Questões de Sexualidade - Institute of Development Studies
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tica como um direito divino dos homens e dão pouca atenção às precondições que supostamente<br />
governam essa prática. É muito raro que as mulheres conheçam essas precondições.<br />
As mulheres entram em casamentos poligâmicos por uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> motivos, incluindo<br />
o temor <strong>de</strong> ficar solteira, o medo do estigma social numa socieda<strong>de</strong> on<strong>de</strong> o casamento é<br />
norma ou <strong>de</strong> ter filhas/os fora do casamento. A sexualida<strong>de</strong> das mulheres foi construída <strong>de</strong><br />
tal modo que as noções da mulher i<strong>de</strong>al – ou mesmo <strong>de</strong> uma mulher minimamente aceitável<br />
em termos sociais – serve aos interesses do homem. Penda revela como essas noções empurram<br />
as mulheres para o casamento, mesmo na ausência <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> econômica ou<br />
emocional:<br />
“Não preciso <strong>de</strong> um homem para cuidar <strong>de</strong> mim porque estou empregada e<br />
posso conseguir eu mesma tudo que preciso. Como uma mulher instruída, acho<br />
difícil encontrar um marido. Fico me perguntando se preciso <strong>de</strong> um marido para<br />
a minha auto-realização e continuo ouvindo um “não” como resposta. Mas não<br />
sei como minha família vai reagir se <strong>de</strong>cidir engravidar fora do casamento. Mas<br />
quero ter filhas/os e por esta razão estou me metendo nessa confusão.”<br />
Da mesma forma, mulheres que se casaram como primeiras esposas e <strong>de</strong>pois se viram em<br />
arranjos poligâmicos <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m permanecer porque reconhecem o direito do homem a várias<br />
esposas como uma concessão divina, assim como para evitar comprometer os interesses das<br />
filhas e filhos. Penda lamentava:<br />
“Estou nesta situação porque é direito <strong>de</strong> meu marido ter mais <strong>de</strong> uma esposa.<br />
Se os homens casassem com somente uma mulher, muitas mulheres não<br />
se casariam. Sei que ele não po<strong>de</strong> nos dar tudo o que necessitamos e algumas<br />
vezes temos <strong>de</strong> nos virar sozinhas para alimentá-lo e alimentar as crianças. É<br />
a nossa fé.”<br />
A história <strong>de</strong> Penda reflete uma situação comum na Gâmbia, tanto entre mulheres rurais<br />
quanto urbanas. Os casamentos poligâmicos têm conseqüências para os direitos sexuais das<br />
mulheres e para sua segurança econômica. As primeiras esposas são muitas vezes negligenciadas<br />
em termos sexuais, emocionais e econômicos, como nos contou Aminata:<br />
“Queria que Deus <strong>de</strong>scesse para ver o que está acontecendo com a gente<br />
nesta relação. Meu marido não fez sexo comigo no último ano porque tem uma<br />
nova esposa, mais jovem, com quem passa a maior parte do tempo. Quando<br />
reclamo, ele diz que ela precisa <strong>de</strong> mais atenção; tenho enorme carência e não<br />
posso contar à minha família. Tenho crianças pequenas e não posso largar o<br />
casamento porque é um direito <strong>de</strong>le.”<br />
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A sexualida<strong>de</strong> e os direitos sexuais das mulheres na Gâmbia