Questões de Sexualidade - Institute of Development Studies
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Alan Greig<br />
constituem uma grave violação dos direitos humanos, incluindo o direito à privacida<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />
estar livre <strong>de</strong> discriminação, e o direito <strong>de</strong> expressão e associação. A violência <strong>de</strong> leis estatais<br />
e <strong>de</strong> instituições é reforçada pela violência em nível comunitário, que varia <strong>de</strong> discriminação<br />
à agressão pelos pares, colegas e integrantes da família. Essas pessoas, que contestam normas<br />
<strong>de</strong> gênero e sexualida<strong>de</strong> através <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>sejos e práticas sexuais e/ou <strong>de</strong> sua “expressão” <strong>de</strong><br />
gênero, enfrentam algumas das formas mais graves <strong>de</strong> estigma e <strong>de</strong>saprovação social.<br />
É importante ampliar nossa análise <strong>de</strong> gênero, <strong>de</strong> modo que a violência que atinge os<br />
homens queer possa ser entendida corretamente como baseada no gênero. A violência que<br />
s<strong>of</strong>rem está baseada no seu posicionamento <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> gênero, cuja premissa<br />
está na lógica supremacista masculina <strong>de</strong> que as relações sociais são fundamentalmente hierárquicas.<br />
Esta or<strong>de</strong>m insiste não somente nas hierarquias masculino-feminino, como também<br />
nas hierarquias entre homens baseadas no status <strong>de</strong> gênero, ou seja, no grau em que respeitam<br />
as normas dominantes <strong>de</strong> masculinida<strong>de</strong> e heterossexualida<strong>de</strong>. A violência mantém a<br />
hierarquia, conservando em seu lugar os homens “que não são suficientemente homens”.<br />
A experiência <strong>de</strong> violência sexual dos homens<br />
E o que acontece com os homens que parecem ser, ou lutam para ser, “suficientemente<br />
homens”? O que po<strong>de</strong> ser dito <strong>de</strong> seus direitos sexuais? Talvez a reivindicação mais básica do ativismo<br />
pelos direitos sexuais seja <strong>de</strong> que as pessoas sejam livres para viver suas vidas sexuais sem<br />
coerção. Porém, muitas vezes não são registradas as experiências <strong>de</strong> coerção na vida sexual dos<br />
homens, qualquer que seja sua orientação sexual ou i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Com base em entrevistas com<br />
mais <strong>de</strong> 8.000 homens, com ida<strong>de</strong>s a partir <strong>de</strong> 18 anos, o US Government’s National Violence<br />
Against Women Survey (em português Levantamento Nacional da Violência Contra as Mulheres)<br />
realizado pelo governo dos EUA estimou que, em 1995, não apenas 302.091 mulheres foram<br />
violentadas, mas também 92.748 homens foram estuprados (Tja<strong>de</strong>n e Thoennes, 2006). Estas<br />
cifras <strong>de</strong>vem estar subestimadas, pois os homens em instituições penais não foram incluídos no<br />
levantamento e sabe-se, por outros dados, que é significativa a prevalência do estupro masculino<br />
nas prisões, pelo menos no contexto dos EUA. Nas informações anexadas à Lei <strong>de</strong> Eliminação<br />
do Estupro nas Prisões dos EUA, sancionada pelo presi<strong>de</strong>nte Bush em 2003, estimava-se que<br />
pelo menos 13% dos presos são agredidos sexualmente na prisão. Em sua visão global das experiências<br />
<strong>de</strong> estupro dos homens, a Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (OMS) <strong>de</strong>ixa claro que:<br />
170<br />
“Infelizmente, há poucas estatísticas confiáveis sobre o número <strong>de</strong> meninos e homens<br />
que são estuprados em locais como escolas, prisões e campos <strong>de</strong> refugiados. A<br />
maior parte dos peritos acredita que as estatísticas <strong>of</strong>iciais subestimam gran<strong>de</strong>mente<br />
o número <strong>de</strong> vítimas masculinas do estupro. As evidências disponíveis sugerem<br />
que a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> os homens <strong>de</strong>nunciarem uma agressão às autorida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong><br />
até mesmo ser menor do que a das vítimas femininas” (OMS, 2002).