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Da Torre de Babel às terras prometidas - Repositório Aberto da ...

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Se a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> cristã se vai <strong>de</strong>finir por uma gran<strong>de</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

inclusivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, no sentido em que dilui i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> origem e <strong>de</strong> pertença social,<br />

torna-se, por paradoxo, exclusivista em relação àqueles que não fazem parte<br />

<strong>de</strong>sta comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> crentes, mais propriamente aqueles que não adoram o seu<br />

Deus, único, <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a humani<strong>da</strong><strong>de</strong> e que não po<strong>de</strong> ser colocado, lado a lado,<br />

com os outros <strong>de</strong>uses do Império Greco-Romano 11 . Trata-se <strong>de</strong> uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> a<strong>de</strong>são voluntária mas a escolha religiosa individual foi progressivamente<br />

transposta para o campo <strong>da</strong> morali<strong>da</strong><strong>de</strong> (Wilson, Ibi<strong>de</strong>m. 12). Se nesta fase isso<br />

se traduzia unicamente na exclusão <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>queles cuja conduta não<br />

se operava conforme as normas, mais tar<strong>de</strong>, nas socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s on<strong>de</strong> o cristianismo<br />

se tornou dominante, a exclusão foi alarga<strong>da</strong> a to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> social.<br />

Embora a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> cristã dispusesse <strong>de</strong> fronteiras bem traça<strong>da</strong>s,<br />

tal não impedia que captasse novos membros para as suas fileiras. Assim,<br />

exclusivismo e universalismo combinados com proselitismo constituem os<br />

elementos <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcação entre o cristianismo e as outras crenças <strong>de</strong> origem<br />

étnica e confina<strong>da</strong>s aos indivíduos <strong>de</strong> uma mesmo tribo ou território.<br />

A partir do século IV, com o fim <strong>da</strong>s perseguições, po<strong>de</strong> ser<br />

i<strong>de</strong>ntificado o início <strong>de</strong> um novo período para o cristianismo. Primeiro, é<br />

promulgado um édito <strong>de</strong> tolerância que virá a conce<strong>de</strong>r a liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> culto<br />

(materializa<strong>da</strong> na possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> edifícios para o efeito); <strong>de</strong>pois,<br />

com Constantino, é consagra<strong>da</strong> a liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> crença. Finalmente, Teodósio, já<br />

numa fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>clínio do império, <strong>de</strong>clara o cristianismo a religião oficial. Ao<br />

adquirir uma dimensão pública, a religião insere-se numa lógica <strong>de</strong> conservação<br />

do po<strong>de</strong>r político e <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> coesão social (Machado, Ibi<strong>de</strong>m. 22). A<br />

manifestação mais evi<strong>de</strong>nte disso resi<strong>de</strong> no facto <strong>de</strong> o Imperador passar a<br />

assumir uma autori<strong>da</strong><strong>de</strong> religiosa suprema, mediando as relações entre o po<strong>de</strong>r<br />

político e o sagrado. O seu po<strong>de</strong>r era assim legitimado num princípio teológico-<br />

<strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s religiosas perante o Estado e na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, tem um fun<strong>da</strong>mento na mais<br />

autêntica tradição cristã (...)".<br />

11 O discurso do apóstolo Paulo em Atenas, no Areópago, é eluci<strong>da</strong>tivo do carácter monoteísta e<br />

não idólatra <strong>da</strong> nova religião. O apóstolo toma o santuário sem estátua e com a inscrição "Ao<br />

Deus <strong>de</strong>sconhecido", como ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> para falar sobre a natureza do Deus dos cristãos. Cfr.<br />

Actos do Apóstolos, cap. 17.<br />

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