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LENDAS DE BEJA o Touro e a Cobra e outras lendas ... - joraga

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experimentar, breve e apaixonadamente, e foi ela que as escreveu de<br />

facto, tempo e meios não lhe teriam faltado, ou lhe foram atribuídas<br />

por um genial editor ou, como se insinua, pelo feliz e galanteador<br />

amante!?<br />

Terá desempenhado variadas funções durante os longos setenta<br />

e dois anos que passou no Convento: foi escrivã e vigária como<br />

depois se verificou por variados documentos; teria sido porteira,<br />

como dá a entender numa das suas cartas, mas a título passageiro e<br />

como meio de cura; e consta que chegou a ser proposta para<br />

abadessa em 1709, quando já, só? tinha sessenta e nove anos, mas<br />

teria sido insuficientemente votada.<br />

Perante tão enigmática e vulgar personagem, valerá a pena<br />

perder tempo a dar uma espreitadela sequer pelas famosas ou<br />

famigeradas cartas?<br />

Só vale a pena fazê-lo, se conseguirmos decidir a tempestuosa<br />

questão em que tantos e tão ilustres autores se envolveram?<br />

Por mim, tenho a impressão que não. As cartas existem. Valem<br />

pelo que valem independentemente do verdadeiro autor. São, de<br />

qualquer maneira, um espectacular simulacro do real. A prova é a<br />

discussão acesa que levantam. Se são de Mariana, no original em<br />

francês ou traduzidas e retocadas, são um bom exemplar de<br />

epistolografia íntima que muitos escritores gostariam de subscrever.<br />

Se foram inventadas, então, terão de ser geniais. São porventura,<br />

não o grito de uma freira, mas um grito tão grande e tão profundo de<br />

centenas, de milhares de mulheres, talvez de homens e mulheres de<br />

uma região, de um povo, humilhado, oprimido, refinada e<br />

hipocritamente sacrificado com o apanágio de uma “vocação entrega”<br />

superior!!! e fundamentalmente por interesses mesquinhos, valores<br />

indiscutíveis de uma época! ou da nossa época.<br />

É, porventura, isto, ou algo de mais profundo que é preciso ler<br />

nas cartas, e não, penso, e sobretudo, a questão da origem e da<br />

originalidade...<br />

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