Questões de Sexualidade - Institute of Development Studies
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As limitações da linguagem dos direitos para enfrentar a heteronormativida<strong>de</strong> são similares<br />
àquelas esboçadas na discussão sobre interseccionalida<strong>de</strong>, isto é, a linguagem dos<br />
direitos em si mesma não <strong>of</strong>erece as ferramentas para que façamos uma análise <strong>de</strong> como se<br />
intersectam os eixos <strong>de</strong> gênero, sexualida<strong>de</strong>, classe, etc. Portanto, para mim, a linguagem<br />
dos direitos em si mesma é precisamente isso, uma linguagem – mais do que uma “abordagem”<br />
ou uma “i<strong>de</strong>ologia”.<br />
Evitando a subversão<br />
O fato <strong>de</strong> que a linguagem dos direitos geralmente não enfrenta a heteronormativida<strong>de</strong> também<br />
significa que ela quase nunca se engaja com o potencial subversivo da sexualida<strong>de</strong> queer.<br />
Uma ilustração disso é o foco da linguagem <strong>de</strong> direitos nas violações – que é forma em que ela<br />
se apresenta mais freqüentemente. No contexto da sexualida<strong>de</strong> entre pessoas do mesmo sexo,<br />
algumas vezes é mais fácil para nós, como ativistas (que têm ou não <strong>de</strong>sejo por pessoa do mesmo<br />
sexo) envolvidas com esses temas, restringir o discurso às violações e gerar um consenso<br />
mais limitado em torno a essas questões. E da parte <strong>de</strong> outros e outras existe também a preferência<br />
por restringir seu engajamento às violações <strong>de</strong> direitos humanos. Há uma relutância em<br />
reconhecer e admitir o potencial subversivo que tem o <strong>de</strong>sejo queer, a qual <strong>de</strong>riva das estruturas<br />
e i<strong>de</strong>ologias que são por eles ameaçadas. Parte <strong>de</strong>ssa relutância também precisa ser situada em<br />
relação às ansieda<strong>de</strong>s que o engajamento mais pr<strong>of</strong>undo com os temas do <strong>de</strong>sejo por pessoas<br />
do mesmo sexo provoca, em particular por efeito da construção e experiência da sexualida<strong>de</strong><br />
entre pessoas da classe média (origem da maioria das ativistas com quem PRISM se envolveu até<br />
o momento) como um domínio intensamente pessoal e íntimo.<br />
Conclusão<br />
Este artigo procurou <strong>de</strong>stacar algumas das premissas subjacentes à linguagem dos direitos<br />
e suas implicações, tais como o perigo <strong>de</strong> sermos levadas/os a utilizar um marco conceitual <strong>de</strong><br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s restritivo, por que baseado na orientação sexual. Um outro conjunto <strong>de</strong> implicações<br />
está relacionado à natureza do envolvimento <strong>de</strong> outros movimentos progressistas com<br />
temas queer. Num contexto no qual existem medos e ansieda<strong>de</strong>s em relação ao engajamento<br />
mais próximo com esses temas, a linguagem dos direitos permite que outras pessoas <strong>of</strong>ereçam<br />
apoio <strong>de</strong> uma distância “segura”. Este artigo também procura chamar a atenção para limitações<br />
da linguagem dos direitos no sentido <strong>de</strong> incorporar a interseccionalida<strong>de</strong>, o que é um<br />
requisito para os esforços <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> alianças mais pr<strong>of</strong>undas. Da mesma forma, foram<br />
<strong>de</strong>stacadas as limitações <strong>de</strong>ssa linguagem em termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconstruir e, portanto, contestar a<br />
heteronormativida<strong>de</strong>. Na verda<strong>de</strong>, uma utilização estreita da linguagem dos direitos <strong>of</strong>erece<br />
uma escapatória para não confrontar a heteronormativida<strong>de</strong> e sua subversão.<br />
Gostaria <strong>de</strong> reiterar que acredito ser possível utilizar a linguagem dos direitos e, ao mesmo<br />
tempo, lidar com a interseccionalida<strong>de</strong>, heteronormativida<strong>de</strong> e subversão. Esta é a forma<br />
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Reflexões sobre a linguagem dos direitos <strong>de</strong> uma perspectiva queer