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Questões de Sexualidade - Institute of Development Studies

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das regras) vêm realizando uma análise da sexualida<strong>de</strong>, especialmente da sexualida<strong>de</strong> das<br />

mulheres. Ao fazer isso, criam espaços nos quais mulheres <strong>de</strong> todos os tipos começam a questionar<br />

o aparente monolitismo das interpretações conservadoras e a investigar o significado<br />

<strong>de</strong> seus direitos sexuais em diferentes contextos africanos (Ilkkaracan, 2002; Imam, 2005;<br />

Gamcotrap, 2003).<br />

Construções da sexualida<strong>de</strong>: negação dos direitos sexuais<br />

O contexto normativo sócio-religioso do islã conservador é um fator po<strong>de</strong>roso na construção<br />

das noções <strong>de</strong> sexualida<strong>de</strong> e, em <strong>de</strong>corrência, dos direitos sexuais na Gâmbia. Porém, ele<br />

não é o único fator em jogo. As noções <strong>de</strong> tradição, cultura, família, comunida<strong>de</strong> e a<strong>de</strong>quação<br />

econômica também cumprem um papel importante. As seções seguintes <strong>de</strong>screvem maneiras<br />

como a sexualida<strong>de</strong> é construída; as questões através das quais é vivenciada; e as conseqüências<br />

dos abusos dos direitos sexuais em momentos diferentes da vida das mulheres.<br />

Nascida menina<br />

O sexo da criança no nascimento influencia fortemente a paisagem dos direitos sexuais,<br />

tanto para a própria criança quanto para sua mãe. Enquanto as meninas s<strong>of</strong>rem discriminação<br />

prematura em termos <strong>de</strong> educação e socialização/sexualização, as opções sexuais <strong>de</strong> suas<br />

mães também são circunscritas pelo sexo <strong>de</strong> seus bebês.<br />

Embora tanto as meninas quanto os meninos sejam bem-vindas/os nas famílias gambianas,<br />

persiste o <strong>de</strong>sejo muito forte <strong>de</strong> que nasçam mais meninos do que meninas. Sabe-se que<br />

as mulheres têm gestações “extras” na esperança <strong>de</strong> satisfazer esse <strong>de</strong>sejo. O fracasso em<br />

atingir esse objetivo implica os riscos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezo marital e abuso doméstico. Sarjo explica<br />

sua difícil situação:<br />

“Não sou mais a esposa favorita porque só tenho meninas e minhas cunhadas<br />

estão sempre me lembrando que fui trazida para casa para lhes dar um<br />

her<strong>de</strong>iro. Tenho que agüentar todos os abusos verbais <strong>de</strong> meu marido, sogra e<br />

cunhadas. Como gostaria <strong>de</strong> ter um menino!”<br />

As concepções religiosas e culturais do menino como (futuro) chefe da família, que dará continuida<strong>de</strong><br />

à linhagem familiar, afetam as crianças <strong>de</strong> ambos os sexos. Os meninos são privilegiados<br />

social e materialmente, enquanto para as meninas a discriminação tem conseqüências psicológicas<br />

e econômicas. Muitas <strong>de</strong>las internalizam essa falta <strong>de</strong> privilégios, o que afeta por toda a vida<br />

seu senso <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong> e integrida<strong>de</strong> individual e, em conseqüência, sua sexualida<strong>de</strong>. Ao mesmo<br />

tempo, as oportunida<strong>de</strong>s materiais, como educação, aquisição <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s e outros recursos<br />

disponíveis para a família, lhes são em gran<strong>de</strong> parte negados, em favor dos meninos.<br />

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A sexualida<strong>de</strong> e os direitos sexuais das mulheres na Gâmbia

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