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Alfabetização e letramento - Universidade Federal de Pernambuco

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lições do fim que na escola você só tinha acesso àqueles<br />

textos <strong>de</strong>pois que <strong>de</strong>corava as letras padrões, minha mãe<br />

pegava a carta e lia os textos.<br />

Po<strong>de</strong>mos observar pelo relato da professora o quanto o processo<br />

<strong>de</strong> alfabetização vivenciado por ela nos remete ao mesmo mo<strong>de</strong>lo<br />

vivido pelas crianças dos séculos XVIII e XIX. No processo vivido<br />

por ela na escola, a seqüência das lições apresentada na carta <strong>de</strong> ABC<br />

<strong>de</strong>veria ser rigidamente seguida e só no final era permitida a leitura <strong>de</strong><br />

textos. Assim como proposto na “Conduite” <strong>de</strong> La Salle e nos manuais<br />

<strong>de</strong> leitura do século XIX, o ensino <strong>de</strong>veria ser iniciado pelas unida<strong>de</strong>s<br />

menores (letras, sílabas) e levar à sua memorização; passar,<br />

então, para às palavras e, só <strong>de</strong>pois introduzir os textos.<br />

Assim como os mestres dos séculos XVIII e XIX, muitos professores<br />

ainda hoje concebem o ato <strong>de</strong> ler e escrever como algo neutro e<br />

universal e acreditam que o problema fundamental da alfabetização é<br />

uma questão <strong>de</strong> escolha do método a ser utilizado.<br />

Entretanto, a professora também nos fala <strong>de</strong> uma prática <strong>de</strong> alfabetização<br />

que acontecia em casa, com as pessoas da família, que não<br />

parece, a princípio, preocupada em seguir <strong>de</strong>terminado método. Falanos<br />

da preocupação dos pais em ensinar a escrita antes que se chegasse<br />

à escola, pois “tinha <strong>de</strong> <strong>de</strong>sarnar antes <strong>de</strong> ir para a escola porque se<br />

não, não apren<strong>de</strong>”. Parece, então, que a prática <strong>de</strong> uma alfabetização<br />

(ou pelo menos sua iniciação) realizada em casa é uma prática que,<br />

apesar da instituição da escola, ainda perdura entre <strong>de</strong>terminadas<br />

parcelas da população. Diferentes estudos sobre histórias <strong>de</strong> vida <strong>de</strong><br />

professores observaram esse investimento dos familiares numa aprendizagem<br />

da escrita antes da entrada das crianças na escola em famílias<br />

cujos pais apresentam baixo grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>. 3<br />

Embora no relato da professora Fátima a experiência <strong>de</strong> alfabetização<br />

vivenciada em casa pareça diferenciar-se, em alguns aspectos,<br />

do que acontecia na escola, os estudos mencionados acima mostram<br />

que o investimento em uma alfabetização anterior à escola se traduz,<br />

muitas vezes, na reprodução em casa <strong>de</strong> tarefas escolares. Isso reflete<br />

3 Cf. BARRÉ-DE-MINIAC, 1997; GUEDES-PINTO, 2002; SANTOS,2004.<br />

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