>de</strong>via se expandir através <strong>de</strong>le, porém sentia que não a possuía ainda; e<br />

então ele viu claramente que <strong>de</strong>via estar "<strong>em</strong> Cristo". "Compreendi", escreveu a sua irmã<br />

<strong>em</strong> 1869 <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Chinkiang, "que se somente tivesse podido d<strong>em</strong>orar <strong>em</strong> Cristo, tudo teria<br />

dado certo, mas não podia".<br />

Mais ele se esforçava para entrar na vida verda<strong>de</strong>ira, mais ele se sentia <strong>de</strong>slizar fora,<br />

por assim dizer, até que um dia a luz brilhou <strong>em</strong> seu coração, a revelação aconteceu e<br />

ele viu. Assim ele <strong>de</strong>screve este fato: "Penso que o segredo esteja aqui: não como eu<br />

possa fazer para trazer o suco da vi<strong>de</strong>ira e transferi-lo <strong>em</strong> mim, ma <strong>em</strong> me l<strong>em</strong>brar que<br />

Jesus é a vi<strong>de</strong>ira, a raiz, o tronco, os galhos, os sarmentos, as folhas, as flores, o fruto,<br />

ou seja, tudo".<br />

Então, citando as palavras <strong>de</strong> um amigo que o havia ajudado, continua assim: "Não<br />

<strong>de</strong>vo fazer <strong>de</strong> mim um galho. O Senhor Jesus me disse que eu sou um galho. Eu sou<br />

uma parte dEle, e só <strong>de</strong>vo acreditar e agir <strong>em</strong> conseqüência. Fazia muito t<strong>em</strong>po que eu<br />

tinha visto isto na Bíblia, mas só agora o creio como uma verda<strong>de</strong> viva".<br />

Acontece como se alguma coisa que s<strong>em</strong>pre foi verda<strong>de</strong>ira, <strong>de</strong> improviso se converta<br />

<strong>em</strong> tal <strong>de</strong> um modo novo, para ele pessoalmente, e assim escrevia ainda para a sua<br />

irmã: "Não sei até que ponto conseguirei me fazer compreen<strong>de</strong>r acerca <strong>de</strong>ste t<strong>em</strong>a,<br />

porque não há nada <strong>de</strong> novo, n<strong>em</strong> <strong>de</strong> estranho, n<strong>em</strong> <strong>de</strong> maravilhoso —e ainda assim<br />

tudo é novo! Numa palavra: "então eu era cego, e agora eu vejo...". Eu estou morto e<br />

sepultado com Cristo —é verda<strong>de</strong>, e sou também ressurreto e ascendido... Deus me<br />

consi<strong>de</strong>ra assim e me pe<strong>de</strong> para me consi<strong>de</strong>rar assim... Oh! A alegria <strong>de</strong> conhecer esta<br />

verda<strong>de</strong>. Eu peço para que os olhos <strong>de</strong> tua inteligência sejam iluminados, e tu possas<br />

conhecer e gostar as riquezas que nos são liberalmente doadas <strong>em</strong> Cristo" 3<br />

18<br />

3 Estas citações foram extraídas <strong>de</strong> "Hudson Taylor e a Missão interna na China".


Oh, que alegria vermos que estamos <strong>em</strong> Cristo! Imagin<strong>em</strong> como po<strong>de</strong> ser cômico<br />

tentar <strong>de</strong> entrar num lugar on<strong>de</strong> já estamos. Pens<strong>em</strong> que absurdo seria pedir para<br />

sermos introduzidos. Se reconhecêss<strong>em</strong>os que já estamos <strong>de</strong>ntro, não faríamos esforço<br />

algum para entrarmos. Se t<strong>em</strong>os uma revelação mais profunda, as nossas orações serão<br />

mais louvores que pedidos. Pedimos muito para nós mesmos, porque estamos cegos a<br />

respeito do que Deus t<strong>em</strong> realizado para nós.<br />

L<strong>em</strong>bro-me <strong>de</strong> uma conversação que tive um dia <strong>em</strong> Xangai com um irmão que estava<br />

muito preocupado com o seu estado espiritual. Ele me dizia: "Exist<strong>em</strong> tantos crentes que<br />

têm uma vida bela e santa. Eu tenho vergonha <strong>de</strong> mim mesmo. Me chamo cristão, mas<br />

quando me confronto com os outros, sinto que não o sou para nada. Gostaria conhecer<br />

esta vida crucificada, esta vida <strong>de</strong> ressurreição, mas não a conheço e não vejo meio<br />

algum para chegar até ela". Havia um outro irmão presente e os dois nos entretiv<strong>em</strong>os<br />

por mais duas horas com este hom<strong>em</strong>, tentando lhe fazer compreen<strong>de</strong>r que não po<strong>de</strong>ria<br />

ter obtido nada fora <strong>de</strong> Cristo, mas <strong>em</strong> vão. O nosso amigo disse: "A melhor coisa que<br />

um hom<strong>em</strong> po<strong>de</strong> fazer é orar". "Mas se Deus já nos t<strong>em</strong> dado tudo, o que po<strong>de</strong><br />

necessitar pedir?", perguntamos. "Mas não t<strong>em</strong> me dado tudo", respon<strong>de</strong>u o hom<strong>em</strong>,<br />

"porque eu continuo a me irar e a cometer toda espécie <strong>de</strong> erros; e por isso que <strong>de</strong>vo<br />

orar mais".<br />

"E assim", diss<strong>em</strong>os nós, "você recebeu o que pediu?" "Lamento dizer, porém, que <strong>em</strong><br />

verda<strong>de</strong> não tenho recebido nada <strong>de</strong> nada", replicou ele. Nos esforçamos, então, para<br />

fazê-lo compreen<strong>de</strong>r que, não tendo absolutamente a certeza <strong>de</strong> sua justificação, não<br />

podia fazer mais nada, n<strong>em</strong> sequer pela sua santificação.<br />

Neste ponto, apareceu um terceiro irmão que o Senhor usava muito. Sobre a mesa<br />

havia uma garrafa térmica; o irmão a pegou e lhe perguntou: "O que é isto?" "Um<br />

termo". "B<strong>em</strong>, suponha por um instante que esta garrafa possa orar, e então comece a<br />

pedir: —Senhor, eu <strong>de</strong>sejo tanto ser um termo. Você não po<strong>de</strong>ria fazer <strong>de</strong> mim uma<br />

garrafa térmica? Senhor, faze-me a graça <strong>de</strong> eu me converter num termo. Faze-o, eu te<br />

imploro! —, o que você diria disto?"<br />

"Acredito que n<strong>em</strong> sequer uma garrafa térmica possa ser tão louca", respon<strong>de</strong>u o<br />

nosso amigo, "é uma bobag<strong>em</strong> orar assim: ela já é um termo!" "É isso exatamente o que<br />

você está fazendo", respon<strong>de</strong>u-lhe então o nosso irmão. "Deus colocou você <strong>em</strong> Cristo,<br />

já faz t<strong>em</strong>po. Não po<strong>de</strong>, então, dizer hoje: 'Quero morrer; quero ser crucificado; quero<br />

ter a vida e a ressurreição'. O Senhor olha para você e simplesmente te diz: 'Você já está<br />

morto! Você já t<strong>em</strong> nova vida!' toda a maneira <strong>de</strong> você orar é tão absurda quanto à da<br />

garrafa térmica. Você já não precisa pedir ao Senhor para que faça alguma coisa por<br />

você; só <strong>de</strong>ve pedir ter os olhos abertos para ver que Ele cumpriu tudo".<br />

Este é o ponto essencial. Não precisamos esforçar-nos para morrer, não necessitamos<br />

esperar pela nossa morte, nós já estamos mortos. T<strong>em</strong>os somente necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

reconhecer o que o Senhor t<strong>em</strong> feito por nós, e louvá-lo por isto. A luz iluminou aquele<br />

hom<strong>em</strong>, que com lágrimas nos olhos disse: "Ah, eu te louvo por aquilo que fizeste por<br />

mim, porque já me colocaste <strong>em</strong> Cristo! Tudo o que é dEle é meu!" A revelação veio e<br />

pela fé po<strong>de</strong> ser firmado; se vocês tivess<strong>em</strong> encontrado esse irmão mais tar<strong>de</strong>, teriam<br />

constatado a mudança que tinha ocorrido nele!<br />

A CRUZ NA RAIZ DO NOSSO PROBLEMA<br />

Permitam-me recordá-lhes ainda a natureza fundamental da obra cumprida pelo<br />

Senhor sobre a Cruz. Acredito que não possa insistir d<strong>em</strong>asiadamente sobre este ponto,<br />

porque é necessário que o examin<strong>em</strong>os.<br />

Suponhamos que o governo <strong>de</strong> seu país quisesse resolver radicalmente o probl<strong>em</strong>a do<br />

álcool e <strong>de</strong>cidir a aplicação <strong>de</strong> proibições <strong>em</strong> todo o país; como po<strong>de</strong>rá ser aplicada, na<br />

prática, uma <strong>de</strong>cisão s<strong>em</strong>elhante? Que ajuda po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os aportar nós? Se foss<strong>em</strong>os<br />

procurando, por todo o país, <strong>em</strong> todas partes, nas lojas, todas as garrafas <strong>de</strong> vinho, <strong>de</strong><br />

cerveja ou <strong>de</strong> licores, para seqüestrá-las e <strong>de</strong>struí-las, isto resolveria o probl<strong>em</strong>a?<br />

Certamente não.<br />

Po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os limpar o país <strong>de</strong> cada gota <strong>de</strong> álcool, mas por <strong>de</strong>trás daquelas garrafas <strong>de</strong><br />

bebidas alcoólicas estão as fábricas que as produz<strong>em</strong>, e se nós <strong>de</strong>struímos só as garrafas<br />

e <strong>de</strong>ixamos as fábricas, a produção continuará, e não haverá uma solução <strong>de</strong>finitiva para<br />

o probl<strong>em</strong>a. Não, as fábricas, os bares e as <strong>de</strong>stilarias <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser fechados <strong>em</strong> todo o<br />

país para pôr fim, <strong>de</strong> uma vez para s<strong>em</strong>pre, a este probl<strong>em</strong>a do alcoolismo.<br />

Nós somos a fábrica; as nossas ações são os produtos. O sangue <strong>de</strong> Cristo t<strong>em</strong><br />

regularizado o probl<strong>em</strong>a dos produtos, vale dizer, dos nossos pecados. A questão daquilo<br />

que t<strong>em</strong>os feito fica assim resolvida, mas Deus parará por aqui? O que há da questão do<br />

19


que somos? Somos nós que t<strong>em</strong>os produzido os nossos pecados. Foram afastados, mas o<br />

que acontecerá conosco? Acreditam vocês que o Senhor queira nos purificar <strong>de</strong> todos os<br />

nossos pecados e <strong>de</strong>ixe <strong>em</strong> nossas mãos o assunto <strong>de</strong> livrar-nos <strong>de</strong>sta fábrica que<br />

somos, produtora <strong>de</strong> pecados? Acreditam que Ele <strong>de</strong>seje separar os produtos, <strong>de</strong>ixando a<br />

nós a responsabilida<strong>de</strong> da fonte da produção? Fazer estas perguntas significa já<br />

respon<strong>de</strong>r a elas. Deus não t<strong>em</strong> realizado o trabalho pela meta<strong>de</strong>, abandonando o resto.<br />

Não, Ele suspen<strong>de</strong>u os produtos, e também <strong>de</strong>struiu a fonte <strong>de</strong> on<strong>de</strong> provinham.<br />

A obra cumprida por Cristo chegou realmente até a raiz do nosso probl<strong>em</strong>a e o<br />

resolveu. Para o Senhor não exist<strong>em</strong> meios termos. Ele assumiu provisões completas<br />

para que o domínio do pecado fosse completamente <strong>de</strong>struído. "Sabendo isto", disse<br />

Paulo, "que o nosso hom<strong>em</strong> velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado<br />

seja <strong>de</strong>sfeito, para que não sirvamos mais ao pecado" (Rm 6:6). "Sabendo isto!" Sim,<br />

mas... Vocês sab<strong>em</strong> mesmo? "Ou não sabeis?" (Rm 6:3). Que o Senhor, <strong>em</strong> sua graça,<br />

abra os nossos olhos!<br />

CAPÍTULO 4 – O CAMINHO PARA IR ALÉM: FAZER DE CONTA DE ESTAR<br />

MORTOS<br />

Toqu<strong>em</strong>os agora um t<strong>em</strong>a sobre o qual existe uma certa confusão <strong>de</strong> pensamento<br />

entre os filhos <strong>de</strong> Deus.<br />

Vamos <strong>de</strong>ter-nos sobre tudo nas palavras <strong>de</strong> Romanos 6:6: "Sabendo isto, que o<br />

nosso hom<strong>em</strong> velho foi com ele crucificado".<br />

O t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>ste verbo é dos mais preciosos, porque localiza o fato exatamente no<br />

passado. Este fato é <strong>de</strong>finitivo, cumprido <strong>de</strong> uma vez por todas. A coisa foi feita e não<br />

po<strong>de</strong> ser anulada. O nosso velho hom<strong>em</strong> foi crucificado <strong>de</strong> uma vez por todas, e nunca<br />

mais po<strong>de</strong> ser tirado da Cruz. Eis aqui o que <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os saber.<br />

Quando sab<strong>em</strong>os isto, o que mais t<strong>em</strong>os a fazer? Volt<strong>em</strong>os a ler novamente nosso<br />

texto. O seguinte passo encontra-se no versículo 11: "Assim também vós consi<strong>de</strong>rai-vos<br />

como mortos para o pecado". Estas palavras são claramente a continuação natural do<br />

versículo 6. Vamos lê-las <strong>de</strong> novo juntos: "Sabendo isto, que o nosso hom<strong>em</strong> velho foi<br />

com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja <strong>de</strong>sfeito, para que não sirvamos<br />

mais ao pecado (...) Assim também vós consi<strong>de</strong>rai-vos como mortos para o pecado, mas<br />

vivos para Deus <strong>em</strong> Cristo Jesus nosso Senhor". Esta é a ord<strong>em</strong> natural. Uma vez que<br />

sab<strong>em</strong>os que o nosso velho hom<strong>em</strong> foi crucificado <strong>em</strong> Cristo, o passo seguinte é<br />

consi<strong>de</strong>rá-lo como morto. Apesar disso, apresentando a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossa união com<br />

Cristo, d<strong>em</strong>asiadas vezes foi colocado o acento sobre este segundo ponto —consi<strong>de</strong>rarnos<br />

como mortos—, como se fosse o ponto <strong>de</strong> partida, enquanto a ênfase <strong>de</strong>veria melhor<br />

ser colocada sobre o "saber-nos mortos". A Palavra <strong>de</strong> Deus mostra claramente que<br />

"saber" <strong>de</strong>ve prece<strong>de</strong>r a "reconhecer-se". "Sabendo que... façam <strong>de</strong> conta que..." o fato<br />

<strong>de</strong> "consi<strong>de</strong>rar-se" <strong>de</strong>ve estar baseado sobre uma revelação divina, <strong>de</strong> outra forma a fé<br />

não terá fundamento sobre o que se apoiar. Quando sab<strong>em</strong>os, então espontaneamente<br />

nos consi<strong>de</strong>ramos como mortos.<br />

Assim, tratando este argumento, não será preciso r<strong>em</strong>arcar d<strong>em</strong>asiadamente a<br />

exigência <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar-nos mortos. Fomos d<strong>em</strong>asiado tentados a nos consi<strong>de</strong>rar s<strong>em</strong><br />

antes saber. Se não t<strong>em</strong>os recebido primeiro uma revelação do fato pelo Espírito e<br />

tentamos consi<strong>de</strong>rar-nos, nos ver<strong>em</strong>os arrastados <strong>em</strong> todo tipo <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>. Quando<br />

chegue a tentação, começar<strong>em</strong>os a repetir febrilmente: "Eu estou morto, estou morto,<br />

estou morto!" Mas pelo mesmo esforço acabar<strong>em</strong>os por irritar-nos; e então diz<strong>em</strong>os:<br />

"Isto não serve <strong>de</strong> nada. Romanos 6:11 não po<strong>de</strong> ser realizado". E <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os admitir que<br />

o versículo 11 não po<strong>de</strong> ser compreendido s<strong>em</strong> o versículo 6.<br />

Chegar<strong>em</strong>os, então, à seguinte conclusão: até não sabermos que o estar mortos com<br />

Cristo é um fato, mais nos esforçar<strong>em</strong>os para nos consi<strong>de</strong>rarmos assim, e mais intenso<br />

será o conflito, e mais segura a queda.<br />

Durante anos após a minha conversão eu fui ensinado a me consi<strong>de</strong>rar como morto<br />

<strong>em</strong> Cristo. Eu tentei fazê-lo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1920 até 1927. Mais me reconhecia morto para o<br />

pecado, mais me manifestava vivo. Não podia simplesmente acreditar-me morto, e não<br />

podia procurar a morte. Quando procurei ajuda dos outros, me disseram para ler<br />

Romanos 6:11, e mais eu lia esse versículo, tentando aplicá-lo a mim mesmo, mais a<br />

morte parecia se distanciar; eu não conseguir chegar. Estava intensamente <strong>de</strong>sejoso <strong>de</strong><br />

obe<strong>de</strong>cer àquele ensino, <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar-me morto, mas não conseguia compreen<strong>de</strong>r por<br />

que não podia conseguir. Devo confessar que este pensamento atormentou-me por<br />

20


longos meses. Disse ao Senhor: "Se eu não consigo compreen<strong>de</strong>r claramente, se não<br />

consigo chegar a ver esta verda<strong>de</strong> fundamental, não farei mais nada. Não mais<br />

predicarei; não po<strong>de</strong>rei mais te servir; <strong>de</strong>vo, antes que nada, ser iluminado sobre estas<br />

coisas".<br />

Durante meses continuei a minha busca, às vezes jejuei, mas s<strong>em</strong> nenhum resultado.<br />

L<strong>em</strong>bro-me <strong>de</strong> uma manhã: foi uma manhã tão real que nunca po<strong>de</strong>rei esquecê-la. Eu<br />

estava <strong>em</strong> meu escritório, sentado <strong>em</strong> minha escrivaninha, lendo a Palavra <strong>de</strong> Deus e<br />

orando, e disse: "Senhor, abri os meus olhos!" Então, num raio <strong>de</strong> luz, vi. Vi a minha<br />

união com Cristo. Vi que eu estava nEle e que quando Ele morreu, também eu morri. Vi<br />

que a questão da minha morte era um fato do passado e não do futuro, e que eu tinha<br />

morrido verda<strong>de</strong>iramente como Ele, porque eu estava nEle quando Ele morreu. A luz<br />

tinha finalmente esclarecido as minhas trevas e mi iluminava completamente. Esta<br />

gran<strong>de</strong> revelação inundou-me <strong>de</strong> tal gozo que pulei da minha ca<strong>de</strong>ira e gritei: "O Senhor<br />

seja louvado, eu estou morto!" Desci as escadas à carreira e me <strong>de</strong>parei com um dos<br />

meus irmãos que ajudavam na cozinha; eu o peguei do braço e lhe disse: "Irmão, você<br />

sabe que eu estou morto?" Devo admitir que a sua expressão foi <strong>de</strong> estupefação. "O que<br />

você quer dizer?", perguntou-me. Continuei: "Você não sabe que Cristo morreu? Não<br />

sabe que eu morri com Ele? Não sabe que a minha morte é um fato tão verda<strong>de</strong>iro<br />

quanto à dEle?" Oh, eu estava tão seguro! Tinha vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> correr por todas as ruas <strong>de</strong><br />

Xangai e proclamar a todos a minha nova <strong>de</strong>scoberta. Daquele dia, nunca mais duvi<strong>de</strong>i,<br />

n<strong>em</strong> por um único instante, da importância <strong>de</strong>finitiva <strong>de</strong>stas palavras: "Já estou<br />

crucificado com Cristo" (Gl 2:20).<br />

Não quero dizer que não <strong>de</strong>vamos pô-las <strong>em</strong> prática. Exist<strong>em</strong> certas aplicações <strong>de</strong>sta<br />

morte que consi<strong>de</strong>rar<strong>em</strong>os por um instante, mas t<strong>em</strong>os aqui, antes que qualquer coisa, o<br />

fundamento. Eu fui crucificado: este é um fato cumprido.<br />

Qual é, então, o segredo que nos conduz a consi<strong>de</strong>rar-nos como mortos? Para dizê-lo<br />

numa palavra, é uma revelação. É uma revelação do próprio Deus.<br />

"Não foi carne e sangue que to revelou, mas meu Pai, que está nos céus" (Mt 16:17);<br />

Ef 1:17-18). É necessário que os nossos olhos se abram a esta realida<strong>de</strong> da nossa união<br />

com Cristo; isto é mais que conhecê-la como uma doutrina. Uma s<strong>em</strong>elhante revelação<br />

não t<strong>em</strong> nada <strong>de</strong> vago ou in<strong>de</strong>finido. Quase todos nós pod<strong>em</strong>os nos l<strong>em</strong>brar do dia <strong>em</strong><br />

que vimos claramente que Cristo morreu por nós; e <strong>de</strong>ver<strong>em</strong>os estar igualmente seguros<br />

do momento no qual vimos que estamos mortos com Cristo. Isto não <strong>de</strong>ve ser nebuloso<br />

ou incerto, mas b<strong>em</strong> preciso, porque é sobre esta base que avançar<strong>em</strong>os. Não é me<br />

consi<strong>de</strong>rando morto que eu o serei. Mas é porque já estou morto —porque vejo o que<br />

Deus t<strong>em</strong> feito <strong>de</strong> mim <strong>em</strong> Cristo— que posso mi consi<strong>de</strong>rar morto. Este é o modo justo<br />

<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar-se. Não se trata <strong>de</strong> fazê-lo para chegar à morte, mas consi<strong>de</strong>rar-se morto<br />

para avançarmos.<br />

O SEGUNDO PASSO: ASSIM, VOCÊS CONSIDEREM-SE COMO...<br />

O que significa "consi<strong>de</strong>rar-se como"? "Consi<strong>de</strong>rar-se" significa, <strong>em</strong> grego, levar as<br />

contas, fazer a contabilida<strong>de</strong>. Fazer contas é a única coisa no mundo que nós seres<br />

humanos pod<strong>em</strong>os fazer com precisão. Um pintor pinta uma paisag<strong>em</strong>. Po<strong>de</strong> fazê-lo com<br />

precisão mat<strong>em</strong>ática? O historiador po<strong>de</strong> garantir a exatidão absoluta <strong>de</strong> um t<strong>em</strong>a, ou, o<br />

geógrafo, a fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> precisa <strong>de</strong> um mapa? Pod<strong>em</strong> chegar a fazer as melhores<br />

aproximações. Também na conversação <strong>de</strong> todos os dias, quando tentamos contar um<br />

inci<strong>de</strong>nte com a melhor intenção <strong>de</strong> honestida<strong>de</strong> e fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>, somos incapazes <strong>de</strong> narrar<br />

com perfeita exatidão. É tão fácil exagerar ou diminuir os fatos, dizer uma palavra a mais<br />

ou uma a menos. O que po<strong>de</strong> fazer o hom<strong>em</strong> que seja essencialmente digno <strong>de</strong><br />

confiança? A aritmética! Nela não há lugar para erros. Uma ca<strong>de</strong>ira mais uma ca<strong>de</strong>ira<br />

somam duas ca<strong>de</strong>iras. Isto é verda<strong>de</strong> tanto <strong>em</strong> Londres como <strong>em</strong> São Paulo. Embora<br />

vocês vão para o Oeste ou para o Leste, será s<strong>em</strong>pre a mesma coisa.<br />

Em tudo o mundo, <strong>em</strong> todas as épocas, um mais um são dois. Um e um são dois nos<br />

céus, sobre a terra e no inferno.<br />

Por que Deus disse para nos consi<strong>de</strong>rarmos mortos? Porque estamos mortos.<br />

Prossigamos a analogia com a contabilida<strong>de</strong>. Suponhamos que eu tenha R$ 800 no bolso,<br />

o que escreverei no meu livro <strong>de</strong> contas? Posso escrever R$ 700 ou R$ 900? Não!<br />

Deverei escrever no meu livro aquilo que realmente tenho no bolso. Levar a<br />

contabilida<strong>de</strong> significa reconhecer os fatos, não é fantasia. Assim, porque eu realmente<br />

morri, Deus me diz para me consi<strong>de</strong>rar morto. Deus não po<strong>de</strong>ria pedir-me para<br />

consi<strong>de</strong>rar-me morto se eu estivesse ainda vivo. Para uma similar ginástica mental, a<br />

palavra "consi<strong>de</strong>rar-se" não seria apropriada; <strong>de</strong>veria, melhor, dizer: "não se<br />

21


consi<strong>de</strong>rar". Consi<strong>de</strong>rar-se não é uma forma <strong>de</strong> pretensão. Isso não significa que se eu<br />

tenho somente R$ 600 no bolso, reportando erroneamente R$ 700 no meu livro <strong>de</strong><br />

contabilida<strong>de</strong>, conseguirei <strong>de</strong> um modo ou outro compensar a diferença. Para nada! Se<br />

não tenho mais que R$ 600, e trato <strong>de</strong> me persuadir repetindo: "Tenho R$ 700; tenho R$<br />

700; tenho R$ 700", vocês acreditam que este esforço da mente conseguirá aumentar a<br />

soma que tenho no bolso?<br />

De jeito nenhum! Nenhum esforço <strong>de</strong> persuasão po<strong>de</strong>rá trocar R$ 600 <strong>em</strong> R$ 700. De<br />

forma similar, não po<strong>de</strong> registrar-se falso e fazê-lo aparecer como verda<strong>de</strong>iro. Mas, se da<br />

outra parte, é um fato que eu tenho R$ 700 no bolso, posso, com absoluta certeza,<br />

registrar R$ 700 no meu livro. Deus nos pe<strong>de</strong> para nos consi<strong>de</strong>rarmos mortos, não<br />

porque morramos se nos consi<strong>de</strong>ramos assim, senão porque já estamos realmente<br />

mortos. Ele nunca nos pediu para acreditar <strong>em</strong> uma coisa que não seja verda<strong>de</strong>ira.<br />

Diz<strong>em</strong>os que a revelação nos conduz naturalmente a consi<strong>de</strong>rar-nos mortos; mas não<br />

<strong>de</strong>v<strong>em</strong>os per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista que é uma ord<strong>em</strong> que nos é dada: "Fazei <strong>de</strong> conta, consi<strong>de</strong>ravos".<br />

É uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>finitiva para assumir. Deus nos pe<strong>de</strong> para que façamos as contas e<br />

registr<strong>em</strong>os: "Estou morto", e <strong>de</strong> ficarmos firmes ali. Por quê? Porque é um fato. Quando<br />

o Senhor Jesus foi colocado na Cruz, eu estava com Ele. Por isso reconheço que é<br />

verda<strong>de</strong>. Reconheço e confirmo que morri nEle. Paulo diz: "Consi<strong>de</strong>rai-vos como mortos<br />

para o pecado e como vivos para Deus". Como é isto possível? "Em Jesus Cristo". Não<br />

esqueçamos nunca que isto é verda<strong>de</strong> s<strong>em</strong>pre e somente <strong>em</strong> Cristo. Se olhar<strong>em</strong> para<br />

vocês mesmos, pensarão que não estão mortos; é uma questão <strong>de</strong> fé não <strong>em</strong> vocês, mas<br />

nEle. Olh<strong>em</strong> para o Senhor e reconheçam aquilo que Ele t<strong>em</strong> realizado. "Senhor, eu creio<br />

<strong>em</strong> Ti. Me afirmo <strong>em</strong> Ti". Permaneçamos neste estado <strong>de</strong> fé <strong>em</strong> cada momento da nossa<br />

vida.<br />

CONSIDERAR-SE PELA FÉ<br />

Os primeiros quatro capítulos e meio da carta aos Romanos falam <strong>de</strong> fé, <strong>de</strong> fé e <strong>de</strong> fé.<br />

Somos justificados pela fé <strong>em</strong> Cristo (Rm 3:28-5:1). A justiça, o perdão dos nossos<br />

pecados, a paz com Deus, tudo nos chega pela fé e s<strong>em</strong> a fé na obra perfeita <strong>de</strong> Jesus<br />

Cristo, não se po<strong>de</strong> obter nada. Mas na segunda parte da carta aos Romanos, não<br />

achamos mais repetida a mesma teoria da fé, e po<strong>de</strong>ria parecer, a primeira vista, que a<br />

ênfase fosse colocada sobre outras coisas. Porém, não é assim, porque on<strong>de</strong> falta a<br />

palavra "fé" e "crer" achamos, <strong>em</strong> seu lugar, a palavra "consi<strong>de</strong>rai-vos"; e "consi<strong>de</strong>rarse"<br />

e "crer" praticamente têm o mesmo significado.<br />

O que é a fé? A fé é a aceitação <strong>de</strong> um fato <strong>de</strong> Deus. Ela s<strong>em</strong>pre t<strong>em</strong> seu fundamento<br />

no passado. O que diz respeito ao futuro é esperança mais que fé; ainda que seja<br />

verda<strong>de</strong> que a fé t<strong>em</strong> como objetivo e fim o futuro, como v<strong>em</strong>os <strong>em</strong> Hebreus 11. Talvez<br />

por esta razão a palavra aqui escolhida é "consi<strong>de</strong>rar-se". Este é um termo que se refere<br />

exclusivamente ao passado: a tudo aquilo que v<strong>em</strong>os cumprido no passado, e não como<br />

um acontecimento que <strong>de</strong>va se repetir no futuro. Este é o tipo <strong>de</strong> fé que <strong>de</strong>screve Marcos<br />

<strong>em</strong> 11:24: "Tudo o que pedir<strong>de</strong>s <strong>em</strong> oração, cre<strong>de</strong> que o recebereis, e tê-lo-eis". O que<br />

aqui se afirma é que se acreditamos <strong>de</strong> ter já obtido aquilo que pedimos (<strong>em</strong> Cristo,<br />

naturalmente), nos será concedido. Crer que o po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os obter, ou que o obter<strong>em</strong>os<br />

não é fé no sentido aqui entendido. Crer que já o obtiv<strong>em</strong>os, eis a verda<strong>de</strong>ira fé. A fé,<br />

neste sentido, apóia-se sobre o que já foi cumprido no passado. Aqueles que diz<strong>em</strong>:<br />

"Deus po<strong>de</strong>", ou b<strong>em</strong> "Deu po<strong>de</strong>ria", ou ainda "Deu <strong>de</strong>ve" e "se Deus quiser", não<br />

acreditam nada. A fé afirma s<strong>em</strong>pre: "Deus o fez".<br />

Quando é, então, que eu tenho fé para tudo o que concerne à minha crucifixão? Não<br />

certamente quando digo: "Deus po<strong>de</strong>" ou "se Deus quiser", ou "Ele <strong>de</strong>ve crucificar-me",<br />

mas quando afirmo, com alegria: "Deus seja louvado, eu fui crucificado <strong>em</strong> Cristo!"<br />

Em Romanos 3, v<strong>em</strong>os como o Senhor Jesus carregou os nossos pecados até morrer<br />

<strong>em</strong> nosso lugar, como o nosso substituto, para que nós sejamos perdoados. Em<br />

Romanos 6 nos v<strong>em</strong>os incluídos na morte com a qual Cristo cumpriu a nossa liberação.<br />

Quando nos foi revelado o primeiro fato, acreditamos nEle para a nossa justificação.<br />

Agora Deus nos pe<strong>de</strong> para reconhecer o segundo fato para a nossa liberação. Assim,<br />

praticamente, na segunda parte da carta aos Romanos, "consi<strong>de</strong>rar-se" tomou o lugar <strong>de</strong><br />

"crer". O sentido é o mesmo, e a ênfase não é diferente. Como entramos na vida cristã<br />

normal, a viv<strong>em</strong>os progressivamente pela fé numa realida<strong>de</strong> divina: <strong>em</strong> Cristo e <strong>em</strong> sua<br />

Cruz.<br />

22


AS TENTAÇÕES E AS QUEDAS, DESAFIO À FÉ<br />

As duas maiores realida<strong>de</strong>s da história para nós são, então, estas: todos os nossos<br />

pecados foram cancelados pelo sangue, e nós mesmos fomos relacionados com a Cruz.<br />

Mas o que há, entretanto, com o probl<strong>em</strong>a da tentação? Qual <strong>de</strong>ve ser o nosso<br />

comportamento quando, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter visto e crido nestes fatos, achamos que <strong>em</strong> nós<br />

ressurg<strong>em</strong> os velhos <strong>de</strong>sejos? O que acontece se nos iramos ou coisa pior? Não provará<br />

isto que tudo o que diss<strong>em</strong>os era falso?<br />

L<strong>em</strong>br<strong>em</strong>os que uma das maneiras principais que o maligno s<strong>em</strong>pre utiliza é a <strong>de</strong> nos<br />

fazer duvidar dos fatos divinos (Pens<strong>em</strong>os <strong>em</strong> Gênesis 3:4). Depois <strong>de</strong> ter visto, pela<br />

revelação do Espírito <strong>de</strong> Deus, que estamos verda<strong>de</strong>iramente mortos <strong>em</strong> Cristo, e que o<br />

t<strong>em</strong>os reconhecido, o inimigo virá com as suas insinuações: "Há alguma coisa que se<br />

agita interiormente. O que é? Po<strong>de</strong> dizer que isso está morto?" No momento <strong>em</strong> que este<br />

ataque aconteça, qual será a nossa resposta? É justamente este o ponto crucial.<br />

Acreditamos nos fatos tangíveis, <strong>de</strong> domínio natural, os quais claramente se explicam<br />

aos olhos <strong>de</strong> todos, ou b<strong>em</strong> acreditamos na realida<strong>de</strong> invisível do domínio espiritual, a<br />

qual não po<strong>de</strong> n<strong>em</strong> se tocar, n<strong>em</strong> se provar com a ciência?<br />

Dev<strong>em</strong>os vigiar atentamente. É indispensável l<strong>em</strong>brar o que foi estabelecido na<br />

Palavra <strong>de</strong> Deus, e saber o que não está ali. De que modo Deus <strong>de</strong>clara que a liberação<br />

aconteceu? Não nos foi dito que a natureza do pecado que há <strong>em</strong> nós tenha sido<br />

<strong>de</strong>struída. Se nos apoiamos sobre isto, nos achar<strong>em</strong>os sobre uma base completamente<br />

errada, e na falsa posição do hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> falamos prece<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, o qual, apesar<br />

<strong>de</strong> possuir no bolso R$ 600, procura registrar no livro R$ 700. Não, o pecado não foi<br />

erradicado, está <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós e, se a ocasião se apresenta, triunfa sobre nós fazendonos<br />

cometer novos pecados, conscient<strong>em</strong>ente ou inconscient<strong>em</strong>ente. E por isto que<br />

s<strong>em</strong>pre ter<strong>em</strong>os necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber como opera o precioso sangue <strong>de</strong> Cristo.<br />

Mas existe a diferença entre o probl<strong>em</strong>a do pecado e o dos pecados. Sab<strong>em</strong>os que<br />

Deus trata <strong>de</strong> maneira direta no que respeita aos pecados cometidos: Ele cancela sua<br />

l<strong>em</strong>brança por meio do sangue. Entretanto, quando se trata do princípio do pecado e <strong>de</strong><br />

nos livrar do seu po<strong>de</strong>r, v<strong>em</strong>os que Ele o faz <strong>de</strong> forma indireta. Não coloca aparte o<br />

pecado, mas o pecador. Nosso velho hom<strong>em</strong> foi crucificado com Cristo; por isto o corpo,<br />

que antes era instrumento do pecado, ficou inoperante (Romanos 6:6) 4 . O pecado, o<br />

antigo padrão, está s<strong>em</strong>pre perto, mas o escravo que o serve foi morto, assim foi<br />

liberado <strong>de</strong> seus ataques e seus m<strong>em</strong>bros não são mais utilizados. A mão do jogador é<br />

inoperante, a língua do blasf<strong>em</strong>ador é inativa, e estes m<strong>em</strong>bros foram <strong>de</strong>sarmados,<br />

liberados e ocupados pelo Senhor "como instrumentos <strong>de</strong> justiça" (Rm 6:13).<br />

Pod<strong>em</strong>os então dizer que "liberação do pecado" é uma <strong>de</strong>finição mas escritural que<br />

"vitória sobre o pecado". As expressões "liberados do pecado" e "mortos para o pecado"<br />

<strong>de</strong> Romanos 6:7 e 11 implicam a liberação <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r ainda b<strong>em</strong> presente e muito<br />

real, e não <strong>de</strong> uma coisa que já não existe mais.<br />

O pecado está s<strong>em</strong>pre ali, porém nós conhec<strong>em</strong>os a liberação do seu po<strong>de</strong>r, numa<br />

medida que cresce dia a dia.<br />

Esta liberda<strong>de</strong> é tão real que João po<strong>de</strong> escrever francamente: "Aquele que é nascido<br />

<strong>de</strong> Deus não peca habitualmente... não po<strong>de</strong> continuar no pecado" (1 Jo 3:9).<br />

S<strong>em</strong>elhante <strong>de</strong>claração, se mal compreendida, po<strong>de</strong> induzir-nos a erro. João não diz com<br />

isto que o pecado não existe mais para nós e que não cometer<strong>em</strong>os mais pecados. Diz<br />

que o pecado não está na natureza daqueles que nasceram <strong>de</strong> Deus. A vida <strong>de</strong> Cristo foi<br />

implantada <strong>em</strong> nós pelo novo nascimento, e esta nova natureza é liberada do po<strong>de</strong>r do<br />

pecado. Contudo, existe uma gran<strong>de</strong> diferença entre a natureza e o comportamento<br />

prático <strong>de</strong> uma coisa, como existe uma gran<strong>de</strong> diferença entre a natureza da vida que<br />

está <strong>em</strong> nós e o nosso comportamento. Para ilustrar este pensamento (ainda que o<br />

ex<strong>em</strong>plo seja ina<strong>de</strong>quado), pod<strong>em</strong>os dizer que a ma<strong>de</strong>ira não po<strong>de</strong> afundar na água,<br />

porque isso seria contrário à natureza; porém, na prática pod<strong>em</strong>os ver que isso po<strong>de</strong><br />

chegar acontecer se uma mão a mantém <strong>de</strong>baixo da água. O comportamento é um fato,<br />

assim como os pecados <strong>em</strong> nossa vida são fatos históricos; mas a natureza é também<br />

um fato, e o novo nascimento que receb<strong>em</strong>os <strong>em</strong> Cristo é igualmente um fato. Aquele<br />

que está "<strong>em</strong> Cristo" não po<strong>de</strong> pecar; aquele que está "<strong>em</strong> Adão" po<strong>de</strong> pecar e pecará<br />

cada vez que Satanás tenha a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exercer seu po<strong>de</strong>r sobre ele. Dev<strong>em</strong>os,<br />

4 O verbo grego "katargeo", traduzido como "<strong>de</strong>struído" <strong>em</strong> Rm 6:6 não significa "anulado" mas<br />

"colocado fora <strong>de</strong> ação", "<strong>de</strong>ixado inoperante". Ele provém da raiz grega "argos", Que significa<br />

"inativo" ou "inoperante", "inútil", e é a palavra traduzida como "ociosos" <strong>em</strong> Mateus 20:3 e 6 para<br />

distinguir os trabalhadores <strong>de</strong>socupados dos que estavam na praza do mercado.<br />

23


então, escolher os fatos sobre os que quer<strong>em</strong>os basear-nos e sobre os que quer<strong>em</strong>os<br />

viver: ou a realida<strong>de</strong> tangível <strong>de</strong> nossas experiências cotidianas, ou os fatos mais<br />

po<strong>de</strong>rosos <strong>de</strong> que agora faz<strong>em</strong>os parte "<strong>em</strong> Cristo". O po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> sua ressurreição é nosso,<br />

e todo o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Deus está operando <strong>em</strong> nossa salvação. "O evangelho... é o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

Deus para salvação <strong>de</strong> todo aquele que crê" (Rm 1:16). Mas tudo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> agora da<br />

medida com que se manifeste como real e verda<strong>de</strong>ira a obra <strong>de</strong> Deus <strong>em</strong> nossa própria<br />

história.<br />

"A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não<br />

se vê<strong>em</strong>" (Hebreus 11:1). "As (coisas) que se não vê<strong>em</strong> são eternas" (2 Coríntios 4:18).<br />

Penso que todos sab<strong>em</strong> que Hebreus 11:1 é a única <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> fé que t<strong>em</strong>os no Novo<br />

Testamento e, ainda mais, <strong>em</strong> todas as Escrituras. É muito importante que<br />

compreendamos realmente essa <strong>de</strong>finição. Vocês estão acostumados à versão comum<br />

que <strong>de</strong>screve a fé como "certeza das coisas esperadas". Porém, o termo grego t<strong>em</strong> o<br />

sentido <strong>de</strong> uma ação, e não somente <strong>de</strong> um estado interior, <strong>de</strong> uma "certeza". Confesso<br />

que d<strong>em</strong>orei anos para achar a expressão que, <strong>em</strong> nossa língua, <strong>de</strong>ixasse claro e preciso<br />

o termo. Mas a nova versão <strong>de</strong> J. N. Darby é particularmente feliz nesta tradução: "a fé é<br />

a apropriação das coisas que esperamos".<br />

Como nos "apropriar<strong>em</strong>os" <strong>de</strong> alguma coisa? O faz<strong>em</strong>os a cada dia. Não pod<strong>em</strong>os<br />

viver neste mundo s<strong>em</strong> fazê-lo. Conhec<strong>em</strong> a diferença que existe entre "objeto" e<br />

"apropriação"? Um objeto é uma coisa que está diante <strong>de</strong> mim. Para me apropriar <strong>de</strong>le,<br />

<strong>de</strong>vo ter uma faculda<strong>de</strong> ou um po<strong>de</strong>r que o faça real para mim. Vejamos um ex<strong>em</strong>plo<br />

simples. Por meio <strong>de</strong> nossos sentidos pod<strong>em</strong>os escolher coisas que exist<strong>em</strong> no reino da<br />

natureza e fazê-las entrar <strong>em</strong> nossa consciência. A vista e o ouvido, por ex<strong>em</strong>plo, são<br />

duas <strong>de</strong> minhas faculda<strong>de</strong>s que me permit<strong>em</strong> <strong>de</strong> apropriar-me da luz e do som. Exist<strong>em</strong><br />

as cores: o vermelho, o amarelo, o ver<strong>de</strong>, o azul, o roxo; estas cores são coisas reais.<br />

Mas se fecho os olhos não são mais reais, elas já não são nada para mim.<br />

Com a faculda<strong>de</strong> da vista tenho o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> "apropriar-me" <strong>de</strong>les. A realida<strong>de</strong> está no<br />

po<strong>de</strong>r; o amarelo é amarelo para mim. Não é somente que a cor existe, mas que eu<br />

tenho o po<strong>de</strong>r a apropriar-me <strong>de</strong>la. Tenho o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> fazer verda<strong>de</strong> para mim esta cor, e<br />

<strong>de</strong> ter realmente consciência. Isto é o que significa "apropriação" ou "possessão".<br />

Se eu fosse cego, não po<strong>de</strong>ria distinguir as cores, e se fosse surdo não po<strong>de</strong>ria nunca<br />

<strong>de</strong>sfrutar da música. Apesar disso, as cores e a música são coisas completamente reais;<br />

a sua realida<strong>de</strong> não está sujeita à minha capacida<strong>de</strong> ou incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apreciá-las. Ora,<br />

consi<strong>de</strong>ramos assim as coisas que, ainda que invisíveis, são eternas e, <strong>em</strong> conseqüência,<br />

reais. Evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente não pod<strong>em</strong>os nos apropriar ou tomar posse das coisas divinas por<br />

meio dos nossos sentidos naturais, mas existe uma faculda<strong>de</strong> com a qual pod<strong>em</strong>os nos<br />

apropriar das "coisas que se esperam", das coisas <strong>de</strong> Cristo: a fé. A fé faz reais para mim<br />

a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo. Milhares e milhares <strong>de</strong> pessoas lê<strong>em</strong> Romanos 6:6: "o nosso<br />

hom<strong>em</strong> velho foi crucificado com ele". Pela fé esta é uma gran<strong>de</strong> verda<strong>de</strong> e realida<strong>de</strong>;<br />

pelo simples arrazoamento mental fica a dúvida e po<strong>de</strong> não ser verda<strong>de</strong>, porque falta a<br />

luz espiritual.<br />

L<strong>em</strong>br<strong>em</strong>os ainda que estamos aqui lidando não com promessas, mas com fatos. As<br />

promessas <strong>de</strong> Deus nos são reveladas mediante o seu Espírito, para possamos confiar<br />

nelas. Mas os fatos são fatos, e permanec<strong>em</strong> fatos, quer acredit<strong>em</strong>os, quer não. Se não<br />

cr<strong>em</strong>os para nada na Cruz, ainda assim ela permanece verda<strong>de</strong>ira, mas não t<strong>em</strong> valor<br />

para nós. A fé não faz reais as coisas <strong>em</strong> si, mas a fé po<strong>de</strong> "tomar posse" <strong>de</strong>las e tornálas<br />

reais <strong>em</strong> nossa experiência.<br />

É necessário consi<strong>de</strong>rar como uma invenção diabólica aquilo que contradiz a verda<strong>de</strong><br />

da Palavra <strong>de</strong> Deus, porque, <strong>em</strong>bora não seja um fato real para os nossos sentidos, Deus<br />

estabeleceu uma realida<strong>de</strong> maior, diante da qual todo acabará por inclinar-se. Eu fiz, um<br />

dia, uma experiência que, se não é aplicável à nossa questão <strong>em</strong> todos os seus<br />

particulares, po<strong>de</strong> ilustrar este princípio.<br />

Alguns anos atrás eu enfermei. Tive durante seis noites uma febre fortíssima que me<br />

impedia <strong>de</strong> dormir. Finalmente o Senhor me <strong>de</strong>u sobre as Escrituras uma palavra<br />

particular <strong>de</strong> cura que me fez esperar que os sintomas do mal <strong>de</strong>sapareceriam<br />

imediatamente. Ao contrário, meus olhos não queriam fechar-se e uma agitação molesta<br />

enchia meu ser. A t<strong>em</strong>peratura cresceu ainda mais, as minhas pulsações eram mais<br />

freqüentes e a cabeça me doía terrivelmente. O médico me atormentava: "Cadê a<br />

promessa <strong>de</strong> Deus? Cadê a sua fé? O que há <strong>de</strong> suas orações?" Assim fui tentado para<br />

levar novamente a minha situação <strong>em</strong> oração, mas essa não foi ouvida, e <strong>em</strong> vez disso<br />

me viram à mente estas palavras da Escritura: "A tua palavra é a verda<strong>de</strong>" (João 17:17).<br />

Se a Palavra <strong>de</strong> Deus é verda<strong>de</strong>, pensei, o que significam todos estes sintomas? São<br />

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somente invenções! Então, respon<strong>de</strong>ndo ao inimigo, <strong>de</strong>clarei: "Esta insônia é uma<br />

mentira, esta dor <strong>de</strong> cabeça é uma mentira, esta febre é uma mentira, este pulso<br />

acelerado é uma mentira. Diante do que Deus me disse, todos os sintomas da<br />

enfermida<strong>de</strong> não são mais que invenções <strong>de</strong> parte tua, e a Palavra <strong>de</strong> Deus é a verda<strong>de</strong><br />

para mim". Cinco minutos <strong>de</strong>pois adormeci e durmi, e na manhã seguinte, quando<br />

acor<strong>de</strong>i, estava b<strong>em</strong>.<br />

É evi<strong>de</strong>nte que num fato pessoal como este eu pu<strong>de</strong> errar ao interpretar o que Deus<br />

queria me dizer; mas no que se refere ao fato da Cruz não po<strong>de</strong> haver qualquer dúvida.<br />

Dev<strong>em</strong>os acreditar <strong>em</strong> Deus, por muito que os argumentos <strong>de</strong> Satanás possam parecernos<br />

convincentes.<br />

Um hábil mentiroso não age somente com as palavras, mas também com os<br />

comportamentos e as ações; po<strong>de</strong> passar facilmente tanto uma moeda falsa quanto uma<br />

mentira. O diabo é um hábil mentiroso, e nós não <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os esperar que as suas mentiras<br />

se limit<strong>em</strong> às palavras.<br />

Ele recorre a sinais, sentimentos e enganos no esforço <strong>de</strong> esfriar a nossa fé na Palavra<br />

<strong>de</strong> Deus. Fique b<strong>em</strong> claro que não contesto a realida<strong>de</strong> da "carne". Ter<strong>em</strong>os muito para<br />

dizer sobre este t<strong>em</strong>a no curso do nosso estudo. Mas aqui se trata do que po<strong>de</strong> nos fazer<br />

vacilar da nossa posição <strong>em</strong> Cristo, a qual nos foi revelada. Devido a que t<strong>em</strong>os aceitado<br />

<strong>de</strong> estarmos mortos com Cristo como um fato cumprido, Satanás fará <strong>de</strong> tudo para nos<br />

convencer, valendo-se das nossas experiências cotidianas, que não morr<strong>em</strong>os<br />

completamente, mas estamos b<strong>em</strong> vivos ainda. Dev<strong>em</strong>os então escolher. Acreditar<strong>em</strong>os<br />

nas mentiras <strong>de</strong> Satanás ou na verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus? Nos <strong>de</strong>ixar<strong>em</strong>os levar pelas aparências<br />

o ficar<strong>em</strong>os firmes no q d disse?<br />

Eu sou W. Nee. Eu sei que sou W. Nee. É um fato sobre o qual não tenho dúvidas.<br />

Po<strong>de</strong>rei per<strong>de</strong>r a m<strong>em</strong>ória e esquecer que sou W. Nee, ou ainda sonhar que sou uma<br />

outra pessoa. Porém, quaisquer sejam meus sentimentos, enquanto durmo sou W. Nee,<br />

e quando estou <strong>de</strong>sperto sou W. Nee. Se me l<strong>em</strong>bro, sou W. Nee, e se mi esqueço,<br />

igualmente sou W. Nee.<br />

Mas naturalmente, se pretendo ser uma outra pessoa, tudo será muito mais diferente.<br />

Se tentasse <strong>de</strong> me apresentar como o Sr. C..., <strong>de</strong>verei repetir-me a cada minuto: "Você<br />

é o Sr. C..., L<strong>em</strong>bra, não esqueça que é o Sr. C...", e apesar <strong>de</strong> todos os meus esforços,<br />

é muito provável que não fique muito seguro <strong>de</strong> conservar esta personalida<strong>de</strong>; penso<br />

que se alguém me chamasse: "Sr. Nee!" eu respon<strong>de</strong>ria <strong>em</strong> seguida ao meu nome<br />

verda<strong>de</strong>iro. A lealda<strong>de</strong> triunfaria sobre a ficção, e tudo quanto eu tiver feito para<br />

sustentar uma personalida<strong>de</strong> cairia no momento crucial da prova. Mas eu sou W. Nee,<br />

não tenho portanto nenhuma dificulda<strong>de</strong> <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>rar-me W. Nee. É um fato, uma<br />

realida<strong>de</strong> e nada <strong>de</strong> quanto eu faça ou <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> fazer a po<strong>de</strong> mudar.<br />

Sendo assim, quer eu o sinta ou não, eu estou morto com Cristo. Como posso estar<br />

seguro? Porque Cristo morreu e: "se um morreu por todos, logo todos morreram" (2<br />

Coríntios 5:14). Que eu possa prová-lo ou que possa tentar <strong>de</strong> provar o contrário, o fato<br />

persiste igualmente. Enquanto <strong>de</strong>fenda este fato, Satanás não po<strong>de</strong> me vencer.<br />

L<strong>em</strong>br<strong>em</strong>os que os seus ataques são s<strong>em</strong>pre dirigidos à nossa segurança. Se po<strong>de</strong><br />

conseguir nos fazer duvidar da Palavra <strong>de</strong> Deus, ele terá conseguido seu objetivo e nos<br />

t<strong>em</strong> na mão; mas se ficarmos firmes na certeza <strong>de</strong> quanto Deus t<strong>em</strong> estabelecido,<br />

seguros que Ele não po<strong>de</strong> trair sua obra ou sua palavra, pouco importam, então, as<br />

táticas <strong>de</strong> Satanás; po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os muito b<strong>em</strong> rir <strong>de</strong>le. Se alguém tentasse me convencer<br />

que eu não sou W. Nee, eu po<strong>de</strong>ria rir com razão.<br />

"Andamos por fé, e não por vista" (2 Coríntios 5:7). Talvez vocês se l<strong>em</strong>br<strong>em</strong> da<br />

experiência <strong>de</strong>stes três personagens: a Ação, a Fé e a Experiência <strong>em</strong> "O peregrino". Eles<br />

caminhavam juntos sobre o fio <strong>de</strong> um muro. A Ação avança resolutamente s<strong>em</strong> olhar<br />

para trás. A Fé a segue e tudo vai b<strong>em</strong> enquanto mantém os olhos fixos sobre a Ação;<br />

porém apenas se preocupa com a Experiência e se volta para ver como essa esta indo,<br />

per<strong>de</strong> o equilíbrio e cai, arrastando consigo a pobre Experiência.<br />

Cada tentação começa com olhar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós mesmos, consi<strong>de</strong>rando as aparências<br />

e tirando o olhar do Senhor. A Fé encontra s<strong>em</strong>pre uma montanha, consi<strong>de</strong>rando as<br />

aparências <strong>de</strong> evidências que parec<strong>em</strong> contradizer a Palavra <strong>de</strong> Deus, uma montanha <strong>de</strong><br />

contradições no domínio dos fatos concretos. Assim, ou a fé, ou a montanha, uma das<br />

duas <strong>de</strong>ve ce<strong>de</strong>r. Ambas não pod<strong>em</strong> subsistir juntas. O que é mais triste é que amiú<strong>de</strong> a<br />

montanha fica e a fé vai <strong>em</strong>bora. Isto não <strong>de</strong>ve acontecer. Se recorr<strong>em</strong>os aos nossos<br />

sentidos para <strong>de</strong>scobrir a verda<strong>de</strong>, ver<strong>em</strong>os que as mentiras <strong>de</strong> Satanás estão<br />

freqüent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> acordo com as nossas experiências; porém se nos negarmos a nos<br />

<strong>de</strong>ixar convencer <strong>de</strong> tudo o que contradiz a Palavra <strong>de</strong> Deus, e se mant<strong>em</strong>os firme a<br />

25


nossa fé nEle sozinho, ver<strong>em</strong>os que as mentiras <strong>de</strong> Satanás se dissolverão e a nossa<br />

experiência entrará progressivamente <strong>em</strong> harmonia com a Palavra <strong>de</strong> Deus.<br />

Para alcançar este resultado é necessário que nos ocup<strong>em</strong>os <strong>de</strong> Cristo <strong>de</strong> modo que<br />

Ele vá se fazendo mais vivo <strong>em</strong> nós, na vida <strong>de</strong> todos os dias. Em cada ocasião o v<strong>em</strong>os<br />

como a verda<strong>de</strong>ira justiça, a verda<strong>de</strong>ira santida<strong>de</strong>, a verda<strong>de</strong>ira vida da ressurreição <strong>em</strong><br />

nós. Aquilo que v<strong>em</strong>os nEle <strong>de</strong> maneira objetiva, age <strong>em</strong> nós <strong>de</strong> maneira subjetiva —<br />

porém real—, a fim que se manifeste <strong>em</strong> nós naquela precisa circunstância.<br />

Esta é a marca da maturida<strong>de</strong>. Isto quer dizer Paulo quando escreve aos gálatas:<br />

"Meus filhinhos, por qu<strong>em</strong> <strong>de</strong> novo sinto as dores <strong>de</strong> parto, até que Cristo seja formado<br />

<strong>em</strong> vós" (Gl 4:19). A fé assimila as obras <strong>de</strong> Deus; e a fé é s<strong>em</strong>pre a assimilação das<br />

coisas eternas, <strong>de</strong> tudo aquilo que é eternamente verda<strong>de</strong>iro.<br />

PERMANECER NELE<br />

Ainda que já nos d<strong>em</strong>oramos bastante neste t<strong>em</strong>a, existe uma outra coisa que po<strong>de</strong><br />

nos ajudar a enten<strong>de</strong>r mais claramente.<br />

As Escrituras <strong>de</strong>claram que "estamos verda<strong>de</strong>iramente mortos", mas não diz<strong>em</strong> que<br />

estejamos mortos <strong>em</strong> nós mesmos. Procurar<strong>em</strong>os <strong>em</strong> vão a morte <strong>em</strong> nós mesmos; é<br />

justamente aqui que não a achar<strong>em</strong>os. Estamos mortos não <strong>em</strong> nós mesmos, mas <strong>em</strong><br />

Cristo. Fomos crucificados com Ele porque estávamos nEle.<br />

Conhec<strong>em</strong>os b<strong>em</strong> as palavras do Senhor Jesus: "Permanecei <strong>em</strong> mim, e eu<br />

permanecerei <strong>em</strong> vós" (João 15:4). Medit<strong>em</strong>os nelas um instante. Elas nos recordam, <strong>em</strong><br />

primeiro lugar, ainda mais uma vez, que não <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os lutar para entrar "<strong>em</strong> Cristo". Não<br />

nos é pedido entrar nEle, porque já estamos ali; mas nos é pedido <strong>de</strong> permanecer on<strong>de</strong><br />

fomos colocados. É obra <strong>de</strong> Deus, Ele mesmo nos colocou <strong>em</strong> Cristo; nós <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os<br />

somente permanecer nEle. De fato, estas palavras colocam <strong>em</strong> nós um princípio divino, o<br />

<strong>de</strong> que Deus cumpriu a obra <strong>em</strong> Cristo e não <strong>em</strong> nós individualmente. A morte e a<br />

ressurreição do Filho <strong>de</strong> Deus que nos inclu<strong>em</strong> a todos, foram completadas plenamente,<br />

na plenitu<strong>de</strong> dos t<strong>em</strong>pos, fora <strong>de</strong> nós. É a história <strong>de</strong> Cristo a que <strong>de</strong>ve converter-se na<br />

experiência do crente, e nós não t<strong>em</strong>os experiências espirituais fora dEle. As Escrituras<br />

nos diz<strong>em</strong> que fomos crucificados com Ele, com fomos vivificados, ressuscitados e<br />

sentados com Deus nos lugares celestiais (Rm 6:6, Ef 2:5-6, Cl 2:10). Esta não é<br />

simplesmente uma obra que <strong>de</strong>ve ser completada <strong>em</strong> nós (ainda que seja assim,<br />

naturalmente), mas uma obra que já foi cumprida <strong>em</strong> união com Ele.<br />

V<strong>em</strong>os nas Escrituras que nenhuma experiência existe por si mesma. O que Deus<br />

completou <strong>em</strong> seu <strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong> graça é a associação com Cristo. O que Deus cumpriu <strong>em</strong><br />

Cristo, o cumpriu no cristão; o que cumpriu na cabeça, o cumpriu também nos m<strong>em</strong>bros.<br />

É então um erro pensar que pod<strong>em</strong>os alcançar qualquer experiência espiritual<br />

simplesmente por nós mesmos, fora <strong>de</strong> Cristo. Deus não <strong>de</strong>seja que nós adquiramos<br />

nada exclusivamente pessoal <strong>em</strong> nossa experiência. Ele não fará nada neste sentido,<br />

n<strong>em</strong> por vocês, n<strong>em</strong> por mim. Toda a experiência espiritual do crente está já <strong>em</strong> Cristo<br />

(ver o fim do capítulo 5). Ela já foi vivenciada por Cristo. O que chamamos <strong>de</strong> "nossa"<br />

experiência é somente o nosso ingresso <strong>em</strong> sua história e <strong>em</strong> suas experiências.<br />

Seria estranho que uma vara <strong>de</strong> vi<strong>de</strong>ira dê uvas brancas, enquanto uma outra vara<br />

produza uvas ver<strong>de</strong>s, e ainda uma outra, pretas; que cada galho produzisse um fruto <strong>de</strong><br />

sim mesmo, s<strong>em</strong> ter relação com a vi<strong>de</strong>ira. Isto é impossível, inconcebível. É a vi<strong>de</strong>ira<br />

que <strong>de</strong>termina a natureza dos galhos. E ainda assim, alguns cristãos procuram as<br />

experiências simplesmente como experiências. Pensam na crucifixão como <strong>em</strong> um<br />

acontecimento, na ressurreição como <strong>em</strong> um outro acontecimento, na ascensão como <strong>em</strong><br />

um outro ainda, s<strong>em</strong> nunca perceber que tudo isso está ligado a uma Pessoa. Somente<br />

quando o Senhor abre os nossos olhos para ver a Pessoa, nós pod<strong>em</strong>os ver<br />

verda<strong>de</strong>iramente.<br />

Toda a verda<strong>de</strong>ira experiência espiritual significa que tomamos um dato cumprido <strong>em</strong><br />

Cristo e que começamos a fazer parte <strong>de</strong>le; tudo o que não provém dEle neste modo é<br />

uma experiência <strong>de</strong>stinada a se dissolver muito pronto. Eu tive esta revelação <strong>em</strong> Cristo;<br />

então, Deus seja louvado, ela é minha! A possuo, Senhor, porque está <strong>em</strong> Ti. Que coisa<br />

gran<strong>de</strong> é o conhecer a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo como fundamento da nossa experiência!<br />

Assim, o princípio fundamental sobre o qual Deus nos dirige <strong>em</strong> nossas experiências,<br />

não consiste <strong>em</strong> dar-nos coisas. Não consiste <strong>em</strong> nos fazer passar por um certo caminho<br />

para colocar <strong>em</strong> nós, como resultado, alguma coisa que possamos chamar <strong>de</strong> "nossa<br />

experiência". Deus não cumpriu <strong>em</strong> nós uma obra que nos permitirá dizer: "Eu morri <strong>em</strong><br />

Cristo no passado março", ou "Eu ressuscitei <strong>em</strong> 1º <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1937", n<strong>em</strong> "Quartafeira<br />

passada pedi uma experiência precisa e a obtive". Não, não é assim. Eu não procuro<br />

26


a experiência <strong>em</strong> si mesma, neste t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> graça. A noção <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po não po<strong>de</strong> conduzir<br />

o meu pensamento quando consi<strong>de</strong>ro a história do espírito. Mas, dirá alguém, o que<br />

<strong>de</strong>v<strong>em</strong>os pensar das crises que muitos <strong>de</strong> nós têm atravessado? É verda<strong>de</strong>, alguns <strong>de</strong><br />

nós t<strong>em</strong>os atravessado verda<strong>de</strong>iras crises <strong>em</strong> suas vidas. George Muller, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

po<strong>de</strong> dizer, dobrando-se até o chão: "Houve um dia <strong>em</strong> que George Muller morreu". O<br />

que significa isso? Não, não duvidamos da realida<strong>de</strong> das experiências espirituais que<br />

atravessamos, n<strong>em</strong> da importância das crises pelas quais Deus nos conduz <strong>em</strong> nosso<br />

caminho com Ele; já ressaltamos a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sermos b<strong>em</strong> precisos sobre o motivo<br />

central das crises que atravessamos <strong>em</strong> nossas vidas. Porém o fato que nos interessa é<br />

que Deus não nos dá experiências simplesmente individuais. Tudo aquilo que<br />

experimentamos é somente a entrada naquilo que Deus já cumpriu. É a "realização" no<br />

t<strong>em</strong>po das coisas eternas. A história <strong>de</strong> Cristo se converte <strong>em</strong> nossa história espiritual;<br />

nós não t<strong>em</strong>os a nossa história separada da dEle. Toda a obra que nos abrange não é<br />

assim feita <strong>em</strong> nós, senão <strong>em</strong> Cristo. Ele não separa a obra que cumpre no individuo<br />

daquele cumprida sobre a Cruz. N<strong>em</strong> a vida eterna nos é entregue separadamente; a<br />

vida está no Filho e "qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> o Filho t<strong>em</strong> a vida" (1 Jo 5:12): Deus cumpriu todo <strong>em</strong><br />

seu Filho e nos colocou nEle; nós estamos incorporados <strong>em</strong> Cristo. Ora, o ponto<br />

importante nisso tudo é o valor prático e real da aplicação da fé que diz: "Deus me<br />

colocou <strong>em</strong> Cristo, portanto, tudo aquilo que é verda<strong>de</strong> dEle é verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mim. Eu quero<br />

permanecer nEle". Satanás procura s<strong>em</strong> parar <strong>de</strong> nos fazer <strong>de</strong>sviar da nossa posição <strong>em</strong><br />

Cristo, <strong>de</strong> ter-nos fora dEle, <strong>de</strong> nos convencer que estamos longe, e com tentações,<br />

erros, sofrimentos, provas, nos fazer cruelmente sentir que não estamos <strong>em</strong> Cristo. O<br />

nosso primeiro pensamento é que, se estivéss<strong>em</strong>os <strong>em</strong> Cristo, não estaríamos nesse<br />

estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>, e portanto, a julgar pelo que estamos passando, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os estar<br />

separados dEle; assim começamos a orar: "Senhor, coloca-me <strong>em</strong> Cristo". Não! Deus nos<br />

pe<strong>de</strong> para "permanecer" <strong>em</strong> Cristo; este é o caminho da liberda<strong>de</strong>. Por quê? Porque isto<br />

abre a Deus a via para intervir <strong>em</strong> nossa vida e cumprir a sua obra <strong>em</strong> nós. Isto permite<br />

a ação do seu po<strong>de</strong>r divino, o po<strong>de</strong>r da ressurreição (Rm 6:4 - 9:10), a fim que as<br />

realida<strong>de</strong>s que se encontram <strong>em</strong> Cristo se torn<strong>em</strong> progressivamente as realida<strong>de</strong>s da<br />

nossa experiência cotidiana, e porque lá, on<strong>de</strong> primeiro "reinava o pecado" (Rm 5:21),<br />

pod<strong>em</strong>os constatar com alegria que já não somos mais "escravos do pecado" (Rm 6:6).<br />

Quando nos apoiamos firm<strong>em</strong>ente sobre a base daquilo que Cristo é para nós,<br />

achamos que tudo o que é verda<strong>de</strong> dEle, transforma-se <strong>em</strong> verda<strong>de</strong> <strong>em</strong> nós, <strong>em</strong> nossa<br />

vida. Se, ao contrário, voltarmos sobre a base daquilo que somos que <strong>de</strong> nossa velha<br />

natureza, repetimos as mesmas experiências <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto e escravidão (ver capítulo<br />

6). Se estamos <strong>em</strong> Cristo, t<strong>em</strong>os tudo; se voltamos on<strong>de</strong> estávamos antes, já não t<strong>em</strong>os<br />

nada.<br />

Amiú<strong>de</strong> nos colocamos no ponto errado para achar a morte <strong>em</strong> nós mesmos. Ela está<br />

<strong>em</strong> Cristo. Nós não t<strong>em</strong>os que olhar <strong>em</strong> nós para ver que estamos b<strong>em</strong> vivos para o<br />

pecado; porém, no momento <strong>em</strong> que fixamos o olhar por cima <strong>de</strong> nós, no Senhor, Deus<br />

vê que a morte opera aqui, mas que a "novida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida" opera <strong>em</strong> nós. Estamos "vivos<br />

<strong>em</strong> Deus" (Rm 6:4-11).<br />

"Permanecei <strong>em</strong> mim, e eu permanecerei <strong>em</strong> vós". Estas palavras test<strong>em</strong>unham duas<br />

coisas: um mandamento acompanhado <strong>de</strong> uma promessa. Isto significa que há na obra<br />

<strong>de</strong> Deus um aspecto objetivo e um subjetivo, e que o aspecto subjetivo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do<br />

objetivo; o "Eu permanecerei <strong>em</strong> vós" é a conseqüência do "permanecei <strong>em</strong> mim".<br />

Dev<strong>em</strong>os estar atentos a não preocupar-nos d<strong>em</strong>asiado com a parte subjetiva, para não<br />

voltar-nos <strong>de</strong> mais <strong>em</strong> nós mesmos. Dev<strong>em</strong>os afirmar-nos na parte objetiva "permanecei<br />

<strong>em</strong> mim", <strong>de</strong>ixando que Deus se ocupe da parte subjetiva. Isto é o que Ele começou a<br />

fazer.<br />

Pod<strong>em</strong>os parangonar tudo isto com a luz elétrica. Vocês estão num quarto on<strong>de</strong><br />

escurece, o dia <strong>de</strong>clina. Desejariam ter luz para po<strong>de</strong>r ler. Há uma luminária sobre a<br />

mesa. O que vocês farão? Olharão fixo para que ela ligue? Ou pegarão um pano para<br />

poli-la? Não, vocês se levantarão, cruzarão a habitação até o interruptor e então ligarão<br />

a luz. A vossa atenção vá até a fonte da energia e quando faz<strong>em</strong>os o necessário, a luz<br />

brilhará no quarto. Assim é no nosso caminho com o Senhor: a nossa atenção <strong>de</strong>ve estar<br />

fixa <strong>em</strong> Cristo. "Permanecei <strong>em</strong> mim, e eu permanecerei <strong>em</strong> vós". Esta é uma ord<strong>em</strong><br />

divina. A fé nos fatos objetivos transforma estes fatos verda<strong>de</strong>iros subjetivamente. Como<br />

diz o apóstolo Paulo: "Mas todos nós, com rosto <strong>de</strong>scoberto, refletindo como um espelho<br />

a glória do Senhor, somos transformados <strong>de</strong> glória <strong>em</strong> glória na mesma imag<strong>em</strong>..." (2<br />

Coríntios 3:18). O mesmo princípio é verda<strong>de</strong>iro no que diz respeito ao fruto da nossa<br />

vida: "qu<strong>em</strong> está <strong>em</strong> mim, e eu nele, esse dá muito fruto" (João 15:5). Nós não <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os<br />

27


tentar produzir fruto, n<strong>em</strong> concentrar a nossa mente <strong>em</strong> nossos produtos. O que<br />

<strong>de</strong>v<strong>em</strong>os fazer é manter firme o nosso olhar sobre Ele. E enquanto o faz<strong>em</strong>os, Ele é fiel<br />

para cumprir a sua Palavra <strong>em</strong> nós.<br />

Como permanecer nEle? "Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão <strong>de</strong><br />

seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor" (1 Coríntios 1:9). Era assunto <strong>de</strong> Deus colocar-nos<br />

nEle e Ele o fez. Assim, estamos nEle! Não voltamos sobre o nosso ser particular. Não<br />

olhamos mais a nós mesmos, como se não estivéss<strong>em</strong>os <strong>em</strong> Cristo. Olhamos para Jesus<br />

com a certeza que estamos nEle. Permanec<strong>em</strong>os nEle. Repousamos sobre o fato que<br />

Deus nos colocou <strong>em</strong> seu Filho, a avançamos com a confiança que Ele cumprirá a sua<br />

obra <strong>em</strong> nós. É Ele que realiza <strong>em</strong> nós a gloriosa promessa <strong>de</strong> que "o pecado não terá<br />

domínio sobre vós" (Rm 6:14).<br />

28<br />

CAPÍTULO 5 – O PODER DE SEPARAÇÃO DA CRUZ<br />

O Reino <strong>de</strong>ste mundo não é o Reino <strong>de</strong> Deus. Ele estabeleceu um sist<strong>em</strong>a universal,<br />

um universo <strong>de</strong> Sua criação que <strong>de</strong>via ter como cabeça Cristo, seu Filho. "Porque nele<br />

foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam<br />

tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potesta<strong>de</strong>s. Tudo foi criado por ele<br />

e para ele. E ele é antes <strong>de</strong> todas as coisas, e todas as coisas subsist<strong>em</strong> por ele."<br />

(Colossenses 1:16-17). Mas Satanás, operando através da carne do hom<strong>em</strong>, estabeleceu<br />

<strong>em</strong> vez disso um sist<strong>em</strong>a rival, que as Escrituras chamam "o mundo", um sist<strong>em</strong>a no<br />

qual estamos envolvidos e sobre o qual ele domina, porque se converteu no "príncipe<br />

<strong>de</strong>ste mundo" (João 12:31).<br />

DUAS CRIAÇÕES<br />

Assim, por obra <strong>de</strong> Satanás, a primeira criação se converteu na velha criação, que já<br />

não t<strong>em</strong> interesse para o Senhor. O interesse <strong>de</strong> Deus está agora concentrado na<br />

segunda e nova criação, um novo reino e um novo mundo, no qual nada da velha<br />

criação, do antigo reino do antigo mundo po<strong>de</strong>rá ser transferido. É necessário agora<br />

consi<strong>de</strong>rar dois reinos rivais, e ver a qual <strong>de</strong>les nós pertenc<strong>em</strong>os.<br />

Em verda<strong>de</strong>, o apóstolo Paulo não nos <strong>de</strong>ixa dúvidas <strong>de</strong> qual <strong>de</strong>stes dois domínios<br />

seja, hoje, o nosso. Ele diz que Deus, na re<strong>de</strong>nção, "nos tirou da potesta<strong>de</strong> das trevas, e<br />

nos transportou para o reino do Filho do seu amor" (Colossenses 1:12-13). A nossa<br />

cidadania <strong>de</strong> agora <strong>em</strong> diante pertence a este reino.<br />

Mas para nos fazer entrar nele, Deus <strong>de</strong>ve cumprir <strong>em</strong> nós alguma coisa nova. Deve<br />

fazer <strong>de</strong> nós novas criaturas. Não pod<strong>em</strong>os pertencer ao novo reino s<strong>em</strong> sermos criados<br />

<strong>de</strong> novo. "O que é nascido da carne é carne" (João 3:6), e "carne e o sangue não pod<strong>em</strong><br />

herdar o reino <strong>de</strong> Deus, n<strong>em</strong> a corrupção herdar a incorrupção" (1 Coríntios 15:50). Seja<br />

qual for o nível <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento, <strong>de</strong> sua cultura ou <strong>de</strong> seu valor, a carne<br />

permanece s<strong>em</strong>pre carne. A nossa possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pertencer ao novo reino <strong>de</strong>penda da<br />

criação à qual pertenc<strong>em</strong>os. Somos da velha ou da nova? Nasc<strong>em</strong>os da carne ou do<br />

Espírito? A condição <strong>de</strong>finitiva para pertencer ao novo mundo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da nossa orig<strong>em</strong>.<br />

Não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> "do bom ou do mau", mas "da carne e do Espírito". Aquele que nasceu da<br />

carne é carne, e nunca será outra coisa. Aquilo que pertence à velha natureza não<br />

po<strong>de</strong>rá jamais passar para a nova... <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que compreend<strong>em</strong>os realmente o que Deus<br />

procura, ou seja, alguma coisa profundamente nova para Ele sozinho, v<strong>em</strong>os claramente<br />

que nós não pod<strong>em</strong>os aportar, neste novo nascimento, nenhum el<strong>em</strong>ento da antiga<br />

natureza.<br />

Deus queria nos ter para si mesmo, mas não podia nos fazer entrar <strong>em</strong> seu plano<br />

assim como nós éramos; então, antes que nada nos fez morrer por meio da Cruz <strong>de</strong><br />

Cristo, e <strong>de</strong>pois, com a sua ressurreição, nos <strong>de</strong>u nova vida. "Assim que, se alguém está<br />

<strong>em</strong> Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo" (2<br />

Coríntios 5:17).<br />

Sendo agora novas criaturas, com uma nova natureza e um conjunto <strong>de</strong> novas<br />

faculda<strong>de</strong>s, pod<strong>em</strong>os entrar no novo reino e no novo mundo. A Cruz foi o meio pelo qual<br />

Deus se serviu para pôr fim às "velhas coisas", <strong>de</strong>ixando inteiramente <strong>de</strong> lado o nosso<br />

"velho hom<strong>em</strong>", e a ressurreição é o meio pelo qual Deus nos <strong>de</strong>u tudo aquilo que<br />

necessitávamos para viver neste novo mundo. "De sorte que fomos sepultados com ele<br />

pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado <strong>de</strong>ntre os mortos, pela<br />

glória do Pai, assim and<strong>em</strong>os nós também <strong>em</strong> novida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida" (Rm 6:4).


A gran<strong>de</strong> negação do universo é a Cruz, porque por meio <strong>de</strong>la Deus cancelou tudo<br />

aquilo que não era dEle: o fato mais positivo no universo é a ressurreição, porque por ela<br />

Deus <strong>de</strong>u existência a tudo aquilo que <strong>de</strong>sejava ter no novo mundo. Assim, a<br />

ressurreição é a fonte do novo nascimento. É uma bênção ver que a Cruz dá fim a todo<br />

aquilo que pertencia ao primeiro regime e que a ressurreição introduz aquilo que se<br />

adapta ao segundo. Tudo o que teve inicio antes da ressurreição <strong>de</strong>ve ser cancelado. A<br />

ressurreição é o novo ponto <strong>de</strong> partida <strong>de</strong> Deus.<br />

Estamos agora diante da presença <strong>de</strong> dois mundos, o antigo e o novo. Sobre o antigo<br />

Satanás exerce soberania absoluta. Vocês pod<strong>em</strong> ser homens bons na velha natureza,<br />

mas enquanto permaneçam estarão sob uma sentença <strong>de</strong> morte, porque nada do velho<br />

po<strong>de</strong> passar para o novo. Através da Cruz, Deus <strong>de</strong>clara que tudo aquilo que é da velha<br />

natureza <strong>de</strong>ve morrer. Nada do que esteve no primeiro Adão po<strong>de</strong> ultrapassar a Cruz;<br />

tudo acaba lá. Quanto antes o vejamos, melhor será, porque através da Cruz Deus abriu<br />

a via para liberar-nos <strong>de</strong>sta velha natureza. Ele reuniu tudo aquilo que era <strong>de</strong> Adão na<br />

pessoa <strong>de</strong> seu Filho e o crucificou; tudo o que era <strong>de</strong> Adão foi, portanto, <strong>de</strong>struído nEle.<br />

Assim Deus proclamou diante <strong>de</strong> todo o universo: "por meio da Cruz <strong>de</strong>struí todos<br />

aqueles a não são meus; vocês que pertenc<strong>em</strong> à velha natureza estão compreendidos<br />

nesta obra: também vocês foram crucificados com Cristo!" Ninguém po<strong>de</strong> fugir a este<br />

veredicto.<br />

Isto nos leva à questão do batismo.<br />

"Ou, porventura, ignorais que todos quantos fomos batizados <strong>em</strong> Cristo Jesus fomos<br />

batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele pelo batismo na morte..." (Rm<br />

6:3-4). Dev<strong>em</strong>os agora nos perguntar o que significam estas palavras.<br />

Nas Escrituras o batismo está associado à salvação: "Qu<strong>em</strong> crer e for batizado será<br />

salvo" (Marcos 16:16). Não pod<strong>em</strong>os falar, segundo as Escrituras, <strong>de</strong> "regeneração pelo<br />

batismo", mas pod<strong>em</strong>os falar <strong>de</strong> "salvação pelo batismo". O que é a salvação? Ela está<br />

<strong>em</strong> relação não com os nossos pecados n<strong>em</strong> com o po<strong>de</strong>r do pecado, mas com o cosmos,<br />

vale dizer, com o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong>ste mundo. Nós estamos no sist<strong>em</strong>a do mundo satânico.<br />

Estar salvos significa sair <strong>de</strong>ste sist<strong>em</strong>a para entrar naquele <strong>de</strong> Deus.<br />

Pela Cruz do Senhor Jesus Cristo, diz Paulo: "o mundo está crucificado para mim e eu<br />

para o mundo" (Gálatas 6:14). Este é o t<strong>em</strong>a <strong>de</strong>senvolvido por Pedro quando fala das<br />

oito pessoas que "se salvaram através da água" (1 Pedro 3:20). Entrando na arca, Noé e<br />

os seus saíram, pela fé, <strong>de</strong>ste velho mundo corrupto para passar a um novo mundo. A<br />

coisa essencial não é que foram pessoalmente salvos do dilúvio, mas que saíram <strong>de</strong>ste<br />

sist<strong>em</strong>a corrupto. Esta é a salvação.<br />

Pedro continua a seguir:<br />

"...que também, como uma verda<strong>de</strong>ira figura, agora vos salva, o batismo..." (versículo<br />

21). Em outras palavras, por este aspecto da Cruz que está representado pelo batismo,<br />

vocês são liberados <strong>de</strong>ste presente mundo malvado, e o confirmam com a sua imersão<br />

na água. Este é o batismo "<strong>em</strong> sua morte", que põe fim a uma criação; mas é também o<br />

batismo "<strong>em</strong> Jesus Cristo" que faz uma nova criatura (Romanos 6:3). Vocês entram na<br />

água e o seu mundo, simbolicamente, <strong>de</strong>sce com vocês. Vocês ressurg<strong>em</strong> <strong>em</strong> Cristo,<br />

porém o seu mundo permanece submergido. "Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo,<br />

tu e a tua casa. E lhe pregavam a palavra do Senhor, e a todos os que estavam <strong>em</strong> sua<br />

casa. E, tomando-os ele consigo naquela mesma hora da noite, lavou-lhes os vergões; e<br />

logo foi batizado, ele e todos os seus" (Atos 16:31-33). Com este ato o carcereiro e os<br />

que estavam com ele <strong>de</strong>ram test<strong>em</strong>unho diante <strong>de</strong> Deus, ao seu povo e às potencias<br />

espirituais que estavam realmente salvos <strong>de</strong> um mundo con<strong>de</strong>nado. Como resultado,<br />

l<strong>em</strong>os, se alegraram grand<strong>em</strong>ente porque "haviam acreditado <strong>em</strong> Deus".<br />

Portanto está claro que o batismo não é uma simples questão relativa a um copo <strong>de</strong><br />

água ou a um batistério. É uma coisa muito maior, ligada à morte e à ressurreição do<br />

nosso Senhor Jesus Cristo, tendo <strong>em</strong> vista dois mundos. Todos os que têm trabalhado<br />

<strong>em</strong> países pagãos conhec<strong>em</strong> quão tr<strong>em</strong>endas discussões são provocadas pelo batismo.<br />

A SEPULTURA SIGNIFICA UM FIM<br />

Pedro continua no ponto que citamos acima e <strong>de</strong>screve o batismo como "a indagação<br />

<strong>de</strong> uma boa consciência para com Deus" (1 Pedro 3:21). Ora, nós não pod<strong>em</strong>os<br />

respon<strong>de</strong>r se não há alguém que nos fale. Se Deus não nos tivesse falado nada, não<br />

teríamos nada para respon<strong>de</strong>r. Mas Deus falou; nos falou com a Cruz. Com ela nos disse<br />

que o seu juízo está sobre nós, sobre a velha natureza e sobre o antigo reino. A Cruz não<br />

concerne somente a Cristo pessoalmente; ela não é uma Cruz "individual". É uma Cruz<br />

que nos abraça a todos, uma Cruz "corporativa", uma Cruz que inclui você e eu. Deus<br />

29


nos colocou a todos <strong>em</strong> seu Filho e nos crucificou com Ele. No último Adão cancelou<br />

aquilo que estava no primeiro Adão.<br />

Qual será agora a minha resposta à sentença que Deus pronunciou sobre a velha<br />

criação? Respondo, pedindo o batismo. Por quê? Em Romanos 6:4, Paulo explica que<br />

batismo significa sepultura: "De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na<br />

morte". O batismo, evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, está associado à morte e à ressurreição, ainda que<br />

não seja, <strong>em</strong> si mesmo, n<strong>em</strong> morte n<strong>em</strong> ressurreição: é uma sepultura. Mas, qu<strong>em</strong> está<br />

qualificado para ser sepultado? Somente aqueles que estão mortos! Se, então, eu peço<br />

<strong>de</strong> ser batizado, <strong>de</strong>claro que estou morto, vale dizer, bom somente para o túmulo.<br />

Infelizmente, certas pessoas foram a<strong>de</strong>stradas para consi<strong>de</strong>rar a tumba como um<br />

meio para morrer: elas procuram morrer fazendo-se sepultar! Permitam-me dizer<br />

formalmente que, se os nossos olhos não foram abertos por Deus para ver que já<br />

estamos mortos <strong>em</strong> Cristo e que fomos sepultados com Ele, não t<strong>em</strong>os direito <strong>de</strong> sermos<br />

batizados. A razão pela qual <strong>de</strong>sc<strong>em</strong>os na água é que t<strong>em</strong>os reconhecido <strong>de</strong> sermos, aos<br />

olhos <strong>de</strong> Deus, já mortos. A isto nós rend<strong>em</strong>os test<strong>em</strong>unho. A pergunta <strong>de</strong> Deus é clara e<br />

simples: "Cristo morreu e Eu incluí você neste fato. O que você t<strong>em</strong> a dizer a este<br />

respeito?" Qual será a minha resposta? "Senhor, eu creio que Tu cumpriste a crucifixão.<br />

Eu digo sim à morte e à sepultura à qual me ligas". Ele me consignou à morte e à tumba;<br />

quando eu Lhe peço <strong>de</strong> ser batizado, <strong>de</strong>claro publicamente o meu consenso com este<br />

fato.<br />

Uma mulher da China, havendo perdido seu marido, enlouqueceu da dor e refutou-se<br />

<strong>de</strong>cididamente a sepultá-lo. Durante quinze dias ele permaneceu na casa. "Não", falava a<br />

mulher, "Ele não está morto; eu falo com ele todas as noites". Ela não queria sepultá-lo<br />

porque, coitadinha, não acreditava que estivesse morto. Quando consentimos que<br />

sepult<strong>em</strong> os nossos seres queridos? Até que tenhamos a mínima esperança <strong>de</strong> que<br />

estejam ainda vivos, não ter<strong>em</strong>os nunca o pensamento <strong>de</strong> sepultá-los. Assim, <strong>em</strong> que<br />

momento eu pedirei pelo batismo? Quando eu veja que os caminhos <strong>de</strong> Deus são<br />

perfeitos e que eu mereci a morte; e quando acredite realmente que Deus já me<br />

crucificou. Quando eu esteja b<strong>em</strong> persuadido, diante <strong>de</strong> Deus, que estou<br />

verda<strong>de</strong>iramente morto, solicitarei ser batizado. Direi: "Deus seja louvado, eu estou<br />

verda<strong>de</strong>iramente morto! Senhor, Tu me <strong>de</strong>ixaste morto; é hora que eu seja sepultado!"<br />

Na China t<strong>em</strong>os dois serviços <strong>de</strong> socorro, uma "Cruz Vermelha" e uma "Cruz Azul". A<br />

primeira assiste aqueles que foram feridos <strong>em</strong> combate, mas que estão ainda vivos, e<br />

leva a eles ajuda e cura. A segunda se ocupa das vítimas que sucumb<strong>em</strong> pela fome, a<br />

inundação ou a guerra, e dá a eles sepultura. Deus age, a nosso respeito, por meio da<br />

Cruz <strong>de</strong> Cristo, <strong>de</strong> forma mais severa que a da "Cruz Vermelha". Ele não si esforça para<br />

reparar a velha criação. Os sobreviventes mesmos são con<strong>de</strong>nados à morte e ao<br />

sepultamento, a fim que revivam numa nova vida. Deus cumpriu a obra da crucifixão, e<br />

assim agora estamos entre o número dos mortos; mas <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os aceitar isto e submeternos<br />

à obra da "Cruz Azul", que leva a termo a obra da morte com o sepultamento. Existe<br />

um mundo velho e um mundo novo e entre os dois há uma tumba. Deus me crucificou,<br />

mas eu <strong>de</strong>vo consentir <strong>em</strong> ser colocado no túmulo. O meu batismo confirma a sentença<br />

<strong>de</strong> Deus, que caiu sobre mim por meio da Cruz do seu Filho. Isso confirma a minha<br />

separação do antigo mundo, e testifica que agora pertenço ao novo. O batismo não é,<br />

então, uma pequena coisa. Significa para mim uma clara e consciente ruptura com o<br />

velho modo <strong>de</strong> viver. É aqui o significado <strong>de</strong> Romanos 6:2: "Nós, que estamos mortos<br />

para o pecado, como viver<strong>em</strong>os ainda nele?". Paulo diz, <strong>em</strong> realida<strong>de</strong>: "Se <strong>de</strong>sejam<br />

continuar a viver no velho mundo, para que se batizam? Não <strong>de</strong>veriam nunca ser<br />

batizados se <strong>de</strong>sejam continuar a viver no antigo reino." Somente quando estejamos<br />

persuadidos disto, estar<strong>em</strong>os prontos a preparar o terreno para a nova criação,<br />

consentindo <strong>em</strong> sepultar a velha.<br />

Em Romanos 6:5, escrevendo ainda para aqueles que "fomos batizados" (versículo 3),<br />

Paulo mostra que "fomos convertidos numa mesma planta com Cristo por uma morte<br />

similar à dEle". Porque, por meio do batismo, reconhec<strong>em</strong>os que Deus estabeleceu uma<br />

união íntima entre nós e Cristo graças à morte e a ressurreição. Um dia procurei<br />

sublinhar esta verda<strong>de</strong> a um irmão crente. Estávamos juntos bebendo chá, e eu peguei<br />

um pedacinho <strong>de</strong> açúcar e o coloquei <strong>em</strong> minha xícara. Depois <strong>de</strong> alguns instantes,<br />

perguntei: "Po<strong>de</strong> me dizer agora cadê o açúcar e cadê o chá?". "Não", respon<strong>de</strong>u ele,<br />

"você os misturou, um se per<strong>de</strong>u no outro e já não pod<strong>em</strong> mais ser separados". Foi uma<br />

figura simples, mais o ajudou a ver o caráter íntimo e <strong>de</strong>cisivo da nossa união com Cristo<br />

na morte. Deus nos colocou lá e o que Deus cumpre não po<strong>de</strong> ser anulado.<br />

30


O que implica, <strong>de</strong> fato, esta união? O real significado do batismo é que na Cruz fomos<br />

"batizados" na morte histórica <strong>de</strong> Cristo, <strong>de</strong> forma que sua morte se converteu na nossa.<br />

A nossa morte e a sua estão assim tão profundamente i<strong>de</strong>ntificadas que é impossível<br />

distingui-las. É a este "batismo" histórico, a esta união com Deus que Ele mesmo<br />

cumpriu, que nós damos o nosso consenso enquanto <strong>de</strong>sc<strong>em</strong>os às águas do batismo. O<br />

test<strong>em</strong>unho público que rend<strong>em</strong>os hoje com o batismo d<strong>em</strong>onstra a nossa aceitação do<br />

fato que a morte <strong>de</strong> Cristo, dois mil anos atrás, foi uma morte tão po<strong>de</strong>rosa e tão<br />

profunda que po<strong>de</strong> nos levar nela, <strong>de</strong>struindo <strong>em</strong> nós tudo aquilo que não é <strong>de</strong> Deus.<br />

A RESSURREIÇÃO EM NOVIDADE DE VIDA<br />

"Se fomos plantados juntamente com ele na s<strong>em</strong>elhança da sua morte, também o<br />

ser<strong>em</strong>os na da sua ressurreição" (Rm 6:5).<br />

No que diz respeito à ressurreição o símbolo é diferente, porque há um novo el<strong>em</strong>ento<br />

introduzido. Eu sou "batizado <strong>em</strong> Sua morte", mas não entro na mesma forma <strong>em</strong> sua<br />

ressurreição, porque (Deus seja louvado!) a sua ressurreição entra <strong>em</strong> mim para me dar<br />

nova vida. Na morte do Senhor a ênfase está colocada sobre "eu <strong>em</strong> Cristo" somente. Na<br />

ressurreição, ainda que isto permaneça verda<strong>de</strong>iro, um novo acento é colocado sobre<br />

"Cristo <strong>em</strong> mim". Como po<strong>de</strong> Cristo me fazer participar <strong>de</strong> sua vida <strong>de</strong> ressurreição?<br />

Como é que eu recebo esta nova vida? Creio que Paulo apresente um ótimo ex<strong>em</strong>plo<br />

com as palavras que adota: "convertidos numa mesma coisa com Ele", "convertidos num<br />

com Ele" (tradução literal do texto original), porque as palavras traduzidas <strong>em</strong><br />

"convertidos numa mesma coisa com Ele" têm <strong>em</strong> grego o sentido <strong>de</strong> "enxertada" 5 , e<br />

<strong>de</strong>screv<strong>em</strong> maravilhosamente a imag<strong>em</strong> da vida <strong>de</strong> Cristo que v<strong>em</strong> a nós com a<br />

ressurreição.<br />

Visitei um dia, <strong>em</strong> Fukin, um hom<strong>em</strong> proprietário <strong>de</strong> um pomar <strong>de</strong> "Long-Ien" 6 .<br />

Possuía algumas centenas <strong>de</strong> hectares <strong>de</strong> terra e perto <strong>de</strong> trezentas árvores frutíferas.<br />

Perguntei-lhe se aquelas árvores tinham sido enxertadas ou eram plantas naturais. "Você<br />

acha", me disse, "que eu <strong>de</strong>sperdiçaria a minha terra não cultivando plantas enxertadas?<br />

Que valor po<strong>de</strong>r esperar <strong>de</strong> obter com árvores naturais?". Pedi-lhe, então, que me<br />

explicasse o procedimento do enxerto, o que ele fiz <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong>.<br />

"Quando uma árvore t<strong>em</strong> atingido uma certa altura, corto o topo e faço o enxerto",<br />

me disse. Depois, assinalando uma árvore, continuou: "Vê aquela árvore? Eu a chamo <strong>de</strong><br />

'árvore-pai', porque todos os enxertos necessários para as outras árvores preced<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>sta. Se as outras árvores tivess<strong>em</strong> sido abandonadas simplesmente ao seu<br />

<strong>de</strong>senvolvimento natural, os seus frutos seriam menores e estariam constituídos<br />

principalmente <strong>de</strong> uma casca grossa e s<strong>em</strong>entes. Esta árvore, da qual eu tiro os enxertos<br />

para todas as outras, produz um fruto gostoso, grosso como uma ameixa, com uma<br />

superfície fina, <strong>de</strong> pequena s<strong>em</strong>ente, e naturalmente todas as árvores enxertadas<br />

produz<strong>em</strong> o mesmo fruto". "Como é que isso po<strong>de</strong> acontecer?", perguntei. "Pego<br />

simplesmente um pouco da natureza <strong>de</strong>sta árvore para transmiti-la aos outros",<br />

explicou-me. "Faço um corte na árvore selvag<strong>em</strong> e insiro nela um el<strong>em</strong>ento daquela boa.<br />

Então a amarro e a <strong>de</strong>ixo crescer". "Mas como cresce?" perguntei. "Não sei", respon<strong>de</strong>u,<br />

"mas cresce". A continuação me mostrou uma arvore que produzia frutos pequenos,<br />

miseráveis, <strong>de</strong> um velho tronco, por <strong>de</strong>baixo do enxerto, enquanto um gostoso e<br />

suculento fruto crescia do novo tronco, acima do enxerto. "Eu <strong>de</strong>ixei os velhos brotos<br />

com seu fruto inútil para mostrar a diferença", disse.<br />

"Destes po<strong>de</strong> se apreciar o valor do enxerto. Você enten<strong>de</strong> agora a razão pela qual<br />

não cultivo senão árvores enxertadas?"<br />

Como po<strong>de</strong> uma árvore produzir o fruto <strong>de</strong> uma outra? Como po<strong>de</strong> uma árvore<br />

selvag<strong>em</strong> produzir bons frutos? Somente com o enxerto. Somente se se transplanta nele<br />

a vida <strong>de</strong> uma árvore boa. Mas se um hom<strong>em</strong> po<strong>de</strong> enxertar o galho <strong>de</strong> uma árvore<br />

numa outra árvore, Deus não po<strong>de</strong> tomar a vida <strong>de</strong> seu Filho e enxertá-la <strong>em</strong> nós?<br />

5 Do grego "sumphutos", "plantado e crescido com Ele", "convertidos numa mesma coisa com".<br />

A palavra é utilizada no grego clássico no sentido <strong>de</strong> "enxertada". Na esplêndida ilustração que<br />

vimos, penso que a analogia <strong>de</strong> "enxertado" não seja expressa d<strong>em</strong>asiado exatamente, por quanto<br />

não é pru<strong>de</strong>nte dizer, fora <strong>de</strong> qualquer precisão, que Cristo foi "enxertado" na velha cepa. Mas qual<br />

palavra po<strong>de</strong> <strong>de</strong>screver a<strong>de</strong>quadamente o milagre da nova criação? (Ed.).<br />

6 O "Long-Ien" (Euforia Longana) é uma árvore originaria da China. Seu fruto é gran<strong>de</strong> como<br />

um damasco e t<strong>em</strong> uma noz redonda, uma casca similar a papel seco, marrom claro, polpa<br />

<strong>de</strong>liciosa, branca, similar à uva. Se come fresco ou seco, e os chineses o apreciam pelo ser valor<br />

nutritivo (Ed.).<br />

31


Uma mulher chinesa queimou-se grav<strong>em</strong>ente os braços e foi transportada no hospital.<br />

Para evitar uma forte contração dos tecidos após a cicatrização é necessário enxertar um<br />

pedaço <strong>de</strong> pele nova sobre a parte afetada, mas o médico tentava <strong>em</strong> vão transplantar a<br />

pele da mulher mesma nos braços. A causa da ida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> uma má alimentação, o<br />

transplante da própria pele d<strong>em</strong>onstrou ser d<strong>em</strong>asiado fraco e não "afixava".<br />

Uma enfermeira estrangeira ofereceu então um pedaço <strong>de</strong> pele e a operação foi um<br />

sucesso. A pele nova se grudou à velha e a mulher <strong>de</strong>ixou o hospital com os braços<br />

perfeitamente curados; permaneceu, porém, sobre os seus braços amarelos uma seção<br />

<strong>de</strong> pele branca estrangeira, para l<strong>em</strong>brá-la da história passada. Vocês perguntarão como<br />

podia a pele <strong>de</strong> um outro crescer sobre os braços daquela mulher? Eu não sei, só sei que<br />

aconteceu.<br />

Se um cirurgião <strong>de</strong>ste mundo po<strong>de</strong> enxertar um fragmento <strong>de</strong> pele <strong>de</strong> um ser<br />

humano para transplantá-lo <strong>em</strong> outro, o Divino Cirurgião não po<strong>de</strong>rá transplantar a vida<br />

<strong>de</strong> seu Filho <strong>em</strong> mim? Eu não sei como Ele faz. "O vento assopra on<strong>de</strong> quer, e ouves a<br />

sua voz, mas não sabes <strong>de</strong> on<strong>de</strong> v<strong>em</strong>, n<strong>em</strong> para on<strong>de</strong> vai; assim é todo aquele que é<br />

nascido do Espírito" (João 3:8). Nós não pod<strong>em</strong>os fazer nada e não t<strong>em</strong>os nada a fazer<br />

para contribuir, porque com a ressurreição Deus já fez tudo.<br />

Deus já cumpriu tudo. Existe uma única vida fecunda no mundo, e essa foi enxertada<br />

<strong>em</strong> milhões <strong>de</strong> outras vidas. Nós a chamamos "novo nascimento". O novo nascimento é a<br />

infusão <strong>de</strong> uma vida que eu não possuía antes. Não é uma transformação da minha vida<br />

natural, é uma outra vida, inteiramente nova, absolutamente divina e que se<br />

transformou <strong>em</strong> minha vida.<br />

Deus <strong>de</strong>u fim à velha criação com a Cruz <strong>de</strong> seu Filho, para po<strong>de</strong>r introduzir, com a<br />

ressurreição, uma nova criação <strong>em</strong> Cristo. Ele fechou a porta ao antigo reino <strong>de</strong> trevas e<br />

me fez entrar no reino <strong>de</strong> seu amado Filho. Eu exulto pelo fato que tudo foi cumprido;<br />

que, pela Cruz <strong>de</strong> nosso Senhor Jesus Cristo, este velho mundo foi crucificado <strong>em</strong> mim, e<br />

eu fui crucificado para o mundo" (Gl 6:14). O meu batismo é o test<strong>em</strong>unho público que<br />

eu rendo <strong>de</strong>ste fato. "Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz<br />

confissão para a salvação" (Rm 10:10).<br />

32<br />

CAPÍTULO 6 – O CAMINHO PARA IR ALÉM: APRESENTAR-SE A DEUS<br />

O nosso estudo nos conduziu ao ponto <strong>em</strong> que pod<strong>em</strong>os consi<strong>de</strong>rar a verda<strong>de</strong>ira<br />

natureza da consagração. T<strong>em</strong>os diante dos olhos a segunda meta<strong>de</strong> do capítulo sexto<br />

da carta aos Romanos, do versículo 12 até o fim. Em Romanos 6:12-13 l<strong>em</strong>os: "Não<br />

reine, portanto, o pecado <strong>em</strong> vosso corpo mortal, para lhe obe<strong>de</strong>cer<strong>de</strong>s <strong>em</strong> suas<br />

concupiscências; n<strong>em</strong> tampouco apresenteis os vossos m<strong>em</strong>bros ao pecado por<br />

instrumentos <strong>de</strong> iniqüida<strong>de</strong>; mas apresentai-vos a Deus, como vivos <strong>de</strong>ntre mortos, e os<br />

vossos m<strong>em</strong>bros a Deus, como instrumentos <strong>de</strong> justiça". A palavra chave, neste<br />

parágrafo é "apresentar-se", e volta aparecer cinco vezes no capítulo, nos versículos 13,<br />

16 e 19 7 .<br />

Esta palavra "apresentar" é consi<strong>de</strong>rada por muitos com um sentido <strong>de</strong> consagração,<br />

s<strong>em</strong> levar <strong>em</strong> conta cuidadosamente o seu significado. Evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente significa isto, mas<br />

não no sentido no qual estamos acostumados a compreendê-la. Não se trata da<br />

consagração ao Senhor do nosso "velho hom<strong>em</strong>" com os seus instintos e recursos, a sua<br />

sagacida<strong>de</strong> natural, a nossa força e outros dons para que Ele os utilize. Isto está<br />

claramente manifestado no versículo 13. Notamos a expressão "como vivos <strong>de</strong>ntre<br />

mortos". Paulo diz: "do<strong>em</strong>-se a vocês mesmos a Deus como mortos vivificados". Isto nos<br />

indica o ponto on<strong>de</strong> começa a consagração. Porque do que aqui se trata não é da<br />

7 Dois verbos gregos, "paristano" e "parist<strong>em</strong>i" são traduzidos como "dar" na versão revisada<br />

(original), enquanto a versão antiga diz "oferecer". "Parist<strong>em</strong>i" é utilizado freqüent<strong>em</strong>ente com<br />

este significado, por ex<strong>em</strong>plo <strong>em</strong> Rm 12:1; 2 Co 11:2; Cl 1:22,28; Lc 2:22, on<strong>de</strong> se refere à<br />

apresentação <strong>de</strong> Jesus no T<strong>em</strong>plo. Ambos verbos têm um sentido <strong>de</strong> ação, pelo qual a versão<br />

revista é a que <strong>de</strong>ve preferir-se. "oferecer" contém antes b<strong>em</strong> uma idéia passiva <strong>de</strong> abandono que<br />

t<strong>em</strong> muita influência sobre o pensamento evangélico, mas que não está <strong>em</strong> harmonia com o<br />

contexto que t<strong>em</strong>os aqui <strong>em</strong> Romanos (Ed.).<br />

Tanto na ARA como na PJFA a palavra é traduzida como "apresentar". Nas outras passagens<br />

mencionadas acima também, <strong>em</strong> todas, t<strong>em</strong> a mesma tradução (N. do T.).


consagração <strong>de</strong> alguma coisa que pertence à velha criação, mas somente <strong>de</strong> aquilo que,<br />

através da morte, passou à ressurreição. O "apresentar" aqui expressado é o resultado<br />

do conhecimento que tenho do fato que o meu velho hom<strong>em</strong> foi crucificado. Saber,<br />

reconhecer, apresentar-se a Deus: esta é a ord<strong>em</strong> divina.<br />

Quando reconheço com certeza que fui crucificado com Ele, me reconheço<br />

espontaneamente como morto (versículos 6 e 11); e quando sei que ressuscitei com Ele<br />

dos mortos, analogamente, reconheço <strong>de</strong> estar "vivo para Deus <strong>em</strong> Cristo Jesus"<br />

(versículos 9 e 11), porque os dois aspectos da Cruz, o da morte e o da ressurreição,<br />

<strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser aceitos por fé. Quando cheguei a este ponto, o me dar a mim mesmo a Deus<br />

é uma conseqüência natural. Na ressurreição Ele é a fonte da minha vida, é a minha<br />

vida; assim posso doá-Lhe tudo, porque tudo é dEle, nada é meu. Porém se não passo<br />

através da morte, não tenho nada para consagrar a Ele, e não há nada <strong>em</strong> mim que<br />

Deus possa aceitar, porque Ele con<strong>de</strong>nou sobre a Cruz tudo aquilo que pertence ao<br />

"velho hom<strong>em</strong>". A morte eliminou tudo aquilo que não po<strong>de</strong> ser consagrado e só a<br />

ressurreição permite a consagração. Dar-me a Deus significa, <strong>de</strong> agora <strong>em</strong> diante, que<br />

consi<strong>de</strong>ro a minha vida inteira como pertencente ao Senhor.<br />

O TERCEIRO PASSO: "APRESENTAI-VOS..."<br />

Observ<strong>em</strong>os que este "apresentar-se" concerne aos m<strong>em</strong>bros do nosso corpo, daquele<br />

corpo que, como vimos, está agora fora <strong>de</strong> ação no que diz respeito ao pecado.<br />

"Apresentai-vos a Deus... e os vossos m<strong>em</strong>bros...", diz Paulo, e ainda: "assim<br />

apresentai agora os vossos m<strong>em</strong>bros" (Rm 6:13,19). Deus me pe<strong>de</strong> <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar todos<br />

os meus m<strong>em</strong>bros, todas as minhas faculda<strong>de</strong>s como pertencentes inteiramente a Ele.<br />

É uma gran<strong>de</strong> coisa <strong>de</strong>scobrir que não pertenço mais a mim mesmo, mas que sou<br />

dEle. Se os R$ 500 que tenho no bolso são meus, eu posso dispor <strong>de</strong>les livr<strong>em</strong>ente. Mas<br />

se pertenc<strong>em</strong> a uma outra pessoa que os confiou a mim, não posso pensar <strong>em</strong> gastá-los<br />

para comprar qualquer coisa que eu <strong>de</strong>seje, tratarei <strong>de</strong> não gastá-los. A verda<strong>de</strong>ira vida<br />

cristã começa com saber isso. Quantos <strong>de</strong> nós sab<strong>em</strong>os que, pela ressurreição <strong>de</strong> Cristo,<br />

estamos vivos "para Deus" e não para nós mesmos? Quantos <strong>de</strong> nós não ousamos usar o<br />

próprio t<strong>em</strong>po, o próprio dinheiro ou os próprios talentos para nós mesmos, porque<br />

t<strong>em</strong>os compreendido que pertenc<strong>em</strong>os ao Senhor e não mais a nós mesmos? Quantos <strong>de</strong><br />

nós t<strong>em</strong>os um senso tão forte <strong>de</strong> pertencermos a um Outro, que não ousamos pegar R$<br />

100 do nosso dinheiro, n<strong>em</strong> uma hora <strong>de</strong> nosso t<strong>em</strong>po, n<strong>em</strong> algumas das próprias forças<br />

físicas e mentais?<br />

Uma vez, um irmão chinês viajava <strong>em</strong> tr<strong>em</strong> e se achou num compartimento junto com<br />

três incrédulos que queriam jogar cartas para matar o t<strong>em</strong>po. Como faltava um quarto<br />

jogador para a partida, convidaram o irmão para unir-se a eles. "Lamento rejeitar", disse<br />

a eles, "mas não posso ter parte no jogo, porque não trouxe comigo as minhas mãos".<br />

"O que você quer dizer?" perguntaram <strong>de</strong>sconcertados os viajantes. "Estas duas mãos<br />

não me pertenc<strong>em</strong>", respon<strong>de</strong>u, e explicou a eles a mudança <strong>de</strong> proprietário que tinha<br />

acontecido nEle. Este irmão consi<strong>de</strong>rava os m<strong>em</strong>bros <strong>de</strong> seu corpo como pertencentes<br />

totalmente ao Senhor. Esta é a verda<strong>de</strong>ira santida<strong>de</strong>.<br />

Paulo diz: "Apresentai agora os vossos m<strong>em</strong>bros para servir<strong>em</strong> à justiça para<br />

santificação" (Rm 6:19). Façam um ato <strong>de</strong>finitivo: "Apresentai-vos a Deus".<br />

SEPARADO PARA O SENHOR<br />

O que é a santida<strong>de</strong>? Muitas pessoas pensam que se torna santo extirpando tudo<br />

aquilo que existe <strong>de</strong> mau no hom<strong>em</strong>. Não, nos tornamos santos sendo separados para o<br />

serviço do Senhor. Nos t<strong>em</strong>pos do Antigo Testamento, quando um hom<strong>em</strong> tinha sido<br />

pré-selecionado por Deus para ser inteiramente seu, era ungido com óleo publicamente,<br />

e <strong>de</strong>clarado "santificado". Des<strong>de</strong> esse momento era consi<strong>de</strong>rado como colocado <strong>de</strong> lado<br />

para o Senhor. Da mesma maneira, os animais ou as coisas materiais, um cor<strong>de</strong>iro, ou o<br />

ouro do T<strong>em</strong>plo, podiam ser santificados, não eliminando qualquer coisa que houvesse <strong>de</strong><br />

mau neles, ma pondo-os aparte exclusivamente para o Senhor. Santida<strong>de</strong> no sentido<br />

hebraico significa alguma coisa separada, e toda a verda<strong>de</strong>ira santida<strong>de</strong> é santida<strong>de</strong><br />

"para o Senhor" (Êxodo 28:36). Eu me dou inteiramente a Cristo: eis a santida<strong>de</strong>.<br />

Entregar-me a mim mesmo a Deus significa que reconheço ser inteiramente Seu.<br />

Este donativo <strong>de</strong> mim mesmo é um ato <strong>de</strong>finitivo, tão <strong>de</strong>finitivo quanto o fato <strong>de</strong><br />

"consi<strong>de</strong>rar-me como...". Deve haver um dia, <strong>em</strong> minha vida, <strong>em</strong> que eu coloquei as<br />

minhas próprias mãos nas dEle, e a partir daquele dia eu lhe pertenço: pertenço a Ele e<br />

não mais a mim mesmo. Exist<strong>em</strong>, apesar disso, muitos missionários que não são<br />

verda<strong>de</strong>iramente consagrados a Deus, no verda<strong>de</strong>iro sentido que consi<strong>de</strong>ramos acima.<br />

33


T<strong>em</strong> "consagrado", como costumam dizer, alguma coisa b<strong>em</strong> diferente, ou seja, suas<br />

qualida<strong>de</strong>s naturais, não crucificadas, para ser<strong>em</strong> usadas na obra <strong>de</strong> Deus; mas esta não<br />

é a verda<strong>de</strong>ira consagração. A que coisa <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os, então, nos consagrar? Não à obra<br />

cristã, mas à vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, para ser e fazer tudo aquilo que Ele quer <strong>de</strong> nós.<br />

Davi tinha <strong>em</strong> seu exercito muitos homens fortes. Alguns eram generais e outros,<br />

soldados, segundo as tarefas que o rei tinha assinado para eles. Dev<strong>em</strong>os preparar-nos<br />

para sermos generais ou soldados, cumprindo o nosso serviço exatamente como Deus<br />

quer, e não segundo a nossa escolha. Se somos crentes, Deus t<strong>em</strong> traçado um caminho<br />

para nós, uma "carreira", como a chama Paulo <strong>em</strong> 2 Timóteo 4:7. Não somente o<br />

caminho <strong>de</strong> Paulo, mas aquele <strong>de</strong> cada crente foi claramente assinalado por Deus, e é <strong>de</strong><br />

importância extr<strong>em</strong>a conhecer o caminho que Deus traçou para cada um <strong>de</strong> nós e<br />

transitar nele. "Senhor, eu me dou a Ti com este único <strong>de</strong>sejo, <strong>de</strong> conhecer b<strong>em</strong> o<br />

caminho que traçaste para mim, para andar por ele". Eis o verda<strong>de</strong>iro donativo <strong>de</strong> nós<br />

mesmos. Se, no fim <strong>de</strong> nossa vida, po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os dizer como Paulo: "acabei a carreira",<br />

ser<strong>em</strong>os verda<strong>de</strong>iramente abençoados. Por outra parte, não há nada mais tr<strong>em</strong>endo que<br />

alcançar o fim da própria existência e perceber ter andado por um caminho errado.<br />

T<strong>em</strong>os somente uma vida para viver aqui <strong>em</strong>baixo e somos livres <strong>de</strong> fazer o que<br />

<strong>de</strong>sejamos, mas se procuramos a nossa própria satisfação, não po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os nunca<br />

glorificar a Deus com a nossa vida. Um dia ouvi um pio crente dizer: "Eu não quero nada<br />

para mim mesmo; <strong>de</strong>sejo que tudo seja para o Senhor". Existe alguma coisa que<br />

<strong>de</strong>sej<strong>em</strong>os fora <strong>de</strong> Deus, ou todos os nossos <strong>de</strong>sejos estão concentrados <strong>em</strong> Sua<br />

vonta<strong>de</strong>? Pod<strong>em</strong>os realmente confessar que a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus é "boa, aceitável e<br />

perfeita" para nós (Rm 12:2)?<br />

De fato, é <strong>de</strong> nossa vonta<strong>de</strong> que aqui estamos falando. Esta minha vonta<strong>de</strong> forte,<br />

prepotente, <strong>de</strong>ve ser colocada sobre a Cruz e é necessário que eu me entregue<br />

inteiramente a mim mesmo ao Senhor. Não pod<strong>em</strong>os pedir a um alfaiate <strong>de</strong><br />

confeccionar-nos um vestido se não lhe damos o tecido, n<strong>em</strong> a um construtor <strong>de</strong> fazernos<br />

uma casa se não lhe procuramos o material necessário; também não pod<strong>em</strong>os<br />

esperar do Senhor que viva a Sua vida <strong>em</strong> nós, se não Lhe entregarmos a nossa vida<br />

para que Ele nos faça permanecer. S<strong>em</strong> reservas, s<strong>em</strong> contestações, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os dar-nos<br />

ao Senhor dia após dia, até que Ele faça <strong>de</strong> nós o que Ele <strong>de</strong>seja. "Apresentai-vos a<br />

Deus" (Rm 6:13).<br />

SERVO OU ESCRAVO?<br />

Se nos damos s<strong>em</strong> reservas a Deus, muitas modificações acontecerão <strong>em</strong> nossa vida,<br />

<strong>em</strong> nossa família, <strong>em</strong> nosso trabalho, <strong>em</strong> nossas relações <strong>de</strong> igreja e nas nossas opiniões<br />

pessoais. Deus não permitirá que subsista nada <strong>de</strong> nós mesmos. Os seus <strong>de</strong>dos tocarão<br />

ponto por ponto tudo aquilo que não provém dEle e nos dirá: "Isto <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>saparecer".<br />

Estamos prontos para isso? É uma loucura resistir a Deus e é s<strong>em</strong>pre sábio submeter-se<br />

a Ele. Reconheçamos que muitos <strong>de</strong> nós t<strong>em</strong>os ainda contrastes com o Senhor. Ele quer<br />

uma coisa, enquanto nós quer<strong>em</strong>os outra. Exist<strong>em</strong> coisas que nós não ousamos sondar,<br />

pelas quais não nos atrev<strong>em</strong>os a orar, às quais não ousamos n<strong>em</strong> sequer pensar por<br />

medo <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r a nossa paz. Pod<strong>em</strong>os assim subtrair-nos a certos probl<strong>em</strong>as, mas isto<br />

nos faz evadir a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus. É s<strong>em</strong>pre tão fácil evadir-nos <strong>de</strong> Sua vonta<strong>de</strong>, mas<br />

que precioso é que volt<strong>em</strong>os a colocar-nos <strong>em</strong> Suas mãos para que Ele possa agir <strong>em</strong><br />

nós como Ele <strong>de</strong>seja!<br />

Como é precioso sermos conscientes <strong>de</strong> pertencermos ao Senhor e não a nós<br />

mesmos! Não existe nada <strong>de</strong> mais precioso no mundo! É isso que nos dá a certeza <strong>de</strong><br />

Sua presença contínua e a razão é clara. Devo, antes que nada, ter a certeza <strong>de</strong><br />

pertencer a Deus para ter, a seguir, consciência <strong>de</strong> Sua presença <strong>em</strong> mim. Quando sinto<br />

que Lhe pertenço, não posso mais fazer nada <strong>em</strong> meu interesse pessoal, porque sou <strong>de</strong><br />

Sua exclusiva proprieda<strong>de</strong>. "Não sabeis vós que a qu<strong>em</strong> vos apresentar<strong>de</strong>s por servos<br />

para lhe obe<strong>de</strong>cer, sois servos daquele a qu<strong>em</strong> obe<strong>de</strong>ceis, ou do pecado para a morte, ou<br />

da obediência para a justiça?" (Rm 6:16). A palavra "servo" é, <strong>de</strong> fato, muito apropriada.<br />

A encontramos repetidamente nesta segunda parte <strong>de</strong> Romanos 6.<br />

Qual é a diferença entre um servo e um escravo? Um servo po<strong>de</strong> servir um outro, mas<br />

o direito <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> não passa àquele outro. Se um servo gosta do seu patrão ele o<br />

serve, mas se não gosta, po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sligar-se <strong>de</strong>le e procurar um outro patrão. Como eu me<br />

converti <strong>em</strong> escravo do Senhor? Eu fui comprado por Ele e me entreguei a Ele. Em<br />

virtu<strong>de</strong> da re<strong>de</strong>nção eu sou proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, mas para ser seu escravo <strong>de</strong>vo doarme<br />

voluntariamente a Ele, porque Ele nunca vai me constranger. O que mais nos<br />

entristece hoje é que muitos cristãos têm idéias d<strong>em</strong>asiado restritas a respeito do que<br />

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Deus exige <strong>de</strong>les. Com quanta levianda<strong>de</strong> diz<strong>em</strong>: "Senhor, eu estou pronto para tudo".<br />

Sab<strong>em</strong>os que Deus nos pe<strong>de</strong> a nossa própria vida? Há sonhos prediletos, fortes<br />

vonta<strong>de</strong>s, relações preciosas, um trabalho muito amado que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser abandonados;<br />

porém, se nos negamos a <strong>de</strong>sapegar-nos inteiramente, não pod<strong>em</strong>os doar-nos a Deus.<br />

porque Deus tomará a sua palavra, ainda quando vocês não a cumpram seriamente.<br />

O que fez o Senhor quando o rapaz da Galiléia lhe entregou seu pão? O partiu. Deus<br />

partirá s<strong>em</strong>pre o que Lhe é oferecido. Ele rompe aquilo que pega, mas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tê-lo<br />

rompido o abençoa e o adota para respon<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s dos outros. Depois que<br />

vocês tenham se entregado ao Senhor, Ele começará partir o que vocês Lhe ofereceram.<br />

Tudo parece então andar mal e vocês protestam e acreditam ver erros nas vias <strong>de</strong> Deus.<br />

Mas <strong>de</strong>sta forma serão somente um vaso quebrado, s<strong>em</strong> utilida<strong>de</strong> alguma para o mundo,<br />

pois se distanciaram d<strong>em</strong>asiado dEle e assim não po<strong>de</strong> servir-se <strong>de</strong> vocês. Não estão<br />

mais <strong>de</strong> acordo com o mundo e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, estão <strong>em</strong> contraste com Deus. Esta é<br />

a tragédia <strong>de</strong> muitos crentes.<br />

O donativo <strong>de</strong> mim mesmo ao Senhor <strong>de</strong>ve ser um ato inicial e fundamental. A seguir,<br />

dia após dia, <strong>de</strong>vo continuar no oferecimento <strong>de</strong> mim mesmo, s<strong>em</strong> achar injusta a forma<br />

da qual Ele se serve <strong>de</strong> mim; mas aceitando com agra<strong>de</strong>cimento também aquilo pelo<br />

qual a carne se rebela. Eu sou do Senhor e não consi<strong>de</strong>ro mais a minha vida como<br />

própria, mas <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> e direito dEle. Este é o comportamento interior que Deus<br />

exige, e mantê-lo é a verda<strong>de</strong>ira consagração.<br />

"Eu não me consagro para ser um missionário ou um predicador; me consagro a Deus<br />

para fazer a Sua vonta<strong>de</strong>, lá on<strong>de</strong> eu estou, seja na escola, no trabalho ou no escritório,<br />

seja na cozinha aceitando tudo aquilo que Ele me confia como o melhor, porque somente<br />

aquilo que é bom po<strong>de</strong> ser a parte daqueles que são inteiramente dEle. Esperamos ser<br />

s<strong>em</strong>pre conscientes <strong>de</strong> não pertenc<strong>em</strong>os mais a nós mesmos, mas ao Senhor.<br />

CAPÍTULO 7 – O DESÍGNIO ETERNO<br />

T<strong>em</strong>os constatado que para viver a verda<strong>de</strong>ira vida cristã necessitamos revelação, fé,<br />

consagração. Mas se não v<strong>em</strong>os o objetivo que Deus t<strong>em</strong> se fixado, não<br />

compreen<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os nunca claramente como estas experiências sejam necessárias para<br />

conduzir-nos a este fim. Portanto, antes <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar mais profundamente a questão da<br />

experiência interna, prest<strong>em</strong>os atenção principalmente sobre o gran<strong>de</strong> ponto divino que<br />

está diante <strong>de</strong> nós.<br />

Qual é o <strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong> Deus na criação? E qual é seu <strong>de</strong>sígnio na re<strong>de</strong>nção? Po<strong>de</strong> ser<br />

resumido <strong>em</strong> duas frases, e cada uma trata <strong>de</strong> uma das duas partes <strong>em</strong> que dividimos a<br />

carta aos Romanos: "a glória <strong>de</strong> Deus" (Rm 3:23) e "a glória dos filhos <strong>de</strong> Deus" (Rm<br />

8:21). L<strong>em</strong>os <strong>em</strong> Rm 3:23: "Porque todos pecaram e <strong>de</strong>stituídos estão da glória <strong>de</strong><br />

Deus". O fim que Deus tinha previsto para o hom<strong>em</strong> era a glória, mas o pecado<br />

obstaculizou este <strong>de</strong>sígnio e impediu o hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> alcançar a glória <strong>de</strong> Deus. Quando<br />

pensamos no pecado, pensamos instintivamente no juízo que produziu; o associamos<br />

invariavelmente à con<strong>de</strong>na e ao inferno. O pensamento do hom<strong>em</strong> gira s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> volta<br />

do castigo que terá aquele que pecar; mas o pensamento <strong>de</strong> Deus está s<strong>em</strong>pre voltado à<br />

glória que o hom<strong>em</strong> per<strong>de</strong>rá se pecar.<br />

O resultado do pecado é que nós somos privados da glória <strong>de</strong> Deus; o resultado da<br />

re<strong>de</strong>nção é que estamos <strong>de</strong> novo no caminho para a glória. O objetivo <strong>de</strong> Deus na<br />

re<strong>de</strong>nção é a glória, a glória, a glória.<br />

O PRIMOGÊNITO DE MUITOS IRMÃOS<br />

Esta consi<strong>de</strong>ração nos conduz ao capítulo 8 <strong>de</strong> Romanos, on<strong>de</strong> o t<strong>em</strong>a é <strong>de</strong>senvolvido<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o versículo 16 ao 18 e ainda nos versículos 29 e 30. Paulo diz: "O mesmo Espírito<br />

testifica com o nosso espírito que somos filhos <strong>de</strong> Deus. E, se nós somos filhos, somos<br />

logo her<strong>de</strong>iros também, her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Deus, e co-her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Cristo: se é certo que com<br />

ele pa<strong>de</strong>c<strong>em</strong>os, para que também com ele sejamos glorificados. Porque para mim tenho<br />

por certo que as aflições <strong>de</strong>ste t<strong>em</strong>po presente não são para comparar com a glória que<br />

<strong>em</strong> nós há <strong>de</strong> ser revelada" (Rm 8:16-18). E ainda: "Porque os que dantes conheceu<br />

também os pre<strong>de</strong>stinou para ser<strong>em</strong> conformes à imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> seu Filho, a fim <strong>de</strong> que ele<br />

seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que pre<strong>de</strong>stinou a estes também chamou;<br />

e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também<br />

glorificou" (Rm 8:29-30). Qual foi o objetivo <strong>de</strong> Deus? Foi que seu Filho Jesus Cristo<br />

fosse o primogênito <strong>de</strong> muitos irmãos, <strong>de</strong>vendo ser todos feitos conforme à sua imag<strong>em</strong>.<br />

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Como realiza Deus seu plano? "Aos que chamou a estes também justificou; e aos que<br />

justificou a estes também glorificou". O <strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong> Deus na criação e na re<strong>de</strong>nção foi,<br />

portanto, fazer <strong>de</strong> Cristo o Filho primogênito <strong>de</strong> muitos filhos glorificados. Talvez isto não<br />

significa gran<strong>de</strong> coisa, no princípio, para muitos <strong>de</strong> nós, porém <strong>de</strong>tenhamo-nos a refletir<br />

atentamente.<br />

Em João 1:14 nos é dito que o Senhor Jesus é o único Filho <strong>de</strong> Deus: "E o Verbo se<br />

fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai,<br />

cheio <strong>de</strong> graça e <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>". O fato que Ele fosse o Filho unigênito <strong>de</strong> Deus significa que<br />

Ele não tinha outros filhos, mas somente esse. Ele está perto do Pai <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a eternida<strong>de</strong>.<br />

Porém, nos é dito, Deus não estava satisfeito com que Cristo fosse seu único filho:<br />

<strong>de</strong>sejava sim que Ele fosse seu primogênito. Como po<strong>de</strong> um filho único converter-se num<br />

primogênito? A resposta é simples. Necessita que o pai tenha outros filhos, e então o<br />

filho único se converterá <strong>em</strong> primogênito.<br />

O <strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong> Deus na criação e na re<strong>de</strong>nção foi o <strong>de</strong> ter muitos filhos. Ele os <strong>de</strong>sejou<br />

e não podia se sentir satisfeito s<strong>em</strong> nós. Um t<strong>em</strong>po atrás eu fiz uma visita ao Sr. George<br />

Cutting, o autor <strong>de</strong> um opúsculo b<strong>em</strong> conhecido: "Segurança, certeza e gozo". Quando<br />

fui introduzido na presença daquele santo hom<strong>em</strong>, <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 93 anos, ele pegou a<br />

minha mão na <strong>de</strong>le e me disse com seu tom tranqüilo e firme: "Irmão, você sabe que eu<br />

não posso fazer nada s<strong>em</strong> Ele? E sabe que Ele não po<strong>de</strong> fazer s<strong>em</strong> mim?"<br />

Lendo a história do filho pródigo, a maior parte dos leitores permanece impressionada<br />

por todas as dificulda<strong>de</strong>s que ele achou; eles concentram o pensamento nos momentos<br />

penosos que ele <strong>de</strong>veu atravessar. Mas este não é o objetivo da parábola. "Meu filho<br />

estava perdido e achou-se", eis o centro essencial do conto. Não é importante o que o<br />

filho sofreu, mas aquilo que o Pai t<strong>em</strong> perdido. É Ele qu<strong>em</strong> sofre; é Ele qu<strong>em</strong> per<strong>de</strong>. Se<br />

uma ovelha é perdida, qu<strong>em</strong> sofre a perda? O pastor. Se uma moeda é perdida, qu<strong>em</strong><br />

sofre a perda? A dona. Se um filho é perdido, qu<strong>em</strong> suporta a perda? O pai. Eis a<br />

explicação do capítulo 15 <strong>de</strong> Lucas.<br />

O Senhor Jesus era o Filho unigênito e enquanto era unigênito não tinha irmãos. Mas<br />

o Pai envia o Filho, a fim que o unigênito se converta <strong>em</strong> primogênito, e o Filho dileto<br />

tenha muitos irmãos. T<strong>em</strong>os aqui toda a história da Encarnação e da Cruz; aqui<br />

achamos, enfim, o cumprimento do <strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong> Deus que é conduzir muitos filhos à<br />

glória (Hebreus 2:10).<br />

Em Romanos 8:29 l<strong>em</strong>os: "muitos irmãos"; <strong>em</strong> Hebreus 2:10: "muitos filhos". Des<strong>de</strong><br />

o ponto <strong>de</strong> vista do Senhor Jesus, esses são "irmãos"; <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> Deus,<br />

são "filhos". Os dois termos, <strong>em</strong> seu contexto, suger<strong>em</strong> a idéia da maturida<strong>de</strong>. Deus<br />

procura filhos adultos, mas não fica por aqui. Porque não quer que seus filhos vivam<br />

numa garag<strong>em</strong>, ou no campo; Ele os quer <strong>em</strong> sua morada; Ele quer que pertençam à<br />

sua glória. Esta é a explicação <strong>de</strong> Romanos 8:10: "Aos que chamou a estes também<br />

justificou; e aos que justificou a estes também glorificou". O estado <strong>de</strong> filho —a plena<br />

expressão <strong>de</strong> seu Filho— é que o fim <strong>de</strong> Deus seja alcançado <strong>em</strong> muitos filhos. E como<br />

po<strong>de</strong> ser alcançado este fim? Justificando-os e glorificando-os. Em cada Sua ação a<br />

respeito <strong>de</strong>les, t<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre presente este fim. Ele quer filhos maduros e responsáveis<br />

com Ele <strong>em</strong> Sua glória. Fez tudo o que era necessário para que o céu fosse enchido <strong>de</strong><br />

filhos glorificados. Tal foi o Seu <strong>de</strong>sígnio na re<strong>de</strong>nção da humanida<strong>de</strong>.<br />

O GRÃO DE TRIGO<br />

Mas como po<strong>de</strong> o Filho unigênito <strong>de</strong> Deus se converter <strong>em</strong> Seu Filho primogênito? Isto<br />

está explicado <strong>em</strong> João 12:24: "Na verda<strong>de</strong>, na verda<strong>de</strong> vos digo que, se o grão <strong>de</strong> trigo,<br />

caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto". A qu<strong>em</strong><br />

representa este grão <strong>de</strong> trigo? Ele representa o Senhor Jesus. Em todo o universo, Deus<br />

não possuía senão um único "grão <strong>de</strong> trigo"; não tinha um segundo. Deus colocou este<br />

grão <strong>de</strong> trigo <strong>em</strong> terra; Ele morreu e na ressurreição o grão único tornou-se o grão<br />

primogênito; porque <strong>de</strong>ste único grão nasceram muitos outros.<br />

No que diz respeito à sua divinda<strong>de</strong>, o Senhor Jesus fica sozinho: "o Filho unigênito <strong>de</strong><br />

Deus". Existe porém um outro sentido no qual, da ressurreição e durante toda a<br />

eternida<strong>de</strong>, Ele é também o primogênito e sua vida, partindo daquele momento, se<br />

encontra <strong>em</strong> muitos irmãos. Porque nós que somos nascidos do Espírito nos tornamos,<br />

por isso, <strong>em</strong> "participantes da natureza divina" (2 Pedro 1:4). Não porém <strong>de</strong> nós<br />

mesmos, mas, como ver<strong>em</strong>os <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> pouco, só porque isso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus <strong>em</strong><br />

virtu<strong>de</strong> da nossa posição "<strong>em</strong> Cristo". Nós t<strong>em</strong>os "recebido o espírito <strong>de</strong> adoção <strong>de</strong> filhos,<br />

pelo qual clamamos: Aba! Pai! O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que<br />

somos filhos <strong>de</strong> Deus" (Rm 8:15-16). É pela encarnação e a Cruz que o Senhor Jesus<br />

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en<strong>de</strong>u isso possível. Assim o coração paterno <strong>de</strong> Deus ficou satisfeito, porque pela<br />

obediência <strong>de</strong> seu Filho até a morte, o Pai conseguiu muitos filhos.<br />

O primeiro e o vigésimo capítulo <strong>de</strong> João são, a este respeito, muito preciosos. No<br />

início <strong>de</strong> seu Evangelho, João nos fala <strong>de</strong> Jesus como do Filho unigênito que veio do lado<br />

do Pai (João 1:14). No fim do seu Evangelho, João nos l<strong>em</strong>bra que o Senhor Jesus,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sua morte e ressurreição, disse a Maria Madalena: "Vai para meus irmãos, e<br />

dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus" (Jo 20:17). Até<br />

aqui, neste Evangelho, o Senhor tinha dito freqüent<strong>em</strong>ente: "o Pai" ou b<strong>em</strong> "meu Pai";<br />

ora, na ressurreição, Ele agrega: "o vosso Pai". É o Filho maior, o primogênito qu<strong>em</strong> fala.<br />

Graças à sua morte e à sua ressurreição, muitos irmãos foram introduzidos na família <strong>de</strong><br />

Deus; por isso, no mesmo versículo, Ele os chama "meus irmãos". Assim fazendo Ele<br />

afirma que "não me envergonho <strong>de</strong> chamá-los meus irmãos" (Hebreus 2:11).<br />

A ESCOLHA QUE ADÃO DEVEU ENFRENTAR<br />

Deus tinha plantado um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> árvores no jardim do É<strong>de</strong>n mas, "no meio<br />

do jardim", num lugar <strong>de</strong> particular evidência, tinha plantado duas árvores: a árvore da<br />

vida e a árvore do conhecimento do b<strong>em</strong> e do mal. Adão, criado inocente, não tinha<br />

conhecimento do b<strong>em</strong> e do mal. Imagin<strong>em</strong>os um hom<strong>em</strong> adulto, <strong>de</strong> uns trinta anos por<br />

ex<strong>em</strong>plo, que não tenha nenhuma noção do b<strong>em</strong> e do mal, n<strong>em</strong> faculda<strong>de</strong> alguma para<br />

discernir! Não dir<strong>em</strong>os que um hom<strong>em</strong> assim não está <strong>de</strong>senvolvido? B<strong>em</strong>, é mesmo<br />

exatamente o que era Adão. Deus o fez entrar no jardim e lhe disse, <strong>em</strong> substância: "O<br />

jardim está cheio <strong>de</strong> árvores <strong>de</strong> fruta e você po<strong>de</strong> comer, livr<strong>em</strong>ente, o fruto <strong>de</strong> cada<br />

árvore do jardim. No meio do jardim existe uma árvore chamada 'árvore do<br />

conhecimento do b<strong>em</strong> e do mal'; não coma o seu fruto, porque no dia que o coma,<br />

certamente você morrerá". O que significam, então, estas duas árvores? Adão foi criado,<br />

por assim dizer, moralmente neutro; n<strong>em</strong> pecador, n<strong>em</strong> santo, mas inocente. Deus o<br />

colocou diante <strong>de</strong>stas duas árvores para que ele pu<strong>de</strong>sse livr<strong>em</strong>ente exercer a sua<br />

escolha. Podia escolher a árvore da vida, ou b<strong>em</strong> podia escolher a árvore do<br />

conhecimento do b<strong>em</strong> e do mal.<br />

Ora, o conhecimento do b<strong>em</strong> e do mal, ainda que proibido a Adão, não era mau <strong>em</strong> si<br />

mesmo. Não o conhecendo, Adão estava num certo sentido limitado, porque era incapaz<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir por si mesmo as conseqüências morais <strong>de</strong> seus atos. O discernimento do b<strong>em</strong><br />

e do mal não residia nele, mas <strong>em</strong> Deus somente, e a única linha <strong>de</strong> ação a seguir por<br />

Adão enquanto estava frente ao probl<strong>em</strong>a, era apresentá-lo a Deus. Adão no jardim<br />

representa uma vida completamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Deus. Estas duas árvores<br />

simbolizavam dois princípios profundos; elas representavam duas or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> vida; a<br />

divina e a humana. A árvore da vida é Deus mesmo porque Deus é a vida. Ele o é na<br />

forma mais elevada, é a fonte e o fim. E o fruto, qual é? É o nosso Senhor Jesus Cristo.<br />

Ninguém po<strong>de</strong> comer a árvore, mas po<strong>de</strong> comer o fruto. Ninguém po<strong>de</strong> receber Deus<br />

como Deus, mas pod<strong>em</strong>os receber o Senhor Jesus. O fruto é a parte comestível, a parte<br />

da árvore que po<strong>de</strong> ser recebida. Assim, posso então dizer, com o <strong>de</strong>vido respeito: o<br />

Senhor Jesus é verda<strong>de</strong>iramente Deus sob uma forma que po<strong>de</strong> ser recebida. Em Cristo<br />

nós pod<strong>em</strong>os receber Deus.<br />

Se Adão tivesse escolhido a árvore da vida, teria tido parte na vida <strong>de</strong> Deus, teria<br />

então se tornado num "filho" <strong>de</strong> Deus, porque teria tido nele uma vida <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> Deus.<br />

Teríamos a vida <strong>de</strong> Deus <strong>em</strong> união com o hom<strong>em</strong>; uma raça <strong>de</strong> homens que têm <strong>em</strong> si<br />

mesmos a vida <strong>de</strong> Deus e que viv<strong>em</strong> numa contínua <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> Deus para manter<br />

essa vida. Em vez disso, Adão, tomando o fruto da árvore do conhecimento do b<strong>em</strong> e do<br />

mal, <strong>de</strong>senvolveu a própria humanida<strong>de</strong>, sobre uma linha natural fora <strong>de</strong> Deus. Ele<br />

tornou-se auto-suficiente, conquistou <strong>em</strong> si mesmo a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exercer um juízo<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, mas não teve <strong>em</strong> si a vida <strong>de</strong> Deus.<br />

Essa foi a alternativa colocada diante <strong>de</strong>le. Escolhendo o caminho da obediência, o<br />

caminho do Espírito, podia tornar-se um "filho" <strong>de</strong> Deus, recebendo a sua vida <strong>de</strong> Deus;<br />

<strong>em</strong> vez disso, seguindo o curso natural, po<strong>de</strong> dar o último toque à sua estrutura,<br />

permanecendo aquilo que era, tornando-se um ser autônomo, agindo e julgando fora <strong>de</strong><br />

Deus. A história da humanida<strong>de</strong> é o resultado da escolha <strong>de</strong> Adão.<br />

A ESCOLHA DE ADÃO, RAZÃO DA CRUZ<br />

Adão escolheu a árvore do conhecimento do b<strong>em</strong> e do mal, colocando-se <strong>de</strong> tal forma<br />

dobre uma base <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência. Assim fazendo tornou-se (como aparec<strong>em</strong> hoje os<br />

homens aos próprios olhos) num hom<strong>em</strong> "plenamente evoluído". Ele po<strong>de</strong> dispor <strong>de</strong> sua<br />

inteligência, po<strong>de</strong> assumir pessoalmente as suas próprias <strong>de</strong>cisões, po<strong>de</strong> prosseguir ou<br />

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parar. Partindo <strong>de</strong>ste ponto, a sua "inteligência foi aberta" (Gênesis 3:6). Mas a<br />

conseqüência <strong>de</strong> seu ato foi para ele a morte mais que a vida, porque essa escolha<br />

significou uma cumplicida<strong>de</strong> com Satanás e o colocou sob o juízo <strong>de</strong> Deus. Eis por que a<br />

seguir lhe foi proibido o acesso à árvore da vida.<br />

Duas or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> vida tinham sido propostas a Adão: aquela da vida divina, <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> Deus, e aquela da vida humana, com seus recursos "in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes". A<br />

escolha <strong>de</strong>sta última, realizada por Adão, foi "pecado" porque ele se aliou com Satanás<br />

para opor-se ao <strong>de</strong>sígnio eterno <strong>de</strong> Deus. Isto ele fez escolhendo <strong>de</strong>senvolver a sua<br />

humanida<strong>de</strong> para se tornar talvez um hom<strong>em</strong> muito diferente, aliás, um hom<strong>em</strong><br />

"perfeito" <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu ponto <strong>de</strong> vista, porém longe <strong>de</strong> Deus. Mas o fim <strong>de</strong>via ser a morte,<br />

porque não tinha <strong>em</strong> si a vida divina, necessária à realização do <strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong> Deus <strong>em</strong> sua<br />

existência, e porque ele tinha preferido se tornar, com "a in<strong>de</strong>pendência", um agente do<br />

inimigo. É assim que <strong>em</strong> Adão todos nós nos convert<strong>em</strong>os <strong>em</strong> pecadores, dominados<br />

como ele por Satanás, sujeitos como ele à lei do pecado e da morte e merecendo, como<br />

ele, a cólera divina.<br />

Aqui v<strong>em</strong>os a razão divina da morte e da ressurreição do Senhor Jesus. V<strong>em</strong>os,<br />

também, a razão divina da verda<strong>de</strong>ira consagração, da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar-nos<br />

como mortos para o pecado, mas como vivos para Deus <strong>em</strong> Jesus Cristo, e <strong>de</strong><br />

apresentar-nos a Deus como vivificados, feitos vivos dos mortos que éramos. Dev<strong>em</strong>os ir<br />

todos à Cruz, porque aquilo que está <strong>em</strong> nós é por natureza uma vida egoísta <strong>em</strong> vez <strong>de</strong><br />

uma vida divina; assim Deus <strong>de</strong>veu ajuntar tudo o que havia <strong>em</strong> Adão e <strong>de</strong>ixá-lo <strong>de</strong> lado.<br />

O nosso "velho hom<strong>em</strong>" foi crucificado. Deus nos colocou a todos <strong>em</strong> Cristo e o crucificou<br />

como o último Adão, assim tudo o que era <strong>de</strong> Adão foi cancelado. Depois, Cristo<br />

ressuscitou sob uma nova forma, tendo ainda um corpo, mas no espírito e não mais na<br />

carne. "O último Adão <strong>em</strong> espírito vivificante" (1 Coríntios 15:45). O Senhor Jesus t<strong>em</strong><br />

agora um corpo ressuscitado, um corpo espiritual, um corpo glorioso e, como não está<br />

mais na carne, po<strong>de</strong> ser agora recebido por todos; "qu<strong>em</strong> <strong>de</strong> mim se alimenta, também<br />

viverá por mim" (João 6:57), disse Jesus.<br />

Os ju<strong>de</strong>us indignavam-se diante do pensamento <strong>de</strong> comer sua carne e <strong>de</strong> beber o seu<br />

sangue, e <strong>de</strong> fato não podiam recebê-lo então porque ainda estava literalmente presente<br />

na carne. Agora que está no Espírito, cada um <strong>de</strong> nós po<strong>de</strong> recebê-Lo; e é participando<br />

<strong>de</strong> sua ressurreição que nos convert<strong>em</strong>os <strong>em</strong> filhos <strong>de</strong> Deus. "Mas, a todos quantos o<br />

receberam, <strong>de</strong>u-lhes o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> feitos filhos <strong>de</strong> Deus, aos que crê<strong>em</strong> no seu<br />

nome; os quais não nasceram do sangue, n<strong>em</strong> da vonta<strong>de</strong> da carne, n<strong>em</strong> da vonta<strong>de</strong> do<br />

hom<strong>em</strong>, mas <strong>de</strong> Deus" (João 1:12-13).<br />

Deus não está operando na reformação <strong>de</strong> nossa vida. O seu objetivo não é o <strong>de</strong> levar<br />

a nossa vida até um grau <strong>de</strong> afinamento, porque isto significaria colocar esta vida sobre<br />

um plano inteiramente errado. Sobre tal plano Deus não po<strong>de</strong>ria, agora, levar o hom<strong>em</strong><br />

è glória. Ele <strong>de</strong>ve criar um novo hom<strong>em</strong>; um hom<strong>em</strong> nascido <strong>de</strong> novo, nascido <strong>de</strong> Deus.<br />

A regeneração e a justificação vão a passos juntos.<br />

QUEM TEM O FILHO TEM A VIDA<br />

Exist<strong>em</strong> diversos graus da vida. A vida humana se encontra entre a vida dos animais<br />

inferiores e a vida <strong>de</strong> Deus. É impossível superar o abismo que nos separa do grau<br />

superior, tanto como do grau inferior, e a distância que nos separa da vida <strong>de</strong> Deus é<br />

infinitamente maior que aquela que nos separa da vida dos animais inferiores.<br />

Fiz uma visita, um dia, a um crente que estava <strong>em</strong> cama com uma doença, e a qu<strong>em</strong><br />

eu chamarei <strong>de</strong> "Sr. Wong" (ainda que este não seja o seu verda<strong>de</strong>iro nome). Era um<br />

hom<strong>em</strong> muito culto, doutor <strong>em</strong> filosofia, estimado <strong>em</strong> toda a China pelos seus princípios<br />

morais muito elevados, e tinha estado por bastante t<strong>em</strong>po <strong>em</strong>penhado na obra cristã.<br />

Não acreditava na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> regeneração, anunciava unicamente um Evangelho<br />

"social". Quando entrei <strong>em</strong> casa do Sr. Wong, seu cachorro preferido estava <strong>de</strong>itado ao<br />

lado <strong>de</strong>le. Depois <strong>de</strong> ter falado com ele das coisas <strong>de</strong> Deus e da natureza <strong>de</strong> Sua obra <strong>em</strong><br />

nós, indiquei o seu cão e perguntei como se chamava. "Se chama Fido", me disse. "Fido<br />

é o seu nome ou sobrenome?" repliquei. "É o seu nome simplesmente", respon<strong>de</strong>u ele.<br />

"Você quer dizer que é o seu nome <strong>de</strong> batismo? Posso então chamá-lo Fido Wong?"<br />

insisti. "Certamente não!", exclamou ele. "Mas ele vive <strong>em</strong> sua família", agreguei ainda,<br />

"por que não o chamam Fido Wong?". Depois, indicando suas duas filhas, perguntei: "As<br />

suas filhas são as senhoritas Wong?". "Sim". "Então, por que não posso chamar o vosso<br />

cachorro <strong>de</strong> Senhor Wong?". O doutor riu e eu continuei: "Você vê aon<strong>de</strong> eu quero<br />

chegar?" As suas filhas nasceram <strong>em</strong> sua família e portanto levam seu nome porque você<br />

mesmo comunicou a elas a sua vida. O seu cão po<strong>de</strong> ser inteligentíssimo, b<strong>em</strong> educado,<br />

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fiel, po<strong>de</strong> ter todas as boas qualida<strong>de</strong>s sob cada ponto <strong>de</strong> vista, mas a pergunta não é: 'É<br />

um cachorro bom ou mau?' a pergunta é simplesmente: 'É um cão?' Não precisa ser mau<br />

para ser excluído <strong>de</strong> sua família, é suficiente que seja um cachorro. O mesmo princípio<br />

po<strong>de</strong> se aplicar à sua relação com Deus. a coisa importante não é que você seja um<br />

hom<strong>em</strong> mais ou menos bom, mais ou menos ruim, mas simplesmente 'Você é um<br />

hom<strong>em</strong>?'. Se a sua vida se encontra num plano inferior ao da vida <strong>de</strong> Deus, você não<br />

po<strong>de</strong> pertencer à família <strong>de</strong> Deus. Durante toda a sua vida o seu objetivo foi o <strong>de</strong><br />

transformar homens maus <strong>em</strong> homens bons por meio <strong>de</strong> sua predicação; porém os<br />

homens, como tais, sejam bons ou maus, não pod<strong>em</strong> ter com Deus nenhuma relação<br />

vital. A única esperança para nós homens é a <strong>de</strong> receber o Filho <strong>de</strong> Deus e quando o<br />

receb<strong>em</strong>os sua vida <strong>em</strong> nós nos transforma <strong>em</strong> filhos <strong>de</strong> Deus". O doutor viu a verda<strong>de</strong> e<br />

se converteu naquele dia num m<strong>em</strong>bro da família <strong>de</strong> Deus, recebendo o Filho <strong>em</strong> seu<br />

próprio coração.<br />

Aquilo que possuímos hoje <strong>em</strong> Cristo é mais do que Adão per<strong>de</strong>u. Adão foi somente<br />

um hom<strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvido. Permaneceu neste plano e não teve jamais a vida <strong>de</strong> Deus.<br />

Porém nós que receb<strong>em</strong>os o Filho <strong>de</strong> Deus, receb<strong>em</strong>os não somente o perdão dos<br />

pecados, mas também a vida divina, prefigurada no jardim do É<strong>de</strong>n com a árvore da<br />

vida. Receb<strong>em</strong>os pelo novo nascimento, aquele que Adão per<strong>de</strong>u, porque t<strong>em</strong>os uma<br />

vida que ele nunca teve.<br />

TODOS NASCERAM DE UM HOMEM SÓ<br />

Deus quer dos filhos que sejam co-her<strong>de</strong>iros com Cristo na glória; este é o Seu<br />

objetivo. Mas como po<strong>de</strong>rá alcançá-lo? Leiamos Hebreus 2:10-11: "Porque convinha que<br />

aquele, para qu<strong>em</strong> são todas as coisas, e mediante qu<strong>em</strong> tudo existe, trazendo muitos<br />

filhos à glória, consagrasse pelas aflições o príncipe da salvação <strong>de</strong>les. Porque, assim o<br />

que santifica, como os que são santificados, são todos <strong>de</strong> um; por cuja causa não se<br />

envergonha <strong>de</strong> lhes chamar irmãos"<br />

T<strong>em</strong>os diante <strong>de</strong> nós dois protagonistas, ou seja: "muitos filhos" e "o príncipe da<br />

salvação <strong>de</strong>les"; ou, <strong>em</strong> outros termos, "aquele que santifica" e "os que são<br />

santificados". Mas é dito que são "todos nascidos <strong>de</strong> um só". O Senhor Jesus, como<br />

hom<strong>em</strong>, trouxe a sua vida <strong>de</strong> Deus.; num sentido diferente, mas não menos real, nós<br />

receb<strong>em</strong>os a nossa nova vida <strong>de</strong> Deus. Ele foi "concebido pelo Espírito Santo" (Mateus<br />

1:20), e nós somos "nascidos do Espírito", "nascidos <strong>de</strong> Deus". Assim,diz Deus, nós<br />

nasc<strong>em</strong>os <strong>de</strong> Um só. A preposição "<strong>de</strong>" <strong>em</strong> grego exprime a idéia <strong>de</strong> "nascidos <strong>de</strong>". O<br />

Filho primogênito e os numerosos outros filhos são todos (ainda que <strong>em</strong> um sentido<br />

diferente) "nascidos" da única fonte <strong>de</strong> vida.<br />

Perceb<strong>em</strong>os hoje que t<strong>em</strong>os a mesma vida que Deus possui? A vida que Ele t<strong>em</strong> no<br />

céu é a vida que nos <strong>de</strong>u aqui <strong>em</strong>baixo, sobre a terra. É o precioso "dom <strong>de</strong> Deus" (Rm<br />

6:25). É graças a esta verda<strong>de</strong> que pod<strong>em</strong>os viver, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> agora, uma vida <strong>de</strong> santida<strong>de</strong>,<br />

porque esta não é a nossa própria vida que foi mudada, mas a vida <strong>de</strong> Deus que nos foi<br />

dada.<br />

Vocês perceberam que nesta consi<strong>de</strong>ração do <strong>de</strong>sígnio eterno, tudo quanto concerne<br />

ao pecado <strong>de</strong>sapareceu? Na existe mais lugar para isso. O pecado entrou com Adão no<br />

mundo e então, quando foi cancelado, como <strong>de</strong>via ser, nós fomos re-conduzidos ao<br />

ponto on<strong>de</strong> estava Adão. Mas consi<strong>de</strong>rando novamente o <strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong> Deus —abrindo-se<br />

assim o acesso à árvore da vida—, a re<strong>de</strong>nção nos foi entregue <strong>em</strong> medida maior do que<br />

Adão a tenha possuído. Essa nos fez partícipes da vida <strong>de</strong> Deus mesmo.<br />

CAPÍTULO 8 – O ESPÍRITO SANTO<br />

Falamos do <strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong> Deus como da razão e da explicação <strong>de</strong> todas as vias <strong>de</strong> Deus<br />

que se refer<strong>em</strong> a nós. Antes <strong>de</strong> retomar o nosso estudo sobre as fases da experiência<br />

cristã como nos a apresenta Paulo <strong>em</strong> sua carta aos Romanos, precisamos consi<strong>de</strong>rar<br />

ainda um fator que se encontra no centro <strong>de</strong> todas as nossas experiências e que é o<br />

po<strong>de</strong>r da verda<strong>de</strong>ira vida e do serviço cristão. Estou me referindo à presença pessoal e<br />

ao ministério do Espírito Santo <strong>de</strong> Deus.<br />

Tom<strong>em</strong>os ainda, como ponto <strong>de</strong> partida, dois versículos <strong>de</strong> Romanos, extraídos <strong>de</strong><br />

cada uma das nossas duas seções: "O amor <strong>de</strong> Deus está <strong>de</strong>rramado <strong>em</strong> nossos<br />

corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Rm 5:5). "Se alguém não t<strong>em</strong> o Espírito<br />

<strong>de</strong> Cristo, esse tal não é <strong>de</strong>le" (Rm 8:9).<br />

39


Deus não confia seus dons ao acaso, e não os distribui <strong>de</strong> forma arbitrária. Eles são<br />

entregues gratuitamente a todos, mas sobre uma base b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finida. Deus<br />

verda<strong>de</strong>iramente "nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais<br />

<strong>em</strong> Cristo" (Efésios 1:3). Mas, a fim que estas bênçãos que são nossas <strong>em</strong> Cristo o sejam<br />

<strong>em</strong> nossa experiência, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os saber sobre que base pod<strong>em</strong>os obtê-las.<br />

Quando estudamos o dom do Espírito Santo, é bom consi<strong>de</strong>rá-lo sob dois aspectos: o<br />

Espírito <strong>de</strong>rramado sobre nós e o Espírito que permanece <strong>em</strong> nós. O objetivo que nos<br />

propomos é o <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r sobre qual base este duplo dom do Espírito Santo po<strong>de</strong> se<br />

tornar nosso. S<strong>em</strong> dúvida faz<strong>em</strong>os b<strong>em</strong> <strong>em</strong> distinguir assim entre as manifestações<br />

externas e internas <strong>de</strong> sua ação, e a medida que proce<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os, achar<strong>em</strong>os útil esta<br />

distinção. De qualquer forma, se o comparamos, chegar<strong>em</strong>os inevitavelmente à<br />

conclusão que a ativida<strong>de</strong> interior do Espírito Santo é a mais preciosa. Mas, assim<br />

falando, não quer<strong>em</strong>os diminuir o valor <strong>de</strong> sus ativida<strong>de</strong> externa, porque Deus doa aos<br />

seus filhos somente coisas excelentes.<br />

Certamente somos induzidos a negligenciar o verda<strong>de</strong>iro valor dos nossos privilégios,<br />

com motivo <strong>de</strong> sua extr<strong>em</strong>a abundância. Os santos do Antigo Testamento, os quais<br />

foram menos favorecidos que nós, sabiam apreciar mais o valor dos dons do Espírito<br />

<strong>de</strong>rramado sobre eles. Naqueles t<strong>em</strong>pos, era um dom entregue unicamente a algum<br />

eleito, principalmente aos sacerdotes, os juizes, os reis e os profetas, enquanto hoje é a<br />

dote <strong>de</strong> cada filho <strong>de</strong> Deus. Pens<strong>em</strong>os nisso! Nós que somos somente nulida<strong>de</strong>s,<br />

pod<strong>em</strong>os ter o mesmo Espírito Santo que permaneceu <strong>em</strong> Moisés, o amigo <strong>de</strong> Deus, <strong>em</strong><br />

Davi o rei armadíssimo, <strong>em</strong> Elias, o po<strong>de</strong>roso profeta.<br />

Recebendo o dom do Espírito Santo, <strong>de</strong>rramado sobre nós, alcançamos o grau <strong>de</strong><br />

servos escolhidos <strong>de</strong> Deus na dispensação do Antigo Testamento. Apenas v<strong>em</strong>os o valor<br />

<strong>de</strong>ste dom <strong>de</strong> Deus, e compreend<strong>em</strong>os também a imensa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> possuí-lo,<br />

perguntamos <strong>em</strong> seguida: "Como posso receber o Espírito Santo <strong>de</strong> forma <strong>de</strong> ser<br />

abastado <strong>de</strong> seus dons e ser consagrado ao serviço <strong>de</strong> Deus? Sobre que base foi<br />

entregue o Espírito Santo aos Seus filhos?"<br />

A EFUSÃO DO ESPÍRITO<br />

Antes que nada tom<strong>em</strong>os o livro dos Atos dos Apóstolos, 2:32-36, e consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os<br />

brev<strong>em</strong>ente este parágrafo:<br />

(32) Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos test<strong>em</strong>unhas.<br />

(33) De sorte que, exaltado pela <strong>de</strong>stra <strong>de</strong> Deus, e tendo recebido do Pai a promessa<br />

do Espírito Santo, <strong>de</strong>rramou isto que vós agora ve<strong>de</strong>s e ouvis.<br />

(34) Porque Davi não subiu aos céus, mas ele próprio diz: Disse o Senhor ao meu<br />

Senhor: Assenta-te à minha direita,<br />

(35) Até que ponha os teus inimigos por escabelo <strong>de</strong> teus pés.<br />

(36) Saiba, pois com certeza toda a casa <strong>de</strong> Israel que a esse Jesus, a qu<strong>em</strong> vós<br />

crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo.<br />

Deix<strong>em</strong>os <strong>de</strong> lado, por um instante, os versículos 34 e 35 (que são uma citação do<br />

Salmo 110 e constitu<strong>em</strong> um parêntese), e consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os juntos os versículos 33 e 36<br />

para po<strong>de</strong>r discernir melhor a força do discurso <strong>de</strong> Pedro, não levando <strong>em</strong> conta o início.<br />

Pedro <strong>de</strong>clara, no versículo 33, que o Senhor Jesus foi "exaltado pela <strong>de</strong>stra <strong>de</strong> Deus".<br />

Qual foi o resultado? Recebeu do Pai o Espírito Santo que tinha sido prometido. O que<br />

veio <strong>de</strong>pois? O prodígio do Pentecoste!<br />

O resultado <strong>de</strong> sua ascensão foi "isto que vós agora ve<strong>de</strong>s e ouvis".<br />

Sobre qual base, então, foi entregue o Espírito Santo pela primeira vez ao Senhor<br />

Jesus, a fim que o <strong>de</strong>rramasse sobre seu povo? Fui o fato <strong>de</strong> sua ascensão ao céu. Este<br />

passo esclarece completamente que o Espírito Santo foi <strong>de</strong>rramado porque o Senhor<br />

Jesus foi exaltado. A efusão do Espírito Santo não t<strong>em</strong> nenhuma relação com seus<br />

méritos, n<strong>em</strong> com os meus, mas unicamente com os méritos do Senhor Jesus.<br />

Não nos interessa consi<strong>de</strong>rar aquilo que somos, mas somente o que "Ele é". Ele é<br />

glorificado; por isso o Espírito foi <strong>de</strong>rramado. Porque o Senhor Jesus morreu sobre a<br />

Cruz, eu recebi o perdão dos meus pecados; porque o Senhor Jesus ressuscitou dos<br />

mortos, eu recebi a nova vida; porque o Senhor Jesus foi elevado à <strong>de</strong>stra do Pai, eu<br />

recebi o Espírito que Ele espalhou. Tudo foi a cauda dEle; nada a causa <strong>de</strong> mim. A<br />

r<strong>em</strong>issão dos pecados não está baseada sobre méritos humanos, mas sobre a crucifixão<br />

do Senhor; e o revestimento do Espírito Santo não está baseado <strong>em</strong> méritos humanos,<br />

mas sobre a exaltação do Senhor. O Espírito Santo não foi <strong>de</strong>rramado sobre vocês ou<br />

sobre mim para d<strong>em</strong>onstrar como somos gran<strong>de</strong>s, mas para mostrar a gran<strong>de</strong>za do Filho<br />

<strong>de</strong> Deus.<br />

40


Agora tom<strong>em</strong>os o versículo 36. Há aqui uma palavra que <strong>de</strong>ve atrair a nossa atenção:<br />

a palavra "pois". Quando usamos geralmente esta palavra? Não para introduzir uma<br />

<strong>de</strong>claração; mas como conseqüência <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>claração que já foi formulada. Sua<br />

utilização se refere s<strong>em</strong>pre a alguma coisa que já foi mencionada. Ora, <strong>de</strong> que foi<br />

precedido este "pois" no nosso texto? Com que coisa está relacionado? Não po<strong>de</strong> estar<br />

ligado logicamente ao versículo 34 n<strong>em</strong> ao 35, mas está claramente ligado ao versículo<br />

33. Pedro faz menção da efusão do Espírito sobre os discípulos; "isto que vós agora<br />

ve<strong>de</strong>s e ouvis" e agrega: "Saiba, pois com certeza toda a casa <strong>de</strong> Israel que a esse<br />

Jesus, a qu<strong>em</strong> vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo". Pedro, <strong>em</strong> substância, disse<br />

aos seu ouvintes: "Esta efusão do Espírito, da qual vocês foram test<strong>em</strong>unhas com seus<br />

olhos e ouvidos, é a prova <strong>de</strong> que Jesus <strong>de</strong> Nazaré, a qu<strong>em</strong> vocês crucificaram, é agora<br />

Senhor e Cristo". O Espírito Santo foi <strong>de</strong>rramado sobre a terra para d<strong>em</strong>onstrar aquilo<br />

que aconteceu nos céus, a ascensão <strong>de</strong> Jesus <strong>de</strong> Nazaré à <strong>de</strong>stra <strong>de</strong> Deus Pai. O fato do<br />

Pentecoste prova a soberania <strong>de</strong> Jesus Cristo.<br />

Havia um jov<strong>em</strong> chamado José que era ternamente amado pelo seu pai. Um dia<br />

chegou ao pai a notícia <strong>de</strong> que seu filho tinha morrido, e por muitos anos Jacó chorou a<br />

morte <strong>de</strong> José. Mas José não tinha morrido; havia, pelo contrário, obtido uma posição <strong>de</strong><br />

glória e po<strong>de</strong>r. Depois <strong>de</strong> ter chorado por anos o filho morto, chega <strong>de</strong> improviso a Jacó a<br />

notícia que não só José estava vivo, mas ocupava também uma posição muito elevada no<br />

Egito. No princípio pareceu-lhe uma coisa incrível. Era d<strong>em</strong>asiado belo para ser verda<strong>de</strong>.<br />

Mas finalmente se persuadiu da veracida<strong>de</strong> da notícia. E como foi possível fazê-lo<br />

acreditar? Saiu, e viu os carros que José tinha lhe enviado do Egito.<br />

O que representam esses carros? Prefiguram certamente o Espírito Santo, enviado<br />

como prova <strong>de</strong> que o Filho <strong>de</strong> Deus está na glória, para transportar também nós. Como<br />

sab<strong>em</strong>os que Jesus <strong>de</strong> Nazaré, crucificado dois mil anos atrás por homens malvados, não<br />

morreu simplesmente como mártir, mas está sentado à <strong>de</strong>stra do Pai, na glória? Como<br />

pod<strong>em</strong>os ter a certeza que é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis? Pod<strong>em</strong>os ter esta<br />

certeza incontestável, porque Ele <strong>de</strong>rramou o seu Espírito sobre nós. Aleluia! Jesus é o<br />

Senhor! Jesus é o Cristo! Jesus <strong>de</strong> Nazaré é <strong>de</strong> vez o Senhor e o Cristo!<br />

A ascensão do Senhor Jesus é a base sobre a qual foi enviado o Espírito Santo. É<br />

possível, então, que o Senhor Jesus tenha sido glorificado e que vocês não tenham<br />

recebido o Espírito? Sobre que base tiveram o perdão dos seus pecados? E por que<br />

oraram com tanta serieda<strong>de</strong>, ou por que leram a Bíblia <strong>de</strong> uma ponta até a outra, ou por<br />

que assistiram regularmente à <strong>Igreja</strong>? É pelos seus méritos? Não! Um milhão <strong>de</strong> vezes<br />

não! Sobre que base os seus pecados foram perdoados? "S<strong>em</strong> <strong>de</strong>rramamento <strong>de</strong> sangue<br />

não há r<strong>em</strong>issão" (Hebreus 9:22). O único meio <strong>de</strong> perdão é o <strong>de</strong>rramamento do sangue;<br />

e como o sangue precioso foi vertido, os seus pecados estão perdoados.<br />

Ora, o princípio pelo qual estamos revestidos do Espírito Santo é exatamente o<br />

mesmo pelo qual receb<strong>em</strong>os o perdão dos pecados. O Senhor foi crucificado e por isso<br />

fomos perdoados; o Senhor foi glorificado e por isso o Espírito Santo foi <strong>de</strong>rramado sobre<br />

nós. Será possível que o Filho <strong>de</strong> Deus tenha vertido seu sangue e que os pecados <strong>de</strong><br />

vocês, amados filhos <strong>de</strong> Deus, não tenham sido perdoados? Jamais! Então, é possível<br />

que o Filho <strong>de</strong> Deus tenha sido glorificado e que vocês não tenham recebido o seu Santo<br />

Espírito? Jamais!<br />

Mas talvez algum dirá: "Eu estou <strong>de</strong> acordo com isso todo, mas nunca tive esta<br />

experiência. Posso adotar uma atitu<strong>de</strong> serena e <strong>de</strong>clarar que possuo tudo, quando sei<br />

perfeitamente <strong>de</strong> não ter nada?". Não, não <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os contentar-nos com um<br />

conhecimento objetivo da verda<strong>de</strong>. T<strong>em</strong>os absolutamente necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um<br />

conhecimento subjetivo; mas ter<strong>em</strong>os tal experiência somente na medida <strong>em</strong> que<br />

repous<strong>em</strong>os sobre as realida<strong>de</strong>s divinas. Os feitos <strong>de</strong> Deus e a obra por Ele cumprida,<br />

constitu<strong>em</strong> o fundamento <strong>de</strong> nossa vida.<br />

Retorn<strong>em</strong>os um momento ao fato da justificação. Como fomos justificados? Não é<br />

certamente procurando fazer alguma coisa, mas aceitando simplesmente o fato que o<br />

Senhor já cumpriu, Ele mesmo, tudo. Nós receb<strong>em</strong>os o Espírito Santo exatamente da<br />

mesma forma, não contando com as nossas boas ações, mas tendo fé absoluta naquilo e<br />

o Senhor t<strong>em</strong> já realizado.<br />

Se não tiv<strong>em</strong>os esta experiência, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os pedir a Deus somente uma revelação <strong>de</strong>ste<br />

fato eterno, que o batismo do Espírito Santo é o dom do Senhor glorificado para a sua<br />

<strong>Igreja</strong>. Quando tenhamos compreendido isto, cessará todo esforço, e a nossa oração<br />

mudará <strong>em</strong> louvor. Uma revelação daquilo que o Senhor cumpriu para o mundo <strong>de</strong>u fim<br />

aos nossos esforços para achar o perdão dos pecados; da mesma forma, uma revelação<br />

daquilo que o Senhor t<strong>em</strong> feito pela sua <strong>Igreja</strong>, porá fim a cada esforço nosso para obter<br />

41


o batismo do Espírito Santo. Se nos esforçamos é porque não t<strong>em</strong>os compreendido a<br />

obra <strong>de</strong> Cristo. Mas uma vez que a tivermos entendido, a fé jorrará dos nossos corações<br />

e a medida que acreditamos, a experiência da vida nova si efetuará.<br />

Faz um t<strong>em</strong>po um jov<strong>em</strong>, novo crente <strong>de</strong> somente cinco s<strong>em</strong>anas, e que tinha sido<br />

antes um violento opositor do Evangelho, assistiu a uma série <strong>de</strong> reuniões que eu<br />

presidia <strong>em</strong> Xangai. Depois <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>stas reuniões, na qual eu tinha falado sobre o<br />

t<strong>em</strong>a que nos ocupamos agora, foi a sua casa e começou orar intensamente: "Senhor, eu<br />

quero o po<strong>de</strong>r do Espírito Santo. Já que Tu és agora glorificado, não <strong>de</strong>sejas <strong>de</strong>rramar o<br />

teu Espírito sobre mim?". Depois se corrigiu: "Oh, não, Senhor, não é isso!". E<br />

recomeçou a orar: "Senhor Jesus, nós estamos unidos numa mesma vida, Tu e eu, e o<br />

Pai nos prometeu duas coisas: a glória para Ti e o Espírito para mim. Tu, Senhor, tens<br />

recebido a glória; portanto, não é possível que eu não tenha recebido o Espírito. Senhor,<br />

eu te louvo. Tu tens já recebido a glória, e eu o Espírito". Daquele dia, o po<strong>de</strong>r do<br />

Espírito entrou na consciência daquele jov<strong>em</strong>.<br />

A FÉ É AINDA A CHAVE<br />

Como no perdão, a vinda do Espírito Santo sobre nós é inteiramente uma questão <strong>de</strong><br />

fé. Apenas v<strong>em</strong>os o Senhor Jesus sobre a Cruz, sab<strong>em</strong>os que os nossos pecados são<br />

perdoados, e apenas v<strong>em</strong>os o Senhor Jesus sobre o Trono, sab<strong>em</strong>os que o Espírito Santo<br />

foi <strong>de</strong>rramado sobre nós. A base sobre a qual receb<strong>em</strong>os o revestimento do Espírito<br />

Santo não consiste nas nossas orações, n<strong>em</strong> no jejum, n<strong>em</strong> na esperança, mas<br />

unicamente na ascensão <strong>de</strong> Cristo ao Trono. Aqueles que insist<strong>em</strong> sobre a esperança<br />

organizando "reuniões <strong>de</strong> esperança", somente erram, porque o dom não está reservado<br />

a "algum privilegiado", mas é para todos, sendo que não foi acordado sobre a base<br />

daquilo que somos, mas sobre a base daquilo que é Cristo. O Espírito foi <strong>de</strong>rramado para<br />

provar a Sua bonda<strong>de</strong> e a Sua gran<strong>de</strong>za, não a nossa. T<strong>em</strong>os recebido o perdão porque<br />

Cristo foi crucificado: fomos revestidos do po<strong>de</strong>r do Alto, porque Ele foi glorificado. Só<br />

pelo Seu mérito possuímos tudo. Suponhamos que um incrédulo expresse o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

ser salvo. Depois <strong>de</strong> lhe ter explicado o caminho da salvação, oramos com ele.<br />

Suponhamos agora que ele ore assim: "Senhor Jesus, eu acredito que Tu morreste por<br />

mim e que po<strong>de</strong> cancelar todos os meus pecados. Eu creio verda<strong>de</strong>iramente que vás me<br />

perdoar".<br />

Vocês têm a certeza <strong>de</strong> que aquele hom<strong>em</strong> é salvo? Quando terão a certeza <strong>de</strong> que<br />

ele seja realmente nascido <strong>de</strong> novo? Não será quando ore: "Senhor, eu acredito que Tu<br />

<strong>de</strong>sejas perdoar os meus pecados", mas quando diga: "Senhor, eu te agra<strong>de</strong>ço porque<br />

Tu perdoaste os meus pecados. Tu morreste por mim; e por isso os meus pecados estão<br />

cancelados". Nós acreditamos que uma pessoa seja salva quando sua oração se<br />

transforma <strong>em</strong> louvor, quando cessa <strong>de</strong> pedir ao Senhor que a perdoe, e o louva porque<br />

Ele já o fez quando o sangue foi vertido.<br />

Pod<strong>em</strong> também orar da mesma forma durante anos, s<strong>em</strong> nunca realizar a experiência<br />

do Espírito Santo; porém, quando cess<strong>em</strong> <strong>de</strong> suplicar ao Senhor para que <strong>de</strong>rrame o seu<br />

Espírito sobre vocês, louvando-O <strong>em</strong> vez disso com plena fé, tendo já recebido o Espírito,<br />

porque o Senhor Jesus já foi glorificado, <strong>de</strong>scobrirão que o seu probl<strong>em</strong>a já foi resolvido.<br />

Deus seja louvado! Nenhum <strong>de</strong> seus filhos necessita <strong>de</strong>sfalecer, n<strong>em</strong> esperar para que o<br />

Espírito lhe seja entregue. Jesus não <strong>de</strong>ve ser feito Senhor; Ele já é o Senhor! Assim,<br />

não <strong>de</strong>vo esperar para receber o Espírito: eu já o recebi! É toda uma questão <strong>de</strong> fé, que<br />

nos chega pela revelação. Assim que os nossos olhos são abertos para ver que o Espírito<br />

já foi <strong>de</strong>rramado, porque Jesus já foi glorificado, a oração muda <strong>em</strong> nossos corações <strong>em</strong><br />

louvor.<br />

Todas as bênçãos espirituais nos são entregues sobre uma base b<strong>em</strong> <strong>de</strong>terminada. Os<br />

dons <strong>de</strong> Deus nos são oferecidos gratuitamente, mas <strong>de</strong> nossa parte <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os respon<strong>de</strong>r<br />

a certas condições para receber aqueles dons. Existe um passo, na Palavra <strong>de</strong> Deus, que<br />

nos mostra claramente quais são as condições <strong>de</strong> nossa parte para po<strong>de</strong>r receber o dom<br />

do Espírito Santo: "Pedro então lhes respon<strong>de</strong>u: Arrepen<strong>de</strong>i-vos, e cada um <strong>de</strong> vós seja<br />

batizado <strong>em</strong> nome <strong>de</strong> Jesus Cristo, para r<strong>em</strong>issão <strong>de</strong> vossos pecados; e recebereis o dom<br />

do Espírito Santo. Porque a promessa vos pertence a vós, a vossos filhos, e a todos os<br />

que estão longe: a quantos o Senhor nosso Deus chamar" (Atos 2:38-39).<br />

Quatro coisas são mencionadas neste passo: o arrependimento, o batismo, o perdão e<br />

o Espírito Santo. As primeiras duas são condições, as últimas duas são dons. Quais são<br />

as condições impostas para termos o perdão dos pecados?. Segundo a Palavra são duas:<br />

o arrependimento e o batismo.<br />

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A primeira condição é o arrependimento, que significa uma mudança <strong>de</strong> pensamento.<br />

Antes pensava que pecar fosse agradável, mas agora mu<strong>de</strong>i <strong>de</strong> pensamento a esse<br />

respeito; outras vezes achava que o mundo era atraente, mas agora compreendo mas<br />

claramente o que é; antes pensava que teria sido uma coisa piedosa me converter num<br />

crente, mas agora penso tudo o oposto. Houve uma época <strong>em</strong> que eu achava certas<br />

coisas <strong>de</strong>liciosas, agora as vejo com <strong>de</strong>sgosto; havia outras que julgava <strong>de</strong> nenhum<br />

valor, agora as observo e as consi<strong>de</strong>ro como as mais preciosas. Nenhuma vida po<strong>de</strong> ser<br />

realmente transformada, se não passa por uma s<strong>em</strong>elhante conversão <strong>de</strong> pensamento.<br />

A segunda condição é o batismo. O batismo é a expressão externa da fé interna.<br />

Assim que eu acredito sinceramente <strong>em</strong> meu coração que eu estou morto com Cristo,<br />

que fui sepultado e ressurreto com Ele, então peço o batismo. Por meio <strong>de</strong>le <strong>de</strong>claro<br />

publicamente aquilo <strong>em</strong> que creio com todo o meu coração. O batismo é a fé <strong>em</strong> ação.<br />

O perdão dos pecados é, então, submetido a duas condições fixadas por Deus: o<br />

arrependimento e a fé expressada publicamente. Estão arrependidos? Deram test<strong>em</strong>unho<br />

<strong>de</strong> sua união com o Senhor? Receberam então a r<strong>em</strong>issão dos pecados e o dom do<br />

Espírito Santo? Vocês diz<strong>em</strong> ter recebido somente o primeiro <strong>de</strong>stes dons e não o<br />

segundo. Contudo, amigo meu, Deus ofereceu dois dons se você cumpriu com estas duas<br />

condições. Por que você pegou um só? O que você faz com o segundo?<br />

Supunham que eu entre numa livraria e que escolha um livro <strong>em</strong> dois volumes pelo<br />

preço <strong>de</strong> R$ 500, que pague o preço inteiro, mas saia da loja com um volume só,<br />

<strong>de</strong>ixando o segundo sobre o balcão. Reparando na distração, o que eu <strong>de</strong>veria fazer,<br />

segundo vocês? Deveria voltar à livraria para pegar o volume que completa a obra s<strong>em</strong><br />

minimamente pensar <strong>em</strong> pagar o que eu já paguei. Explicaria simplesmente ao lojista <strong>de</strong><br />

ter já pago os dois volumes e lhe pediria para me entregar o segundo volume; assim,<br />

sairia feliz da loja com meu livro <strong>de</strong>baixo do braço, s<strong>em</strong> ter pago nenhum supl<strong>em</strong>ento.<br />

N<strong>em</strong> fariam também vocês o mesmo numa situação análoga?<br />

Mas vocês estão nessa mesma condição. Se já cumpriram as condições, têm o direito<br />

a receber os dois dons e não somente um. Vocês já retiraram o primeiro, por que não<br />

pegam <strong>em</strong> seguida também o outro? Digam ao Senhor: "Senhor, eu me submeti às<br />

condições necessárias para receber a r<strong>em</strong>issão dos pecados e o dom do Espírito Santo,<br />

mas, <strong>em</strong> minha ignorância, somente peguei o perdão dos pecados. Agora venho a Ti para<br />

receber o dom do Teu Santo Espírito e te agra<strong>de</strong>ço e te louvo por isso".<br />

A DIFERENÇA DA EXPERIÊNCIA<br />

Talvez vocês se pergunt<strong>em</strong>: "Como saberei que o Espírito Santo <strong>de</strong>sceu sobre mim?"<br />

Eu não posso dizer como vocês saberão. A Palavra <strong>de</strong> Deus não nos <strong>de</strong>screve a sensação<br />

e a <strong>em</strong>oção que experimentaram os discípulos naquele momento, no dia <strong>de</strong> Pentecoste.<br />

Nós não sab<strong>em</strong>os exatamente o que sentiram, mas sab<strong>em</strong>os que seus sentimentos e seu<br />

comportamento foram uma coisa fora do comum, porque qu<strong>em</strong> os viu disse que estavam<br />

bêbados. Quando o Espírito Santo <strong>de</strong>sce sobre os filhos <strong>de</strong> Deus, acontec<strong>em</strong> coisas que o<br />

mundo não sabe explicar-se. Pod<strong>em</strong> ser manifestações sobrenaturais, ainda que não<br />

sejam mas que um sentimento perturbador da presença <strong>de</strong> Deus. Nós não pod<strong>em</strong>os,<br />

n<strong>em</strong> <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os nunca <strong>de</strong>screver as formas particulares dos fenômenos que acompanham<br />

a experiência, mas uma coisa é verda<strong>de</strong>: que todos aqueles sobre qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>sce o Espírito<br />

Santo, o sent<strong>em</strong> infalivelmente.<br />

Enquanto o Espírito Santo <strong>de</strong>scia sobre os discípulos <strong>em</strong> Pentecoste, houve alguma<br />

coisa extraordinária na sua conduta, e Pedro <strong>de</strong>u uma prova àqueles que estavam<br />

presentes com uma po<strong>de</strong>rosa explicação extraída da Palavra <strong>de</strong> Deus. Eis aqui, <strong>em</strong><br />

substância, o que ele disse: "Assim que o Espírito Santo <strong>de</strong>sce sobre os crentes, alguns<br />

profetizam, outros têm sonhos, outros, visões. Isto é o que Deus <strong>de</strong>clarou por boca do<br />

profeta Joel". Mas Pedro profetizou? Em realida<strong>de</strong> não no senso que entendia Joel. Os<br />

cento e vinte profetizaram e tiveram visões? Isto não foi dito. Tiveram sonhos? Como<br />

po<strong>de</strong>riam tê-los quando estavam todos acordados? O que queria dizer então Pedro<br />

citando um parágrafo que parece ter pouco a ver com respeito ao advento? No<br />

fragmento citado (Joel 2:28-29) se diz que a efusão do Espírito será acompanhada <strong>de</strong><br />

profecias, sonhos e visões, enquanto estas d<strong>em</strong>onstrações parec<strong>em</strong> faltar no dia <strong>de</strong><br />

Pentecoste.<br />

Por outra parte, a profecia <strong>de</strong> Joel não fala <strong>de</strong> "um som, como <strong>de</strong> um vento ve<strong>em</strong>ente<br />

e impetuoso" n<strong>em</strong> <strong>de</strong> "línguas repartidas, como que <strong>de</strong> fogo", como sinais que<br />

acompanhass<strong>em</strong> a efusão do Espírito Santo; contudo, estas coisas se manifestaram "na<br />

sala <strong>de</strong> cima". E on<strong>de</strong> se menciona, no profeta Joel, o falar <strong>em</strong> línguas? Ainda assim, <strong>em</strong><br />

Pentecoste, o fizeram.<br />

43


O que queria dizer então Pedro? Imagin<strong>em</strong>os enquanto cita a Palavra <strong>de</strong> Deus para<br />

provar que a experiência do Pentecoste é a efusão do Espírito anunciado por Joel,<br />

enquanto n<strong>em</strong> um único signo visível dos mencionados pelo profeta foi manifestado. O<br />

que o livro menciona os discípulos não o experimentaram e o que eles experimentaram o<br />

livro não o menciona! A citação feita no discurso <strong>de</strong> Pedro parece <strong>de</strong>smentir sua<br />

d<strong>em</strong>onstração antes que confirmá-la. Qual é a explicação <strong>de</strong>ste mistério?<br />

L<strong>em</strong>br<strong>em</strong>os que Pedro mesmo falava sob o controle do Espírito Santo. O livro <strong>de</strong> Atos<br />

dos Apóstolos foi escrito sob a inspiração do Espírito Santo e n<strong>em</strong> uma única palavra foi<br />

escrita ao acaso. Na existe nenhum erro, mas uma harmonia perfeita. Not<strong>em</strong><br />

atentamente que Pedro não disse: "O que vocês vê<strong>em</strong> e ouv<strong>em</strong> é a mostra daquilo que<br />

foi dito pelo profeta Joel" (At 2:16). Não se trata do cumprimento, mas <strong>de</strong> uma<br />

experiência da mesma ord<strong>em</strong>. "Isto é o que foi dito" quer dizer: "o que vocês vê<strong>em</strong> e<br />

ouv<strong>em</strong> é da mesma ord<strong>em</strong> do que foi predito". Quando se trata <strong>de</strong> um cumprimento,<br />

cada experiência se repete e a profecia é profecia, os sonhos são sonhos, as visões são<br />

visões; mas quando Pedro diz "Isto é o que foi dito", não significa que aquilo que foi<br />

anunciado se repita exatamente igual agora, mas que a experiência atual é da mesma<br />

ord<strong>em</strong> à da profecia antiga. "Isto" é como "aquilo"; "isto" é o equivalente <strong>de</strong> "aquilo";<br />

"isto" é "aquilo". O que fica <strong>em</strong> evidência pelo Espírito Santo por meio <strong>de</strong> Pedro é a<br />

diversida<strong>de</strong> das experiências. Os signos externos pod<strong>em</strong> ser inumeráveis e diversos e<br />

<strong>de</strong>v<strong>em</strong>os admitir que, talvez, sejam estranhos; mas o Espírito é Um, e é o Senhor (1<br />

Coríntios 12:4-6).<br />

Qual foi a experiência <strong>de</strong> R. A. Torrey quando o Espírito Santo <strong>de</strong>sceu sobre ele,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> ministério? Deix<strong>em</strong>os que ele mesmo o diga <strong>em</strong> suas próprias<br />

palavras:<br />

"L<strong>em</strong>bro perfeitamente o lugar on<strong>de</strong> estava ajoelhado <strong>em</strong> meu escritório... Era um<br />

momento muito tranqüilo, um dos momentos <strong>de</strong> maior calma que eu tenha conhecido...<br />

Então Deus me disse, simplesmente, não <strong>de</strong> forma audível, mas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> meu coração:<br />

o Espírito está <strong>em</strong> você. Agora vá a predicar. Já o tinha dito <strong>em</strong> 1 João 5:13-14, mas<br />

então não conhecia b<strong>em</strong> a minha Bíblia como a conheço agora e Deus teve pieda<strong>de</strong> da<br />

minha ignorância e falou diretamente a minha alma... Fui a predicar e <strong>de</strong>pois daquele<br />

dia, até hoje, fui um servo novo... Algum t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>sta experiência (não me<br />

l<strong>em</strong>bro b<strong>em</strong> <strong>de</strong> quando), enquanto eu estava sentado <strong>em</strong> meu quarto...<br />

improvisamente... comecei a gritar (não estou habituado a s<strong>em</strong>elhantes manifestações e<br />

não tenho um t<strong>em</strong>peramento barulhento), mas gritei como o mais entusiasta dos<br />

metodistas: 'Glória a Deus, glória a Deus, glória a Deus!', s<strong>em</strong> po<strong>de</strong>r parar... Mas não foi<br />

aquele o momento <strong>em</strong> que fui imerso no Espírito Santo. Fui imerso no Espírito Santo no<br />

instante <strong>em</strong> que o recebi com a simples fé na Palavra <strong>de</strong> Deus" 8 .<br />

As manifestações externas, no caso <strong>de</strong> Torrey, não foram as mesmas <strong>de</strong>scritas por<br />

Joel e por Pedro, mas "isto é aquilo". Não é uma imitação, ainda assim é a mesma coisa.<br />

E o que sentiu D. L. Moody, como se comportou quando o Espírito Santo <strong>de</strong>sceu sobre<br />

ele?<br />

"Eu gritava s<strong>em</strong> repouso a Deus para que me enriquecesse com o Seu Espírito. Então,<br />

um dia, <strong>em</strong> Nova Iorque —que dia!—, não posso <strong>de</strong>screvê-lo e falo disso raramente; é<br />

uma experiência quase d<strong>em</strong>asiado sagrada para falar <strong>de</strong>la. Paulo teve uma experiência<br />

da qual não falou durante quatorze anos. Posso somente dizer que Deus se revelou a<br />

mim, e eu tive uma s<strong>em</strong>elhante consciência <strong>de</strong> Seu amor que tive <strong>de</strong> pedi-Lhe <strong>de</strong> <strong>de</strong>ter a<br />

Sua mão. Continuei a predicar. Os sermões não eram diferentes, não apresentavam<br />

novas verda<strong>de</strong>s; porém centenas <strong>de</strong> pessoas se convertiam. Eu não gostaria <strong>de</strong> voltar<br />

aon<strong>de</strong> estava antes <strong>de</strong> ter tido esta experiência abençoada, ainda que me oferecess<strong>em</strong> o<br />

mundo inteiro —não seria senão um minúsculo peso sobre a balança" 9 .<br />

As manifestações externas que acompanharam a experiência <strong>de</strong> Moody não se<br />

correspond<strong>em</strong> exatamente com a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> Joel ou com a <strong>de</strong> Pedro ou que a <strong>de</strong><br />

Torrey, mas qu<strong>em</strong> po<strong>de</strong>ria duvidar que "esta" experiência <strong>de</strong> Moody não foi senão o<br />

mesmo que "aquela" experimentada pelos discípulos <strong>em</strong> Pentecoste? Não foi a mesma<br />

manifestação, mas a essência a certamente a mesma.<br />

E qual foi a experiência do gran<strong>de</strong> Charles Finney, quando o po<strong>de</strong>r do Espírito Santo<br />

<strong>de</strong>sceu sobre ele?<br />

"Recebi um po<strong>de</strong>roso batismo do Espírito Santo, s<strong>em</strong> nenhuma particular espera, s<strong>em</strong><br />

ter havido antes a mínima idéia que uma tal coisa fosse para mim, s<strong>em</strong> a l<strong>em</strong>brança <strong>de</strong><br />

8 "O Espírito Santo – Qu<strong>em</strong> é e o que faz", <strong>de</strong> R. A. Torrey, D. D. pp. 198-9.<br />

9 A vida <strong>de</strong> L. D. Moody e seu filho W. R. Moody.<br />

44


ter jamais ouvido alguém falar disso sobre a terra; o Espírito Santo <strong>de</strong>sceu sobre mim <strong>de</strong><br />

tal forma que me pareceu que penetrou o corpo e a alma. Nenhuma palavra po<strong>de</strong>ria<br />

expressar o amor maravilhoso que se espalhou <strong>em</strong> meu coração. Chorei <strong>de</strong> gozo e <strong>de</strong><br />

amor" 10 .<br />

A experiência <strong>de</strong> Finney não foi certamente uma reprodução do Pentecoste, n<strong>em</strong> a<br />

experiência <strong>de</strong> Torrey, n<strong>em</strong> a <strong>de</strong> Moody; mas "esta" certamente foi "aquela".<br />

Conquanto o Espírito Santo foi <strong>de</strong>rramado sobre os filhos <strong>de</strong> Deus, as suas<br />

experiências são muitos diferentes umas das outras. Alguns receb<strong>em</strong> uma nova visão;<br />

outros conhec<strong>em</strong> uma nova liberda<strong>de</strong> para conquistar as almas; outros proclamam a<br />

Palavra <strong>de</strong> Deus com nova energia, outros ainda são cheios <strong>de</strong> gozo celestial ou <strong>de</strong><br />

entusiasmo <strong>de</strong>sbordante. "Isto", e "isto" e "isto"... é "aquilo"! louv<strong>em</strong>os o Senhor por<br />

cada nova experiência que está <strong>em</strong> relação com a exaltação <strong>de</strong> Cristo, da qual se possa<br />

verda<strong>de</strong>iramente dizer que "isto" é uma evidência <strong>de</strong> "aquilo". Não há nada <strong>de</strong><br />

estereotipado nas vias <strong>de</strong> Deus com respeito a seus filhos. Não <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os, então, com as<br />

nossas prevenções e preconceitos, encerrar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um compartimento fechado a obra<br />

do Espírito, tanto <strong>em</strong> nossas vidas como nas vidas dos outros. Isto se aplica também<br />

àqueles que exig<strong>em</strong> particulares manifestações do Espírito, como o "falar <strong>em</strong> línguas"<br />

como prova da vinda do Espírito sobre eles, e àqueles que negam a existência <strong>de</strong><br />

qualquer manifestação. Dev<strong>em</strong>os <strong>de</strong>ixar a Deus a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> agir como Ele quer, e <strong>de</strong><br />

dar a expressão que <strong>de</strong>seja às obras que cumpre. Ele é o Senhor, portanto não está <strong>em</strong><br />

nós Lhe impormos a nossa vonta<strong>de</strong>.<br />

Alegr<strong>em</strong>o-nos que Jesus está no Trono e louv<strong>em</strong>o-Lo porque, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o momento <strong>de</strong><br />

sua glorificação, o Espírito foi <strong>de</strong>rramado sobre todos nós. Quando o cont<strong>em</strong>plamos lá<br />

encima, e aceitamos a realida<strong>de</strong> divina <strong>em</strong> toda a sua simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé, O<br />

reconhecer<strong>em</strong>os com tal segurança <strong>em</strong> nossos corações que ousar<strong>em</strong>os proclamar com<br />

confiança: "isto" é "aquilo".<br />

A PERMANÊNCIA DO ESPÍRITO EM NÓS<br />

Nos <strong>de</strong>ter<strong>em</strong>os, agora, no segundo aspecto do dom do Espírito Santo que, como<br />

ver<strong>em</strong>os no próximo capítulo, é mais particularmente o t<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Romanos 8. É do que<br />

falamos, do Espírito que permanece <strong>em</strong> nós. "Se é que o Espírito <strong>de</strong> Deus habita <strong>em</strong><br />

vós..." (Rm 8:9). "Se o Espírito daquele que <strong>de</strong>ntre os mortos ressuscitou a Jesus habita<br />

<strong>em</strong> vós..." (Rm 8:11).<br />

No que diz respeito à efusão do Espírito, tanto como no que concerne à presença do<br />

Espírito <strong>em</strong> nós, se quer<strong>em</strong>os conhecer na prática o que é nosso <strong>de</strong> fato, necessitamos,<br />

antes que nada, da revelação divina.<br />

Quando v<strong>em</strong>os, objetivamente, Cristo como o Senhor glorioso —ou seja, como<br />

elevado sobre o trono do céu—, experimentamos o po<strong>de</strong>r do Espírito sobre nós. Quando<br />

v<strong>em</strong>os a Cristo nosso Senhor, subjetivamente —ou seja, como Senhor real <strong>de</strong> nossa<br />

vida—, conhec<strong>em</strong>os o po<strong>de</strong>r do Espírito sobre nós. O r<strong>em</strong>édio oferecido por Paulo aos<br />

crentes <strong>de</strong> Corinto contra a <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> espiritual era a revelação do Espírito que<br />

permanece neles. É importante observar que os crentes <strong>de</strong> Corinto estavam preocupados<br />

com os sinais visíveis das efusões do Espírito Santo, e faziam gran<strong>de</strong> caso às "línguas" e<br />

aos milagres, enquanto ao mesmo t<strong>em</strong>po a sua conduta estava cheia <strong>de</strong> contradições e<br />

constituía uma ofensa ao nome do Senhor. Eles tinham s<strong>em</strong> dúvida recebido o Espírito<br />

Santo, mas não tinham conquistado a maturida<strong>de</strong> espiritual; e o r<strong>em</strong>édio que Deus<br />

oferecia a eles para esta carência é exatamente o mesmo que hoje oferece à sua <strong>Igreja</strong><br />

para o mesmo inconveniente.<br />

Em sua carta Paulo escrevia: "Não sabeis vós que sois santuário <strong>de</strong> Deus, e que o<br />

Espírito <strong>de</strong> Deus habita <strong>em</strong> vós?" (1 Coríntios 3:16). Para outros crentes ele pedia a seus<br />

corações foss<strong>em</strong> iluminados "...para que saibais..." (Efésios 1:18). O conhecimento dos<br />

fatos divinos era necessário aos crentes <strong>de</strong> então, e não o é menos para os crentes <strong>de</strong><br />

hoje. T<strong>em</strong>os necessida<strong>de</strong> que os olhos <strong>de</strong> nossa inteligência se abram, a fim que<br />

saibamos que Deus mesmo, com Seu Espírito Santo, veio a morar <strong>em</strong> nossos corações.<br />

Deus, então, está presente neles por meio do Espírito, e Cristo não está menos presente.<br />

Assim, se o Espírito Santo habita <strong>em</strong> nossos corações, também o Pai e o Filho habitam.<br />

Esta não é uma simples teoria ou uma doutrina, é uma preciosa, abençoada realida<strong>de</strong>.<br />

Talvez agora tenhamos compreendido que o Espírito mora realmente <strong>em</strong> nossos<br />

corações, mas sab<strong>em</strong>os que Ele é uma pessoa? T<strong>em</strong>os entendido que possuir o Espírito<br />

<strong>em</strong> nós significa ter <strong>em</strong> nós o Deus vivo?<br />

10 Autobiografia <strong>de</strong> Charles Finney, capítulo 2.<br />

45


Para muitos crentes o Espírito Santo é completamente irreal. Eles o consi<strong>de</strong>ram como<br />

uma simples influência, boa s<strong>em</strong> dúvida, mas nada mais que uma influência. Em seu<br />

pensamento confund<strong>em</strong> mais ou menos a consciência com o Espírito, como "alguma<br />

coisa" que os adverte e repreen<strong>de</strong> quando t<strong>em</strong> agido errado, e que se esforça <strong>em</strong><br />

mostrá-lhes como pod<strong>em</strong> ser bons. A dificulda<strong>de</strong> para os crentes <strong>de</strong> Corinto não consistia<br />

no fato que o Espírito não habitasse neles, mas <strong>em</strong> não perceber a Sua presença. Assim,<br />

não compreendiam a gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong> Aquele que tinha vindo morar <strong>em</strong> seus corações; por<br />

isso Paulo escreveu a eles: "Não sabeis vós que sois santuário <strong>de</strong> Deus, e que o Espírito<br />

<strong>de</strong> Deus habita <strong>em</strong> vós?". Sim, aqui estava o r<strong>em</strong>édio contra a sua falta <strong>de</strong><br />

espiritualida<strong>de</strong>: simplesmente "saber" qu<strong>em</strong> era Aquele que habitava neles.<br />

O TESOURO NO VASO DE BARRO<br />

Sab<strong>em</strong>, meus queridos amigos, que o Espírito que mora <strong>em</strong> vocês é Deus mesmo?<br />

Oh, se os nossos olhos se abriss<strong>em</strong> para ver a gran<strong>de</strong>za do dom <strong>de</strong> Deus! Oh, se<br />

pudéss<strong>em</strong>os compreen<strong>de</strong>r a riqueza dos recursos escondidos <strong>em</strong> nossos corações! Eu<br />

po<strong>de</strong>ria gritar <strong>de</strong> júbilo diante do pensamento que "O Espírito que habita <strong>em</strong> mim não é<br />

uma simples influência, mas uma pessoa viva; é Deus mesmo! O Deus infinito está <strong>em</strong><br />

meu coração!". Eu me sinto incapaz <strong>de</strong> fazê-lhes compreen<strong>de</strong>r a alegria gloriosa <strong>de</strong>ste<br />

<strong>de</strong>scobrimento, que o Espírito Santo que mora <strong>em</strong> meu coração é uma pessoa. Posso<br />

somente repetir: "É uma pessoa!" Oh, amigos meus, gostaria <strong>de</strong> dizer c<strong>em</strong> vezes: "O<br />

Espírito <strong>de</strong> Deus que está <strong>em</strong> mim é uma pessoa! Eu sou somente um vaso <strong>de</strong> barro,<br />

mas levo um tesouro inestimável: o Senhor da glória! Todas as penas e os tormentos dos<br />

filhos <strong>de</strong> Deus cessariam se seus olhos se abriss<strong>em</strong> para ver a gran<strong>de</strong>za do tesouro<br />

escondido <strong>em</strong> seus corações. Sab<strong>em</strong> que <strong>em</strong> seu coração estão todos os recursos<br />

necessários para respon<strong>de</strong>r às exigências <strong>de</strong> todas as circunstâncias nas quais pod<strong>em</strong> se<br />

encontrar? Sab<strong>em</strong> que é suficiente po<strong>de</strong>r para r<strong>em</strong>over a cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> moram? Sab<strong>em</strong><br />

que é suficiente po<strong>de</strong>r para incendiar o universo? Deix<strong>em</strong>-me dizê-lo mais uma vez —e o<br />

digo com o respeito mais profundo—: vocês nasceram <strong>de</strong> novo para o Espírito <strong>de</strong> Deus,<br />

levam a Deus <strong>em</strong> seu coração!"<br />

Ainda todas as levianda<strong>de</strong>s dos filhos <strong>de</strong> Deus cairiam se eles compreen<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> a<br />

gran<strong>de</strong>za do tesouro que foi colocado neles. Se vocês têm somente R$ 2 no bolso,<br />

pod<strong>em</strong> caminhar alegr<strong>em</strong>ente pela rua e conversar com o coração ligeiro. De fato, não<br />

lhes importaria per<strong>de</strong>r seu dinheiro, porque t<strong>em</strong> b<strong>em</strong> pouco valor. Mas se levam R$<br />

100.000, o seu comportamento será completamente diferente, porque a situação será<br />

muito diferente. Estarão muito contentes, mas não passearão distraidamente pela rua;<br />

<strong>de</strong> tanto <strong>em</strong> tanto <strong>de</strong>ixarão <strong>de</strong>slizar sua mão sobre o vosso tesouro para assegurar-se<br />

que existe s<strong>em</strong>pre, e prosseguirão com satisfação no caminho.<br />

Nos t<strong>em</strong>pos do Antigo Testamento, existiam centenas <strong>de</strong> tendas no campo <strong>de</strong> Israel,<br />

mas uma <strong>de</strong>ssas era diferente das outras. Dentro das tendas comuns cada um podia<br />

fazer o que <strong>de</strong>sejava —comer ou jejuar, trabalhar ou repousar, ser felizes ou estar<br />

tristes, ser barulhentos ou silenciosos-. Mas a outra tenda inspirava reverência e t<strong>em</strong>or.<br />

Os filhos <strong>de</strong> Israel podiam entrar nas tendas comuns ou sair <strong>de</strong>las, falando<br />

barulhentamente e rindo com alegria, mas quando se aproximavam daquela particular<br />

tenda, instintivamente caminhavam com respeito, e assim que se achavam diante <strong>de</strong>la<br />

abaixavam a testa num silencio solene. Ninguém podia tocá-la impun<strong>em</strong>ente. Se um<br />

hom<strong>em</strong> ou um animal ousavam fazê-lo, a morte era a punição segura. O que havia <strong>de</strong><br />

particular naquela tenda? Ela era o t<strong>em</strong>plo do Deus vivo.<br />

A tenda <strong>em</strong> si mesma não tinha nada <strong>de</strong> extraordinário, estava construída<br />

exteriormente com material ordinário como as outras, mas o Deus Altíssimo a tinha<br />

escolhido para fazer sua morada.<br />

Vocês compreend<strong>em</strong> o que aconteceu no momento da nossa conversão? Deus entrou<br />

<strong>em</strong> nosso coração para fazer seu t<strong>em</strong>plo.<br />

No t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> Salomão Deus habitava num t<strong>em</strong>plo feito <strong>de</strong> pedra; hoje Ele mora num<br />

t<strong>em</strong>plo formado <strong>de</strong> crentes vivos. Quando nos persuadamos verda<strong>de</strong>iramente que Deus<br />

t<strong>em</strong> feito do nosso coração a sua habitação, qual sentimento <strong>de</strong> profunda reverência<br />

encherá a nossa vida! Todas as levianda<strong>de</strong>s, todas as frivolida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>saparecerão assim<br />

como toda busca <strong>de</strong> satisfação pessoal, quando saibamos que somos o t<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> Deus e<br />

que seu Espírito mora <strong>em</strong> nós. Estão convencidos que para on<strong>de</strong> vão, s<strong>em</strong>pre, levam<br />

com vocês o Espírito Santo <strong>de</strong> Deus? Não levam somente a Bíblia, e n<strong>em</strong> um rico<br />

ensinamento sobre Deus, mas Deus mesmo.<br />

A razão pela qual muitos crentes não conhec<strong>em</strong> o po<strong>de</strong>r do Espírito <strong>em</strong> suas vidas,<br />

ainda que Ele more realmente <strong>em</strong> seus corações, é que são <strong>de</strong>srespeitosos.<br />

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Desrespeitam porque seus olhos não foram ainda abertos para constatar a sua presença.<br />

A realida<strong>de</strong> existe, mas eles não a vê<strong>em</strong>. Como é que certos crentes viv<strong>em</strong> uma vida <strong>de</strong><br />

vitória, enquanto outros conhec<strong>em</strong> somente <strong>de</strong>rrotas? A <strong>de</strong>finição não resi<strong>de</strong> no fato da<br />

presença ou da ausência do Espírito (porque Ele habita no coração <strong>de</strong> cada filho <strong>de</strong><br />

Deus), mas no fato que os primeiros reconhec<strong>em</strong> possuí-Lo e os outros, não. A revelação<br />

explícita do fato que o Espírito habita <strong>em</strong> seus corações po<strong>de</strong> revolucionar a vida <strong>de</strong> cada<br />

crente.<br />

A SOBERANIA ABSOLUTA DE CRISTO<br />

"Ou não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que habita <strong>em</strong> vós, o<br />

qual possuís da parte <strong>de</strong> Deus, e que não sois <strong>de</strong> vós mesmos? Porque fostes comprados<br />

por preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo" (1 Coríntios 6:19-20).<br />

Estes versículos nos conduz<strong>em</strong> agora um passo adiante, porque ao nosso<br />

conhecimento <strong>de</strong> sermos a morada <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong>ve necessariamente seguir o nosso<br />

abandono total nEle. Quando v<strong>em</strong>os que somos o t<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> Deus, reconhec<strong>em</strong>os<br />

imediatamente que já não pertenc<strong>em</strong>os mais a nós mesmos. A consagração seguirá à<br />

revelação. A diferença entre os crentes vitoriosos e aqueles que ficam na <strong>de</strong>rrota não é<br />

<strong>de</strong>vida ao fato que os primeiros têm o Espírito e ou outros não, mas ao fato que os<br />

primeiros sab<strong>em</strong> que Ele habita neles enquanto os outros ainda o ignoram: <strong>em</strong><br />

conseqüência, os uns reconhec<strong>em</strong> a Deus seu direito, ao passo que os segundos se<br />

sent<strong>em</strong> ainda donos <strong>de</strong> si mesmos.<br />

A revelação é o primeiro passo rumo à santida<strong>de</strong>, e a consagração é o segundo. Deve<br />

chegar um dia <strong>em</strong> nossa vida tão preciso quanto o dia <strong>de</strong> nossa conversão, no qual<br />

abandon<strong>em</strong>os cada direito sobre nós mesmos para submeter-nos à soberania absoluta <strong>de</strong><br />

Jesus Cristo. Deus po<strong>de</strong> provar a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossa consagração com manifestações<br />

práticas mas, aconteça isso ou não, <strong>de</strong>ver haver um dia <strong>em</strong> que, s<strong>em</strong> reservas,<br />

abandon<strong>em</strong>os a Ele tudo: nós mesmos, a nossa família, os nossos bens, os nossos<br />

assuntos e o nosso t<strong>em</strong>po. Tudo o que nós somos, tudo o que t<strong>em</strong>os, é agora dEle, s<strong>em</strong><br />

reservas, inteiramente à sua disposição. Daquele dia não somos mais donos <strong>de</strong> nós<br />

mesmos, mas somente mordomos, administradores. Até que a soberania <strong>de</strong> Jesus Cristo<br />

não seja estabelecida <strong>em</strong> nosso coração, o Espírito não po<strong>de</strong> agir eficazmente <strong>em</strong> nós.<br />

Não po<strong>de</strong> dirigir a nossa vida até que não tenhamos confiado <strong>em</strong> suas mãos todo<br />

controle sobre ela. Se não lhe entregamos plena autorida<strong>de</strong> sobre nossa vida, Ele po<strong>de</strong><br />

estar presente, mas s<strong>em</strong> po<strong>de</strong>r. A ação do Espírito está obstaculizada. Viv<strong>em</strong>os para o<br />

Senhor ou para nós mesmos? Esta pergunta é talvez d<strong>em</strong>asiado genérica; permitam-me<br />

então, ser mais preciso. Existe alguma coisa que Deus vos pe<strong>de</strong> e que vocês Lhe<br />

rejeitam? Há algum ponto <strong>de</strong> atrito entre vocês e Deus? Somente quando cada contraste<br />

seja eliminado e o Espírito Santo tenha recebido plena liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ação, Ele po<strong>de</strong>rá<br />

reproduzir a vida <strong>de</strong> Cristo <strong>em</strong> cada crente.<br />

Um amigo americano, que chamar<strong>em</strong>os Paulo e que agora está com o Senhor,<br />

acariciava <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua juventu<strong>de</strong> o sonho <strong>de</strong> ser chamado, um dia, "doutor" Paulo. Muito<br />

jov<strong>em</strong> ainda, sonhava com o momento <strong>de</strong> entrar na Universida<strong>de</strong> e imaginava a si<br />

mesmo, primeiro estudante e <strong>de</strong>pois conseguindo se laurear <strong>em</strong> filosofia. Finalmente<br />

teria chegado o dia <strong>em</strong> que todos o teriam saudado como "doutor Paulo".<br />

O Senhor o salvou e o chamou a predicar o Evangelho e muito rapidamente foi pastor<br />

<strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> igreja. Cont<strong>em</strong>poraneamente tinha terminado seus estudos no primeiro<br />

nível e se preparava para se doutorar mas, apesar dos brilhantes resultados obtidos nos<br />

estudos e o sucesso que tinha <strong>em</strong> seu ministério, não estava satisfeito. Ele era um<br />

crente, mas a sua vida não se parecia com a <strong>de</strong> Cristo; tinha o Espírito <strong>de</strong> Deus nele,<br />

mas não gozava <strong>de</strong> sua presença n<strong>em</strong> experimentava seu po<strong>de</strong>r. Dizia a si mesmo: "Sou<br />

predicador do Evangelho e pastor <strong>de</strong> uma <strong>Igreja</strong>. Recomendo aos meus ouvintes amar a<br />

Palavra <strong>de</strong> Deus, mas eu mesmo não a amo realmente. Os exorto a orar mas eu mesmo<br />

não encontro prazer <strong>em</strong> orar. Os exorto a viver uma vida santa, mas a minha vida não é<br />

santa. Os aviso contra as tentações e o amor pelo mundo, mas ainda evitando-o<br />

exteriormente existe, no fundo <strong>de</strong> meu coração, um <strong>de</strong>sejo muito forte por isso". Neste<br />

estado <strong>de</strong> ânimo ele gritou ao Senhor para conduzi-lo a conhecer o po<strong>de</strong>r do Espírito que<br />

morava nele, mas <strong>em</strong>bora orasse por meses não teve nenhuma resposta. Então jejuou e<br />

suplicou ao Senhor que lhe mostrasse se existia algum obstáculo <strong>em</strong> sua vida. Esta vez a<br />

resposta não d<strong>em</strong>orou e foi a seguinte: "Eu <strong>de</strong>sejo que você conheça o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> meu<br />

Espírito, mas seu coração está apegado alguma coisa que eu não gosto. Abandonou-se a<br />

mim, mas não completamente; você reteve uma coisa para você e acaricia ainda a<br />

ambição <strong>de</strong> ser 'doutor'". Talvez n<strong>em</strong> vocês, n<strong>em</strong> eu atribuiríamos d<strong>em</strong>asiada<br />

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importância ao fato <strong>de</strong> sermos chamados "doutor Paulo" antes que "senhor Paulo", mas<br />

para ele representava a vida mesma.<br />

O tinha sonhado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância e tinha estudado por isso durante toda a juventu<strong>de</strong>,<br />

com gran<strong>de</strong> custo e esforço, e agora quase tinha alcançado, porque faltavam menos <strong>de</strong><br />

dois meses para se doutorar. Ele se pus, então, a discutir com o Senhor: "É um<br />

inconveniente para mim ser 'doutor <strong>em</strong> filosofia'? Não haverá mais glória para Teu nome<br />

se <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> senhor Paulo existe um doutor Paulo a predicar o Evangelho?". Porém Deus<br />

não muda <strong>de</strong> opinião e todos os argumentos do senhor Paulo não podiam modificar sua<br />

<strong>de</strong>cisão. Todas as vezes que orava sobre este assunto recebia a mesma resposta.<br />

Quando viu que todas as discussões eram vãs, recorreu a uma espécie <strong>de</strong> compromisso<br />

com o Senhor. Prometeu servi-lo indo aqui e lá, fazer isto e aquilo, se Ele lhe conce<strong>de</strong>sse<br />

somente se tornar doutor; mas o Senhor também não aceitou isso. E durante todo este<br />

t<strong>em</strong>po o senhor Paulo tinha uma se<strong>de</strong> s<strong>em</strong>pre crescente da plenitu<strong>de</strong> do Espírito. Este<br />

estado <strong>de</strong> coisas continuou até o dia prece<strong>de</strong>nte ao último exame.<br />

Era uma sábado e o senhor Paulo dispunha-se a preparar seu sermão. Apesar do seu<br />

<strong>em</strong>penho não tinha nenhuma inspiração. Estava a ponto <strong>de</strong> alcançar o objetivo <strong>de</strong> sua<br />

vida, mas Deus lhe mostrou claramente que <strong>de</strong>via escolher entre o po<strong>de</strong>r que teria<br />

podido dar-lhe o título <strong>de</strong> doutor e aquele que teria podido dar-lhe o Espírito <strong>de</strong> Deus.<br />

aquela noite se ren<strong>de</strong>u. "Senhor", disse, "eu estou pronto a ser simplesmente Paulo pelo<br />

resto <strong>de</strong> minha vida, mas necessário conhecer o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> teu Espírito <strong>em</strong> minha vida".<br />

Levantou-se do oratório e escreveu uma carta aos seus examinadores, pedindo ser<br />

dispensado do exame da seguinte segunda-feira, explicando o motivo. Depois <strong>de</strong>itou<br />

dormir muito feliz, mas s<strong>em</strong> ter consciência <strong>de</strong> ter realizado uma experiência singular. A<br />

manhã <strong>de</strong>pois disse à ass<strong>em</strong>bléia que, pela primeira vez <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> seis anos <strong>de</strong><br />

ministério, não tinha um sermão para predicar e explicou a causa. O Senhor abençoou<br />

aquele test<strong>em</strong>unho público mais abundant<strong>em</strong>ente que todos os seus sermões preparados<br />

com cuidado e daquele momento se serviu <strong>de</strong>le <strong>de</strong> uma forma completamente nova. Ao<br />

conhecer a separação completa do mundo não já como uma coisa externa, mas como<br />

uma profunda realida<strong>de</strong> interna, o gozo da presença e do po<strong>de</strong>r do Espírito converteramse<br />

<strong>em</strong> sua experiência cotidiana.<br />

Deus nos pe<strong>de</strong> para regular as controvérsias que t<strong>em</strong>os com Ele. Para o senhor Paulo<br />

tratava-se <strong>de</strong> uma forte ambição, mas para nós po<strong>de</strong> ser alguma coisa muito diferente.<br />

Geralmente o abandono absoluto <strong>de</strong> nós mesmos ao Senhor <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> um único ponto<br />

particular, e Deus nos pe<strong>de</strong> justamente aquela coisa. Ele a quer porque <strong>de</strong>ve possuir-nos<br />

completamente. Fique muito impressionado com a autobiografia que escreveu um gran<strong>de</strong><br />

chefe político: "Eu não <strong>de</strong>sejo nada para mim mesmo, <strong>de</strong>sejo tudo para o meu país". Se<br />

um hom<strong>em</strong> po<strong>de</strong> chegar a <strong>de</strong>sejar que todo seja para seu país e nada para si mesmo,<br />

não pod<strong>em</strong>os nós dizer ao nosso Deus: "Senhor, eu não quero nada para mim, mas tudo<br />

para Ti. Eu quero aquilo que Tu <strong>de</strong>sejas, e não quero nada fora <strong>de</strong> tua vonta<strong>de</strong>". Até que<br />

não assumamos o nosso lugar <strong>de</strong> servos, Ele não po<strong>de</strong>r tomar seu lugar <strong>de</strong> Senhor. Ele<br />

não nos chama para consagrar-nos a Sua causa, mas nos pe<strong>de</strong> que nos abandon<strong>em</strong>os<br />

s<strong>em</strong> condições à Sua vonta<strong>de</strong>. Estamos prontos para fazer isto?<br />

Um outro amigo meu, como o senhor Paulo, tinha uma <strong>de</strong>sarmonia com o Senhor.<br />

Antes <strong>de</strong> sua conversão tinha se apaixonado por uma jov<strong>em</strong>, e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o momento <strong>em</strong> que<br />

foi salvo tentou conduzi-la ao Senhor que ele amava, mas ela não quis saber <strong>de</strong> coisas<br />

espirituais. O Senhor mostrou ao meu amigo que a relação com esta jov<strong>em</strong> não era boa<br />

e <strong>de</strong>via necessariamente acabar, mas ele estava profundamente apaixonado e quis que<br />

isso acontecesse, ainda que continuasse a servir o Senhor e a conduzir almas a Ele.<br />

Entretanto tornou-se s<strong>em</strong>pre mais consciente e viva nele a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> santida<strong>de</strong>, e<br />

este sentimento começou a marcar para ele o início <strong>de</strong> dias negros. Ele pedia a plenitu<strong>de</strong><br />

do Espírito para ser capaz <strong>de</strong> viver uma vida santa, mas parecia que o Senhor ignorasse<br />

continuamente seu pedido.<br />

Uma manhã foi chamado a predicar numa outra cida<strong>de</strong> e seu t<strong>em</strong>a foi o versículo 25<br />

do Salmo 73: "A qu<strong>em</strong> tenho eu no céu senão a ti? e na terra não há qu<strong>em</strong> eu <strong>de</strong>seje<br />

além <strong>de</strong> ti". Quando ele voltou foi a uma reunião <strong>de</strong> oração, no curso da qual, s<strong>em</strong> saber,<br />

naturalmente, que ele tinha pregado esse mesmo dia sobre o mesmo versículo, uma<br />

irmã leu o versículo, e acabou fazendo esta pergunta: "Pod<strong>em</strong>os nós verda<strong>de</strong>iramente<br />

dizer: "e na terra não há qu<strong>em</strong> eu <strong>de</strong>seje além <strong>de</strong> ti?". Havia uma força nestas palavras<br />

que foram diretamente ao seu coração, e ele <strong>de</strong>veu confessar <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>r dizer, com<br />

total sincerida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> não <strong>de</strong>sejar sobre a terra n<strong>em</strong> no céu outros senão o Senhor.<br />

Compreen<strong>de</strong>u imediatamente que, para ele, tudo <strong>de</strong>pendia da sua obediência à renúncia<br />

da jov<strong>em</strong> que amava.<br />

48


Para outros, talvez, uma renúncia similar não teria sido difícil, porém para ele foi<br />

muito duro, ela representava tudo para ele. Começou, então, a discutir com o Senhor:<br />

"Senhor, irei ao Tibet a trabalhar para Ti, se me permites casar com aquela jov<strong>em</strong>". Mas<br />

o Senhor pareceu importar-se muito mais <strong>de</strong> sua relação com aquela jov<strong>em</strong> do que com<br />

sua partida ao Tibet. A diferença prolongou-se por muitos meses e, como o rapaz orava<br />

novamente pela plenitu<strong>de</strong> do Espírito, o Senhor colocou novamente seu <strong>de</strong>do na chaga.<br />

Porém um dia o Senhor triunfou, e o jov<strong>em</strong>, alçando os olhos a Ele, disse: "Senhor, eu<br />

posso agora verda<strong>de</strong>iramente dizer: "na terra não há qu<strong>em</strong> eu <strong>de</strong>seje além <strong>de</strong> ti". Este<br />

foi para ele o início <strong>de</strong> uma nova vida.<br />

Existe uma gran<strong>de</strong> diferença entre um pecador perdoado e um pecador impenitente, e<br />

existe uma gran<strong>de</strong> diferença entre um crente consagrado e um crente indiferente. Queira<br />

o Senhor conduzir a cada um <strong>de</strong> nós a um pleno reconhecimento <strong>de</strong> sua senhoria. Se nos<br />

abandonamos completam a Ele e pedimos o po<strong>de</strong>r do Espírito que habita <strong>em</strong> nós,<br />

pod<strong>em</strong>os simplesmente olhar para cima e agra<strong>de</strong>cer o Senhor por aquilo que já t<strong>em</strong><br />

cumprido. Pod<strong>em</strong>os agra<strong>de</strong>cê-Lhe com confiança porque a glória <strong>de</strong> Deus já encheu seu<br />

t<strong>em</strong>plo. "Ou não sabeis que o vosso corpo é o t<strong>em</strong>plo do Espírito Santo, que habita <strong>em</strong><br />

vós, proveniente <strong>de</strong> Deus?" (1 Coríntios 6:19).<br />

CAPÍTULO 9 – O SIGNIFICADO E O VALOR DO SÉTIMO CAPÍTULO<br />

DA CARTA AOS ROMANOS<br />

Dev<strong>em</strong>os agora voltar à carta aos Romanos. Nos <strong>de</strong>tiv<strong>em</strong>os no fim do capítulo 6 para<br />

consi<strong>de</strong>rar dois t<strong>em</strong>as ligados àquele estudo, ou seja, o <strong>de</strong>sígnio eterno <strong>de</strong> Deus, que é a<br />

razão e o objetivo <strong>de</strong> nosso caminho com Ele, e o Espírito Santo <strong>em</strong> qu<strong>em</strong> achamos a<br />

força e os recursos necessários para perseguir este fim. Chegamos agora ao sétimo<br />

capítulo, um capítulo que muitos consi<strong>de</strong>ram quase supérfluo. Talvez seria assim, se os<br />

crentes tivess<strong>em</strong> compreendido que a antiga criação foi realmente colocada <strong>de</strong> lado pela<br />

Cruz <strong>de</strong> Cristo, e que uma nova criação completamente nova foi introduzida mediante a<br />

sua ressurreição. Se tivéss<strong>em</strong>os chegado ao ponto <strong>de</strong> "saber" realmente isto, <strong>de</strong><br />

"reconhecer" isto, e <strong>de</strong> "apresentar nós mesmos" sobre este fundamento, então, talvez<br />

não teríamos necessida<strong>de</strong> do sétimo capítulo <strong>de</strong> Romanos<br />

Outros sentiram que este capítulo não está <strong>em</strong> seu lugar. O teriam colocado entre o<br />

quinto e o sexto. Depois Del capítulo 6 tudo é tão perfeito, tão claro, tão límpido; e então<br />

este <strong>de</strong>rrubamento e este grito: "Miserável hom<strong>em</strong> que eu sou!". Po<strong>de</strong> se ver uma virada<br />

pior que essa? Porém, alguns pensam que Paulo <strong>de</strong>screve aqui a sua experiência<br />

prece<strong>de</strong>nte à conversão, e o seu insucesso <strong>em</strong> observar as leis do bom israelita.<br />

Precisamos admitir efetivamente que algumas das coisas aqui <strong>de</strong>scritas não entram na<br />

experiência "cristã", e ainda muitos cristãos têm estas tristes experiências. Qual é,<br />

então, o ensino <strong>de</strong>ste capítulo?<br />

O capítulo 6 nos fala da liberação do pecado. O capítulo 7 trata da liberação da lei. No<br />

capítulo 6, Paulo nos ensina como pod<strong>em</strong>os ser libertos do pecado, e concluímos que é<br />

tudo <strong>de</strong> que necessitamos. O capítulo 7 nos ensina que a liberação do pecado não é tudo,<br />

e que t<strong>em</strong>os também necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer a liberação da lei. Se não formos<br />

completamente libertos da lei, não po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os nunca conhecer a plena liberação do<br />

pecado. Mas qual é a diferença entre a liberda<strong>de</strong> do pecado e a liberda<strong>de</strong> da lei? Nós<br />

compreend<strong>em</strong>os b<strong>em</strong> o valor da primeira, mas n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre compreend<strong>em</strong>os qual é a<br />

necessida<strong>de</strong> da segunda. Para enten<strong>de</strong>r isto <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os, antes que nada, perguntar-nos o<br />

que é a lei e qual seja o seu valor especial para nós.<br />

A CARNE E A DERROTA DO HOMEM<br />

Romanos 7 é uma lição nova para apren<strong>de</strong>r. É o <strong>de</strong>scobrimento do fato que eu estou<br />

"na carne" (Rm 7:5), que eu "sou carnal" (Rm 7:14) e que "eu sei que <strong>em</strong> mim, isto é,<br />

na minha carne, não habita b<strong>em</strong> algum" (Rm 7:18). Isto vai além das consi<strong>de</strong>rações do<br />

pecado, porque t<strong>em</strong> a ver também com o probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> agradar a Deus. Não se trata aqui<br />

do pecado sob as suas diversas formas, mas do hom<strong>em</strong> <strong>em</strong> seu estado carnal. Este<br />

último inclui o outro, mas nos conduz também a um grau avançado porque nos faz<br />

conhecer que no domínio do pecado somos totalmente impotentes e que "os que estão<br />

na carne não pod<strong>em</strong> agradar a Deus" (Rm 8:8). Como chegamos, então, a este<br />

conhecimento? Por meio da lei.<br />

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Regress<strong>em</strong>os agora um instante sobre nossos passos para procurar po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>screver<br />

aquilo que, provavelmente, tenham experimentado muitos <strong>de</strong> nós. Muitos cristãos são<br />

verda<strong>de</strong>iramente salvos, e apesar disso estão ainda amarrados às ligaduras do pecado.<br />

Naturalmente não viv<strong>em</strong> continuamente sob o domínio do pecado, mas exist<strong>em</strong> certos<br />

pecados particulares que os atacam <strong>de</strong> contínuo, e no final eles ced<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre. Mas, um<br />

dia, ouv<strong>em</strong> a mensag<strong>em</strong> completa do Evangelho, compreend<strong>em</strong> que o Senhor Jesus não<br />

somente morreu para purificar-nos pó pecado, mas que quando morreu, incluiu todos<br />

nós pecadores <strong>em</strong> sua morte; assim não somente os nossos pecados foram cancelados,<br />

mas nós mesmos fomos crucificados. Seus olhos foram abertos, eles experimentaram ser<br />

crucificados com Cristo. Duas coisas vêm após esta revelação. Em primeiro lugar o<br />

pecador reconhece <strong>de</strong> estar morto e ter ressuscitado com seu Senhor; <strong>em</strong> segundo lugar,<br />

ouvindo o apelo que Deus lhe dirige, e reconhecendo <strong>de</strong> não ter mais direito algum sobre<br />

si mesmo, se apresenta a Deus como um morto que voltou viver. Este é o início <strong>de</strong> uma<br />

bela vida cristã plena <strong>de</strong> gratidão ao Senhor.<br />

Mas a seguir começa a pensar: "Eu morri com Cristo e ressuscitei com Ele, me <strong>de</strong>i a<br />

Ele para s<strong>em</strong>pre. Agora <strong>de</strong>vo fazer alguma coisa para Ele, porque Ele fez tudo por mim.<br />

Eu <strong>de</strong>sejaria agradá-Lo e fazer a Sua vonta<strong>de</strong>". Assim, <strong>de</strong>pois do passo da consagração,<br />

ele tenta <strong>de</strong> conhecer a vonta<strong>de</strong> do Senhor para obe<strong>de</strong>cê-Lo. Então, faz um estranho<br />

<strong>de</strong>scobrimento. Pensava <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r cumprir a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, porque acreditava que o<br />

amava, mas, pouco a pouco se persua<strong>de</strong> que não o ama s<strong>em</strong>pre. Tenta, as vezes, uma<br />

clara resistência à vonta<strong>de</strong> divina e, freqüent<strong>em</strong>ente, quando se esforça para cumpri-la,<br />

se encontra na impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazê-lo. Começa então a duvidar <strong>de</strong> sua experiência.<br />

Se pergunta: "Será que verda<strong>de</strong>iramente tive uma revelação? Sim. Percebi realmente?<br />

Sim. Me entreguei <strong>em</strong> verda<strong>de</strong> ao Senhor? Sim. Terei talvez renegado da minha<br />

consagração? Não. Então, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> provém a dificulda<strong>de</strong>?" E, mais o hom<strong>em</strong> tenta fazer a<br />

vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, mais parece se distanciar. Acaba então por concluir que nunca amou<br />

verda<strong>de</strong>iramente a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus. Começará então a orar para ter o <strong>de</strong>sejo e o po<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> cumpri-la. Confessa a sua <strong>de</strong>sobediência e promete não <strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>cer mais. Mas,<br />

apenas volta se levantar, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter orado, recai ainda uma vez; antes <strong>de</strong> chegar à<br />

vitória é consciente da <strong>de</strong>rrota. Ele se diz então: "Talvez a minha última <strong>de</strong>cisão não foi<br />

suficient<strong>em</strong>ente firme. Esta vez <strong>de</strong>sejo ser absolutamente forte". Tenta concentrar toda a<br />

sua força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> para alcançar a obediência, mas somente para achar uma maior<br />

<strong>de</strong>rrota, a qual <strong>de</strong>verá seguir uma nova escolha. Ecoarão então <strong>em</strong> seu coração as<br />

palavras <strong>de</strong> Paulo: "Porque eu sei que <strong>em</strong> mim, isto é, na minha carne, não habita b<strong>em</strong><br />

algum; com efeito o querer o b<strong>em</strong> está <strong>em</strong> mim, mas o efetuá-lo não está. Pois não faço<br />

o b<strong>em</strong> que quero, mas o mal que não quero, esse pratico" (Rm 7:18-19).<br />

O QUE ENSINA A LEI<br />

Muitos crentes se encontram <strong>de</strong> repente lançados na experiência <strong>de</strong> Romanos 7, s<strong>em</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r o motivo. Eles imaginam que Romanos 6 seja absolutamente suficiente.<br />

Porque o aceitaram, pensam que já não po<strong>de</strong> existir mais perigo <strong>de</strong> quedas, e a sua<br />

maior surpresa é a <strong>de</strong> encontrar-se na frente Romanos 7. Como se explica isto?<br />

Acontece, principalmente, que um ponto está b<strong>em</strong> claro para nós, ou seja, que a<br />

morte com Cristo, como <strong>de</strong>scrita <strong>em</strong> Romanos 6, é plenamente suficiente para respon<strong>de</strong>r<br />

a cada nossa necessida<strong>de</strong>. É a explicação <strong>de</strong>sta morte, com todo aquilo que se segue no<br />

capítulo 6, que está agora incompleta <strong>em</strong> nós. Ignoramos ainda a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong>scrita no<br />

capítulo 7. De fato, este capítulo está <strong>de</strong>stinado a explicar-nos e avivar <strong>em</strong> nós a<br />

<strong>de</strong>claração feita <strong>em</strong> Romanos 6:14: "o pecado não terá domínio sobre vós, porquanto<br />

não estais <strong>de</strong>baixo da lei, mas <strong>de</strong>baixo da graça". Estamos <strong>em</strong> dificulda<strong>de</strong>s porque não<br />

conhec<strong>em</strong>os b<strong>em</strong> ainda a liberação da lei. Qual é então o significado da lei? a graça<br />

significa que Deus faz alguma coisa para mim; a lei significa que eu faço alguma coisa<br />

para o Senhor. Deus t<strong>em</strong> exigências <strong>de</strong> santida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> justiça às quais sou chamado a<br />

respon<strong>de</strong>r: esta é a lei. Ora, se a lei significa que Deus me pe<strong>de</strong> para cumprir certas<br />

coisas, a liberação da lei significa que fui dispensado, porque proveu Ele mesmo. A lei é<br />

uma exigência <strong>de</strong> parte <strong>de</strong> Deus que eu <strong>de</strong>vo cumprir; a liberação da lei significa que fui<br />

isento do cumprimento, porque, pela Sua graça, cumpriu Ele mesmo o que esperava <strong>de</strong><br />

mim. Eu (ou seja, o hom<strong>em</strong> "carnal" <strong>de</strong> Romanos 7:14) não necessito fazer nada para o<br />

Senhor: esta é a liberação da lei. A dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Romanos 7 consiste no fato que o<br />

hom<strong>em</strong> com a sua natureza pecaminosa se esforça para fazer alguma coisa para o<br />

Senhor. Se procurarmos gostar a Deus por este meio, nos colocamos sob a lei, e a<br />

experiência <strong>de</strong> Romanos 7 se converte na nossa. Enquanto procuramos compreen<strong>de</strong>r<br />

isso, <strong>de</strong>ve ficar b<strong>em</strong> claro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o princípio, que o erro não está na lei. Paulo diz: "a lei é<br />

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santa, e o mandamento santo, justo e bom" (Rm 7:12). Não há nada <strong>de</strong> mau na lei, mas<br />

existe alguma coisa <strong>de</strong>cididamente malvada <strong>em</strong> mim. As exigências da lei são justas,<br />

mas o hom<strong>em</strong> a qu<strong>em</strong> é imposto o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> cumpri-las é injusto. A dificulda<strong>de</strong> não<br />

resi<strong>de</strong> no fato que as exigências da lei sejam injustas, mas no fato que eu sou incapaz <strong>de</strong><br />

cumpri-las. Seria natural que o governo me impusesse uma taxa <strong>de</strong> R$ 50.000, mas<br />

seria injusto se eu tivesse somente R$ 50 para pagá-lo.<br />

Eu sou um hom<strong>em</strong> "vendido sob o pecado" (Rm 7:14). O pecado domina sobre mim.<br />

Em verda<strong>de</strong>, enquanto me <strong>de</strong>ixa <strong>em</strong> paz posso parecer um hom<strong>em</strong> bom. Mas quando me<br />

é pedido fazer alguma coisa, então a minha natureza <strong>de</strong> pecado se manifesta.<br />

Suponhamos que tenham um servo doente e que ele fique simplesmente sentado s<strong>em</strong><br />

fazer nada; a sua indisposição não será vista. Se não faz nada <strong>em</strong> todo o dia, será pouco<br />

útil, <strong>em</strong> verda<strong>de</strong>, mas não causará dano algum. Mas se vocês lhe ped<strong>em</strong>: "Vamos, não<br />

perca mais t<strong>em</strong>po, levante e faça algo", então as dificulda<strong>de</strong>s começarão. Alçando-se,<br />

fará cair a ca<strong>de</strong>ira, tropeçará num banquinho, quebrará um vaso precioso apenas o<br />

toque. Se não lhe ped<strong>em</strong> para fazer nada, a sua enfermida<strong>de</strong> não se manifestará; mas<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o momento <strong>em</strong> que vocês lhe dê<strong>em</strong> uma ord<strong>em</strong>, a sua indisposição será evi<strong>de</strong>nte.<br />

As or<strong>de</strong>ns eram justas, mas o hom<strong>em</strong> não estava <strong>em</strong> condições <strong>de</strong> executá-las. Estava<br />

doente tanto quando estava sentado como quando trabalhava, mas quando lhe foi pedido<br />

<strong>de</strong> servir foi revelado o seu estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Nós somos todos pecadores por natureza. Se Deus não nos pe<strong>de</strong> nada, todo parece<br />

andar b<strong>em</strong>, mas apenas Ele exige alguma coisa <strong>de</strong> nós, é a ocasião para d<strong>em</strong>onstrar a<br />

nossa miserável natureza. A lei <strong>de</strong>ixa <strong>em</strong> evidência a nossa <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>. Enquanto fico<br />

tranqüilo, pareço <strong>em</strong> perfeito estado, mas apenas se apresenta a exigência <strong>de</strong> cumprir<br />

alguma coisa, não existe <strong>em</strong> mim a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazê-lo. Uma lei santa e justa não<br />

po<strong>de</strong> ser respeitada e cumprida por um hom<strong>em</strong> pecador. No momento <strong>em</strong> que esse<br />

hom<strong>em</strong> <strong>de</strong>va observá-la escrupulosamente, se manifestará plenamente a sua<br />

incapacida<strong>de</strong> e seu estado <strong>de</strong> pecado.<br />

Deus sabe qu<strong>em</strong> eu sou; Ele sabe que da cabeça aos pés estou cheio <strong>de</strong> pecado; Ele<br />

sabe que sou a <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> <strong>em</strong> pessoa, que não posso fazer nada. O probl<strong>em</strong>a é que eu<br />

não o sei. Admito, sim, que todos os homens são pecadores, e que, <strong>em</strong> conseqüência,<br />

também eu sou pecador, mas penso <strong>de</strong> não ser tão malvado quanto os outros. Deus nos<br />

<strong>de</strong>ve conduzir ao ponto no qual possamos ver que somos profundamente fracos e<br />

impotentes. Pod<strong>em</strong>os reconhecer isto s<strong>em</strong> acreditá-lo completamente; assim Deus <strong>de</strong>ve<br />

fazer alguma coisa para nos convencer.<br />

S<strong>em</strong> a lei não ter<strong>em</strong>os nunca conhecido a medida <strong>de</strong> nossa <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>. Paulo chegou a<br />

compreendê-lo. Ele nos mostra claramente quando diz <strong>em</strong> Romanos 7:7: "eu não conheci<br />

o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não<br />

dissesse: Não cobiçarás". Qualquer tenha sido a sua experiência a respeito dos outros<br />

mandamentos, foi o décimo (que traduzido literalmente significa: "Não <strong>de</strong>sejarás") o que<br />

o fez conhecer a sua verda<strong>de</strong>ira natureza. Aqui ele percebeu a sua total incapacida<strong>de</strong>!<br />

Mais nos esforçamos <strong>em</strong> observar a lei, mais a nossa <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> se manifestará e<br />

afundar<strong>em</strong>os mais profundamente <strong>em</strong> Romanos 7, enquanto não fiqu<strong>em</strong>os plenamente<br />

convencidos <strong>de</strong> nossa <strong>de</strong>sastrosa <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>. Deus sabia tudo isso, mas nós o<br />

ignorávamos, e por isso Ele <strong>de</strong>ve conduzir-nos através <strong>de</strong> experiências dolorosas até que<br />

reconheçamos esta verda<strong>de</strong>. Dev<strong>em</strong>os ter a prova incontestável <strong>de</strong> nossa <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>.<br />

Por isto Deus nos <strong>de</strong>u a lei. Assim pod<strong>em</strong>os dizer, com respeito, que Deus não nos<br />

<strong>de</strong>u a lei para que a observ<strong>em</strong>os, mas para que a transgredíss<strong>em</strong>os. Ele sabia b<strong>em</strong> e<br />

éramos incapazes <strong>de</strong> cumpri-la. Nós somos tão malvados que Ele não nos pe<strong>de</strong> nenhum<br />

favor n<strong>em</strong> espera nenhum serviço. Nunca hom<strong>em</strong> algum conseguiu agradar a Deus por<br />

meio Deus da lei. No Novo Testamento não está escrito <strong>de</strong> observar a lei, mas é dito que<br />

a lei foi dada para que houvesse transgressão. "Sobreveio, porém, a lei para que a<br />

ofensa abundasse" (Rm 5:20). A lei nos foi dada para fazer-nos conhecer que éramos<br />

transgressores! S<strong>em</strong> dúvida alguma, eu sou um pecador <strong>em</strong> Adão, mas "eu não conheci<br />

o pecado senão pela lei... porquanto on<strong>de</strong> não há lei está morto o pecado... mas assim<br />

que veio o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri" (Rm 7:7-9). Por meio da lei se<br />

revela a nossa verda<strong>de</strong>ira natureza. Apesar <strong>de</strong> tudo, somos tão orgulhosos e nos cr<strong>em</strong>os<br />

tão fortes que Deus <strong>de</strong>ve fazer-nos atravessar uma prova para mostrar-nos quão fracos<br />

somos. Quando finalmente o perceb<strong>em</strong>os, confessamos: "Eu sou um pecador da cabeça<br />

aos pés, e não posso próprio fazer nada por mim mesmo para gostar a Deus".<br />

Não, a lei não foi entregue com a esperança que nós pudéss<strong>em</strong>os observá-la. Ela foi<br />

dada com a plena certeza que seria violada; e quando a transgredimos tão plenamente a<br />

ponto <strong>de</strong> ficarmos convencidos <strong>de</strong> nossa extr<strong>em</strong>a miséria, a lei alcançou seu objetivo. Ela<br />

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foi o nosso pedagogo (aio) para conduzir-nos a Cristo, a fim que Ele mesmo a cumprisse<br />

por nós. "A lei se tornou nosso aio, para nos conduzir a Cristo, a fim <strong>de</strong> que pela fé<br />

fôss<strong>em</strong>os justificados" (Gálatas 3:24).<br />

CRISTO, ATÉ A LEI<br />

Vimos <strong>em</strong> Romanos 6 como Deus nos liberou do pecado; <strong>de</strong>pois, <strong>em</strong> Romanos 7 como<br />

nos libera da lei. No cap 6, a liberação do pecado está explicada com a figura <strong>de</strong> um<br />

patrão e o ser escravo; no capítulo 7, a liberação da lei está mostrada com a figura <strong>de</strong><br />

dois maridos e <strong>de</strong> uma única esposa.<br />

A relação entre o pecado e o pecador é aquela do patrão e o escravo; a relação entre<br />

a lei e o pecador é aquela do marido e a mulher.<br />

Consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os, antes que nada, este texto: "Ou ignorais, irmãos (pois falo aos que<br />

conhec<strong>em</strong> a lei), que a lei t<strong>em</strong> domínio sobre o hom<strong>em</strong> por todo o t<strong>em</strong>po que ele vive?<br />

Porque a mulher casada está ligada pela lei a seu marido enquanto ele viver; mas, se ele<br />

morrer, ela está livre da lei do marido. De sorte que, enquanto viver o marido, será<br />

chamada adúltera, se for <strong>de</strong> outro hom<strong>em</strong>; mas, se ele morrer, ela está livre da lei, e<br />

assim não será adúltera se for <strong>de</strong> outro marido. Assim também vós, meus irmãos, fostes<br />

mortos quanto à lei mediante o corpo <strong>de</strong> Cristo, para pertencer<strong>de</strong>s a outro, àquele que<br />

ressurgiu <strong>de</strong>ntre os mortos a fim <strong>de</strong> que d<strong>em</strong>os fruto para Deus" (Rm 7:1-4).<br />

Nesta figura que ilustra a nossa liberação da lei, há uma única mulher, enquanto há<br />

dois maridos. A esposa está numa posição muito difícil, porque não po<strong>de</strong> ser mulher<br />

senão <strong>de</strong> um só dos dois, e <strong>de</strong>sgraçadamente está unida àquele menos agradável dos<br />

dois. Não nos engan<strong>em</strong>os, o hom<strong>em</strong> ao qual ela está ligada é um hom<strong>em</strong> bom e se aqui<br />

existe uma dificulda<strong>de</strong>, é porque o marido e a mulher não foram feitos o um para a<br />

outra. Ele é um hom<strong>em</strong> muito meticuloso, correto no modo mais elevado; ela, ao<br />

contrário, é completamente <strong>de</strong>sprezível. Nele tudo é <strong>de</strong>finido e preciso, nela tudo é<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado e abandonado. Ele <strong>de</strong>seja que todo esteja <strong>em</strong> seu lugar; ela <strong>de</strong>ixa as coisas<br />

assim mesmo, on<strong>de</strong> ca<strong>em</strong>. Como po<strong>de</strong>rá haver harmonia numa tal casa?<br />

E <strong>de</strong>pois, o marido e tão exigente! S<strong>em</strong>pre reclama <strong>de</strong> alguma coisa à mulher. E<br />

ninguém po<strong>de</strong> dizer que esteja errado, porque como marido t<strong>em</strong> o direito <strong>de</strong> ser lei,<br />

tanto mais que suas reclamações são perfeitamente legítimas. Não existe nada <strong>de</strong> mau<br />

neste hom<strong>em</strong>, não há nada <strong>de</strong> errado <strong>em</strong> suas exigências; mas o probl<strong>em</strong>a é que não<br />

t<strong>em</strong> a mulher justa para satisfazê-lo. São dois seres que não po<strong>de</strong>rão se enten<strong>de</strong>r nunca:<br />

as suas naturezas são d<strong>em</strong>asiadamente contrastantes. A pobre mulher encontra-se assim<br />

numa gran<strong>de</strong> angústia. Ela é plenamente cônscia <strong>de</strong> continuamente cometer falhas;<br />

porém vivendo com s<strong>em</strong>elhante marido, parece que todo o que ela faz esteja errado.<br />

Que esperanças há para ela? Se somente estivesse casada com outro hom<strong>em</strong>, talvez<br />

todo iria melhor. Ele não seria menos exigente que este marido, mas saberia ajudá-la<br />

mais. Ela estaria feliz <strong>de</strong> <strong>de</strong>sposá-lo, mas seu marido ainda está vivo. Como po<strong>de</strong>ria<br />

fazer? Ela está "ligada pela lei a seu marido enquanto ele viver" e, a menos que ele<br />

morra, não po<strong>de</strong> legitimamente casar que o outro hom<strong>em</strong>.<br />

Esta figura não é minha, mas do apóstolo Paulo. O primeiro marido representa a lei, o<br />

segundo, Cristo; e nós somos a mulher. As exigências da lei são infinitas, mas não<br />

oferec<strong>em</strong> nenhuma ajuda para ser<strong>em</strong> cumpridas. As exigências do Senhor Jesus são<br />

igualmente gran<strong>de</strong>s, sim, e ainda maiores (Mateus 5:21-48), mas o que nos pe<strong>de</strong> Ele<br />

mesmo o t<strong>em</strong> realizado <strong>em</strong> nós. A lei nos dá or<strong>de</strong>ns e nos <strong>de</strong>ixa incapazes <strong>de</strong> obe<strong>de</strong>cêlas;<br />

Cristo nos dá or<strong>de</strong>ns, mas Ele mesmo já cumpriu as suas prescrições.<br />

Não <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os surpreen<strong>de</strong>r-nos se a mulher <strong>de</strong>seja liberar-se do primeiro marido para<br />

unir-se com este outro hom<strong>em</strong>! A sua única esperança <strong>de</strong> liberação está na morte do<br />

primeiro marido; mas ele está firm<strong>em</strong>ente apegado à vida. Não existe nenhuma<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que morra. "Até que o céu e a terra pass<strong>em</strong>, n<strong>em</strong> um jota ou um til se<br />

omitirá da lei, s<strong>em</strong> que tudo seja cumprido" (Mateus 5:18).<br />

A lei existe para toda a eternida<strong>de</strong>. Mas se a lei não <strong>de</strong>saparecerá nunca, como posso<br />

eu estar unido a Cristo? Como posso <strong>de</strong>sposar meu segundo marido, se o meu primeiro<br />

se recusa energicamente a morrer? Não há mais que uma saída. Se ele não quer morrer,<br />

posso morrer eu, e se eu morro a ligação do matrimônio será rompida. Este é<br />

exatamente o meio pelo qual Deus nos libera da lei. O ponto mais importante a notar <strong>em</strong><br />

Romanos 7 é a passag<strong>em</strong> do versículo 3 ao versículo 4. Nos versículos 1 a 3 nos foi<br />

mostrado que o marido <strong>de</strong>ve morrer, mas no versículo 4, <strong>em</strong> realida<strong>de</strong> v<strong>em</strong>os que é a<br />

mulher qu<strong>em</strong> morre. A lei não acaba, sou eu que morro e pela morte sou liberado da lei.<br />

Entendamos b<strong>em</strong>, com clarida<strong>de</strong>, que a lei não passará nunca. As exigências justas <strong>de</strong><br />

52


Deus exist<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre e se eu vivo <strong>de</strong>vo respon<strong>de</strong>r a estas exigências; mas se morro a lei<br />

per<strong>de</strong> os seus direitos sobre mim. Ela não po<strong>de</strong> me seguir além do túmulo.<br />

Assim exatamente o mesmo princípio t<strong>em</strong> cumprido a nossa liberação da lei e a nossa<br />

liberação do pecado. Quando eu morri, o meu velho patrão, o pecado, continua a viver,<br />

mas o po<strong>de</strong>r que t<strong>em</strong> sobre seu escravo chega até o túmulo e ali acaba. Po<strong>de</strong> me<br />

<strong>em</strong>purrar a fazer c<strong>em</strong> coisas enquanto eu tenho vida, mas quando estou morto me<br />

chama <strong>em</strong> vão. Agora estou livre <strong>de</strong> sua tirania. É a mesma coisa à respeito da lei.<br />

Enquanto a mulher vive está ligada ao marido, mas, pela sua morte, o vínculo do<br />

matrimônio é revogado, e ela é "liberada da lei do marido". A lei po<strong>de</strong> ainda ter as suas<br />

exigências, mas já não t<strong>em</strong> mais o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> as impor a ela.<br />

Agora surge a pergunta vital: "Como posso morrer?" É aqui si vê tudo o valor precioso<br />

da obra do nosso Senhor: "Assim também vós, meus irmãos, fostes mortos quanto à lei<br />

mediante o corpo <strong>de</strong> Cristo" (Rm 7:4). Quando Cristo morreu, seu corpo foi <strong>de</strong>struído, e<br />

como Deus nos colocou nEle, também eu fui <strong>de</strong>struído. Quando Ele foi crucificado, eu fui<br />

crucificado com Ele. Diante <strong>de</strong> Deus, a sua morte incluía a minha. Sobre o monte do<br />

Calvário isso foi cumprido <strong>de</strong> uma vez e para s<strong>em</strong>pre. O marido da mulher é talvez muito<br />

forte e cheio <strong>de</strong> vida, mas se ela morre, não po<strong>de</strong>rá mais lhe impor as suas exigências;<br />

elas não terão mais po<strong>de</strong>r sobre ela. A morte a libertou <strong>de</strong> todos os direitos do marido.<br />

Nós estávamos no Senhor Jesus quando Ele morreu; sua morte, que incluiu a nossa, nos<br />

liberou para s<strong>em</strong>pre da lei. Mas não é tudo. O nosso Senhor não ficou no sepulcro. No<br />

terceiro dia Ele ressuscitou; e como nós ainda estamos nEle, ressuscitamos também nós.<br />

O corpo do Senhor Jesus fala não somente <strong>de</strong> sua morte, mas <strong>de</strong> sua ressurreição,<br />

porque a sua ressurreição foi uma ressurreição corpórea. Assim, "pelo corpo <strong>de</strong> Cristo"<br />

nós estamos não somente "mortos para a lei", mas vivos para Deus.<br />

Unindo-nos a Cristo, Deus não tinha só um objetivo negativo: tinha um gloriosamente<br />

positivo. "Assim também vós... fostes mortos quanto à lei... para pertencer<strong>de</strong>s a outro"<br />

(Rm 7:4). A morte dissolveu a ligação do primeiro matrimônio, <strong>de</strong> forma que a mulher,<br />

<strong>em</strong>purrada à <strong>de</strong>sesperação pelas contínuas exigências do primeiro marido, que nunca<br />

teria alçado um <strong>de</strong>do para ajudá-la, está finalmente livre para <strong>de</strong>sposar este outro<br />

hom<strong>em</strong>, que para cada coisa que lhe peça, dará a ela a força necessária para cumpri-la.<br />

E qual será o resultado <strong>de</strong>sta nova união? "A fim <strong>de</strong> que d<strong>em</strong>os fruto para Deus" (Rm<br />

7:1-4). No corpo <strong>de</strong> Cristo, esta mulher insensata e pecadora está morta, mas como ela<br />

se uniu a Ele <strong>em</strong> sua morte, está da mesma forma ligada a Ele <strong>em</strong> sua ressurreição, e no<br />

po<strong>de</strong>r da vida ressurreta leva frutos a Deus. A vida ressuscitada do Senhor nela a<br />

capacita para respon<strong>de</strong>r <strong>em</strong> tudo o que a santida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus exige da lei. A lei <strong>de</strong> Deus<br />

não foi anulada, antes b<strong>em</strong> é perfeitamente cumprida, porque o Senhor ressurreto vive<br />

agora sua vida na lei e a sua vida é s<strong>em</strong>pre agradável ao Pai. O que acontece quando<br />

uma mulher se casa? Ela <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> levar seu nome <strong>de</strong> nascimento e toma o <strong>de</strong> seu<br />

marido; e herda não somente o nome, mas também seus bens. Tudo aquilo que pertence<br />

a ele pertence igualmente a ela. A mesma coisa acontece quando nós nos unimos a<br />

Cristo; todo o que é dEle passa também a ser nosso e, com seus recursos infinitos a<br />

nossa disposição, ser<strong>em</strong>os capazes <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r a todos seus pedidos.<br />

O FIM DE NÓS MESMOS É O PRINCÍPIO DE DEUS EM NÓS<br />

Depois <strong>de</strong> ter <strong>de</strong>finido o aspecto doutrinal do probl<strong>em</strong>a, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os agora chegar às<br />

aplicações práticas, <strong>de</strong>tendo-nos ainda um pouco sobre a parte negativa das<br />

experiências, para conservar a parte positiva do próximo capítulo. O que significa, na<br />

vida <strong>de</strong> cada dia, sermos liberados da lei? Significa que, agora, eu não tenho mais nada a<br />

fazer para agradar a Deus, mas me esforçarei cada vez mais para agra<strong>de</strong>cê-Lhe. "Que<br />

doutrina!", exclamarão vocês: "Que tr<strong>em</strong>enda heresia! Não é mesmo isso o que você<br />

quer dizer!"<br />

L<strong>em</strong>br<strong>em</strong>o-nos que se eu tento <strong>de</strong> agradar a Deus "na carne", me coloco<br />

imediatamente sob a lei. Eu transgredi a lei; a lei pronunciou a sentença <strong>de</strong> morte; a<br />

sentença teve a sua execução e agora, mediante a morte do meu "eu" carnal, fui liberado<br />

<strong>de</strong> todos os seus tentáculos. Existe ainda uma lei <strong>de</strong> Deus, e existe, agora,<br />

verda<strong>de</strong>iramente, um "mandamento novo", que é infinitamente mais severo que aquele<br />

antigo, mas —Deus seja louvado!—, estas exigências estão satisfeitas porque Cristo as<br />

cumpriu; é Cristo qu<strong>em</strong> produz <strong>em</strong> mim aquilo que é agradável a Deus. "(Eu) vim...<br />

(para) cumprir (a lei)". Estas foram suas palavras (Mateus 5:17).<br />

É assim que Paulo, apoiando-se sobre a certeza da ressurreição, po<strong>de</strong> escrever:<br />

"Efetuai a vossa salvação com t<strong>em</strong>or e tr<strong>em</strong>or; porque Deus é o que opera <strong>em</strong> vós tanto<br />

o querer como o efetuar, segundo a sua boa vonta<strong>de</strong>" (Filipenses 2:12-13).<br />

53


"É Deus que opera <strong>em</strong> vós". Liberação da lei não significa para nada que sejamos<br />

dispensados do cumprimento da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus. Isso não significa certamente que<br />

viver<strong>em</strong>os s<strong>em</strong> lei. Ao contrário! O que significa agora é que nós estamos livres do<br />

esforço <strong>de</strong> cumpri-la por nós mesmos. Plenamente convencidos da incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

obe<strong>de</strong>cê-la, cessamos todo esforço <strong>de</strong> agradar a Deus sobre a base do nosso velho<br />

hom<strong>em</strong>. Chegados, finalmente, o ponto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconfiar das nossas capacida<strong>de</strong>s, colocamos<br />

toda a nossa confiança no Senhor, para que Ele manifeste a Sua vida ressurreta <strong>em</strong> nós.<br />

Permitam-me ilustrar isto com uma cena da realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> meu país. Na China, certos<br />

carregadores consegu<strong>em</strong> levantar sacolas com pesos <strong>de</strong> 120 kg, outros chegam até 250<br />

kg. V<strong>em</strong> um hom<strong>em</strong> que t<strong>em</strong> a força para levantar 120 kg, e se encontra diante <strong>de</strong> um<br />

peso <strong>de</strong> 250 kg. Ele sabe perfeitamente que não po<strong>de</strong>rá levantá-lo, e se é esperto dirá:<br />

"Eu não posso n<strong>em</strong> sequer tentar". Mas a tentação <strong>de</strong> provar faz parte da natureza<br />

humana, assim, ainda sabendo <strong>de</strong> sua incapacida<strong>de</strong>, ele tenta <strong>de</strong> levantar aquele peso.<br />

Quando eu era um rapaz me divertia amiú<strong>de</strong> observando <strong>de</strong>z ou vinte <strong>de</strong>stes homens<br />

enquanto se esforçavam para d<strong>em</strong>onstrar entre eles a sua força, ainda sabendo <strong>de</strong> não<br />

po<strong>de</strong>r superar o limite; acabavam por ce<strong>de</strong>r passo aos mais fortes, os que tinham a<br />

capacida<strong>de</strong> necessária.<br />

Também nós <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os abandonar o antes possível as nossas tentativas <strong>de</strong> fazer as<br />

coisas sozinhos, porque enquanto monopolizarmos o trabalho, não <strong>de</strong>ixamos espaço para<br />

o Espírito Santo. Mas se diz<strong>em</strong>os: "Senhor, eu não posso fazer isto e confio <strong>em</strong> Ti, para<br />

que Tu o faças por mim", achar<strong>em</strong>os uma força superior à nossa que age por nós.<br />

Em 1923 encontrei um célebre evangelista do Canadá. Num discurso, eu tinha falado<br />

alguma coisa sobre o t<strong>em</strong>a <strong>de</strong> que estamos nos ocupando. Enquanto voltávamos juntos à<br />

sua casa, <strong>de</strong>pois da reunião, ele observou: "É raro, <strong>em</strong> nossos dias, que alguém fale <strong>de</strong><br />

Romanos 7; é bom que este argumento seja l<strong>em</strong>brado. O dia <strong>em</strong> que eu fui liberto da lei,<br />

foi como se para mim tivesse <strong>de</strong>scido o céu na terra. Depois <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> vida cristã, eu<br />

fazia ainda todos os meus esforços para agradar a Deus, mas mais tentava <strong>de</strong> fazê-lo,<br />

menos conseguia. Consi<strong>de</strong>rava a Deus como a pessoa mais exigente do universo e me<br />

sentia impotente para correspon<strong>de</strong>r os seus mínimos requerimentos. Improvisamente,<br />

um dia, enquanto lia Romanos 7, se fez a luz no meu espírito e vi que, não somente eu<br />

estava livre do pecado, mas também da lei. Na minha maravilha, me levantei <strong>de</strong> um pulo<br />

que exclamei: "Senhor, então é verda<strong>de</strong> que Tu não exiges nada <strong>de</strong> mim? Então não<br />

preciso fazer nada para Ti!"<br />

As exigências <strong>de</strong> Deus não mudaram, mas nós continuamos s<strong>em</strong>pre na<br />

impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> satisfazê-las. Deus seja louvado! Ele é o legislador e aquele que<br />

obe<strong>de</strong>ce no meu coração. Ele que <strong>de</strong>u a lei e também Ele que a observa. Ele faz os<br />

pedidos, mas Ele mesmo os respon<strong>de</strong>.<br />

O meu amigo podia verda<strong>de</strong>iramente pular e gritar <strong>de</strong> alegria, quando enten<strong>de</strong>u que<br />

não tinha mais nada a fazer, e todos aqueles que faz<strong>em</strong> este <strong>de</strong>scobrimento<br />

experimentarão o mesmo alívio. Enquanto nos esforc<strong>em</strong>os para fazer alguma coisa, Deus<br />

não po<strong>de</strong> agir <strong>em</strong> nós. E justamente a causa dos nossos esforços que caímos e voltamos<br />

cair. Deus quer nos mostrar que não sab<strong>em</strong>os que não pod<strong>em</strong>os fazer nada por nós<br />

mesmos, e até que o reconheçamos plenamente, os nossos <strong>de</strong>sapontos e as nossas<br />

<strong>de</strong>silusões não cessarão.<br />

Um irmão que tentava <strong>de</strong> chegar à vitória lutando, me fez, um dia, esta confissão: "Eu<br />

não sei por que sou tão fraco". Eu respondi: "O seu mal é que você é d<strong>em</strong>asiado fraco<br />

para cumprir a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, mas não é bastante fraco para não tentar <strong>de</strong> fazê-la.<br />

Você não é ainda bastante débil. Quando seja reduzido a uma <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a, e seja<br />

persuadido <strong>de</strong> sua absoluta incapacida<strong>de</strong>, então Deus fará tudo". Nós todos precisamos<br />

<strong>de</strong> chegar no ponto <strong>de</strong> dizer finalmente: "Senhor, sou incapaz <strong>de</strong> fazer a mínima coisa<br />

para Ti, mas confio <strong>em</strong> Ti, para que Tu faças cada coisa <strong>em</strong> mim".<br />

Me achava, um dia, na China, com uma vintena <strong>de</strong> outros irmãos, numa casa cuja<br />

instalação do banheiro era insuficiente; íamos então, cada manhã, a mergulhar no mar<br />

na praia vizinha. Um dia, um irmão, enquanto nadava, sofreu uma câimbra e eu o vi<br />

subitamente <strong>de</strong>saparecer sob as águas; fiz então um sinal a um outro irmão, hábil<br />

nadador, para que se precipitasse <strong>em</strong> sua ajuda. Mas, ante o meu gran<strong>de</strong> estupor, ele<br />

não se mexeu. Comecei a me preocupar seriamente e lhe gritei: "Não vê que o hom<strong>em</strong><br />

está se afogando?", e os outros irmãos, angustiados como eu, gritavam também eles a<br />

todo volume. Mas o bom nadador não se mexia. Calmo e tranqüilo, ele estava imóvel<br />

com o ar <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> se recusa a fazer uma coisa <strong>de</strong>sagradável. Entanto, a voz do pobre<br />

irmão que se afogava era cada vez mais fraca, e seus esforços diminuíam. Eu pensei, <strong>em</strong><br />

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meu coração: "Este hom<strong>em</strong> não t<strong>em</strong> coração! Po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar se afogar um irmão sob seu<br />

nariz s<strong>em</strong> socorrê-lo!"<br />

Mas, no momento <strong>em</strong> que o irmão <strong>de</strong>sapareceu sob as ondas, <strong>em</strong> poucas e rápidas<br />

braçadas o <strong>de</strong>st<strong>em</strong>ido nadador aproximou-se <strong>de</strong>le e os dois estiveram pronto a salvo<br />

sobre a praia. Apenas tive a ocasião, <strong>de</strong>clarei-lhe os meus sentimentos: "Nunca vi um<br />

crente que pensasse <strong>em</strong> si mesmo como você. Pense um pouco no sofrimento que você<br />

po<strong>de</strong>ria ter evitado àquele irmão se tivesse pensado menos <strong>em</strong> você mesmo e mais<br />

nele". Mas o nadador sabia melhor que eu o que era preciso fazer. "Se eu tivesse me<br />

lançado antes", me disse, "ele teria se pendurado <strong>de</strong> mim, e os dois teríamos nos<br />

afogado. Um hom<strong>em</strong> que se afoga po<strong>de</strong> ser salvo somente quando está completam<br />

exausto, e já não po<strong>de</strong> fazer esforços para se salvar a si mesmo".<br />

Vocês perceb<strong>em</strong>? Nós paramos <strong>de</strong> tentar fazer uma coisa, Deus a pega <strong>em</strong> sua mão.<br />

Ele compreen<strong>de</strong> que estamos no extr<strong>em</strong>o <strong>de</strong> nossos recursos e que não pod<strong>em</strong>os fazer<br />

mais nada por nós mesmos. Deus con<strong>de</strong>nou tudo aquilo que fazia parte da velha criação,<br />

e o encravou sobre a Cruz. A carne não presta para nada! Deus disse que é digna só <strong>de</strong><br />

morte. Se acreditarmos nisto, verda<strong>de</strong>iramente <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os confirmar a sentença <strong>de</strong> Deus,<br />

abandonando todo esforço <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> para agradá-Lo. Porque cada tentativa nossa <strong>de</strong><br />

cumprir com a Sua vonta<strong>de</strong> é uma <strong>de</strong>smentida que opomos àquilo que Ele <strong>de</strong>clarou com<br />

a Cruz; ou seja, que somos completamente impotentes para fazê-lo.<br />

Guardando a lei pensamos <strong>de</strong> <strong>de</strong>vê-la cumprir, mas <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os l<strong>em</strong>brar-nos que, por<br />

muito que a lei seja perfeitamente boa <strong>em</strong> si mesma, já não o é quando aplicada a<br />

pessoas que não pod<strong>em</strong> observá-la. O "miserável" <strong>de</strong> Romanos 7 se esforçava para<br />

cumprir ele mesmo o mandamento da lei, e essa era a causa do seu tormento.<br />

O repetido uso do pronome "eu" neste capítulo nos <strong>de</strong>ve fazer compreen<strong>de</strong>r a causa<br />

da falha. "Pois não faço o b<strong>em</strong> que quero, mas o mal que não quero, esse pratico" (Rm<br />

7:19). Havia um erro fundamental <strong>de</strong> conceito no pensamento <strong>de</strong>ste hom<strong>em</strong>. Ele<br />

imaginava que Deus lhe pedisse <strong>de</strong> observar a lei, e então tentava naturalmente <strong>de</strong> fazêlo.<br />

qual era o resultado? Longe <strong>de</strong> fazer o que era agradável a Deus, achou-se tentando<br />

cumprir o que lhe <strong>de</strong>sagradava. Em seu próprio esforço para cumprir a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus,<br />

fazia exatamente o contrário daquilo que sabia ser essa vonta<strong>de</strong>.<br />

GRAÇAS SEJAM DADAS A DEUS!<br />

Romanos 6 se ocupa do "corpo do pecado", Romanos 7 do "corpo da morte" (Rm 6:6;<br />

7:24). No capítulo 6 todo o argumento é o pecado, no capítulo 7, a morte. Que diferença<br />

existe entre o corpo do pecado e o corpo da morte? No que concerne ao pecado (ou seja<br />

tudo o que <strong>de</strong>sgosta a Deus), eu tenho um corpo <strong>de</strong> pecado, vale dizer, um corpo<br />

apegado ativamente ao pecado. Mas no que concerne à lei <strong>de</strong> Deus (ou seja aquilo<br />

expressa a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus), eu tenho um corpo <strong>de</strong> morte. Toda a minha ativida<strong>de</strong> que<br />

t<strong>em</strong> a ver com o pecado faz do meu corpo um corpo <strong>de</strong> pecado; o meu falho no que diz<br />

respeito à vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus faz do meu corpo um corpo <strong>de</strong> morte. Pela minha natureza,<br />

aceito tudo aquilo que é mau, tudo aquilo que é mundano e <strong>de</strong> Satanás, e rejeito tudo<br />

aquilo que pertence à santida<strong>de</strong>, ao céu, a Deus. O que significa a morte? Po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os<br />

compreendê-lo com a ajuda <strong>de</strong> um fragmento b<strong>em</strong> conhecido da primeira epístola aos<br />

Coríntios: "Por causa disto há entre vós muitos fracos e enfermos, e muitos que<br />

dorm<strong>em</strong>" (1 Co 11:30). A morte é a <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> chegada ao seu limite extr<strong>em</strong>o:<br />

<strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>, enfermida<strong>de</strong>, morte. A morte significa <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> absoluta: ela significa que<br />

são fracos a ponto <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>r ficar mais fracos. O fato que eu tenha um corpo <strong>de</strong><br />

morte, no que diz respeito à vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, significa que sou tão débil quando <strong>de</strong>vo<br />

servi-Lo, tão profundamente débil, que tenho caído no abandono mais terrível. "Miserável<br />

hom<strong>em</strong> que eu sou! qu<strong>em</strong> me livrará do corpo <strong>de</strong>sta morte?" se lamenta Paulo (Rm<br />

7:24); e é bom quando um hom<strong>em</strong> <strong>em</strong>ite s<strong>em</strong>elhante brado. Não há nada mais doce aos<br />

ouvidos do Senhor. Este é o grito mais espiritual e mais coerente com as Escrituras.<br />

Efetua-se somente no momento <strong>em</strong> que já não po<strong>de</strong> se fazer mais nada e renuncia,<br />

então, a tomar qualquer outra resolução. Até aquele momento, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> cada fracasso,<br />

<strong>de</strong>cidia <strong>de</strong> forma diferente, redobrando s<strong>em</strong>pre a sua força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>. Até que <strong>de</strong>scobre<br />

que todo esforço é <strong>em</strong> vão, e grita com <strong>de</strong>sesperação: "Miserável <strong>de</strong> mim!" Como um<br />

hom<strong>em</strong> que acorda sobressaltado com a casa <strong>em</strong> chamas, ele grita para receber ajuda,<br />

porque chegou a ponto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sesperar <strong>de</strong> si mesmo.<br />

Desesperaram <strong>de</strong> vocês mesmos, ou ainda acham que consagrando mais t<strong>em</strong>po à<br />

leitura da Palavra <strong>de</strong> Deus e à oração serão melhores crentes? A leitura da Palavra <strong>de</strong><br />

Deus e a oração são necessárias, não quer<strong>em</strong>os diminuir seu valor, mas é um erro<br />

acreditar que por meio <strong>de</strong>las alcançar<strong>em</strong>os a vitória. Nosso socorro está nAquele que é o<br />

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objeto <strong>de</strong> nossa leitura e <strong>de</strong> nossa oração. A nossa confiança <strong>de</strong>ve ser colocada somente<br />

<strong>em</strong> Cristo. Graças a Deus "o hom<strong>em</strong> miserável" não <strong>de</strong>plora simplesmente sua miséria;<br />

faz uma boa pergunta: "Qu<strong>em</strong> me livrará?"<br />

Qu<strong>em</strong>? Até aqui ele esperou alguma coisa, agora ele coloca a sua esperança numa<br />

pessoa. Ate aqui tinha tentado por si mesmo a solução <strong>de</strong> seu probl<strong>em</strong>a; agora olha além<br />

<strong>de</strong>le mesmo para achar um salvador. Não confia mais <strong>em</strong> seus esforços pessoais; todas<br />

as suas esperanças estão agora <strong>de</strong>positadas <strong>em</strong> Outro. Como receb<strong>em</strong>os o perdão dos<br />

pecados? Foi pela leitura, pela oração, pelas esmolas ou por alguma outra coisa? Não,<br />

nos voltamos para a Cruz e acreditamos <strong>em</strong> tudo o que fez o Senhor Jesus. A liberação<br />

do pecado se converte <strong>em</strong> nossa segundo o mesmo princípio, e não acontece<br />

diferent<strong>em</strong>ente no que concerne a agradar <strong>de</strong> Deus. Para receber o perdão olhamos a<br />

Cristo sobre a Cruz; para sermos liberados do pecado e para po<strong>de</strong>r cumprir a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Deus, olhamos o Cristo <strong>em</strong> nosso coração. O nosso perdão <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> daquilo que Ele<br />

cumpriu para nós; a nossa liberação, <strong>de</strong> aquilo que Ele fará <strong>em</strong> nós. Mas no que diz<br />

respeito a estes benefícios, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os nos apoiar inteiramente nEle sozinho. Des<strong>de</strong> o<br />

princípio até o fim, Ele é o único a fazer tudo.<br />

Na época <strong>em</strong> que foi escrita a epístola aos Romanos, o castigo que era infligido a um<br />

assassino era particular e terrível. O cadáver da vítima era amarrado ao corpo vivo do<br />

matador, cabeça com cabeça, mãos com mãos, pés com pés, e o vivo ficava ligado ao<br />

morto até sua própria morte. O assassino podia ir aon<strong>de</strong> queria, mas para on<strong>de</strong> fosse<br />

levava o corpo <strong>de</strong> sua vítima. Pod<strong>em</strong>os imaginar uma punição mais horrível? Ainda<br />

assim, esta é a imag<strong>em</strong> que Paulo utiliza. Ele se vê ligado a um corpo morto, o seu<br />

próprio "corpo <strong>de</strong> morte", do qual não po<strong>de</strong> se livrar. Em qualquer lugar que ele esteja<br />

está paralisado a causa <strong>de</strong>ste horrível fardo. No fim já não po<strong>de</strong> mais suportá-lo e grita:<br />

"Miserável hom<strong>em</strong> que eu sou! qu<strong>em</strong> me livrará do corpo <strong>de</strong>sta morte?". E então, um,<br />

relâmpago <strong>de</strong> luz, o grito <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero se transforma num cântico <strong>de</strong> louvor. Achou a<br />

resposta para seu probl<strong>em</strong>a. "Graças a Deus, por Jesus Cristo nosso Senhor!" (Rm 7:25).<br />

Sab<strong>em</strong>os que a justificação nos chega pelo Senhor Jesus, que não nos pe<strong>de</strong> nenhuma<br />

colaboração, mas pensamos que a santificação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossos próprios esforços.<br />

Sab<strong>em</strong>os que obt<strong>em</strong>os o perdão colocando toda a nossa fé no Senhor; porém,<br />

acreditamos que obter<strong>em</strong>os a liberação fazendo também nós alguma coisa. T<strong>em</strong><strong>em</strong>os, se<br />

não faz<strong>em</strong>os nada, não chegar a nenhum lugar. Depois da experiência da salvação, o<br />

nosso velho costume <strong>de</strong> "fazer" alguma coisa aflora, e recomeçamos os nossos esforços<br />

humanos.<br />

Então a Palavra <strong>de</strong> Deus nos diz novamente: "Está consumado" (João 19:30). Ele<br />

cumpriu tudo sobre a Cruz pelo nosso perdão, e <strong>de</strong>seja cumprir tudo <strong>em</strong> nós para a<br />

liberação. É, s<strong>em</strong>pre e <strong>em</strong> tudo, Ele qu<strong>em</strong> atua. "É Deus qu<strong>em</strong> opera <strong>em</strong> vós" (Filipenses<br />

2:13). As primeiras palavras <strong>de</strong> um hom<strong>em</strong> liberado são muito importantes: "Eu dou<br />

graças a Deus". Se alguém nos <strong>de</strong>r um copo <strong>de</strong> água, agra<strong>de</strong>ceríamos a ele, não a<br />

alguma outra pessoa. Por que motivo Paulo diz: "Graças a Deus"? Porque foi Deus qu<strong>em</strong><br />

cumpriu tudo. Se Paulo tivesse feito alguma coisa, teria falado: "Obrigado, Paulo"; mas<br />

tinha compreendido que Paulo era um "miserável" e que somente Deus podia liberá-lo <strong>de</strong><br />

sua aflição; disse então: "Eu dou graças a Deus". Deus quer cumprir tudo porque toda a<br />

glória <strong>de</strong>ve ir para Ele. Se nós colaboráss<strong>em</strong>os na obra, teríamos parte da glória; mas<br />

toda a glória <strong>de</strong>ve ir a Deus, porque completou toda a obra <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o princípio até o fim.<br />

Se nos <strong>de</strong>tivéss<strong>em</strong>os aqui, tudo aquilo que t<strong>em</strong>os falado neste capítulo po<strong>de</strong>ria<br />

parecer negativo e privado <strong>de</strong> sentido prático, como se a vida cristã consistisse <strong>em</strong><br />

sentar-se tranqüilamente à espera <strong>de</strong> algum milagre. Ela está, <strong>em</strong> verda<strong>de</strong>, b<strong>em</strong> longe<br />

disso. Todos os que a viv<strong>em</strong> realmente sab<strong>em</strong> que é uma questão <strong>de</strong> fé, muito positiva e<br />

muito ativa <strong>em</strong> Cristo, e um princípio <strong>de</strong> vida inteiramente novo: a lei do espírito da vida.<br />

Consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os agora os efeitos que este novo princípio <strong>de</strong> vida produz <strong>em</strong> nós.<br />

CAPÍTULO 10 – O CAMINHO DO PROGRESSO: CAMINHAR SEGUNDO O<br />

ESPÍRITO<br />

Chegamos ao oitavo capítulo da epístola aos Romanos.<br />

Mas antes <strong>de</strong> iniciarmos o estudo, po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os resumir o conteúdo da segunda seção<br />

<strong>em</strong> que dividimos a carta, do capítulo 5:12 até o fim do capítulo 8, <strong>em</strong> duas expressões,<br />

cada uma contendo dois el<strong>em</strong>entos <strong>em</strong> oposição e que r<strong>em</strong>arcam um aspecto da vida<br />

cristã. Estas são:<br />

Romanos 5:12 a 6:23 = "<strong>em</strong> Adão" e "<strong>em</strong> Cristo"<br />

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Romanos 7:1 a 8:39 = "na carne" e "no Espírito".<br />

É muito importante que compreendamos a relação que existe entre estes quatro<br />

termos. Os dois primeiros são "objetivos", e explicam a nossa posição, primeiramente<br />

como éramos segundo a natureza, <strong>de</strong>pois como somos agora pela fé na obra re<strong>de</strong>ntora<br />

<strong>de</strong> Cristo. Os outros dois termos são "subjetivos" e se relacionam com o nosso caminho,<br />

ou seja, com a nossa vida prática.<br />

As Escrituras nos mostram claramente que os dois primeiros termos são somente uma<br />

parte da verda<strong>de</strong>, e os outros dois são necessários para completá-la. Nós pensamos que<br />

seja suficiente estar "<strong>em</strong> Cristo", mas já aprend<strong>em</strong>os que é necessário caminhar também<br />

"no Espírito" (Rm 8:9). O uso freqüente da palavra "Espírito" na primeira parte <strong>de</strong><br />

Romanos 8 serve para sublinhar esta outra importante lição da vida cristã.<br />

A CARNE E O ESPÍRITO<br />

A carne está ligada a Adão, o Espírito está ligado a Cristo. Deixar<strong>em</strong>os <strong>de</strong> lado a<br />

questão <strong>de</strong> saber se estamos <strong>em</strong> Adão ou <strong>em</strong> Cristo, que já foi discutida, e nos<br />

perguntar<strong>em</strong>os: Como vivo eu, na carne ou no Espírito?<br />

Viver na carne é fazer alguma coisa "que provém" <strong>de</strong> mim mesmo e <strong>de</strong> Adão. É por<br />

extrair a minha força da velha fonte <strong>de</strong> vida que her<strong>de</strong>i <strong>de</strong>le, que provo nas minhas<br />

experiências todas as disposições para o pecado <strong>de</strong> Adão, das quais conhec<strong>em</strong>os b<strong>em</strong> os<br />

efeitos. Ora, é a mesma coisa para aqueles que estão <strong>em</strong> Cristo. Para experimentar <strong>em</strong><br />

minha vida aquilo que é verda<strong>de</strong>iramente meu, se estou nEle, <strong>de</strong>vo saber o que quer<br />

dizer caminhar no Espírito. O fato que a minha velha natureza tenha sido crucificada com<br />

Cristo é já um fato do passado, enquanto é uma realida<strong>de</strong> do presente que eu seja<br />

abençoado com "todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes <strong>em</strong> Cristo" (Ef 1:3). Se<br />

eu não vivo no Espírito, a minha vida estará <strong>em</strong> contraste com o fato que estou "<strong>em</strong><br />

Cristo", mas <strong>de</strong>vo também compreen<strong>de</strong>r que o meu velho caráter é ainda d<strong>em</strong>asiado<br />

forte.<br />

Como po<strong>de</strong> ser este dil<strong>em</strong>a? É que eu aceitei a verda<strong>de</strong> somente <strong>de</strong> forma "objetiva",<br />

enquanto o que é verda<strong>de</strong>iro objetivamente <strong>de</strong>ve também converter-se <strong>em</strong> verda<strong>de</strong>iro<br />

subjetivamente; e isso acontecerá na medida <strong>em</strong> que eu vivo no Espírito.<br />

Não somente estou "<strong>em</strong> Cristo", mas Cristo está <strong>em</strong> mim. E da mesma forma que o<br />

hom<strong>em</strong> não po<strong>de</strong> fisicamente viver e trabalhar na água, mas somente no ar, assim,<br />

espiritualmente, Cristo habita e se manifesta não na "carne", mas somente no "espírito".<br />

Porque, se eu vivo "segundo a carne", me persuado que aquilo que é meu <strong>em</strong> Cristo<br />

está, por assim dizer, suspendido <strong>em</strong> mim. Ainda que, na realida<strong>de</strong>, eu esteja <strong>em</strong> Cristo,<br />

se vivo na carne, vale dizer <strong>em</strong> minha natureza e segundo a minha própria vonta<strong>de</strong>,<br />

acharei com dor que se manifesta ainda <strong>em</strong> mim a natureza <strong>de</strong> Adão. Se <strong>de</strong>sejar<br />

verda<strong>de</strong>iramente conhecer tudo aquilo que está <strong>em</strong> Cristo, <strong>de</strong>vo apren<strong>de</strong>r a viver no<br />

Espírito.<br />

Viver no Espírito significa que confio no Espírito Santo para que cumpra <strong>em</strong> mim<br />

aquilo que eu não posso fazer por mim mesmo. Esta vida é completamente diferente<br />

daquela que eu viveria naturalmente por mim mesmo. Cada vez que enfrento um novo<br />

pedido do Senhor, olho para Ele a fim <strong>de</strong> que cumpra Ele mesmo o que preten<strong>de</strong> <strong>em</strong><br />

mim. Não <strong>de</strong>vo tentar, mas crer; não lutar, mas somente repousar nEle. Se tenho um<br />

caráter irritável, pensamentos impuros, uma língua d<strong>em</strong>asiado comprida, ou um espírito<br />

crítico, não tentarei <strong>de</strong> me transformar com um esforço que me pareça apropriado, ao<br />

contrário, consi<strong>de</strong>rando-me como morto <strong>em</strong> Cristo para todas estas coisas, esperarei do<br />

Espírito <strong>de</strong> Deus a calma, a pureza, a humilda<strong>de</strong>, a doçura <strong>de</strong> que preciso. Isto significa:<br />

"Estai quietos, e ve<strong>de</strong> o livramento do Senhor, que ele hoje vos fará" (Êx 14:13).<br />

Muitos <strong>de</strong> vocês tiveram s<strong>em</strong> dúvida uma experiência s<strong>em</strong>elhante: lhes foi pedido <strong>de</strong><br />

visitar um amigo muito pouco simpático, mas se confiaram com o Senhor a fim que<br />

ajudasse vocês a cumprir com este <strong>de</strong>ver. Falaram com Ele, antes <strong>de</strong> sair <strong>de</strong> casa, que<br />

por vocês mesmos caminhariam inevitavelmente rumo ao fracasso e Lhe pediram tudo<br />

aquilo que era necessário para esse encontro. Depois, para sua surpresa, não se<br />

sentiram irritados para nada, ainda que seu amigo não tivesse sido amável. No regresso,<br />

repensando, se alegraram <strong>de</strong> ter<strong>em</strong> permanecido tão calmos e procuraram uma<br />

explicação. É esta a explicação: o Espírito Santo guiou vocês nesta ação.<br />

Apesar <strong>de</strong> tudo, realizamos esta experiência somente uma vez cada tanto, quando ela<br />

<strong>de</strong>veria ser contínua. Quando o Espírito Santo toma a nossa vida <strong>em</strong> suas mãos, não<br />

<strong>de</strong>v<strong>em</strong>os opor-nos. Não se trata <strong>de</strong> apertar os <strong>de</strong>ntes, pensando que assim estamos<br />

magnificamente controlados e conseguimos uma gloriosa vitória. Não! On<strong>de</strong> há uma<br />

verda<strong>de</strong>ira vitória, não foram os esforço humanos os que a conseguiram, mas o Senhor.<br />

57


O objetivo da tentação é s<strong>em</strong>pre o <strong>de</strong> conduzir-nos a fazer alguma coisa. Durante os<br />

primeiros três meses da guerra da China contra Japão, perd<strong>em</strong>os um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />

tanques e assim foi impossível enfrentar os tanques japoneses até que não foi aplicada a<br />

tática seguinte. Um <strong>de</strong> nossos melhores atiradores, apostado, <strong>de</strong>via tirar um único tiro <strong>de</strong><br />

fuzil contra um tanque japonês. Depois <strong>de</strong> um intervalo <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po bastante longo, este<br />

primeiro tiro <strong>de</strong>via ser seguido por um segundo, <strong>de</strong>pois, um outro silencio, mais um tiro,<br />

até que o capitão do tanque, ansioso para <strong>de</strong>scobrir a posição inimiga, tirasse fora do<br />

tanque a cabeça, para dar uma olhada <strong>em</strong> volta. O disparo seguinte, executado com<br />

precisão, <strong>de</strong>via pôr fim aos seus dias.<br />

Enquanto ele ficava al reparo estava seguro. A estratag<strong>em</strong>a foi planejada com o<br />

objetivo <strong>de</strong> fazê-lo sair. Da mesma maneira, as tentações <strong>de</strong> Satanás não têm por<br />

primeiro escopo fazer-nos cometer alguma coisa particularmente pecaminosa, mas<br />

simplesmente induzir-nos a agir com as nossas próprias faculda<strong>de</strong>s; mas apenas<br />

<strong>de</strong>ixamos o nosso reparo para agir <strong>de</strong>sse modo, ele já t<strong>em</strong> a vitória sobre nós.<br />

Enquanto permanec<strong>em</strong>os quietos e não <strong>de</strong>ixamos o refúgio <strong>de</strong> Cristo para voltar ao<br />

domínio do nosso "eu", ele não po<strong>de</strong> nos atacar.<br />

O caminho da vitória que Deus nos procura exclui tudo aquilo que quer<strong>em</strong>os fazer por<br />

nos mesmos, ou seja, tudo aquilo que está fora <strong>de</strong> Cristo. Isto porque, apena damos um<br />

passo, cor<strong>em</strong>os o perigo a causa <strong>de</strong> nossas inclinações naturais que nos <strong>em</strong>purram na<br />

falsa direção. On<strong>de</strong> <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os então procurar auxílio? Leiamos Gálatas 5:17: "Porque a<br />

carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a carne". Em outras palavras, a luta<br />

contra a carne não é assunto nosso, mas do Espírito Santo, porque existe já essa tal<br />

oposição entre eles; e é o Espírito, não nós, a combater e triunfar sobre a carne. Qual é o<br />

resultado? "Para que não façais o que quereis".<br />

Penso que amiú<strong>de</strong> não alcançamos a compreen<strong>de</strong>r o profundo significado da última<br />

parte <strong>de</strong>ste parágrafo. Consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os atentamente o que isso significa. O que "faríamos<br />

nós naturalmente"? Nos lançaríamos numa linha <strong>de</strong> ação ditada pelos nossos próprios<br />

instintos, fora <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus. Em vez disso, a recusa <strong>de</strong> agir por nós mesmos<br />

permite ao Espírito Santo dominar a carne que nos tiraniza, portanto não faz<strong>em</strong>os aquilo<br />

que estaríamos inclinados a realizar por natureza. Ao invés <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r pela via indicada<br />

pelas nossas inclinações naturais, achar<strong>em</strong>os o nosso gozo <strong>em</strong> permanecer <strong>em</strong> seu plano<br />

perfeito.<br />

Porém, t<strong>em</strong>os esta ord<strong>em</strong> b<strong>em</strong> concreta: "Andai <strong>em</strong> Espírito, e não cumprireis a<br />

concupiscência da carne" (Gálatas 5:16). Se vivermos no Espírito, se caminhamos pela fé<br />

<strong>em</strong> Cristo ressuscitado, pod<strong>em</strong>os realmente "permanecer separados", enquanto o<br />

Espírito reporta cada dia novas vitórias sobre a carne. Nos foi entregue para que<br />

assumíss<strong>em</strong>os este encargo. A nossa vitória consiste <strong>em</strong> escon<strong>de</strong>r-nos <strong>em</strong> Cristo, e <strong>em</strong><br />

confiar com simples, mas absoluta certeza <strong>em</strong> seu Espírito Santo, para que supere as<br />

nossas paixões carnais com seus novos <strong>de</strong>sejos. A Cruz foi entregue para nos procurar a<br />

salvação; o Espírito nos é dado para colocar esta salvação <strong>em</strong> nós. O Cristo ressuscitado<br />

e ascendido no céu é o fundamento <strong>de</strong> nossa salvação; o Cristo que mora <strong>em</strong> nossos<br />

corações pelo Espírito é seu po<strong>de</strong>r, o que o faz efetivo.<br />

CRISTO, A NOVA VIDA<br />

"Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor!". Esta exclamação <strong>de</strong> Paulo é<br />

fundamentalmente a mesma que a que ele expressa <strong>em</strong> outros termos <strong>em</strong> Gálatas 2:20<br />

e que tomamos como objeto <strong>de</strong> nosso estudo: "...e vivo, não mais eu, mas Cristo vive<br />

<strong>em</strong> mim". Vimos o lugar pro<strong>em</strong>inente que t<strong>em</strong> a palavra "eu" <strong>em</strong> todo o capítulo 7 da<br />

carta aos Romanos, que culmina num grito <strong>de</strong> angústia: "Miserável hom<strong>em</strong> que sou!".<br />

Depois, eis o grito da liberação: ""Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor!".<br />

Está claro que a revelação que teve o apóstolo é esta: a verda<strong>de</strong>ira vida cristã que<br />

pod<strong>em</strong>os viver é somente a vida <strong>de</strong> Cristo. Nós pensamos na vida cristã como uma "vida<br />

mudada", mas não é assim. Deus não nos oferece uma "vida mudada", mas uma "vida<br />

substituída": Cristo <strong>em</strong> nós é o substituto. "...E vivo, não mais eu, mas Cristo vive <strong>em</strong><br />

mim".<br />

Esta vida não é alguma coisa que nós <strong>de</strong>vamos produzir <strong>em</strong> nós mesmos. É a vida<br />

mesma <strong>de</strong> Cristo que se reproduz <strong>em</strong> nós. Quantos cristãos crê<strong>em</strong> na "reprodução"<br />

naquele sentido, como numa esperança mais profunda que a regeneração? A<br />

regeneração significa que a vida <strong>de</strong> Cristo é gerada <strong>em</strong> nós pelo Espírito Santo, <strong>em</strong> nosso<br />

novo nascimento. A "reprodução" vai além: ela significa que esta nova vida cresce, se<br />

<strong>de</strong>senvolve progressivamente <strong>em</strong> nós até que a figura mesma <strong>de</strong> Cristo começa a se<br />

58


eproduzir <strong>em</strong> nossa vida. Isto enten<strong>de</strong> Paulo quando diz <strong>de</strong> sofrer as dores <strong>de</strong> parto "até<br />

que Cristo seja formado <strong>em</strong> vós" (Gálatas 4:19).<br />

Permitam-me ilustrar este conceito com uma outra história. Um dia eu estava <strong>em</strong><br />

América, numa casa on<strong>de</strong> vivia um casal <strong>de</strong> crentes, os que me pediram <strong>de</strong> orar por eles.<br />

Perguntei a causa <strong>de</strong> sua dificulda<strong>de</strong>. "Oh, senhor Nee, estamos atravessando um<br />

momento difícil", confessaram, "nos irritamos com tanta facilida<strong>de</strong> a causa das crianças;<br />

nestas últimas s<strong>em</strong>anas nos t<strong>em</strong>os irado várias vezes por dia. Estamos verda<strong>de</strong>iramente<br />

<strong>de</strong>sonrando o Senhor. Você quer Lhe pedir <strong>de</strong> nos dar mais paciência?" "Essa é a única<br />

coisa que não posso fazer", respondi. "O que você quer dizer?", perguntaram. "Quero<br />

dizer que uma coisa é verda<strong>de</strong>", repliquei, "que Deus não respon<strong>de</strong>rá a essa oração".<br />

Então eles murmuraram com estupor: "Você acha que t<strong>em</strong>os ido tão longe dEle que Ele<br />

não esteja mais disposto a ouvir o que Lhe pedimos" "Não, não é isso para nada, mas<br />

gostaria <strong>de</strong> saber se Deus respon<strong>de</strong>u?" "Não". "Sab<strong>em</strong> por quê? Porque vocês não<br />

precisam <strong>de</strong> paciência". Os olhos da mulher cintilaram e exclamou: "O que você quer<br />

dizer? Que não necessitamos <strong>de</strong> paciência enquanto discutimos o dia todo! O que você<br />

quer dizer verda<strong>de</strong>iramente?" "Não é paciência que necessitam", respondi ainda eu, "é<br />

<strong>de</strong> Cristo".<br />

Deus não me dará humilda<strong>de</strong>, ou paciência, ou santida<strong>de</strong>, ou outra coisa como dons<br />

isolados <strong>de</strong> Sua graça. Ele não <strong>de</strong>spedaça <strong>em</strong> pedacinhos a sua graça para distribuí-la<br />

<strong>em</strong> pequenas doses, dando uma medida <strong>de</strong> paciência a qu<strong>em</strong> está impaciente, um pouco<br />

<strong>de</strong> amor para qu<strong>em</strong> não t<strong>em</strong> amor, um pouco <strong>de</strong> humilda<strong>de</strong> para qu<strong>em</strong> é orgulhoso, <strong>em</strong><br />

quantida<strong>de</strong> suficiente para cada um, e <strong>de</strong> forma que possamos operar como possuindo<br />

uma espécie <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósito a disposição. Ele nos fez um único dom que respon<strong>de</strong> a todas as<br />

nossas necessida<strong>de</strong>s: seu Filho Jesus Cristo; e quando olho para Ele para que viva Sua<br />

vida <strong>em</strong> mim, Ele será humil<strong>de</strong>, paciente, cheio <strong>de</strong> amor e tudo aquilo <strong>de</strong> que eu terei<br />

necessida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> meu lugar. Ele é tudo que eu não posso, mas <strong>de</strong>vo ser. L<strong>em</strong>br<strong>em</strong>-se da<br />

palavra da primeira epístola <strong>de</strong> João: "Deus nos <strong>de</strong>u a vida eterna; e esta vida está <strong>em</strong><br />

seu Filho. Qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> o Filho t<strong>em</strong> a vida; qu<strong>em</strong> não t<strong>em</strong> o Filho <strong>de</strong> Deus não t<strong>em</strong> a vida"<br />

(1 Jo 5:11-12).<br />

A vida <strong>de</strong> Deus não nos foi entregue como um objeto separado; a vida <strong>de</strong> Deus nos é<br />

entregue <strong>em</strong> seu Filho. É "a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor" (Rm 6:23). A<br />

nossa relação com Cristo é a nossa relação com a vida.<br />

E uma experiência abençoada a <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir a diferença que existe entre as "graças"<br />

cristãs e o próprio Cristo, <strong>de</strong> conhecer a diferença entre a humilda<strong>de</strong> e Cristo, entre a<br />

paciência e Cristo, entre o amor e Cristo. L<strong>em</strong>br<strong>em</strong> ainda aquilo que foi dito na primeira<br />

epístola aos Coríntios, 1:30: "Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e<br />

justiça, e santificação, e re<strong>de</strong>nção". A noção corrente <strong>de</strong> santificação requer que cada<br />

ponto <strong>de</strong> vista seja feito santo. Mas essa não é a santida<strong>de</strong>, mas o fruto da santida<strong>de</strong>.<br />

A santida<strong>de</strong> é Cristo. É o Senhor Jesus <strong>em</strong> nós, essa é a santida<strong>de</strong>. Tudo está<br />

compreendido nEle: o amor, a humilda<strong>de</strong>, a paciência, a força, o domínio <strong>de</strong> si. Hoje eu<br />

tenho necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> paciência: Ele é a nossa paciência. Amanhã terei necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

pureza: Ele é a nossa pureza. Ele é a resposta a todas as nossas necessida<strong>de</strong>s. Por isso<br />

Paulo fala do "fruto do Espírito" como <strong>de</strong> um único fruto (Gálatas 5:22) e não <strong>de</strong> muitos<br />

frutos, como se foss<strong>em</strong> dons separados. Deus nos <strong>de</strong>u seu Santo Espírito, e quando<br />

necessitamos amor, o fruto do Espírito é amor; quando precisamos alegria, o fruto do<br />

Espírito será alegria. E s<strong>em</strong>pre verda<strong>de</strong>. Pouco importa a nossa necessida<strong>de</strong> pessoal, e as<br />

centenas <strong>de</strong> coisas que nos faltam. Deus t<strong>em</strong> uma resposta, mas uma resposta suficiente<br />

para todo: seu Filho Jesus Cristo, que é a resposta a todas as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> todos os<br />

homens.<br />

Como pod<strong>em</strong>os nós conhecer mais a fundo a santida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste modo? Somente através<br />

<strong>de</strong> uma maior consciência <strong>de</strong> nossas necessida<strong>de</strong>s. Certos crentes têm medo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scobrir a sua insuficiência e assim não cresc<strong>em</strong> nunca. O crescimento "na graça" é a<br />

única maneira na qual pod<strong>em</strong>os crescer, e a graça, como já diss<strong>em</strong>os, é Deus mesmo<br />

que age <strong>em</strong> lugar <strong>de</strong> nós. Todos nós t<strong>em</strong>os o mesmo Cristo morando <strong>em</strong> nós, mas a<br />

revelação <strong>de</strong> uma nova necessida<strong>de</strong> nos conduzirá espontaneamente a confiar a Ele este<br />

ponto particular, para que Ele viva sua santa vida <strong>em</strong> nós. Uma maior capacida<strong>de</strong> é o<br />

resultado <strong>de</strong> um conhecimento maior dos recursos <strong>de</strong> Deus. Um novo abandono implica<br />

uma maior confiança <strong>em</strong> Cristo e assim realizamos uma nova conquista: "Cristo: minha<br />

vida" é o segredo do <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Falamos dos nossos esforços e <strong>de</strong> nossa fé; da diferença que existe entre estas duas<br />

posições. Acredit<strong>em</strong>, é a mesma diferença que existe entre o céu e o inferno. Esta não é<br />

somente uma frase bonita, é a exata realida<strong>de</strong>!<br />

59


"Senhor, eu não posso fazer isso, então não tentarei mais fazê-lo". Este é o ponto <strong>em</strong><br />

que a maior parte <strong>de</strong> nós cai. "Senhor, eu não posso, portanto me r<strong>em</strong>ito e Ti nisto". Nos<br />

recusamos assim a agir, contamos exclusivamente com Ele para que Ele mesmo faca as<br />

coisas; nos inserimos assim, plena y jubilosamente, na ação que Ele começou.<br />

Isto não significa passivida<strong>de</strong>, antes b<strong>em</strong>, é uma vida mais ativa que confia no<br />

Senhor, trazendo dEle a vida, inserindo-nos nEle, <strong>de</strong>ixando que Ele viva sua vida <strong>em</strong> nós,<br />

enquanto prosseguimos <strong>em</strong> Seu nome.<br />

A LEI DO ESPÍRITO DA VIDA<br />

"Portanto, agora nenhuma con<strong>de</strong>nação há para os que estão <strong>em</strong> Cristo Jesus, que não<br />

andam segundo a carne, mas segundo o Espírito. Porque a lei do Espírito <strong>de</strong> vida, <strong>em</strong><br />

Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte" (Romanos 8:1-2).<br />

Neste capítulo 8 Paulo nos apresenta <strong>de</strong>talhadamente a parte positiva da vida do<br />

Espírito: "nenhuma con<strong>de</strong>nação há", começa <strong>de</strong>clarando, e esta <strong>de</strong>claração po<strong>de</strong>, num<br />

primeiro momento, parecer fora <strong>de</strong> lugar. De fato a con<strong>de</strong>na foi tirada com o sangue <strong>de</strong><br />

Jesus, graças ao qual t<strong>em</strong>os a paz com Deus, e somos salvos da ira (Romanos 5:1 – 9).<br />

Mas exist<strong>em</strong> duas espécies <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nas, aquela diante <strong>de</strong> Deus e aquela diante <strong>de</strong> mim<br />

mesmo. (Já vimos que, do mesmo modo, exist<strong>em</strong> duas formas <strong>de</strong> paz). Esta segunda<br />

con<strong>de</strong>na po<strong>de</strong> talvez parecer-nos mais terrível que a primeira. Quando vejo que o sangue<br />

<strong>de</strong> Cristo satisfez a Deus, eu sei que meus pecados são perdoados e que não há mais<br />

con<strong>de</strong>na para mim. Porém posso ainda conhecer a <strong>de</strong>rrota e o sentimento <strong>de</strong> uma<br />

con<strong>de</strong>na interior muito real a este respeito, como o mostra Romanos 7. Mas, se aprendi a<br />

viver <strong>em</strong> Cristo, que é a minha vida, conheço então o segredo da vitória e, Deus seja<br />

louvado, "nenhuma con<strong>de</strong>nação há", porque "a inclinação do Espírito é vida e paz" (Rm<br />

8:6), e essa se converte <strong>em</strong> minha experiência, na medida <strong>em</strong> que aprendo a caminhar<br />

segundo o Espírito; se <strong>em</strong> meu coração reina a paz, não posso sentir-me con<strong>de</strong>nado e<br />

somente me resta louvar Aquele que me conduz <strong>de</strong> vitória <strong>em</strong> vitória.<br />

Mas <strong>de</strong> on<strong>de</strong> me v<strong>em</strong> este sentimento <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nação? Não será da consciência <strong>de</strong><br />

minha <strong>de</strong>rrota e do conhecimento da minha impotência para r<strong>em</strong>ediá-lo? Antes <strong>de</strong> ver<br />

que Cristo é a minha vida, eu realizava esforços com o sentimento constante <strong>de</strong> minha<br />

incapacida<strong>de</strong>. A minha limitação obstaculizava meus passos e me sentia inábil para cada<br />

obra. Gritava s<strong>em</strong> trégua: "Não posso fazer isto, não posso fazer aquilo!". Apesar <strong>de</strong><br />

todos os meus esforços, eu via que não podia "agradar a Deus" (Rm 8:8). Mas com<br />

Cristo, não po<strong>de</strong> se dizer: "Eu não posso"; diz-se: "Posso todas as coisas <strong>em</strong> Cristo que<br />

me fortalece" (Filipenses 4:13).<br />

Como podia Paulo ousar tanto? Sobre o que se baseava para po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>clarar que já<br />

estava liberado <strong>de</strong> todas as limitações e que podia fazer tudo? Eis a resposta: "Porque a<br />

lei do Espírito <strong>de</strong> vida, <strong>em</strong> Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte" (Rm 8:2).<br />

Por que não existe mais con<strong>de</strong>na? "Porque...", diz Paulo, há uma razão para isso; há uma<br />

razão muito precisa que justifica sua afirmação. E esta razão é que existe uma lei<br />

chamada "a lei do Espírito da vida", que se manifestou mais forte que uma outra lei<br />

chamada "a lei do pecado e da morte". O que são estas duas leis? Como operam? E qual<br />

é a <strong>de</strong>finição entre o pecado e a lei do pecado, entre a morte e a lei da morte?<br />

Pergunt<strong>em</strong>o-nos antes que nada: O que é uma lei? Para falar claro, uma lei é a repetição<br />

<strong>de</strong> um fato observado, até o ponto <strong>em</strong> que é provada a sua repetição s<strong>em</strong> exceção.<br />

Po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os <strong>de</strong>fini-la, mais simplesmente, como uma coisa que se repete s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong> novo.<br />

Todas as vezes que volta aparecer, reaparece s<strong>em</strong>pre do mesmo modo. Tom<strong>em</strong>os dois<br />

ex<strong>em</strong>plos para explicar esta <strong>de</strong>finição; um das leis humanas, o outro das leis naturais.<br />

Na Inglaterra, por ex<strong>em</strong>plo, se eu dirigisse um carro sobre o lado direito da rua, seria<br />

arrestado pela policia local. Por quê? Porque infringiria a lei do país. É uma coisa que se<br />

repete infalivelmente. Ou, todos conhec<strong>em</strong>os a lei da gravida<strong>de</strong>. Se <strong>de</strong>ixar cair meu lenço<br />

<strong>em</strong> Londres, cairá por terra; é o efeito da gravida<strong>de</strong>. Mas a mesma coisa acontecerá se o<br />

fazer <strong>em</strong> Paris, <strong>em</strong> Nova Iorque ou <strong>em</strong> Hong-Kong; é o mesmo fato que se repete. Pouco<br />

importa on<strong>de</strong> o <strong>de</strong>ixo cair, a gravida<strong>de</strong> t<strong>em</strong> o mesmo efeito <strong>em</strong> todas as partes do globo<br />

terrestre. Em qualquer lugar on<strong>de</strong> existam as mesmas condições, os mesmos efeitos se<br />

repet<strong>em</strong>. Existe, então, uma lei <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> dos corpos. Ora, qual é a lei do pecado e da<br />

morte? Se alguém me faz uma observação pouco amável, me sinto imediatamente<br />

ferido. Esta não é uma lei, é o pecado. Mas se diversas pessoas me faz<strong>em</strong> observações<br />

<strong>de</strong>scorteses, e eu reajo s<strong>em</strong>pre do mesmo modo, posso discernir então uma lei <strong>em</strong> mim,<br />

uma lei do pecado. Como a lei da gravida<strong>de</strong>, também esta lei é constante, se repete<br />

s<strong>em</strong>pre da mesma forma. Assim é o mesmo com a lei da morte. Diz<strong>em</strong>os que a morte é<br />

a <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> física <strong>em</strong> seu limite extr<strong>em</strong>o. A <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> consiste <strong>em</strong> dizer "não posso".<br />

60


Ora, se quando me esforço para agradar a Deus num <strong>de</strong>terminado modo, sento que não<br />

posso fazê-lo, e se tento <strong>de</strong> obe<strong>de</strong>cer <strong>em</strong> uma outra ocasião e volto experimentar ser<br />

incapaz, discerno uma lei que atua <strong>em</strong> mim. Não é somente o pecado que está <strong>em</strong> mim,<br />

mas uma lei do pecado; e não é somente a morte que está <strong>em</strong> mim, mas uma lei <strong>de</strong><br />

morte.<br />

Assim sendo, não somente a gravida<strong>de</strong> é uma lei no sentido que é constante e não<br />

admite exceções; mas, a diferença da lei da rua, é uma lei "natural", e não é portanto<br />

objeto <strong>de</strong> discussões e <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, mas simplesmente <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrimento. A lei existe, e<br />

o lenço cai "naturalmente" por terra sozinho, s<strong>em</strong> ajuda alguma <strong>de</strong> minha parte. E a "lei"<br />

<strong>de</strong>finida <strong>em</strong> Romanos 7:23 é exatamente da mesma natureza. É uma lei <strong>de</strong> pecado e <strong>de</strong><br />

morte <strong>em</strong> oposição àquilo que é bom, e que paralisa o hom<strong>em</strong> que <strong>de</strong>sejaria realizar o<br />

b<strong>em</strong>. Ele peca "naturalmente" segundo a "lei do pecado" que está <strong>em</strong> seus m<strong>em</strong>bros. Ele<br />

<strong>de</strong>seja ser diferente, mas a lei que está nele é implacável e nenhuma vonta<strong>de</strong> humana<br />

po<strong>de</strong> resisti-la. Isto me conduz, então, a perguntar: "Como posso ser liberado da lei do<br />

pecado e da morte?" Necessito conhecer a liberação do pecado, e ainda mais, a liberação<br />

da morte; mas, sobre tudo, necessito ser liberto da lei do pecado e da morte. Como<br />

posso ser liberado da repetição constante <strong>de</strong> minhas quedas e <strong>de</strong> minha fraqueza?<br />

Para respon<strong>de</strong>r a esta pergunta prosseguir<strong>em</strong>os ainda com nossos dois ex<strong>em</strong>plos.<br />

Um dos pesos mais graves que tiv<strong>em</strong>os na China, <strong>em</strong> outros t<strong>em</strong>pos, foi a taxa "likin",<br />

uma lei à qual ninguém podia se subtrair; ela provinha da dinastia Ch'in, e tinha<br />

permanecido <strong>em</strong> vigor até quase os nossos t<strong>em</strong>pos. Essa taxa era aplicada aos<br />

transportes internos <strong>de</strong> mercadorias, <strong>em</strong> todas as províncias do Império; existiam<br />

numerosas barreiras para a revisão, e os funcionários a<strong>de</strong>ptos gozavam <strong>de</strong> amplos<br />

po<strong>de</strong>res. Assim, os impostos sobre as mercadorias que atravessavam muitas províncias,<br />

podiam resultar enormes. Mas, alguns anos atrás, uma segunda lei foi promulgada,<br />

suprimindo a lei "likin". Pod<strong>em</strong> imaginar o alívio que foi para aqueles que tanto tinham<br />

sofrido sob a antiga lei! Não havia mais necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> esperar, ou <strong>de</strong> pensar ou <strong>de</strong><br />

suplicar; a nova lei tinha aparecido, liberando-nos daquela antiga. Não era mais<br />

necessário pensar antecipadamente no que era preciso dizer, caso ter <strong>de</strong> enfrentar um<br />

arrecadador do "likin".<br />

Isso que acontece pela lei do país suce<strong>de</strong> também pela lei natural. Como po<strong>de</strong> ser<br />

anulada a lei da gravida<strong>de</strong>? No que concerte ao meu lenço, esta lei funciona à perfeição,<br />

fazendo-o cair por terra; mas somente preciso mantê-lo sujeito <strong>em</strong> minha mão para que<br />

ele não caia. Por quê? A lei existe s<strong>em</strong>pre. Eu não mudo nada da lei da gravida<strong>de</strong>; <strong>de</strong><br />

fato, não posso fazer nada contra ela. Então por que meu lenço não cai no chão? Por<br />

uma força que o impe<strong>de</strong>. A lei permanece, mas existe uma outra lei que é superior, age<br />

e triunfa sobre aquela, e é a lei da vida. A gravida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> exercer todo seu po<strong>de</strong>r, mas o<br />

lenço não cairá porque uma outra lei age contra a lei da gravida<strong>de</strong> para mantê-lo <strong>em</strong> seu<br />

lugar. Todos nós, alguma vez, vimos uma árvore que antes foi uma pequena s<strong>em</strong>ente<br />

caída entre as pedras do chão, e <strong>de</strong>pois cresceu até levantar as pedras, pela força da<br />

vida que estava nela. Isto nós o chamamos <strong>de</strong> triunfo <strong>de</strong> uma lei sobre a outra.<br />

De forma similar, Deus nos libera <strong>de</strong> uma lei, introduzindo <strong>em</strong> nós uma outra lei. A lei<br />

do pecado e da morte subsiste s<strong>em</strong>pre, mas Deus colocou <strong>em</strong> operação uma outra lei: a<br />

lei do Espírito da vida <strong>de</strong> Jesus Cristo, e esta lei é tão potente como para liberar-nos da<br />

lei do pecado e da morte. Porque há uma lei <strong>de</strong> vida <strong>em</strong> justiça. A vida <strong>de</strong> ressurreição<br />

que está nEle encontrou-se frente a morte <strong>em</strong> todos seus aspectos e triunfou sobre ela.<br />

"E qual a sobre-excelente gran<strong>de</strong>za do seu po<strong>de</strong>r sobre nós, os que cr<strong>em</strong>os, segundo a<br />

operação da força do seu po<strong>de</strong>r, que manifestou <strong>em</strong> Cristo, ressuscitando-o <strong>de</strong>ntre os<br />

mortos, e pondo-o à sua direita nos céus" (Ef 1:19-20).<br />

O Senhor Jesus mora <strong>em</strong> nossos corações na pessoa do Espírito Santo e se, confiando<br />

nEle, o <strong>de</strong>ixamos <strong>em</strong> liberda<strong>de</strong> para agir, ver<strong>em</strong>os que a sua nova lei <strong>de</strong> vida nos libera<br />

da antiga lei. Apren<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os o que significa ser sustentados não pelas nossas<br />

ina<strong>de</strong>quadas forças, mas pelo "po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Deus" (1 Pedro 1:5).<br />

A MANIFESTAÇÃO DA LEI DA VIDA<br />

Dev<strong>em</strong>os tentar <strong>de</strong> encontrar o sentido prático <strong>de</strong> tudo isto. T<strong>em</strong>os falado,<br />

prece<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, da questão <strong>de</strong> nossa vonta<strong>de</strong> <strong>em</strong> relação com as coisas <strong>de</strong> Deus. Os<br />

cristãos, incluso os mais velhos, não aplicam essa parte importante que já expliquei <strong>em</strong><br />

suas vidas. Este é um dos tormentos <strong>de</strong> Paulo <strong>em</strong> Romanos 7. A sua vonta<strong>de</strong> era boa,<br />

mas todas as suas ações a <strong>de</strong>smentiam, e todas as <strong>de</strong>cisões que tomava para agradar a<br />

Deus não faziam outra coisa senão conduzi-lo a uma escuridão mais profunda. "Eu<br />

<strong>de</strong>sejaria fazer o b<strong>em</strong>", mas, "sou carnal, vendido ao pecado". Eis aqui o ponto vital.<br />

61


Como um carro s<strong>em</strong> gasolina, o qual é necessário <strong>em</strong>purrar e que se <strong>de</strong>tém apenas<br />

livrado a si mesmo, muitos cristãos tentam avançar com suas forças <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>, e<br />

acham que nada é mais áspero e cansativo na vida cristã. Alguns se esforçam para<br />

cumprir boas ações porque outros as realizam, ainda admitindo que não faz<strong>em</strong> sentido<br />

para eles. Esforçam-se <strong>em</strong> querer ser aquilo que não são, e isto é mais penoso que tratar<br />

<strong>de</strong> fazer subir água por uma pen<strong>de</strong>nte. Porque, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tudo, o ponto máximo a que<br />

po<strong>de</strong> chegar a vonta<strong>de</strong> é a uma boa disposição. "Na verda<strong>de</strong>, o espírito está pronto, mas<br />

a carne é fraca" (Mateus 26:41).<br />

Se nós <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os realizar tantos esforços <strong>em</strong> nossa vida cristã, significa simplesmente<br />

que não somos verda<strong>de</strong>iramente cristãos. Não faz<strong>em</strong>os nenhum esforço para falar <strong>em</strong><br />

nossa língua materna. De fato, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os recorrer à nossa força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> somente nas<br />

coisas que não faz<strong>em</strong>os espontaneamente. Po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os consegui-lo, talvez, por um certo<br />

t<strong>em</strong>po, mas a lei do pecado e da morte se assenhoreará no final.<br />

Pod<strong>em</strong>os dizer: "Eu tenho a vonta<strong>de</strong> e agirei b<strong>em</strong> durante duas s<strong>em</strong>anas". Mas<br />

<strong>de</strong>ver<strong>em</strong>os <strong>em</strong> seguida confessar: "Não sei como fazê-lo". Não, se sou, já não preciso<br />

tentar <strong>de</strong> sê-lo. Se <strong>de</strong>sejo sê-lo é porque reconheço que não o sou.<br />

Vocês perguntarão: "Por que os homens cumpr<strong>em</strong> seus esforços <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> para<br />

agradar a Deus?". Po<strong>de</strong> haver duas razões para isto. Ou não têm nunca experimentado o<br />

novo nascimento, e neste caso não têm a vida operante neles; ou, se nasceram <strong>de</strong> novo<br />

e têm neles esta vida, não apren<strong>de</strong>ram a confiar nesta nova força. Esta falta <strong>de</strong><br />

consciência os conduz s<strong>em</strong>pre à <strong>de</strong>rrota e ao pecado, <strong>de</strong> modo que acabarão por duvidar<br />

da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma vida melhor.<br />

Mas se faltamos à fé, não quer dizer que a débil vida que experiment<strong>em</strong>os alguma vez<br />

represente tudo aquilo que Deus nos <strong>de</strong>u. Romanos 6:23 <strong>de</strong>clara que "o dom gratuito <strong>de</strong><br />

Deus é a vida eterna <strong>em</strong> Cristo Jesus nosso Senhor"; e <strong>em</strong> Romanos 8:2 aprend<strong>em</strong>os<br />

que "a lei do Espírito da vida, <strong>em</strong> Cristo Jesus" veio <strong>em</strong> nossa ajuda. Assim, Romanos<br />

8:2 não nos fala <strong>de</strong> um novo dom, mas da vida já apresentada <strong>em</strong> Romanos 6:23. Em<br />

outras palavras, se trata <strong>de</strong> uma nova revelação daquilo que já possuímos. Sinto que não<br />

posso r<strong>em</strong>arcar suficient<strong>em</strong>ente esta verda<strong>de</strong>. Não é uma coisa que <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os esperar da<br />

mão <strong>de</strong> Deus, mas é um novo conhecimento da obra já cumprida <strong>em</strong> Cristo, porque as<br />

palavras: "te livrou" estão <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po passado. Se eu entendo b<strong>em</strong> isto e coloco a minha<br />

fé <strong>em</strong> Cristo, não é absolutamente necessário que repita a experiência <strong>de</strong> Romanos 7,<br />

seja a respeito dos esforços inúteis e das contínuas quedas, seja no que concerne à<br />

infrutífera explicação <strong>de</strong> minha vonta<strong>de</strong> carnal.<br />

Se abandonarmos a nossa força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> e confiamos nEle, nós nunca cair<strong>em</strong>os e<br />

não ser<strong>em</strong>os surpreendidos, mas entrar<strong>em</strong>os no domínio <strong>de</strong> uma lei diversa, a lei do<br />

Espírito da vida. Porque Deus não nos <strong>de</strong>u somente a vida, mas uma lei <strong>de</strong> vida. E como<br />

a lei da gravida<strong>de</strong> é uma lei natural e não o produto <strong>de</strong> legislações humanas, assim a lei<br />

da vida é uma "lei natural", similar ao princípio da lei que regula as batidas do coração,<br />

ou que controla os movimentos <strong>de</strong> nossas pálpebras. Nós não precisamos pensar <strong>em</strong><br />

nossos olhos, n<strong>em</strong> <strong>de</strong>cidir a freqüente das batidas das pálpebras para mantê-los limpos;<br />

e muito menos <strong>de</strong> aplicar a nossa vonta<strong>de</strong> para o bom funcionamento <strong>de</strong> nosso coração.<br />

Em efeito, não conseguir<strong>em</strong>os senão complicações. Não, enquanto o coração t<strong>em</strong> vida,<br />

age espontaneamente. A nossa vonta<strong>de</strong> só po<strong>de</strong> complicar a lei da vida. Eu conheci esta<br />

realida<strong>de</strong>, um dia, da seguinte maneira.<br />

Sofria freqüent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> insônia. Depois <strong>de</strong> muitas noites transcorridas s<strong>em</strong> dormir,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muito ter orado neste aspecto, esgotados todos os meus recursos, acabei por<br />

confessar a Deus que <strong>de</strong>via haver algum erro <strong>em</strong> mim, e Lhe pedi que o mostrasse.<br />

Disse a Deus: "Peço uma explicação"; e a sua resposta foi: "Acredita nas leis da<br />

natureza". O sono é uma lei como à da fome, e percebi que, se não estava preocupado<br />

<strong>de</strong> saber se eu tinha ou não fome, também não <strong>de</strong>veria ter-me atormentado pela minha<br />

insônia. Eu havia procurado ajudar a natureza e essa é a armadilha na qual ca<strong>em</strong> a<br />

maioria daqueles que enfrentam a insônia. Mas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aquele momento coloquei a minha<br />

confiança não somente <strong>em</strong> Deus, mas também na lei natural <strong>de</strong> Deus; <strong>em</strong> pouco t<strong>em</strong>po<br />

consegui dormir b<strong>em</strong>.<br />

Não <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os nós ler a Bíblia? Evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente que <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os lê-la, <strong>de</strong> outra forma a<br />

nossa vida espiritual se ressentiria. Mas isto não significa que <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os esforçar-nos para<br />

lê-la. Existe <strong>em</strong> nós uma nova lei que nos dá a fome pela Palavra. Então, uma meia hora<br />

será mais eficaz que cinco horas <strong>de</strong> leitura forçada. E é o mesmo com a liberalida<strong>de</strong> no<br />

oferecer os nossos dons, as predicações, os test<strong>em</strong>unhos. A predicação forçada po<strong>de</strong> ser<br />

o anúncio do Evangelho expressado com calor, enquanto o coração permanece frio, e nós<br />

sab<strong>em</strong>os o que significa um "amor frio".<br />

62


Se <strong>de</strong>ixarmos viver <strong>em</strong> nós a nova lei, ser<strong>em</strong>os menos cônscios da antiga. Ela ainda<br />

existe, mas não domina mais e nós não estamos mais sob a sua influência. Por isso o<br />

Senhor diz <strong>em</strong> Mateus 6: "Olhai para as aves... Consi<strong>de</strong>rai como cresc<strong>em</strong> os lírios...". se<br />

fosse possível perguntar às aves se elas não têm medo da lei da gravida<strong>de</strong>, o que<br />

respon<strong>de</strong>riam? Diriam simplesmente: "Nós n<strong>em</strong> conhec<strong>em</strong>os o nome <strong>de</strong> Newton. Não<br />

conhec<strong>em</strong>os sua lei. Voamos porque a lei <strong>de</strong> nossa vida é voar". Não somente têm nelas<br />

uma vida que t<strong>em</strong> o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> voar, mas a lei <strong>de</strong>sta vida faz que essas criaturas sejam<br />

capazes <strong>de</strong> vencer espontaneamente a lei da gravida<strong>de</strong>. Ainda assim, a gravida<strong>de</strong><br />

permanece. Se vocês se levantam cedo uma manhã <strong>de</strong> intenso frio, e a neve cobre o<br />

solo, e se acham um pássaro morto no pátio, l<strong>em</strong>brarão imediatamente <strong>de</strong>sta lei. Mas<br />

enquanto as aves têm vida, venc<strong>em</strong> a lei da gravida<strong>de</strong> pela força natural que está nelas.<br />

Deus foi realmente bom para nós. Nos <strong>de</strong>u a nova lei do Espírito e "voar", para nós,<br />

não e mais uma questão <strong>de</strong> nossa vonta<strong>de</strong>, mas <strong>de</strong> Sua vida. Vocês imaginam quão<br />

árduo trabalho seria o <strong>de</strong> querer transformar um cristão impaciente num cristão<br />

paciente? Seria suficiente pedi-lhe um pouco <strong>de</strong> paciência para enfermá-lo <strong>de</strong> exaustão.<br />

Mas Deus nunca nos pediu para esforçar-nos para ser o que não somos por natureza,<br />

n<strong>em</strong> para tentar, com a força do pensamento, acrescentar nossa estatura espiritual. A<br />

extr<strong>em</strong>ada solicitu<strong>de</strong> po<strong>de</strong> diminuir o nível espiritual <strong>de</strong> um hom<strong>em</strong>, mas certamente<br />

nunca o t<strong>em</strong> elevado. "Não estejais apreensivos", nos disse o Senhor; "Consi<strong>de</strong>rai os<br />

lírios, como cresc<strong>em</strong>" (Lc 12:22,26). Ele coloca nossa atenção sobre a Sua vida que está<br />

<strong>em</strong> nós. Oh! Se pudéss<strong>em</strong>os apreciar esta vida nova que é nossa!<br />

Que maravilhoso <strong>de</strong>scobrimento! Ele po<strong>de</strong> fazer completamente novo um hom<strong>em</strong>,<br />

porque opera tanto nas coisas pequenas como nas gran<strong>de</strong>s.<br />

Falava, um dia, com um amigo meu, crente, e ele me diz: "Veja, eu acredito que se<br />

um quer viver para a lei do Espírito da vida, acabará verda<strong>de</strong>iramente educado". "O que<br />

você quer dizer?", perguntei. Ele respon<strong>de</strong>u: "Esta lei t<strong>em</strong> o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> fazer <strong>de</strong> um<br />

hom<strong>em</strong>, um gentil-hom<strong>em</strong> perfeito". Alguém disse com <strong>de</strong>sprezo: "Vocês não pod<strong>em</strong><br />

repreen<strong>de</strong>r estas pessoas pelos seus modos <strong>de</strong> agir; vêm do campo e não tiveram<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> educação". Mas a verda<strong>de</strong>ira pergunta é: "Têm eles a vida do Senhor<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>les? Porque, eu digo, esta vida po<strong>de</strong> dizer a eles: 'A sua voz é d<strong>em</strong>asiado forte',<br />

ou b<strong>em</strong> 'esse riso está fora <strong>de</strong> lugar', ou ainda 'a razão pela qual você fez essa<br />

observação não foi boa'". Em cada particular, o Espírito da vida po<strong>de</strong> ensinar como agir e<br />

produzir neles uma verda<strong>de</strong>ira educação. Não existe um s<strong>em</strong>elhante po<strong>de</strong>r na educação<br />

normal. Ainda assim, o meu amigo era um educador!<br />

Mas é verda<strong>de</strong>. Tom<strong>em</strong>os por ex<strong>em</strong>plo o conversar. Você é uma pessoa que fala<br />

d<strong>em</strong>ais? Quando se encontra <strong>em</strong> socieda<strong>de</strong>, pensa: "O que <strong>de</strong>vo fazer? Eu sou crente e<br />

se <strong>de</strong>sejo glorificar o nome do Senhor <strong>de</strong>vo falar menos. Hoje <strong>de</strong>verei me controlar". E<br />

durante uma ou duas horas consegu<strong>em</strong> fazê-lo, até que, com um pretexto ou outro,<br />

esquecendo da proposta, perd<strong>em</strong> o controle e, antes <strong>de</strong> saber on<strong>de</strong> estão, encontram-se<br />

mais uma vez <strong>em</strong> dificulda<strong>de</strong>s por causa <strong>de</strong> sua língua. Sim, estamos seguros que a<br />

nossa vonta<strong>de</strong> será inútil neste caso. Se eu exortasse vocês a exercitar sua vonta<strong>de</strong> a<br />

este respeito, seria como oferecê-lhes a vã religião do mundo, e não a vida <strong>de</strong> Jesus<br />

Cristo. Porque, observ<strong>em</strong>os ainda: uma pessoa charlatã fica assim ainda quando<br />

permanece calada durante um dia inteiro; porque uma lei "natural" a domina e a impele<br />

a falar; exatamente como uma macieira será s<strong>em</strong>pre uma macieira, produza maçãs ou<br />

não. Mas, convertidos <strong>em</strong> crentes, <strong>de</strong>scobrimos <strong>em</strong> nós uma nova lei, a lei do Espírito da<br />

vida, que vence todas as outras, e que já nos liberou da "lei" da conversa. Se<br />

acreditarmos na Palavra <strong>de</strong> Deus e obe<strong>de</strong>c<strong>em</strong>os à nova lei, ela nos dirá quando <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os<br />

parar, ou se não <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os n<strong>em</strong> sequer começar, e nos dará a força para fazê-lo. Sobre<br />

esta base pod<strong>em</strong> visitar seus amigos, ficar duas ou três horas, ou ainda dois ou três dias,<br />

s<strong>em</strong> nenhuma dificulda<strong>de</strong>. À volta agra<strong>de</strong>cerão a Deus pela sua nova lei <strong>de</strong> vida.<br />

Esta vida espontânea é a vida cristã. Ela se manifesta <strong>em</strong> amor para aqueles que não<br />

são amáveis, para o irmão que naturalmente não <strong>de</strong>sejam amar e que, <strong>em</strong> verda<strong>de</strong>, não<br />

po<strong>de</strong>riam amar. Porque esta lei age sobre a base das possibilida<strong>de</strong>s que o Senhor<br />

discerne nestes irmãos.<br />

"Senhor, Tu vês qu<strong>em</strong> po<strong>de</strong> ser amado e o amas. Ama-o agora, te rogo, através <strong>de</strong><br />

mim!". Esta lei produz uma verda<strong>de</strong>ira vida, um caráter moral sincero e leal. Existe<br />

d<strong>em</strong>asiada hipocrisia na vida dos cristãos, d<strong>em</strong>asiada comédia. Nada prejudica tanto a<br />

eficácia do test<strong>em</strong>unho cristão quanto a pretensão dos filhos <strong>de</strong> Deus <strong>de</strong> querer parecer<br />

aquilo que realmente não são, porque o hom<strong>em</strong> da rua acaba por penetrar neste<br />

disfarce, e nos reconhece por aquilo que somos. Vice-versa, a ficção ce<strong>de</strong> o lugar à<br />

realida<strong>de</strong>, quando confiamos sinceramente na lei da vida.<br />

63


O QUARTO PASSO: "CAMINHAR SEGUNDO O ESPÍRITO"<br />

"Porquanto o que era impossível à lei, visto que se achava fraca pela carne, Deus<br />

enviando o seu próprio Filho <strong>em</strong> s<strong>em</strong>elhança da carne do pecado, e por causa do pecado,<br />

na carne con<strong>de</strong>nou o pecado. Para que a justa exigência da lei se cumprisse <strong>em</strong> nós, que<br />

não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito" (Rm 8:3-4).<br />

Cada leitor atento a estes versículos verá que <strong>em</strong>erg<strong>em</strong> duas coisas. Em primeiro<br />

lugar se diz o que o Senhor Jesus fez por nós, <strong>de</strong>pois o que o Espírito quer fazer <strong>em</strong> nós.<br />

"A carne é fraca", e como conseqüência não pod<strong>em</strong>os "segundo a carne" cumprir a<br />

justiça da lei. Prest<strong>em</strong>os atenção que aqui não se trata <strong>de</strong> nossa salvação, mas do fato<br />

<strong>de</strong> agradar a Deus. A causa <strong>de</strong> nossa incapacida<strong>de</strong> Deus operou duas coisas. Primeiro<br />

veio para resolver o centro <strong>de</strong> nosso probl<strong>em</strong>a. Ele enviou seu Filho na carne, para que<br />

morresse a causa do pecado, e assim t<strong>em</strong> "con<strong>de</strong>nado o pecado na carne". Isto significa<br />

que Ele fez morrer, <strong>em</strong> Sua pessoa, tudo aquilo que <strong>em</strong> nós pertencia à velha criação,<br />

seja que o cham<strong>em</strong>os "o nosso velho hom<strong>em</strong>", ou "a carne" ou "o eu" carnal. Deus<br />

<strong>de</strong>struiu assim a raiz mesma do mal, eliminando a causa <strong>de</strong> nossa <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>. Este foi o<br />

primeiro passo.<br />

Mas a "prescrição da lei" <strong>de</strong>via ainda ser cumprida "<strong>em</strong> nós". Como podia acontecer<br />

isto? Mediante a nova intervenção do Espírito Santo que mora <strong>em</strong> nós. Ele foi enviado<br />

para ocupar-se do aspecto interior <strong>de</strong>ste probl<strong>em</strong>a, e po<strong>de</strong> fazê-lo, como nos é explicado,<br />

se "caminhamos segundo o Espírito".<br />

O que significa "caminhar segundo o Espírito"? Significa duas coisas. Primeiro, não é<br />

uma obra, é um caminho. Deus seja louvado! Os esforços <strong>de</strong>sesperados, extenuantes,<br />

que eu me impunha quando tentava agradar a Deus na carne <strong>de</strong>ixaram lugar ao repouso<br />

e à alegria, na <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> "sua eficácia, que opera <strong>em</strong> mim po<strong>de</strong>rosamente"<br />

(Colossenses 1:29). Por isso Paulo opõe as "obras" da carne com o "fruto" do Espírito<br />

(Gálatas 5:19-22).<br />

Além disso, "caminhar segundo" implica submissão. Caminhar segundo a carne<br />

significa que eu cedo às exigências da carne, e os versículos que segu<strong>em</strong> (Rm 8:5-8)<br />

mostram claramente aon<strong>de</strong> isto me conduz. A carne só po<strong>de</strong> me <strong>de</strong>ixar <strong>em</strong> conflito com<br />

Deus. Caminhar segundo o Espírito é estar submetidos ao Espírito. Existe uma coisa que<br />

não permite o hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> caminhar segundo o Espírito, e consiste <strong>em</strong> sermos<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do Senhor.<br />

É preciso que eu me submeta ao Espírito Santo. É Ele qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve ter a iniciativa <strong>em</strong><br />

minha vida. Somente se me <strong>de</strong>dico a obe<strong>de</strong>cê-Lo verei a "lei do Espírito da vida" agir<br />

plenamente, e a "justiça prescrita da lei" (tudo aquilo que me esforcei a fazer para<br />

agradar a Deus) cumprida perfeitamente não mais por mim, mas <strong>em</strong> mim. "Pois todos os<br />

que são guiados pelo Espírito <strong>de</strong> Deus, esses são filhos <strong>de</strong> Deus" (Rm 8:14).<br />

Conhec<strong>em</strong>os todas as palavras <strong>de</strong> bênção expressas <strong>em</strong> 2 Coríntios 13:14: "A graça<br />

do Senhor Jesus Cristo, e o amor <strong>de</strong> Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com<br />

todos vós". O amor <strong>de</strong> Deus é a fonte <strong>de</strong> todas as bênçãos espirituais; a graça do Senhor<br />

Jesus colocou estas riquezas espirituais a nossa disposição; e a comunhão do Espírito<br />

Santo é o meio pelo qual elas nos foram entregues.<br />

O amor é uma coisa escondida no coração <strong>de</strong> Deus; a graça é este amor expresso e<br />

oferecido <strong>em</strong> Seu Filho; a comunhão é o dom <strong>de</strong>sta graça por meio do Espírito. O que o<br />

Pai <strong>de</strong>terminou a nosso respeito, o Filho o cumpriu para nós, e agora o Espírito Santo nolo<br />

comunica. Assim, quando <strong>de</strong>scobrimos algo do que o Senhor Jesus conquistou com sua<br />

Cruz, tentamos <strong>de</strong> tomá-lo na forma que Deus nos indicou, e com um comportamento <strong>de</strong><br />

firme submissão e obediência ao Espírito Santo, mant<strong>em</strong>os o nosso coração<br />

completamente aberto, a fim que possamos recebê-lo. É este o mistério do Espírito<br />

Santo. Ele veio por este preciso objetivo, para cumprir <strong>em</strong> nós aquilo que já é nosso<br />

através da obra perfeita <strong>de</strong> Cristo.<br />

Nós aprend<strong>em</strong>os na China que, quando se <strong>de</strong>seja conduzir uma alma a Cristo, é<br />

necessário ser muito claros, e ir b<strong>em</strong> fundo no assunto, porque é difícil po<strong>de</strong>r ter <strong>de</strong>pois a<br />

ajuda <strong>de</strong> outros crentes. Assim, procuramos s<strong>em</strong>pre fazer compreen<strong>de</strong>r b<strong>em</strong> a cada novo<br />

crente que, quando pediu ao Senhor <strong>de</strong> perdoar seus pecados e <strong>de</strong> entrar <strong>em</strong> sua vida,<br />

seu coração se converteu na habitação <strong>de</strong> uma pessoa viva. O Espírito Santo <strong>de</strong> Deus<br />

está agora nele, para abri-lhe as Escrituras, a fim <strong>de</strong> achar nelas a Jesus Cristo, para<br />

dirigir suas orações, para governar sua vida e para reproduzir nele o caráter <strong>de</strong> seu<br />

Senhor.<br />

L<strong>em</strong>bro-me que, perto do fim <strong>de</strong> um verão, fui transcorrer um prolongado período <strong>de</strong><br />

repouso na montanha. Era difícil achar lá uma habitação regular, então <strong>de</strong>vi adaptar-me<br />

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a dormir numa casa e almoçar e jantar <strong>em</strong> outra; nesta última habitavam um operário e<br />

sua esposa.<br />

Durante as primeiras duas s<strong>em</strong>anas <strong>de</strong> minhas férias, não falei aos meus hóspe<strong>de</strong>s do<br />

Evangelho; porém um dia, finalmente, se me apresentou a ocasião <strong>de</strong> falar do Senhor<br />

Jesus. Eles estavam b<strong>em</strong> dispostos a escutar e a andar a Ele, com uma fé simples, para<br />

receber o perdão dos pecados. Realizaram o novo nascimento, e uma luz e um gozo novo<br />

entrou <strong>em</strong> suas vidas, porque a sua conversão era verda<strong>de</strong>iramente sincera.<br />

Dei-me com todo cuidado a fazer conhecer a eles claramente o que tinha acontecido;<br />

<strong>de</strong>pois chegou o frio e eu <strong>de</strong>vi regressar a Xangai.<br />

Durante os meses invernais, o hom<strong>em</strong> estava costumado a beber vinho nas comidas,<br />

e era inclinado a fazê-lo <strong>em</strong> excesso. Depois <strong>de</strong> minha partida, quando voltou o frio, o<br />

vinho reapareceu <strong>em</strong> sua mesa. Como estava habituado a fazer, o marido inclinou a<br />

cabeça para agra<strong>de</strong>cer a Deus pela comida; mas as palavras não vinham. Depois <strong>de</strong> uma<br />

ou duas tentativas vãs, voltou-se à mulher e lhe perguntou: "O que há que não vá? Por<br />

que não pod<strong>em</strong>os orar, hoje? Pega a Bíblia e vejamos o que diz <strong>de</strong> beber". Eu tinha<br />

<strong>de</strong>ixado a eles um ex<strong>em</strong>plar das Sagradas Escrituras mas, ainda que a mulher soubesse<br />

ler, não conhecia ainda a Palavra e assim ela voltava as páginas s<strong>em</strong> achar a resposta a<br />

essa pergunta. Eles não sabiam ainda como consultar o livro <strong>de</strong> Deus, e era para eles<br />

impossível consultar um enviado <strong>de</strong> Deus, estando eu a muitos quilômetros longe <strong>de</strong>les,<br />

e podiam transcorrer meses antes que nos encontráss<strong>em</strong>os <strong>de</strong> novo. "Bebe entretanto<br />

teu vinho", disse a mulher. "Falar<strong>em</strong>os disto ao irmão Nee na primeira ocasião". Porém,<br />

o marido reconheceu que não podia agra<strong>de</strong>cer ao Senhor por aquele vinho. "Tira ele da<br />

mesa", disse no fim; e quando ela assim o fez, pediram juntos a bênção do Senhor para<br />

a sua comida.<br />

Quando, mais tar<strong>de</strong>, o hom<strong>em</strong> po<strong>de</strong> vir a me encontrar <strong>em</strong> Xangai, me contou a<br />

história. Servindo-se <strong>de</strong> uma expressão comum <strong>em</strong> chinês, ele me disse: "Irmão Nee, o<br />

Patrão Resi<strong>de</strong>nte não me permitiu beber!" "Muito b<strong>em</strong>, irmão", respondi. "Obe<strong>de</strong>ça<br />

s<strong>em</strong>pre ao Patrão Resi<strong>de</strong>nte".<br />

Muitos <strong>de</strong> nós sab<strong>em</strong>os que Cristo é a vida. Acreditamos que o Espírito Santo <strong>de</strong> Deus<br />

resida <strong>em</strong> nós, mas este fato não t<strong>em</strong> muito efeito <strong>em</strong> nosso modo <strong>de</strong> comportar-nos. A<br />

pergunta fundamental, então, é esta: "O conhec<strong>em</strong>os como uma Pessoa viva ou o<br />

conhec<strong>em</strong>os como Patrão?"<br />

CAPÍTULO 11 – UM ÚNICO CORPO EM CRISTO<br />

Antes <strong>de</strong> tocar o nosso último importante t<strong>em</strong>a, quer<strong>em</strong>os <strong>de</strong>ter o nosso pensamento<br />

sobre o caminho recorrido, para resumir as etapas passadas. Tentamos mostrar<br />

simplesmente e explicar claramente algumas das experiências que atravessam<br />

habitualmente os cristãos. Mas é evi<strong>de</strong>nte que os novos <strong>de</strong>scobrimentos que realizamos,<br />

a medida que proced<strong>em</strong>os como nosso Senhor, são numerosos e <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os velar contra a<br />

tentação <strong>de</strong> simplificar além da medida a obra <strong>de</strong> Deus. Isto po<strong>de</strong>ria induzir-nos numa<br />

gran<strong>de</strong> confusão.<br />

Alguns filhos <strong>de</strong> Deus acreditam que a salvação, que para eles compreen<strong>de</strong><br />

igualmente a questão <strong>de</strong> viver uma vida santa, resi<strong>de</strong> inteiramente no saber apreciar o<br />

valor do sangue <strong>de</strong> Cristo. Têm razão <strong>de</strong> insistir sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vigiar para estar<br />

<strong>em</strong> regra com Deus a respeito <strong>de</strong> certos pecados conhecidos, assim como sobre a<br />

eficácia contínua do sangue <strong>de</strong> Cristo que cancela os pecados que comet<strong>em</strong>os; mas eles<br />

pensam também que aquele sangue cumpre tudo. Eles acreditam numa santida<strong>de</strong> que<br />

significa simplesmente a separação do hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> seu passado; eles crê<strong>em</strong> que,<br />

cancelando o que o hom<strong>em</strong> cometeu, sobre a base do sangue vertido, Deus separa este<br />

hom<strong>em</strong> do mundo a fim que Lhe pertença e que esta seja a santida<strong>de</strong>; e <strong>de</strong> <strong>de</strong>têm aqui.<br />

Eles ficam então <strong>de</strong>ste lado das exigências fundamentais <strong>de</strong> Deus e, <strong>em</strong> conseqüência,<br />

dos recursos abundantes que Ele t<strong>em</strong> provido. Espero que, neste ponto, tenhamos<br />

percebido claramente como este modo <strong>de</strong> interpretar é incompleto.<br />

Exist<strong>em</strong> outros que vão mais longe e reconhec<strong>em</strong> que Deus os têm incluído na morte<br />

<strong>de</strong> seu Filho sobre a Cruz, a fim que seu velho hom<strong>em</strong> seja crucificado <strong>em</strong> Cristo, e eles<br />

sejam libertos do pecado e da lei. Estes têm uma fé real no Senhor porque gloriam-se<br />

<strong>em</strong> Jesus Cristo e cessaram <strong>de</strong> colocar sua confiança na carne (Filipenses 3:3). Deus t<strong>em</strong><br />

neles um fundamento claro, sobre o qual po<strong>de</strong> edificar. E <strong>de</strong>sta posição <strong>de</strong> partida muitos<br />

chegaram além, e reconheceram que a consagração —adotando esta palavra <strong>em</strong> seu<br />

verda<strong>de</strong>iro sentido— significa abandonar-se s<strong>em</strong> reservas nas mãos do Senhor para<br />

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segui-Lo. Tudo isto representa somente os primeiros passos, partindo dos quais ter<strong>em</strong>os<br />

alcançado outras fases da experiência preparada por Deus para nós, e que muitos<br />

conhec<strong>em</strong>. É s<strong>em</strong>pre essencialmente necessário recordar-nos que cada passo, ainda que<br />

represente um fragmento precioso da verda<strong>de</strong>, não é para nada, <strong>em</strong> si mesmo, a inteira<br />

verda<strong>de</strong>. Nós experimentamos todos eles como o fruto da obra <strong>de</strong> Cristo sobre a Cruz, e<br />

não pod<strong>em</strong>os ignorar n<strong>em</strong> um sequer.<br />

UMA PORTA E UM CAMINHO<br />

Reconhec<strong>em</strong>os que existe um certo número <strong>de</strong> essas fases na vida e na experiência<br />

do crente, e observar<strong>em</strong>os agora outro fato: ainda que estas fases não sejam s<strong>em</strong>pre<br />

necessariamente experimentadas numa ord<strong>em</strong> fixa e precisa, elas parec<strong>em</strong> porém estar<br />

marcadas <strong>de</strong> pontos e características que se repet<strong>em</strong>. Quais são estas características?<br />

Existe, antes que nada, a revelação. Como já vimos, a revelação prece<strong>de</strong> s<strong>em</strong>pre a fé e a<br />

experiência. Com sua Palavra Deus abre nossos olhos à verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> um fato que<br />

concerne seu Filho e <strong>de</strong>pois, se nos apropriarmos <strong>de</strong>le pela fé, esse fato se converte <strong>em</strong><br />

real <strong>em</strong> nossa vida.<br />

Nós t<strong>em</strong>os então:<br />

1) A revelação — que é objetiva.<br />

2) A experiência — que é subjetiva.<br />

Observamos, a seguir, que uma s<strong>em</strong>elhante experiência toma habitualmente a dupla<br />

forma <strong>de</strong> uma crise, seguida <strong>de</strong> um aperfeiçoamento contínuo. É muito útil compreen<strong>de</strong>r<br />

isto sob a figura com que John Bunyan nos apresenta a "porta estreita" pela qual<br />

Cristiano entrou no "caminho estreito". O Senhor Jesus falou <strong>de</strong>sta porta e <strong>de</strong>sta via que<br />

conduz à vida. "Porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e<br />

poucos há que a encontr<strong>em</strong>" (Mateus 7:14); e a experiência confirma as suas palavras.<br />

T<strong>em</strong>os então:<br />

1) A revelação<br />

2) A experiência:<br />

a. Uma porta estreita (a crise)<br />

b. Um caminho estreito (sucessivo)<br />

Tom<strong>em</strong>os agora algum dos t<strong>em</strong>as que examinamos, e vejamos como este quadro nos<br />

ajuda a compreendê-los.<br />

Começar<strong>em</strong>os com a nossa justificação e o nosso novo nascimento. Tudo isto começa<br />

com a revelação do Senhor Jesus <strong>em</strong> sua obra <strong>de</strong> expiação dos nossos pecados sobre a<br />

Cruz. Esta revelação será seguida da crise do arrependimento e <strong>de</strong> fé (a porta estreita),<br />

pela qual somos inicialmente acercados a Deus. "Mas agora <strong>em</strong> Cristo Jesus, vós, que<br />

antes estáveis longe, já pelo sangue <strong>de</strong> Cristo chegastes perto" (Ef 2:13). Este primeiro<br />

passo nos conduz a um estado <strong>de</strong> constante amiza<strong>de</strong> com Ele (a via estreita), pela qual<br />

nos é garantido cada dia, s<strong>em</strong>pre mediante seu sangue precioso, o acesso à vida.<br />

"Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue <strong>de</strong> Jesus (...)<br />

chegu<strong>em</strong>o-nos com verda<strong>de</strong>iro coração, <strong>em</strong> inteira certeza <strong>de</strong> fé, tendo os corações<br />

purificados da má consciência, e o corpo lavado com água limpa" (Hebreus 10:19,22).<br />

Quando chegamos à liberação do pecado, t<strong>em</strong>os ainda três passos: a obra <strong>de</strong> revelação<br />

cumprida pelo Espírito Santo, ou seja, o "saber" <strong>de</strong> Romanos 6:6; a crise <strong>de</strong> fé, o<br />

"consi<strong>de</strong>rai-vos como mortos" <strong>de</strong> Romanos 6:11; e o contínuo e sucessivo progresso na<br />

consagração, ou seja: "apresenta-vos" a Deus (Romanos 6:13), sobre o fundamento <strong>de</strong><br />

um caminho <strong>em</strong> novida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os então o dom do Espírito Santo.<br />

Também isso começa com uma "visão" nova do Senhor Jesus, elevado sobre o trono<br />

que acaba com a dupla experiência do Espírito <strong>de</strong>rramado sobre nós, e do Espírito que<br />

mora <strong>em</strong> nós. E finalmente, chegando ao probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> agradar a Deus, nos encontramos<br />

ainda com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> luz espiritual, a fim que possamos compreen<strong>de</strong>r o valor da<br />

obra da Cruz a respeito da "carne", toda a vida egoísta do hom<strong>em</strong>. Se aceitarmos esta<br />

obra por fé, entramos na experiência da "porta estreita": "Dou graças a Deus por Jesus<br />

Cristo nosso Senhor" (Rm 7:25); com a qual começamos por cessar <strong>de</strong> "fazer" e<br />

aceitamos por fé a ação po<strong>de</strong>rosa da vida <strong>de</strong> Cristo para satisfazer <strong>em</strong> nós as exigências<br />

práticas <strong>de</strong> Deus. É <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aqui que entramos no "caminho estreito", uma via <strong>de</strong><br />

obediência ao Espírito. "Não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito" (Rm<br />

8:4).<br />

O ex<strong>em</strong>plo não é idêntico <strong>em</strong> cada caso e <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os prestar atenção a não impor ao<br />

Espírito Santo um plano <strong>de</strong> ação rígido; mas talvez cada experiência nova po<strong>de</strong>rá<br />

apresentar-se a nós, mais ou menos, segundo estes lineamentos. Será certamente<br />

necessário que nossos olhos se abram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o princípio sobre os novos aspectos <strong>de</strong><br />

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Cristo e <strong>de</strong> sua obra completada; a fé abrirá <strong>de</strong>pois a porta para o novo caminho.<br />

L<strong>em</strong>br<strong>em</strong>-se também que a nossa subdivisão da experiência cristã <strong>em</strong> seus diversos<br />

aspectos (a justificação, o novo nascimento, o dom do Espírito, a liberação, a<br />

santificação), foi feita para que compreendamos tudo mais claramente. Isto não significa<br />

que estas etapas <strong>de</strong>vam absolutamente seguir-se umas as outras s<strong>em</strong>pre numa ord<strong>em</strong><br />

pré-estabelecida. De fato, nos é dada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o princípio uma apresentação completa <strong>de</strong><br />

Cristo e <strong>de</strong> sua Cruz, pod<strong>em</strong>os entrar <strong>em</strong> possessão <strong>de</strong> experiências muito ricas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

primeiro dia <strong>de</strong> nossa vida cristã, mesmo que seu significado mais profundo não nos seja<br />

ainda revelado, porque o será mais tar<strong>de</strong>. Que possa toda a predicação do Evangelho ser<br />

realizada assim.<br />

Uma coisa é verda<strong>de</strong>ira: a revelação prece<strong>de</strong> s<strong>em</strong>pre a fé. Ver e crer são dois<br />

princípios que regulam a vida cristã. Quando nós v<strong>em</strong>os alguma coisa que Deus cumpriu<br />

<strong>em</strong> Cristo, respond<strong>em</strong>os naturalmente: "Obrigado, Senhor", e a fé se segue<br />

espontaneamente. A revelação é s<strong>em</strong>pre a obra do Espírito Santo, que nos é entregue a<br />

fim que, acompanhando-nos e fazendo-nos compreen<strong>de</strong>r as Escrituras, nos guie <strong>em</strong> toda<br />

a verda<strong>de</strong>: "Mas, quando vier aquele Espírito <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, ele vos guiará <strong>em</strong> toda a<br />

verda<strong>de</strong>" (João 16:13). Cont<strong>em</strong>os com Ele porque está aqui para isto; e quando <strong>de</strong>vamos<br />

superar dificulda<strong>de</strong>s como a falta <strong>de</strong> compreensão ou a falta <strong>de</strong> fé, lev<strong>em</strong>o-las<br />

diretamente ao Senhor, dizendo: "Senhor, abre meus olhos. Senhor, ajuda-me <strong>em</strong> minha<br />

incredulida<strong>de</strong>". Não ser<strong>em</strong>os nunca <strong>de</strong>sapontados.<br />

OS QUATRO ASPECTOS DA OBRA DE CRISTO SOBRE A CRUZ<br />

Estamos agora <strong>em</strong> condições <strong>de</strong> avançar um passo, para consi<strong>de</strong>rar a gran<strong>de</strong>za e a<br />

profundida<strong>de</strong> infinita da obra da Cruz do Senhor Jesus. À luz da experiência cristã, e com<br />

o objetivo <strong>de</strong> analisar esta obra, nos resultará talvez útil reconhecer quatro aspectos da<br />

obra re<strong>de</strong>ntora <strong>de</strong> Deus. Mas, enquanto o faz<strong>em</strong>os, é necessário ter b<strong>em</strong> presente que a<br />

Cruz <strong>de</strong> Cristo é uma única obra divina e não uma seqüência <strong>de</strong> obras. Um dia, na<br />

Judéia, dois mil anos atrás, o Senhor Jesus morreu e ressuscitou e está agora "exaltado<br />

pela <strong>de</strong>stra <strong>de</strong> Deus" (Atos 2:33). A obra foi cumprida e não há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser<br />

repetida, n<strong>em</strong> po<strong>de</strong> ser agregado nada a ela.<br />

Dos quatro aspectos da Cruz que agora mencionar<strong>em</strong>os, já examinamos três<br />

<strong>de</strong>talhadamente. O último será estudado nos capítulos seguintes do nosso estudo.<br />

Pod<strong>em</strong>os entretanto resumi-los brev<strong>em</strong>ente <strong>de</strong>ste modo:<br />

1) O sangue <strong>de</strong> Cristo que age a respeito dos pecados e da culpa.<br />

2) A Cruz <strong>de</strong> Cristo que age a respeito do pecado, da carne e do hom<strong>em</strong> natural.<br />

3) A vida <strong>de</strong> Cristo, que se transmite ao hom<strong>em</strong>, o regenera e o fortifica.<br />

4) A ação da morte, no hom<strong>em</strong> natural, a fim que a vida que habita nele possa<br />

manifestar-se progressivamente.<br />

Os primeiros <strong>de</strong>stes aspectos têm o caráter <strong>de</strong> reparação. Eles estão ligados à<br />

d<strong>em</strong>olição da obra <strong>de</strong> Satanás, e à <strong>de</strong>struição do pecado do hom<strong>em</strong>. Os dois últimos são<br />

positivos e se relacionam mas diretamente com o cumprimento do <strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong> Deus. Os<br />

dois primeiros são necessários para recuperar o que Adão tinha perdido <strong>em</strong> sua queda;<br />

os dois últimos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> fazer-nos entrar <strong>em</strong> possessão e levar a nós aquilo que Adão<br />

nunca teve. V<strong>em</strong>os assim que tudo aquilo que o Senhor cumpriu <strong>em</strong> sua morte e <strong>em</strong> sua<br />

ressurreição compreen<strong>de</strong> ao mesmo t<strong>em</strong>po uma obra que proveu a re<strong>de</strong>nção do hom<strong>em</strong><br />

e uma obra que ren<strong>de</strong>u possível o cumprimento do <strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong> Deus.<br />

Nos <strong>de</strong>tiv<strong>em</strong>os bastante, nos capítulos prece<strong>de</strong>ntes, sobre dois aspectos da morte <strong>de</strong><br />

Cristo, representados pelo sangue vertido para os pecados e a culpa, e pela Cruz erigida<br />

a causa do pecado e da carne. Em nosso estudo sobre o <strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong> Deus consi<strong>de</strong>ramos<br />

brev<strong>em</strong>ente o terceiro aspecto, aquele que Cristo prefigurou na espiga <strong>de</strong> grão; no<br />

último capítulo, consi<strong>de</strong>rando a Cristo como a nossa vida, fomos conduzidos a<br />

experimentar alguma coisa <strong>de</strong> sua realização prática. Antes, porém, <strong>de</strong> chegar ao quarto<br />

aspecto, que chamarei "carregar a Cruz", <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os dizer alguma coisa a mais sobre este<br />

quarto aspecto, vale dizer, sobre a ação da vida <strong>de</strong> ressurreição <strong>de</strong> Cristo no transmitirse<br />

ao hom<strong>em</strong>, no dar-lhe força para o serviço <strong>de</strong> Deus.<br />

Falamos já do <strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong> Deus na criação, e diss<strong>em</strong>os que ele compreendia muito<br />

mais que aquilo que Adão po<strong>de</strong> jamais <strong>de</strong>gustar. Qual era este <strong>de</strong>sígnio? Deus <strong>de</strong>sejava<br />

uma espécie <strong>de</strong> homens, cada um dos quais recebesse como dom um espírito, por meio<br />

do qual fosse possível a comunhão com Ele, que é Espírito. Esta raça, possuindo a vida<br />

própria <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong>via cooperar com Ele no cumprimento <strong>de</strong> Seu plano eterno,<br />

dominando todas as rebeliões possíveis do inimigo e <strong>de</strong>struindo suas obras malvadas.<br />

Este era o gran<strong>de</strong> plano <strong>de</strong> Deus. Como po<strong>de</strong>rá, agora, ser realizado? A resposta está<br />

67


ainda na morte do Senhor Jesus. Essa é uma morte po<strong>de</strong>rosa, que vai muito além da<br />

conquista <strong>de</strong> uma posição perdida; porque por ela não somente os pecados e o velho<br />

hom<strong>em</strong> foram eliminados, mas foi introduzida alguma coisa infinitamente maior e<br />

<strong>de</strong>finitiva.<br />

O AMOR DE CRISTO<br />

É necessário agora ter diante <strong>de</strong> nós dois parágrafos da Palavra <strong>de</strong> Deus, um extraído<br />

<strong>de</strong> Gênesis 2 e o outro <strong>de</strong> Efésios 5. Consi<strong>de</strong>rados juntos, têm enorme importância para<br />

o nosso estudo.<br />

"Então o SENHOR Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e<br />

tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne <strong>em</strong> seu lugar; e da costela que o<br />

SENHOR Deus tomou do hom<strong>em</strong>, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão. E disse Adão:<br />

Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher,<br />

porquanto do hom<strong>em</strong> foi tomada" (Gn 2:21-23).<br />

"Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si<br />

mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavag<strong>em</strong> da água, pela<br />

palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, s<strong>em</strong> mácula, n<strong>em</strong> ruga, n<strong>em</strong> coisa<br />

s<strong>em</strong>elhante, mas santa e irrepreensível" (Ef 5:25-27).<br />

T<strong>em</strong>os, <strong>em</strong> Efésios 5, o único capítulo da Bíblia que nos explica a passag<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

Gênesis 2. Aquele da carta aos Efésios é certamente muito importante, se refletimos um<br />

pouco. Estou me referindo ao que contém estas palavras: "Cristo amou a igreja". Há aqui<br />

alguma coisa infinitamente preciosa.<br />

Fomos ensinados a consi<strong>de</strong>rar-nos como pecadores que têm a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser<br />

resgatados. Por muitas gerações este ensino impregnou o nosso espírito, e nos<br />

agra<strong>de</strong>c<strong>em</strong>os o Senhor por isto, porque é o nosso princípio; mas não é o que Deus<br />

pretendia que se realizasse no final. Deus nos fala aqui mais b<strong>em</strong> <strong>de</strong> uma "igreja<br />

gloriosa, s<strong>em</strong> mácula, n<strong>em</strong> ruga, n<strong>em</strong> coisa s<strong>em</strong>elhante, mas santa e irrepreensível".<br />

D<strong>em</strong>asiado amiú<strong>de</strong> pensamos na <strong>Igreja</strong> simplesmente como um conjunto <strong>de</strong> "pecadores<br />

salvos". Ela é isso, e nós consi<strong>de</strong>ramos os dois termos como equivalente, como se ela<br />

fosse como isto; mas a <strong>Igreja</strong> é muito mais que isto. Pecadores salvos: nesta expressão<br />

t<strong>em</strong>os todo o velho transfundo do pecado e da queda; mas, aos olhos <strong>de</strong> Deus, a <strong>Igreja</strong> é<br />

uma criação divina <strong>em</strong> seu Filho. O primeiro termo é essencialmente individual; o<br />

segundo nos apresenta um corpo constituído. O primeiro nos mostra um fato negativo<br />

que pertence ao passado; o segundo, um fato positivo que ten<strong>de</strong> ao futuro. O "<strong>de</strong>sígnio<br />

eterno" está na mente <strong>de</strong> Deus <strong>de</strong>s<strong>de</strong> toda a eternida<strong>de</strong>, t<strong>em</strong> a ver com seu Filho e t<strong>em</strong><br />

como fim que o Filho tenha um corpo para manifestar sua vida. Visto <strong>de</strong>s<strong>de</strong> esta<br />

perspectiva —ou seja aquela do coração <strong>de</strong> Deus—, a <strong>Igreja</strong> é alguma coisa que supera o<br />

pecado e não foi mais tocada por ele.<br />

T<strong>em</strong>os assim, na epístola aos efésios, um aspecto da morte do Senhor Jesus que não<br />

encontramos expresso tão claramente <strong>em</strong> nenhum outro texto. Na carta aos Romanos,<br />

as coisas são consi<strong>de</strong>radas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ponto <strong>de</strong> vista do hom<strong>em</strong> e <strong>de</strong> sua queda, e partindo<br />

da frase "Cristo morreu pelos ímpios", pecadores, inimigos, somos conduzidos<br />

progressivamente (Romanos 5:6-10) ao "amor <strong>de</strong> Cristo" (Romanos 8:35). Ao contrário,<br />

na epístola aos Efésios o ponto <strong>de</strong> vista é o <strong>de</strong> Deus, "antes da criação do mundo"<br />

(Efésios 1:4), e o coração do Evangelho é: "Cristo amou a igreja, e a si mesmo se<br />

entregou por ela" (Efésios 5:25). Assim, <strong>em</strong> Romanos t<strong>em</strong>os "nós pecamos" e a<br />

mensag<strong>em</strong> diz respeito ao amor <strong>de</strong> Deus pelos pecadores (Romanos 5:8), enquanto <strong>em</strong><br />

Efésios t<strong>em</strong>os: "Cristo amou" e o amor que aqui encontramos é o do esposo pela esposa.<br />

Este parágrafo não t<strong>em</strong> a ver com a expiação do pecado, mas com a criação da <strong>Igreja</strong>,<br />

da qual nos é dito: "e a si mesmo se entregou por ela".<br />

Existe assim na morte do Senhor Jesus um aspecto inteiramente positivo, no qual fica<br />

<strong>em</strong> evidência o amor pela sua <strong>Igreja</strong>, e on<strong>de</strong> não figura diretamente a questão do pecado<br />

e dos pecadores. Para melhor ressaltar este aspecto, Paulo adota como ilustrações o fato<br />

<strong>de</strong> Gênesis 2. Mas este é um dos parágrafos mas belos da Palavra <strong>de</strong> Deus; e se os<br />

nossos olhos foram abertos para vê-lo, ser<strong>em</strong>os certamente impulsionados à adoração.<br />

Partindo <strong>de</strong> Gênesis 3, das "vestes <strong>de</strong> pele" até o sacrifício <strong>de</strong> Abel, e daí através <strong>de</strong><br />

todo o Antigo Testamento, achar<strong>em</strong>os numerosos símbolos que representam a morte do<br />

Senhor Jesus sob o seu aspecto <strong>de</strong> expiação pelo pecado; ainda assim, o apóstolo não se<br />

refere aqui a nenhum <strong>de</strong>sses tipos <strong>de</strong> sua morte, mas unicamente a este <strong>de</strong> Gênesis 2.<br />

Observ<strong>em</strong>os b<strong>em</strong> e l<strong>em</strong>br<strong>em</strong>os que o pecado aparece só <strong>em</strong> Gênesis 3. Há, no Antigo<br />

Testamento, um símbolo da morte <strong>de</strong> Cristo que não t<strong>em</strong> nada a ver com o pecado,<br />

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porque não segue a queda, mas a prece<strong>de</strong>, e está aqui <strong>em</strong> Gênesis 2. Detenhamo-nos<br />

neste ponto por um instante.<br />

Pod<strong>em</strong>os dizer que Deus fez cair sobre Adão um profundo sono porque Eva tinha<br />

cometido um grave pecado? É o que encontramos aqui? Certamente que não, porque Eva<br />

não tinha ainda sido criada. Não existia ainda nenhuma exigência moral, <strong>de</strong> fato, nenhum<br />

probl<strong>em</strong>a. Não, Adão foi adormecido com a intenção b<strong>em</strong> <strong>de</strong>terminada <strong>de</strong> tirar alguma<br />

coisa <strong>de</strong>le para formar um outro ser como ele. Seu sono não foi causado por nenhum<br />

pecado <strong>de</strong> Eva, mas para a sua existência. Eis o que nos ensina este fragmento. Esta<br />

experiência <strong>de</strong> Adão tinha como objetivo a criação <strong>de</strong> Eva, como uma coisa <strong>de</strong>terminada<br />

pelo conselho divino. Deus queria uma "ishah". Ele fez cair o sono sobre o hom<strong>em</strong> (ish),<br />

pegou uma <strong>de</strong> suas costelas, fez uma "ishah" (mulher) e a apresentou ao hom<strong>em</strong>. Este é<br />

o quadro que Deus nos apresenta. Ele preanuncia um aspecto da morte do Senhor Jesus,<br />

que não se refere à expiação do pecado, mas que correspon<strong>de</strong> àquilo que é dito sobre o<br />

sono <strong>de</strong> Adão, neste capítulo.<br />

Deus me livre <strong>de</strong> afirmar que o Senhor Jesus não morreu com vista à expiação. Deus<br />

seja louvado! Ele morreu mesmo com este objetivo. Mas <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os l<strong>em</strong>brar-nos que hoje<br />

somos o objeto da situação <strong>de</strong> que se fala <strong>em</strong> Efésios 5, e não daquela <strong>de</strong> Gênesis 2. A<br />

epístola aos Efésios foi escrita <strong>de</strong>pois da queda, para homens que tinham sofrido por<br />

causa <strong>de</strong>la; e aqui achamos não somente o <strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong> Deus na criação, mas também as<br />

cicatrizes da queda, pois <strong>de</strong> outra forma não teria sido necessário mencionar as<br />

"máculas" e "rugas". Porque estamos ainda sobre esta terra e a queda é um fato<br />

histórico, é necessária a re<strong>de</strong>nção (Ef 1:7).<br />

Mas <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os s<strong>em</strong>pre consi<strong>de</strong>rar a re<strong>de</strong>nção como uma instrução, uma medida <strong>de</strong><br />

"<strong>em</strong>ergência" que se fez necessária a causa <strong>de</strong> uma ruptura catastrófica na linha direta<br />

do <strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong> Deus. A re<strong>de</strong>nção é tão gran<strong>de</strong>, tão maravilhosa, que ocupa um imenso<br />

lugar <strong>em</strong> nossa visão, mas Deus nos diz para não consi<strong>de</strong>rarmos a re<strong>de</strong>nção como uma<br />

coisa única, como se o hom<strong>em</strong> tivesse sido criado para ser resgatado. A queda foi<br />

realmente um trágico <strong>de</strong>rrubamento no <strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong> Deus, e a expiação uma reparação<br />

abençoada, pela qual os nossos pecados foram cancelados, e nós fomos restabelecidos<br />

<strong>em</strong> nossa posição perante Deus; mas, uma vez cumprida esta obra, falta ainda uma<br />

outra para ser realizada, porque somos conduzidos a possuir o que Adão nunca<br />

conheceu, para dar ao Senhor aquilo que Seu coração almeja. Porque Deus nunca<br />

abandonou o <strong>de</strong>sígnio representado por aquela linha perfeita. Adão nunca entrou <strong>em</strong><br />

possessão da vida <strong>de</strong> Deus, como é prefigurada na árvore da vida. Mas a causa da obra<br />

única que o Senhor Jesus cumpriu <strong>em</strong> sua morte e ressurreição (e <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os ainda<br />

ressaltar que tudo isso é uma única obra), a sua vida foi entregue para ser nossa pela fé,<br />

e nós receb<strong>em</strong>os mais do que Adão tinha jamais possuído. O verda<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong><br />

Deus se cumpre <strong>em</strong> nós quando receb<strong>em</strong>os Cristo como nossa vida.<br />

Deus fez cair Adão num sono profundo. L<strong>em</strong>br<strong>em</strong>os que é dito aos crentes que eles<br />

adormec<strong>em</strong>, e não que morr<strong>em</strong>. Por quê? Porque lá, on<strong>de</strong> é mencionada a morte,<br />

apresenta-se s<strong>em</strong>pre no fundo o pecado. Em Gênesis 3 se diz que o pecado entrou no<br />

mundo e através do pecado entrou a morte; mas o sono <strong>de</strong> Adão prece<strong>de</strong>u tudo isto.<br />

Assim a figura que t<strong>em</strong>os aqui do Senhor Jesus é diferente <strong>de</strong> todas as outras figuras do<br />

Antigo Testamento. Quando se trata do pecado e da expiação, é preciso imolar um<br />

cor<strong>de</strong>iro ou um bezerro; mas aqui Adão não foi colocado na morte, senão somente<br />

adormecido para voltar acordar. Assim ele figura uma morte que não é imputável ao<br />

pecado, mas que t<strong>em</strong> como objetivo o <strong>de</strong>senvolvimento na ressurreição. Dev<strong>em</strong>os<br />

observar que Eva não foi criada como uma entida<strong>de</strong> diferente, com uma criação<br />

separada, paralela à <strong>de</strong> Adão. Adão dormia e Eva foi tirada <strong>de</strong>le. Nesta mesma forma<br />

Deus criou a <strong>Igreja</strong>. O "segundo hom<strong>em</strong>" <strong>de</strong> Deus acordou <strong>de</strong> seu "sono", e sua <strong>Igreja</strong> foi<br />

criada nEle para tomar a vida dEle, e manifestar a vida da ressurreição.<br />

Deus t<strong>em</strong> um Filho, o seu Unigênito; e <strong>de</strong>seja que este Filho tenha irmãos. Ele <strong>de</strong>ve<br />

mudar a sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filho único por aquela <strong>de</strong> Primogênito para que, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> um<br />

Filho único, Deus tenha muitos filhos. Uma espiga <strong>de</strong> grão morreu e muitos grãos<br />

germinarão. O primeiro grãozinho foi, uma vez, o único grãozinho; agora se converteu<br />

no primeiro <strong>de</strong> muitos grãozinhos. O Senhor Jesus <strong>de</strong>pôs sua vida e essa vida <strong>em</strong>ergiu<br />

<strong>em</strong> muitas vidas. Estas são as figuras bíblicas que utilizamos até aqui, <strong>em</strong> nosso estudo,<br />

para d<strong>em</strong>onstrar esta verda<strong>de</strong>. Ora, na figura <strong>de</strong> Eva o singular tomará o lugar do plural.<br />

O fruto da Cruz é uma única pessoa: uma Esposa para o Filho. "Cristo amou a igreja, e a<br />

si mesmo se entregou por ela".<br />

UM ÚNICO SACRIFÍCIO VIVENTE<br />

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Diz<strong>em</strong>os que a epístola aos Efésios, no capítulo 5, nos apresenta um aspecto da morte<br />

<strong>de</strong> Cristo que, numa certa medida, é diferente daquilo que estudamos na carta aos<br />

Romanos. Ainda assim, este aspecto é o ponto essencial ao qual ten<strong>de</strong> o nosso estudo<br />

<strong>de</strong>sta carta e a ele este estudo nos conduz, como ver<strong>em</strong>os <strong>em</strong> seguida, porque a<br />

re<strong>de</strong>nção nos volta a levar ao <strong>de</strong>sígnio original <strong>de</strong> Deus. No capítulo 8 da epístola aos<br />

Romanos, Paulo nos fala <strong>de</strong> Cristo como do Filho primogênito entre muitos "filhos <strong>de</strong><br />

Deus" que o Espírito conduz (Romanos 8:4). "Porque os que dantes conheceu, também<br />

os pre<strong>de</strong>stinou para ser<strong>em</strong> conformes à imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> seu Filho, a fim <strong>de</strong> que ele seja o<br />

primogênito entre muitos irmãos; e aos que pre<strong>de</strong>stinou, a estes também chamou; e aos<br />

que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou"<br />

(Rm 8:29-30). V<strong>em</strong>os aqui que a justificação nos conduz à glória, uma glória que se<br />

expressa não <strong>em</strong> um ou <strong>em</strong> outro indivíduo separado, mas <strong>em</strong> uma pluralida<strong>de</strong>, num<br />

conjunto corpóreo, que ao mesmo t<strong>em</strong>po manifesta a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> "Um" só. E este motivo<br />

<strong>de</strong> nossa re<strong>de</strong>nção nos é apresentado a seguir, como vimos, no "amor <strong>de</strong> Cristo" pelos<br />

seus, que é o objeto dos últimos versículos do capítulo: "Qu<strong>em</strong> nos separará do amor <strong>de</strong><br />

Cristo? a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nu<strong>de</strong>z, ou o<br />

perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor <strong>de</strong> ti somos entregues à morte o dia<br />

todo; fomos consi<strong>de</strong>rados como ovelhas para o matadouro. Mas <strong>em</strong> todas estas coisas<br />

somos mais que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo <strong>de</strong> que, n<strong>em</strong><br />

a morte, n<strong>em</strong> a vida, n<strong>em</strong> anjos, n<strong>em</strong> principados, n<strong>em</strong> coisas presentes, n<strong>em</strong> futuras,<br />

n<strong>em</strong> potesta<strong>de</strong>s, n<strong>em</strong> a altura, n<strong>em</strong> a profundida<strong>de</strong>, n<strong>em</strong> qualquer outra criatura nos<br />

po<strong>de</strong>rá separar do amor <strong>de</strong> Deus, que está <strong>em</strong> Cristo Jesus nosso Senhor" (Rm 8:35-39).<br />

Mas o que está aqui implícito, neste oitavo capítulo, converte-se <strong>em</strong> explícito quando<br />

chegamos ao capítulo 12, cujo t<strong>em</strong>a é precisamente o Corpo <strong>de</strong> Cristo.<br />

Depois dos oito primeiros capítulos da carta aos Romanos, que estudamos, segue-se<br />

um parêntese no qual Paulo, antes <strong>de</strong> resumir o objeto dos primeiros capítulos, começa a<br />

falar das vias soberanas <strong>de</strong> Deus a respeito <strong>de</strong> Israel. Assim, <strong>de</strong> acordo com o objeto <strong>de</strong><br />

que nos ocupamos agora, o argumento do capítulo 12 segue-se ao do capítulo 8, e não<br />

ao do capítulo 11.<br />

Pod<strong>em</strong>os mui simplesmente resumir a mensag<strong>em</strong> <strong>de</strong>stes capítulos como se segue: os<br />

nossos pecados foram perdoados (capítulo 5); nós morr<strong>em</strong>os com Cristo (capítulo 6);<br />

somos por natureza completamente incapazes (capítulo 7); portanto confiamos no<br />

Espírito que mora <strong>em</strong> nós (capítulo 8). Depois disto, as conseqüências: "nós formamos<br />

um só corpo <strong>em</strong> Cristo" (capítulo 12). Eis o resultado lógico <strong>de</strong> tudo o que t<strong>em</strong> precedido,<br />

e o ponto chave para on<strong>de</strong> tudo converge.<br />

Este capítulo 12 aos Romanos, como aqueles que o segu<strong>em</strong>, contém ensinos <strong>de</strong> ord<strong>em</strong><br />

prática para a nossa vida. Paulo nos introduz com um novo apelo à consagração. No<br />

capítulo 6:13, diz: "mas apresentai-vos a Deus, como redivivos <strong>de</strong>ntre os mortos, e os<br />

vossos m<strong>em</strong>bros a Deus, como instrumentos <strong>de</strong> justiça". Mas agora, no capítulo 12:1, o<br />

acento é um pouco diferente: "Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão <strong>de</strong> Deus, que<br />

apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o<br />

vosso culto racional". Este novo apelo à consagração está dirigido a nós como "irmãos",<br />

re-ligando-nos no pensamento, aos "muitos irmãos" do capítulo 8:29. É um apelo que<br />

nos pe<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar todos juntos um passo <strong>de</strong> fé, que nos incita a apresentar nossos<br />

corpos como um "sacrifício vivo" a Deus. Isto ultrapassa o que é puramente individual,<br />

porque implica a participação num todo. A "apresentação" é pessoal, mas o sacrifício é<br />

coletivo; é um único sacrifício. O serviço consciente a Deus é um serviço para<br />

cumprirmos juntos. Não <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os nunca pensar que nosso trabalho não seja necessário,<br />

porque ainda que só contribuísse ao único serviço, Deus estaria satisfeito. E através dum<br />

serviço <strong>de</strong>ste tipo, nós discernimos "qual seja a boa, agradável, e perfeita vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Deus" (Rm 12:2); ou b<strong>em</strong>, <strong>em</strong> outros termos, perceb<strong>em</strong>os o lugar que ocupamos no<br />

<strong>de</strong>sígnio eterno <strong>de</strong> Deus, <strong>em</strong> Jesus Cristo. Assim o apelo <strong>de</strong> Paulo dirigido a "cada um<br />

<strong>de</strong>ntre vós" (12:3), <strong>de</strong>ve ser entendido à luz <strong>de</strong>sta nova realida<strong>de</strong> divina, que "assim<br />

nós, <strong>em</strong>bora muitos, somos um só corpo <strong>em</strong> Cristo, e individualmente uns dos outros"<br />

(Rm 12:5) e, sobre este fundamento, segu<strong>em</strong>-se os ensinos práticos.<br />

O instrumento por meio do qual o Senhor Jesus po<strong>de</strong> revelar-se a esta geração não é<br />

o indivíduo, mas o corpo. Certamente Deus <strong>de</strong>stinou a cada um uma "medida <strong>de</strong> fé"<br />

(12:3); mas sozinho e isolado, o hom<strong>em</strong> não po<strong>de</strong>rá nunca cumprir o <strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong> Deus.<br />

É necessário um corpo inteiro para alcançar a estatura perfeita <strong>de</strong> Cristo e para<br />

manifestar sua glória. Assim, <strong>em</strong> Romanos 12:3-6, Paulo extrai da figura do corpo<br />

humano a lição <strong>de</strong> nossa inteira <strong>de</strong>pendência. Os cristãos singulares não são o corpo,<br />

eles são os m<strong>em</strong>bros do corpo. No corpo humano "os m<strong>em</strong>bros não têm todos a mesma<br />

70


função": a orelha não po<strong>de</strong> acreditar <strong>de</strong> ser um olho; a oração, por fervorosa que seja,<br />

não po<strong>de</strong>rá nunca obter a visão para o ouvido, porém, todo o corpo vê por meio do olho.<br />

Assim, falando <strong>em</strong> sentido figurado, eu posso ter somente o dom do ouvido, mas po<strong>de</strong>rei<br />

ver por meio <strong>de</strong> outros que têm o dom da vista; ou talvez eu possa caminhar, mas não<br />

trabalhar; e então recebo ajuda das mãos. Um comportamento d<strong>em</strong>asiado comum a<br />

respeito das coisas do Senhor é o <strong>de</strong> pensar: "O que eu sou, sou; e o que não sou, não<br />

sou; e posso muito b<strong>em</strong> fazer menos"; mas <strong>em</strong> Cristo as coisas que não sab<strong>em</strong>os, outros<br />

as conhec<strong>em</strong> e por meio <strong>de</strong>les nós pod<strong>em</strong>os conhecê-las e rejubilar-nos.<br />

Permitam-me r<strong>em</strong>arcar o fato que este não é o único pensamento reconfortante: é um<br />

el<strong>em</strong>ento vital da vida dos filhos <strong>de</strong> Deus. não pod<strong>em</strong>os fazer a menos uns pelos outros.<br />

Por isto a comunhão na oração é tão importante. A oração conjunta incr<strong>em</strong>enta o Corpo,<br />

como se vê claramente <strong>em</strong> Mateus 18:19-20: "Também vos digo que, se dois <strong>de</strong> vós<br />

concordar<strong>em</strong> na terra acerca <strong>de</strong> qualquer coisa que pedir<strong>em</strong>, isso lhes será feito por meu<br />

Pai, que está nos céus. Porque, on<strong>de</strong> estiver<strong>em</strong> dois ou três reunidos <strong>em</strong> meu nome, aí<br />

estou eu no meio <strong>de</strong>les". Po<strong>de</strong> não ser suficiente que eu confie sozinho no Senhor; é<br />

necessário que confie nEle junto com os outros. É necessário que aprenda a dizer: "Pai<br />

nosso" sobre o fundamento da unida<strong>de</strong> com o Corpo, porque não servirei para nada s<strong>em</strong><br />

a ajuda do Corpo. No que faz ao serviço isto é ainda mais evi<strong>de</strong>nte. Sozinho, eu, não<br />

posso servir o Senhor com eficácia, e Ele não me poupará nenhuma dificulda<strong>de</strong> para me<br />

fazer ver isso. Ele porá fim a todas as coisas, permitirá que as portas se fech<strong>em</strong> e me<br />

<strong>de</strong>ixará bater <strong>em</strong> vão a cabeça contra a pare<strong>de</strong>, até que eu tenha aprendido que<br />

necessito do auxílio do Corpo tanto como o do Senhor. Porque a vida <strong>de</strong> Cristo é a vida<br />

do Corpo, e os seus dons nos acordaram para que cooper<strong>em</strong>os com a edificação do<br />

Corpo. O Corpo não é uma imag<strong>em</strong>, é um fato.<br />

A Bíblia não diz que a <strong>Igreja</strong> seja similar a um corpo, mas que ela é o "Corpo <strong>de</strong><br />

Cristo". Nós, que somos muitos, formamos um só corpo <strong>em</strong> Cristo e somos todos<br />

m<strong>em</strong>bros os uns dos outros. Todos os m<strong>em</strong>bros reunidos são um único Corpo porque<br />

todos participam <strong>de</strong> sua vida, como se Ele se subdividisse entre seus m<strong>em</strong>bros. Eu<br />

estava, um dia, com um grupo <strong>de</strong> crentes chineses que tinham dificulda<strong>de</strong> para<br />

compreen<strong>de</strong>r como o Corpo pu<strong>de</strong>sse ser um, quando aqueles que o compõ<strong>em</strong> são tantos<br />

homens e mulheres distantes e separados. Um domingo eu estava a ponto <strong>de</strong> partir o<br />

pão para a Ceia do Senhor, mas antes atraí a atenção <strong>de</strong>les sobre aquele pão. A seguir,<br />

<strong>de</strong>pois que ele foi distribuído e comido, fiz observar a eles que, ainda tendo-o repartido<br />

todo entre todos eles, continuava a ser um pão e não muitos pães: o pão havia sido<br />

dividido, mas Cristo não é dividido n<strong>em</strong> sequer no sentido <strong>em</strong> que o pão tinha sido. Ele<br />

continua a ser um único Espírito <strong>em</strong> nós, e nós somos todos "um" nEle.<br />

Este é o verda<strong>de</strong>iro oposto da condição natural do hom<strong>em</strong>. Em Adão eu possuo a vida<br />

<strong>de</strong> Adão, mas essa vida é essencialmente individual. Não existe nenhuma união ou<br />

irmanda<strong>de</strong> com o pecado, mas somente interesse pessoal e <strong>de</strong>sconfiança respeito aos<br />

outros. Mas quando avanço com o Senhor, não d<strong>em</strong>oro <strong>em</strong> <strong>de</strong>scobrir que o probl<strong>em</strong>a do<br />

meu pecado e <strong>de</strong> minha força natural <strong>de</strong>ve ser resolvido, mas que ainda existe um outro<br />

probl<strong>em</strong>a, o da minha vida individual, daquela vida que é auto-suficiente e não<br />

reconhece sua necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> união com o Corpo. Posso ter achado a solução dos<br />

probl<strong>em</strong>as do pecado e da carne e permanecer um teimoso individualista. Desejo<br />

santida<strong>de</strong> e vitória e conseguir muito fruto para mim pessoalmente, à marg<strong>em</strong> das<br />

tentativas mais puras; mas s<strong>em</strong>elhante comportamento ignora o Corpo, e não po<strong>de</strong> dar<br />

satisfação a Deus. Ele <strong>de</strong>ve então agir <strong>em</strong> mim também nisto, <strong>de</strong> outro modo eu ficarei<br />

<strong>em</strong> oposição a Sua vonta<strong>de</strong>. Deus não me censura por ser um indivíduo, mas con<strong>de</strong>na o<br />

meu individualismo. A Sua maior dor não é a divisão e a <strong>de</strong>nominação externa que divi<strong>de</strong><br />

a Sua <strong>Igreja</strong>, mas nossos próprios corações individualistas.<br />

Sim, é necessário que a Cruz realize sua obra <strong>em</strong> mim, l<strong>em</strong>brando-me que estou<br />

morto <strong>em</strong> Cristo para a velha vida in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte que her<strong>de</strong>i <strong>de</strong> Adão, e que na<br />

ressurreição me converti não somente num crente individual <strong>em</strong> Cristo, mas num<br />

m<strong>em</strong>bro do Seu Corpo. Existe uma gran<strong>de</strong> diferença entre estas duas coisas. Quando<br />

tenha compreendido isto <strong>de</strong>verei logo acabar <strong>de</strong> vez com a minha in<strong>de</strong>pendência e<br />

<strong>de</strong>verei procurar irmanda<strong>de</strong>. A vida <strong>de</strong> Cristo <strong>em</strong> mim me impelirá rumo à vida do Cristo<br />

nos outros. Não po<strong>de</strong>rei mais continuar um caminho individual. O ciúme <strong>de</strong>saparecerá, a<br />

rivalida<strong>de</strong> cairá, a obra privada cessará. Os meus interesses, as minhas ambições, as<br />

minhas preferências, tudo isso <strong>de</strong>saparecerá. Pouco importará qu<strong>em</strong> entre nós cumprirá<br />

a obra. Tudo quanto importará será que o Corpo cresça. Eu disse: "quando tenha<br />

entendido isto..." É exatamente o que é necessário: "Ver o Corpo <strong>de</strong> Cristo como uma<br />

outra gran<strong>de</strong> realida<strong>de</strong> divina; ter assimilado <strong>em</strong> nosso espírito, por revelação celestial,<br />

71


que nós que somos muitos, formamos um só corpo <strong>em</strong> Cristo". Somente o Espírito po<strong>de</strong><br />

fazer-nos compreen<strong>de</strong>r completamente este significado, mas quando o faz transtorna a<br />

nossa vida e o nosso trabalho.<br />

MAIS QUE VENCEDORES EM VIRTUDE DE CRISTO<br />

Nós conhec<strong>em</strong>os somente a história <strong>de</strong>pois da queda. Deus a vê <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o princípio.<br />

Havia alguma coisa <strong>em</strong> seu <strong>de</strong>sígnio antes da queda e, no futuro, esta realida<strong>de</strong> será<br />

plenamente cumprida. Deus sabia todo acerca do pecado e da re<strong>de</strong>nção; ainda assim,<br />

<strong>em</strong> seu gran<strong>de</strong> plano com vistas a <strong>Igreja</strong>, que nos foi apresentado <strong>em</strong> Gênesis 2, o<br />

pecado não aparece para nada. É como se (falando <strong>em</strong> termos limitados) Deus tivesse<br />

pulado com o pensamento toda a história da re<strong>de</strong>nção, e visse agora a <strong>Igreja</strong> na<br />

eternida<strong>de</strong> futura, tendo um ministério e uma história (futura), completamente fora do<br />

pecado e inteiramente <strong>de</strong> Deus. É o Corpo <strong>de</strong> Cristo na glória, s<strong>em</strong> nenhuma referência<br />

ao hom<strong>em</strong> caído, mas referente só ao hom<strong>em</strong> que é a imag<strong>em</strong> do Filho do Hom<strong>em</strong><br />

glorificado. Esta é a <strong>Igreja</strong> que satisfaz o coração <strong>de</strong> Deus e que chegou à soberania.<br />

Em Efésios 5 nos encontramos <strong>de</strong> cheio na história da re<strong>de</strong>nção, porém, pela sua<br />

graça, t<strong>em</strong>os ainda diante o eterno <strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong> Deus, expresso na afirmação que "Ele<br />

nos dará uma <strong>Igreja</strong> gloriosa".<br />

Agora observamos que a <strong>Igreja</strong> (contaminada pela queda) t<strong>em</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser<br />

preparada com a água da vida e com a Palavra que purifica para ser apresentada a Cristo<br />

<strong>em</strong> sua glória. Porque exist<strong>em</strong> nela <strong>de</strong>feitos aos quais é preciso r<strong>em</strong>ediar e feridas que é<br />

necessário curar. Ainda assim, quão preciosa é a promessa e como são ricas <strong>de</strong> graça as<br />

palavras que a <strong>de</strong>screv<strong>em</strong>: "s<strong>em</strong> mácula" (as cicatrizes do pecado), cuja própria história<br />

é esquecida; "s<strong>em</strong> ruga" (as marcas da ida<strong>de</strong> e do t<strong>em</strong>po perdido), que são canceladas<br />

porque tudo foi agora reparado e tudo é novo; "irrepreensível", <strong>de</strong> forma que n<strong>em</strong><br />

Satanás, n<strong>em</strong> os homens pod<strong>em</strong> achar nela nenhuma base <strong>de</strong> acusação.<br />

Eis aqui aon<strong>de</strong> t<strong>em</strong>os chegado. O t<strong>em</strong>po corre para a fim, e o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Satanás é<br />

maior do que nunca. Nós <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os lutar contra os anjos, as potesta<strong>de</strong>s, os dominadores<br />

<strong>de</strong>ste mundo <strong>de</strong> trevas (Romanos 8:38; Efésios 6:12), os quais estão <strong>de</strong>cididos a<br />

combater e <strong>de</strong>struir a obra <strong>de</strong> Deus <strong>em</strong> nós, tentando por todos os médios <strong>de</strong> acusar os<br />

eleitos <strong>de</strong> Deus. Sozinhos não po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os afrontar s<strong>em</strong>elhantes adversários; mas o que<br />

não pod<strong>em</strong>os fazer sozinhos, po<strong>de</strong> fazê-lo a <strong>Igreja</strong>. O pecado, a fé <strong>em</strong> nós mesmos e o<br />

individualismo foram os golpes mestres que Satanás levou ao coração do plano <strong>de</strong> Deus<br />

para o hom<strong>em</strong>; porém, na Cruz, Deus anulou seus efeitos. Quando <strong>de</strong>positamos a nossa<br />

fé naquilo que Ele t<strong>em</strong> cumprido —<strong>em</strong> "Deus que justifica" e <strong>em</strong> "Jesus cruz que morreu"<br />

(Romanos 8:33-34)—, formamos uma barreira contra a qual as portas do inferno não<br />

po<strong>de</strong>rão prevalecer. Nós, a <strong>Igreja</strong>, somos "mais que vencedores, por aquele que nos<br />

amou" (Romanos 8:37).<br />

CAPÍTULO 12 – A CRUZ E A VIDA DA ALMA<br />

Deus t<strong>em</strong> plenamente provido à nossa re<strong>de</strong>nção por meio da Cruz <strong>de</strong> Cristo, mas não<br />

se <strong>de</strong>teve nisto somente. Na Cruz também segurou, contra toda possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> falha, o<br />

<strong>de</strong>sígnio eterno do qual Paulo fala <strong>em</strong> Efésios 3:9-11: "...e d<strong>em</strong>onstrar a todos qual seja<br />

a dispensação do mistério que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os séculos esteve oculto <strong>em</strong> Deus, que tudo criou,<br />

para que agora seja manifestada, por meio da igreja, aos principados e potesta<strong>de</strong>s nas<br />

regiões celestes, segundo o eterno propósito que fez <strong>em</strong> Cristo Jesus nosso Senhor".<br />

Diz<strong>em</strong>os que da obra da Cruz resultaram duas conseqüências, ligadas diretamente ao<br />

cumprimento <strong>de</strong>ste plano <strong>em</strong> nós. De uma parte, mediante esta obra, a vida <strong>de</strong> Cristo foi<br />

entregue para encontrar sua expressão <strong>em</strong> nós, por meio do Espírito Santo que mora <strong>em</strong><br />

nós. Por outra parte, ela fez possível aquilo que chamamos "carregar a cruz"; vale dizer,<br />

a nossa cooperação na ação do dia-a-dia <strong>de</strong> sua morte, para que esta nova vida seja<br />

manifestada <strong>em</strong> nós, <strong>de</strong> forma que o "hom<strong>em</strong> natural" seja progressivamente conduzido<br />

ao lugar que <strong>de</strong>ve ocupar <strong>em</strong> submissão ao Espírito Santo. Estas duas conseqüências são<br />

claramente dois aspectos, um positivo e o outro negativo, da mesma obra. Está claro que<br />

nos referimos particularmente ao probl<strong>em</strong>a do proce<strong>de</strong>r <strong>em</strong> uma vida vivenciada para o<br />

Senhor. Até aqui, estudando a vida cristã, nos <strong>de</strong>tiv<strong>em</strong>os nas crises que constitu<strong>em</strong> seu<br />

início. Nos ocupar<strong>em</strong>os agora especialmente do caminho do discípulo, tendo mais<br />

claramente <strong>em</strong> vista seu a<strong>de</strong>stramento para ser um servo <strong>de</strong> Deus. Dele t<strong>em</strong> dito o<br />

Senhor Jesus: "Qu<strong>em</strong> não leva a sua cruz e não me segue, não po<strong>de</strong> ser meu discípulo"<br />

(Lucas 14:27).<br />

72


Dev<strong>em</strong>os então examinar o que é um hom<strong>em</strong> natural e que significa "levar a cruz".<br />

Para compreendê-lo é preciso voltar mais uma vez ao Gênesis, e consi<strong>de</strong>rar como Deus<br />

queria que fosse o hom<strong>em</strong>, quando o criou, e como seu plano foi obstaculizado.<br />

Po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os, <strong>de</strong>ste modo, compreen<strong>de</strong>r os princípios <strong>em</strong> base aos quais fomos feitos<br />

aptos para viver novamente <strong>em</strong> harmonia com este plano.<br />

A VERDADEIRA NATUREZA DA QUEDA<br />

Se tivermos somente uma revelação limitada do plano <strong>de</strong> Deus, não pod<strong>em</strong>os menos<br />

que perceber a importância atribuída à palavra "hom<strong>em</strong>". Nós dir<strong>em</strong>os com o salmista:<br />

"O que é o hom<strong>em</strong>, para que te l<strong>em</strong>bres <strong>de</strong>le?" (Salmo 8:4). A Bíblia nos mostra<br />

claramente que aquilo que Deus <strong>de</strong>seja sobretudo é um hom<strong>em</strong>, um hom<strong>em</strong> segundo<br />

Seu coração.<br />

Deus cria, então, um hom<strong>em</strong>. Nós aprend<strong>em</strong>os <strong>de</strong> Gênesis 2:7 que Adão foi criado<br />

"alma vivente", dotado <strong>de</strong> um espírito com que podia comunicar-se com Deus, e <strong>de</strong> um<br />

corpo físico para estar <strong>em</strong> contacto com a natureza material. (Diversos fragmentos do<br />

Novo Testamento, como 1 Tessalonicenses 5:23 e Hebreus 4:12, confirmam esta tríplice<br />

natureza do ser humano). Por meio <strong>de</strong> seu espírito, Adão estava <strong>em</strong> contacto com o<br />

mundo espiritual <strong>de</strong> Deus; através <strong>de</strong> seu corpo estava <strong>em</strong> contacto com o mundo físico<br />

das coisas materiais. Ele reunia <strong>em</strong> si estes dois aspectos da ação criadora <strong>de</strong> Deus e se<br />

convertia, assim, numa personalida<strong>de</strong>, uma entida<strong>de</strong> vivente no mundo, auto<strong>de</strong>terminada<br />

e com a faculda<strong>de</strong> da livre escolha. Consi<strong>de</strong>rado <strong>em</strong> seu conjunto, ele era<br />

então um ser consciente <strong>de</strong> si e capaz <strong>de</strong> expressar-se por si mesmo, uma "alma<br />

vivente"<br />

Vimos já que Adão foi criado perfeito; com isto quer<strong>em</strong>os dizer que não tinha<br />

imperfeições, porque foi criado por Deus, mas não tinha ainda sido "convertido" <strong>em</strong><br />

perfeito. Ainda necessitava <strong>de</strong> um último retoque: Deus não havia cumprido tudo o que<br />

tinha intenção <strong>de</strong> fazer <strong>em</strong> Adão. Ele tinha alguma coisa a mais <strong>em</strong> vista, porém tudo<br />

isso estava então suspenso. Deus havia procedido ao cumprimento <strong>de</strong> Seu plano criando<br />

o hom<strong>em</strong>, mas seu plano ia além do hom<strong>em</strong>, porque <strong>de</strong>via assegurar a Deus todos os<br />

seus direitos no universo, graças a um instrumento: o hom<strong>em</strong> mesmo. Mas como podia o<br />

hom<strong>em</strong> ser o instrumento do plano <strong>de</strong> Deus? Unicamente com uma cooperação <strong>de</strong>rivante<br />

<strong>de</strong> uma união vivente com Deus. Deus procurou ter sobre a terra não somente uma raça<br />

<strong>de</strong> homens do mesmo sangue, mas uma raça <strong>em</strong> cujo m<strong>em</strong>bro residisse a Sua vida. Uma<br />

raça como essa <strong>de</strong>via superar a queda <strong>de</strong> Satanás e efetivar tudo aquilo que Deus tinha<br />

no coração. Isto era o que Deus tinha <strong>em</strong> vista na criação do hom<strong>em</strong>.<br />

Vimos, também, que Adão foi criado neutro. Ele tinha uma espírito que o capacitava<br />

para estar <strong>em</strong> comunhão com Deus; mas como hom<strong>em</strong> ele não estava ainda, por assim<br />

dizer, <strong>de</strong>finitivamente orientado; tinha o po<strong>de</strong>r e a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolher, porém podia,<br />

se o <strong>de</strong>sejasse, ten<strong>de</strong>r para o lado oposto. O fim <strong>de</strong> Deus para o hom<strong>em</strong> era "o estado <strong>de</strong><br />

filho", ou, <strong>em</strong> outras palavras, a d<strong>em</strong>onstração <strong>de</strong> sua vida nos seres humanos. Esta vida<br />

divina estava representada no jardim do É<strong>de</strong>n pela árvore da vida, a qual produzia um<br />

fruto que o hom<strong>em</strong> podia receber, aceitar, comer. Se Adão, criado neutro, tivesse se<br />

encaminhado voluntariamente nesta via e, escolhendo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Deus, tivesse<br />

recebido o fruto da árvore da vida (que representava a vida mesma <strong>de</strong> Deus), Deus teria<br />

sua vida <strong>em</strong> comunhão com os homens; Ele teria obtido filhos espirituais. Mas se, ao<br />

contrário, Adão se tivesse voltado para a árvore do conhecimento do b<strong>em</strong> e do mal, teria<br />

estado, <strong>em</strong> conseqüência, "livre" para <strong>de</strong>senvolver-se, segundo seus próprios instintos,<br />

fora <strong>de</strong> Deus. Porém, como esta última escolha implicava cumplicida<strong>de</strong> com Satanás,<br />

Adão encontrou-se assim na impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alcançar o fim a que Deus o tinha<br />

<strong>de</strong>stinado.<br />

A ALMA HUMANA<br />

Agora conhec<strong>em</strong>os o caminho escolhido por Adão. Achando-se entre as duas árvores<br />

ce<strong>de</strong>u a Satanás e pegou o fruto da árvore do conhecimento do b<strong>em</strong> e do mal. Isto<br />

<strong>de</strong>terminou a orientação do seu <strong>de</strong>senvolvimento. Daquele momento <strong>em</strong> diante, ele<br />

dispus <strong>de</strong> uma consciência; "ele conhecia". Mas —e aqui chegamos ao ponto— o fruto da<br />

árvore do conhecimento do b<strong>em</strong> e do mal fez do primeiro hom<strong>em</strong> um ser sobre<strong>de</strong>senvolvido<br />

<strong>em</strong> sua alma. A <strong>em</strong>oção foi tocada, porque o fruto era <strong>de</strong>sejável aos olhos,<br />

e ele "<strong>de</strong>sejou"; a mente, com sua possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> arrazoar, se <strong>de</strong>senvolveu porque ele<br />

foi feito "inteligente"; e a sua vonta<strong>de</strong> fortificou-se <strong>de</strong> forma <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r s<strong>em</strong>pre, no futuro,<br />

<strong>de</strong>cidir seu caminho. O fruto serviu para a apertura e <strong>de</strong>senvolvimento da alma, <strong>de</strong> forma<br />

que o hom<strong>em</strong> não foi mas somente uma alma vivente, mas daí <strong>em</strong> diante viveu segundo<br />

73


a sua alma. O hom<strong>em</strong> não possui então mais simplesmente uma alma, mas daquele dia<br />

<strong>em</strong> diante, a alma, com seu po<strong>de</strong>r indispensável <strong>de</strong> livre escolha, tomou o lugar do<br />

espírito como força animadora do hom<strong>em</strong>. Dev<strong>em</strong>os fazer aqui uma distinção entre as<br />

duas coisas, porque a diferença é muito importante. Deus não se opõe ao fato —que é<br />

uma realida<strong>de</strong> <strong>em</strong> Suas intenções— <strong>de</strong> que nós tenhamos uma alma como aquela que foi<br />

dada a Adão. Mas o plano que Deus nos assinou é o <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver alguma coisa. Existe,<br />

hoje, algo no hom<strong>em</strong> que não <strong>de</strong>riva simplesmente da existência <strong>de</strong> sua alma, mas do<br />

fato que ele vive segundo a sua alma. Isto é o que Satanás introduziu por meio da<br />

queda. Ele <strong>em</strong>purrou o hom<strong>em</strong> a <strong>em</strong>penhar-se num caminho on<strong>de</strong> sua alma ter-se-ia<br />

<strong>de</strong>senvolvido a ponto tal <strong>de</strong> converter-se na fonte mesma <strong>de</strong> sua vida.<br />

Dev<strong>em</strong>os, porém, prestar atenção. Para r<strong>em</strong>ediar isto, não é necessário que nós<br />

procur<strong>em</strong>os anular todo aquilo que está na alma. Ninguém po<strong>de</strong> fazer isto. Se hoje a<br />

Cruz age verda<strong>de</strong>iramente <strong>em</strong> nós, isto não significa que fiqu<strong>em</strong>os inertes, insensíveis,<br />

s<strong>em</strong> caráter. Nós possuímos ainda uma alma e todas as vezes que receb<strong>em</strong>os alguma<br />

coisa <strong>de</strong> Deus, ela nos resultará útil, mas como um instrumento, uma faculda<strong>de</strong><br />

submetida exclusivamente a Deus. Todavia, o interrogante é o seguinte: no que<br />

concerne à alma, ficamos nos limites fixados por Deus, ou seja, nos termos que Ele<br />

estabeleceu no princípio no jardim do É<strong>de</strong>n, ou nos saímos <strong>de</strong>stes limites?<br />

O que Deus está fazendo agora é o trabalho do vinhateiro quando constrói uma sebe<br />

<strong>em</strong> volta da vinha. Existe, <strong>em</strong> nossa alma, um <strong>de</strong>senvolvimento indisciplinado, um<br />

crescimento <strong>de</strong>sregulado que <strong>de</strong>ve ser controlado. É necessário que Deus elimine tudo<br />

isto. É necessário que os nossos olhos sejam abertos a estes aspectos da ação <strong>de</strong> Deus<br />

<strong>em</strong> nós. Por um lado, o Senhor procura <strong>de</strong>ixar-nos <strong>em</strong> condições <strong>de</strong> viver a vida <strong>de</strong> seu<br />

Filho. Por outra parte, Ele prossegue uma ação direta <strong>em</strong> nosso coração, para <strong>de</strong>struir os<br />

outros recursos naturais que são o fruto do conhecimento. A cada dia aprend<strong>em</strong>os estas<br />

duas lições: um acréscimo da vida <strong>de</strong> seu Filho, e uma limitação, até a extinção, da outra<br />

vida da alma. Estas duas ações continuam s<strong>em</strong> trégua, porque o Senhor <strong>de</strong>seja um<br />

<strong>de</strong>senvolvimento perfeito da vida <strong>de</strong> seu Filho <strong>em</strong> nós, com o objetivo <strong>de</strong> revelar a Si<br />

mesmo; e por este meio nos re-conduz, naquilo que concerne a nossa alma, ao ponto <strong>de</strong><br />

partida <strong>de</strong> Adão. Paulo disse a este respeito: "pois nós, que viv<strong>em</strong>os, estamos s<strong>em</strong>pre<br />

entregues à morte por amor <strong>de</strong> Jesus, para que também a vida <strong>de</strong> Jesus se manifeste <strong>em</strong><br />

nossa carne mortal" (2 Coríntios 4:11).<br />

O que significa isto? Quer dizer simplesmente que eu não <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>rei nada s<strong>em</strong><br />

confiar-me a Deus. Não acharei nenhuma capacida<strong>de</strong> <strong>em</strong> mim mesmo. Não darei<br />

nenhum passo porque não tenho o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> dá-lo. Embora tenha <strong>em</strong> mim aquele po<strong>de</strong>r<br />

que her<strong>de</strong>i, não o usarei; não colocarei fé alguma <strong>em</strong> mim mesmo. Tomando o fruto,<br />

Adão se converteu <strong>em</strong> possuidor <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> agir autonomamente; contudo, <strong>de</strong> um<br />

po<strong>de</strong>r que, mantendo-o in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Deus, o colocou diretamente nas mãos <strong>de</strong><br />

Satanás. Nós perd<strong>em</strong>os este po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> atuar quando chegamos a conhecer o Senhor. Ele<br />

nos libera e <strong>de</strong>scobrimos que agora nos resulta impossível agir segundo as nossas<br />

próprias iniciativas. Nós <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os viver pela força <strong>de</strong> UM OUTRO; <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os receber tudo<br />

dEle.<br />

Meus queridos amigos, eu creio que conhec<strong>em</strong>os nós mesmos até um certo ponto;<br />

mas d<strong>em</strong>asiado freqüent<strong>em</strong>ente não tr<strong>em</strong><strong>em</strong>os por aquilo que somos. Pod<strong>em</strong>os dizer,<br />

com uma espécie <strong>de</strong> con<strong>de</strong>scendência para com Deus: "Se o Senhor não quer isto, eu<br />

não posso fazê-lo", mas, <strong>em</strong> realida<strong>de</strong>, o nosso subconsciente afirma que pod<strong>em</strong>os agir<br />

muito b<strong>em</strong> por nós mesmos, também quando o Senhor não no-lo pe<strong>de</strong> e n<strong>em</strong> nos dá a<br />

força para fazê-lo. Somos, d<strong>em</strong>asiado amiú<strong>de</strong>, impulsionados a atuar, a pensar, a<br />

<strong>de</strong>cidir, a manifestar a nossa força in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente dEle. Muitos cristãos entre nós<br />

hoje <strong>em</strong> dia são seres sobre-<strong>de</strong>senvolvidos na alma. Somos d<strong>em</strong>asiado gran<strong>de</strong>s <strong>em</strong> nós<br />

mesmos; estamos "dominados pela nossa alma".<br />

Quando nos encontramos neste estado, a vida do Filho <strong>de</strong> Deus está limitada <strong>em</strong> nós,<br />

e quase que obstaculizada <strong>em</strong> sua ação.<br />

A ENERGIA NATURAL NA OBRA DE DEUS<br />

A força e a energia da alma se encontram <strong>em</strong> todos nós. Aqueles que estiveram na<br />

escola do Senhor rejeitam aceitar este princípio como um princípio <strong>de</strong> vida; <strong>de</strong>sist<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

viver segundo ele; não <strong>de</strong>sejam ser dominados e não lhe permit<strong>em</strong> <strong>de</strong> ser a fonte <strong>de</strong><br />

suas forças na obra <strong>de</strong> Deus. Mas aqueles que não foram instruídos por Deus confiam<br />

nelas; as utilizam, pensam que isso seja a força.<br />

Tom<strong>em</strong>os, antes que nada, um ex<strong>em</strong>plo evi<strong>de</strong>nte. Muitos são aqueles <strong>de</strong>ntre nós que<br />

no passado arrazoaram <strong>de</strong>sta forma: "Eis um hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> caráter amável, bom, dotado <strong>de</strong><br />

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uma inteligência clara, <strong>de</strong> um caráter seguro, que possui excelentes aptidões<br />

organizativas". Em nosso íntimo pensamos: "Se este hom<strong>em</strong> fosse crente, quanta<br />

riqueza receberia a <strong>Igreja</strong>! Se somente pertencesse ao Senhor, que valor representaria<br />

para a Sua causa!"<br />

Porém, reflitamos um instante. On<strong>de</strong> conseguiu este hom<strong>em</strong> o seu bom caráter? De<br />

on<strong>de</strong> lhe vêm estas atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> bom organizador e a sua segurança <strong>de</strong> ação? Não do<br />

novo nascimento, porque ele não é ainda nascido <strong>de</strong> novo. Sab<strong>em</strong>os que todos nós<br />

somos nascidos da carne; portanto, é necessário nascer <strong>de</strong> novo. Mas o Senhor Jesus<br />

disse, a este propósito, <strong>em</strong> João 3:6, que "o que é nascido da carne é carne". Tudo<br />

aquilo que provém não do novo nascimento, senão da natureza, é carne, e somente po<strong>de</strong><br />

dar glória ao hom<strong>em</strong>, nunca a Deus. Esta <strong>de</strong>claração é amarga, mas verda<strong>de</strong>ira.<br />

Falamos do po<strong>de</strong>r da alma ou energia natural. O que é esta energia natural? É<br />

simplesmente o que posso fazer, o que eu posso <strong>de</strong> mim mesmo, o que eu her<strong>de</strong>i <strong>em</strong><br />

dons e recursos naturais. Não existe ninguém entre nós que possua esta força da alma, e<br />

a nossa primeira gran<strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> é a <strong>de</strong> reconhecer sua natureza real.<br />

Tom<strong>em</strong>os por ex<strong>em</strong>plo a inteligência humana. Eu posso ter por natureza um<br />

pensamento e um razoamento claro, b<strong>em</strong> estabelecido. Antes <strong>de</strong> meu novo nascimento,<br />

eu possuo por natureza, como alguma coisa que se <strong>de</strong>senvolveu <strong>em</strong> mim normalmente<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o meu nascimento natural. Mas a dificulda<strong>de</strong> surge aqui. Eu me converti, nasci <strong>de</strong><br />

novo, uma obra profunda atuou <strong>em</strong> meu espírito, uma união essencial foi estabelecida<br />

com o Pai <strong>em</strong> meu espírito. Exist<strong>em</strong> então duas coisas <strong>em</strong> mim: eu estou unido a Deus,<br />

com uma ligação que se estabeleceu <strong>em</strong> meu espírito, mas ao mesmo t<strong>em</strong>po carrego<br />

alguma coisa <strong>em</strong> mim que <strong>de</strong>riva ainda do meu nascimento natural. O que <strong>de</strong>vo fazer<br />

com isto?<br />

A tendência natural é esta: eu exercia antes a minha inteligente com gran<strong>de</strong> interesse<br />

na história, nos feitos, na química, nos probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong>ste mundo, na literatura, na poesia.<br />

Consagrava todo o meu pensamento a alcançar aquilo que havia <strong>de</strong> melhor nestes<br />

estudos. Agora, os meus <strong>de</strong>sejos mudaram, e eu utilizo hoje a minha mente, exatamente<br />

da mesma forma, nas coisas <strong>de</strong> Deus. Tenho então mudado o objeto do meu interesse,<br />

mas não mu<strong>de</strong>i o meu método <strong>de</strong> trabalho. Eis a solução do probl<strong>em</strong>a. Os meus<br />

interesses foram completamente mudados (Deus seja louvado por isto!), mas agora,<br />

para estudar a epístola aos Coríntios e aos Efésios, realizo o mesmo <strong>em</strong>penho que antes<br />

adotava para estudar história ou geografia. Mas este engenho não pertence à nova<br />

criação, e Deus não po<strong>de</strong> ficar satisfeito somente com esta mudança <strong>de</strong> interesse. A<br />

dificulda<strong>de</strong> para muitos <strong>de</strong> nós resi<strong>de</strong> no fato que mudamos a direção rumo a qual<br />

estavam voltadas as nossas energias, s<strong>em</strong> ter mudado a fonte <strong>de</strong>stas energias.<br />

Ver<strong>em</strong>os que existe uma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> coisas <strong>de</strong>ste estilo que transferimos do<br />

domínio natural para o serviço do Senhor. Consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os o dom da eloqüência. Exist<strong>em</strong><br />

homens que são oradores natos; eles pod<strong>em</strong> apresentar um t<strong>em</strong>a <strong>de</strong> forma convincente.<br />

Eles se convert<strong>em</strong> e nós, s<strong>em</strong> perguntar-nos qual seja a posição <strong>de</strong>les a respeito das<br />

coisas espirituais, os colocamos sobre um púlpito e os convert<strong>em</strong>os <strong>em</strong> predicadores. Os<br />

encorajamos para usar seus dons naturais para a predicação do Evangelho, e isto é ainda<br />

uma mudança do objeto, conservando a mesma fonte <strong>de</strong> energia. Esquec<strong>em</strong>os que,<br />

quando se trata dos recursos necessários para tratar das coisas <strong>de</strong> Deus, não é mais<br />

questão <strong>de</strong> valor efetivo, mas <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>; é necessário ver <strong>de</strong> qual fonte obt<strong>em</strong>os as<br />

nossas energias. Não se trata daquilo que faz<strong>em</strong>os, antes b<strong>em</strong> dos recursos que<br />

utilizamos e <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> dirige estas energias. O hom<strong>em</strong> apto para ser utilizado por Deus,<br />

po<strong>de</strong> muito b<strong>em</strong> ser eloqüente, mas existe o signo da Cruz sobre essa eloqüência, e no<br />

modo como a usa é evi<strong>de</strong>nte a marca da ação do Espírito <strong>de</strong> Deus. Nós não pensamos<br />

suficient<strong>em</strong>ente na fonte <strong>de</strong> nossas energias, e pensamos d<strong>em</strong>asiado no objetivo ao qual<br />

estão dirigidas, esquecendo que, para o Senhor, o fim não justifica os meios.<br />

O ex<strong>em</strong>plo que se segue nos permitirá provar a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes pensamentos.<br />

O senhor A. é um excelente orador; po<strong>de</strong> falar com gran<strong>de</strong> facilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma<br />

convincente sobre qualquer argumento, mas para as coisas práticas da vida não t<strong>em</strong><br />

nenhuma aptidão. O senhor B., ao contrário, é um orador mísero; não sabe n<strong>em</strong> sequer<br />

se expressar com clareza, e gira s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> volta do seu argumento s<strong>em</strong> nunca atingir<br />

uma conclusão; porém, é um organizador cheio <strong>de</strong> recursos, competente <strong>em</strong> muitos<br />

campos; um hom<strong>em</strong> prático. Estes dois homens se convert<strong>em</strong> e são verda<strong>de</strong>iros crentes.<br />

Suponhamos agora que eu peça aos dois <strong>de</strong> tomar a palavra numa reunião, e que os dois<br />

aceit<strong>em</strong>.<br />

O que acontecerá? Eu pedi a mesma coisa aos dois homens, mas qual dos dois,<br />

segundo vocês, se preparará mais seriamente <strong>em</strong> oração? Certamente o senhor B. Por<br />

75


quê? Porque é ciente <strong>de</strong> sua incapacida<strong>de</strong> oratória e sabe que não possui nenhum<br />

recurso natural sobre o qual se apoiar. Assim orará: "Senhor, se Tu não me dás a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazê-lo, eu não po<strong>de</strong>rei falar <strong>de</strong> Ti". S<strong>em</strong> dúvida o senhor A. orará<br />

também, mas talvez não na mesma forma que o senhor B., porque ele sabe que possue<br />

os recursos naturais.<br />

Suponhamos agora que eu peça a eles não <strong>de</strong> falar, mas <strong>de</strong> solucionar muitos<br />

probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> caráter prático na reunião. O que acontecerá então? A sua posição<br />

recíproca estará exatamente invertida. Agora será o sr A. qu<strong>em</strong> orará intensamente<br />

sabendo b<strong>em</strong> <strong>de</strong> não ter nenhuma capacida<strong>de</strong> organizativa. Também o senhor B. orará,<br />

seguramente, mas não com a mesma insistência, porque, ainda reconhecendo ter<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, não t<strong>em</strong> a mesma consciência <strong>de</strong> incapacida<strong>de</strong> do senhor A. pelas<br />

coisas práticas.<br />

Vê<strong>em</strong> a diferença entre os dons naturais e os dons espirituais?<br />

Tudo aquilo que pod<strong>em</strong>os fazer s<strong>em</strong> oração e s<strong>em</strong> uma constante <strong>de</strong>pendência<br />

completa <strong>em</strong> Deus provém daquela fonte <strong>de</strong> vida natural que está <strong>em</strong> relação com a<br />

carne. É necessário compreen<strong>de</strong>r isto muito claramente. Certamente isto não significa<br />

que sejam qualificados para um particular trabalho somente aqueles que não têm os<br />

dons naturais para cumpri-lo. O ponto a ressaltar é este: quer nós possuamos dons<br />

naturais ou não, é necessário que conheçamos a obra da Cruz, o que significa a morte <strong>de</strong><br />

tudo aquilo que é natural e a nossa <strong>de</strong>pendência completa no Deus da ressurreição.<br />

Invejamos d<strong>em</strong>asiado facilmente o nosso próximo que t<strong>em</strong> algum dom natural,<br />

esquecendo que, se possuirmos nós mesmos algum dom, fora da ação da Cruz, ele<br />

po<strong>de</strong>ria facilmente ser um obstáculo àquilo que Deus tenta <strong>de</strong> manifestar <strong>em</strong> nós.<br />

Pouco t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> minha conversão fui predicar o Evangelho nas favelas. Tinha<br />

recebido uma boa instrução e conhecia b<strong>em</strong> as Escrituras; me consi<strong>de</strong>rava, então, b<strong>em</strong><br />

preparado e capaz <strong>de</strong> ensinar à gente do campo, entre os quais havia muitas mulheres<br />

analfabetas. Mas, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> algumas visitas, percebi que, apesar <strong>de</strong> sua ignorância,<br />

essas mulheres tinham um conhecimento íntimo do Senhor. Eu conhecia b<strong>em</strong> o livro que<br />

elas liam com dificulda<strong>de</strong>, mas elas conheciam b<strong>em</strong> Aquele <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> falava o livro. Eu<br />

tinha uma riqueza na carne; elas tinham uma riqueza no espírito. Quantos cristãos hoje<br />

tentam <strong>de</strong> ensinar aos outros, como eu fazia então, confiando maiormente na força <strong>de</strong><br />

sua sabedoria humana!<br />

Achei, um dia, um jov<strong>em</strong> irmão –jov<strong>em</strong> quanto aos anos, mas com um conhecimento<br />

profundo do Senhor. O Senhor o tinha conduzido através <strong>de</strong> muitas provas. Durante a<br />

nossa conversação lhe perguntei: "Irmão, o que o Senhor t<strong>em</strong> te ensinado realmente<br />

nestes dias?". Ele respon<strong>de</strong>u: "Uma única coisa: que não posso fazer nada s<strong>em</strong> Ele".<br />

"Você quer dizer que verda<strong>de</strong>iramente não po<strong>de</strong> fazer nada?", perguntei ainda. "B<strong>em</strong>,<br />

não", replicou ele, "eu posso fazer muitas coisas! Mas é isto justamente o meu probl<strong>em</strong>a.<br />

Sabe, s<strong>em</strong>pre tive tanta confiança <strong>em</strong> mim mesmo! Sei muito b<strong>em</strong> que posso fazer uma<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> coisas". Então perguntei: "O que você quer dizer então, quando diz que<br />

não po<strong>de</strong> fazer nada s<strong>em</strong> Ele?" Ele respon<strong>de</strong>u: "O Senhor me mostrou que posso fazer<br />

qualquer coisa, mas que Ele <strong>de</strong>clarou: "S<strong>em</strong> mim nada po<strong>de</strong>is fazer". O resultado então é<br />

que tudo o que fiz e posso fazer ainda s<strong>em</strong> Ele não vale nada!"<br />

É necessário chegar a esta compreensão. Eu não quero dizer que não se possam fazer<br />

muitas coisas: <strong>de</strong> fato, pod<strong>em</strong>os. Nós pod<strong>em</strong>os organizar reuniões, edificar igrejas,<br />

pod<strong>em</strong>os ir até os confins da terra e fundar missões e pod<strong>em</strong>os acreditar <strong>de</strong> obter fruto;<br />

mas l<strong>em</strong>br<strong>em</strong>os a palavra do Senhor: "Toda planta que meu Pai celestial não plantou<br />

será arrancada" (Mateus 156:13). Deus é o único autor legítimo do universo. "No<br />

princípio, criou Deus os céus e a terra" (Gênesis 1:1), e o seu Santo Espírito é o único<br />

verda<strong>de</strong>iro criador <strong>em</strong> nossos corações. Tudo aquilo que vocês ou eu possamos projetar<br />

e pôr <strong>em</strong> obra s<strong>em</strong> Ele t<strong>em</strong> a marca da carne e não alcançará nunca o domínio do<br />

Espírito, apesar <strong>de</strong> toda a serieda<strong>de</strong> com que invoqu<strong>em</strong>os as bênçãos <strong>de</strong> Deus para o<br />

nosso esforço. Este estado <strong>de</strong> coisas po<strong>de</strong> se prolongar por anos e então po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os<br />

pensar <strong>em</strong> cumprir um avanço aqui, um melhoramento lá, e talvez levar tudo sobre um<br />

plano melhor; mas não po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os fazer nada <strong>de</strong> tudo isto.<br />

A orig<strong>em</strong> <strong>de</strong> uma coisa <strong>de</strong>termina seu <strong>de</strong>stino, e o que é "da carne" na orig<strong>em</strong> não<br />

po<strong>de</strong>rá nunca se converter <strong>em</strong> espiritual, apesar <strong>de</strong> qualquer "aperfeiçoamento". O que<br />

nasceu da carne é carne e nunca po<strong>de</strong>rá ser outra coisa. Tudo aquilo que pod<strong>em</strong>os<br />

cumprir por nós mesmos é "nada" aos olhos <strong>de</strong> Deus, e <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os aceitar a Sua<br />

<strong>de</strong>saprovação e reconhecer que é mesmo "nada"! "A carne para nada aproveita" (João<br />

6:63). Somente aquilo que provém do Alto po<strong>de</strong> subsistir.<br />

76


Nós não pod<strong>em</strong>os compreen<strong>de</strong>r esta verda<strong>de</strong>, pelo simples fato que a sentimos dizer.<br />

É necessário que Deus nos ensine o que significa, colocando seu <strong>de</strong>do sobre uma coisa<br />

que Ele vê e dizendo-nos: "Isto é natural; isto t<strong>em</strong> sua fonte na velha criação e não t<strong>em</strong><br />

orig<strong>em</strong> <strong>em</strong> Mim, e portanto não po<strong>de</strong> subsistir". Até o momento <strong>em</strong> que Deus não<br />

intervenha <strong>de</strong>sse modo, nós po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os estar <strong>de</strong> acordo com o princípio, mas não<br />

po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os compreendê-lo realmente. Po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os aprovar esta verda<strong>de</strong>, e também<br />

jubilar-nos, mas não ter<strong>em</strong>os verda<strong>de</strong>iramente horror <strong>de</strong> nós mesmos. Um dia chegará<br />

no qual Deus abrirá os nossos olhos. De frente a uma situação particular <strong>de</strong>ver<strong>em</strong>os<br />

reconhecer como <strong>de</strong> uma revelação: "Isto é sujo, é impuro; Senhor, eu vejo!" Esta<br />

palavra "pureza" é uma palavra preciosa. Eu a relaciono s<strong>em</strong>pre com o Espírito. A pureza<br />

representa uma coisa que é absolutamente do Espírito. A impureza significa confusão.<br />

Quando Deus abre os nossos olhos e nos mostra que a vida natural é uma coisa que Ele<br />

não po<strong>de</strong>rá jamais utilizar <strong>em</strong> sua obra, perceb<strong>em</strong>os que não pod<strong>em</strong>os mais seguir<br />

certas doutrinas. Sentimos horror da impureza que existe <strong>em</strong> nós; mas quando estamos<br />

prevenidos acerca disto, Deus começa sua obra <strong>de</strong> liberação.<br />

Em seguida ver<strong>em</strong>os como Deus proveu para esta liberação; mas <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os <strong>de</strong>ter-nos<br />

ainda sobre o fato da revelação.<br />

A LUZ DE DEUS E O CONHECIMENTO<br />

É evi<strong>de</strong>nte que se alguém está <strong>de</strong>cidido a servir ao Senhor com todo seu coração,<br />

sentirá a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> luz. Somente quando foi escolhido por Deus, e tenta aproximarse<br />

dEle, sente quanto seja necessária esta luz. Existe <strong>em</strong> nós uma necessida<strong>de</strong> profunda<br />

<strong>de</strong> luz para conhecer o pensamento <strong>de</strong> Deus, para discernir aquilo que é do Espírito do<br />

que é da alma; para discernir aquilo que é divino daquilo que é simplesmente humano;<br />

para discernir aquilo que é verda<strong>de</strong>iramente celestial daquilo que é terreno; para<br />

distinguir a diferença entre as coisas espirituais e as carnais; para saber se é realmente<br />

Deus qu<strong>em</strong> está dirigindo-nos ou se caminhamos <strong>de</strong>trás <strong>de</strong> nossos sentimentos, nossas<br />

impressões e nossas imaginações.<br />

Quando tenhamos chegado ao ponto <strong>em</strong> que <strong>de</strong>sej<strong>em</strong>os seguir a Deus <strong>em</strong> cada coisa,<br />

reconhecer<strong>em</strong>os que a luz é a coisa mais necessária na vida cristã. Quando me encontro<br />

com irmãos e irmãs mais jovens, uma pergunta se repete s<strong>em</strong>pre: "Como faço para<br />

saber se estou caminhando no Espírito? Como posso discernir se o impulso que existe <strong>em</strong><br />

mim provém do Espírito Santo, ou dos meus sentimentos?" Parece que este probl<strong>em</strong>a<br />

seja a base da preocupação geral, mais alguns foram além. Tentam escavar neles<br />

mesmos, analisar-se, e fazendo isso entram numa escravidão mais profunda. Este<br />

comportamento é verda<strong>de</strong>iramente perigoso para a vida cristã, porque não se po<strong>de</strong>rá<br />

jamais prevenir a consciência interna através da árida senda da auto-análise.<br />

Não está escrito <strong>em</strong> parte nenhuma da Palavra <strong>de</strong> Deus que <strong>de</strong>vamos examinar o<br />

estado interior. 11<br />

Isto nos conduzirá somente à dúvida, ao <strong>de</strong>sequilíbrio, à <strong>de</strong>sesperação. É verda<strong>de</strong> que<br />

<strong>de</strong>v<strong>em</strong>os conhecer nós mesmos, que <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os saber o que acontece <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós. Não<br />

t<strong>em</strong>os o direito <strong>de</strong> repousar num paraíso <strong>de</strong> loucos, n<strong>em</strong> <strong>de</strong> andar por uma falsa senda<br />

s<strong>em</strong> saber que está errada, n<strong>em</strong> <strong>de</strong> ter uma vonta<strong>de</strong> dirigida para o mal, pensando que<br />

seja a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus. mas este conhecimento <strong>de</strong> nós mesmos não po<strong>de</strong> vir olhando<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós e analisando os nossos sentimentos, nossos objetivos e tudo aquilo que se<br />

passa <strong>em</strong> nós, para tentar <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r se caminhamos na carne ou no Espírito.<br />

T<strong>em</strong>os nos Salmos muitos versículos que iluminam este t<strong>em</strong>a. O primeiro encontra-se<br />

no Salmo 36:9: "na tua luz v<strong>em</strong>os a luz". Eu penso que este seja um dos versículos mais<br />

bonitos do Antigo Testamento. Há aqui duas luzes. Existe "tua luz", e quando entramos<br />

nesta luz, nós "v<strong>em</strong>os a luz".<br />

Há uma diferença entre estas duas luzes. Pod<strong>em</strong>os dizer que a primeira é objetiva e a<br />

segunda é subjetiva. A primeira luz é a que pertence a Deus e que é <strong>de</strong>rramada sobre<br />

nós; a segunda, é o conhecimento que receb<strong>em</strong>os daquela luz. "Na tua luz v<strong>em</strong>os a luz";<br />

11 Parece que existam duas exceções: uma se encontra <strong>em</strong> 1 Coríntios 11:28-31 e a outra <strong>em</strong> 2<br />

Coríntios 13:5. A primeira citação exorta a examinar a nós mesmos para ver se reconhec<strong>em</strong>os o<br />

Corpo do Senhor ou não, e isto <strong>em</strong> relação com a Ceia do Senhor, e não com um conhecimento <strong>de</strong><br />

si mesmos. No segundo fragmento, Paulo nos or<strong>de</strong>na severamente <strong>de</strong> examinar-nos para<br />

compreen<strong>de</strong>r se estamos ou não "na fé". Trata-se <strong>de</strong> saber se uma fé fundamental existe <strong>em</strong> nós,<br />

se efetivamente somos cristãos. Isto não t<strong>em</strong> nenhuma relação com o caminho do dia-a-dia no<br />

Espírito, n<strong>em</strong> com o conhecimento <strong>de</strong> nós mesmos (Nota do autor, W.N.).<br />

77


conhecer<strong>em</strong>os alguma coisa; ter<strong>em</strong>os certeza, ver<strong>em</strong>os. Nenhum exame interior po<strong>de</strong>rá<br />

nunca conduzir-nos a esta clareza. Não, é quando a luz nos v<strong>em</strong> <strong>de</strong> Deus que v<strong>em</strong>os.<br />

Isto parece tão simples. Se quisermos estar seguros que o nosso rosto está limpo, o<br />

que faz<strong>em</strong>os? O apalpamos cuidadosamente com as mãos? Certamente não! Pegar<strong>em</strong>os<br />

um espelho e nos olhar<strong>em</strong>os à luz. Nesta luz tudo ficará claro. Nós não ver<strong>em</strong>os jamais<br />

tocando ou analisando. A revelação v<strong>em</strong> somente da luz <strong>de</strong> Deus que penetra <strong>em</strong> nós. E<br />

quando entrou <strong>em</strong> nós não é mais necessário perguntar se uma coisa é boa ou ruim: o<br />

sab<strong>em</strong>os.<br />

L<strong>em</strong>br<strong>em</strong> também daquilo que escreveu o autor do Salmo 139:23: "Sonda-me, ó<br />

Deus, e conhece o meu coração". Perceb<strong>em</strong>, <strong>em</strong> verda<strong>de</strong>, o que significa este pedido?<br />

Não significa certamente que eu investigo a mim mesmo. "Sonda-me", significa "Tu<br />

investiga-me!" É <strong>de</strong>sta forma que nos chega a luz. É preciso que Deus entre <strong>em</strong> mim<br />

para investigar-me, não cabe a mim fazê-lo. Mas isto não quer dizer que eu <strong>de</strong>va<br />

avançar cegamente, s<strong>em</strong> me preocupar do meu verda<strong>de</strong>iro estado. Não é este o ponto. O<br />

que importa é isto: enquanto os meus exames <strong>de</strong> consciência me digam que muitas<br />

coisas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser reparadas, eles não irão nunca <strong>de</strong>baixo da superfície. O verda<strong>de</strong>iro<br />

conhecimento <strong>de</strong> mim mesmo não v<strong>em</strong> do meu investigar-me, mas <strong>de</strong> que Deus me<br />

investigue.<br />

Talvez vocês pergunt<strong>em</strong>: "O que significa, <strong>de</strong> modo prático, ver a luz? Como se po<strong>de</strong><br />

realizar? Como pod<strong>em</strong>os ver a luz pela sua luz?" Aqui o salmista v<strong>em</strong> ainda <strong>em</strong> nossa<br />

ajuda: "A exposição das tuas palavras dá luz; dá entendimento aos simples" (Salmo<br />

139:130). Nas coisas espirituais somos todos "simples". Nós <strong>de</strong>pend<strong>em</strong>os <strong>de</strong> Deus que<br />

nos dá a inteligência, e a necessitamos, particularmente no que concerte a nossa<br />

verda<strong>de</strong>ira natureza. E a Palavra <strong>de</strong> Deus opera s<strong>em</strong>pre oportunamente. No Novo<br />

Testamento, o versículo que afirma isto da maneira mais eficaz se encontra na epístola<br />

aos Hebreus: "Porque a palavra <strong>de</strong> Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer<br />

espada <strong>de</strong> dois gumes, e penetra até a divisão <strong>de</strong> alma e espírito, e <strong>de</strong> juntas e medulas,<br />

e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. E não há criatura alguma<br />

encoberta diante <strong>de</strong>le; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele a<br />

qu<strong>em</strong> hav<strong>em</strong>os <strong>de</strong> prestar contas" (Hebreus 4:12-13).<br />

Sim, é a palavra <strong>de</strong> Deus, a penetrante Escritura da verda<strong>de</strong> que respon<strong>de</strong> a todos os<br />

nossos interrogantes. É ela que discerne os nossos motivos e <strong>de</strong>fine para nós sua<br />

verda<strong>de</strong>ira fonte, na alma e no Espírito. Com isto, penso que agora po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os passar do<br />

aspecto doutrinário do probl<strong>em</strong>a ao seu aspecto prático. A maior parte <strong>de</strong> nós, estou<br />

seguro, <strong>de</strong>seja ter uma vida íntegra diante <strong>de</strong> Deus. Nos aperfeiçoamos e não<br />

discernimos nada d<strong>em</strong>asiado irreparável <strong>em</strong> nós. Proce<strong>de</strong>ndo ainda, reconhec<strong>em</strong>os a<br />

verda<strong>de</strong> daquela asserção: "As tuas palavras são uma revelação que nos ilumina". Deus<br />

utilizou um dos seus servos para colocar-nos <strong>de</strong> frente à sua Palavra, e esta Palavra<br />

penetrou <strong>em</strong> nosso coração. Ou talvez nos tenhamos colocado diante <strong>de</strong> Deus,<br />

esperando que Ele falasse e <strong>de</strong> repente, <strong>em</strong> nosso pensamento, ou ainda na página que<br />

estava diante <strong>de</strong> nós, a sua Palavra nos alcançou com po<strong>de</strong>r. Então v<strong>em</strong>os alguma coisa<br />

que não tínhamos observado antes. Nos sentimos culpados. Sab<strong>em</strong>os exatamente o que<br />

há <strong>de</strong> errado <strong>em</strong> nós, e alçamos o nosso olhar ao Senhor para confessá-lo: "Senhor, eu<br />

vejo. Há impureza. Há confusão. Como eu estava cego! E pensar que por tantos anos<br />

permaneci neste erro, s<strong>em</strong> jamais percebê-lo!" A luz entra <strong>em</strong> nós e então v<strong>em</strong>os a luz.<br />

A luz <strong>de</strong> Deus se reflete <strong>em</strong> nós e é verda<strong>de</strong> que cada conhecimento <strong>de</strong> nós mesmos nos<br />

chega <strong>de</strong>ste modo.<br />

Po<strong>de</strong> ser também que certas revelações não nos chegu<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre das Escrituras.<br />

Alguns <strong>de</strong> nós conhec<strong>em</strong>os santos que tinham um s<strong>em</strong>elhante conhecimento do Senhor,<br />

e orando ou falando com eles, na luz <strong>de</strong> Deus que <strong>de</strong>les se irradiava, achamos alguma<br />

coisa que não tínhamos jamais imaginado antes. Eu conheci uma <strong>de</strong>stas pessoas que<br />

está agora com o Senhor, e a l<strong>em</strong>brança que conservei <strong>de</strong>la é a <strong>de</strong> uma crente<br />

"iluminada". Bastava que entrasse <strong>em</strong> seu quarto para ter imediatamente consciência da<br />

presença <strong>de</strong> Deus. Naquele t<strong>em</strong>po eu era muito jov<strong>em</strong>, tinham se passado somente dois<br />

anos <strong>de</strong> minha conversão e tinha uma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> projetos, <strong>de</strong> belíssimos<br />

pensamentos, <strong>de</strong> planos para apresentar à aprovação do Senhor, c<strong>em</strong> coisas que eu<br />

achava seriam maravilhosas se pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> ser realizadas.<br />

Fui diante <strong>de</strong>la com todas aquelas coisas, para tentar persuadi-la e explicá-lhe que<br />

precisava fazer isto ou aquilo. Antes que eu pu<strong>de</strong>sse falar, ela me disse somente alguma<br />

palavra, da forma mais natural. Então, a luz brilhou e eu me senti imediatamente<br />

confuso. Todo o meu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> "fazer" e o meu projetar se revelaram somente naturais,<br />

cheios <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong>. Então aconteceu uma coisa. Fui levado ao ponto <strong>de</strong> ter que dizer:<br />

78


"Senhor, meus pensamentos estão baseados somente <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s humanas, mas há<br />

aqui alguém que, ao contrario, não se preocupa com nada; ensina-me a imitá-la". Ela<br />

tinha só uma razão <strong>de</strong> ser, um único <strong>de</strong>sejo, e era para Deus. Sobre a primeira página <strong>de</strong><br />

sua Bíblia estava escrita esta frase: "Senhor, eu não quero nada para mim mesma". Sim,<br />

vivia somente para o Senhor. Quando encontr<strong>em</strong> uma pessoa que age assim, acharão<br />

s<strong>em</strong>pre que ela está imersa na luz, e que aquela luz ilumina os outros. Aquele é o<br />

verda<strong>de</strong>iro test<strong>em</strong>unho. 12<br />

A luz obe<strong>de</strong>ce a uma única lei: aclara as coisas on<strong>de</strong> penetra. Esta é a única condição<br />

que impõe. Nós pod<strong>em</strong>os rejeitá-la; é a única coisa que ela t<strong>em</strong>e. Mas se nos abrimos e<br />

nos abandonamos a Deus, Ele se revelará. As dificulda<strong>de</strong>s acontec<strong>em</strong> quando t<strong>em</strong>os <strong>em</strong><br />

nós zonas fechadas, ângulos hermeticamente cerrados <strong>em</strong> nosso coração, on<strong>de</strong><br />

pensamos com orgulho ter a razão. A nossa <strong>de</strong>rrota consiste então menos no fato <strong>de</strong> que<br />

erramos que <strong>em</strong> não saber que erramos. O erro po<strong>de</strong> ser uma questão <strong>de</strong> força natural;<br />

a ignorância é questão <strong>de</strong> luz. Pod<strong>em</strong> ver a força natural nos outros, mas eles não pod<strong>em</strong><br />

vê-la <strong>em</strong> si mesmos. Oh, como t<strong>em</strong>os necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sermos sinceros e humil<strong>de</strong>s, e <strong>de</strong><br />

abrir-nos diante <strong>de</strong> Deus! Aqueles que são abertos, pod<strong>em</strong> ver. Deus é luz, e nós não<br />

pod<strong>em</strong>os viver <strong>em</strong> sua luz e permanecer fechados. Repetimos ainda com o salmista:<br />

"Envia a tua luz e a tua verda<strong>de</strong>, para que me gui<strong>em</strong>" (Salmo 43:3).<br />

Nós agra<strong>de</strong>c<strong>em</strong>os a Deus porque hoje mais que antes o pecado é colocado diante da<br />

consciência dos cristãos. Em muitos lugares os olhos dos crentes foram abertos para ver<br />

que a vitória sobre o pecado é importante na vida cristã; e <strong>em</strong> conseqüência muitos<br />

caminhamos mais perto <strong>de</strong> Deus para procurar nEle a liberação. Louvamos o Senhor por<br />

cada movimento que nos aproxima mais dEle, por cada movimento que nos reconduz a<br />

uma verda<strong>de</strong>ira santida<strong>de</strong> diante <strong>de</strong> Deus. Contudo, ainda não é suficiente. Existe uma<br />

coisa que <strong>de</strong>ve ser curada e é a vida mesma do hom<strong>em</strong>, não somente seus pecados. No<br />

centro do probl<strong>em</strong>a está a energia <strong>de</strong> sua alma, a força que o move. Fazer alguma coisa<br />

do pecado ou ainda da carne <strong>em</strong> suas manifestações naturais é continuar a permanecer<br />

na superfície, não alcançar a raiz da questão. Adão não fez entrar o mundo no pecado<br />

cometendo assassinato. Isto aconteceu <strong>de</strong>pois. Adão <strong>de</strong>ixou entrar o pecado escolhendo<br />

ter uma alma <strong>de</strong>senvolvida a ponto <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r caminhar sozinho, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Deus.<br />

Quando, ao contrário, Deus cria para Sua glória uma raça <strong>de</strong> homens que será o<br />

instrumento <strong>de</strong> que se servirá para cumprir seu plano no universo, esta raça constituirá<br />

um povo cuja vida, cujo próprio alento <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá dEle. Ele será para eles "a árvore da<br />

vida".<br />

A necessida<strong>de</strong> que eu sinto s<strong>em</strong>pre mais forte <strong>em</strong> mim mesmo é a <strong>de</strong> crer que todos<br />

nós, como filhos <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os pedi-Lhe a verda<strong>de</strong>ira revelação <strong>de</strong> nós mesmos.<br />

Repito, não entendo com isso examinar-nos continuamente a nós mesmos, perguntandonos:<br />

"Isto é da alma ou do Espírito?". Isto não nos conduzirá a nada; é somente<br />

escuridão. Não, as Escrituras nos mostram como os santos chegaram a um conhecimento<br />

<strong>de</strong>les mesmos. Foi s<strong>em</strong>pre por uma luz proveniente <strong>de</strong> Deus, e essa luz é Deus mesmo.<br />

Isaias, Ezequiel, Daniel, Pedro, Paulo, João, todos eles chegaram a um conhecimento <strong>de</strong><br />

si mesmos porque o Senhor fez resplan<strong>de</strong>cer sua luz sobre eles e aquela luz produziu<br />

revelação e conhecimento (Is 6:5; Ez 1:28; Dn 10:8; Lc 22:61-62; At 9:3-5; Ap 1:17).<br />

Nós não conhecer<strong>em</strong>os nunca suficiente como o pecado seja odioso e como a nossa<br />

natureza seja enganosa até que Deus não nos tenha iluminado com a Sua luz. Eu não<br />

falo <strong>de</strong> uma sensação, mas <strong>de</strong> uma revelação interior do Senhor mesmo, através <strong>de</strong> sua<br />

Palavra. Esta irrupção da luz divina faz por nós o que a doutrina sozinha não po<strong>de</strong>rá<br />

jamais fazer.<br />

Cristo é a nossa luz; e é a Palavra vivente. Quando l<strong>em</strong>os a Escritura, esta vida nEle<br />

nos traz a revelação. "E a vida era a luz dos homens" (João 1:4). Uma s<strong>em</strong>elhante luz<br />

po<strong>de</strong> não penetrar <strong>de</strong> repente por completo, mas gradualmente; mas ela será s<strong>em</strong>pre<br />

mais clara e penetrante, até que vejamos a luz <strong>de</strong> Deus e toda a confiança <strong>em</strong> nós<br />

<strong>de</strong>sapareça. Porque a luz é o que há <strong>de</strong> mais puro no mundo. Ela purifica, esteriliza,<br />

elimina o que não <strong>de</strong>ve existir. Em sua clarida<strong>de</strong> "a divisão <strong>de</strong> juntas e medulas"<br />

converte-se num fato para nós e cessa <strong>de</strong> ser um ensino. Experimentamos t<strong>em</strong>or e<br />

tr<strong>em</strong>or a medida que compreend<strong>em</strong>os a corrupção da natureza humana, o odioso <strong>de</strong><br />

nosso "eu", e a verda<strong>de</strong>ira ameaça que para a obra <strong>de</strong> Deus t<strong>em</strong> a vida <strong>de</strong> nossa alma e<br />

12 Este é uma das muitas referências do autor à <strong>de</strong>funta Miss Margaret B. Barber da Er<strong>em</strong>ita da<br />

Pagoda, <strong>de</strong> Foochow (Ed.).<br />

79


a energia não controlada pelo seu Espírito Santo. Como nunca antes, v<strong>em</strong>os agora<br />

quanto é necessário da ação severa <strong>de</strong> Deus <strong>em</strong> nós, se Ele <strong>de</strong>ve utilizar-nos, e sab<strong>em</strong>os<br />

que s<strong>em</strong> Ele somos servos completamente inúteis.<br />

Mas aqui a cruz, <strong>em</strong> seu significado mais amplo, v<strong>em</strong> ainda <strong>em</strong> nossa ajuda e<br />

procurar<strong>em</strong>os agora compreen<strong>de</strong>r um aspecto <strong>de</strong> sua obra que toca e resolve o probl<strong>em</strong>a<br />

<strong>de</strong> nossa alma. Porque somente uma compreensão completa da Cruz po<strong>de</strong> conduzir-nos<br />

àquela posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência que o Senhor Jesus voluntariamente aceitou quando<br />

disse: "Eu não posso <strong>de</strong> mim mesmo fazer coisa alguma. Como ouço, assim julgo; e o<br />

meu juízo é justo, porque não busco a minha vonta<strong>de</strong>, mas a vonta<strong>de</strong> do Pai que me<br />

enviou" (João 5:30).<br />

80<br />

CAPÍTULO 13 – O CAMINHO DO PROGRESSO: CARREGAR A CRUZ<br />

Várias vezes, no capítulo prece<strong>de</strong>nte, tocamos o argumento do serviço para o Senhor.<br />

Como agora examinar<strong>em</strong>os a solução que Deus <strong>de</strong>u ao probl<strong>em</strong>a da vida da alma, será<br />

bom aproximar-nos a este probl<strong>em</strong>a consi<strong>de</strong>rando, antes que nada, os princípios que<br />

governam este processo. Deus fixou leis espirituais que dirig<strong>em</strong> o nosso trabalho para<br />

Ele, e das quais não po<strong>de</strong> se <strong>de</strong>sviar nenhum daqueles que pretend<strong>em</strong> servi-Lo. A base<br />

da nossa salvação, b<strong>em</strong> o sab<strong>em</strong>os, é o fato da morte e ressurreição do Senhor, mas as<br />

condições <strong>de</strong> nosso serviço não são menos precisas. Da mesma forma que o fato da<br />

morte e ressurreição do Senhor é a base sobre a qual somos aceitos por Deus, assim<br />

também o princípio da morte e da ressurreição é a base <strong>de</strong> nossa vida e do nosso serviço<br />

para Ele.<br />

Se é assim, se o Filho do hom<strong>em</strong>, para cumprir sua obra <strong>de</strong>veu atravessar a morte e a<br />

ressurreição (como símbolo e como princípio), po<strong>de</strong>ria ser diferente para nós?<br />

Certamente nenhum servo <strong>de</strong> Deus po<strong>de</strong>rá nunca servi-Lo s<strong>em</strong> conhecer ele mesmo a<br />

ação <strong>de</strong>ste princípio <strong>em</strong> sua vida. Isto está fora <strong>de</strong> discussão.<br />

O Senhor d<strong>em</strong>onstrou isto b<strong>em</strong> claramente aos seus discípulos, antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixá-los. Ele<br />

estava morto e ressuscitado, e então disse a eles <strong>de</strong> esperá-Lo <strong>em</strong> Jerusalém para ser<strong>em</strong><br />

revestidos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. O que é este po<strong>de</strong>r do Espírito Santo, este "po<strong>de</strong>r do alto" <strong>de</strong> que<br />

Ele falava? Nada menos que a virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua morte, <strong>de</strong> sua ressurreição e <strong>de</strong> sua<br />

ascensão; para adotar uma outra figura, o Espírito Santo é o vaso, <strong>de</strong>ntro do qual são<br />

<strong>de</strong>positados todos os valores da morte, ressurreição e exaltação do Senhor para que<br />

possam ser distribuídos. É o Espírito qu<strong>em</strong> "contém" estes valores e os entrega aos<br />

homens. É esta a razão pela qual o Espírito Santo não podia ser entregue antes que o<br />

Senhor tivesse sido glorificado. Somente então pô<strong>de</strong> <strong>de</strong>scer sobre os homens e mulheres<br />

para que foss<strong>em</strong> Suas test<strong>em</strong>unhas; porque s<strong>em</strong> o valor da morte e da ressurreição <strong>de</strong><br />

Cristo, este test<strong>em</strong>unho não é possível.<br />

Se observarmos no Antigo Testamento, achar<strong>em</strong>os o mesmo princípio. Gostaria <strong>de</strong><br />

l<strong>em</strong>brar a vocês um fragmento b<strong>em</strong> conhecido do capítulo 17 <strong>de</strong> Números. O ministério<br />

<strong>de</strong> Arão tinha sido objetado. Uma discussão havia se levantado entre o povo: Arão tinha<br />

sido verda<strong>de</strong>iramente escolhido por Deus? Reinava uma certa <strong>de</strong>sconfiança a esse<br />

respeito, e diziam: "Nós não sab<strong>em</strong>os se este hom<strong>em</strong> foi verda<strong>de</strong>iramente <strong>de</strong>signado por<br />

Deus". Deus quis então provar qu<strong>em</strong> era seu servo e qu<strong>em</strong> não o era. Como fez? Doze<br />

varas mortas, portando cada uma um nome, foram colocadas perante o Eterno, no<br />

Santuário, diante da arca do test<strong>em</strong>unho, e ali permaneceram durante toda uma noite.<br />

Na manhã seguinte o Eterno indicou o servo que foi escolhido por meio da vara que tinha<br />

germinado, florescido e produzido fruto. Todos conhec<strong>em</strong>os o significado <strong>de</strong>sta<br />

experiência. A vara <strong>de</strong> amêndoas que germina fala da ressurreição. São a morte e a<br />

ressurreição que provam o ministério que Deus reconhece. S<strong>em</strong> este reconhecimento nós<br />

não t<strong>em</strong>os nenhum valor. O germinar da vara <strong>de</strong> Arão d<strong>em</strong>onstrou que ele estava na<br />

justa posição; Deus reconhecerá como seus servos somente àqueles que alcançaram a<br />

ressurreição através da morte.<br />

Vimos que a morte do Senhor age <strong>de</strong> diversas formas. Sab<strong>em</strong>os como nos levou a<br />

receber o perdão dos nossos pecados, e que s<strong>em</strong> a aspersão do sangue não há r<strong>em</strong>issão.<br />

Depois, vimos como a sua morte atua para liberar-nos do domínio do pecado, e que o<br />

nosso velho hom<strong>em</strong> foi crucificado com Ele a fim que nós não sirvamos mais o pecado. A<br />

seguir, foi apresentado o probl<strong>em</strong>a da vonta<strong>de</strong> do "eu", e a nossa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

consagração ficou evi<strong>de</strong>nte; compreend<strong>em</strong>os, então, que a morte não agiu <strong>em</strong> nós para<br />

ce<strong>de</strong>r o lugar a um espírito disposto a abandonar a própria vonta<strong>de</strong> e obe<strong>de</strong>cer somente<br />

o Senhor. Isto constitui, <strong>em</strong> verda<strong>de</strong>, um ponto <strong>de</strong> partida para o nosso serviço, mas não


toca ainda o centro da questão. Po<strong>de</strong> ainda subsistir <strong>em</strong> nós uma falta <strong>de</strong> conhecimento<br />

do significado da alma.<br />

Depois um outro fragmento foi apresentado <strong>em</strong> Romanos 7, on<strong>de</strong> se examina o<br />

probl<strong>em</strong>a da santida<strong>de</strong> da vida, <strong>de</strong> uma santida<strong>de</strong> pessoal e viva. Ali achamos um<br />

verda<strong>de</strong>iro hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> Deus que, procurando com sua justiça agradar a Deus, se coloca<br />

sob a lei e a lei lhe revela o que ele é. Ele tenta agradar a Deus operando seu esforço<br />

humano, e a Cruz o <strong>de</strong>ve conduzir a ponto <strong>de</strong> fazê-lhe dizer: "Não posso fazer isto; não<br />

posso satisfazer a Deus com as minhas próprias forças; posso somente confiar que o<br />

Espírito Santo o faça <strong>em</strong> mim".<br />

Eu acredito que algum <strong>de</strong> vocês tenha atravessado águas profundas antes <strong>de</strong><br />

apren<strong>de</strong>r esta verda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir o valor da morte do Senhor que age assim.<br />

Porém, observ<strong>em</strong>: existe ainda uma gran<strong>de</strong> diferença entre "a carne" <strong>de</strong> que fala<br />

Romanos 7 <strong>em</strong> relação com a santida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, e a ação das energias naturais da vida<br />

da alma no serviço do Senhor. Mas quando tenhamos conhecido aquilo <strong>de</strong> que falamos<br />

através <strong>de</strong> nossa experiência, ficará ainda uma outra esfera na qual <strong>de</strong>verá atuar a<br />

morte do Senhor, para que possamos ser-Lhe úteis <strong>em</strong> Seu serviço. Embora tenhamos<br />

realizado todas estas experiências, o Senhor não po<strong>de</strong>rá ainda contar conosco até que<br />

outras obras tenham sido completadas <strong>em</strong> nós.<br />

Quantos servos do Senhor foram utilizados por Ele, como diz uma expressão chinesa,<br />

para construir quatro metros <strong>de</strong> muro, mas somente porque <strong>de</strong>pois eles mesmos<br />

<strong>de</strong>stro<strong>em</strong> cinco metros! Nós somos utilizados num sentido mas, ao mesmo t<strong>em</strong>po,<br />

d<strong>em</strong>olimos o nosso trabalho e, às vezes, também o <strong>de</strong> outros, porque existe ainda <strong>em</strong><br />

nós alguma coisa que não foi tocada pelo Senhor. Dev<strong>em</strong>os então ver como o Senhor<br />

estabeleceu agir com a alma e <strong>de</strong>pois, mais particularmente, como isto tenha a ver com<br />

nosso serviço para Ele.<br />

A OBRA SUBJETIVA DA CRUZ<br />

Consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os quatro fragmentos dos Evangelhos. Esses são:<br />

"Não cui<strong>de</strong>is que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada; porque eu<br />

vim pôr <strong>em</strong> dissensão o hom<strong>em</strong> contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra<br />

sua sogra; e assim os inimigos do hom<strong>em</strong> serão os seus familiares. Qu<strong>em</strong> ama o pai ou a<br />

mãe mais do que a mim não é digno <strong>de</strong> mim; e qu<strong>em</strong> ama o filho ou a filha mais do que<br />

a mim não é digno <strong>de</strong> mim. E qu<strong>em</strong> não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é<br />

digno <strong>de</strong> mim. Qu<strong>em</strong> achar a sua vida perdê-la-á; e qu<strong>em</strong> per<strong>de</strong>r a sua vida, por amor<br />

<strong>de</strong> mim, acha-la-á" (Mateus 10:34-39).<br />

"E dizia abertamente estas palavras. E Pedro o tomou à parte, e começou a<br />

repreendê-lo. Mas ele, virando-se, e olhando para os seus discípulos, repreen<strong>de</strong>u a<br />

Pedro, dizendo: Retira-te <strong>de</strong> diante <strong>de</strong> mim, Satanás; porque não compreen<strong>de</strong>s as coisas<br />

que são <strong>de</strong> Deus, mas as que são dos homens. E chamando a si a multidão, com os seus<br />

discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a<br />

sua cruz, e siga-me. Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas,<br />

qualquer que per<strong>de</strong>r a sua vida por amor <strong>de</strong> mim e do evangelho, esse a salvará"<br />

(Marcos 8:32-35).<br />

"L<strong>em</strong>brai-vos da mulher <strong>de</strong> Ló. Qualquer que procurar salvar a sua vida, perdê-la-á, e<br />

qualquer que a per<strong>de</strong>r, salva-la-á. Digo-vos que naquela noite estarão dois numa cama;<br />

um será tomado, e outro será <strong>de</strong>ixado" (Lucas 17:32-34).<br />

"Na verda<strong>de</strong>, na verda<strong>de</strong> vos digo que, se o grão <strong>de</strong> trigo, caindo na terra, não<br />

morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto. Qu<strong>em</strong> ama a sua vida perdê-la-á, e<br />

qu<strong>em</strong> neste mundo o<strong>de</strong>ia a sua vida, guarda-la-á para a vida eterna. Se alguém me<br />

serve, siga-me, e on<strong>de</strong> eu estiver, ali estará também o meu servo. E, se alguém me<br />

servir, meu Pai o honrará" (João 12:24-26).<br />

Estes quatro fragmentos têm um t<strong>em</strong>a <strong>em</strong> comum. Em cada um <strong>de</strong>les, o Senhor fala<br />

da ativida<strong>de</strong> da alma humana e <strong>em</strong> cada um <strong>de</strong>les, põe <strong>em</strong> evidência um aspecto ou uma<br />

manifestação diversa da vida da alma. Nestes versículos Ele <strong>de</strong>clara muito claramente<br />

que o probl<strong>em</strong>a da alma do hom<strong>em</strong> po<strong>de</strong> ser resolvido <strong>de</strong> um único modo: o <strong>de</strong> levar<br />

cada dia nossa Cruz para segui-Lo.<br />

Como já vimos, a vida da alma ou vida natural, <strong>de</strong> que falamos, é uma coisa que vai<br />

além do que se diz nos versículos que se refer<strong>em</strong> ao velho hom<strong>em</strong> ou a carne.<br />

Procuramos d<strong>em</strong>onstrar claramente que, no que diz respeito ao nosso velho hom<strong>em</strong>,<br />

Deus r<strong>em</strong>arca o que Ele cumpriu, <strong>de</strong> uma vez por todas, crucificando-nos com Cristo<br />

sobre a Cruz. Vimos que três vezes na epístola aos Gálatas o fato da crucifixão é<br />

l<strong>em</strong>brado como um fato cumprido; e <strong>em</strong> Romanos 6:6 nos diz claramente que "nosso<br />

81


velho hom<strong>em</strong> foi crucificado", ou seja que, se o t<strong>em</strong>po do verbo t<strong>em</strong> um significado,<br />

po<strong>de</strong>ria ser parafraseado <strong>de</strong>sta forma: "Nosso velho hom<strong>em</strong> foi, <strong>de</strong>finitivamente e para<br />

s<strong>em</strong>pre, crucificado". É um fato cumprido que nós <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os tomar por revelação divina e<br />

apropriar-nos <strong>de</strong>le, portanto, pela fé.<br />

Mas existe um outro aspecto da Cruz, o que está indicado na expressão "levar cada<br />

dia a cruz", que agora está diante <strong>de</strong> nós. Eu fui colocado sobre a Cruz, agora a <strong>de</strong>vo<br />

carregar; e "levar a cruz" é um fato interno. Entend<strong>em</strong>os isto quando falamos da obra<br />

subjetiva da Cruz. É um contínuo progredir; é seguir o Senhor, passo a passo. É o fato<br />

que agora está perante nós, no que concerne a alma, e, como diss<strong>em</strong>os, a ênfase não é<br />

mais a mesma que quando se tratava do velho hom<strong>em</strong>. Não nos é falado aqui da<br />

"crucifixão da alma mesma", no sentido que os nossos dons e as nossas faculda<strong>de</strong>s<br />

naturais, a nossa personalida<strong>de</strong> e individualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vam ser totalmente <strong>de</strong>ixadas <strong>de</strong><br />

lado. Se assim fosse, não po<strong>de</strong>ria ser-nos dito, como <strong>em</strong> Hebreus 10:39, que "<strong>de</strong>v<strong>em</strong>os<br />

ter fé para salvar a alma", e ainda "Alcançando o fim da vossa fé, a salvação das vossas<br />

almas" (1 Pedro 1:9), ou b<strong>em</strong> "Na vossa paciência possuí as vossas almas" (Lucas<br />

21:19). Não, não é neste sentido que perd<strong>em</strong>os as nossas almas, porque isto seria<br />

per<strong>de</strong>r completamente a nossa experiência individual. A alma está s<strong>em</strong>pre ali com seus<br />

dons naturais, mas a Cruz <strong>de</strong>ve fazer passar estes dons através da morte; <strong>de</strong>ve colocar<br />

sobre estes dons naturais a marca da morte do Cristo, para restituí-los a seguir, como<br />

agradará a Deus, na gloriosa ressurreição.<br />

Neste sentido, quando Paulo escreve aos Filipenses, ele expressa o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

"conhecê-lo (a Jesus Cristo), e à virtu<strong>de</strong> da sua ressurreição, e à comunicação <strong>de</strong> suas<br />

aflições, sendo feito conforme à sua morte" (Fp 3:10). O símbolo da morte está s<strong>em</strong>pre<br />

sobre a alma, para guiá-la à submissão do Espírito, para que não afirme jamais a própria<br />

in<strong>de</strong>pendência. Só a Cruz, operando assim, po<strong>de</strong> produzir um hom<strong>em</strong> da estatura <strong>de</strong><br />

Paulo, eliminando cada valor aos seus recursos naturais (Filipenses 3) e às próprias<br />

forças, <strong>de</strong> forma tal <strong>de</strong> levá-lo a escrever aos Coríntios: "E eu, irmãos, quando fui ter<br />

convosco, anunciando-vos o test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong> Deus, não fui com sublimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> palavras<br />

ou <strong>de</strong> sabedoria. Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este<br />

crucificado. E eu estive convosco <strong>em</strong> fraqueza, e <strong>em</strong> t<strong>em</strong>or, e <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> tr<strong>em</strong>or. A<br />

minha palavra, e a minha pregação, não consistiram <strong>em</strong> palavras persuasivas <strong>de</strong><br />

sabedoria humana, mas <strong>em</strong> d<strong>em</strong>onstração <strong>de</strong> Espírito e <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r; para que a vossa fé<br />

não se apoiasse <strong>em</strong> sabedoria dos homens, mas no po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Deus" (1 Coríntios 2:1-5).<br />

A alma é a se<strong>de</strong> dos sentimentos e nós sab<strong>em</strong>os b<strong>em</strong> qual influência eles têm sobre<br />

nossas <strong>de</strong>cisões e ações. Não há nada <strong>de</strong> <strong>de</strong>liberadamente malvado neles, entendamonos,<br />

mas contudo —por ex<strong>em</strong>plo— faz<strong>em</strong> crescer <strong>em</strong> nós uma afeição natural a respeito<br />

<strong>de</strong> uma outra pessoa que, não regulada pelo Espírito, po<strong>de</strong> ter uma influência nefasta<br />

sobre toda a nossa línea <strong>de</strong> conduta. Assim, no primeiro dos quatro fragmentos que<br />

transcrev<strong>em</strong>os, o Senhor nos diz: "Qu<strong>em</strong> ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é<br />

digno <strong>de</strong> mim; e qu<strong>em</strong> ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno <strong>de</strong> mim."<br />

(Mateus 10:37).<br />

Observ<strong>em</strong> que o fato <strong>de</strong> seguir o Senhor no caminho da Cruz nos é mostrado como o<br />

único e verda<strong>de</strong>iro caminho, a única via pela qual <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os seguir o Senhor. E o que se<br />

segue imediatamente?<br />

"Qu<strong>em</strong> achar a sua vida 13 perdê-la-á; e qu<strong>em</strong> per<strong>de</strong>r a sua vida, por amor <strong>de</strong> mim,<br />

acha-la-á" (Mateus 10: 39).<br />

Existe para nós, naquela sugestão sutil dos sentimentos, o segredo perigo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sviarse<br />

do caminho <strong>de</strong> Deus; e a chave <strong>de</strong> tudo é a alma. A Cruz <strong>de</strong>ve agir nisto: eu <strong>de</strong>vo<br />

"per<strong>de</strong>r" a minha alma no sentido que o Senhor atribui a estas palavras, e que<br />

tratar<strong>em</strong>os <strong>de</strong> explicar.<br />

Alguns <strong>de</strong> nós sab<strong>em</strong>os muito b<strong>em</strong> o que significa per<strong>de</strong>r a própria alma. Não<br />

pod<strong>em</strong>os mais consentir ligeiramente aos seus <strong>de</strong>sejos; não pod<strong>em</strong>os mais lhe dar<br />

importância, n<strong>em</strong> satisfazê-la: esta é a "perda" da alma. Atravessamos experiências<br />

dolorosas para chegar a <strong>de</strong>sencorajar suas exigências. Ainda assim, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os confessar,<br />

freqüent<strong>em</strong>ente, que não existe um pecado b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finido que nos impeça seguir o<br />

Senhor até o fim. Somos obstaculizados, às vezes, por um amor segredo, por uma<br />

13 As nossas traduções têm quase s<strong>em</strong>pre, neste versículo, a palavra "vida" (Diodati, Riveduta). O<br />

texto grego utiliza s<strong>em</strong>pre "psiche" que significa, literalmente, "alma", como afirma o autor (Nota<br />

do Tradutor original).<br />

Nas versões <strong>em</strong> português (Atualizada, Fiel) também acontece o mesmo uso <strong>de</strong> palavras (Nota da<br />

Tradutora do italiano).<br />

82


afeição completamente natural, que nos faz <strong>de</strong>sviar <strong>de</strong>ste caminho. Sim, a afeição<br />

natural exerce uma gran<strong>de</strong> influência sobre nossa vida, e a Cruz <strong>de</strong>ve penetrá-la e<br />

cumprir sua obra purificadora.<br />

Releiamos as palavras que citamos no capítulo 8 <strong>de</strong> Marcos. Acredito que este seja um<br />

dos fragmentos mais importantes:<br />

O Senhor tinha apenas anunciado aos seus discípulos, <strong>em</strong> Cesaréia <strong>de</strong> Filipos, que Ele<br />

<strong>de</strong>via morrer por mão dos anciãos dos ju<strong>de</strong>us, e Pedro, impulsionado pelo seu amor pelo<br />

Mestre, alçou-se para protestar dizendo: "Senhor, não faças isto; t<strong>em</strong> pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ti; isto<br />

não te acontecerá nunca". O amor pelo Senhor o incentivou a suplicá-Lhe para poupar<br />

Sua vida; e o Senhor <strong>de</strong>veu repreendê-lo, como teria repreendido Satanás, porque não<br />

tinha o sentido das coisas <strong>de</strong> Deus, mas daquelas dos homens. E então, à multidão que<br />

se ajuntava <strong>em</strong> volta dEle, repetiu, mais uma vez, estas palavras: "Se alguém quiser vir<br />

após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me. Porque qualquer que<br />

quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas, qualquer que per<strong>de</strong>r a sua vida por amor <strong>de</strong><br />

mim e do evangelho, esse a salvará" (Marcos 8:34-35).<br />

Toda a questão permanece ainda a da alma, e aqui, <strong>de</strong> forma particular, ela põe <strong>de</strong><br />

relevo seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> conservação. Existe aquela sugestão sutil que diz: "Se me fosse<br />

permitido viver eu faria qualquer coisa, estaria prestes a tudo; mas é necessário que eu<br />

conserve a vida!". É como se a alma gritasse, <strong>em</strong> sua <strong>de</strong>sesperação: "Ir à Cruz? Ser<br />

crucificado? Mas isto e verda<strong>de</strong>iramente d<strong>em</strong>ais! T<strong>em</strong> pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ti mesmo; conserva-te!<br />

Pensa <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve ir contra você mesmo para caminhar com Deus?" Alguns <strong>de</strong><br />

nós sab<strong>em</strong>os b<strong>em</strong> que para caminhar com Deus é amiú<strong>de</strong> necessário andar contra a voz<br />

da alma, da nossa ou da dos outros, <strong>de</strong>ixar que a Cruz reduza ao silêncio seu instinto <strong>de</strong><br />

conservação.<br />

Tenho talvez medo da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus? A querida e santa mulher que já mencionei e<br />

que teve uma tão gran<strong>de</strong> influência no curso <strong>de</strong> minha vida, me fez muitas vezes esta<br />

pergunta: "Você está <strong>de</strong> acordo com a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus?" Esta é uma pergunta<br />

formidável. Ela não me perguntava: "Você faz a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus?", mas indagava<br />

s<strong>em</strong>pre: "Você gosta da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus?" Não conheço pergunta que penetre mais<br />

profundamente que esta. L<strong>em</strong>bro que um dia ela tinha dificulda<strong>de</strong> com o Senhor a<br />

respeito <strong>de</strong> uma certa coisa. Sabia o que o Senhor lhe pedia, e <strong>em</strong> seu íntimo <strong>de</strong>sejava<br />

obe<strong>de</strong>cê-Lo, mas lhe resultava difícil, e a ouvi orar assim: "Senhor, te confesso que<br />

aquilo que me pe<strong>de</strong>s não me agrada, mas não liga para o meu gosto. Espera só um<br />

pouco, Senhor, e serei eu que aceitarei o que Te agrada".<br />

Ela não queria que o Senhor fosse con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte com ela e ajustasse as próprias<br />

exigências às <strong>de</strong>la. Ela <strong>de</strong>sejava somente fazer a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus. Muitas vezes<br />

acontece que alcançamos o ponto <strong>de</strong> abandonar ao Senhor coisas que ret<strong>em</strong>os boas e<br />

preciosas, sim, até mesmo as coisas <strong>de</strong> Deus, a fim que a Sua vonta<strong>de</strong> se cumpra. A<br />

preocupação que Pedro tinha pelo seu Senhor provinha <strong>de</strong> seu amor natural por Ele.<br />

Talvez pens<strong>em</strong>os que Pedro, pelo gran<strong>de</strong> afeto que nutria pelo seu Senhor, podia se<br />

permitir <strong>de</strong> repreendê-Lo. Somente um gran<strong>de</strong> amor po<strong>de</strong> <strong>em</strong>purrar alguém a ousar<br />

tanto. Sim, acreditamos que compreend<strong>em</strong>os a Pedro; mas se tivermos o espírito puro,<br />

livre daquele conjunto <strong>de</strong> sentimentos da alma, não cair<strong>em</strong>os no erro <strong>de</strong> Pedro;<br />

reconhecer<strong>em</strong>os mais prontamente on<strong>de</strong> se manifesta a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, e<br />

encontrar<strong>em</strong>os somente nela o gozo verda<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> nosso coração.<br />

O Senhor fala ainda do probl<strong>em</strong>a da alma no capítulo 17 <strong>de</strong> Lucas, e <strong>de</strong>sta vez <strong>em</strong><br />

relação com sua volta. Falando do "dia <strong>em</strong> que o Filho do hom<strong>em</strong> será manifestado", Ele<br />

estabelece um paralelo entre aquele dia e "o dia <strong>em</strong> que Ló saiu <strong>de</strong> Sodoma" (versículos<br />

29-30). Pouco <strong>de</strong>pois fala do "arrebatamento dos santos" com estas palavras, repetidas<br />

duas vezes: "Um será tomado, e outro será <strong>de</strong>ixado" (versículos 34-35). Mas, entre a<br />

sua citação da chamada <strong>de</strong> Ló fora <strong>de</strong> Sodoma e esta alusão à reunião dos santos <strong>em</strong><br />

volta dEle, o Senhor pronuncia estas palavras incisivas: "Naquele dia, qu<strong>em</strong> estiver no<br />

telhado, tendo as suas alfaias <strong>em</strong> casa, não <strong>de</strong>sça a tomá-las; e, da mesma sorte, o que<br />

estiver no campo não volte para trás. L<strong>em</strong>brai-vos da mulher <strong>de</strong> Ló" (Lucas 17:31-32).<br />

"L<strong>em</strong>brai-vos da mulher <strong>de</strong> Ló" por quê? Porque "qualquer que procurar salvar a sua<br />

vida, perdê-la-á, e qualquer que a per<strong>de</strong>r, salva-la-á". Se não erro, este é o único<br />

versículo do Novo Testamento que fala <strong>de</strong> nossa resposta à chamada do arrebatamento.<br />

Talvez pens<strong>em</strong>os que quando chegue o Filho do hom<strong>em</strong> ser<strong>em</strong>os reunidos ao redor dEle<br />

automaticamente, por assim dizer, porque limos <strong>em</strong> 1 Coríntios 15:51-52: "todos<br />

ser<strong>em</strong>os transformados; num momento, num abrir e fechar <strong>de</strong> olhos, ante a última<br />

trombeta..." Ora, <strong>de</strong> qualquer modo pod<strong>em</strong>os conciliar estes dois fragmentos: o <strong>de</strong> Lucas<br />

<strong>de</strong>veria pelo menos fazer-nos <strong>de</strong>ter para refletir; porque ressalta com força o fato que<br />

83


um será tomado e outro será <strong>de</strong>ixado. Trata-se da reação que ter<strong>em</strong>os, quando chegue a<br />

chamada para partir, e é sobre este ponto que somos exortados com tanta pressão para<br />

estar prontos (confrontar Mateus 24:42): "Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há<br />

<strong>de</strong> vir o vosso Senhor".<br />

Há, com certeza, uma razão para isto. Está claro que este apelo não produzirá <strong>em</strong><br />

nós, no último momento, uma mudança miraculosa s<strong>em</strong> relação com o fato que eu<br />

tenha, <strong>em</strong> maior ou menor medida, caminhado a minha vida com o Senhor. Não, naquele<br />

momento conhecer<strong>em</strong>os qual terá sido o verda<strong>de</strong>iro tesouro <strong>de</strong> nosso coração. Se foi o<br />

Senhor, não nos voltar<strong>em</strong>os a olhar para trás. Uma olhada para trás <strong>de</strong>cidirá tudo. É<br />

mais fácil apegar-se maiormente aos dons <strong>de</strong> Deus que ao Doador mesmo; e, eu<br />

agregaria, a obra <strong>de</strong> Deus que a Deus mesmo.<br />

Permitam-me que faça um ex<strong>em</strong>plo. Neste momento (1938, N.T.), estou escrevendo<br />

um livro. Terminei os primeiros oito capítulos e ainda restam para escrever outros nove,<br />

pelos quais me sinto seriamente <strong>em</strong>penhado diante do Senhor. Mas se o apelo "subi mais<br />

um pouco" ressoasse e a minha resposta fosse: "E o que acontecerá com meu livro?",<br />

po<strong>de</strong>ria ouvir a Deus me dizer: "Muito b<strong>em</strong>, fica ali para terminá-lo!". As coisas precisas<br />

que faz<strong>em</strong>os aqui, "na casa", pod<strong>em</strong> ser suficientes para manter-nos aqui <strong>em</strong>baixo, como<br />

um prego que nos fixa à terra.<br />

É s<strong>em</strong>pre questão <strong>de</strong> viver com a alma ou com o Espírito.<br />

Aqui, no fragmento <strong>de</strong> Lucas, a vida da alma está <strong>de</strong>scrita como estando <strong>em</strong>penhada<br />

nas coisas da terra —e, vejamos b<strong>em</strong>—, coisas que <strong>em</strong> si não importam. O Senhor<br />

menciona ativida<strong>de</strong>s perfeitamente legitimas —casar-se, s<strong>em</strong>ear, comer, ven<strong>de</strong>r—, nas<br />

quais não há nada <strong>de</strong> essencialmente mau. Ma existe o fato <strong>de</strong> estarmos ocupados a<br />

ponto <strong>de</strong> <strong>em</strong>penhar nosso coração, e isto é suficiente para manter-nos aqui <strong>em</strong>baixo. O<br />

meio para fugir <strong>de</strong>ste perigo consiste <strong>em</strong> per<strong>de</strong>r a própria alma. Isto é maravilhosamente<br />

ilustrado no ato que Pedro cumpre quando reconhece o Senhor ressurreto, sobre a<br />

marg<strong>em</strong> do lago. Ainda que, com os outros discípulos, tivesse voltado às suas antigas<br />

ocupações, não pensava mas no barco n<strong>em</strong> nas re<strong>de</strong>s miraculosamente cheias <strong>de</strong> peixes.<br />

Quando ouviu o grito <strong>de</strong> João "É o Senhor!", l<strong>em</strong>os que "pulou na água" para correr a<br />

Jesus. Este é o verda<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>sapego. A pergunta é s<strong>em</strong>pre a mesma: "On<strong>de</strong> está o meu<br />

coração?" A Cruz <strong>de</strong>ve produzir <strong>em</strong> nós um <strong>de</strong>sprendimento espiritual <strong>de</strong> todas as coisas<br />

e <strong>de</strong> todas as pessoas que não sejam o Senhor mesmo.<br />

Mas, ainda assim, t<strong>em</strong>os examinado até agora somente os aspectos externos da<br />

ativida<strong>de</strong> da alma.<br />

A alma que <strong>de</strong>ixa livres seus sentimentos, a alma que afirma a si mesma procurando<br />

controlar as coisas, a alma que se preocupa das coisas da terra; estas são pequenas<br />

coisas que não tocam ainda o verda<strong>de</strong>iro núcleo da questão. Existe alguma coisa mais<br />

profunda ainda que tentarei agora <strong>de</strong> explicar.<br />

A CRUZ E A ABUNDÂNCIA DOS FRUTOS<br />

Leiamos novamente João 12:24-25: "Na verda<strong>de</strong>, na verda<strong>de</strong> vos digo que, se o grão<br />

<strong>de</strong> trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto. Qu<strong>em</strong><br />

ama a sua vida perdê-la-á, e qu<strong>em</strong> neste mundo o<strong>de</strong>ia a sua vida, guarda-la-á para a<br />

vida eterna". T<strong>em</strong>os aqui a obra interior da Cruz, da qual já falamos —a perda da alma,<br />

ligada e comparada com esse aspecto da morte do Senhor Jesus que vimos prefigurado<br />

no grão <strong>de</strong> trigo, ou seja, sua morte com vista ao acréscimo. O objetivo é o fruto, muito<br />

fruto. Há um grão <strong>de</strong> trigo que contém a vida, e não permanece sozinho. T<strong>em</strong> o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

transmitir a sua vida a outros, mas para fazer isto <strong>de</strong>verá <strong>de</strong>scer à morte. Conhec<strong>em</strong>os<br />

assim o caminho seguido pelo Senhor Jesus. Entrou na morte e, como vimos, sua vida<br />

ressurgiu <strong>em</strong> muitas outras vidas. O Filho foi morto, e ressuscitou como o primogênito <strong>de</strong><br />

"muitos filhos". Ele <strong>de</strong>ixou sua vida para que nós pudéss<strong>em</strong>os recebê-la. É neste aspecto<br />

<strong>de</strong> sua morte que nós somos chamados a morrer. É aqui que Ele nos mostra claramente<br />

o valor <strong>de</strong> nossa conformida<strong>de</strong> com sua morte, por meio da qual nós perd<strong>em</strong>os a nossa<br />

vida natural a fim que, pelo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> sua ressurreição, podamos converter-nos <strong>em</strong><br />

mananciais <strong>de</strong> vida mostrando aos outros a nova vida <strong>de</strong> Deus que está <strong>em</strong> nós. É este o<br />

segredo do ministério, o caminho para chegar verda<strong>de</strong>iramente a produzir fruto<br />

abundante para o Senhor. Como diz Paulo: "E assim nós, que viv<strong>em</strong>os, estamos s<strong>em</strong>pre<br />

entregues à morte por amor <strong>de</strong> Jesus, para que a vida <strong>de</strong> Jesus se manifeste também na<br />

nossa carne mortal. De maneira que <strong>em</strong> nós opera a morte, mas <strong>em</strong> vós a vida" (2<br />

Coríntios 4:11-12).<br />

Chegamos ao coração do probl<strong>em</strong>a. Em nós, que receb<strong>em</strong>os a Cristo, existe uma vida<br />

nova. Todos nós t<strong>em</strong>os este b<strong>em</strong> precioso, este tesouro <strong>em</strong> vaso <strong>de</strong> barro. Deus seja<br />

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louvado pela realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sua vida <strong>em</strong> nós! Mas por que esta vida t<strong>em</strong> uma expressão<br />

tão mísera? Por que nos suce<strong>de</strong> <strong>de</strong> "permanecer sozinhos"? Por que esta vida não<br />

transborda para comunicar-se aos outros? Por que é tão pouco aparente, <strong>em</strong>bora <strong>em</strong><br />

nossas vidas individuais? A razão pela qual exist<strong>em</strong> tão poucos sinais <strong>de</strong>sta vida, ainda<br />

que ela esteja presente <strong>em</strong> nós, é que a nossa alma envolve e limita esta vida (como a<br />

pragana envolve o grão <strong>de</strong> trigo), <strong>de</strong> modo que ela não po<strong>de</strong> manifestar-se. Nós viv<strong>em</strong>os<br />

<strong>de</strong> nossa vida; trabalhamos e servimos com os nossos próprios recursos naturais; nós<br />

não viv<strong>em</strong>os <strong>de</strong> Deus. É a alma que impe<strong>de</strong> a explosão da vida. Vamos perdê-la;<br />

renunci<strong>em</strong>os a ela: este é o caminho para a plenitu<strong>de</strong>.<br />

UMA NOITE ESCURA – UMA MANHÃ DE RESSURREIÇÃO<br />

Voltamos assim à vara <strong>de</strong> amêndoas que foi colocada durante uma noite no santuário<br />

—numa noite escura, na qual não podia se enxergar nada—, e eis que na manhã<br />

seguinte tinha germinado. T<strong>em</strong>os aqui a figura da morte e da ressurreição, da vida<br />

oferecida e da vida recebida. Assim o ministério é manifestado. Mas, como acontece isto<br />

praticamente? Como posso reconhecer que Deus age <strong>em</strong> mim <strong>de</strong>ste modo?<br />

É necessário, antes que nada, ter b<strong>em</strong> <strong>em</strong> claro um ponto importante: a alma, com<br />

suas reservas <strong>de</strong> energias e <strong>de</strong> recursos naturais, continuará conosco até a morte. Até<br />

aquele momento, será necessário que a cruz opere <strong>em</strong> nós s<strong>em</strong> <strong>de</strong>scanso, dia após dia,<br />

para absorver profundamente esta fonte natural. Esta é a condição permanente <strong>de</strong><br />

serviço exposta por Jesus nestas palavras: "Se alguém quiser vir após mim, negue-se a<br />

si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me" (Marcos 8:34). Nós não pod<strong>em</strong>os jamais<br />

subtrair-nos a esta condição, porque qu<strong>em</strong> o faz "não é digno <strong>de</strong> mim" (Mateus 10:38),<br />

"não po<strong>de</strong> ser meu discípulo" (Lucas 14:27). A morte e a ressurreição <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />

permanecer constant<strong>em</strong>ente <strong>em</strong> nós como a causa da perda da alma e da afirmação do<br />

Espírito <strong>de</strong> Deus. Ainda assim, aqui po<strong>de</strong> haver uma crise, que uma vez experimentada e<br />

superada está <strong>em</strong> condições <strong>de</strong> transformar toda a nossa vida e a nossa forma <strong>de</strong> servir<br />

o Senhor. Existe uma porta estreita através da qual pod<strong>em</strong>os entrar num caminho<br />

completamente novo. Jacó atravessou uma crise similar <strong>em</strong> Peniel. Era o "hom<strong>em</strong><br />

natural" <strong>em</strong> Jacó que tentava <strong>de</strong> alcançar o fim <strong>de</strong> Deus. Jacó sabia b<strong>em</strong> que Deus tinha<br />

dito: "o maior servirá ao menor" (Gênesis 25:23), contudo se esforçava para realizar<br />

aquele <strong>de</strong>sígnio com a própria inteligência e os próprios recursos naturais. Deus <strong>de</strong>veu<br />

paralisar <strong>em</strong> Jacó as forças naturais e o fez quando tocou o nervo <strong>de</strong> sua coxa. Jacó<br />

continuou a caminhar, porém mancando. Converteu-se num Jacó diferente, como indica<br />

a mudança <strong>em</strong> seu nome. Ele tinha conservado as suas pernas e podia utilizá-las, mas a<br />

sua força tinha sido eliminada, e ele continuou a mancar, a causa <strong>de</strong> uma lesão da qual<br />

nunca pô<strong>de</strong> curar-se completamente. Deus <strong>de</strong>ve conduzir-nos a um ponto —não posso<br />

dizer como, mas sei que o fará— on<strong>de</strong>, através <strong>de</strong> uma experiência escura e profunda, a<br />

nossa força natural será afastada e enfraquecida <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>finitiva, <strong>de</strong> forma que não<br />

ousar<strong>em</strong>os mas ter confiança <strong>em</strong> nós mesmos. Como alguns <strong>de</strong> nós Ele <strong>de</strong>veu agir <strong>de</strong><br />

forma muito estranha e fazer-nos passar por caminhos difíceis e dolorosos, para<br />

conduzir-nos àquela condição. Chegamos, finalmente, a um momento no qual não t<strong>em</strong>os<br />

mais prazer <strong>em</strong> fazer uma obra cristã, no qual t<strong>em</strong>os quase medo <strong>de</strong> fazer qualquer<br />

coisa no nome do Senhor. Mas é justamente aqui que, afinal, Deus po<strong>de</strong> começar a<br />

utilizar-nos.<br />

Posso dizer que durante um ano, <strong>de</strong>pois da minha conversão, tinha a paixão <strong>de</strong><br />

predicar. Resultava-me impossível ficar calado. Era como se uma força interior me<br />

<strong>em</strong>purrasse adiante e eu <strong>de</strong>via obe<strong>de</strong>cer.<br />

Predicar se converteu <strong>em</strong> minha verda<strong>de</strong>ira vida. O Senhor po<strong>de</strong>, <strong>em</strong> sua graça,<br />

permitir-nos <strong>de</strong> continuar assim por um t<strong>em</strong>po in<strong>de</strong>terminado, recebendo incluso uma<br />

certa medida <strong>de</strong> bênçãos, até que chega o dia <strong>em</strong> que a energia natural que impulsiona<br />

vocês diminui, e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, já não trabalham mais porque se agradam, mas porque o<br />

Senhor se agrada. Antes <strong>de</strong>sta experiência, vocês predicavam a causa da satisfação que<br />

achavam <strong>em</strong> servir o Senhor daquela forma; e ainda assim, talvez o Senhor não<br />

conseguia <strong>em</strong>purrar vocês a realizar alguma coisa que Ele <strong>de</strong>sejava fosse feita. Vocês<br />

agiam segundo os seus impulsos naturais, que são muito mutáveis porque <strong>de</strong>pend<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

seu t<strong>em</strong>peramento. Quando as <strong>em</strong>oções dirig<strong>em</strong> vocês no caminho do Senhor, então<br />

ag<strong>em</strong> com todas as suas forças <strong>em</strong> Sua obra; porém, se os sentimentos dirig<strong>em</strong> vocês<br />

para outra parte, serão relutantes <strong>em</strong> prosseguir adiante, ainda que o <strong>de</strong>ver os chame.<br />

Não são maleáveis nas mãos do Senhor. Ele <strong>de</strong>ve, portanto, enfraquecer <strong>em</strong> vocês estas<br />

tendências preferenciais, baseadas no prazer ou no <strong>de</strong>sprazer, até que vocês realiz<strong>em</strong><br />

uma <strong>de</strong>terminada coisa porque Ele o <strong>de</strong>seja, e não porque vocês se agradam. Gost<strong>em</strong> ou<br />

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não, o farão igualmente. Ainda que não tenham satisfação <strong>em</strong> predicar ou <strong>em</strong> fazer esta<br />

ou aquela obra para o Senhor, a cumprirão. A realizarão exclusivamente porque é a<br />

vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, s<strong>em</strong> levar <strong>em</strong> conta se dará gozo a vocês ou não. A verda<strong>de</strong>ira<br />

felicida<strong>de</strong> que experimentam ao cumprir a Sua vonta<strong>de</strong> é mais profunda que suas<br />

volúveis <strong>em</strong>oções. Deus vai conduzir vocês até o ponto <strong>em</strong> que Ele não precise senão<br />

expressar um <strong>de</strong>sejo para que vocês respondam imediatamente.<br />

Este é a postura do Servo <strong>de</strong> que fala o Salmo 40, nos versículos 7 e 8: "Então disse:<br />

Eis aqui venho; no rolo do livro <strong>de</strong> mim está escrito. Deleito-me <strong>em</strong> fazer a tua vonta<strong>de</strong>,<br />

ó Deus meu; sim, a tua lei está <strong>de</strong>ntro do meu coração". Mas s<strong>em</strong>elhante espírito não<br />

está naturalmente <strong>em</strong> nenhum <strong>de</strong> nós. Manifesta-se somente quando a nossa alma, que<br />

é a se<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossas energias, <strong>de</strong> nossa vonta<strong>de</strong> e dos nossos sentimentos naturais, tenha<br />

sido atraída à Cruz sob a lei do Senhor. Ele <strong>de</strong>seja achar <strong>em</strong> nós esta disposição para o<br />

serviço. O caminho para alcançá-la po<strong>de</strong> ser longo ou po<strong>de</strong> se chegar num instante:<br />

Deus t<strong>em</strong> seus caminhos e nós <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os respeitá-los.<br />

Todos os verda<strong>de</strong>iros servos <strong>de</strong> Deus <strong>de</strong>v<strong>em</strong> conhecer, num momento dado, esta<br />

<strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> s<strong>em</strong> r<strong>em</strong>édio, pela qual não serão mais os que antes foram. É necessário que<br />

se estabeleça <strong>em</strong> vocês aquele sentimento pelo qual, <strong>de</strong> agora <strong>em</strong> diante, terão<br />

realmente medo <strong>de</strong> vocês mesmos. Terão medo <strong>de</strong> agir segundo os impulsos <strong>de</strong> sua<br />

alma, porque sab<strong>em</strong> que r<strong>em</strong>orsos experimentarão perante Deus, <strong>em</strong> seu coração, se<br />

assim fizer<strong>em</strong>. Tiveram a experiência <strong>de</strong> ter sobre vocês a mão do Deus do amor que<br />

corrige, do Deus que "vos trata como filhos" (Hebreus 12:7). Seu Espírito mesmo dá<br />

test<strong>em</strong>unho <strong>em</strong> seu espírito <strong>de</strong>sta ligação <strong>de</strong> filiação, como da herança e da glória que<br />

são nossas "se sofr<strong>em</strong>os com Ele" (Romanos 8:16-17), e a resposta <strong>de</strong> nosso espírito ao<br />

Pai, é: "Aba, Pai!"<br />

Mas, quando estas experiências foram realmente vivenciadas por vocês, encontram-se<br />

sobre uma base nova que chamamos "base <strong>de</strong> ressurreição".<br />

Po<strong>de</strong> ser que a morte tenha produzido uma crise <strong>em</strong> sua vida natural, mas quando a<br />

tenham superado, compreen<strong>de</strong>rão que Deus libertou vocês com a ressurreição e que<br />

aquilo que tinham perdido é restituído, ainda que numa natureza diferente. O princípio<br />

da vida está operando agora <strong>em</strong> vocês, como uma coisa que os conduz, lhes dá força, os<br />

enche <strong>de</strong> uma vida nova e divina. De agora <strong>em</strong> diante aquilo que tenham perdido será<br />

<strong>de</strong>volvido, mas revestido <strong>de</strong> uma nova força, porque está para s<strong>em</strong>pre sob o controle dos<br />

céus.<br />

Permitam-me que exponha <strong>de</strong> novo tudo isto <strong>de</strong> uma forma mais clara. Se quisermos<br />

ser homens e mulheres espirituais, não t<strong>em</strong>os necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cortar-nos as mãos ou os<br />

pés: pod<strong>em</strong>os ainda conservar intacto o nosso corpo. Do mesmo modo, pod<strong>em</strong>os<br />

conservar a nossa alma, com o uso pleno <strong>de</strong> suas faculda<strong>de</strong>s; mas ela não é mais a<br />

inspiradora <strong>de</strong> nossa vida. Não viv<strong>em</strong>os mais nela traindo a nossa razão <strong>de</strong> vida. A<br />

utilizamos, somente. Se o corpo se converter na base <strong>de</strong> nossa vida, viver<strong>em</strong>os como as<br />

bestas. Se a alma se transforma na base <strong>de</strong> nossas vidas, viver<strong>em</strong>os como rebel<strong>de</strong>s e<br />

fujões diante <strong>de</strong> Deus —inteligentes, cultos, espertos s<strong>em</strong> dúvida alguma, mas estranhos<br />

à vida <strong>de</strong> Deus. porém, quando chegu<strong>em</strong>os a viver nossa vida no Espírito e pelo Espírito,<br />

ainda que continu<strong>em</strong>os a usar as faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> nossa alma, tanto como utilizamos as<br />

nossas forças físicas, elas estão agora ao serviço do Espírito; e quando estamos nestas<br />

condições, Deus po<strong>de</strong> servir-Se <strong>de</strong> nós com eficácia.<br />

A dificulda<strong>de</strong> para muitos <strong>de</strong> nós é aquela noite escura. O Senhor, <strong>em</strong> Sua graça, me<br />

colocou aparte, uma vez <strong>em</strong> minha vida, por muitos meses, e me <strong>de</strong>ixou,<br />

espiritualmente, numa escuridão absoluta. Foi quase como se me tivesse abandonado,<br />

como se tudo tivesse acabado. Depois, pouco a pouco, me <strong>de</strong>volveu aquilo que parecia<br />

ter <strong>de</strong>saparecido. Nós t<strong>em</strong>os s<strong>em</strong>pre a tentação <strong>de</strong> querer ajudar a Deus, retomando as<br />

coisas por nós mesmos, mas l<strong>em</strong>br<strong>em</strong>os que é necessário transcorrer uma noite inteira<br />

no santuário, uma completa noite na escuridão. Ninguém po<strong>de</strong> apressar o fim; Deus sabe<br />

o que faz.<br />

Desejaríamos viver a morte e a ressurreição no espaço <strong>de</strong> uma hora. Retroced<strong>em</strong>os<br />

diante o pensamento <strong>de</strong> que Deus possa afastar-nos por um t<strong>em</strong>po tão longo; não<br />

pod<strong>em</strong>os suportar a espera. E eu não posso dizer quanto t<strong>em</strong>po passará, mas penso que<br />

pod<strong>em</strong>os estar seguros que será um período b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finido no qual Ele terá vocês assim.<br />

Parecerá que nada aconteça, que tudo aquilo que vocês apreciam esquiva suas mãos.<br />

Terão a impressão <strong>de</strong> estar <strong>de</strong>trás <strong>de</strong> um muro s<strong>em</strong> saída. Parecerá que todos os outros<br />

sejam abençoados e ativos, e que vocês tenham sido ultrapassados e esquecidos.<br />

Fiqu<strong>em</strong> tranqüilos. Tudo está nas trevas, mas somente por uma noite. Deve ser uma<br />

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noite completa, mas isso é tudo. Verão <strong>de</strong>pois que isso tudo redundará numa gloriosa<br />

ressurreição, e nada po<strong>de</strong>rá medir a diferença entre o que era antes e o que será <strong>de</strong>pois.<br />

Estava eu, uma noite, jantando com um jov<strong>em</strong> irmão ao qual o Senhor tinha falado<br />

<strong>de</strong>ste probl<strong>em</strong>a da energia natural. Ele me disse: "Que experiência abençoada saber que<br />

o Senhor t<strong>em</strong> achado e tocado você daquela forma <strong>de</strong>cisiva, e saber que, <strong>de</strong>pois daquele<br />

encontro, as nossas forças partiram".<br />

Havia diante <strong>de</strong> nós, na mesa, um prato com bolachas; eu peguei uma e a parti <strong>em</strong><br />

duas partes como para comê-la. Depois, voltando unir os dois pedaços com cuidado,<br />

disse: "Parece <strong>de</strong> novo como antes, porém, já não será mais o mesmo, verda<strong>de</strong>? Quando<br />

a sua força é partida, só resta abandonar-se s<strong>em</strong>pre mais ao mínimo toque <strong>de</strong> Deus".<br />

É assim, o Senhor sabe o que faz com os seus, e não sobra nenhum aspecto <strong>de</strong> nossa<br />

vida para o qual Ele não provê com a sua Cruz, a fim que a glória do Filho seja<br />

manifestada nos filhos. Os discípulos que percorreram esta via pod<strong>em</strong> plenamente ecoarse<br />

das palavras do apóstolo Paulo, que podia dizer <strong>de</strong> ter servido o Senhor "<strong>em</strong> meu<br />

espírito, no evangelho <strong>de</strong> seu Filho" (Romanos 1:9).<br />

Eles apren<strong>de</strong>ram, como ele, o segredo <strong>de</strong> um s<strong>em</strong>elhante ministério. "...nós, que<br />

servimos a Deus <strong>em</strong> espírito, e nos gloriamos <strong>em</strong> Jesus Cristo, e não confiamos na<br />

carne" (Filipenses 3:3).<br />

Poucos pod<strong>em</strong> ter uma vida mais ativa que a do apóstolo Paulo. Em sua carta aos<br />

Romanos, ele l<strong>em</strong>bra <strong>de</strong> ter predicado o Evangelho <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Jerusalém até o Ilírico (Rm<br />

15:19), e afirma estar pronto para ir até Roma (1:10) e dali, se possível, até a Espanha<br />

(15:24-28). Contudo, neste serviço que abraça todo o mundo mediterrâneo, seu coração<br />

está fixado sobre um único objetivo: a exaltação dAquele que o fez possível. "De sorte<br />

que tenho glória <strong>em</strong> Jesus Cristo nas coisas que pertenc<strong>em</strong> a Deus. Porque não ousarei<br />

dizer coisa alguma, que Cristo por mim não tenha feito, para fazer obedientes os gentios,<br />

por palavra e por obras" (Rm 15:17-18). Isto é serviço espiritual.<br />

Queira o Senhor fazer <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong> nós, tão profundamente como o era Paulo, "um<br />

escravo <strong>de</strong> Jesus Cristo".<br />

CAPÍTULO 14 – O OBJETIVO DO EVANGELHO<br />

Tomar<strong>em</strong>os como ponto <strong>de</strong> partida, para este último capítulo, um episódio dos<br />

Evangelhos que t<strong>em</strong> lugar à sombra mesma da Cruz, um episódio que, <strong>em</strong> seus <strong>de</strong>talhes,<br />

é histórico e profético ao mesmo t<strong>em</strong>po. "E, estando ele <strong>em</strong> Betânia, assentado à mesa,<br />

<strong>em</strong> casa <strong>de</strong> Simão, o leproso, veio uma mulher, que trazia um vaso <strong>de</strong> alabastro, com<br />

ungüento <strong>de</strong> nardo puro, <strong>de</strong> muito preço, e quebrando o vaso, lho <strong>de</strong>rramou sobre a<br />

cabeça (...) Jesus, porém, disse: (...) Em verda<strong>de</strong> vos digo que, <strong>em</strong> todas as partes do<br />

mundo on<strong>de</strong> este evangelho for pregado, também o que ela fez será contado para sua<br />

m<strong>em</strong>ória" (Marcos 14:3,6,9).<br />

O Senhor quis então que a história <strong>de</strong> Maria, que o ungiu com nardo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> preço,<br />

acompanhasse s<strong>em</strong>pre a predicação do Evangelho; que o que Maria tinha feito estivesse<br />

s<strong>em</strong>pre unido ao que o Senhor fez. Esta é a sua ord<strong>em</strong>. O que quis nos ensinar com isto?<br />

S<strong>em</strong> dúvida todos nós conhec<strong>em</strong>os muito b<strong>em</strong> a história <strong>de</strong> Maria.<br />

Dos <strong>de</strong>talhes que João provê no capítulo 12 <strong>de</strong> seu Evangelho, on<strong>de</strong> o fato acontece<br />

não muito <strong>de</strong>pois da volta à vida <strong>de</strong> seu irmão Lázaro, pod<strong>em</strong>os compreen<strong>de</strong>r que a<br />

família não é tão rica. As irmãs <strong>de</strong>viam realizar elas mesmas o serviço da casa; <strong>de</strong>vido a<br />

que está escrito que naquela festa "Marta servia" (João 12:2, confrontar com Lucas<br />

10:4) 14 , pod<strong>em</strong>os pensar que cada centavo tivesse valor para eles. Ainda assim, uma das<br />

irmãs, Maria, que guardava entre seus pertences mais prezados um vaso <strong>de</strong> alabastro<br />

contendo um perfume <strong>de</strong> preço <strong>de</strong> trezentos <strong>de</strong>nários, o ofereceu, completamente, ao<br />

Senhor. Segundo a apreciação comum, este dom era d<strong>em</strong>asiado excessivo; era como dar<br />

ao Senhor mais do que lhe fosse <strong>de</strong>vido. Por isto Judas, junto com outros discípulos,<br />

tomou a iniciativa <strong>de</strong> expressar a <strong>de</strong>saprovação <strong>de</strong> todos, julgando o ato <strong>de</strong> Maria como<br />

um <strong>de</strong>sperdiço <strong>de</strong> dinheiro.<br />

DESPERDIÇO<br />

"Mas alguns houve que <strong>em</strong> si mesmos se indignaram e disseram: Para que se fez este<br />

<strong>de</strong>sperdício do bálsamo? Pois podia ser vendido por mais <strong>de</strong> trezentos <strong>de</strong>nários que se<br />

14 O autor segue aqui a crença comum que "a casa <strong>de</strong> Simão o leproso" fosse a habitação <strong>de</strong><br />

Maria, Marta e Lázaro; e que Simão fosse um parente <strong>de</strong>les (Nota do Editor).<br />

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dariam aos pobres. E bramavam contra ela" (Marcos 14:4-5). Estas palavras nos<br />

conduz<strong>em</strong> àquilo do que, penso eu, o Senhor quer que reflitamos juntos, ou seja, que<br />

significa o termo "<strong>de</strong>sperdiço".<br />

O que é um <strong>de</strong>sperdiço? Desperdiçar significa, entre outras coisas, dar além do<br />

necessário. Se R$ 1 é suficiente para pagar um objeto e vocês entregam R$ 100, isto é<br />

<strong>de</strong>sperdiçar. Se alcançam 2 g e vocês usam 1 kg, também isto é um <strong>de</strong>sperdiço. Se três<br />

dias bastam para terminar b<strong>em</strong> um serviço e vocês usam cinco dias ou uma s<strong>em</strong>ana, é<br />

um <strong>de</strong>sperdiço. Desperdiçar quer dizer dar d<strong>em</strong>asiado para d<strong>em</strong>asiado pouco. Se alguém<br />

recebe mais do que pensa que seja justo, aquilo que lhe foi entregue <strong>de</strong> mais é<br />

<strong>de</strong>sperdiçado. Mas l<strong>em</strong>br<strong>em</strong>o-nos que estamos tratando um argumento que o Senhor<br />

disse que <strong>de</strong>via ser difundido como o Evangelho, <strong>em</strong> qualquer lugar on<strong>de</strong> o Evangelho<br />

seja predicado. Por quê? Porque Ele quer que a predicação do Evangelho produza alguma<br />

coisa similar à ação <strong>de</strong> Maria, vale dizer, homens e mulheres que venham para<br />

<strong>de</strong>sperdiçar-se com Ele. Este é o resultado que Ele procura.<br />

É necessário consi<strong>de</strong>rar este fato <strong>de</strong> <strong>de</strong>sperdiçar-se com o Senhor sob dois aspectos: o<br />

<strong>de</strong> Judas (João 12:4-6) e o dos outros discípulos (Mateus 26:8-9), e para o nosso escopo<br />

atual confrontar<strong>em</strong>os com histórias paralelas.<br />

Os doze discípulos julgaram o gesto <strong>de</strong> Maria como um <strong>de</strong>sperdiço. Para Judas, que<br />

não tinha jamais chamado a Jesus <strong>de</strong> "Senhor", evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente tudo aquilo que lhe era<br />

oferecido era <strong>de</strong>sperdiçado. Não somente o ungüento era um <strong>de</strong>sperdiço, mas também a<br />

água o teria sido.<br />

Judas representa aqui o mundo. Aos olhos do mundo o serviço do Senhor e a entrega<br />

<strong>de</strong> nós mesmos a Ele, para Seu serviço, são um <strong>de</strong>sperdiço. Ele nunca foi amado, nunca<br />

teve um lugar nos corações do mundo. Muitos diz<strong>em</strong>: "Este hom<strong>em</strong> po<strong>de</strong>ria ter uma boa<br />

posição no mundo se não fosse um crente!". Se um hom<strong>em</strong> t<strong>em</strong> talentos naturais <strong>de</strong> um<br />

certo valor aos olhos do mundo, é consi<strong>de</strong>rado uma vergonha <strong>de</strong> sua parte servir ao<br />

Senhor. Pensa-se que um s<strong>em</strong>elhante hom<strong>em</strong> valha d<strong>em</strong>asiado como para <strong>de</strong>dicar-se a<br />

Ele. "Que <strong>de</strong>sperdiço <strong>de</strong> vida útil", se dirá.<br />

Permitam-me contar uma experiência pessoal. Em 1929, eu voltei <strong>de</strong> Xangai a<br />

Foochow, a minha cida<strong>de</strong> natal. Um dia, enquanto caminhava na rua apoiado numa<br />

bengala, a causa <strong>de</strong> minha gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> e má saú<strong>de</strong>, encontrei um dos meus velhos<br />

professores da Universida<strong>de</strong>. Ele me convidou a uma casa <strong>de</strong> chá, e nos sentamos.<br />

Olhando-me da cabeça aos pés e dos pés à cabeça, me disse: "Escuta, durante os seus<br />

estudos tínhamos muita estima <strong>de</strong> você, e esperávamos que teria feito gran<strong>de</strong>s coisas.<br />

Você quer me dizer que isto é tudo o que você conseguiu fazer?" Me fez esta pergunta<br />

cortante, fixando-me com seus olhos penetrantes. Devo confessar que, ouvindo-o, o meu<br />

primeiro impulso foi o <strong>de</strong> me <strong>de</strong>clarar vencido e chorar. A minha carreira, a minha saú<strong>de</strong>,<br />

tudo estava perdido, e agora o velho professor que tinha me ensinado direito na<br />

Universida<strong>de</strong> estava ali, diante <strong>de</strong> mim, e me perguntava: "Você ainda está no mesmo<br />

ponto, s<strong>em</strong> nenhum sucesso, s<strong>em</strong> nenhum progresso, s<strong>em</strong> nada <strong>de</strong> valor?"<br />

Mas um instante <strong>de</strong>pois —e <strong>de</strong>vo dizer que aquela foi a primeira vez <strong>em</strong> minha vida—<br />

conheceu realmente o que significava o "Espírito <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r" sobre ele. O pensamento <strong>de</strong><br />

ter podido dar a minha vida pelo meu Senhor enchia a minha alma <strong>de</strong> energia. Aquilo<br />

que estava sobre mim naquele momento não era nada menos que o Espírito do po<strong>de</strong>r.<br />

Pu<strong>de</strong> alçar novamente os olhos e s<strong>em</strong> reticência alguma disse: "Senhor, eu te agra<strong>de</strong>ço!<br />

Esta é a melhor coisa possível: sei que escolhi o caminho certo". Aos olhos do meu velho<br />

professor parecia uma perda total o fato <strong>de</strong> servir o Senhor; mas este é o verda<strong>de</strong>iro<br />

objetivo do Evangelho: conduzir cada um <strong>de</strong> nós a uma reta apreciação <strong>de</strong> seu valor.<br />

Judas predicou, então, que aquilo era um <strong>de</strong>sperdiço. "Nós teríamos podido fazer<br />

daquele dinheiro um melhor uso, utilizando-o <strong>de</strong> uma outra forma. Exist<strong>em</strong> tantos<br />

pobres! Por que não dá-lo melhor a uma obra <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>, cumprir uma obra social para<br />

ajudar os pobres <strong>de</strong> maneira prática? Por que <strong>de</strong>sperdiçá-lo sobre os pés <strong>de</strong> Jesus?"<br />

(veja João 12:4-6).<br />

O mundo arrazoa s<strong>em</strong>pre assim: "Não po<strong>de</strong> achar uma forma melhor <strong>de</strong> utilizar sua<br />

vida? Não po<strong>de</strong> fazer alguma coisa melhor para você? É d<strong>em</strong>asiado audaz entregar-se<br />

assim, inteiramente, ao Senhor".<br />

Mas se o Senhor é digno, como po<strong>de</strong> ser um <strong>de</strong>sperdiço?<br />

Ele é digno <strong>de</strong> ser servido assim. Ele é digno <strong>de</strong> me ter como um prisioneiro; Ele é<br />

digno <strong>de</strong> que eu viva unicamente para Ele. Ele é digno! Pouco importa o que o mundo<br />

pensa. O Senhor disse: "Não an<strong>de</strong>is ansiosos". Então, não nos inquiet<strong>em</strong>os. Os homens<br />

pod<strong>em</strong> dizer o que quer<strong>em</strong>, mas nós pod<strong>em</strong>os confiarmos nestas palavras do Senhor:<br />

"Ela fez uma boa ação; n<strong>em</strong> todas as verda<strong>de</strong>iras obras são realizadas para os pobres;<br />

88


cada verda<strong>de</strong>ira obra é feita para mim". Quando nossos olhos se abriram ao valor do<br />

nosso Senhor Jesus, nada é d<strong>em</strong>asiado bom para Ele.<br />

Mas não quer<strong>em</strong>os prolongar-nos d<strong>em</strong>asiado sobre Judas. Tent<strong>em</strong>os compreen<strong>de</strong>r o<br />

comportamento dos outros discípulos, porque as suas reações nos tocam mais que<br />

aquelas <strong>de</strong> Judas. Nós não nos inquietamos tanto com o que diz o mundo; pod<strong>em</strong>os<br />

suportá-lo, mas damos uma gran<strong>de</strong> importância àquilo que diz<strong>em</strong> outros cristãos que<br />

<strong>de</strong>veriam enten<strong>de</strong>r. Contudo achamos que os outros discípulos expressam o mesmo<br />

pensamento que Judas; não se limitavam a dizê-lo, mas se mostraram vivamente<br />

contrariados e indignados pelo fato. "E os seus discípulos, vendo isto, indignaram-se,<br />

dizendo: Por que é este <strong>de</strong>sperdício? Pois este ungüento podia ven<strong>de</strong>r-se por gran<strong>de</strong><br />

preço, e dar-se o dinheiro aos pobres" (Mateus 26:8-9).<br />

Sab<strong>em</strong>os que existe um comportamento mental d<strong>em</strong>asiado comum que faz dizer aos<br />

cristãos: "Tent<strong>em</strong> obter o máximo resultado com o mínimo preço". Isto porém não é para<br />

nada aquilo <strong>de</strong> que estiv<strong>em</strong>os falando, que é muito mais profundo. Um ex<strong>em</strong>plo nos<br />

ajudará a compreen<strong>de</strong>r melhor. Nunca disseram a vocês "Quanta gente po<strong>de</strong>ria ocuparse<br />

<strong>de</strong>ste ou daquele serviço. Po<strong>de</strong>riam ajudar neste ou naquele grupo. Por que não são<br />

ativos?" Falando assim se t<strong>em</strong> <strong>em</strong> vista somente a utilida<strong>de</strong>. Tudo <strong>de</strong>veria ser utilizado a<br />

fundo do modo comumente retido mais útil. Alguns se preocuparam porque certos<br />

amados servos <strong>de</strong> Deus não pareciam suficient<strong>em</strong>ente ativos. Pensavam que teriam<br />

podido realizar muito mais tentando <strong>de</strong> introduzir-se <strong>em</strong> algum ambiente, e obtendo<br />

consi<strong>de</strong>ração e influência <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminados círculos. Teriam assim podido ser úteis <strong>em</strong><br />

modo mais eficaz.<br />

Já falei <strong>de</strong> uma irmã que conheci muitos anos atrás e que, penso, foi a pessoa que<br />

maiormente tenha me ajudado. Ela foi um verda<strong>de</strong>iro instrumento nas mãos do Senhor<br />

durante todo o t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que eu estive <strong>em</strong> contato com ela, ainda que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre o<br />

percebesse. A minha preocupação era: "Ela não é útil!" Eu me repetia continuamente:<br />

"Por que não vá a algum lugar a organizar reuniões, a fazer alguma coisa? Ele <strong>de</strong>sperdiça<br />

a vida vivendo naquela favela on<strong>de</strong> nunca suce<strong>de</strong> nada!". Algumas vezes, quando ia<br />

visitá-la, estava tentado a repreendê-la. Eu dizia: "Ninguém conhece o Senhor como<br />

você. Vive realmente a Palavra <strong>de</strong> Deus. Não vê quanto há para fazer lá fora? Por que<br />

não faz alguma coisa? É uma perda <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, uma perda <strong>de</strong> energia, uma perda <strong>de</strong><br />

dinheiro, uma perda <strong>de</strong> tudo ficar ali s<strong>em</strong> fazer nada!"<br />

Não, irmãos, esta não é a primeira coisa que se <strong>de</strong>ve fazer para o Senhor. Ele quer<br />

certamente que vocês e eu sejamos úteis. Deus me livre <strong>de</strong> predicar a inativida<strong>de</strong>, ou <strong>de</strong><br />

aprovar um comportamento <strong>de</strong> indiferença no que diz respeito às necessida<strong>de</strong>s do<br />

mundo. Como Jesus disse: "O Evangelho será predicado <strong>em</strong> todo o mundo". Mas<br />

tent<strong>em</strong>os compreen<strong>de</strong>r aquilo que é essencial. Pensando novamente nisso hoje,<br />

compreendo quanto o Senhor usava aquela cara irmã por falar conosco, os jovens,<br />

enquanto nos preparávamos <strong>em</strong> sua escola para a obra do Evangelho. Não po<strong>de</strong>rei<br />

jamais agra<strong>de</strong>cer o suficiente ao Senhor por ela e pela influência que sua vida exerceu na<br />

minha.<br />

Qual é, então, o segredo? É claramente este: que aprovando o ato cumprido por Maria<br />

<strong>em</strong> Betânia, o Senhor Jesus estabelecia o princípio fundamental <strong>de</strong> cada serviço: oferecer<br />

a Ele tudo o que vocês têm, o seu inteiro ser; e se isto é tudo o que Ele permite vocês <strong>de</strong><br />

fazer<strong>em</strong>, é suficiente. Não é necessário ver, como primeira coisa, se "os pobres" foram<br />

socorridos ou não, isto virá <strong>de</strong>pois; mas, antes que nada é preciso se perguntar: "O<br />

Senhor está satisfeito?"<br />

Pod<strong>em</strong>os predicar num gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> reuniões, organizar numerosos convênios,<br />

tomar parte <strong>de</strong> muitas campanhas <strong>de</strong> evangelização. Estamos certamente <strong>em</strong> condições<br />

<strong>de</strong> fazê-lo.<br />

Pod<strong>em</strong>os trabalhar e ser utilizados plenamente; mas o Senhor não se ocupa muito <strong>de</strong><br />

nosso <strong>em</strong>penho incessante <strong>em</strong> Sua obra; não é este seu primeiro <strong>de</strong>sejo. O serviço do<br />

Senhor não po<strong>de</strong> ser misturado com resultados tangíveis. Não, amigos meus, o que o<br />

Senhor consi<strong>de</strong>ra <strong>de</strong> nós, acima <strong>de</strong> tudo, é se nos ajuelhamos aos seus pés para ungir a<br />

sua cabeça. Qualquer seja o nosso "vaso <strong>de</strong> alabastro", a coisa mais preciosa, aquela que<br />

nos é mais cara no mundo —até, permitam-me dizer, a manifestação <strong>de</strong> uma vida que<br />

proce<strong>de</strong> da Cruz—, entregu<strong>em</strong>os tudo isto ao Senhor.<br />

Para muitos, também entre aqueles que <strong>de</strong>veriam compreen<strong>de</strong>r, isto po<strong>de</strong>rá parecer<br />

um <strong>de</strong>sperdiço; mas é o que o Senhor procura acima <strong>de</strong> tudo. Muito freqüent<strong>em</strong>ente o<br />

entregar-se a Ele será um serviço s<strong>em</strong> fatiga, mas Ele se reserva o direito <strong>de</strong> suspen<strong>de</strong>r<br />

o serviço por um t<strong>em</strong>po, para fazer-nos compreen<strong>de</strong>r se estamos apegados ao serviço ou<br />

a Ele mesmo.<br />

89


SERVIR POR PRAZER AO SENHOR<br />

"Em verda<strong>de</strong> vos digo que, <strong>em</strong> todas as partes do mundo on<strong>de</strong> este evangelho for<br />

pregado, também o que ela fez será contado para sua m<strong>em</strong>ória" (Marcos 14:9).<br />

Por que o Senhor disse isto? Porque o Evangelho <strong>de</strong>ve produzir isto. Este é o objetivo<br />

do Evangelho.<br />

O Evangelho não existe simplesmente para socorrer os pecadores. Graças ao Senhor,<br />

aos pecadores lhes será provido, mas a sua salvação será, por assim dizer, um<br />

subproduto do Evangelho, e não seu principal objetivo.<br />

O Evangelho é predicado, <strong>em</strong> primeiro lugar, a fim que o Senhor seja glorificado.<br />

Eu t<strong>em</strong>o que nós coloqu<strong>em</strong>os d<strong>em</strong>asiada ênfase sobre o b<strong>em</strong> dos pecadores, e que<br />

não apreci<strong>em</strong>os suficient<strong>em</strong>ente o verda<strong>de</strong>iro objetivo que o Senhor quer alcançar.<br />

T<strong>em</strong>os <strong>em</strong> mente qual seria a sorte dos pecadores se não existisse o Evangelho, mas<br />

esta não é a consi<strong>de</strong>ração essencial. Sim, graças a Deus, o pecador t<strong>em</strong> a sua parte.<br />

Deus respon<strong>de</strong> a suas necessida<strong>de</strong>s e o enche <strong>de</strong> bênçãos, mas esta não é a coisa mais<br />

importante. Em primeiro lugar está o fato que cada coisa <strong>de</strong>veria ten<strong>de</strong>r à glória do Filho<br />

<strong>de</strong> Deus. Somente quando Ele é glorificado nós somos justificados e os pecadores são<br />

perdoados. Nunca achei n<strong>em</strong> uma única pessoa que tivesse obe<strong>de</strong>cido ao Senhor e não<br />

tivesse sido jamais satisfeita <strong>em</strong> cada uma <strong>de</strong> suas necessida<strong>de</strong>s. É impossível. A nossa<br />

satisfação está inevitavelmente ligada àquilo que nós faz<strong>em</strong>os para obe<strong>de</strong>cer ao Senhor.<br />

Mas é necessário l<strong>em</strong>brar-se que Ele não estará nunca satisfeito se nós não nos<br />

"<strong>de</strong>sperdiçamos" para Ele. Alguma vez <strong>de</strong>ram d<strong>em</strong>asiado ao Senhor? Posso fazer uma<br />

confidência? Uma lição que algum <strong>de</strong> nós apren<strong>de</strong>u é que, no serviço do Senhor, o<br />

princípio do "<strong>de</strong>sperdiço" é o princípio do po<strong>de</strong>r. O princípio que <strong>de</strong>termina a verda<strong>de</strong>ira<br />

utilida<strong>de</strong> é o princípio do gasto supérfluo. A verda<strong>de</strong>ira utilida<strong>de</strong> me<strong>de</strong>-se nas mãos <strong>de</strong><br />

Deus <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> "perda". Mais acreditam po<strong>de</strong>r fazer, mais utilizam os seus talentos<br />

até o extr<strong>em</strong>o limite (e às vezes ultrapassando esses limites) para po<strong>de</strong>r fazê-lo, e mais<br />

perceb<strong>em</strong> que estão aplicando os princípios do mundo e não os do Senhor. Os caminhos<br />

<strong>de</strong> Deus a nosso respeito converg<strong>em</strong> para estabelecer <strong>em</strong> nós este outro princípio: que<br />

nosso serviço para Ele <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da nossa <strong>de</strong>dicação a Ele. Isto não significa <strong>de</strong> modo<br />

algum que não <strong>de</strong>vam fazer nada; mas o que <strong>de</strong>ve ser prioritário <strong>de</strong>ve ser o Senhor, não<br />

a Sua obra.<br />

É necessário que chegu<strong>em</strong>os às aplicações práticas. Vocês talvez digam: "Eu <strong>de</strong>ixei<br />

uma certa posição, abandonei um serviço, renunciei a certas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um futuro<br />

brilhante, para seguir o Senhor. Eu procuro agora servi-Lo. Às vezes parece que Ele me<br />

ouve, e às vezes me faz esperar uma resposta precisa. Às vezes me utiliza, mas às vezes<br />

parece ignorar-me. Quando isto acontece, me comparo com alguma outra pessoa que<br />

está ocupada numa gran<strong>de</strong> organização. Também ela tinha um futuro brilhante, mas não<br />

renunciou. Ela continua e serve o Senhor. Vê almas salvas e o Senhor abençoa seu<br />

ministério. T<strong>em</strong> sucesso, não material, mas espiritual, e eu penso amiú<strong>de</strong> que parece<br />

mais cristã que eu; t<strong>em</strong> um ar tão satisfeito, tão feliz. No final, o que ganhei? Ela não<br />

conhece dificulda<strong>de</strong>s, eu não tenho outra coisa. Nunca seguiu este caminho, mas ainda<br />

assim possui muitas das coisas que hoje os cristãos consi<strong>de</strong>ram como uma riqueza<br />

espiritual, enquanto eu sou s<strong>em</strong>pre assaltado <strong>de</strong> toda sorte <strong>de</strong> complicações. O que<br />

significa tudo isto? Estou <strong>de</strong>sperdiçando a minha vida? Terei verda<strong>de</strong>iramente dado<br />

d<strong>em</strong>ais?"<br />

Eis aí, então, o nosso probl<strong>em</strong>a. Vocês pensam que, se tivess<strong>em</strong> seguido o caminho<br />

do outro irmão, que se se tivess<strong>em</strong> consagrado o suficiente para suportar as dificulda<strong>de</strong>s,<br />

o suficiente para que o Senhor se serva <strong>de</strong> vocês, mas não o suficiente como para que<br />

Ele possa imobilizá-los, tudo iria perfeitamente b<strong>em</strong>. Mas seria verda<strong>de</strong>iramente assim?<br />

Vocês sab<strong>em</strong> muitíssimo b<strong>em</strong> que não é assim não.<br />

Tir<strong>em</strong> seu olhar daquele outro hom<strong>em</strong>. Olh<strong>em</strong> para o seu Senhor e pergunt<strong>em</strong>-se<br />

ainda o que há <strong>de</strong> maior valor do que Ele. Ele pe<strong>de</strong> que o princípio do "<strong>de</strong>sperdiço" seja o<br />

que nos governe: "Ela fez isto para mim". O coração <strong>de</strong> Deus se enche <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iro<br />

gozo quando, como diz o mundo, nos "<strong>de</strong>sperdiçamos" para Ele.<br />

Parece que damos d<strong>em</strong>asiado s<strong>em</strong> receber nada; mas este é o segredo para agradar a<br />

Deus.<br />

Meus queridos amigos, o que procuramos nós? Procuramos, como os discípulos, ser<br />

utilizados? Eles queriam que cada um daqueles trezentos <strong>de</strong>nários tivess<strong>em</strong> uma plena<br />

utilida<strong>de</strong>. Eles buscavam um "útil" para o Senhor que pu<strong>de</strong>sse ser d<strong>em</strong>onstrado com<br />

cifras e reportes. O Senhor <strong>de</strong>seja sentir-nos dizer: "Senhor, eu não me ocupo <strong>de</strong>stas<br />

coisas. Se posso somente ser agradável a Ti, isso é suficiente para mim".<br />

90


A UNIÃO ANTECIPADA<br />

"Jesus, porém, disse: Deixai-a, por que a molestais? Ela fez-me boa obra. Porque<br />

s<strong>em</strong>pre ten<strong>de</strong>s os pobres convosco, e po<strong>de</strong>is fazer-lhes b<strong>em</strong>, quando quiser<strong>de</strong>s; mas a<br />

mim n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre me ten<strong>de</strong>s. Esta fez o que podia; antecipou-se a ungir o meu corpo<br />

para a sepultura" (Marcos 14:6-8).<br />

O Senhor Jesus, com este termo "antecipado", levanta uma questão <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po; e este<br />

el<strong>em</strong>ento não po<strong>de</strong> ter uma nova aplicação hoje, porque é tão importante para nós como<br />

o foi então para Maria. Saibamos todos que no século futuro ser<strong>em</strong>os chamados a uma<br />

obra maior, e não a inativida<strong>de</strong>. "B<strong>em</strong> está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel,<br />

sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor" (Mateus 25:21), confrontar com<br />

Mateus 24:47: "Em verda<strong>de</strong> vos digo que o porá sobre todos os seus bens" e Lucas<br />

19:17: "B<strong>em</strong> está, servo bom, porque no mínimo foste fiel, sobre <strong>de</strong>z cida<strong>de</strong>s terás<br />

autorida<strong>de</strong>". Sim, haverá um serviço maior, porque a construção da casa <strong>de</strong> Deus<br />

prosseguirá, justamente como na história continuou a preocupação pelos pobres. Os<br />

pobres estiveram s<strong>em</strong>pre com os discípulos, mas estes não tiveram s<strong>em</strong>pre o Senhor.<br />

Esta ação <strong>de</strong> Maria, esta unção <strong>de</strong> Jesus com o perfume <strong>de</strong> nardo precioso, <strong>de</strong>via ser<br />

cumprida com antecipação, porque uma s<strong>em</strong>elhante ocasião não se teria mais<br />

apresentado. Eu acredito que naquele dia amar<strong>em</strong>os todos o Senhor, como não o t<strong>em</strong>os<br />

amado jamais neste período <strong>de</strong> nossa vida; porém penso que existirá uma maior bênção<br />

para aqueles que tiveram entregado tudo a Ele, hoje, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> agora. Quando o vejamos<br />

face a face, estou seguro que todos romper<strong>em</strong>os nossos vasos e verter<strong>em</strong>os seu<br />

conteúdo aos seus pés. Mas hoje, o que faz<strong>em</strong>os hoje?<br />

T<strong>em</strong>po <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Maria ter quebrado o vaso <strong>de</strong> alabastro e <strong>de</strong>rramado o perfume<br />

sobre a cabeça <strong>de</strong> Jesus, algumas mulheres saíram b<strong>em</strong> cedo para ungir o corpo do<br />

Senhor. O fizeram? Conseguiram cumprir seu projeto naquele primeiro dia da s<strong>em</strong>ana?<br />

Não, houve uma única pessoa que pô<strong>de</strong> ungir o Senhor, Maria, que o havia ungido<br />

antecipadamente. As outras mulheres nunca o pu<strong>de</strong>ram fazer, pois Ele tinha<br />

ressuscitado. Acredito que, da mesma forma, a escolha do momento possa ter a máxima<br />

importância também para nós, e que a primeira pergunta a fazer-nos seja esta: "O que<br />

posso fazer hoje para o Senhor?"<br />

Nossos olhos foram abertos sobre o precioso valor daqueles que servimos? Chegamos<br />

a compreen<strong>de</strong>r que somente aquilo que nos é mais querido, mais caro, mais precioso, é<br />

digno dEle? Chegamos a enten<strong>de</strong>r que trabalhar para os pobres, trabalhar para o b<strong>em</strong> do<br />

mundo, trabalhar para as almas dos homens, para o b<strong>em</strong> eterno dos pecadores —coisas<br />

todas necessárias e úteis— são b<strong>em</strong> feitas somente se estão <strong>em</strong> seu justo lugar? Em si<br />

mesmas não têm valor algum se confrontadas com aquilo que é feito para o Senhor.<br />

É necessário que o Senhor abra nossos olhos sobre aquilo que Ele significa para nós.<br />

Se existe no mundo algum precioso tesouro <strong>de</strong> arte, e se eu pago o elevado preço que se<br />

exige por ele, sejam R$ 1000, R$ 10.000 ou até R$ 1.000.000, alguém ousará dizer que<br />

é um <strong>de</strong>sperdiço? A idéia do <strong>de</strong>sperdiço penetra <strong>em</strong> nosso modo <strong>de</strong> pensar só quando<br />

avaliamos <strong>em</strong> menos o real valor <strong>de</strong> nosso Senhor. Todo se resume nesta pergunta:<br />

"Que valor t<strong>em</strong> o Senhor para nós, agora?". Se nós não lhe atribuirmos muito, é evi<strong>de</strong>nte<br />

que tudo aquilo que Lhe oferec<strong>em</strong>os, também as pequenas coisas, nos parecerá um<br />

"<strong>de</strong>sperdiço" insensato. Mas quando Ele é realmente precioso para a nossa alma, nada<br />

será d<strong>em</strong>asiado caro, nada será d<strong>em</strong>asiado precioso para Ele; tudo aquilo que<br />

possuímos, nosso tesouro mais prezado, nosso tesouro s<strong>em</strong> preço, o <strong>de</strong>positar<strong>em</strong>os aos<br />

seus pés, e não nos envergonhar<strong>em</strong>os jamais <strong>de</strong> tê-lo feito.<br />

O Senhor disse a Maria: "Ela fez o que podia". O que significa isto? Significa que ela<br />

ofereceu tudo, s<strong>em</strong> guardar nada para o futuro. Ela <strong>de</strong>rramou sobre Ele tudo aquilo que<br />

tinha; por isso, na manhã da ressurreição, não tinha nenhuma razão para chorar sua<br />

extravagância. E o Senhor estará contente <strong>de</strong> nós somente quando tenhamos feito "o<br />

que está <strong>em</strong> nosso po<strong>de</strong>r". L<strong>em</strong>br<strong>em</strong>-se que com isto não entendo gastar as nossas<br />

forças e energias para tentar fazer alguma coisa para Ele. O que o Senhor Jesus procura<br />

<strong>em</strong> nós é uma vida <strong>de</strong>positada aos seus pés; <strong>em</strong> vista <strong>de</strong> sua morte e sepultura e <strong>de</strong> um<br />

dia futuro. A sua sepultura estava já <strong>em</strong> vista, aquele dia, na casa <strong>de</strong> Betânia. Hoje está<br />

<strong>em</strong> vista sua coroação no dia <strong>em</strong> que será aclamado na glória como o Ungido, o Cristo <strong>de</strong><br />

Deus. sim, naquele dia <strong>de</strong>rramar<strong>em</strong>os tudo o que ter<strong>em</strong>os sobre Ele. Unjamo-Lo,<br />

portanto, hoje, não com o óleo material mas com algo mais precioso, com alguma coisa<br />

que provenha diretamente <strong>de</strong> nosso coração.<br />

Aquilo que é somente externo e superficial não po<strong>de</strong> ter lugar aqui. Foi <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong><br />

lado por meio da Cruz e nós aceitamos o juízo <strong>de</strong> Deus sobre isso e experimentamos o<br />

91


efeito <strong>de</strong> sua supressão. Aquilo que Deus nos pe<strong>de</strong> agora está representado pelo vaso <strong>de</strong><br />

alabastro: alguma coisa extraída do profundo, folhada, cinzelada e esculpida; alguma<br />

coisa que é para nós tão valiosa porque o é também para o Senhor, que nos é preciosa<br />

como a Maria era precioso seu vaso e que não ousamos quebrar. V<strong>em</strong> <strong>de</strong> nosso coração,<br />

do mais profundo <strong>de</strong> nosso ser; e vamos com ele ao Senhor, o quebramos para <strong>de</strong>rramar<br />

o conteúdo <strong>em</strong> seus pés e Lhe diz<strong>em</strong>os: "b<strong>em</strong>, Senhor, estamos aqui com todo o nosso<br />

ser. Todo é Teu, porque Tu és digno". Assim o Senhor t<strong>em</strong> aquilo que <strong>de</strong>seja. Possa Ele<br />

receber hoje uma s<strong>em</strong>elhante unção <strong>de</strong> nós.<br />

FRAGRÂNCIA<br />

"E encheu-se a casa do cheiro do ungüento" (João 12:3). Des<strong>de</strong> o momento <strong>em</strong> que<br />

foi rompido aquele vaso e o Senhor Jesus foi ungido, a casa foi invadida do perfume mais<br />

doce. Todos podiam senti-lo, e ninguém podia ignorá-lo. O que significa isto?<br />

Quando vocês encontram um cristão que realmente t<strong>em</strong> sofrido, alguém que tenha<br />

atravessado com o Senhor experiências que tenham ultrapassado seus limites, e que, ao<br />

invés <strong>de</strong> tentar ser liberado para ser "útil", se <strong>de</strong>ixou fazer prisioneiro dEle, apren<strong>de</strong>ndo<br />

assim a encontrar sua satisfação somente no Senhor, imediatamente perceb<strong>em</strong> alguma<br />

coisa; a nossa sensibilida<strong>de</strong> espiritual perceberá <strong>em</strong> seguida um doce perfume <strong>de</strong> Cristo.<br />

Alguma coisa, naquela vida, foi quebrada, triturada, e por isso vocês sent<strong>em</strong> a<br />

fragrância. O perfume que encheu a casa <strong>de</strong> Betânia naquele dia continua a encher hoje<br />

a <strong>Igreja</strong>; a fragrância <strong>de</strong> Maria não <strong>de</strong>saparece nunca. Foi suficiente um único golpe para<br />

romper o vaso para o Senhor, mas este gesto, aquela <strong>de</strong>dicação ilimitada <strong>de</strong> si e do<br />

perfume daquela unção, permanec<strong>em</strong> até hoje.<br />

Nós falamos aqui daquilo que somos não do que faz<strong>em</strong>os ou predicamos. Talvez<br />

tenham pedido ao Senhor que se sirva <strong>de</strong> vocês durante muito t<strong>em</strong>po, <strong>de</strong> forma que<br />

possam levar aos outros alguma coisa dEle. Naquela oração não pediram o dom da<br />

predicação ou do ensino, mas o <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r levar <strong>em</strong> seu contato com outros, alguma coisa<br />

<strong>de</strong> Deus, da presença <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter colocado tudo o que possuiam <strong>de</strong> mais<br />

prezado aos pés do Senhor Jesus.<br />

Mas uma vez que chegaram a este ponto, vocês pod<strong>em</strong> parecer b<strong>em</strong> utilizados ou<br />

não, numa forma externa, mas o Senhor começará a utilizar vocês para suscitar <strong>em</strong><br />

outros o <strong>de</strong>sejo dEle. Os outros sentirão <strong>em</strong> vocês o perfume <strong>de</strong> Cristo; até o menos<br />

ligado a estas coisas estará <strong>em</strong> condições <strong>de</strong> discerni-lo. Cada um perceberá que há aqui<br />

um que caminha com o Senhor, que sofreu, que não agiu por si mesmo, que apren<strong>de</strong>u o<br />

que significa submeter tudo a Ele. Uma vida <strong>de</strong>ste gênero suscita impressões, as<br />

impressões produz<strong>em</strong> <strong>de</strong>sejos e o <strong>de</strong>sejo impulsiona os homens a buscar, até que sejam<br />

introduzidos pela revelação divina, na plenitu<strong>de</strong> da vida <strong>em</strong> Cristo.<br />

Deus não nos colocou aqui com o primeiro objetivo <strong>de</strong> trabalhar ou <strong>de</strong> predicar para<br />

Ele. A primeira razão pela qual Ele nos coloca aqui é para que nós suscit<strong>em</strong>os fome nos<br />

outros. Isto é, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tudo, o que prepara o fundamento da predicação.<br />

Se vocês apresentam um gostoso doce diante <strong>de</strong> pessoas que voltam <strong>de</strong> um bom<br />

almoço, qual será sua reação? Elas comentarão, admirarão seu magnífico aspecto, se<br />

interessarão pela receita, pensarão no preço, mas não o comerão! Porém, se elas<br />

tivess<strong>em</strong> verda<strong>de</strong>iramente fome, não passaria muito t<strong>em</strong>po antes que o doce tenha<br />

completamente <strong>de</strong>saparecido. Assim é com as coisas do Espírito. Nenhuma obra<br />

verda<strong>de</strong>ira po<strong>de</strong>rá ser iniciada numa vida, se antes que nada não é suscitada nela a<br />

verda<strong>de</strong>ira necessida<strong>de</strong>. Mas como po<strong>de</strong> isto ser feito? Nós não pod<strong>em</strong>os suscitar pela<br />

força um apetite espiritual nos outros; não pod<strong>em</strong>os constrangê-los a ter fome. A fome<br />

<strong>de</strong>ve se produzir espontaneamente, e só po<strong>de</strong> acontecer através daqueles que levam <strong>em</strong><br />

si a marca <strong>de</strong> Deus.<br />

Gosto <strong>de</strong> pensar nas palavras daquela mulher "importante" <strong>de</strong> Suném. Falando do<br />

profeta que havia hospedado s<strong>em</strong> ainda conhecê-lo, disse: "Eis que tenho observado que<br />

este que s<strong>em</strong>pre passa por nós é um santo hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> Deus" (2 Reis 4:9). O que<br />

produziu esta impressão nela não foi o que tinha feito ou o que tinha falado o profeta<br />

Eliseu, mas aquilo que ele era. Em sua forma simples <strong>de</strong> pensar, ela havia podido<br />

perceber alguma coisa; tinha enxergado. O que vê<strong>em</strong> os outros <strong>em</strong> nós? Pod<strong>em</strong>os <strong>de</strong>ixar<br />

muitos tipos <strong>de</strong> impressões; pod<strong>em</strong>os <strong>de</strong>ixar a impressão <strong>de</strong> que somos inteligentes, que<br />

somos cultos, que somos isto ou aquilo. A impressão que <strong>de</strong>ixava Eliseu era uma<br />

impressão <strong>de</strong> Deus mesmo.<br />

A influência que pod<strong>em</strong>os ter sobre os outros <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma única coisa, da obra<br />

que cumpriu a Cruz <strong>em</strong> nós, pela confirmação da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus. Ela pe<strong>de</strong> que eu<br />

tente <strong>de</strong> obe<strong>de</strong>cer somente o Senhor, s<strong>em</strong> me preocupar daquilo que vai me custar. A<br />

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irmã <strong>de</strong> que falei antes encontrou-se, um dia, numa situação muito difícil, que podia lhe<br />

custar tudo. Eu estava perto <strong>de</strong>la, naquele momento, e nos ajoelhamos para orar, que os<br />

olhos úmidos. Alçando o olhar para o céu, ela disse: "Senhor, estou pronta para <strong>de</strong>ixar<br />

quebrantar meu coração para satisfazer o teu". Falar assim, <strong>de</strong> coração partido, po<strong>de</strong>ria<br />

ser para muitos <strong>de</strong> nós só um lance <strong>de</strong> puro sentimentalismo, mas para ela, na situação<br />

<strong>em</strong> que estava, queria dizer exatamente isso.<br />

Deve haver alguma coisa —um consentimento à entrega <strong>de</strong> nós mesmos no quebrar o<br />

vaso e verter tudo o conteúdo para Ele— que permita ao perfume <strong>de</strong> Cristo se expandir e<br />

se reproduzir <strong>em</strong> outras vidas; uma consciência da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>les que os impulsione<br />

a procurar e conhecer o Senhor. Isto me parece ser o centro <strong>de</strong> tudo.<br />

O Evangelho t<strong>em</strong> por único objetivo criar <strong>em</strong> nós, pecadores, uma disposição que<br />

satisfaça o coração <strong>de</strong> nosso Deus. Para que isto aconteça, nós vi<strong>em</strong>os a Ele com tudo<br />

aquilo que t<strong>em</strong>os, com tudo o que somos —sim, com tudo o que mais amamos <strong>de</strong> nossas<br />

experiências espirituais— e Lhe diz<strong>em</strong>os: "Senhor, eu estou pronto para abandonar tudo<br />

isto por Ti; não pela tua obra, não pelos teus filhos, não por outras coisa, mas por Ti,<br />

somente para Ti".<br />

Oh, sermos <strong>de</strong>sperdiçados nEle! É uma coisa abençoada sermos <strong>de</strong>sperdiçados para o<br />

Senhor. Muitas pessoas <strong>em</strong>inentes, no mundo cristão, não sab<strong>em</strong> nada disto. Muitos <strong>de</strong><br />

nós fomos utilizados plenamente, talvez d<strong>em</strong>ais, mas não sab<strong>em</strong>os o que quer dizer<br />

sermos <strong>de</strong>sperdiçados <strong>em</strong> Deus.<br />

Gostamos <strong>de</strong> estar s<strong>em</strong>pre "ocupados"; o Senhor po<strong>de</strong>ria preferir alguma vez ter-nos<br />

<strong>em</strong> prisão. Nós v<strong>em</strong>os tudo <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> viagens apostólicas; Deus se digna ter seus<br />

maiores <strong>em</strong>baixadores acorrentados.<br />

"Graças, porém, a Deus que <strong>em</strong> Cristo s<strong>em</strong>pre nos conduz <strong>em</strong> triunfo, e por meio <strong>de</strong><br />

nós difun<strong>de</strong> <strong>em</strong> todo lugar o cheiro do seu conhecimento" (2 Coríntios 2:14).<br />

"E encheu-se a casa do cheiro do bálsamo" (João 12:3).<br />

Que o Senhor nos dê a graça <strong>de</strong> saber s<strong>em</strong>pre como agradá-Lo. Quando, como Paulo,<br />

prefiramos este escopo supr<strong>em</strong>o (2 Coríntios 5:9), o Evangelho terá alcançado seu<br />

objetivo.<br />

93


ÍNDICE<br />

CAPÍTULO 1 – O SANGUE DE CRISTO.................................................................. 3<br />

O nosso duplo probl<strong>em</strong>a: os pecados e o pecado<br />

O duplo r<strong>em</strong>édio <strong>de</strong> Deus: o sangue e a cruz<br />

O probl<strong>em</strong>a dos nossos pecados<br />

Primeiramente o sangue t<strong>em</strong> valor diante <strong>de</strong> Deus<br />

Deus é satisfeito<br />

A via pela qual o crente vai a Deus<br />

A vitória sobre o acusador<br />

CAPÍTULO 2 – A CRUZ DE CRISTO....................................................................... 9<br />

Outra distinção<br />

A condição natural do hom<strong>em</strong><br />

Como <strong>em</strong> Adão, assim <strong>em</strong> Cristo<br />

O meio divino da liberação<br />

O que a sua morte e ressurreição representam e abrang<strong>em</strong><br />

CAPÍTULO 3 – O CAMINHO PARA IR ALÉM: SABER ........................................... 15<br />

A nossa morte com Cristo é um fato histórico<br />

O primeiro passo: "sabendo que..."<br />

A revelação divina é a base essencial da consciência<br />

A cruz na raiz do nosso probl<strong>em</strong>a<br />

CAPÍTULO 4 – O CAMINHO PARA IR ALÉM: FAZER DE CONTA DE ESTAR<br />

MORTOS........................................................................................................ 19<br />

O segundo passo: assim, vocês consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong>-se como...<br />

Consi<strong>de</strong>rar-se pela fé<br />

As tentações e as quedas, <strong>de</strong>safio à fé<br />

Permanecer nEle<br />

CAPÍTULO 5 – O PODER DI SEPARAÇÃO DA CRUZ............................................. 26<br />

Duas criações<br />

A sepultura significa um fim<br />

A ressurreição <strong>em</strong> novida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />

CAPÍTULO 6 – O CAMINHO PARA IR ALÉM: APRESENTAR-SE A DEUS ............... 31<br />

O terceiro passo: "apresentai-vos..."<br />

Separado para o Senhor<br />

Servo ou escravo?<br />

CAPÍTULO 7 – O DESÍGNIO ETERNO ................................................................. 33<br />

O primogênito <strong>de</strong> muitos irmãos<br />

O grão <strong>de</strong> trigo<br />

A escolha que Adão <strong>de</strong>veu enfrentar<br />

A escolha <strong>de</strong> Adão, razão da cruz<br />

Qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> o Filho t<strong>em</strong> a vida<br />

Todos nasceram <strong>de</strong> um hom<strong>em</strong> só<br />

CAPÍTULO 8 – O ESPÍRITO SANTO.................................................................... 37<br />

A efusão do Espírito<br />

A fé é ainda a chave<br />

A diferença da experiência<br />

A permanência do Espírito <strong>em</strong> nós<br />

O tesouro no vaso <strong>de</strong> barro<br />

A soberania absoluta <strong>de</strong> Cristo<br />

CAPÍTULO 9 – O SIGNIFICADO E O VALOR DO SÉTIMO CAPÍTULO DA<br />

CARTA AOS ROMANOS .................................................................................. 46<br />

A carne e a <strong>de</strong>rrota do hom<strong>em</strong><br />

O que ensina a lei<br />

Cristo, até a lei<br />

O fim <strong>de</strong> nós mesmos é o princípio <strong>de</strong> Deus <strong>em</strong> nós<br />

Graças sejam dadas a Deus!<br />

CAPÍTULO 10 – O CAMINHO DO PROGRESSO: CAMINHAR SEGUNDO O<br />

ESPÍRITO...................................................................................................... 54<br />

A carne e o Espírito<br />

Cristo, a nova vida<br />

A lei do Espírito da vida<br />

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A manifestação da lei da vida<br />

O quarto passo: "caminhar segundo o Espírito"<br />

CAPÍTULO 11 – UM ÚNICO CORPO EM CRISTO.................................................. 62<br />

Uma porta e um caminho<br />

Os quatro aspectos da obra <strong>de</strong> Cristo sobre a cruz<br />

O amor <strong>de</strong> Cristo<br />

Um único sacrifício vivente<br />

Mais que vencedores <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo<br />

CAPÍTULO 12 – A CRUZ E A VIDA DA ALMA....................................................... 69<br />

A verda<strong>de</strong>ira natureza da queda<br />

A alma humana<br />

A energia natural na obra <strong>de</strong> Deus<br />

A luz <strong>de</strong> Deus e o conhecimento<br />

CAPÍTULO 13 – O CAMINHO DO PROGRESSO: CARREGAR A CRUZ .................... 76<br />

A obra subjetiva da cruz<br />

A cruz e a abundância dos frutos<br />

Uma noite escura – uma manhã <strong>de</strong> ressurreição<br />

CAPÍTULO 14 – O OBJETIVO DO EVANGELHO ................................................... 82<br />

Desperdiço<br />

Servir por prazer ao Senhor<br />

A união antecipada<br />

Fragrância<br />

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