Alfabetização e letramento - Universidade Federal de Pernambuco
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Nenhum fator isolado, consi<strong>de</strong>rado em si mesmo, po<strong>de</strong> explicar<br />
isso [...] As pessoas não se alfabetizavam por esta ou<br />
aquela razão em particular, mas porque se sentiam mais e<br />
mais tocadas em todas as áreas <strong>de</strong> suas vidas pelo po<strong>de</strong>r da<br />
comunicação que apenas a palavra escrita torna possível.<br />
Havia, portanto, uma motivação para apren<strong>de</strong>r a ler e a escrever;<br />
estas habilida<strong>de</strong>s permitiam que homens e mulheres funcionassem<br />
mais efetivamente em uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> contextos<br />
sociais. Isto explica por que, na ausência <strong>de</strong> escolas externamente<br />
patrocinadas, ambientes apoiados internamente eram<br />
responsáveis pela criação e transmissão da alfabetização.<br />
Embora não possamos, como diz Laquer, <strong>de</strong>ter-nos em um único<br />
elemento como fator motivador <strong>de</strong>ssa expansão da alfabetização, não<br />
po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar a influência dos conflitos religiosos ocorridos<br />
a partir do século XVI, na Europa.<br />
Conforme <strong>de</strong>staca Manacorda (1989), os movimentos populares<br />
ligados à Reforma Protestante promoveram a difusão da instrução como<br />
meio <strong>de</strong> garantir a leitura e a interpretação da Bíblia por cada fiel. A<br />
mediação do clero entre Deus e os fiéis passa a ser questionada, e a<br />
leitura das sagradas escrituras torna-se o modo pelo qual cada indivíduo<br />
teria acesso ao caminho da salvação. A partir <strong>de</strong>sse posicionamento, as<br />
igrejas protestantes passaram a preocupar-se em ensinar a ler aos seus<br />
seguidores e estimularam a prática da leitura familiar diária pelo chefe da<br />
família. Nesse contexto, o material para a aprendizagem se constituía das<br />
sagradas escrituras, dos livros <strong>de</strong> oração e <strong>de</strong> catecismo.<br />
Entretanto, não apenas a Reforma, mas também o movimento <strong>de</strong><br />
Contra-Reforma, buscou a instrução <strong>de</strong> seus fiéis como forma <strong>de</strong><br />
introduzi-los na verda<strong>de</strong> da fé católica:<br />
Nos territórios católicos, as or<strong>de</strong>ns religiosas missionárias<br />
encarregavam-se da pregação da doutrina cristã. [...] As crianças<br />
<strong>de</strong>veriam ir à escola para apren<strong>de</strong>r a ler as orações que<br />
constituíam o ritual da missa e apren<strong>de</strong>r o catecismo até a<br />
primeira comunhão (CHARTIER, 2002).<br />
Assim sendo, parece que a primeira alfabetização em massa levada<br />
a cabo na Europa Oci<strong>de</strong>ntal esteve ligada muito mais à catequese<br />
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