Questões de Sexualidade - Institute of Development Studies
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Andrea Cornwall e Susie Jolly<br />
As agências <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento divi<strong>de</strong>m a vida das pessoas em pedaços ou setores. Isolam<br />
o fluxo das experiências humanas <strong>de</strong> maneira a <strong>de</strong>senhar intervenções planejadas e administráveis.<br />
Em gran<strong>de</strong> medida, a sexualida<strong>de</strong> tem sido tratada pelas agências <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
como um assunto do setor <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e que <strong>de</strong>ve ser respondida a partir do marco <strong>de</strong> referência<br />
<strong>de</strong>sse setor, com intervenções que buscam diminuir os riscos <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z, o número <strong>de</strong><br />
nascimentos e <strong>de</strong> relações sexuais, assim como evitar doenças. O sexo tem sido tratado como<br />
uma fonte <strong>de</strong> risco e vulnerabilida<strong>de</strong>, em lugar <strong>de</strong> ser visto em termos <strong>de</strong> direitos (Klugman,<br />
2000; Corrêa, 2002). Embora as intervenções <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> acima mencionadas sejam essenciais,<br />
elas reduzem a sexualida<strong>de</strong> ao ato físico do sexo e suas conseqüências (gravi<strong>de</strong>z, DSTs, etc.).<br />
Como vamos argumentar a seguir, há muito a ser feito para expandir o marco <strong>de</strong> referência <strong>de</strong><br />
“saú<strong>de</strong> sexual”, incluindo dimensões mais amplas do bem-estar e assumindo uma abordagem<br />
mais holística em relação aos relacionamentos íntimos, que inclua o prazer sexual e o respeito<br />
mútuo. Ao mesmo tempo, respon<strong>de</strong>mos à pergunta “por que a sexualida<strong>de</strong> é importante”,<br />
afirmando que ela é mais do que uma “questão <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>”.<br />
A sexualida<strong>de</strong> e as regras sociais em torno <strong>de</strong>la têm um impacto sobre áreas que são<br />
centrais para as preocupações convencionais do <strong>de</strong>senvolvimento, como a pobreza e o bemestar.<br />
Como reconhece a nova política da SIDA (Swedish International Agency for <strong>Development</strong>,<br />
em português Agência Sueca para Desenvolvimento Internacional) para os direitos à<br />
saú<strong>de</strong> sexual e reprodutiva (SRHR, na sigla em inglês), as violações <strong>de</strong>sses direitos acarretam<br />
pobreza e também são causadas pela pobreza; esses direitos <strong>de</strong>vem dar suporte para atingir<br />
as Metas <strong>de</strong> Desenvolvimento do Milênio (MDMs) e não são apenas uma meta em si próprios,<br />
mas também um meio <strong>de</strong> combater a pobreza (SIDA, 2005). Klugman (2000) argumenta que<br />
é essencial estabelecer os vínculos entre a ausência <strong>de</strong> direitos sexuais e a pobreza, não pela<br />
busca <strong>de</strong> maior proteção para as mulheres – negando sua sexualida<strong>de</strong> nesse processo –, mas<br />
colocando o prazer sexual no cerne do marco <strong>de</strong> referência dos direitos. A sexualida<strong>de</strong> po<strong>de</strong><br />
ser um recurso econômico, por exemplo, por meio da venda <strong>de</strong> sexo ou pelo acesso através<br />
do casamento a uma família que também é uma unida<strong>de</strong> econômica. A discriminação contra<br />
as pessoas que rompem as regras da sexualida<strong>de</strong> também po<strong>de</strong> levar à pobreza, mal-estar e<br />
exclusão social. O direito a controlar seu próprio corpo – seja para proteger sua integrida<strong>de</strong><br />
ou para <strong>de</strong>sfrutar seus prazeres – não é algo “supérfluo”, a ser consi<strong>de</strong>rado como foco dos<br />
programas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>pois que as necessida<strong>de</strong>s materiais básicas tenham sido<br />
atendidas, como argumentam algumas vozes. É um dos mais básicos <strong>de</strong> todos os direitos,<br />
pois, se não temos a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evitar que nossos corpos sejam violados por outras<br />
pessoas, se nos negam a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nos proteger da gravi<strong>de</strong>z e da doença, como po<strong>de</strong>remos<br />
participar dos outros benefícios do <strong>de</strong>senvolvimento ou mesmo exigi-los?<br />
As interseções entre sexualida<strong>de</strong> e pobreza po<strong>de</strong>m ser analisadas <strong>de</strong> acordo com o marco<br />
analítico <strong>de</strong>senvolvido por Robert Chambers (Chambers, 2005:46), mostrado na Figura 1.<br />
Como esse diagrama torna advérbio claro, a sexualida<strong>de</strong> tem ramificações em cada uma das<br />
dimensões da pobreza e implicações para vários aspectos do <strong>de</strong>senvolvimento. Além disso,<br />
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