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Questões de Sexualidade - Institute of Development Studies

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“naturais” dos homens. Numa reunião da AIDSNet sobre gênero e HIV, em Oslo, um participante<br />

etíope fez uma pergunta pertinente: “Mas quais são os direitos sexuais dos homens?”.<br />

Trata-se <strong>de</strong> uma pergunta que nunca é respondida pelas pessoas envolvidas no trabalho <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento tradicionalmente centrado nas mulheres e na igualda<strong>de</strong> entre os gêneros.<br />

No entanto, a pergunta pressupõe uma questão crucial não somente sobre como os múltiplos<br />

<strong>de</strong>sejos sexuais das mulheres são compreendidos (e tratados), mas também como os corpos e<br />

<strong>de</strong>sejos dos homens são entendidos. Ou seja, sobre o que é visto pelos homens como sendo<br />

normal, quando não necessário; e sobre como meninos e homens apren<strong>de</strong>m a conceituar o<br />

prazer, a interpretar e usar seus corpos. Seja na Inglaterra, em Burundi, na Noruega ou em<br />

Zâmbia, em geral, invoca-se um discurso biológico essencialista sobre a sexualida<strong>de</strong> masculina,<br />

como sendo uma verda<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nte que, no entanto, nunca é examinada em <strong>de</strong>talhe.<br />

O lema segundo o qual “todas sabemos o que os homens querem ou necessitam” muitas<br />

vezes alimenta uma corrente <strong>de</strong> pressupostos não-expressos, que aprisiona os homens numa<br />

busca implacável mas necessária <strong>de</strong> penetrar as mulheres. Adiciona-se a <strong>de</strong>svantagem <strong>de</strong> que<br />

quando você, como homem, não faz isso, não trata <strong>de</strong> conseguir isso, não comprova socialmente<br />

que faz isso, não se alinha com as brinca<strong>de</strong>iras dos rapazes que reproduzem esses<br />

pressupostos, você po<strong>de</strong> não ser um “homem <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>”. E mais, seu prazer <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

que você, <strong>de</strong> fato, faça isso. Portanto, cabe perguntar: os homens têm o direito <strong>de</strong> satisfazer<br />

suas necessida<strong>de</strong>s sexuais e seu prazer? E caso tenham, como são entendidos esse prazer<br />

e essas necessida<strong>de</strong>s? O que moldam e forçam essas necessida<strong>de</strong>s e esse prazer no sentido<br />

<strong>de</strong> que sejam expressos <strong>de</strong> certas formas e não <strong>de</strong> outras? A idéia amplamente aceita e nãoquestionada<br />

<strong>de</strong> que o prazer sexual masculino está ancorado no <strong>de</strong>sempenho legitimador <strong>de</strong><br />

uma masculinida<strong>de</strong> baseada no po<strong>de</strong>r e no controle do sexo pelo homem – assim como na<br />

naturalização da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero – implica, <strong>de</strong> fato, num <strong>de</strong>sempenho que limita as<br />

noções do prazer sexual masculino a atos muito estreitos?<br />

A outra maneira <strong>de</strong> invocar o discurso dos direitos sexuais é afirmar o direito das mulheres<br />

ao prazer sexual. Essa perspectiva consi<strong>de</strong>ra que o direito dos homens <strong>de</strong> conseguirem<br />

prazer sexual, nos seus próprios termos, na maioria das vezes se impõe à custa do <strong>de</strong>scuido<br />

com o prazer sexual das mulheres ou da sua <strong>de</strong>svalorização.<br />

Em geral, as convenções sexuais são marcadas pelas sombras dos silêncios, tabus e rituais<br />

<strong>de</strong> comportamento que limitam a construção permanente da intimida<strong>de</strong>. Numa <strong>of</strong>icina sobre<br />

prevenção do HIV com homens imigrantes da Etiópia e Somália, eles se mostraram muito<br />

interessados em apren<strong>de</strong>r claramente como, on<strong>de</strong> e porque o vírus circula. Durante horas,<br />

discutiram e fizeram muitas perguntas às facilitadoras, que eram brancas. No entanto, ao<br />

final, todos lamentaram ser impossível abrir a mesma discussão com suas esposas, pois os<br />

tabus culturais quanto a como se vê e se fala sobre o corpo parecem imutáveis. Talvez, isso<br />

possa ser resolvido apenas com “mais tempo”. Os processos eficazes <strong>de</strong> promoção da saú<strong>de</strong> e<br />

do bem-estar sexual sempre levam mais tempo do que supõem os governos e agências financiadoras.<br />

Em contraste, guardas <strong>de</strong> segurança, motoristas, gerentes e pessoas que capacitam<br />

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Termos <strong>de</strong> contato – em contato com a transformação: pesquisando o prazer numa epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> HIV

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