Alfabetização e letramento - Universidade Federal de Pernambuco
Alfabetização e letramento - Universidade Federal de Pernambuco
Alfabetização e letramento - Universidade Federal de Pernambuco
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
da educação e estreitamente supervisionadas, po<strong>de</strong>ria ser uma<br />
força po<strong>de</strong>rosa e útil na obtenção <strong>de</strong> uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> importantes<br />
fins. (p. 48)<br />
Assim sendo, a implantação <strong>de</strong> um sistema público <strong>de</strong> instrução<br />
nos séculos XVIII e XIX parece não ter ocorrido como estímulo à<br />
alfabetização da população, mas, pelo contrário, buscou subjugá-la,<br />
controlando “tanto as formas <strong>de</strong> expressão quanto <strong>de</strong> pensamento”<br />
(COOK-GUMPERZ, op cit. , p. 40). Um dos objetivos <strong>de</strong>sse controle<br />
vinha, sem dúvida, da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma mão <strong>de</strong> obra capaz <strong>de</strong><br />
a<strong>de</strong>quar-se à disciplina do trabalho fabril:<br />
Mas o que a alfabetização difundida faz a um país em <strong>de</strong>senvolvimento?<br />
No mínimo ela constitui um treinamento em ser<br />
treinado. O homem que na infância se submeteu a alguns<br />
processos <strong>de</strong> disciplina e aprendizagem consciente tem maior<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r a um treinamento adicional,<br />
seja em um exército <strong>de</strong> recrutas, em uma fábrica... (R. P.<br />
DORE, 1967, apud GRAFF, 1984, p. 231)<br />
Essa alfabetização levada a efeito por meio da escolarização teve<br />
por base um processo <strong>de</strong> ensino no qual a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ler e escrever<br />
foi sendo associada a características morais e sociais. Isso levou<br />
a uma nova divisão da socieda<strong>de</strong> entre os educados (escolarizados)<br />
e os não-educados (não-escolarizados). Dessa forma, os <strong>de</strong>tentores<br />
do saber escolar passaram a ser consi<strong>de</strong>rados sujeitos letrados, enquanto<br />
aqueles <strong>de</strong>ixados à margem da escola eram vistos como sujeitos<br />
iletrados, já que não dominavam o saber da leitura e da escrita<br />
requerido pela escola, antes <strong>de</strong>tinham um saber <strong>de</strong> “segunda” categoria.<br />
A aprendizagem da língua escrita assume, a partir da escolarização<br />
formal, um caráter <strong>de</strong> alfabetização escolar, passando a consi<strong>de</strong>rar<br />
como verda<strong>de</strong>iramente alfabetizado apenas o sujeito que passasse<br />
pela escola.<br />
Embora a noção <strong>de</strong> uma escolarização pública tenha sido construída<br />
com base nessas duas forças contraditórias apresentadas acima,<br />
à medida que o processo <strong>de</strong> escolarização estava sendo implantado,<br />
as práticas populares passaram a ser controladas, modificadas<br />
ou substituídas. Essa relação <strong>de</strong> domínio da escolarização sobre a<br />
28